quarta-feira, 23 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22311: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (21): Martins, o caçador de rolas

Enxalé 1972 – Entrada da Tabanca
Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Em mensagem do dia 17 de Junho de 2021, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), lembra a aventura do Martins, o caçador de rolas.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

21 - MARTINS, O CAÇADOR DE ROLAS

Os recursos alimentares no Enxalé não eram os melhores, dependíamos totalmente do Xime e eram muitas as dificuldades em transportar os escassos artigos alimentares de uma margem para outra do rio Geba, mas lá nos íamos desenrascando com o que nos chegava da Companhia, às vezes também conseguíamos um frango que comprávamos na tabanca e que o nosso "Espanhol" o assava não à moda da Guia, mas sim à moda de Barrancos de onde era natural. O local também era propício para que alguns dos nossos atiradores fazendo jus da sua pontaria, se dedicassem à caça das rolas com a melhor amiga, a G3. Foi o caso do Martins que de quando em vez lá ia arranjando uns petiscos.

Normalmente as caçadas eram efectuadas junto à bolanha virada para o lado do Geba e com poucos riscos de segurança associados. O Martins porém resolveu arriscar mais e entendeu ir à caça das rolas para a mata densa oposta à bolanha e que ficava numa zona mais perigosa e apesar dos meus avisos para que tivesse cuidado e não fosse para aquele lado do matagal, continuou a fazê-lo, mas não foi necessário ir para aquelas bandas muitas vezes para que os meus pressentimentos acontecessem.

Estava eu na área da cozinha à conversa com alguns dos nossos militares quando de repente se ouve o rebentamento de uma granada seguido de algumas rajadas de tiros. Inicialmente pareceu-me uma flagelação vinda daquela zona da mata e até pensei mandar para aquela área uma bazookada ou duas, quando alguém grita: "O Martins está no mato". Fiquei para não ter vida, lá levaram o Martins pensei. De imediato peço para 7 ou 8 elementos me acompanharem numa tentativa de localizar o Martins e possivelmente resgatá-lo. Havíamos percorrido umas duas centenas de metros, na nossa rectaguarda um elemento do nosso pelotão faz um disparo para nos alertar e grita que o Martins está no quartel.

Foi um alívio para mim, mas não acalmou logo a minha ira, nem sequer quis ouvir qualquer justificação do referido militar, só passados dois ou três dias fiquei a saber do que aconteceu. Depois de ter feito um disparo e quando se preparava para recolher uma ave abatida, o Martins ouve algumas vozes e apercebe-se que são alguns guerrilheiros, que possivelmente se preparavam para o agarrar. O Martins não perdeu a calma e instintivamente saca de uma granada de mão que tinha pendurada à cintura e atira-a na direcção de onde havia avistado os seus presumíveis captores e de imediato corre à procura de abrigo no quartel, estes fazem-lhe umas rajadas mas sem lhe acertar e assim o Martins salva-se de ser caçado e de eventualmente fazer um passeio até à Guiné-Conacri, ou de vir numa caixa de pinho até a Metrópole.

Um grande abraço para o pessoal da nossa Tabanca Grande.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE AGOSTO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21269: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (20): O sargento da milícia de Amedalai

Guiné 61/74 - P22310: Historiografia da presença portuguesa em África (268): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (5) (Mário Beja Santos)

Instalações da Sociedade de Geografia antes de vir para a Rua das Portas de Santo Antão


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
A Sociedade de Geografia vai entrar num período de consternação, chegou a hora do Ultimatum britânico, como veremos das atas das sessões anuncia-se um tanto sub-repticiamente, nos anos anteriores fala-se muito dos estudos científicos, dos caminhos-de-ferro, e subitamente chega um tenente-coronel que faz uma exposição mais do que minuciosa sobre a presença portuguesa e os conflitos surdos que estão a surgir com os ingleses, mais adiante o mesmo tenente coronel lança um brado alerta em dezembro de 1889 e Luciano Cordeiro, indiscutivelmente a figura motora da Sociedade de Geografia de Lisboa deste tempo, faz aprovar uma moção histórica, é um texto vigoroso, de indiscutível firmeza e patriotismo. Ninguém desconhece que o Ultimatum de janeiro de 1890 terá consequências profundissimas na vida portuguesa, é como que uma espada de Dâmocles no prestígio do rei D. Carlos, o símbolo da realeza, sobre o qual irão cair as maiores acusações, emerge o republicanismo, culturalmente o país será avassalado pelo decadentismo, toda aquela humilhação é um rastilho de pólvora que conduzirá à incapacidade dos partidos do constitucionalismo perceber que se vivem horas de emergência, seguir-se-á o governo de João Franco, depois o regicídio e as peripécias do curto reinado de D. Manuel II, finge-se que nada tem a ver com aquela humilhação e aquele abatimento provocados pelo Ultimatum, mas todo aquele entusiasmo em pôr de pé o III Império não naufragou na praia, a República tomará porta-estandarte.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (5)

Mário Beja Santos

Recapitulando os textos anteriores, verifica-se que os primeiros dez anos de vida da Sociedade de Geografia de Lisboa nos conduzem ao melhor conhecimento das aspirações das camadas sociais que apostavam com entusiasmo no levantamento do III Império Português. África seria o coração do novo Império, o do Oriente era então um amontoado de pequenas parcelas e o Brasil tornara-se independente. Havia que ocupar África, conhecê-la e defendê-la da cobiça de outras potências, a Grã-Bretanha, a França, a Alemanha, a Itália, os bóeres da África do Sul, e até mesmo Leopoldo da Bélgica, sonhavam em fazer recuar as possessões portuguesas. A leitura das atas das sessões destes primeiros anos permite conhecer o que estes homens sugerem, que ideologia possuem, como funciona este grupo de pressão constituído por membros da aristocracia, políticos influentes, cientistas, financeiros, comerciantes e, a diferentes níveis, muitos curiosos. Dá-se como demonstrado que esta Sociedade de Geografia de Lisboa cresceu e enrijeceu como impressionante grupo de pressão, é inegável o papel histórico que desempenhou: no incremento das explorações, como as de Serpa Pinto, Capelo e Ivens, nos estudos sobre hidrografia, cartografia, o Meridiano de Greenwich… Mas nem tudo se concentra exclusivamente em Angola e Moçambique, aqui e acolá há referências ao termalismo no Gerês, a estudos etnológicos e antropológicos, ao Padroado Português do Oriente, às cristandades da Índia e Ceilão.

Passada esta década de verdadeiro entusiasmo, vejamos agora o período que precede o Ultimatum Britânico. Continuam a aparecer trabalhos do foro das ciências filológicas, geográficas e etnológicas, caso do Dicionário Corográfico de Moçambique, os dialetos crioulos de Cabo Verde. Em 1887 presta-se homenagem ao falecido Presidente da Sociedade de Geografia de Lisboa, António Augusto de Aguiar. Na primeira sessão de janeiro de 1888, um sócio apela a que se iniciem as investigações demográficas nas províncias de além-mar, “a fim de que possam apreciar-se as qualidades e aptidões da raça tropical e as suas tendências para formar colónias e dar incremento à população indígena na África Central”. O cunho científico da Sociedade revela-se bastante apurado, já dera parecer no ano anterior sobre o sistema internacional de boias e balizas. O novo Presidente é o Conselheiro Francisco Maria da Cunha. Dá-se igualmente parecer para que a Sociedade empreenda a publicação de um Dicionário Toponímico Português, em que se determinem quanto possível os nomes de lugares portugueses em todas as épocas e onde igualmente constem as designações locativas dadas pelos descobridores, viajantes e escritores portugueses aos diversos lugares por onde andaram.

