quarta-feira, 3 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11337: In Memoriam (147): Luís Fernandes Gonçalves Moreira (1948-2013), natural de Viana do Castelo, ex-fur mil trms, CCAÇ 2789 / BCAÇ 2928 (Bula, 1970/72)



Luis F. Moreira (29/12/1948- 3/4/2012)


 Retrato, em tela, do Luis F. Moreira, da autoria do artista plástico,  ex-paraquedista em Angola e também colega de trabalho nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, José Marques.Imagem enviada pelo Sousa de Castro.


1. Mensagem acabada de chegar, do nosso tertuliano nº 2, o mais antigo, o Sousa de Castro:



De: Sousa de Castro  
Data: 3 de Abril de 2013, 16:44

Assunto: Morreu o tertuliano Luís Fernandes Gonçalves Moreira

Caro amigos editores do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:


É com grande tristeza que participo a todos os amigos e camaradas da Guiné que o nosso tertuliano Luís Fernandes Gonçalves Moreira, desencarnou hoje,  dia 3 de abril de 2013, vítima de doença prolongada. 

O funeral realiza-se em Perre, Viana do Castelo, pelas 16,00 de amanhã, dia 4.

2. Deixo aqui o poste em que ele se apresentou à Tabanca Grande:


(...) Mensagem de Luís F. Moreira, ex-Fur Mil  Trms da CCAÇ 2789/BCAÇ 2928, Bula, 1970/72, com data de 1 de Fevereiro de 2009:

Antes de mais um grande agradecimento pelo trabalho feito ao serviço de todos aqueles que perderam um pedaço da sua juventude na guerra. Muito obrigado.

Depois de algum tempo já consegui entrar em contacto com o genro do João Antão,  da minha Companhia,  e já enviei 3 fotos. Vou procurar manter o contacto e troca de informações.

Aproveito para enviar também para a nossa caserna três fotos, que me parece ter algum interesse a quem passou por Bula. A capela do Batalhão, o Monumento que deixamos em memória dos nossos mortos e a equipa de futebol do grupo de Pete (um destacamento da CCaç 2789).

Enviarei depois as duas minhas para pertencer à grande Caserna.

Um Abraço a todos
Luís Moreira
Ex-Fur Mil Trms
CCaç 2789/BCaç 2928
BULA
1970/72 (...)

3. Comentário de L.G.:

Não conhecia pessoalmente o Luís F. Moreira, mas era já uma presença familiar na nossa Tabanca Grande que, hoje, fica  mais pobre, triste e desolada. Obrigado, Sousa de Castro, pelo rápido envio da funesta notícia. Peço-te, no caso de poderes ir ao funeral, que transmitas à família o nosso grande pesar pela morte do Luís.

Envio também, em meu nome, dos demais editores, colaboradores e restante pessoal da Tabanca Grande,  aos camaradas da CCAÇ 2798, que estiveram em Bula, entre 1970 e 1972, palavras de apreço e de solidariedade. É mais um bravo que nos deixa, e que da lei da morte se libertou. O seu nome continuará a figurar na nossa lista de grã-tabanqueiros.  Saibamos honrar a sua memória.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11307: In Memoriam (146): D. Maria Hermínia Jesus Machado (Guifões, 1924-2013), mãe do nosso camarada Albano Costa, que faleceu hoje, dia 24 de Março (Editores)

Guiné 63/74 - P11336: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (13): Um batizado muçulmano

1. Continuação da publicação do Diário de Iemberém, por Anabela Pires (Parte XIII) (*)


 [, Foto à esquerda: a Anabela em Catesse, janeiro de 2012, crédito fotográfico: Pepito]


10 de Março de 2012

Ontem foi o batizado do Arnold Abdulai Djaló, o bebé que vi nascer. A Dra. Sónia, a médica alemã que tinha ido observar a Mariatu, telefonou durante a viagem para Bissau a saber como estava a decorrer o parto e foi-lhe dito que já tinha nascido um menino. Ela pediu para lhe darem o nome do seu marido. E assim foi. O menino chama-se Arnold (nome do marido da médica) Abdulai (nome de um irmão da Mariatu já falecido) Djaló (apelido da família do pai). Desta vez não perdi pitada e fotografei todo o batizado. Só me retirei quando degolaram a cabra, o que foi muito rápido.

A determinada altura, o sr. João Manuel (nome português de um habitante local que fez tropa no exército português) apresentou-me no terreiro dos homens e resolveram dar-me um nome guineense: Adama Queta. Bom, foi quase um segundo batismo mas não me raparam o cabelo, nem me lavaram a cabeça com a água onde mergulham folhas de mangueira, de figueira e cola.


[ Foto à direita: um batizado muçulmano, Iemberém, 6 de desembro de 2009. Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados]


Ontem chegou também o Pepito com o Claúdio, o Professor Turco e o Marco, italianos ligados ao Projeto EcoCantanhez. À tarde houve uma reunião com os guias turísticos e não percebi bem se também estavam os guardas do Parque. A reunião decorreu em crioulo e só consegui entender o sentido global do tema em debate. Hoje haverá nova reunião com os guias na qual irei participar. 

Temos cá, como turistas, um casal formado por uma guineense bastante clara e um italiano que vive em Bissau há 3 anos (namorados – penso que ele é representante da UE) e um casal americano que chegou de surpresa e veio de bicicleta desde Buba, uma terra que fica aqui a uns quantos quilómetros.

