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quinta-feira, 1 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26750: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (26)

Foto 204 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira
Foto 205 > Agosto de 1971 > Nhacra > João Moreira junto à capela do quartel
Foto 206 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 207 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 208 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 209 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 210 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira
Foto 211 > Agosto de 1971 > Nhacra > Quartel > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 24 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26722: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (25)

Guiné 61/74 - P26749: Parabéns a você (2371): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuna, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26740: Parabéns a você (2370): Giselda Pessoa, ex-Sargento Grad Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1972/74)

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 63/74 - P26748: Memórias de Mansabá (35): Reunião de três mansabanses, Ernestino Caniço (CMDT do Pel Rec Daimler 2208), Jacinto Rodrigues (CMDT do Pel Caç Nat 57) e Carlos Alberto Casquinha da CCAÇ 2403, em Almeirim, à volta de uma Sopa de Pedra (Ernestino Caniço / Carlos Vinhal)


Vista aérea do quartel de Mansabá
Foto: © Carlos Vinhal

1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa) e Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, (Bissau) (1970/1971), com data de 26 de Abril de 2025:

Caros amigos

Que os DEUSES vos protejam com a saúde nos píncaros.

“Tão calados, os nossos mansabenses”. Foi este o teu comentário, Luís, aquando da postagem de parte das fotografias de Mansabá, do Padre Zé Neves.

Pensando nesta temática, reuni com dois mansabenses em 2025.04.23, num bem-afamado restaurante de Almeirim (meu concelho), para nos deliciarmos com uma ótima sopa da pedra (e não só) e relembrarmos episódios da nossa passagem por Mansabá.

Foto 1 > Almeirim, 23 de Abril de 2025 > À minha direita na foto está o ex-Alferes Mil Carlos Alberto Casquinha, que pertenceu à CCAÇ 2403, comandada pelo Cap. Carreto Maia, e, após terminada a comissão desta, foi para Binar.

À minha esquerda está o ex-Alferes Mil Jacinto Rodrigues, Cmdt do Pel Caç Nat 57, que esteve em Cutia, que integrou em Mansabá a CCAÇ 2403 e posteriormente a CART 2732.

O ambiente tauromáquico não é despropositado, tendo eu integrado o grupo de forcados do colégio Nun´ Álvares de Tomar.

Foto 2 e 3 - Almeirim, 23ABR2025 > O almoço

O Carlos Vinhal deve lembrar-se deles, talvez mais o Rodrigues que esteve lá mais tempo e ao mesmo tempo.

Um grande abraço,
Ernestino caniço

PS – Texto redigido antes da visualização do P26728

Foto 4 > Mansabá > Da esquerda para a direita: ex-Alf Mil Amaral, Cap. Carreto Maia, ex-Alf Mil Rodrigues, ex-Alf Mil Casquinha e eu próprio.
Foto 5 - Estrada Mansabá-Farim, algures entre Mansabá e Bironque, à esquerda o Alf Mil Ernestino Caniço, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, fazendo-se acompanhar do ex-Alf Mil Jacinto Rodrigues, CMDT do Pel Caç Nat 57.


2. Comentário do coeditor CV

Como já tive oportunidade de dizer ao nosso amigo Ernestino Caniço, não me lembro de ninguém da CCAÇ 2403, porque tenho ideia de que estiveram poucos dias em sobreposição connosco. Na altura, e durante seis meses, eu trabalhava na secretaria de Comando a tempo inteiro, não tendo por isso actividade operacional.

Lembro-me perfeitamente do Alferes Rodrigues do Pel Caç Nat 57, de quem fui escrivão dos seus autos, assim como do Capitão Carreto Maia, Comandante da CCAÇ 2403, e que após a ida desta Companhia para Bissau, assumiu, em 22ABR70, o comando da CART 2732. Esteve connosco só até meados de Junho de 1970, altura em que acabou a sua comissão de serviço. Seria substituído pelo Capitão José Maria Belo, que também esteve na Companhia durante pouco tempo, por ter sido evacuado para a metrópole por motivo de doença.

A publicação (e legendagem) da foto 5, foi da minha iniciativa, (tenho-a publicada no blogue da CART 2732) porque a acho curiosa, faz-me lembrar dois amigos num descapotável, passeando algures entre Cascais, Estoril, Praia de Carcavelos... A paisagem, apesar de a preto e branco, é belíssima.

Fotos: © Ernestino Caniço
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Nota do editor

Último post da série de 7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13858: Memórias de Mansabá (34): As amêndoas da Páscoa de 1969 (Francisco Henriques da Silva)

Guiné 61/74 - P26747: (In)citações (268): O mês de Abril e as amêndoas amargas (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Picada de Quirafo > Fevereiro de 2005 > Restos da GMC da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1972/74) que transportava um grupo de combate reforçado, comandado pelo Alf Mil Armandino, que sofreu em 17 de Abril de 1972, uma das mais terríveis emboscadas de que houve memória na guerra da Guiné (1963/74).

