Fotos de © Luís Graça: Candoz, 22 de dezembro de2012
em dezembro
não fazia frio
em dezembro
não fazia ainda neve
em dezembro era natal
e comiam-se rabanadas
em janeiro
cantavam-se as janeiras
e bebia-se o vinho novo
em dezembro
ainda não havia neve
pra cozer as pencas pró natal
não havia neve
à porta dos camponeses pobres do norte
nem as peugadas dos pés descalços
das criancinhas do augusto gil
batem leve levemente
como quem chama por mim...
ah onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós
o camilo o eça o ramalho o aquilino
em dezembro
o pai natal já não descia pelo fumeiro
por entre os salpicões e os presuntos
vinha de peugeot pelas estradas de frança
e trazia tiparrillos pra malta fumar
à lareira
em dezembro
a maria do norte cortava erva pró gado
e cantava a plenos pulmões
uma canção do sul
candoz. natal de 1976
Nota do editor:
Último poste da série > 15 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10804: Blogpoesia (309): Vem aí retoma... (Luís Graça)
4 comentários:
Meu Caro Luís
O homem que une uma multidão de corações generosos, inteligentes e sensíveis, também nos oferece poesia, esta noite, embora de 76, mais uma prova de que as palavras são eternas.
Desejo um Natal de 2012, vivido na esperança de dias melhores e de coragem para enfrentar a guerra actual.
Um beijo para a Alice, para o Luís e os "miúdos grandes"
Obrigada pela companhia ao longo do ano e pela vossa amizade.
Felismina.
Olá Camarada
Ah, onde está o tipicismo da miséria rural
que os escritores burgueses descobriram antes de nós?
Não creio que alguma vez tenha existido nem que os escritores o tenham fomentado. Apenas chamaram a atenção para um tipo de vida diferente que os leitores, especialmente das cidades, acharam interessante e curioso. Aliás, há escritores "daqueles tempos" que não enfileiravam por aquele bucolismo que parece existir.
De qualquer modo um obrigado pelo poema de Natal e um
Ab. do
António J. P. Costa
Caro Luís:
A tua primeira foto está soberba. Parabéns!!
Eu não sou (por acaso) sportinguista, mas... teias de aranha sobre o verde...
Continuação de Boas festas e, claro, também para os camaradas sportinguistas.
Rui Silva
Camarada Tó Zé:
Foi o meu primeiro natal passado no norte, onde casei em 7 de agosto de 1976... (Diga-se, de passagem, o primeiro casamento civil, para mais na casa do menu sogro!)...
São coisas do "baú"... Lembrei-me de desencantar o texto... Se quiseres, são as primeiras impressões de um "mouro" no berço da nacionalidade... É óbvio que o poema está datado... Era ainda uma época em que ainda se usava (e abusava de) a adjetivação fácil, o chavão (ideológico)... "Escritores burgueses"!... Coitado do Eça, grande mestre, e "nosso vizinho" (a quinta de Tormes fica do outro lado do vale, já em Baião)...
Desde então nunca mais passei o Natal no sul... Aqui há alegria, música, gente boa e solidária, e muita fartura!... (No sul, também há claro... mas não há as "pencas"!)... Deitei-me quase às cinco da manhã, ao som de uma velha/nova tuna rural: acordeão, violas, violino, cavaquinho... Esta ambiência nunca foi a da minha infância... Com a idade, estou a ficar sentimental...
Boa continuação das tuas festas natalícias!... Luis
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