Entretanto, concede-se a Medalha de Honra da Sociedade a Paiva de Andrade, mas os caminhos-de-ferro são preocupação permanente e em 5 de março de 1888 Luciano Cordeiro fez uma exposição sobre a linha do caminho-de-ferro de Lourenço Marques a Pretória e na sua sequência aprovou-se a seguinte moção: “A Sociedade de Geografia continuando a interessar-se vivamente pela prosperidade e segurança do distrito de Lourenço Marques, e congratulando-se pelas diligências e medidas tendentes a acautelar e a prevenir as necessidades e perigos da transformação que se está operando naquele distrito, faz votos por que se empreguem todos os esforços para consolidar, desenvolver e garantir a mais rápida e completa nacionalização de Lourenço Marques como parte integrante e inalienável do território e nação portuguesa”. As sessões da Sociedade diversificam os temas, tanto se apela à organização do serviço de pescas no continente e ilhas como se emite parecer sobre as obras públicas no Ultramar e a construção dos caminhos-de-ferro ou na Índia ou de Ambaca e Lourenço Marques.

Estamos já em 1889, e na aparência ainda não se sente a carga explosiva que está a caminho, o Ultimatum Britânico. Em março, o Major Serpa Pinto, acalorado e patriótico, mandou para a Mesa uma proposta para que a Sociedade tornasse a insistir para que se formasse uma Sociedade Antiescravagista Portuguesa, que secundasse e auxiliasse a generosa propaganda aberta na Europa pelo Cardeal Lavigerie contra o tráfego da escravatura. No mês seguinte, destaca-se o Tenente-Coronel Joaquim José Machado que discursou largamente acerca das condições das nossas colónias na costa oriental e também na costa ocidental de África, chamando a atenção da Sociedade para que se representasse ao governo com relação à expansão colonial inglesa que é extraordinária e rápida nos territórios portugueses do sul de África e à qual precisamos opor medidas enérgicas, marcando fronteiras e afirmando a ocupação portuguesa; passando à costa ocidental, falou da extrema riqueza do planalto de Moçâmedes e da necessidade urgentíssima de abrir comunicações com o litoral a fim de que o desenvolvimento se amplie. Foi uma enorme comunicação, ocupou-se de muita coisa: reocupação de Maputo, dos impraticáveis limites fixados pela sentença de MacMahon, da vontade de toda a gente de Maputo em ser governada por portugueses, das intrigas de alguns ingleses contra Portugal, da urgência em marcar fronteiras para o norte do rio Incomati, chamou a atenção para a “inglezação” de Lourenço Marques e os seus perigos; a necessidade de aumentar a população portuguesa em Moçambique. É um documento extenso, espalha-se por 45 páginas das atas das sessões, e tanto quanto parece é de leitura obrigatória para os investigadores que se ocupam deste período colonial e focados nesta região.

Começa também a falar-se nas comemorações da descoberta da Índia, tem-se em mente a Exposição Internacional Marítima e Colonial de 1897. E o que até agora pareciam sinais de alarme já emite fumos de incêndio. Em novembro de 1889, o Tenente-Coronel José Joaquim Machado prossegue com informações do que se está a passar nos territórios de África que delimitavam a Província de Moçambique.

Em dezembro, Luciano Cordeiro declarou que se havia reunido a Direção juntamente com a Comissão Africana para apreciar e resolver acerca das propostas do Tenente-Coronel Machado. Alguém mandou para a Mesa a seguinte proposta:“Proponho que seja nomeada uma comissão que estude as bases para a organização de uma companhia nacional, à qual sejam conferidos amplos poderes para utilizar toda ou parte da província de Moçambique, valorizando as inúmeras riquezas que ali existem inertes”. Luciano Cordeiro riposta, era absolutamente contrário à organização de companhias soberanas e que só admitia soberania no Estado. Citava-se a Companhia das Índias, mas devia lembrar que a Inglaterra sentia o solo da Índia tremer-lhe debaixo dos pés e que não estava longe o momento em que perdesse aquele grande império, que afinal não conseguira senão escravizar. A Austrália havia-se desenvolvido sem companhias soberanas, e era um império civilizado. Não receava, pois, a nova companhia sul-africana, recentemente organizada em Inglaterra, se finalmente a nossa administração e a nossa política colonial se resolvessem a serem o que deviam ser: previdentes, práticas e enérgicas; mas que cada povo tinha os seus processos e as suas tradições, e que não sendo Portugal um povo de mercantões como o povo inglês, não lhe parecia ser este o modo de opor-se à invasão inglesa nos territórios africanos. Há nuvens negras no horizonte e aprova-se uma moção relativamente a uma nota diplomática em que o governo britânico protesta junto do governo português contra a área atribuída ao distrito do Zumbo pelo decreto que o reconstituiu, e declara não reconhecer nenhum direito ao exercício da soberania portuguesa nestes territórios. A moção refere que não há fundamento para a ocupação ou jurisdição britânica em todos estes territórios, tudo isto deve derivar de falsas e capciosas informações geográficas, históricas e políticas com que o espírito de seita e aventura tem ultimamente pretendido iludir a opinião sobre a influência de Portugal em África. E o documento assinado em 2 de dezembro de 1889 por Luciano Cordeiro, a moção da Sociedade de Geografia reza o seguinte: “1.º - Faz votos porque a diplomacia britânica, melhor informada, lealmente afaste o equívoco em que evidentemente labora, de sobre a antiga cordialidade e recíproco respeito dos dois países, cujo honrado acordo tão proveitoso há sido e tão necessário é à paz e à civilização de África; 2.º - Confia que os poderes públicos, inspirados na vontade unânime e na incontestável justiça da nação, manterão firmemente o direito e a integridade da soberania portuguesa; 3º - E afirma que os territórios incorporados no distrito de Zumbo e os das zonas do Zambeze, do Chire e do Niassa a que se refere a nota inglesa, sempre, desde as suas primeiras descobertas e explorações, feitas pelos portugueses, foram em boa ciência e segundo o direito, considerados como incluídos na influência e na tradição jurisdicional da soberania de Portugal, tendo sido e estando por ela ocupados onde e como entende conveniente e sem interrupção de nenhuma outra soberania culta, em qualquer tempo e lugar”.

