sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5904: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (6): Houve mais mortos nesse dia do que nos sete anos anteriores (Armandino Alves)

1. Mensagem, com data de 22 de Fevereiro de 2010, do Armandino Alves,  ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 1589 (Fá, Beli, Madina do Boé, 1966/68):

Assunto:  Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (5): um versão 'historiográfica' (*)...

Caríssimo Luís Graça

Nos, julgo eu, 7 anos em que existiu Madina do Boé e Béli , este desastre contabilizou tantos ou mais mortos sofridos pelo exército nas operações de reabastecimento e nas rendições das Companhias que lá estiveram.

O que eu acho que levou ao desmantelamento de Madina do Boé foi a total impreparação dos seus Comandos e a falta de senso. E essa falta de senso repercutiu-se no Cheche. Não era por mais uma hora de espera que o IN ia atacar. Julgo que a CCAÇ 1790 gastou mais em munições que todas as outras Companhias juntas. Por esse motivo é que os troncos de palmeira existentes nas valas como defesa se encontravam todos queimados. Era só apoiar a arma e disparar até acabar o carregador.

Pelo que se lê,  [alguém] era protegido do Gen Spínola e o azar desse alguém  foi o General ir para lá com 4 meses de atraso, senão a Companhia [1790]  nunca teria ido para lá [, para Madina do Boé]. Eu só faço uma pergunta: Se quisermos defender Portugal, o que fazemos ? Reforçar as nossas fronteiras terrestres e maritimas. Lá foi precisamente o contrário. Abriu-se a porta de par em par e estendeu-se uma passadeira vermelha para o IN entrar. Julgo que não foi isto que aprenderam na A.M. [ , Academia Militar]

Um abraço,
Armandino Alves
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5866: Ainda o desastre de Cheche, em 6 de Fevereiro de 1969 (5): uma versão historiográfica (?) (Luis Graça)

3 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Caro Armandino

No meu texto TRIANGULO DO BOÉ podes consultar todos os nossos mortos, em combate, ocorridos naquela região.

A saida daquela zona foi decidida pelo Comando Chefe em Junho e teve execução imediata com a retirada de Béli em Junho de 1968. Em Fevereiro de 1969 seria a vez de Madina do Boé.

A ideia, como está descrito no texto, era a criação de um complexo militar a norte do Corubal, na zona de Sare Andebe ou Burmeleu (cartas de Cabuca e/ou Sonaco)

José Martins

Anónimo disse...

Caro Armandinho,
Os rótulos impregnados no teu texto não esclarecem os pontos principais.

Assim pergunto:

Era Madina de Boé , militarmente falando, tão importante que valesse o sacrifício imposto às NT?

Depois da saída das NT foi Madina de Boé ocupada pelo IN?

Não acha que se o General Spínola tentou proteger um amigo ao mandar retirar a tropa que lá estava, também poderia ter utilizado o meso sistema para mandar para lá um seu inimigo?

O acidente aconteceu. Sabemos que alguém falhou. Havia regras de segurança que não foram seguidas.

Duvido muito que essa falha tenha resultado do medo de um possível ataque IN, que até poderia surgir a qualquer momento. O mais ou menos uma hora não era importante para que acontecesse. Era tudo uma questão de posição, condições e estratégia. Todos nós sabemos o que isso significa, e os resultados que se obtinham quando uma desses elementos falhava.

Os nossos camaradas mortos têm o direito ao eterno descanso. Se possível dentro do território nacional.

Com um abraço,
José Câmara

José Marcelino Martins disse...

Transcrição da
directiva, a nº 1/68, do Comandante-Chefe

“ Remodelação do dispositivo da região do Boé

1. É intenção do comando-chefe remodelar com a maior brevidade o dispositivo das Nossas Tropas (NT) na região do Boé, transferindo o aquartelamento de Madina do Boé para local mais adequado, na região do Che-che.

2. Confirma-se a ordem dada ao Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) no sentido de recolher imediatamente a Madina do Boé o destacamento de Béli, devendo ser destruídas as instalações e material que não for recuperável.

3. O CTIG e o Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (CZACVG) procederá imediatamente a um reconhecimento da região do Che-che, em ordem a escolher o local do novo aquartelamento, que deverá satisfazer as seguintes condições:

a) Situar-se em área chave da região do Che-che, que permita o lançamento de acções dinâmicas na região do Boé e na margem norte do Rio Corubal, e, se possível, que dê garantias de segurança à passagem deste rio no Che-che (jangada);

b) Ter uma boa pista de aterragem para aviões Dakota;

c) Oferecer boas condições de defesa do aquartelamento, que deve ser planeado com vistas a transformar-se numa grande base operacional.

4. Desejo deslocar-me á região conjuntamente com os elementos que forem estudar o problema.

5. Desejo ser informado sobre a possibilidade de realizar esta transferência durante a época das chuvas.

Bissau, 8 de Junho de 1968

O comandante-chefe
António Sebastião Ribeiro de Spínola, brigadeiro”