Por causa de todas estas pessoas, na 5ª feira estive grande parte do dia com a Satu na cozinha e fizemos bananas fritas, crepes de laranja (pela primeira vez; a Satu gostou muito e os clientes também) e tarte de limão. Como sempre acontece nas formações, de tudo o que vou ensinando à Satu sei que no futuro só fará três ou quatro receitas. Tenho sempre pena de que assim seja pois para mim a diversidade é importante. Para já sei que fará o Bolo de Laranja, a Tarte de Coco e Bananada Odile, talvez as Laranjas da Guiné à moda da Rosinda e … vamos ver se os Crepes de Laranja e a Tarte de Limão. Quem sabe a Salada de Repolho e Cenoura, a Sopa Juliana …. Só o tempo o dirá!

Agora vou começar a preparar a viagem que farei com 3 formandas à Gâmbia, a um projeto de ecoturismo. Bom, o mais difícil é preparar uma visita de estudo sem fazer a mínima ideia do que vamos ver e encontrar. Ainda não consegui que me dessem qualquer informação e não posso pesquisar pois não tenho Internet. O meu trabalho tem sido feito sem impressora (o Pepito já trouxe uma mas agora não temos eletricidade), sem viatura, sem Internet e agora sem eletricidade com menos possibilidades de carregar a bateria do computador.

Com um caderno B5 e outro material de escritório que trouxe de Portugal vou fazendo o que posso. A maioria das vezes faço as coisas no computador, para ficar com uma cópia, e depois passo à mão para as folhas do caderno (que está a acabar mas aqui há cadernos à venda!). E como a Judith [, francesa,] vai estar fora o fim-de-semana, o que me impedirá de carregar a bateria do computador no seu painel solar, o melhor é ficar-me por aqui pois já só tenho carga para mais 3 horas até à próxima 3ª feira!

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11301: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (12): As mulheres, as mães...também aqui elas são, na maioria das vezes, o garante do sustento da família

Guiné 63/74 - P11335: Parabéns a você (554): Álvaro Vasconcelos, ex-1.º Cabo de TRMS do STM (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 30 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11330: Parabéns a você (553): António Graça de Abreu, Benjamim Durães e Rosa Serra

terça-feira, 2 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11334: Em busca de ... (220): Pessoal do Hospital Militar de Bissau, do tempo do meu pai, 1º cabo enf Vitorino Dores Pereira, HM 241, 1965/67 (João Rodrigo Pereira)




Guiné > Bissau > HM 241 > 1970 > Varando do hospital miliatr de Bissau. Foto do álbum de Elias dos Anjos Rodrigues, ex-soldado atirador do 3.º pelotão (, comandado pelo allf mil Ravasco), da CCAÇ 2700 (Dulombi, ,1970/72). O Elias mora em Vale de Anta, Chaves. Foi gravemente ferido 10 de Agosto de 1970, numa mina A/C na região de Jifim.

Cortesia do blogue CCAÇ 2700 - Dulombi (1970/72), criado (em 2007) pelo nosso grã-tabanqueiro Fernando Barata. Reproduzido com a devida vénia.

Foto: © Elias Anjos Rodrigues (2012). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem do nosso leitor João Rodrigo Pereira:
De: João Pereira

Data: 17 de Março de 2013 à13 00:07

Assunto: Hospital Militar de Bissau, Guiné 65-67

Boa noite.

Numa visita ao vosso blogue, reparei que tinham muitas recordações sobre a Guiné. Deve estar a estranhar eu ser tão novo e já estar interessado nas histórias do ultramar, mas o meu interesse também é dar um pouco de lembranças ao meu pai, que tanto me fala da Guiné. Andamos os dois na iInternet a tentar descobrir mais um pouco, dos colegas, das fotos, e encontramos o vosso blogue. Acontece que,  com tanta informação, é difícil encontrar aquilo que desejamos.

O meu pai chama-se Vitorino Dores Pereira, era 1º cabo enfermeiro, e esteve a trabalhar no Hospital militar da Guiné-Bissau, no bloco operatório, entre 1965 e 1967. Houve uma altura em que ele,  na revista do Correio da Manhã, e numa reportagem sobre a Guiné, entrou em contacto com um colega, que depois ficou de ligar, mas entretanto nada.

Se nos puder ajudar, seria muito gratificante, e agradável o meu pai rever o que passou, encontrar colegas, e falar de tudo,  quer coisas boas quer coisas más. Cumprimentos e aguardarei um mail seu.

João Rodrigo Pereira


2. Comentário de L.G.:

João, sê bem, vindo. Os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são. Obrigado pela tua mensagem. Já em tempos, em 2009,  nos tinhas contactado e nós publicámos o teu apelo. Transmite, por favor, ao teu pai as nossas melhores saudações. Vamos ajudá-lo a encontrar malta do seu tempo, do HM 241, 1965/67. Se calhar, a melhor maneira de o reconhecerem, é publicarmos uma foto dele, desse tempo. A tarefa não é fácil, sendo ele muito provavelmente de rendição individual. Por outro lado, como sabes ou deves imaginra, muitos camaradas do teu tempo desse tempo, ainda não navega pela Internet com a mesma facilidade de filhos e netos. Vê se o teu pai se lembra de alguns nomes desse tempo, de enfermeiros, médicos e outros técnicos de saúde. Tens razão, com tanta informação (são já mais de 11 mil postes, e dezenas de milhares de fotografias), é difícil encontrares o que pretendes. Mas pesquisa aqui:

HM241 [Hospital Militar nº 241, em Bissau] (tem mais de 80 registos ou marcadores no nosso blogue)
Os Nossos Enfermeiros (mais de 20 registos ou marcadores)
Os Nossos Médicos (cerca de 80 registos ou marcadores).

Boa sorte. Vamos ver se aparece alguém desse tempo, ligado ao HM 241. Um Alfa Bravo (ABraço). LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11327: Em busca de ... (219): Malta da 2ª companhia do BART 6523 (Cabuca, 1973/74) e do Carlos Alberto Louro da Costa, que assentou praça comigo no RI 14 (Manuel Sousa da Silva, Armamar)

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11333: O Nosso Livro de Visitas (164): Dionildo Nunes Guardado (ex-sold, CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70)

Guiné > Região do Oio > Mansabá > CART 2732 (1970/72) > 12 de Novembro de 1970 > Ataque do PAIGC... Enfermaria militar atingida por munição de canhão sem recuo. A CART 2732 foi render a CCAÇ 2403.

