(iv) é professor universitário, no ISMAT (Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes), Portimão, Grupo Lusófona;
(v) para além de lecionar diversas Unidades Curriculares, coordena o ramo de Educação Física e Desporto, da Licenciatura em Educação Física e Desporto.
2. Introdução
Trago hoje, ao colectivo da Tabanca Grande e aos anónimos que nos visitam regularmente, o tema que ficara em aberto na sequência da minha última narrativa relacionada com as actividades do PAIGC, em janeiro de 1974, na região de Canquelifá [
P16127], de que resultou a morte do meu/nosso camarada
ranger Pinto Soares, e onde é referida a presença de cubanos no apoio à guerrilha.
Esse apoio, que no início (em 1966...) era secreto, deixou de o ser com o decorrer do tempo, porque, como diz o ditado popular: «mais cedo ou mais tarde tudo se sabe».
Eu próprio e outros camaradas [,como o nosso editor Luís Graça,] tivemos "encontros de 1.º grau" (nomeadamente, emboscadas no subsetor do Xime] com os famigerados "internacionalistas" cubanos, pelo que a história da sua presença no TO da Guiné não nos pode deixar... indiferentes.
Influenciado pelos comentários produzidos pelos camaradas Luís Graça, António Rodrigues, António Duarte e Manuel Luís Lomba, que agradeço, procurei encontrar outros relatos que pudessem acrescentar algo mais ao que já se disse/escreveu a esse respeito, nomeadamente com recurso ao publicado neste espaço colectivo.
Foi a partir dos postes P950, P951 e P956 (*) que, seguindo em frente, encontrei um livro escrito pelo jornalista cubano Hedelberto López Blanch com o título «Histórias Secretas de Médicos Cubanos» [La Habana, 2005], que achei interessante partilhar convosco, ainda que saiba que na linha do tempo estas memórias estejam a uma distância de cinco décadas.
Porque está escrito em castelhano (espanhol), tomei a iniciativa de traduzir e adaptar com a devida liberdade o texto ou partes do texto como meio de facilitar o acesso à sua leitura e a sua compreensão, quer daqueles a quem o contexto diz muito, quer de quem se vier a interessar pelo seu aprofundamento.
A sua tradução e adaptação são feitas de modo a respeitar as ideias expressas pelos diferentes protagonistas, o que fica mais facilitado pela minha própria condição de ex-combatente no TO da Guiné (e também de doutorando por uma universidade espanhola, se me permitem que puxe aqui pelos meus pergaminhos académicos).
Hedelberto López Blanch, enquanto jornalista e investigador, conta a história vivida por quinze médicos cubanos que estiveram em diversas partes de África - Argélia, Guiné-Bissau (ex-portuguesa), Congo Leopoldville (ex-belga), Congo Brazzaville (ex-francês) e Angola -, apoiando os "movimentos de libertação" daqueles territórios (, no caso da Argélia, foi apenas apoio à reconstrução do país, depois da independência em 1962).
No caso da Guiné-Bissau são três os entrevistados:
(i) o médico-cirurgião Domingo Diaz Delgado;
(ii) o médico de clínica-geral, com experiência em cirurgia, Amado Alfonso Delgado;
(iii) e o médico militar, especialista em cirurgia geral, Virgílio Camacho Duverger.
Cada um deles fala das suas muitas memórias ou experiências, vividas na primeira pessoa, e das motivações que os levaram a optar por um dos lados do combate.
Pela dimensão do conteúdo narrado no livro [pp 112-164], a metodologia utilizada teve que ser a da divisão por partes, sendo esta, justamente, a primeira delas. O blogue (e o leitor do blogue) não se compadece de textos (postes) demasiado longos.
O livro está disponível, em formato pdf, no sítio da editora, Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, La Haban. Referência bibliográfica:
Hedelberto López Blanch - Historias secretas de médicos cubanos.
La Habana: Centro Cultural Pablo de la Torriente Brau, 2005. 248 pp.
[Premio Memoria 2001. Prólogo de Piero Gleijeses. Ediciones La Memoria, Colección Coloquios y testimonios]. . [La edición de este volumen ha sido financiada por el Fondo para el Desarrollo de la Educación y la Cultura.] [Consult em 31 de maio de 2016]. Disponível em
3. Sobre o autor: Hedelberto López Blanch [, foto à direita]
(i) nasceu em 1947 em Havana, Cuba;
(ii) é licenciado em Jornalismo (1972) e, na altura, em 2005, doutorando em Ciências da Comunicação na Universidade de Havana;
(iii) relatou numerosos acontecimentos internacionais ocorridos em Cuba, Angola, Zâmbia, Moçambique, Guiné, Líbia, Tanzânia, Qatar, Zimbabwe, África do Sul, Alemanha e Rússia;
(iv) foi correspondente permanente da Juventude Rebelde na Nicarágua e assessor de redacção do diário Barricada neste país centroamericano entre 1985 e 1987;
(v) como investigador da imigração cubana, viajou até aos Estados Unidos em diferentes períodos;
(vi) entre as suas obras destacam-se: La emigración cubana em EE.UU.; Descorriendo Mamparas; Miami; Dinero Sucio; Bendición Cubana en Tierras Sudafricanas; Historias Secretas de Médicos Cubanos en África; y Cuba, pequeño Gigante contra el Apartheid; [, alguns destes títulos estão disponíveis na Amazon.com];
(vii) em 2005, trabalhava como comentarista internacional no semanário económico e financeiro Opciones, da editora Juventud Rebeld;
(viii) tem colaborado com várias publicações nacionais e internacionais como
Rebelión, de Espanha, tendo recebido vários prémios de jornalismo.