Foto: © Paulo Santiago


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 27 de Abril de 2025:

Meus amigos e camaradas
Aqui vai algumas recordações e pensamentos quase no fim deste Abril

Um abraço
Juvenal Amado



O MÊS DE ABRIL E AS AMÊNDOAS AMARGAS

A recordação das Pascoas da minha infância são as amêndoas de gesso que o senhor prior dava nas casas que contribuíam menos para a igreja.

Chupava-se algo adocicado até ao caroço que deitávamos fora por ser intragável daí o nome as amêndoas de gesso. Francamente, e a verdade seja dita, não éramos frequentadores da igreja e após ser obrigado na 1.ª classe a frequentá-la por imposição da senhora professora, que nos formava cá fora para entrarmos com grande solenidade dois a dois, de mãos dadas, para belo efeito. Entretanto saí dessa escola e nunca mais me apanharam. A verdade tem que ser dita só voltei a frequentar a igreja às entradas e saídas, embora me tenha envolvido em actividades num clube dirigido por dois padres muito jovens, que tinham um discurso muito próximo da juventude. O destino desses padres foi o que era de prever naquele tempo.

Mas este ano a Pascoa calhou em Abril, mês luminoso embora chuvoso, mas o corpo sente a Primavera e os cheiros diferentes no ar. Há cinquenta e três anos estava no Xime para embarcar na LDG com viaturas avariadas e diverso armamento deixado pelos guerrilheiros no seu encontro de frente com os nossos camaradas da 3491 do Dulombi. Foi o que se pode chamar milagre, por só terem havido uns camuflados cantis e quicos furados pelo o fogo de automáticas com que a malta piriquita foi obsequiada. Em contrapartida a reacção dos nossos camaradas pôs em debandada o IN, que deixaram diverso material de guerra no local.

Mas voltando ao Xime, já era costume nós irmos para lá sem data de regresso e assim se passaram algumas semanas em que as LDGs iam atulhadas e o meu equipamento lá continuava ao Sol sem saberem o que as viaturas continham. A Pascoa foi no Domingo 2 de Abril 1972, a LDG vinha neste dia, quando somos surpreendidos por uma coluna com quatro caixões. Uma coluna macabra e mais macabra a situação que a resultou. Segundo se veio a confirmar, um soldado entrou no gabinete do capitão com uma granada de mão, que deixou explodir, matando o capitão, um 1.º sargento e um furriel, para além dele próprio.

Escusado será falar no horror que o incidente nos causou. As urnas foram embarcadas e nós lá ficamos no cais a ver a embarcação desaparecer. Passados dias vem outra coluna de Pirada com mais um soldado que tinha descavilhado uma granada de mão, debaixo de um ataque de abelhas e na vez de uma granada de fumo, usou uma ofensiva com o triste resultado. Dessa vez embarquei com muito custo, pois as viaturas não trabalhavam nem tinham travões e quem andou por aquelas bandas sabe da rampa que se descia até entrar na embarcação, engrenei a marcha atrás e lá vou eu por ali abaixo três vezes com granadas de RPG na bagageira.

Foi um mês de Abril sangrento, pois no dia 17, na emboscada do Quirafo, perdemos uma dezena de camaradas da 3490 do Saltinho, facto já por aqui falado e documentado, em especial pelo os nossos camaradas Paulo Abrantes Santiago e o Marques.

Mas o mês de Abril voltou a sorrir quando desembarquei em Lisboa passados 27 meses de comissão, no dia 4, abracei os meus e senti-me em Paz.

20 dias depois no 25 de Abril dancei chorei e abracei toda a gente porque vinha aí o Futuro e o primeiro dia do resto das nossas vidas.

O mês deste ano deixa-nos com um acontecimento triste para católicos e não católicos com a morte do Papa Francisco, um Homem bom muito amado, amante da Paz, que deixa este Mundo num futuro incerto. Um arauto da inclusão das minorias, defensor de uma Igreja e um Mundo para todos. Que esteja em Paz.

Juvenal Sacadura Amado

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Nota do editor

Último post da série de 25 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26724: (In)citações (267): O Vinte e cinco de Abril é um poema universal (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)

Guiné 61/74 - P26746: Historiografia da presença portuguesa em África (479): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1915 e 1916 (33) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Sai o governador Josué de Oliveira Duque, entra o governador José António Andrade Sequeira, é um regresso à Guiné, em breve irão sentir-se as consequências da Primeira Guerra Mundial, tudo se agrava com a declaração de guerra da Alemanha a Portugal. O Boletim Official tem que ser passado a pente fino para encontrar matérias de algum suco no meio de tanto tédio administrativo. É assim que ficamos a saber que é recusada ao capitão Teixeira Pinto uma verba que em princípio ele teria direito, os acusados de terem incitado a insurreição dos Papéis e Grumetes da ilha de Bissau são amnistiados, bem queriam ser julgados para contar a verdade dos acontecimentos, todos eles ligado à Liga Guineense, que foi dissolvida, chamaram um advogado de prestígio, Loff de Vasconcelos, que irá escrever uma catilinária a arrasar os depoimentos de Teixeira Pinto, revelando as barbaridades e pilhagens feitas pelos irregulares do chefe de guerra Abdul Indjai. E há um belo documento emanado pelo comando militar dos Manjacos, tenente António Maria, vem publicado no Boletim Official n.º 30, de 22 de julho de 1916, belíssima peça.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1915 e 1916 (33)