Foto: © Carlos Vinhal (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas. Todos os direitos reservados


1. Mensagem de 29 de março último, do nosso leitor (e camarada Dionildo Nunes Guardado;

De: Dionildo Nunes Guardado 
Data: 29 de Março de 2013 à32 10:19
Assunto: Camaradas da Guiné

Camarada Luís

Eu fiz parte da CCAÇ 2403,  era do 3º pelotão, da secção de metralhadoras mas estive a maior parte do tempo a trabalhar na cozinha.

Quando fomos para Mansabá,  fui trabalhar para a messe.

Tenho bastantes recordações, lembro-me no tempo que tivemos em Nova Lamego. Por exemplo, lembro-me que um pelotão da nossa companhia ia fazer uma escolta e fazer proteção aos camiões que iam fazer o abastecimento a um outro destacamento. Sofreu  uma emboscada.  Um roquete inimigo conseguiu  furar a chapa da Fox. Morreram os dois operadores que manobravam a viatura.

Também me lembro que, não sei precisar o dia, numa escolta de Mansoa a Mansabá também tivemos uma emboscada onde morreu um camarada nosso que, ao lançar um dilagrama com a bala apropriada foi com a vala real e a granada expludiou e ele teve morte imediata.

Mas há muito mais para recordar como a tragédia do Rio Corubal. Agora termino com um
abraço para todos os camaradas da Tabanca Grande

Dionildo Nunes Guardado
ex-sold, CCAÇ 2403/BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá Mandinga, Olossato e Mansabá, 1968/70); é atualmente coronel na reforma):
Email: nunesdionilo@sapo.pt

2. Comentário de L.G.:

Camarada Dionildo, sê bem vindo. A história da tua companhia e das vossas andança pela Guiné já aqui foi contada pelo teu ex-comandante, Hilário Peixeiro, hoje coronel na reforma. Mas as tuas recordações serão bem vindas, caso queiras integrar a nossa Tabanca Grande. Teremos muito gosto em publicá-las. O preço é simbólico: mandas duas fotos tuas, uma do teu tempo de tropa e outra atual, e contas, com maior detalhe, um história de que te lembres. Boa saúde, longa vida. A malta do blogue encontra-se todos os anos. O nosso VIII Encontro Nacional vai ser em Monte Real, Leiria, a 8 de junho de 2013. Um Alfa Bravo. Luis Graça
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevererio de 20134 > Guiné 63/74 - P11145: O nosso livro de visitas (163): Sónia Miranda, filha do nosso camarada, já falecido, Francisco Pacheco Miranda, ex-1º cabo, presumivelmente da CCAÇ 274, mobilizado pelo BII 18, Ponta Delgada (Fulacunda, 1962/64) (José Martins)

domingo, 31 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11332: Blogpoesia (332): Santa Páscoa (Luís Graça)







Candoz, 30 de março de 2013. Fotos de L.G.


A Santa Páscoa da Madalena

Páscoa em Março, fome ou mortaço,
Diz o povo, sem razão,
Na Madalena há o compasso,
Há festa, há união.

Viva o compasso pascal,
Que nos vem visitar,
Franqueando nosso portal,
Santas bênçãos nos quer dar.

Páscoa é vida e vale a pena,
É tradição cá do norte,
E também da Madalena,
Gente alegre e de altivo porte,

É simples a sua mensagem:
Triunfa a vida sobre a morte.
Segue o compasso a viagem
E a todos deseja sorte.

É casa de boa gente,
É um casal abençoado,
Vamos agora dar ao dente
E atacar…o anho assado.


Madalena, Vila Nova de Gaia, 31/3/2013

sábado, 30 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11331: Convívios (509): Almoço/convívio do pessoal da CART 2519, dia 4 de Maio de 2013, Benavente (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (BubaAldeia Formosa eMampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem solicitando a divulgação do programa da festa da sua unidade:

CART 2519 "OS MORCEGOS DE MAMPATÁ OS COIRÕES"




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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

30 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11331: Convívios (508): 4.º convívio da CCAV 8352, no próximo dia 2 de Junho de 2013, em Barcouço / Mealhada (Manuel Teles)

Guiné 63/74 - P11330: Convívios (508): 4.º convívio da CCAV 8352, no próximo dia 2 de Junho de 2013, em Barcouço / Mealhada (Manuel Teles)



1. O nosso Camarada Manuel Teles, que foi Fur Mil da CCAV 8352, Caboxanque 1973/74, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual da sua unidade: 


Convívio da CCAV 8352 

Camaradas e Amigos, 

O 4.º convívio da CCAV 8352 realiza-se no próximo dia 2 de junho de 2013. 

O almoço terá lugar no restaurante: 

Manuel Júlio – Santa Luzia 3050 – 106 – Barcouço

Telefones: 239 913 512 e 919 438 454

GPS – N: 40.3052566581 - W: 8.44882008816

Site: www.manueljulio.pt 


Preço: Adultos - 20 €: Crianças - 5/9 anos – 10€: Crianças até aos 4 anos - grátis 

Este restaurante situa-se na Estrada Nacional – IC2 – entre Coimbra e Mealhada (12 Km a norte de Coimbra e 6 Km a sul da Mealhada). 

A concentração terá lugar junto ao restaurante a partir das 11h30. 

Agradeço a confirmação até 15 de maio, por telefone ou e-mail, indicando o número de participantes. 




