Caros amigos e camaradas:
Soube de vós todos através do Sousa de Castro. Aqueles que já me conhecem sabem que eu tive outro endereço, e falámos muito através dele. O que sucedeu é que tive de mudar esse endereço...A minha caixa de correio passou a ter [montes] de correspondência todos os dias, com ofertas de viagras (não é que não fizesse jeito, é claro) e outra drogas, meninas de presente e montes de outra publicidade. Enfim, era demais e fiquei farto!
Para aqueles que eu conhecia enviei-lhes o meu novo endereço, mas não deu resultado, devido à minha nabice certamente. Devido a esta também, tive de mandar formatar o disco rígido mais de uma vez e perdi todos os endereços nele contidos.
Para todos, conhecidos e não conhecidos, é com muita satisfação que me junto ao grupo dos ex-combatentes e amigos da Guiné.
Para todos, conhecidos e não conhecidos, é com muita satisfação que me junto ao grupo dos ex-combatentes e amigos da Guiné.
Como vêem o meu endereço actual é cantacunda@netcabo.pt (hei-de um dia dizer-lhes o que era Cantacunda, na floresta do Oio, bem como Banjara, também na floresta do Oio).
Um abraço. A. Marques Lopes
13 de maio de 2005:
Guimarães:
Presumo que não saiba o que é feito do Banjara (António Marques Lopes, tenente coronel na reserva). Encontrei-o num site sobre a Guiné com o nome Cantacunda. Na mensagem que enviei há pouco fiz-lhe o convite para entrar no grupo. Ele possui muitos documentos sobre a guerra colonial e também sobre o 25 de Abril. "Tem de os divulgar".
Creio não ser problema no mundo de hoje podermos dizer o que nos vai na alma, temos de desabafar. Há coisas nas nossas cabeças que nem a mulher e os filhos são capazes de perceberem muito bem o que foi esse tempo. A Net é um veículo muito poderoso, temos de aproveitar este meio de comunicação para dar a conhecer à malta nova o que foi a guerra colonial na Guiné. Bom fim de semana.
13 de maio de 2005:
Humberto Reis:
Vi a mensagem que tinhas enviado ao Luís Graça, sim. Aliás ando sempre muito atento a tudo que fala na Guiné... Hoje muito mais atento ando, ainda bem que o espaço da minha companhia (todos tínhamos alguma coisa) está hoje a alargar-se. Bem para todos nós que de uma ou outra maneira andámos aquela guerra (...) No meio daquela guerra algo se saldou de extremamente positivo, a nossa fraternidade que só um combatente entende... Nem a mãe, a mulher ou o filho entenderá nunca as nossas vivências, a morte de um companheiro que, como nós era jovem e sonhava e deixou de o fazer abruptamente...
Essa operação para a Ponta do Inglês (informou-me mais concretamente o Luis Graça) ceifou aqueles nossos camaradas. Um deles que me acompanhou desde a recruta até ao momento em que desembarcámos no Xime na LDG que nos transportou... Foi a última vez que estive com aquele que um dia encontrarei no céu para lhe dar um abraço, o Cunha.
Em Bafatá, sim, conheci, mesmo no fim da minha comissão (estive lá colocado um tempinho), esse celebre café [das libanesas] e todas aquelas casas de comida e bebida... Bafatá tão linda ! Hoje como que jaz quase morta em relação áquilo que existia no nosso tempo... Tenho a sensação de que ano a ano tudo se degrada e cidades e povovoações se tornam fantasmas ... Bafatá hoje é um cortar de corações: tudo fechado, salvo uma ou outra casa...
Recordações do passado tão próximo ainda. Para isso estamos nós a recordar... ou a viver...
Continuaremos a conversa-Creio que pertencias também à CCAC 12, foste ao Xitole... possivelmente, foi lá que estive durante a minha comissão...
Um abraço... David J. Guimarães [CART 2716, aquartelada no Xitole, e pertencente ao BART 2917 > 1969/1970]
PS - Deixo aqui os meus dois endereços de e-mail: o de casa e o do local de trabalho.
12 de Maio de 2005:
Um abraço. A. Marques Lopes
13 de maio de 2005:
Guimarães:
Presumo que não saiba o que é feito do Banjara (António Marques Lopes, tenente coronel na reserva). Encontrei-o num site sobre a Guiné com o nome Cantacunda. Na mensagem que enviei há pouco fiz-lhe o convite para entrar no grupo. Ele possui muitos documentos sobre a guerra colonial e também sobre o 25 de Abril. "Tem de os divulgar".