E assim chegamos à sessão de 20 de janeiro de 1890, espelha a indignação pelo Ultimatum, chovem protestos, distingue-se o de Luciano Cordeiro, fazem-se propostas concretas de afastamento dos interesses britânicos: deixar de usar a libra-esterlina, cunhando moeda do tipo da convenção monetária de que fazem parte alguns países continentais, abolindo o curso legal da moeda inglesa; denúncia do tratado luso-britânico de 1842; decretar um imposto especial de residência para os ingleses estabelecidos na metrópole, etc.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22286: Historiografia da presença portuguesa em África (267): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 – P22309: (Ex)citações (388): A propósito do meu aniversário, muito obrigado e... (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439)


1. Mensagem do nosso camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439 (EnxaléPorto Gole e Missirá, 1965/67), com data de 22 de Junho de 2021:

Meus caros amigos e camaradas da Guiné
Primeiro um Grande abraço ao António José Pereira da Costa que, com a sua decisão de fazer anos no mesmo dia que eu, tornou o meu aniversário ainda melhor. Mas há um outro aniversariante hoje, que talvez nunca tenha tido o cuidado de enviar os dados certos e ficou despercebido... o Júlio Pereira, teve a ideia de nascer, não só no mesmo dia, mas no mesmo ano que eu. E depois fomos os dois para a Guiné, ambos experimentámos minas no mesmo dia...
Somos quase gémeos... portanto talvez ainda seja possível ao nosso camarada Luís Graca, como comandante de todos nós, dar as suas instruções para que ele ainda seja lembrado…


E obrigados meus queridos Luís Graça e Alice, e aos meus bons camaradas José Martins, Valdemar Silva, Helder Sousa e José Câmara.

Levantei-me cedo pois ontem mesmo reencontrei pelo telefone um amigo meu, Eric Saul, fundador das "Visas for Life Exhibits" sobre os diplomatas salvadores durante a Segunda Guerra Mundial, que não vejo há dezoito anos. E já agora, aqui vai, (que o saber não ocupa lugar): Ele, eu e o Rabbi David Baron (de Beverly Hills) fomos os organizadores da grande exposição na ONU no ano 2000, na qual, (sem peneiras, mas em abono da verdade,) o nosso Aristides de Sousa Mendes recebeu a sua primeira grande homenagem em Nova Iorque, pois foi ele o diplomata que recebeu o maior destaque nesse acontecimento: o dia da abertura da exibição (dum mês) por pressão minha (obriguei-os a mudar dia da abertura) foi aberta no dia 3 de Abril, data da sua morte. E segundo obriguei-os a refazer o filme - documentário "Diplomats for the Dammed" quando ao ver o filme em ainda em (WIP) (projecto ainda em progresso) verifiquei que ele não fazia parte do elenco... quando se perceberam disso ficaram de boca aberta... perante os meus protestos o Rabbi David Baron, co-produtor do filme, respondeu que infelizmente "já não havia nada a fazer"... mas eu tanto insisti, que passadas três semanas telefonou-me da Califórnia para me informar que tinha providenciado refazer o filme para incluir o nosso Aristides. (No caso de alguém duvidar, eu tenho os documentos comprovativos destas "mudanças”.) Por isso no dia 17 de junho de 2003 quando exibi o filme em Nova Iorque no prestigioso "National Arts Club" convidei o Rabbi para vir apresentar o filme; ele aceitou e veio a Nova Iorque onde foi o "Keynote Speaker”.

Um grande abraço a todos
João

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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 – P22301: (Ex)citações (387): "Memórias da Minha Aldeia" (José Saúde)

Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo



Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá > Operação Balanço Final > Assalto e ocupação da base do PAIGC pela CCav 8351 (Os Tigres do Cumbijã) 


Foto nº 2 >  Guiné > Região de Tombali > Nhacobá > Nhacobá > Operação Balanço Final > Assalto e ocupação da base do PAIGC. Furriéis da CCav 8351,  Azambuja Martins e Costa



 Foto nº 3 > Guiné > Região de Tombali > Nhacobá > Operação Balanço Final > Assalto e ocupação da base do PAIGC pela CCav 8351 (Os Tigres de Cumbijã) > No lado direito alguns dos recipientes com arroz. Foto de António Murta (vd. poste P14844).

Foto: A. Murta / Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, com a devida vénia



Foto nº 4 > Guiné > Região de Tombali > Nhacobá > Operação Balanço Final > Assalto e ocupação da base do PAIG pela CCav 8351 (Os Tigres do Cumbijâ) > Abrigos subterrâneos do PAIGC > Toto de A. Murta, com a devida vénia


Fot0 nº 5 > Guiné > Região de Tombali > Nhacobá > Operação “Balanço Final” > Assalto e ocupação da base do PAIGC pela CCav 8351 (Os Tigres do Cumbijã)> Sarar as feridas depois do assalto a Nhacobá

Fotos (e legendas): © Joaquim Costa  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Joaquim Costa, hoje e ontem. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.


Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI (*)

Operação Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o  dia mais longo


Com o aproximar da estrada a Nhacobá, estava chegada a hora de fazer a ocupação desta base do PAIGC (“retribuindo” as duas visitas ao Cumbijã). Embora sem grandes informações, era de prever que Nhacobá fosse um local de grande importância estratégica e logística para o PAIGC já que ficava no corredor de Guilege, também conhecido por “corredor da morte” (corredor de circulação de homens e material para o interior da Guiné)(#).




Fito nº 6 > Guiné > Região de Tombali > Cantanhez > Guileje > Mapa de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Alguns dos topónimos míticos por onde passava o "corredor de Guileje" ou o "corredor da morte", triangulando entre Guileje, Gandembel / Balana e Nhacobá. Ver também posição relativa de Cumbijã e Colibuía, a sudoeste de Aldeia Formosa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2021)



Embora nada nos fosse transmitido (como sempre - ao que parece nem o próprio capitão foi informado), fomos surpreendidos com a chegada ao destacamento de um grupo de comandos africanos, armados até aos dentes com todo o tipo de armas capturadas ao IN (muito mais eficazes e fiáveis que as nossas), que segundo rumores teriam como missão fazer o reconhecimento a Nhacobá antes do assalto final. 

Nada nos foi dito mas constava-se que nada encontraram de relevante. Todo aquele aparato (não disfarçando algum exibicionismo) nos pareceu estranho,  para não dizer caricato. Contudo, depois de uma reunião dos “senhores da guerra”  em Aldeia Formosa, foi lançada a operação de assalto a Nhacobá, de seu nome de código: “Balanço Final” (17-23 de maio de 1973).

Foram mobilizados quase todos os recursos humanos disponíveis na região para o assalto final a Nhacobá, atirando por terra a ideia de que os comandos africanos não tinham encontrado nada de relevante.

Foram mobilizadas para a operação: 

(i) três companhias;

 (ii) uma equipa com duas chaimites (carros de combate anfíbios);

 (iii) dois grupos de combate de uma outra companhia de reserva no Cumbijã~;

(iv) e a artilharia de Cumbijã e Mampatã em alerta máxima. (##)

A minha companhia (CCav 8351 – Os Tigres do Cumbijã) estava incumbida de fazer o assalto (golpe de mão) com a proteção lateral de outras duas.


“De manhã cedinho, levanto do ninho e vou para … Nhacobá...”


Com todo aquele aparato de movimento de tropas em grande azáfama com alguns dos intervenientes, há última hora, a serem acometidos de doença súbita e desconhecida e com os “senhores da guerra” (sempre na retaguarda!) mandando os seus últimos “bitaites” sobre a estratégia a seguir (e a que ninguém ligava), lá avançamos nós, conduzidos por um guia, da nossa confiança e que conhecia muito bem o local. 

Como era habitual, nas operações de alto risco, quase todos os soldados beijavam, à saída, o seu amuleto da sorte: a foto da namorada ou dos pais, um santo devoto, uma folha da Penthouse (a famosa revista pornográfica norte-americana),  do Furriel Martins, e o Furriel Machado o seu inseparável mapa, que guardava num dos bolsos do camuflado, mais perto do coração.