Um abraço, Manuel Teles
Telefones: 917 079 281 – 227 322 701
e-mail: mnl.ftls@gmail.com
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

27 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11323: Convívios (507): 7º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Viseu, 4 de Maio de 2013 (Benjamim Durães)


Guiné 63/74 - P11329: Parabéns a você (553): António Graça de Abreu, Benjamim Durães e Rosa Serra






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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11321: Parabéns a você (552): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732 (Guiné, 1970/72); Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS/BCAÇ 4612 (Guiné, 1974) e amiga tertuliana Maria Dulcinea que pisou a terra vermelha de Bissorã

sexta-feira, 29 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11328: Blogpoesia (331): Cá vamos andando (Luís Graça)



Quinta de Candoz > 31 de agosto de 2011 > O fotógrafo... estilhaçado.

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados


1. Ainda no Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013... Em homenagem, a um dos meus poetas preferidos, Ruy Belo (1933-1978), autor de livros de poesia que já entraram na história da nossa literatura tais como Aquele Grande Rio Eufrates (1961), O Problema da Habitação (1962), Boca Bilingue (1966), Homem de Palavra(s) (1969), Transporte no Tempo (1973), País Possível (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976), Despeço-me da Terra da Alegria (1978)... Infelizmente morreu jovem, aos 45 anos... E o país, distraído, só agora está a reconhecer a sua grandeza como poeta... (LG)

Cá vamos andando
Luís Graça

Às vezes este país parece-se com o Cairo,
Com o caótico tráfico rodoviário do Cairo.

Com as montanhas russas do Cairo.
Um carrossel desengonçado
Sem código da estrada.
Sem regras.
Sem semáforos.
Sem polícia sinaleiro.
Mas mesmo assim a coisa anda, flui,
E a gente sempre consegue chegar a alguma parte.

Pode não ser o sítio certo,
Mas sempre chega a alguma parte,

Entre algures e nenhures.
Ou pelo menos tem essa ilusão de ótica.
Que o importante é chegar, sobreviver, dizem-te.
- Cá vamos andando -, responde-te o Zé Portuga,
Quando lhe perguntas como está.
No Portugal sacro-profano,
A gente lá vai andando.
Ora bem, ora mal.
Conforme o tempo 

E os humores,
E os males de amores,
E o dinheiro de bolso.
Conforme o caminho e as pedras.
Ou até os companheiros de viagem.

Às vezes a gente tropeça e cai,
Para logo se levantar
E prosseguir a marcha,
Ora lenta ora brusca.
Agora o pobre do país tenta,
A todo o custo,
Não perder a última carruagem
Do comboio chamado Europa.
Há quanto tempo?
Às vezes tenho a impressão
De que essa correria
Atrás do comboio da Europa
É um filme que dura há já muito, muito tempo,
Há anos, há séculos, quiçá desde sempre...
Um daqueles filmes, mudos,
Que a gente via no nosso cinema de bairro.
Quando havia cinema de bairro
E filmes mudos
E a Fénix da Europa renascia das cinzas da guerra
E eu vivia num país orgulhosamente só.
- Pobrezinhos mas orgulhosamente sós,
Meu menino! - dizia o senhor padre 

E a senhora professora,
E o senhor regedor.

Mas tal comparação é injusta e ofensiva
Para com os portugas,
Para com o Zé Portuga,
Que é, afinal,
O nosso único (ou último) herói nacional.
Na realidade, é a política deste país
Que se parece com o caótico trânsito cairota...
É a política, 

São os políticos,
Os dirigentes do país, 

A sua elite,
A nata,
A fina flor...
É a gestão da coisa pública,
Ou a falta dela,
O laxismo, 

O cansaço,
A falta de imaginação,
A perda de valores,
A ausência de liderança,
A opacidade das regras
Ou melhor, o seu vazio,
A ligeireza,
A falta de lata, 

De vergonha, 
De caráter...

Às vezes apetece-me gritar, 

Ao Zé Portuga,
Ao homem do leme,
Ao motorista do táxi,
Ao condutor do carro de bois,
Ao simples peão,
A mim próprio:
- Ala malek!, mais depressa, mais  depressa,

Homem,
Que se faz tarde,
E que ainda perdes
A última carruagem do último comboio!


Luís Graça, nov 2004 / mar 2013
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(1) Ala malek, em árabe, quer dizer mais depressa... Disseram-me no Cairo. É sempre bom, em qualquer esquina do mundo, ter meia dúzia de palavras do patois local na ponta da língua... Como, por exemplo, desenrascanço, em Lisboa. Ou esquema, em Luanda.
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11289: Blogpoesia (330): No Dia Mundial da Poesia... Como é bom rever-te, Lisboa, Tejo e tudo (Luís Graça)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11327: Em busca de ... (219): Malta da 2ª Companhia do BART 6523 (Cabuca, 1973/74) e do Carlos Alberto Louro da Costa, que assentou praça comigo no RI 14 (Manuel Sousa da Silva, Armamar)

1.  Mensagem do nosso leitor (e camarada) Manuel Silva:

Data: 26 de Março de 2013 à50 19:19
Assunto: reencontro de camaradas

Boa tarde: como não consegui enviar o email para o mail do blogue Cabuca6523,  tomei a liberdade de o enviar para si.

O meu nome é Manuel Sousa da Silva, sou natural de Armamar, assentei praça no dia 24 de Outubro de 1972 no RI 14.

Embarquei para a Guiné em julho de 73 com a 2ª companhia do BART 6523,  4º Pelotão [, Cabuca, 1973/74].

Com este email eu pretendia reencontrar os camaradas que estiveram comigo na Guiné. De todos eu gostaria de ter noticias mas em particular do Carlos Alberto Louro da Costa que assentou praça no RI 14. No entanto não sei se ainda é vivo mas gostaria de saber alguma coisa.