Mário Beja Santos

Após as campanhas de Teixeira Pinto, o governador Josué de Oliveira Duque tem por fim do seu mandato, fica como encarregado do Governo o secretário-geral Sebastião José Barbosa, isto a 24 de agosto, dois dias depois toma posse alguém que regressa ao Governo, José de Andrade Sequeira, consta no Boletim Oficial n.º 35, de 28 de agosto. Nesse mesmo Boletim Official vem publicado o termo de posse dado ao Sr. Dr. José António de Andrade Sequeira, estão presentes as figuras gradas, o secretário-geral e Encarregado do Governo, a Comissão Municipal, magistrados judiciais, funcionários civis militares, corpo consular, corpo comercial e os mirones do costume.

No Boletim Oficial n.º 40, de 2 de outubro, vem publicada uma decisão da Direção-Geral da Fazenda das Colónias que envolve Teixeira Pinto, tinha sido pedida autorização para o abonar com a percentagem que lhe cabia sobre o imposto de palhota referente a 1914, na importância de 19.950$50, isto por ocasião em que batera os Manjacos e Balantas que se tinham sublevado. Ora o Ministro das Colónias indeferiu não haver portaria que desse ao Capitão Teixeira Pinto as atribuições dos direitos de administrador de circunscrição: “O mencionado capitão Teixeira Pinto não tem direito ao abono da referida percentagem, e que é por meio de recompensa honorífica que se devem galardoar, caso não tenham ainda sido premiados, os bons serviços que durante as operações o referido oficial haja prestado.”

Ficamos a saber através do Boletim Oficial n.º 41, de 9 de outubro, que tinham sido aprovados os estatutos do clube de Bolama, destinado a promover a convivência dos seus associados, proporcionando-lhes todas as distrações e divertimentos compatíveis com os seus recursos, como jogos lícitos, desportivos, leituras, palestras, música, soirées e récitas.

Voltamos a saber que há tensões, sublevações e insubmissões no Boletim Oficial n.º 44, de 30 de outubro, reza o seguinte que manda escrever o governador Andrade Sequeira:
“Sendo a região dos Balantas uma as mais insubmissas desta província;
Considerando que, pela organização social dos Balantas, só uma efetiva e conveniente ocupação militar, de tropas regulares, poderá levar esses povos ao respeito pela soberania nacional, integrando-os na nossa civilização;
Considerando que, assim, se faz sentir a necessidade de uma ação militar persistente e duradoura, que só se pode obter instituindo todo o território dos Balantas num comando militar;
Hei por conveniente desanexar das circunscrições respetivas toda a região dos Balantas e nomear seu comandante militar o Capitão de Infantaria Manuel Correia Dias, que acumulará as suas funções com as de comandante da 1.ª companhia.
Para efeitos desta portaria ficam sujeitos ao comandante militar dos Balantas todos os territórios da região Balanta que, até hoje, estavam sob as jurisdições dos comandantes militares de Bissorã, Porto Mansoa, Nhacra e Goli.”


O problema das armas e munições ir-se-á pôr durante este período e até ao conflito da Primeira Guerra Mundial. Veja o que se escreve no Boletim Oficial n.º 48, de 27 de novembro:
“Atendendo ao que me tem sido representado por vários comerciantes e indígenas, pedindo para se permitir a venda de espingardas ordinárias;
Considerando que a quase totalidade dos povos da Guiné tem por costume, uso e tradição, fazer largo dispêndio de pólvora, que consomem disparando tiros sempre que se trata de cerimónias fúnebres e outras solenidades;
Considerando que a abundância de animais ferozes, especialmente onças, jacarés e lobos, tem originado a perda de muito gado e até recentemente alcateias os últimos animais atacaram e feriram gravemente muitos indígenas da circunscrição de Geba;
Considerando que estando a província inteiramente pacificada não há o menor inconveniente, e antes toda a vantagem em permitir o uso e porte de espingardas ordinárias, cuja venda tem sido normalmente e sem restrições autorizada;
Hei por conveniente autorizar a venda de espingardas de pedreneira e espoleta nas seguintes condições:
Os comerciantes que para tal estiverem autorizados poderão ter nos seus estabelecimentos as espingardas que importarem e que ficarão relacionadas no Depósito de Material de Guerra.
As armas só serão vendidas aos indígenas que possuírem licença para as adquirir, licença que só poderá ser concedida pelos administradores de circunscrição e comandantes militares de territórios desanexados aos indivíduos que estiverem sob as suas respetivas jurisdições.”


E nesta portaria eram mencionadas diferentes formulações para obter licença, definindo os respetivos custos.