Fot0 nº 7 > Guiné > Região de Tombali > Nhacobá > Operação Balanço Final > Assalto e ocupação da base do PAIGC pela CCav 8351 (Os Tigres do Cumbijã)> O “amuleto” que sempre acompanhava o Furriel Machado em operações no mato, o “Mapa de Operações Pontos de Artilharia”... 

Ao seu lado estávamos mais seguros. Nunca nos sentíamos perdidos na mata e a ajuda da artilharia em situação de emergência era mais precisa e eficaz. Este homem nunca deixava nada ao acaso. Tudo era feito de forma profissional, tal como a sua sofisticada hortinha que plantou em pleno teatro de guerra!



Conforme íamos avançando na direção do objetivo,  a adrenalina ia subindo na mesma proporção já que minguém melhor do que nós sabia o que nos esperava. Dada a nossa experiência feita de vivermos, diariamente, paredes meias com o IN, conhecendo melhor do que ninguém as suas “taras e manias”,   fazíamos tábua rasa das opiniões dos teóricos do “pionés no mapa” (cujo único risco era picarem-se no mesmo) para bem da nossa segurança e ao mesmo tempo para bem da eficácia na concretização do objetivo traçado.

O nosso guia mantinha um grande sangue frio e uma calma desarmante,   reparando nos mais pequenos pormenores que a todos nós escapava: um pequeno ramo de árvore cortado recentemente; pegadas no chão recentes; barulhos de população e de animais ao longe, que nenhum de nós ouvia, etc.

Era fácil medir a tensão do grupo quer através das feições do guia quer do “arrebitar” do bigode do camarada Machado!!!

Quatro grupos de combate em marcha na direção do objetivo em silêncio quase ensurdecedor, ouvindo-se apenas a nossa respiração, cada vez mais acelerada. Caminhavámos como em campo minado, pé ante pé, com concentração absoluta e sempre atentos às feições do guia (...e ao bigode do Machado!).

Pelo caminho já percorrido sabíamos que devíamos estar muito perto do objetivo, o que foi confirmado pelo guia. Uns metros mais à frente já todos nós ouvíamos sons de pessoas em conversas despreocupadas.

Mais uns metros e avistamos uma caçadeira (Simonov) encostada a uma árvore e, logo a seguir, um grupo de homens e alguns mulheres e crianças sentados em amena cavaqueira. Avançamos e surpreendemos todo o grupo, creio que um homem foge a gritar Comando, comando!... Não demos um único tiro, acalmamos as mulheres e as crianças, e montamos segurança.

Estávamos nós a tentar obter de alguns elementos do grupo, obviamente assustados, informações relevantes,  tendo em vista o prosseguimento da operação em segurança, quando irrompe um grande “fogachame” com armas ligeiras e RPG. Como estávamos já bem posicionados, ripostámos,   protegendo aos mesmo tempo os elemento da população.

Passados uns bons minutos, que pareceram uma eternidade, a situação acalmou, as metralhadoras calaram-se, permitindo assim o socorro aos feridos, alguns com alguma gravidade. 

Pela surpresa,  pensámos que o grupo de guerrilheiros de defesa da base do PAIGC, depois da forte reação, se tinham já posto em fuga. Contudo, passados uns 15 minutos,  fomos nós surpreendidos por nova investida, agora mais intensa e organizada,   sobre as nossas posições causando mais uns feridos, alguns com gravidade.

O grupo de guerrilheiros (supomos, em grande número), depois da segunda investida fugiu, uns em direção ao local onde deveriam estar as companhias que faziam a nossa proteção lateral e outros para a grande bolanha,  perto de um rio. Conseguimos ainda avistar vários elementos do grupo, desordenado e desorientado, em fuga através da grande bolanha.

Uma das situações que mais me perturbam, relembrando hoje o assalto a Nhacobá, é o facto de,  ao ver lá ao longe pequenos grupos de guerrilheiros em fuga,   apontar-lhes a minha arma. Não disparei, e alguém me dissr: "A G3 não alcança". 

Este episódio mostra como a guerra nos leva a tomar atitudes completamente irracionais. Contudo, para meu sossego, acredito (quero mesmo acreditar) que nunca teria coragem para disparar naquelas condições.

Terminado o tiroteio, nada aconteceu aos elementos da população e nós tivemos vários feridos, alguns com gravidade.

Pedimos que um dos grupos de combate estacionado em Cumbijã, viesse em apoio levar os elementos da população e os feridos para o destacamento, sendo os mais graves levados, para Aldeia Formosa onde um avião Nordatlas aguardava para eventual evacuação para o hospital de Bissau.

Depois de todas estas diligências e com todas as cautelas lá fomos explorar a zona. 

Acompanhado pelo amigo Martins, juntamente com outros elementos da companhia, avançamos, com cuidados redobrados, para o local de onde fomos atacados. Passada a zona onde encontramos os elementos da população,  ficamos boquiabertos com o que encontramos: muitas moranças, com indícios claros de habitadas até momentos antes com os seus animais a vaguearem ainda em sobressalto; vários silos de barro,  cheios de arroz (estavam ali toneladas de arroz ainda com casca); abrigos subterrâneos; muitos maços de tabaco e fósforos cubanos, bem como cadernos e livros escolares e muitos folhetos de propaganda. 

“Roncos” que muitos de nós guardaram como recordação (eu guardei um maço de tabaco e uma caixa de fósforos que deitei ao lixo, juntamente toda a roupa e tudo que me fizesse lembrar a Guiné num quartel em Lisboa, no regresso a casa).

Este era de facto um posto de “mala-posta", muito importante neste corredor de Guileje, onde os guerrilheiros descansavam e se alimentavam em trânsito para operações militares na região sul. Todo o arroz aqui apreendido dava para alimentar um exército durante vários dias.

O elevado número de moranças, os abrigos subterrâneos, bem camufladas na vegetação, a quantidade de arroz (as suas rações de combate), bem como a grande quantidade de tabaco e material de propaganda, era a confirmação de estarmos perante uma importante base do PAIGC no interior da Guiné. Esta ação foi em rude golpe na logística do PAIGC no abastecimento de parte da zona sul da região.

Estávamos nós já a “debicar” parte da ração de combate,  quando começamos a ouvir rajadas de armas ligeiras e mais tarde sons de HK - encontros de “3.º grau” dos guerrilheiros em fuga com as companhias de proteção lateral e do grupo de chaimites, sofrendo o IN, aqui, danos consideráveis.

A configuração da tabanca, a quantidade de abrigos subterrâneos (bem protegidos contra ataques aéreos e bem camuflados na mata), o volume e tempo de fogo configuram um destacamento do IN muito bem protegido, que só caiu sem grandes baixas do nosso lado pela surpresa e, ao mesmo tempo, presumo, julgarem estarem perante uma operação de grande envergadura com o apoio da aviação e tropa especial (por isso a sua fuga precipitada). 

Era suposto, da parte do IN, que a tropa sediada na zona não reunia as condições para tal assalto, daí os gritos do homem que fugiu a dizer Comandos, comandos!

Este foi um dia (… o mais longo) que me fez lembrar a guerra do Vietname, com todos os ingredientes presentes, nomeadamente: entrar no reduto do IN, desalojá-lo e passar junto dos seus mortos em combate, inexplicavelmente, com naturalidade e indiferença. Visão que hoje muito me perturba e desassossega!