Se por acaso tiver contacto de algum camarada da minha companhia,  por favor envie-me o contacto.

Obrigado
Manuel Sousa da Silva


2. Comentário de L.G.

Camarada, da tua companhia temos aqui, no nosso blogue, o António Barbosa, alf mil op esp. Era do 1º pelotão da tua companhia, a segunda. Carrega aqui para saberes mais. Também temos o  José Saúde, ex-fur mil op esp, que pertencia à  CCS/BART 6523 (Nova Lamego, Gabu, 1973/74). Manda-nos 2 fotos tuas, uma atual e outra do teu tempo de tropa, para que a malta de possa reconhecer.  E conta-nos uma história do teu tempo. Teremos muito gosto em receber-te na nossa Tabanca Grande Uma boa Páscoa!.
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11230: Em busca de ... (218): O meu amigo Inhatna Biofa, um dos jovens guineenses que gravitavam à volta da tropa (Henrique Cerqueira)

Guiné 63/74 - P11326: Facebook...ando (25): José Luís Carvalhido da Ponte, ex-fur mil enf, Cart 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74): De regresso ao Xime!...


1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 27 de Março de 2013: 


Caros camarigos,

Falei ao telefone com o nosso camarada d’armas Carvalhido da Ponte (, o professor do José Carlos Mussá Biai, o minino do Xime, ) no sentido de autorizar a publicação no blogue de um texto no Facebook sobre a sua última viagem em Março 2013 à Guiné, ao Cacheu, fazendo também uma visita ao Xime. O que acedeu prontamente, prometendo colaborar na divulgação do trabalho humanitário que vem desenvolvendo na Vila de Cacheu. Recordo que Viana do Castelo está geminada com esta Vila.

Assim sendo, apresento o ex Furriel Mil Enf (mésinho) José Luís Carvalhido da Ponte. Pertenceu à Cart 3494 do BART 3873. É membro, sénior, da nossa Tabanca Grande.

Professor e director da Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo, com vários trabalhos publicados (vd. aqui), é muito dedicado à causa humanitária na Guiné, na Vila de Cacheu, para onde se desloca regularmente no sentido de contribuir para o bem-estar daquele povo, nomeadamente na área da saúde:


Sousa de Castro

2. Mensagem do José Carvalhido da Ponte, com data de 23 Março de 2013:

Recordar é trazer de novo ao coração, diz-nos uma leitura etimológica da palavra. Recordar é rememorar e neste rememorar revivemos os factos conforme a paleta das nossas emoções. Assim, às vezes perece que esquecemos a recordação e outras esticámo-la, quase ao infinito, como se não a quiséssemos perder. Já Pessoa dizia que o comboio de corda que se chama coração, não raro, invade-nos a razão. 

Tinha 23 anos quando aportei, pela primeira vez, ao Xime, uma aldeia de Bambadinca. A LDG (lancha de desembarque grande) atracou ao pequeno porto, ali mesmo na margem esquerda do Geba. Era Fevereiro de 72.

Deram-nos ordem para nos levantarmos do porão e começarmos ordeiramente a sair. Em terra esperavam-nos, felizes e galhofeiros, os que iríamos substituir.

Depois, nos 27 meses seguintes, deambulamos por Mansambo, pelo Xitole, pelo Enxalé (n’xalé), por Bambadinca, por Bafatá, pelo Saltinho.

Depois regressamos, uns em fins de março e outros, como eu, no 3 de Abril de 74.  Para trás ficaram tantas memórias, tantos medos, tantas aventuras, tantos amigos, vários mortos!


Quando em 2.000 regressei à Guiné, não fui ao Xime. Por nada não. Apenas não calhou. Apenas calhou acontecer em 2008, quando uma colega da ESM, que passeava com outros colegas pelo Senegal, a 17 de Agosto, regressou a Cacheu e desafiou-me: vamos a Tabatô, ali para as bandas de Bafatá, ver os tocadores de Balafon e passas no teu Xime e assim comemoras os teus 58 anos?

Regressar ao Xime? Porque não? Era uma porta que necessitava reatravessar para exorcizar um ou outro fantasma e, em definitivo, oficiar pelo Manuel Bento, caído em combate, logo nesse ano de 72.

E fomos. E neste ano de 2013 regressei, agora com o Dr Manuel Pimenta. Das duas vezes tive de respeitar várias manadas de bovinos e se da primeira ainda pude recordar os desembarques nos restos mortais do pontão do Xime, agora o tarrafe invadira o espaço a impedir as minhas quarentonas nostalgias.

De repente... ollha ali a escola onde lecionei as 4 classes ao mesmo tempo. Entro na decrépita escola. Que saudades! Continua sob um enorme poilão. Procurei caras, anichadinhas bem dentro de mim. Não apareceram. Nem a da Teresa, uma jovem professora caboverdiana que me acompanhou nessas andanças letivas durante um ano, por toda a Bambadinca e que cozinhava frango com piripiri dum jeito que nunca vi. De repente assoma à porta um homem dos seus 55 anos e atira-me: oi professor Ponte! Fui seu aluno, lembra-se? Claro que lembro! E não tive coragem de lhe perguntar o nome nem de lhe dizer que não, que não me lembrava. E falou-me de homens e mulheres de 72 que já partiram, que morreram, que estão por ali. É então que, de repente surge a minha lavadeira do tempo, a Carfala, em 72 com 11/12 anos e hoje, com uma bacia à cabeça e desdentada, como eu; mais adiante o Bacar Biai que escreve poesia em marabutu e à frente o Malan Mané, encostado a um barrote de uma tabanca. E outros. E perguntou-me pelo Furriel Sousa Pinto. Morreu há um ano, mais ou menos, lhe disse. Ah! Eu gostava dele.