Assim chegamos a 1916. No Boletim Oficial n.º 10, de 10 de março, é anunciado que pelas 18 horas fora declarada guerra entre a Alemanha e Portugal. No Boletim Oficial n.º 17, de 22 de abril, surgem dois anúncios que desprovidos de qualquer comentário não dão para entender a sua substância. Há primeiro um agradecimento dos signatários, presos políticos, implicados na chamada rebelião de Bissau, e que tinham sido amnistiados, atos que eles não tinham pedido, o que tinham pedido era ser julgados, e agradeciam a todos os seus amigos e a outras individualidades que tinham patenteado sempre o maior interesse e simpatia pela sua justa causa. Assinavam António dos Santos Teixeira, Augusto Domingos da Costa, Vítor Francisco Robalo, Manuel Gomes Barbosa, Raimundo Ledo Pontes, Manuel Carvalho de Alvarenga e Lourenço Gomes.

Quem eram estes homens? Tinham sido considerados os incitadores da rebelião dos Papéis e Grumetes de Bissau, tinham escrito documentos acusatórios das pilhagens praticadas na ilha de Bissau pelas gentes de Abdul Indjai, o que tinha levado ao protesto do capitão Teixeira Pinto. Estes homens eram dirigentes da Liga Guineense, que fora dissolvida, e tinham chamado para a sua defesa um advogado de prestígio, com escritório em Cabo Verde, Loff de Vasconcelos, autor do segundo anúncio em que diz:
“Anuncia, para os devidos efeitos, que tendo acabado de cumprir a missão que o tinha trazido a esta colónia, contava retirar-se neste mês para Lisboa; como, porém, surgiu um incidente, que desejava liquidar, resolveu continuar manter aqui aberto o seu escritório, definitivamente, e assim oferece ao público os seus serviços permanentes.”


Loff de Vasconcelos irá escrever um texto arrasador, onde procura demolir ponto por ponto as acusações que tinham caído sobre estes comerciantes de serem instigadores da rebelião dos Papéis e Grumetes.

Documento que não deixa de se revelar muito interessante é o relatório escrito pelo tenente António Maria em Canchungo, em 15 de maio de 1916 e transcrito no Boletim Oficial n.º 30, de 22 de julho, é longo, transcrevem-se alguns parágrafos:
“Por toda a parte me diziam que ia encontrar em Basserel um posto muito bonito, já construído e 200 auxiliares, do que havia de melhor. Do posto nada existia, os bons auxiliares quando foram chamados para auxiliar o desembarque de alguns materiais e géneros, recusaram-se.
Fui alojado, com os dez soldados que trouxe, na tabanca dos irregulares, em algumas palhotas dos que andavam por fora, ficando os soldados em três e eu numa, que também servia de arrecadação do material de guerra e demais artigos.”


“O posto começou a construir-se com a exígua guarnição de dez soldados, sem ter recursos alguns. Era preciso chamar o gentio ao nosso convívio e obrigá-lo a entregar as armas e apagar o imposto e ainda a conter a onda desenfreada dos irregulares. Metodicamente vou conseguindo alguma coisa. O gentio, em pequena quantidade, vem ajudar-me no corte do mato.”

“Ao mesmo tempo trabalhava-se na construção do posto de Caió e estradas, sem desprezar a política indígena, atraindo o gentio. Fiz um mercado próximo do posto de Basserel, onde as mulheres começam a ir, protegidas por um europeu contra qualquer extorsão dos irregulares e assim vou pondo termo à fuga de mais gente, principiando a regressar os que tinham fugido.”

“Usei sempre de toda a prudência, inspirando o meu procedimento na mais elevada compreensão da justiça, para manter entre eles o prestígio da autoridade.
Tratei sempre os indígenas com bons modos e boas palavras, a fim de manter o amor e respeito do nome português, sem, contudo, abandonar a firmeza e energia para com os desobedientes.
As obras feitas foram: construção e reconstrução do posto de Basserel; construção do posto de Caió; construção da casa do comando e habitação do sargento em Canchungo; melhoramentos no posto de Xuruberique; rede de estradas em toda a região ligando o Jol e Brames; construção de pontes em Basserel, Jata e Caió, aonde podem atracar lanchas e pequenos vapores; pontes pelo interior e canoas nos rios aonde se não puderam fazer pontes para não impedir a navegação, etc. etc.”


Dá conta da cobrança de imposto de palhota, da receita administrativa, das despesas e o saldo que entregou ao seu sucessor. Julga ter servido a contento, se não de todos, pelo menos da maior parte.

Criou alguns inimigos, fundamentalmente irregulares, teve bons e maus auxiliares nos seus subordinados e indica o nome de alguns em que se pode depositar a máxima confiança, pelo que os recomenda ao governador.

Já estamos em guerra, vamos agora conhecer as medidas restritivas, os bens alemães estão arrestados, há proibições de exportação de géneros e de mercadorias, a Guiné vai conhecer as suas provações decorrentes da guerra.


