sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3452: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (12): O Honório, o Pichas e o cangalheiro (Victor Barata / Victor Oliveira)

1. Mensagem com data de 6 de Novembro último, do Victor Barata, membro da Tabanca Grande e animador do blogue Especialistas da Base Aérea 12Guiné 1965/74:

Boa Tarde, Luís.

Li há pouco no teu excelente Blog a mensagem do Jorge Félix e depois o teu comentário (*).

Em relação ao primeiro, já lhe enviei um email que adiante te transcrevo.

O teu comentário não é para mim, pois se lerem a minha mensagem tão "polémica" em nada me manifestei, nem contra nem a favor, dos "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras".

Manifestei, sim,o meu desagrado para com o Jorge com o facto de dizer que o Honório "rapava a tentar chegar com o hélice aos nativos", dizendo-lhe que um Blog era lido por todas as pessoas e algumas tirariam ilações do Honório que não correspondiam à verdade, somente isto.

Mas como só quem não me conhece poderá fazer esse raciocínio de mim e, como sou um homem com um cariz de humildade elevado, também venho aqui apresentar as minhas desculpas a quem não concordou com a minha análise.

Email enviado há minutos ao Jorge Félix:

Olá Jorge, espero que esteja tudo bem contigo.

Li o email que mandaste para o Luís Graça e notei um pouco de incompatibilidade da tua pessoa em relação a mim.

Se achas que te ofendi (só quem me não conhece, poderá ter essa imagem de mim) apresento as minhas desculpas, mas tenho consciência absoluta de que não foi essa a minha intenção.

Se foi o facto da minha manifestação de desagrado, e somente isso, em relação aos "atributos" que se dão ao Honório sobre a frase de "querer acertar com o hélice nos nativos que paravam na bolanha", fiz-te sentir que o BLOG é lido por qualquer pessoa, derivando disso ilações que muitas vezes não têm o significado que lhe queremos dar.

Sobre os "Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras", em nada me manifestei, nem tenho que me manifestar.

Resumindo e concluindo, queria apenas dizer-te que o espírito com que me integrei na "Tabanca Grande" foi aquele que o Luís me transmitiu e que já me levou, como estranho de todos, a conviver em encontros anuais, ou seja, a camaradagem, o diálogo são e aberto onde podemos manifestarmo-nos com respeito mútuo.

Mais uma vez apresento os meus pedidos de desculpas, se te ofendi, e esperançado que a nossa curta camaradagem em nada seja afectada.

Um abraço
Victor Barata


Tomei esta atitude, tanto para ti como para o Jorge, meramente pessoal, entendo que não é este o espírito dos nossos Blogs, e muito menos nesta fase do "campeonato" em que se pretende é paz e sossego, mas se entenderes que o deves publicar tens toda a liberdade da minha parte.

Mais uma vez apresentando as minhas desculpas, considera-me um CAMARADA.

Saudações Aeronáuticas.

Victor Barata


2. Mensagem do Vitor Oliveira, residente em Caneças:

Amigo Luís

Sou Vitor Oliveira, mais conhecido na Guiné pelo Pichas, 1.º Cabo Melec, 1.ª 66.

Foi com muita alegria que há cerca de um mês descobri o blogue dos especialistas da Guiné e vi o teu link - sou portanto PERIQUITO - , onde li muitas mensagems àcerca do meu grande amigo HONÓRIO que infelizmente já nos deixou.

Devo ter sido o especialista que mais voou com ele, tanto em T6G como DO27 entre Novembro 67 a Março 69 desde Madina a Bubaque. Só não conheci São Domingos.

Tenho dezenas de bebedeiras e histórias passadas com ele, quero dizer-te o seguinte: o indicativo dele era JUBIDÉ, nunca pilotou Hélis nem Fiats, mas sim T6G e DO27, deixou de pilotar T6G um mês depois da chegada do Tenente-Coronel Diogo Neto. Um dia conto a história disto.

UM GRANDE ABRAÇO.