(
Continua)
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Notas do autor:

(#) Este corredor com início na fronteira da Guiné Conacri, atravessando a zona de Guileje (Gandembel) e Nhacobá (Foto nº 6), tinha uma importância vital para o PAIGC, já que por aqui introduzia 70 a 80 % dos abastecimentos de armas, homens, munições e outros, para todo o território da Guiné. Neste corredor muitas vidas se perderam dum lado e do outro do conflito.

Assim se explica a luta sem tréguas dada pelo PAIGC na defesa deste importante corredor e particularmente da sua base em Nhacobá,

Situação semelhante teve lugar em Gandembel de quando a sua ocupação pelas nossas tropas no tempo do antigo governador (Arnaldo Schulz),  acabando por ser abandonado no tempo de Spínola, dado as elevadas perdas humanas. Daí a designação de “corredor da morte”.

(##) NT:  CCaç 3399, 3a/BCaç 4513/72, CCaç 18, CArt 6250/72, CCav 8351/72, 2° Pel Art (10,5 cm), 14° PelArt (14 cm), e 1 Pel/ERec 3431.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 7 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22261: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte X: a segunda "visita dos vizinhos" (com novo ataque ao arame)

terça-feira, 22 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22307: Agenda Cultural (773): Convite para ver a entrevista de Carlos Vale Ferraz a Mário Carneiro, no programa da RTP-África, Mar de Letras, onde o autor fala do seu romance "Angoche - Os fantasmas do Império", uma abordagem ao misterioso caso ocorrido há 50 anos na costa de Moçambique e ainda hoje não resolvido


1. Mensagem do nosso camarada Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial, com data de 21 de Junho de 2021:

Minhas amigas e meus amigos,
Junto anexo o link de uma entrevista ao Programa da RTP "Mar de Letras" a propósito do romance "Angoche".
Há a realidade e há o romance. Eu procurei contar uma história verosímil a propósito deste mistério. Quem esteve por detrás do que aconteceu? Quem realizou? É o enredo e são as personagens. Se tiverem paciencia.

Entretanto recebam o cumprimentos do
Carlos Vale Ferraz.

O programa dura cerca de 30 minutos.
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22246: Agenda Cultural (772): Convite para a apresentação online do romance "Angoche - Os fantasmas do Império", por Carlos Vaz Ferraz; Porto Editora, 2021

Guiné 61/74 - P22306: Memória dos lugares (422): CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais, Lamego: reportagem da visita possível, mais de 60 anos depois (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto nº 1   > CTOE - Centro de Tropas de Operações Especiais (criado em 1960 c0mo CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais) (vd. o blogue do nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, "Rangers & Coisas do MR")

Por detrás do Virgílio Teixeria, musealizada,  uma metralhadora quádrupla  AA CMK1 20mm m/953



Foto nº 2 > O velho convento de Santa Cruz, onde se instalou em agosto de 1839 o regimento de infantaria nº 9


Foto nº 3 >  Uma relíquia da história  da nossa artilharia, o obus 7.5, de montanha, de origem italiana (segundo o nosso especialista, cor art ref António J. Pereira da Costa, que faz hoje anos...)



Foto nº 4 > Legenda: "RI 9. As sentinelas dos terrenos dos paiois abrirão fogo sobre quem tente escalar os muros, 1948"...



Foto nº 5 > Làpide de homenagem a um dos primeiros comandantes da unidade militar de La,ego, o RI 9, no período de 1849-1862, o Cor José Manuel da Cruz



Foto nº 6 > Interior do quartel, visto da porta de armas...


Foto nº 7 > O Virgílio Teixeira, sessenta anos depois...


Fotos: © Virgílio Teixeira  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 6 do corrente, enviada pelo Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; natural do Porto,vive em Vila do Conde; tem cerca de 170 referências no nosso blogue.

Ontem fiz uma visita de estudo ao CTOE - Quartel dos Ex- Rangers de Lamego.

Eu passei por lá, no ano de 1960, acompanhando 
o meu querido irmão Jorge Teixeira (1941 - 2021, num camião militar, ele ia lá fazer um serviço, e demoramos um dia do Porto até lá, pelas curvas do Marão velhinho. Ainda não se falava da guerra de África.

Para os que lá passaram e para outros, tem interesse ver como hoje está aquilo? Se for de algum interesse posso fazer um pequeno comentário com foto. Bem como a visita a um Hotel Rural, Casa dos Viscondes da Várzea, em Lamego, da Maria Manuel Cyrne, um espectáculo do Douro, ou a rota dos Barcos do Douro, rio acima, rio abaixo, até ao Pinhão, com a passagem da Eclusa de Barragem da Régua; os antigos e actuais comboios até Barca de Alva... ou, as maravilhosas vistas e paisagens na rota do Túnel do Marão e obras de arte, em pleno Alto Douro...

Aguardo Respostas!

Ab, Virgilio Teixeira

2. Resposta do nosso editor, em 7 do corrente:

Virgílio, essa história de 1960 pode e dever ser contada... Como a tua visita de saudade, 60 anos depois... Mete nas legendas das tuas fotos... E podes fazer mais outro poste com a tua viagem pelo Douro: temos uma série, "Os nossos seres, saberes e lazeres", que também podes usar...

Aliás, dou-te os parabéns por te meteres ao caminho com a tua Manuela... Portugal tem muito por descobrir, de Norte a Sul, Leste a Oeste. (...)

Abração, Luis

3. Visita a a Lamego, em 5 de junho de 2021. Tcxto e fotos enviados em 14 do corrente;

Objectivos fotografar e visitar o antigo centro de formação de Rangers, termo americano importado, porque o primeiro curso foi dado por um ranger americano.

Conheci no início da sua formação com 17 anos, em 1960 numa deslocação com o meu falecido irmão Jorge, 2« sargento rádio montador profissional de transmissões. Numa coluna militar saída do Porto, ele ia com a missão de montar o sistema de rádio não existente entre as unidades. 

Eu fui à boleia na caixa do camião coberto de lona, não me lembro a marca, mas era tudo velho e avariavam na subida do Marão. Foi preciso um dia inteiro e passei frio. Dormi no quartel mas não me lembro de pormenores.

Nunca mais visitei o Centro, mas de Lamego o que mais me lembrava era daquela aventura, claro que a boleia não estava autorizada, fui clandestinamente, sem problemas visto que eu já nasci e fui criado quase dentro dos quartéis, como familiar de profissionais.

Regressamos 2 dias depois sem problemas que eu saiba.

Li nos comentários do blogue alguém que esteve nos Rangers, suponho que numa conversa com o João Crisóstomo em que ele sentia uma certa nostalgia desse passado, e como temos cá muitos Rangers, comecei a matutar na ideia, de ir ver o Quartel de Lamego, hoje quartel de Santa Cruz em homenagem a um ten cor, não sei bem se é assim, há uma placa pouco legível que fala no ten cor José Manuel da Cruz, há uma data parece 1846, mas vamos em frente porque não sei inventar.

Já não tendo pedalada para fazer a viagem e conduzir por aquelas estradas, combinei com a minha filha mais nova, e marido, com o pretexto de irmos revisitar a Régua e assim o meu genro nos levar.