O automóvel Ford chegou à Guiné, 1910
Uma montanha de amendoim, 1910

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 23 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26718: Historiografia da presença portuguesa em África (478): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1914 e 1915 (32) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26745: Tabanca Grande (572): Joaquim Galhós, ex-fur mil, de rendição individual, que integrou a CCAV 3420 (Pete, 3 meses), o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 12 meses) e o BENG 447 (Brá, 9 meses): é natural do Barreiro, e senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 902

 







Joaquim Galhós (n. Barreiro, 1950).


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > Cheguei a Cutia no dia 22/10/72,  o artista que fui render mal tive tempo de o conhecer, pirou-se na primeira coluna para Mansoa. No dia 23 era preciso ir á água, íamos sempre a Mansoa mas o alferes disse que, como eu era novo, "vamos mostrar Mansabá que tem uma água muito boa"... Foi uma má ideia não chegámos a Mansabá,  parti o bico e deram cabo da vazilha...


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 >  O Joaquim Galhós junto a uma bananeira.


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 > O Joaquim Galhós junto ao acesso a um abrigo ou espaldão, protegido por bidões com areia...


Guiné > Região Oeste >  Mansoa > Cutia > Pel Caç Nat 57 > C. 1972/73 > O Joaquim junto a um papaieira.

Fotos (e legendas): © Joaquim Galhós (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Joaquim Galhós (ou Galhoz um apelido de origem espanhola, e com família oriunda de Évora) aceitou o nosso convite (*) para se sentar à sombra do nosso poilão no lugar nº 902 (**).

Já aqui falámos dele,  há dias, como nosso amigo no Facebook. Temos "20 amigos em comum". 

O  Joaquim Galhós nasceu em 23 de junho de 1950. É do Barreiro, vive no Barreiro, estudou na Escola Comercial e Industrial Alfredo da Silva (nome do fundador do grupo CUF), de 1961 a 1969. Tem formação técnica em eletricidade.

Fez a sua comissão de serviço militar, na Guiné, entre 23 junho 1972 a 29 junho de 1974 (24 meses). Já tinha casado em 6 de setembro de 1970. É diretor  do Grupo Desportivo Os Leças.

Fazia 22 anos no dia em que partiu para o CTIG, de avião, do aeroporto Figo Maduro. Quando chegou a Bissau, verificou que estava a destinado à CCAÇ 3 (aquartelada em Bigene). Devem ter mudado de ideias, mandaram-no para a companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420, onde esteve 3 meses. (Sabemos que esta subunidade, em 9jul72, rendendo a CCaç 2789, assumiu a responsabilidade do subsector de Pete, com destacamentos em Ponta Consolação e Capunga, com vista à execução e controlo dos trabalhos de construção dos respectivos reordenamentos e promoção socioeconómica das populações.).

Em 22 de outubro de 1972 chegava a Cutia, para ir render um fur mil do Pel Caç Nat 57. No dia seguinte "embrulhou", quando ia buscar água a Mansabá.(Já não é do te,mpo do nosso coeditor Carlos Vinhal,. que esteve em Mansabá, até março de 1972.)

Na Guiné, era de rendição individual. Integrou, como furriel miliciano, o Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73).  Teve cerca de um ano no Pel Caç Nat 57. Os restantes nove meses da comissão passou-os no "bem-bom" do BENG 447, em Brá, para onde foi destacado. 

Já não se lembra do alf mil que comandava o Pel Caç Nat 57, mas seria alguém também com o apelido Rodrigues (. Conhecemos até agora dois alferes, o Fernando Paiva, 1967/69, e o Jacinto Rodrigues, 1969/71.)

Falámos um bom bocado  ao telefone, ele tem alguns histórias para nos contar aqui. Está reformado, trabalhou na Quimigal e conhece também desse tempo o eng tec Joaquim Fernandes, meu camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, mai 69/ mar 71). Conhece também o médico de saúde pública Mário Durval, agora reformado (foi delegado de saúde no Barreiro).

Dei-lhe já, antecipadamemte as boas vindas à Tabanca Grande. E expliquei-lhe por alto o funcionamento do blogue. Ele é mais "facebuqueiro"... Disse-lhe quão importante era reconstituir as memórias das subunidades africanas, como a minha CCAÇ 12 e a do dele Pel Caç Nat 57. Voltaremos um dia destes a falar ao telefone. 
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 26 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26730: Facebook...ando (75): Joaquim Galhós, do Barreiro, pertenceu ao Pel Caç Nat 57 (Cutia, 1972/73) e ao BENG 447 (Brá, 1973/74): esteve três meses com o cap cav Salgueiro Maia em Pete, Bula

(**) Último poste da série > 7 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26660: Tabanca Grande (570): Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 901

Guiné 61/74 - P26744: No 25 de Abril eu estava em... (39): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte IV




(i) nasceu  em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde;