3. Comentário do L.G.:

(i) Vitor (Barata): Estamos esclarecidos. Pelo menos, eu. O Jorge Félix dirá de sua justiça, se for caso disso. Por mim, como sabes, não faço comentários sobre o que não vi, não observei, não vivi...

(ii) Obrigado, camarada Victor Oliveira, por entrares em contacto com connosco e nos trazeres mais algumas evocações do Honório, com quem voaste e privaste. Testemunhos de pessoas como tu são preciosos. É por essa razão que tomo a liberdade de reproduzir, aqui, mais um episódio sobre o nosso Honório, que tu acabas de contar no blogue do Victor Barata. Espero que um e outro não interpretem este meu gesto como abusivo.

Só uma dúvida: o Honório era conhecido em Bissalanca como o Jagudi (abutre) ou o Jubidé ? Pode haver aqui um erro de transcrição, uma falha de memória, um lapso, uma corruptela... Enfim, ao fim destes anos todos, pode haver uma traição da nossa memória que está longe de ser de elefante... Fadiga do material, sabes como é... Queres confirmar ? O Jorge Félix, que foi Alf Mil Pilav, e que andou nos helis, entre 1968 e 1970, chama-lhe o Jagudi... Quem tem razão ?

Dispõe das páginas do nosso blogue, que também é teu. Já agora: ninguém terá uma foto com o Honório? Ainda não consegui pôr-lhe a vista em cima. Conhecio-o em Bambadinca. Tinha uma ideia dele, em termos de fisionomia. Um Alfa Bravo. LG

4. História do Honório n.º 2,
por Victor Oliveira

Amigo Victor: Vais ter que me gramar a contar histórias do meu GRANDE AMIGO HONÓRIO (JUBIDÉ), dava para um livro.

Um dia estava sentado à porta do hangar dos T6G e DO27, vejo estarem a carregar uma urna numa DO. Passado um bocado vem o Honório com os seus Ray Ban e diz-me :
-Pichas, queres ir comigo?
- Para onde?
- A Binta, mas temos que ir buscar o cangalheiro a Farim. OK?

O cangalheiro era um civil baixinho e magrinho. Quando chegámos a Farim, já ele estava à nossa espera, com uma caixa tipo lancheira e o saco de cal.

Aparece o capitão do quartel e o nosso amigo, como estava perto da hora do almoço, vira-se para mim e diz-me:
-Vamos perguntar o que é o almoço, se for bom almoçamos aqui.

Carne à jardineira, OK. Como ainda tínhamos que esperar um bocado, o capitão arranjou-nos uns calções e fomos dar um mergulho num tanque, tipo piscina, até aqui tudo bem. Almoçámos bem e regámos melhor e o cangalheiro à espera, na sombra duma árvore. Tenho a impressão que não almoçou.

Vamos para a DO, toca de meter o cangalheiro em cima da urna e o saco do correio para entregar em Binta.

O nosso amigo Honório como a viagem era curta, para dez minutos, toca de rapar até o desgraçado do cangalheiro andava de um lado para outro, parecia uma barata tonta (isto não é para te ofender, ó Victor)... E o nosso amigo ria-se.

Era para esperarmos que o homem fechasse a urna e depois trazê-lo para Bissau. Como estávamos com pouca sede, descarregámos a urna e toca a andar para Bissau, o saco do correio também veio.

Cerca das três da tarde recebem na base uma mensagem para ir buscar o cangalheiro.
Quem o foi buscar foi o piloto Gomes e o meu chefe Fernando Almeida. Quando chegaram a Binta o cangalheiro disse logo que nunca mais voava com aquele piloto. Perguntaram-lhe quem era e ele disse:
- É muito moreno e o que vinha com ele também era moreno - E diz logo o meu chefe: - Era o Pichas, parecem o roque e amiga.

UM ABRAÇO
Victor Oliveira

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3412: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (11): Ainda o Honório, o Jagudi... ou o puro gozo de voar (Jorge Félix)

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