Creio não ser problema no mundo de hoje podermos dizer o que nos vai na alma, temos de desabafar. Há coisas nas nossas cabeças que nem a mulher e os filhos são capazes de perceberem muito bem o que foi esse tempo. A Net é um veículo muito poderoso, temos de aproveitar este meio de comunicação para dar a conhecer à malta nova o que foi a guerra colonial na Guiné. Bom fim de semana.
13 de maio de 2005:
Humberto Reis:
Vi a mensagem que tinhas enviado ao Luís Graça, sim. Aliás ando sempre muito atento a tudo que fala na Guiné... Hoje muito mais atento ando, ainda bem que o espaço da minha companhia (todos tínhamos alguma coisa) está hoje a alargar-se. Bem para todos nós que de uma ou outra maneira andámos aquela guerra (...) No meio daquela guerra algo se saldou de extremamente positivo, a nossa fraternidade que só um combatente entende... Nem a mãe, a mulher ou o filho entenderá nunca as nossas vivências, a morte de um companheiro que, como nós era jovem e sonhava e deixou de o fazer abruptamente...
Essa operação para a Ponta do Inglês (informou-me mais concretamente o Luis Graça) ceifou aqueles nossos camaradas. Um deles que me acompanhou desde a recruta até ao momento em que desembarcámos no Xime na LDG que nos transportou... Foi a última vez que estive com aquele que um dia encontrarei no céu para lhe dar um abraço, o Cunha.
Em Bafatá, sim, conheci, mesmo no fim da minha comissão (estive lá colocado um tempinho), esse celebre café [das libanesas] e todas aquelas casas de comida e bebida... Bafatá tão linda ! Hoje como que jaz quase morta em relação áquilo que existia no nosso tempo... Tenho a sensação de que ano a ano tudo se degrada e cidades e povovoações se tornam fantasmas ... Bafatá hoje é um cortar de corações: tudo fechado, salvo uma ou outra casa...
Recordações do passado tão próximo ainda. Para isso estamos nós a recordar... ou a viver...
Continuaremos a conversa-Creio que pertencias também à CCAC 12, foste ao Xitole... possivelmente, foi lá que estive durante a minha comissão...
Um abraço... David J. Guimarães [CART 2716, aquartelada no Xitole, e pertencente ao BART 2917 > 1969/1970]
PS - Deixo aqui os meus dois endereços de e-mail: o de casa e o do local de trabalho.
12 de Maio de 2005:
É isso, David! Quer queiramos quer não acabamos a falar da "nossa", deles, Guiné.
Não sei se já viste uma mensagem que enviei para o Luís Graça sobre uma ida minha à Guiné em 1996. Voltei lá exactamente no dia em que fazia 25 anos que tinha vindo de lá (17 de Março de 71).
Por acaso também fui naquela operação dos 5 mortos, em que morreu o guia do Xime e um furriel miliciano, também do Xime (CART 2714). Coisas da vida que não deixamos de recordar, quer sejam boas quer sejam más.
Tenho "bebido" as vossas fotos de 2001 e as notícias que vão dando e lembro-me de que em 1996 quando cheguei a Bambadinca, uma ex-lavadeira (que não tinha sido a minha) me reconheceu ao fim de 25 anos. No vídeo que um amigo que ia comigo fez, nota-se perfeitamente que comecei a chorar, tal como o estou agora que estou a escrever estas linhas. Não tenho vergonha nenhuma de ter chorado.
Essa ex-lavadeira tem um sobrinho, que conheci lá nesse dia, chamado Zeca Braima Samá que é o professor de Bambadinca. Quem conheceu o célebre café das "libanesas" em Bafatá normalmente só se lembra daquelas caras bonitas, brancas, filhas da D. Rosa (ainda viva). Mas ela não tem só filhas, tem um filho, um pouco mais novo que nós, que foi páraquedista no BCP 12 de Bissalanca (já passou à peluda como tenente-coronel) e de quem tenho o prazer de ser amigo. Ele mora aqui na zona de Lisboa, mais concretamente em Linda A Velha, mas continua arreigado à terra que o viu nascer, Bafatá, e como bom libanês de antepassados, o comércio está-lhe na massa do sangue. Passa metade do ano em Bissau no negócio da castanha de cajú. Vem isto a propósito de ser ele, e o amigo que foi comigo à Guiné em 96, que me leva o material escolar para a escola de Bambadinca que eu passei a fornecer a expensas minhas desde essa data.