Depois, sozinho, percorri partes da tabanca e do antigo aquartelamento. Sozinho, para que ninguém visse uma ou outra lágrima de saudade. Sim de saudade. Bolas, éramos jovens com 21 a 23 anos. Passamos ali dois dos mais importantes anos da nossa vida. Perdemos ali grandes amigos. Aprendemos ali que o medo é uma antecâmara para toda a coragem.

E por hoje, chega de memórias.


Adelino, piloto da lancha Sintex


Bacar Biai, irmão do José Carlos Mussá Biai



Estrada, Xime-Bambadinca. 

Lavadeira Carfala, esposa do Malan Mané




Malan Mané, primo do José Carlos Mussá Biai





O que resta do Cais do Xime...

Fotos (e legendas): © José Luís Carvalhido da Ponte (2013). Todos os direitos reservados. 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P11325: Notas de leitura (469): Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963... Usos e costumes: a tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres, as práticas de necrofagia, o fanado, o choro, o bombolom... (Francisco Henriques da Silva, antigo embaixador)

1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, nosso camarada e grã-tabanqueiro, ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70),  e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]


Data: 23 de Março de 2013 à40 19:00

Assunto: Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume  III), editação da  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963


Meu caros amigos,


Aqui há umas semanas veio-me parar às mãos uma obra do maior interesse  que descobri, por mero acaso, na biblioteca particular de um amigo meu  e para a qual solicito a vossa atenção.Trata-se do livro "Estudos  sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)", editado pela  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963. Um livro de vários  autores,  essencialmente focado em temas de antropologia (entre os quais  sobressai o nome de António Carreira), editado e totalmente dedicado à Guiné então Portuguesa.

Esta obra vem precisamente na linha da correspondência travada com o  Luís Graça, em que ambos reconhecemos que partíamos para as missões de  soberania no chamado Ultramar, qualquer que fosse o local, sem fazermos a menor ideia do que iríamos encontrar. Que povos? Que  línguas? Que religiões? Que usos e costumes? E a lista podia  continuar, sendo a Guiné, atenta a exiguidade do território, de uma  diversidade extraordinária, multifacetada e vibrante.

Explicavam-nos o funcionamento da "Dreyser", como montar uma emboscada  ou como comunicar no rádio, mas nada nos diziam sobre as realidades  geográficas, etnológicas, históricas, religiosas, etc. com que nos  íamos confrontar. Tratava-.se de um ponto essencial, mas os altos  mandos militares da época nunca pensaram nisso ou consideraram-no  desnecessário, como só muito tardiamente pensaram na chamada "acção  psicológica", como é do conhecimento público. Oficiais, sargentos e praças partiam na quase total ignorância do que era a Guiné e os seus  Povos e, no fundo, bastaria um pequeno esforço para dar a conhecer,  por exemplo, mesmo de uma forma resumida, a realidade sociológica da  Guiné. Isso, que eu saiba, jamais foi feito. Partíamos rumo ao
desconhecido, na escuridão total. Recordo que os norte-americanos na  Coreia e no Vietname - e suponho que noutros teatros de operações -  eram instruídos e dispunham de pequenos manuais de divulgação  relativos aos países e povos que iriam encontrar.

O livro em apreço é de um grande interesse e lança-nos muitas pistas  sobre a Guiné. Muitos reconhecerão práticas locais que aprenderam por  experiência própria.  Enfim, aqui vos deixo as minhas impressões.

Com um abraço cordial e amigo e as habituais "mantenhas"

Francisco Henriques da Silva

(ex-Alf Mil Inf  da CCaç 2402, e ex-embaixador de Portugal em Bissau)



Capa do livro  > Junta de Investigações do Ultramar -  Estudos sobre a etnologia do Ultramar português.  Lisboa : Junta de Investigações do Ultramar, 1963. Vol. III, 240 p. : il. ; 25 cm. (Estudos, Ensaios e Documentos. 102).


2. ALGUNS USOS E COSTUMES DA GUINÉ
por Francisco Henriques da Silva


O livro “Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963, é uma obra coletiva de grande interesse, para todos aqueles que se sentem atraídos pela Guiné-Bissau e pelos seus diferentes povos, respetivos usos e costumes. Inserido na coleção “Estudos, Ensaios e Documentos”, cabe referir que é um livro que beneficia do contributo de vários autores da época, investigadores e estudiosos das questões etnológicas, entre os quais avultam nomes conhecidos, como é o caso, por exemplo, de António Carreira. 

Tanto quanto me apercebi teriam sido editados diversos volumes, sob aquele título genérico, cada um sobre uma das províncias ultramarinas sendo este sobre a Guiné, em que só são focados temas exclusivamente guineenses.

Os textos abordam assuntos tão diversos como o estudo da tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres e as práticas de necrofagia, as mutilações genitais (ou seja, o fanado masculino e feminino – circuncisão, no primeiro caso, e excisão do clitóris, no segundo), as práticas funerárias dos Brames (ou mancanhas), os tambores “falantes” (o bombolom e outros instrumentos de comunicação por percussão à distância) e, finalmente, a etnonímia das populações autóctones da Guiné Portuguesa.

O primeiro texto – “Subsídios para o estudo da tecelagem na Guiné Portuguesa”, elaborado por Maria Emília de Castro Almeida e Miguel Vieira – começa por referenciar os povos tecelões do território: manjacos, papéis, brames, mandingas e fulas, portanto de várias origens étnicas e religiosas (animistas e islamizados). Contrariamente à tradição europeia, trata-se de uma profissão reservada ao sexo masculino. 

Em seguida, ao ser estudada a origem do tear em África e, baseando-se nas descrições dos primeiros cronistas e navegadores portugueses na região, concluem que o tear já existia quando da nossa chegada à Senegâmbia, uma vez que “a indústria do algodão na Guiné era já uma realidade quando os portugueses ali chegaram” (p. 46). Por conseguinte, não sendo de origem europeia seria presumivelmente de origem asiática. Teria tido inicialmente “uma possível mas fraca irradiação já nos princípios da nossa era, cremos, porém, que a verdadeira e intensa introdução do tear de pedais na Guiné seria mais tardia, no tempo da expansão muçulmana em África” (p. 51).