4. Antecedentes históricos do envolvimento cubano – o exemplo na Guiné-Bissau (Sinopse, da autoria de Jorge Araújo)
Blanch (2005) começa por situar o leitor no contexto histórico das lutas de "libertação anti-colonial" em África.
No início da década de 1960, poucos anos depois da tomada de poder por Fidel Castro e seus companheiros, em 1/1/1959, "Cuba não tinha muita experiência em enviar médicos para ajudar os combatentes africanos que lutavam nesse continente pela libertação dos seus países".
Havia, no entanto, já alguns antecedentes, caso do Congo Leopoldville (belga) e o Congo Brazzaville (francês), em que médicos cubanos estiveram integrados em "grupos de combatentes (...) sempre sob as ordens de um cubano".
O PAIGC, através de Amílcar Cabral, "mostrou interesse na participação de alguns instrutores cubanos para reforçar a luta armada"... Esse interesse terá sido manifestado em 12 de fevereiro de 1965, quando, e no decurso do périplo africano de Ernesto "Che" Guevara (1928-1967), este se encontrou com Amílcar Cabral, em Conacri.
"Três meses depois, em 11 de maio de 1965, o navio cubano Uvero [construído em França em 1960 e adquirido por Cuba em 1964, e que durante vários anos foi o de maior porte da marinha mercante cubana... ] desembarcava a primeira ajuda de Cuba ao PAIGC em Conacri": (i) cento e trinta e sete caixas de medicamentos; e (ii) sessenta e seis caixas com armas, munições, minas e uniformes militares; assim como alimentos, cigarros e fósforos.
Em janeiro de 1966, foi a vez de Amílcar Cabral (1924-1973) se deslocar a Havana para participar na Conferência Tricontinental [na qual foi aprovada a criação da Organização de Solidariedade dos Povos de África, Ásia e América Latina (OSPAAAL), em 12 de janeiro de 1966]. Naturalmente aproveitou a ocasião para se reunir com o presidente Fidel de Castro (n.1926).
Fidel de Castro ter-se-á comprometido a enviar "viaturas para a deslocação dos combatentes, mecânicos, instrutores militares e médicos", estes em número de nove. "Dos nove médicos solicitados, três tinham carácter de urgente, estando destinados à fronteira entre a Guiné-Conacri e a Guiné-Bissau, de preferência um clínico geral, um cirurgião e um ortopedista". Pormenor importante; se possível, deveriam viajar de avião...
Pormenor também deveras curioso, e revelador das "cautelas" ou dos "escrúpulos" do dirigente do PAIGC:
"O pedido formulado por Amílcar teve em consideração a cor da pele de que era constituída a maioria dos combatentes recrutados, sendo uma condição fundamental para os poder introduzir no continente africano sem chamar a atenção dos serviços de Segurança e Inteligência das capitais europeias e dos Estados Unidos." (negritos nossos).
Em finais de 1965, os cubanos estavam convencidos, graças à hábil propaganda de Amílcar, que o o PAIGC: (i) não só controlava "um terço do território da Guiné"; como (ii) era um "caso de sucesso", sem paralelo, na luta anticolonialista em África...
5. O caso do cirurgião Domingo Diaz Delgado. (sinopse feita por Jorge Araújo)
Domingo Diaz Delgado, recém formado em cirurgia, está com 29 anos, nos finais de 1965. Na altura decidiu preencher "um formulário solicitando a sua incorporação como internacionalista em qualquer movimento de libertação"... A sua inspiração era o "exemplo do heróico guerrilheiro Ernesto 'Che' Guevara" [também ele médico e que viria a ser assassinado pelas tropas bolivianas, dois anos mais tarde, em 1967].
No início de 1966, é designado então como membro do primeiro grupo de médicos e combatentes que vão partir para a Guiné.
É essa experiência de vida e de combate que ele vai relatar a Blanch (2005), "com a modéstia e a humildade características de muitos internacionalistas cubanos" (sic) , apontados pelo autor como exemplos do "verdadeiro internacionalismo" e da "verdadeira solidariedade humana".
Em 2005, data em que foi publicado o livro, o dr. Domingos Diaz Delgado era neurocirurgião, vice-director da área assistencial do CIMEQ [Centro de Investigaciones Médico-Cirúrgicas, uma unidade hospitalar de elite, que faz parte do sistema nacional de saúde cubano].
A entrevista, com 27 questões, vai aqui relatada na primeira pessoa, em versão adaptada e traduzida por mim, Jorge Araújo... Optei, depois de falar com o nosso editor LG, por eliminar um ou outro parágrafo, dada a extensão da entrevista (que, de resto, pode ser lida no original em castelhano, aqui):
http://www.centropablo.cult.cu/libros_descargar/historiamedicos_cubanos.pdf
Na impossibilidade de contactar o autor e o editor, esperamos a sua compreensão e benevolência. Seguramente que esta e outras entrevistas com médicos cubanos que combateram ao lado do PAIGC nos interessam a muitos de nós, combatentes portugueses e guineenses que lutaram contra o PAIGC, bem como aos próprios veteranos do PAIGC. A guerra já acabou, mas as suas memórias, de um e do outro lado, ainda estão vivas, enquanto estivermos vivos. (**)
Guiné > Região do Oio > Base de Sará (1966) > Da esquerda para a direita, o instrutor militar Alfonso Pérez Morales (Pina), chefe da missão cubama na Frente Norte; o ortopedista Tendy Ojeda; o cirurgião Domingo Diaz e o médico de clínica geral Pedro Labarrere. Com a devida vénia, foto de H. L: Blanch (2005), op. cit.