Esse professor, o Zeca, como eu lhe chamo, escreve correctamente o português e com uma caligrafia que faz inveja a muita gente, a começar por mim. Faz-me recordar o episódio do furriel enfermeiro do Xime da CART que teve lá um aluno que hoje é engenheiro em Portugal.
Para hoje já chega de divagações.
Recordar é viver.
Um abraço para vocês. Humberto Reis [CCAÇ 2590/CCAÇ 12 > Contuboel e Bambadina > Maio de 1969/Março de 1971]
12 de Maio de 2005:
Luís Graça:
Fiquei deveras emocionado - é bom de facto existirmos como gente de bem na altura, e fomos.... Não vamos discutir os regimes vigentes nem a justiça da guerra. A guerra é sempre injusta... Mas de todo o mal que a guerra é, uma coisa trouxe a cada combatente: um amigo mais e mais. Hoje somos milhares, tipo orfeão, afinados numa mesma voz, a solidariedade do combatente...
A companhia a que pertenci [CART 2716, Xitole] faz anualmente um convívio, no último sábado de Maio... De cada vez que nos reunimos sempre voltamos aos mesmos anos e as conversas repetem-se:
- Quando houve a emboscada e tu...; e daquela vez em que a coluna e os turras...; e naquele assalto, ena que coisa terrível, tanto fogo...; e mais isto, e mais aquilo....
Assim todos os anos são as mesmas operações, as mesmas bebedeiras, as mesmas bajudas, tudo recordações que nos assaltam o espírito e lá vem novamente a história do vagomestre que se meteu no abrigo debaixo da cama quando o quartel era bombardeado e dizia Ai maezinha!...
E aquele programa - curioso que era o João Paulo Diniz que o fazia - de discos pedidos... Alguém falava em crioulo: para o João Seissi Djaló que é de Catió, Gianni Morandi em Não sou dinho di vó...
Isto tudo para dizer o seguinte: andamos embrenhados nesta matéria e muitos mais quererão falar, expor e contar. Vamos recolher ex-camaradas e formar uma comunidade. Existe no Hotmail uma possibilidade de se abrir uma Comunidade gerenciada por nós e aí abrirmos uma frente de debate...
Acho importante. Se cada um contar um episódio de cada vez muito se escreverá e ficará um documento muito bom.... Acho essa ideia curiosa. O Sousa e Castro conhece como se manejam estas comunidades, inclusive podem-se fazer lá álbuns de fotografias... Elas só vão abaixo se não forem mexidas com participações ou se os gerentes quiserem que elas se extingam....
Creio que este será um modo de se arranjar bastantes documentos e tu, Luis Graça, por aí poderás por certo enriquecer o teu blogue que está uma maravilha... Diria eu que melhor é impossivel... É a primeira vez que vejo algo escrito sobre a nossa guerra, é verdade, a nossa guerra... Obrigado por lhe teres chamado o nosso espaço, é isso mesmo: tu arranjaste o nosso espaço... É aquele espaço da nossa juventude perdida. Obrigado.
Um abraço a todos os outros camaradas,
David Guimarães [CART 2715]
11 de Maio de 2005:
Caros amigos e camaradas:
Vocês, quer queiram quer não, já estão no ciberespaço, na Net… Pesquisem no Google os vossos nomes, sem mais nada:
http://www.google.pt/
Introduzam os vossos nomes juntos ou separadamente, com aspas. Assim, por exemplo:
“David J. Guimarães”
“Sousa de Castro”
“David J. Guimarães” + “Sousa de Castro”
Ou então os vossos apelidos seguidos de palavras-chaves como Guiné, Xime, Xitole, guerra colonial:
Castro + Xime
Guimarães + Xitole
É uma pequena homenagem ao vosso esforço para que nós, os ex-combatentes da Guiné, a malta do triângulo (que foi de morte e foi de vida, de guerra e de paz, de sofrimento e de amizade) do Xime-Bambadinca-Xitole, o Sector L1 da Zona Leste, mas também a malta de todos os outros sectores, do norte ao sul da Guiné, não caiamos no esquecimento, não nos tornemos uma espécie em vias de extinção…
Luís Graça [CCAÇ 2590/ CÇAC 12]