Independentemente da origem – presumivelmente asiática – e da sua transmissão através de povos islamizados, os autores assinalam que “os manjacos e também os papéis são os povos que mais se entregam actualmente à tecelagem e dos que sofreram menos a influência muçulmana” (p. 57). Muito provavelmente os tecelões manjacos terão exportado as suas técnicas para Cabo Verde, concluem também os autores.

Maria Emília C. Almeida e Miguel Vieira tecem alguns comentários sobre os diferentes panos guineenses e fazem a descrição tecnológica relativamente pormenorizada do seu modo de fabrico. O artigo contem mapas da distribuição dos diferentes povos da Guiné e ilustrações dos teares e das respetivas peças, bem como fotos dos tecelões em plena atividade e dos panos já confecionados.

[Cartoon, à esuqerda: António Barbosa Carreira, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 1905- Lisboa, Portugalo, 1988. Fonte: Página de Barros Brito, com a devida vénia]


O artigo que se segue, da autoria de António Carreira,  intitula-se “Do arrancamento da pele aos cadáveres e da necrofagia na Guiné, Portuguesa”. No primeiro caso estamos perante uma estranha prática ancestral dos manjacos, conhecido na expressão crioula por “descascar defuntos”. Era uma prática, segundo Carreira, já pouco seguida no início da década de 1930 e que, entretanto, terá desaparecido. Ninguém, nem mesmo os mais idosos, era capaz de elucidar as origens deste ritual insólito, nem o objetivo último do mesmo. Apenas se sabe que se tratava de um rito funerário daquele povo e circunscrito em exclusivo aos manjacos, não se tendo verificado tal prática em nenhum outro grupo étnico. 

 Segundo relata Carreira, “ficámos sem saber se o descasque de defuntos fora, desde sempre uma verdadeira modalidade dos ritos funerários dos manjacos ou se seria um derivante ou substituto da antropofagia.” (p. 106). O autor interroga-se: “Da antropofagia – que se admite tenha existido em toda esta área – não teria resultado, por evolução, a necrofagia e, numa fase posterior o descasque de cadáveres?” (ibidem).


Todavia, nem entre os manjacos, nem entre os brames (mancanhas) foram detectadas práticas de
canibalismo, muito embora os felupes a praticassem em tempos remotos. Carreira admite, como mera hipótese de trabalho, que os manjacos a tivessem levado a cabo, muito embora não o possa provar, tendo, ao longo do tempo, evoluído para o descasque de cadáveres.

[ Foto à direita: Um felupe, 1821... Gravura norte-americana, imagem do domínio público, cortesia de Wikipédia]


A cerimónia revestia-se de uma certa complexidade, na medida em que previamente era necessário proceder ao interrogatório do defunto, o anúncio da morte, o sacrifício de vários animais, a que se seguiam danças e outras cerimónias para afastar os maus espíritos. O corpo depois era colocado num estrado, regado com álcool e defumado.

Como relata Carreira, “logo que a decomposição estivesse avançada, o descascador (o profissional chamado Natiêmá) procedia à operação do arrancamento da pele. Para tanto servia-se de enormes unhas, que propositadamente deixava crescer; elas constituíam a ferramenta do ofício” (p. 111). Depois o corpo era envolto em panos e inumado.

Quanto à prática da necrofagia que se verificava ainda na década de 50 entre os Felupes, os cadáveres eram enterrados quase à superfície da terra, durante uma semana, finda a qual, os corpos já putrefactos eram desenterrados, cozinhados e comidos. 

Outro dos costumes ancestrais dos felupes consistia em colecionar crânios dos inimigos caídos em combate e que eram utilizados em libações. Hábito que não nos deverá parecer tão exótico, na medida em que os antigos vikings também o praticavam. Membros de tribos inimigas que penetrassem em território felupe eram “assassinados em condições misteriosas; e a maior parte (dos crânios, entenda-se) provém, precisamente, dos cadáveres desenterrados e comidos nos festins do fanado (circuncisão) ou nos ritos especiais, nos Irãs.” (p. 116). 

Comer carne humana de cadáveres consistia numa cerimónia ritual que se revestia da maior importância entre os membros desta etnia. Comer determinadas partes do corpo do inimigo morto conferiria, a quem as devorasse, as mesmas qualidades do defunto, designadamente de coragem e bravura em combate,. Em regra, eram apenas comidos os corpos das pessoas que faleciam de morte natural ou que morriam em conflito armado, mas, muitas vezes, secretamente, os feiticeiros envenenavam pessoas com o fito de as devorarem, muito embora a tribo não tivesse necessidade de carne, porquanto tinha gado e a caça abundava. A necrofagia era um ritual mágico e envolto no maior secretismo.

A. Carreira conclui que “a influência da cultura portuguesa, da francesa e mesmo da africana não conseguiu vencer práticas milenares que a civilização do Ocidente condena, por repugnantes, como a necrofagia” (p. 121).

“Contribuição para o estudo das mutilações genitais na Guiné Portuguesa” é outro interessante artigo subscrito por António Carreira e bastante abrangente, pois abarca todo o território guineense e confere-nos uma panorâmica da extensão destas práticas. 