(ii) estudou no Liceu Gil Eanes (juntamente com o  nosso camarada Manuel Amante da Rosa, seu amigo e contemporâneo no CTIG [ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália entre 2013 e 2018; membro da nossa Tabanca Grande; o pai, antes de se tornar empresário de transportes fluviais, tinha sido, até ao início da guerra, comerciante em Belim, Fulacunda];

(iii)  foi fur mil amanuense, Chefia de Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74;

(iv)  trabalhou, depois da independência,  como chefe de programação na empresa Rádio Difusão Nacional da Guiné-Bissau;

(v) deixou a Guiné-Bissau em 1975, tendo regressado à sua terra natal: aqui trabalhou como chefe de programação na empresa Rádio Nacional de Cabo Verde; e depois como diretor geral na empresa Multimedia SARL - Radio Comercial;

(vi) radialista, jornalista, historiógrafo da música  da sua terra,  e escritor, vive na Praia, Cabo Verde (ver aqui a sua entrada na Wikipédia);

(vii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do  nosso poilão, no lugar  nº 790; 

(viii) tem 17 referências no nosso blogue.


1. Continuação do seu depoimento sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque)  e também na página do Facebook da Tabanca Grande.

 

No 25 de Abril eu estava em... (39): Em  Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte IV (*)


por Carlos Filipe Gonçalves, 
ex-fur mil amanuense 
(natural do Mindelo, 
vive hoje na Praia, Cabo Verde)



Neste ponto, publico antes de mais os meus agradecimentos: aos entrevistados para este livro (que talvez uma dia seja publicado). Deram uma contribuição inestimável para se conhecer uma época, são eles militares de ambos os lados que deixaram o seu testemunho, especialmente os militares portugueses que no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com)  e nas páginas do “Facebook” (Guiné-Recordações e Fotografias da Guerra no Ultramar, entre outras) dão uma visão.  na primeira pessoa, daquilo que viveram na Guiné.

Agradecimento especial ao Luís Graça, coordenador do blogue, que concedeu autorização para citação daqueles testemunhos e utilização de fotos. A seguir, mais um texto que recorda os dias e acontecimentos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Os encontros da tropa portuguesa com os guerrilheiros caíram no esquecimento, por isso aqui vão alguns pormenores, para os nossos filhos e netos.

A partir do final do mês de Maio de 1974 aumentam os encontros entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC.

 O militar português referido anteriormente (em Guidaje, João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74) recorda (**), que no seu aquartelamento, em Guidaje houve uma tomada de posição da guarnição através de um comunicado, entregue ao seu comandante no dia 26 de Maio no qual se dizia:

 “Decidimos (nós,  soldados portugueses) desde então abandonar as armas e ir participar na mobilização das massas populares da nossa terra (Portugal). (…) Queremos a Paz e para que haja tal é preciso uma independência da nossa terra (Portugal). E,  se tal é a vontade do nosso povo, nós não temos nenhuma razão de lutar contra quem a defende (a independência Guiné)”. 

O referido militar assinala então que no dia 28 de Maio de 1974 houve festa em Guidaje e descreve:

 “Desde 1968 que não havia batuque devido à guerrilha, pois quando se fazia batuque havia, geralmente, um ataque”. 



Comandante Duke Djassy nome de guerra de Leopoldo António Luís Alfama (guineense, de origem cabo-verdiana, nascido em 1945; foi comissário político depois da independência, foi governador da região do Cacheu até 1980)

Leopoldo Alfama, em 2014, aos 69 anos

Fonte: Cortesia de  Barros Brito


Na sequência deste movimento interno dos militares naquele quartel, seguiu um enviado especial (dos soldados portugueses) para contactar a guerrilha (PAIGC). A resposta o PAIGC, foi dada no dia seguinte a através de uma carta, da qual apresentamos o seguinte extrato (**):

“Frente S. Domingos – Sambuaiá Combang'hor, 31 Maio 1974 (…)

Tendo escutado, hoje, atentamente o vosso interlocutor, tomei conhecimento, e em nome do Comando Militar da nossa região, decidi rabiscar, no interesse de ambas as partes, as possibilidades que facilitarão o nosso eventual encontro. A vossa iniciativa desfruta grande admiração por nossa parte, que é a única razão de nos estarmos batendo, foi sempre e sempre será pela conquista da nossa dignidade e liberdade. (…) 

Sr. Comandante! Nós que não fazemos a guerra pela guerra, nós que nunca confundimos nem confundiremos, povo com regime dum governo. (….). etc.” 

No final da carta a anteceder a assinatura pode-se ler: 

“Viva Portugal Livre! Viva o PAIGC! Que a Vitória Final Será dos Povos!  

Obrigado, prévio do camarada franco 

a) Duke Djassi Comissário Político Militar”. 

Assina Duke Djassi

Nota final - Este Duke Djassy é a minha alcunha, porque o meu nome é Leopoldo António Luís Alfama”.

Depois desta troca de cartas, acontecem gestos de boa vontade da parte do PAIGC, que o referido militar português assinala:

 “Veio hoje (2 de Junho de 1974) a Guidaje um carro civil de Carlos Vieira (irmão do 'Nino' Vieira, que se encontra estabelecido em Binta) com negócios diversos, vender/trazer mantimentos à população, o que não acontecia desde o início da guerra.” 