É lá fomos, passando pelo túnel do Marão, seguindo os barcos rio Douro acima, a passagem pela eclusa da comporta da barragem da Régua, não sabia bem como funcionava aquilo, fomos ainda à uma bela quinta onde o meu genro tinha estado em grupo pela empresa, com umas vistas fantásticas e falei então que gostava de ir fotografar o Quartel dos Rangers, e assim fomos. Ele também tem um familiar que lá esteve e poderá ver as fotos.

Grande desilusão, passamos lá uma hora a fotografar o que havia à vista, não encontramos viva alma, tudo fechado a 7 chaves, era Sábado e o tasco fechou para fim de semana, penso eu, espreitei lá para dentro e nem um cão de guarda se via.

A ideia que fica é um local isolado como deve ser, mas que encerra ao fim de semana, pois chegamos antes do meio dia.

As fotos que junto não estão legendadas, mas dá para perceber, em especial para quem foi hóspede. As luvas brancas que uso é uma necessidade dermatológica, isto é uma chatice.
 
Lamento desiludir as pessoas, não fazia ideia de estar tudo fechado.

Despeço-me com amizade.
Virgílio Teixeira

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22290: Memória dos lugares (421): quartel do BENG 447, Brá, Bissau, um hotel de cinco estrelas

Guiné 61/74 - P22305: Parabéns a você (1973): Coronel Art Ref António José Pereira da Costa (Guiné, 1968/69 e 1972/74); Ex-Alf Mil Inf João Crisóstomo da CCAÇ 1439 (Guiné, 1965/67) e Soldado TRMS Júlio Martins Pereira da CCAÇ 1439 (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22298: Parabéns a você (1972): Cherno Baldé, Engenheiro e Gestor de Projectos, Amigo Grã-Tabanqueiro da Guiné-Bissau

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22304: Tabanca Grande (519): Alfredo Fernandes, ex-1º cabo aux enf, CCAV 678 (1964/66)... Natural de Valença, vive em Viana do Castelo, é enfermeiro aposentado do SNS. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 842.



Alfredo Lopes Fernandes, ontem (1963) e hoje (2021)


1. O nosso blogue continua a juntar antigos combatentes da Guiné, nossos camaradas, muitos deles perdidos pelos quatros cantos da solidão deste país... De todas as épocas, do período que vai de 1961 a 1974, e de todas as armas e especialidades.

Um deles foi o Alfredo Lopes Fernandes, natural de Valença do Minho, a residir em Viana do Castelo, enfermeiro do SNS, aposentado.  Fez a recruta em 1963, em Braga, no RI 8, passou pela Escola de Saúde em Coimbra, o RI 12, fez o Estágio no Hospital Principal em Lisboa, Cirurgia Praças, tendo terminado a sua formação em 1964 como 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem. É depois integrado na CCAV 678 (1964/66),  tendo estado na Ilha do Sal, Cabo Verde e, a maior parte do tempo, na Guiné. 

Acabou por perder o contacto dos seus camaradas da CCAV 678,  ao ser transferido para o Enxalé.  Passaria ainda pelo Xime e Ponta do Inglês... mas também pelo Cacheu e outras localidades. Não sabe dizer o número dessa companhia. Na realidade, pode ter integradio forças do BCAÇ 512 (1963/65) ou a CCAÇ 508 (1963/65). Diz que regressou a Bambadinca para embarcar com os seus camaradas da CCAV 678, de volta a casa.

Nunca mais teve contacto com estes camaradas. Era conhecido pelo Enfermeiro Valença. O seu percurso na Guiné foi quase sempre fora da Companhia. "E até que Deus me deixe,  sou conhecido como Enfermeiro Alfredo Fernandes em Viana do Castelo". (...)

Escreveu-nos a dizer: "Não fazem ideia da alegria que me proporcionaram. (...) Gostaria de aderir à Tabanca Grande." (*).

E eu respondi-lhe: "Terei todo o gosto em acolher-te na Tabanca Grande, sentando-te à sombra do nosso poilão no lugar nº 841 (o próximo, disponível). Gostava, no entanto, de ter uma foto tua do tempo da tropa e da guerra."

Já foi feita a sua apresentação no poste P22251 (*)... Mandou-nos agora, "depois de uns dias de férias", a foto da praxe que estava em falta. E vai sentar-se, tranquilamente, sob o nosso poilão, não no nº 841 (que já tem dono, o João Rodrigues Lobo), mas no seguinte, o nº 842.(**)

Pois que sejas bem vindo, meu caro Alfredo Fernandes.

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Guiné 61/74 - P22303: Notas de leitura (1362): “Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto; Rosa de Porcelana Editora, 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Em 2016, aqui se fez menção ao livro "Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: a outra face do Homem", um conjunto de mais de 50 cartas que versam a relação entre Amílcar Cabral e Maria Helena Vilhena Rodrigues, um arco de missivas que vão desde a aproximação amorosa até aos preparativos da partida de Maria Helena para acompanhar o líder do PAIGC no exílio. Iva Cabral, a filha mais velha do casal, era a depositária deste valioso espólio. Agora a investigadora Aurora Almada e Santos, de colaboração com a segunda mulher de Amílcar Cabral, Ana Maria Cabral, que vive em Cabo Verde e é membro-dirigente da Fundação Amílcar Cabral, coligiu e contextualizou com rigor este acervo de bilhetes-postais que o líder revolucionário endereçou à mulher entre 1966 e 1972. Um documento indispensável para conhecer melhor o homem e a causa pela qual deu a sua vida.

Um abraço do Mário



Postais de viagens de Amílcar Cabral, cânticos de amor e saudade

Beja Santos

“Itinerários de Amílcar Cabral”, organização de Ana Maria Cabral, Filinto Elísio e Márcia Souto, Rosa de Porcelana Editora, 2018, é uma reunião de postais de Amílcar Cabral endereçados à sua segunda mulher, Ana Maria Sá Cabral e aos filhos, da Escandinávia à África Ocidental, de Marrocos ao Médio Oriente, ficou-nos o legado de bilhetes-postais vintage onde se fala da saudade, dos cuidados, dão-se informações ligeiras sobre congressos e meetings, é permanente a preocupação com o estado de saúde da mulher amada. Esta é credora de todo o seu afeto.

Logo no postal de 10 de dezembro de 1966, de Genebra: “Ana, Sem ti, as maravilhosas entrecôtes do café de Paris não valem nada”. A Suíça era uma plataforma para se alcançar outros países e Cabral mantinha contactos regulares com organizações de solidariedade no país. No ano seguinte, expede do Cairo outro postal onde se vê mar, rochas e palmeiras: “Olha bem para este postal: a ânsia de vida dos rochedos espelhada no verde das palmeiras, da esperança no isolamento do mar. Do infinito também, porque o dever fecunda a certeza – e a saudade, amor”. Cabral ia assistir à conferência da Organização de Solidariedade com os Povos Afro-asiáticos, com sede no Cairo. E escreve ao filho: “Querido Raúl, o papá tem pena de estar fora de casa no dia dos teus anos. Mas pensa muito em ti, faz votos para que cresças bem e sejas um grande militante do nosso Partido, para servires bem o nosso povo. Que a mamã não se esqueça de te fazer um bolo bonito”

Em julho do ano seguinte, escreve da Argélia: “O Osvaldo (talvez Osvaldo Vieira) trouxe-me um raio de sol: a tua carta. Acho que em vez de te resignares a viver só, deves decidir-te a acompanhar-me, que sou o teu companheiro”. Ainda em Argélia, nessa viagem, escreve à mulher: “Ana querida, Um dia será erigido um monumento ao camelo, pilar silencioso da presença do homem na aridez do mundo. Eu admiro os camelos na sua elegância própria, mas sobretudo na altivez do seu olhar”