O autor divide a população local em 3 grupos consoante a diversidade da prática das mutilações sexuais: 

(i)  o primeiro grupo, é aquele em que se pratica a circuncisão nos indivíduos do sexo masculino e a excisão do clítoris nos do sexo feminino (trata-se de etnias islamizadas: fulas, mandingas, biafadas, nalus, banhuns, cassangas e balantas-mané); 

(ii) o segundo grupo confina-se apenas à prática da circuncisão, não se procedendo à ablação do clitóris (estão neste grupo os animistas: manjacos, papéis, brames, felupes, baiotes, balantas e mansoancas);

(iii) o terceiro e último grupo apenas pratica uma circuncisão de caráter simbólico, “por incisões superficiais na pele do pénis, seguidas de escarificações tegumentares simples” (p. 135) e nas mulheres umas incisões no baixo ventre (apenas os bijagós mantém este hábito ancestral).

Quer no caso da circuncisão, quer no da ablação do clitóris, ambas as cerimónias são genericamente designadas, em crioulo, por fanado.

A circuncisão consiste no corte da pele do prepúcio, em geral, com uma faca afiada de lâmina recta. Trata-se de uma cerimónia ritual de purificação (segundo Bastide, citado por Carreira) que só se realiza com uma periodicidade determinada (depende das etnias) e que implica provas físicas, algumas de grande dureza, e nalguns casos até castigos corporais; provas intelectuais e de conhecimento de vida e sócio-religiosas, como refere o autor. Existem igualmente múltiplos tabus e regras específicas, variáveis de tribo para tribo. Em geral, as cerimónias terminam com uma série de festas públicas.

[Foto à direita: Vaqueira manjaca... Detalhe de postal ilustrado da série Guiné Portuguesa. Cortesia de Joaquim Ruivo]


Dependendo das etnias, a circuncisão pode ocorrer na infância, puberdade, adolescência ou já na idade adulta. O autor não refere, porém, que, em muitos casos, os circuncisos podiam morrer de hemorragia, por inexperiência do “operador” ou de infeção (tanto quanto sei, pessoalmente, no caso dos balantas, eram utilizados emplastros com plantas e lama).

A excisão clitoridiana tem menor expansão que a circuncisão, que como se vê está generalizada a quase toda a população masculina, e segundo A. Carreira alguns elementos femininos de certos grupos étnicos (mandingas e fulas) opõem-se-lhe. Todavia, como sublinha, “o certo é que o costume tem, ainda, grande simpatia e aceitação das massas” (p. 172). 

Aparentemente, os rituais destas cerimónias são bastante mais simples e menos violentos que os da circuncisão, aparte a operação de excisão propriamente dita. O autor descreve-a da seguinte forma: “Consiste na ablação do clítoris por um corte transversal, dado com uma lâmina recta. Para o efeito, puxam o clítoris para fora, depois de seguro por uma espécie de anzol sem rebarba. Em uns grupos a ablação é total e em outros está limitada a uma pequenina porção da ponta.” (p. 144). 

A extracção ou corte dos lábios da vulva não é de todo em todo levada a cabo por nenhuma etnia guineense. Registe-se que a excisão do clítoris não constitui um mero rito de passagem, mas uma condição “sine qua non” para o casamento. Sem embargo de Carreira descrever com minúcia a operação, as cerimónias e as regras a observar, não regista em qualquer parte do texto o menor sinal de repúdio ou de horror perante o barbarismo e a crua brutalidade deste costume ancestral.

Para além de apresentar um mapa das mutilações sexuais na Guiné Portuguesa, o autor traça um quadro de cada uma da tribos e dos diferentes processos e cerimónias que nesta matéria que levam tradicionalmente a efeito.

O investigador José Lampreia elaborou um estudo intitulado “Da morte entre os Brames”. Segundo nos conta, no passado remoto, entre os Brames (mancanhas) na cerimónia do “choro” (funeral) chegava a ser sacrificado um casal de crianças se o defunto fosse um régulo. Essa prática terá desaparecido, mas o sacrifício de animais manteve-se e o abate do gado do defunto para alimentar toda a comunidade também, o que, aliás, como se sabe, não é costume exclusivo dos brames. 

Uma cerimónia com algumas semelhanças à do descasque de cadáveres dos manjacos também se praticava, contrariando, de algum modo, o que refere António Carreira que a considera exclusiva daquela etnia. É interessante saber-se como era determinado o local propício ao enterro do corpo. O ritualista acompanhava uma cabra e no local onde esta urinasse cravava-se uma estaca e era esse o sítio designado para se abrir uma galeria funerária onde seria enterrado o defunto.


[Imagem à esquerda: O bombolom...Cortesia do sítio italiano Parrocchia San Leonardo Murialdo di Milano]

“Talking drums in Guiné” é um texto em inglês da autoria de W. A. A. Wilson da Universidade de Londres e que menciona, entre outros instrumentos de percussão (tambores) para transmissão de mensagens à distancia, o bombolom. Seis tribos da Guiné comunicam por este meio – manjacos, papéis, mancanhas, bijagós, balantas e mansoancas. Trata-se de um método muito utilizado em várias partes de África. Contrariamente ao que se possa pensar, não se trata de um qualquer código morse ou algo de aparentado, mas a reprodução de uma língua em que cada sílaba é pronunciada, nesta caso tocada, num tom alto ou baixo, “cada palavra ou frase tem uma melodia particular: os tons altos e baixos são tão importantes como a posição do acento tónico em português ou inglês” (p. 216), como refere o resumo. 

O bombolom é um tronco de madeira escavado com uma frincha que se estende a todo o comprimento. O tocador com dois paus extrai os sons cavos ou mais agudos do instrumento. O som pode ser ouvido a vários quilómetros de distância.

Finalmente, o artigo “Sobre a etnonímia das populações nativas da Guiné Portuguesa” da autoria do professor António de Almeida. O autor defende a tese de que as designações de quase todos os povos da Guiné é de origem mandinga, com várias alterações introduzidas pela língua portuguesa ou pelo crioulo. Também existiriam etnónimos de outras origens designadamente fulas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)