Finalmente, conforme recorda o ex-militar citado, foi marcado um encontro a ser realizado no dia 5 de Junho de 1974 à tarde “na tabanca senegalesa de Mariá” em que participaram pela parte portuguesa;

 “Cap António Eduardo Gouveia Carvalho – Cmdt CCaç 19 ; Alf Vítor Manuel Pereira Abreu – Cmdt 3.º Gr Comb  da CCaç 4150; Alf Luís Socorro Almeida – Cmdt  4.º Gr Comb da CCaç 19; Fur Lopes Pereira – Agente PIM em Guidage; Patrão Sonco; Ancheu (FG 12)”. 

Da parte do PAIGC participaram: 

“Mensageiro, habitante de Mariá com os elementos do PAIGC: Duke Djassy (Leopoldo António Luís Alfama, cabo-verdiano) – Comissário Político da Região S. Domingos – Sambuaiá; Manuel dos Santos (Manecas, cabo-verdiano), Comissário Político da Zona Norte; Braima Djaló (Natural de Bolama) – Cap do Exército e membro do CEL 2º Cmdt Bigrupo.” 

Nota – Significado das siglas: Cap = Capitão; Cmdt = Comandante; CCaç = Companhia de Caçadores; Gr Comb = Grupo de Combate; Alf = Alferes; Fur = Furriel; Agente PIM = Agente Polícia Informação Militar criada no seguimento da extinção da PIDE; CEL=Corpo de Exército de Libertação

 Nota final: todos documentos, pessoas citadas, etc. beneficiam no livro de notas de rodapé que citam as fontes e dados que certificam a sua credibilidade. Infelizmente, este tipo de publicação, não aceita essas notas.— com José Luiz Ramos e
9 outras pessoas.   

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Postes anteriores da série:


(**) Vd. poste de 14 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (3): Guidage (João Dias da Silva, ex-alf mil op esp, CCAÇ 4150, 1973/74)

terça-feira, 29 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26743: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (9): Messe de sargentos; O Correio; A Enfermagem; As Transmissões e A Ferrugem

CCAV 2483 / BCAV 2867 - CAVALEIROS DE NOVA SINTRA
GUINÉ, 1969/70


VIVÊNCIAS EM NOVA SINTRA

POR ANÍBAL JOSÉ DA SILVA


26 - MESSE DE SARGENTOS DE NOVA SINTRA

Aquando da chegada a Nova Sintra, não havia messe. Os furriéis tomavam as refeições nos “refeitórios” dos vários abrigos existentes em redor do aquartelamento. Passados alguns meses foi construída uma, onde passamos a tomar todas as refeições. Servia também como local de confraternização, jogando as cartas (sueca, king e evidentemente a lerpa), bem como ouvir a rádio e a música revolucionária da época, num gira-discos oferecido, imagine-se, pelo Movimento Nacional Feminino. Numa das paredes foi pintada a triologia dos irmãos marreta, pelo furriel David Moreira, bom desenhador e pintor, numa alusão aos furriéis: Lima, Oliveira Miranda e Teixeira, que andavam sempre pegados, mas sem nunca deixarem de ser amigos. Ao jantar de determinado dia, por volta das 17h30, houve uma flagelação ao quartel. Estava eu sentado à mesa a comer e ao levar o garfo à boca, nesse instante o camarada do lado levantou-se para fugir, tocou-me no cotovelo e o garfo espetou-se-me no céu da boca. Resultado. Andei uns dias a sopa e a leite condensado.
O Furriel Miranda à porta messe
Dois dos irmãos metralha
Desenho/pintura David Moreira


27 - O CORREIO

No chamado”avião de sector” que passava por Nova Sintra ao domingo, para além de um ou outro passageiro, chegava também o correio, momento desejado e festejado por todos. Obviamente que no regresso a Bissau levava a correspondência escrita durante a semana, que era depositada no SPM e depois enviada para a Metrópole.

Marco do correio
Chegada da avioneta do correio
Aerograma


28 - A ENFERMAGEM

O Furriel Bettencourt, o nosso enfermeiro foi o médico que nunca tivemos. Responsável, competente e atencioso para com toda a gente, que cuidava com a sua paciência açoriana. A sua competência ficou totalmente demonstrada na escura madrugada do dia 11/07/69, quando em plena mata tratou dos ferimentos muito graves sofridos pelo Capitão Bernardo, aquando do rebentamento de uma mina anti-pessoal. Era dos poucos, talvez o único que todos os dias escrevia uma carta à sua namorada e aqui uma vez mais punha à prova a sua paciência.