Em outubro desse ano escreve de Dacar para a RDA, envia um postal como a imagem de uma aldeia africana: “A beleza de uma paisagem pobre está mais no sonho do seu progresso do que no equilíbrio dinâmico do seu espaço, humano ou físico. O sonho só é realizável no conhecimento: assimilar o essencial da realidade para transformá-la. Esta é a nossa luta: conhecer para transformar no sentido do progresso, a realidade física e humana da nossa terra. Nela, estou convencido dar mais do que tenho ou posso. Não, porque tu existes como minha companheira”

No ano seguinte, novamente do Cairo: “Espero que estejas já menos triste ou só com a tristeza da minha ausência. Eu estou triste porque não estás comigo, mas me alegra imenso o crer que cada dia estarás mais ao meu lado mesmo quando não estou. E eu ao teu lado também”. Recorde-se que o Cairo, tal como a Argélia, tornara-se num centro de apoio à luta contra o colonialismo. Nasser entendia que a República Árabe Unida não poderia ficar indiferente perante a persistência do colonialismo. Em 1970, de Túnis, envia um postal com a vista portentosa de Monastir: “Quando estou ao pé de ti – e estás bem-disposta, sorridente – a vida brilha como este dia de sol azul nos desertos da Tunísia. Que sejas o meu oásis – e eu o teu – nos vendavais desta luta gloriosa”

No ano seguinte, em Addis Abeba: “Ana querida, Apesar das pobrezas, das misérias e grandezas de um ‘império’, a Etiópia é rica de cores humanas e naturais. Espero que um dia, que não tarda muito, tu virás aqui para, juntos, admirarmos e aprendermos. Tenho muitas saudades tuas e penso nos dias que vais ter com o tratamento, porque os ouvidos são muito delicados”

Dias depois, ainda no decurso da sessão da Organização da Unidade Africana, envia à mulher um postal com uma jovem etíope, num quase perfil e com uma cabaça na cabeça: “Esta deve ser uma das expressões de mulher das mais belas do mundo. Mas será de certeza a segunda, porque, para mim, a primeira és tu, meu amor”

Tempos depois, em Estocolmo, a imagem do bilhete-postal é uma tulipa: “Aqui está uma tulipa: bela, altiva, rica de silêncios e de mistério. Como tu, companheira. Que tenhamos longa vida na luta difícil mas gloriosa pela libertação e progresso do nosso povo: para que à luz da tua beleza, na altivez cada dia mais construtiva dos teus gestos, transformemos os silêncios em alegria de viver e o mistério na força da nossa vida: o amor pela justiça”

Em março de 1972, envia de Trípoli um postal com a imagem do mercado de Leptis para o filho: “Raúl, Um dia, que não tarda muito, tu serás um homem, viajarás pelo mundo e conhecerás as maravilhas que o Homem criou. E saberás que a melhor maravilha que o Homem criou é o próprio homem de que as crianças como tu, são as flores.
Beijos do papá”.

Trata-se de uma edição cuidadosíssima, a contextualização histórica coube a Aurora Almada e Santos, insere textos de António Guterres, Guilherme D’Oliveira Martins, Jorge Carlos Fonseca e José Maria Neves. Márcia Souto e Filinto Elísio já nos tinham brindado com outro livro igualmente de Amílcar Cabral, “Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena: A Outra Face do Homem”, Rosa de Porcelana Editora, 2016, versa um conjunto de 53 cartas que o líder do PAIGC enviou à colega, namorada e primeira mulher, é um documento relevante na justa medida em que permite aquilatar a dimensão afetiva do estudante de agronomia até à partida para o exílio do líder revolucionário. 

Voltando aos itinerários de Amílcar Cabral, eles poderão ser muito importantes dado o facto de cartografar e calendarizar o percurso de um dos mais reconhecidos dirigentes da luta pela autodeterminação, são testemunhos de um desvelo amoroso, de uma presença constante a pedir ajuda para a sua causa, fala insistentemente na saudade, esteja em Moscovo, Nova Iorque ou Estocolmo, permitem conhecer o estado de espírito do lutador, ir sentindo a palpitação pela credibilidade e aceitação do líder do PAIGC na cena mundial.

António Guterres refere o livro de memórias de Gérard Chaliand, “A Ponta da Navalha”, onde o intelectual conta que quando disseram a Nelson Mandela “Tu és o maior”, este terá replicado: “Não, o maior é Cabral”.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22279: Notas de leitura (1361): "Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial", de Adriano Miranda Lima; Março de 2020, Edição de Autor (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74- P22302: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte I: sem falsa modéstia, um exemplo de empenhamento e competência

 

Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O João Rodrigues Lobo, ao volante de uma viatura.


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O João Rodrigues Lobo junto às viaturas. O PTE tinha 90 condutores. Legenda do autor: "1969. Frente à coluna experimental".



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  "1970: prestes a sair com a coluna de transporte de máquinas"



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  "1969: Em cima de um autotanque".


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > "1969: mais uma foto para a pose".



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 >  s/d: "uma enorme coluna do PTE".... A estrada (asfaltada) não está identificada, mas podia ser a de Nhacra - Mansoa - Mansabá... Não havia muitas na altura... Vê-se ao fundo aquilo que pode um aquartelamento. Por outro lado, a vegetação é rasteira, dando indícios de capinagem relativamente recente... (LG)



Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > PTE (Pelotão de Transportes Especiais) > 1968/1971 > O novo jipe sul-africano.

Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Joaquim Costa / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1, Mais fótos do álbum do João Rodrigues Lobo, que acaba de entrar para a nossa Tabanca Grande (*),

Recorde-se que, sendo natural de´Óbidos,  mas estando a residir em Luanda, foi fazer o 1º COM na EAMA (Escola de Aplicação Militar de Angola - Nova Lisboa), no último trimestre de 1967,  

Tirou a especialidade de Transportes Rodoviários no CICA - GAC 1, em Luanda. Quando estava colocado no Quartel General de Angola - 4ª Repartição, sendo comandante de MVL (Movimento de Viaturas Logísticas), fazendo as as colunas logísticas destinadas ao norte de Angola, é mobilizado para a Gunié, como Alferes Miliciano. 

Passa a comandar o PTE (Pelotão de Transportes Especiais) do BENG 447. Chega ao CTIG,  em rendição individual em dezembro de 1968, na véspera de Natal.

 O Pelotão de Transportes Especiais (PTE) era constituído por: (i) um alferes miliciano; (ii) dois sargentos do QP ; (iii) quatro furrieis milicianos; e (iv) cerca de noventa condutores auto (quase uma companhia...), parte deles do recrutamento local.

O PTE era responsável pelo transporte do pessoal de Engenharia, das Máquinas de Engenharia, e de todos os materiais de construção para e nas obras de estradas, aquartelamentos e reordenamentos.

O PTE também recepcionava todos os materiais militares que eram recebidos em navios fretados e carregava os materiais nas LDG e LDM da Marinha, no cais do Pijiquiti, para distribuição pelos aquartelamentos por estas servidos.