Bornal de enfermeiro
A seringa
O milagroso comprimido LM


29 - AS TRANSMISSÕES

O Furriel Lima para além de ser um mano dos “irmãos metralha” era um exímio jogador da “lerpa” e sobretudo altamente competente no que a transmissões diz respeito. Jamais esquecerei a manhã do dia 04/08/69, em que eu fui ferido e da morte do Ventinhas, em que agarrado ao rádio insistentemente “berraba” solicitando a Tite uma evacuação. Indía 5 sierra zulu 9 mik chama, eram estes os códigos na altura e não haverá alzaimer que mos retire da memória. Foi num aparelho igual e este que no dia 30 de Setembro de 2019, ouvi a informação de que eu tinha ído para os anjinhos. Não foi referido o nome, mas sim o posto. É que o Lima no final de cada mês tinha de ouvir a Rádio Conackry e os comunicados do PAIGC, relativos às ocorrências verificadas na nossa região e referentes ao mês anterior. Ele sabia que as notícias difundidas por eles eram sempre aumentadas, Então ouvimos que no dia 4 de Agosto de 1969 a mina accionada provocara a morte de um soldado e de um furriel e feito alguns feridos.


30 - A FERRUGEM

A ferrugem era o nome dado à oficina de mecânica e de serralharia, gerida pelo Furriel Valente do Serviço de Material, que muitas das vezes recorria à imaginação, por falta de peças, para manter as viaturas a circular.
Parque de viaturas
O Valente só não conseguiu repar esta viatura que o estouvado condutor danificou
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Nota do editor

Último post da série de 22 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26714: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (8): O gerador; O bezerro; Os cães e a raiva; As botas trocadas; As abelhas e As rolas

Guiné 61/74 - P26742: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (9): Giselda Pessoa: foi o CTIG (1972/74) que a marcou para o resto da vida


Lisboa > Belém > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 10 de junho de 2019 > A única camarada que encontrei, a Giselda Pessoa, enfermeira paraquedista, sempre jovial e sempre uma grande senhora, afável, sociável, camarada do seu camarada... Já mais para o fim encontrei o Miguel Pessoa... É um casal amoroso e separável  quer nos convívios da Tabanca do Centro quer nos Encontros Nacionais da Tabanca Grande (infelizmente interrompidos com a pandemia, a partir de 2020).


Foto(e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A Giselda (Antunes, de solteira, Pessoa, de casada com o nosso Miguel) faz hoje anos: 78 (minguém lhos dá, é uma transmontana de rija têmpera) (*)... Foi, além disso, a primeira das antigas enfermeiras paraquedistas a  dar a cara no nosso blogue: integra a Tabanca Grande desde 20/2/2009... Merece hoje, seguramente, mais "tempo de anterna" (**).

Sobre a Giselda Antunes Pessoa sabemos o seguinte (***):

(i) nasceu em 29 de abril de 1947, na terra do grande poeta Miguel Torga  (1907-1985), São Martinho de Anta, Sabrosa, distrito de Vila Real ( de Sabrosa também é o grande navegador Fernão de Magalhães,1480-1521);

(ii) fez o curso de enfermagem na Escola de Enfermagem do Hospital de S. João, no Porto, em 1966 (e por lá continuou em 1968, como enfermeira, tendo sido logo colocada no Serviço de Urgência do S.João, "onde se trabalhava muito mas também se aprendia mais, e depressa");

(iii) tinha uma irmã, Antonieta,  que já era enfermeira paraquedista, que leh dava notícias de Áfruca;: fez o 7º curso de enfermeira paraquedista, na Base de Tancos,  entre agosto e outubro de 1970;

(iv) esteve uns meses em Lisboa, sendo depois colocada no Direção do Serviço de Saúde em Lourenço Marques; fazia evacuações daqui e da Beira; considera este tempo como tendo sido de férias;

(v) "deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada" (***);

(vi)  a Guiné, sim, é que  a marcou para o resto da vida:  "... chegou evacuar na Guiné um ferido do PAIGC que falava francês e evacuou o piloto Miguel Pessoa, abatido por um míssil Strela. Depois casou com ele";

(vii) como gostamos de aqui dizer, a "Giselda e o Miguel são o casal mais 'strelado' do mundo";

(viii) a Guiné era o território preferido de muitas enfermeiras: guerra a sério foi na Guiné, uma escola também de "grande solidariedade", como recorda a Giselda (***): 

"Foi (...)  com alguma expectativa que no início de 1972 me mudei, "com armas e bagagens", para a província da Guiné. Aí, finalmente, respirava-se um ambiente muito mais operacional, onde a solidariedade e a camaradagem eram bem visíveis e o trabalho puxado nos fazia sentir mais realizadas.

O contacto diário com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me até hoje recordações que dificilmente desaparecerão.

Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento. São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - pára-quedistas, pilotos e pessoal Especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei à Força Aérea como enfermeira paraquedista".

Fonte: Adapt. também de Enfermeiras Pára-Quedistas: Boina Verde e dedicação. In: José Freire Antunes: A Guerra de África, 1961-1974, Vol II. Lisboa: Círculo de Leitores. 1995. 663-684.




In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 431 (com a devida vénia).

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Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26740: Parabéns a você (2370): Giselda Pessoa, ex-Sargento Grad Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1972/74)