Faz questão de dizer que "o trabalho desenvolvido pelo nosso PTE foi, sem falsa modéstia, um exemplo de organização e dedicação de todos os seus elementos, que contribuiu para o meritório trabalho realizado por todos os militares, engenheiros e profissionais do BENG 447. Os condutores auto estavam sempre onde era preciso, sem eles NADA SE MOVIA !" (*)

Acabou a Comissão em Janeiro de 1971, passndo à disponibilidade em 11 de fevereiro de 1971. 

Prometeu-nos "reavivar as memórias do BENG 447, Grande Batalhão que concretamente FEZ OBRA!"
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 20 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22300: Tabanca Grande (518): João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez 1967/fev1971)... Fez o 1º COM, em Angola, Nova Lisboa. Vive em Torres Vedras. Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 841.

domingo, 20 de junho de 2021

Guiné 61/74 – P22301: (Ex)citações (387): "Memórias da Minha Aldeia" (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.

"Memórias da Minha Aldeia" 

Camaradas,  

É no silêncio dos meus 70 anos que os neurónios com os quais a minha saudosa mãe me trouxe ao mundo, e que continuam ativos no mundo da escrita, que persisto em trazer a público uma infinidade de lembranças que, caso não houvesse alguém que ousasse enveredar por tamanha aventura, muito do passado cairia no limbo do esquecimento. Sim, na verdade prometi, um dia, elaborar um livro sobre a terra que me viu nascer: Aldeia Nova de São Bento. 

Confesso que produzir uma obra onde as imensidões de memórias das gentes da minha aldeia proliferam, investigando em “oceanos” profundos não foi, de facto, tarefa fácil. Nesta panóplia de sucessivas narrativas, procurei deixar os nomes de todos os meus conterrâneos que morreram na guerra colonial, ou se quiserem na guerra do Ultramar, designadamente na Guiné.  

O texto que aqui vos deixo é o tema com que abro e fecho o meu próximo livro: “Memórias da Minha Aldeia”. 

Introdução 

Nasci em Aldeia Nova de São Bento no dia 23 de novembro de 1950 e sou filho de Francisco Saúde e de Ana dos Reis Romeiro, ambos naturais da povoação.   

Oriundo de uma família humilde, gente que “comeu o pão que o diabo amassou”, mas cujo princípio familiar passou por me colocarem a estudar num ensino secundário, ensino este que ia para além da então trivial quarta classe, foi, de facto, o literal propósito dos meus pais, aliás, pessoas simples, mas que oportunamente se identificaram com uma enorme solidez humana que motivou o homem que hoje sou. 

Neste contexto, e num desafio permanente às “Memórias da Minha Aldeia”, deixo escrito, neste livro, parte das raízes da minha infância e dalguns pormenores de profissões que marcaram, inequivocamente, épicas gerações, onde os “mestres” foram personalidades que inspiraram épocas inesquecíveis, sendo que o seu labor ficará eternamente contemplado. Para além dessas inequívocas lembranças, recordo ainda alguns dos nossos conterrâneos que ficarão perpetuamente expostos numa montra de eloquentes e requintadas individualidades.   

Mas, além de tudo o que aqui vos deixo escrito, o que é sempre muito pouco, preocupei-me em falar sobre a origem da nossa Aldeia, do seu Padroeiro São Bento, da Festa das Santas Cruzes, um dos nossos ícones anuais, assim como a envolvência da Procissão, do nosso fabuloso Cante Alentejano, do simbolismo das Santas Cruzes feitas em casas de devotos, enfim, uma panóplia de narrativas avulsas indiscriminadas no tempo e que dão maior força a esta obra trabalhada com imensa ternura e paixão.   

            É, ainda, plenamente crível que articulemos histórias genuínas da nossa terra e, obviamente, dos seus antigos usos e costumes. Recupero, também, narrativas inseridas num outro livro que em tempos lancei para os escaparates, mas que julgo apresentarem-se determinantes para a composição de recordações do antigamente e que jamais o esqueceremos.  

            Reconheço, porém, que muito mais haveria para expor nesta obra. Mas, neste mundo da escrita, sempre perplexo, o autor procura, neste caso, dar uma imagem do universo aldeão, embora o faça meticulosamente, sem preconceitos e isento de presumíveis susceptibilidades.   

            A todos um bem-haja!   

                                         Quando um homem se põe a recordar…  


É inevitável mergulhar nas profundezas das límpidas águas oceânicas que se apaziguam miraculosamente na costa alentejana, ou de viajar entre as searas loiras que rodeavam a aldeia, onde o cantar dos grilos na primavera entoava uma melodia encantadora, e trazer à estampa pequenas lembranças da nossa terra que orgulhosamente definem o que foram as vivências do passado.  

Procurei, embora sinteticamente, recordar os tempos antigos, os hábitos, as imagens que entretanto se foram diluindo com o suceder das épocas, as amizades, a pureza dos nossos costumes, de pessoas que deixaram vincadas os seus saberes, ou as suas artes, as fotos que escrupulosamente recolhi, algumas delas oferecidas, mas aonde fica o meu profundo agradecimentos a todos que comigo colaboraram, fornecendo-me essas imagens que trabalhei com um amplíssimo carinho, as suas identificações, ou tirando-me pontuais dúvidas em relação ao tema tratado, ou alertando-me para pequenas hesitações que oportunamente foram dizimadas, o profícuo carácter dos homens no seu trabalho quotidiano, enfim, uma panóplia imensa de narrativas a que me predispôs executar, ficando registada uma obra que eu próprio considero sempre inacabada. Outros, com engenho e arte, que lhe dêem continuidade.  

Aqui não ficam resquícios sobre a plenitude de pequenos teores feitos com base no bem-querer que nutro pela terra que um dia me viu nascer e que um dia me irá consumir. Aqui “não há filhos nem enteados”, todos foram tratados de igual modo. Reconheço que a narrativa exposta não é completa. Sim, porque “quem conta um conto acrescenta-lhe sempre mais um ponto”. É normal e fica a minha aceitação. Perduram, porém, as muitas horas, dias e meses dedicados a uma investigação que paulatinamente foi tomando corpo e que aqui vos deixo com muito amor. 

Quando um homem se põe a recordar, é perfeitamente admissível que nem tudo de momento lhe ocorra. Todos temos histórias guardadas e cada um de nós trabalhamo-las de acordo com o nosso pensar e vivência. 

Ainda assim, e não obstante as eventuais animosidades, procurei não desertar dos propósitos a que me lancei quando me iniciei nos trabalhos das “Memórias da Minha Aldeia”. Neste contexto, deixo-vos uma foto, eu sentado na bica de água já desativada no ano de 1969, e que serviu similarmente de inspiração para a execução desta longa maratona, tendo em linha de conta que o meu pensamento, naquele instante, parecia premeditar que o mundo da escrita faria parte do meu futuro. 

Obrigado aos meus caríssimos conterrâneos, em especial a todos que comigo colaboraram, e das fotos que despretensiosamente me enviaram, permitindo-me, com a devida vénia, ter conseguido levar “a carta a Garcia”!  

Um abraço, camaradas,

José Saúde

Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 9 DE JUNHO DE 2021 Guiné 61/74 - P22267: (Ex)citações (386): Valeu a pena andarmos todos à porrada, nós, e os ingleses, e os bóeres, e os alemães, e os cuanhamas, e os hereros, naquele Cu de Judas que era o sul de Angola e o Sudoeste Africano? (António Rosinha / Valdemar Queiroz)