Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 2005 > "No Saltinho, as bajudas continuam lindas, ontem, como hoje", escreveu o José Teixeira, quando lá voltou em Abril de 2005. Mas esta é (ou era, no nosso tempo) também uma região palúdica, devido à existência de rios e charcos de água, acrescenta o nosso David Guimarães, vítima do paludismo, como quase todos nós...
Foto: © José Teixeira (2005).Todos os direitos reseravdos
1. Texto do David Guimarães (ex-fur mul, at inf, minas e armadilhas, da CART 2716, Xitole, 1970/1972), um dos primeiros camaradas a aparecer, a dar cara, a escrever no nosso blogue, nos idos anos de 2005. O primeiro poste que temos dele é de 17 de maio de 2005, e era o nº 20 (Foi você que pediu uma Kalash ?). Este que reproduzimos a seguir foi o 480 (*). É mais uma das suas estórias do Xitole, escritas no seu português castiço, e que retratam bem o quotidiano de um operacional de uma unidade de quadrícula (**).
Nós sabemos o que era uma coluna logística, uma operação de reabastecimento, mas outros nem calculam o que seja... O vai haver coluna já era uma grande chatice... Andar até ao Jagarajá, à Ponte do Rio Jagarajá, a pé e a picar, não era pera doce... E depois? Se acaso acontecia mais algo a seguir?
Claro que não vou explicar o que é picar - não será necessário, antes fosse... O picar na tabanca era bem melhor, maravilha mesmo... Agora picar aquela estrada toda até ao Jagarajá, porra, que grande merda!... Na tabanca sempre era melhor, era pelo menos algo bem diferente do que ir a servir de rebenta minas...
Pois é, a grande operação, a saída da rotina. Depois havia que manter a guarda de manhã até à noite... É que, quando a coluna vinha para o Xitole, então também se ia ao Saltinho. Ufa, que grande merda, mas tinha que ser...
O Quaresma, o Santos e eu vivíamos os três na altura no mesmo apartamento do Xitole - um à esquerda, outro à direita e eu ao centro... Sempre simples e amigo da brincadeira, eu via os dois desgraçados com uma camada de paludismo a vomitarem e eu lá no meio a acalmá-los:
- Vocês são uns merdas, não valem nada... Pois, não fazem o que eu digo!.. Apanham isto por que não bebem. Quem bebe bem, safa-se!
E eles, coitados, riam e choravam ao mesmo tempo, e seguir lá vomitavam o que não tinham no estômago. O paludismo era assim... Bem, lá me levantava eu de manhã e lá ficavam eles na cama... Eles já tinham o cu como um crivo, só das injecções.
- Porra!, - dizia eu - quem dera nunca me dê esta merda...
Bem, mas eles melhoravam e eu estava bom, antes assim. São meus amigos, faço-lhes companhia e trago-lhes o correio... É verdade e lá parto de manhã, um belo dia, para a dita operação de segurança à coluna que vinha de Bambadinca...
- Ai, que bom não ser eu a picar, ainda bem!
Nos revezávamo-nos entre os três grupos de combate em cada coluna: ia um até ao Jagarajá, outro ficava no ponto intermédio e o outro adiante da Ponte dos Fulas, aquela ponte a 3 Km do Xitole onde estava sempre um grupo de combate. Esse limitava-se a ver passar o comboio... e a tomar conta da ponte, claro...
Bem, lá fomos nós por ali adiante, os três grupos, o meu no meio. Eu, como sempre levei duas Fantas -cerveja só no Xitole - enfim uma ou outra coisita da ração de reserva e doces, nem vê-los... É que aquelas geleias e coisas mais doces da ração atraía a nós uns mosquitos chatos e sobretudo umas formigas que ferravam e não nos largavam. Quantas vezes tivemos que as tirar das zonas púbicas - que bem que está a falar um ex-militar!... Quantas vezes tivemos que arrear as calças, para essa aflitiva operação!... Mas essa era outra guerra, paralela à coluna...
Lá progredimos e começámos a instalarmo-nos, ao lado da estrada, metidos uns 20 a 30 metros dentro do mato... Depois ali era esperar, esperar que os motores se começassem a ouvir e as viaturas a surgir, envoltas em nuvens de poeira:
- Aí vem a coluna!...
Já tínhamos morto umas centenas de moscas pequeninas que vinham fazer cócegas onde havia mais suor. O pulso era um dos seus alvos preferidos, mesmo na zona da correia do relógio...
Uma vez instalado, eis que me deu sede... Bebi uma Fanta, quase de um só gole. Ao mesmo tempo deu-me um frio danado, vomitei a bebida de imediato e tiveram que me cobrir com um camuflado. Comecei a tremer como varas verdes - não, dessa vez não era com medo, era com frio, arrepios de frio, no meio de um calor do caraças... Tive ainda forças para dizer:
- Lopes (era um cabo da minha secção), comande esta merda e meta-me na primeira viatura que aparecer... Estou com paludismo...
Porra, que eu nem forças tinha para me pôr de pé. Lá vim para a estrada, apoiado no cabo, até que enfim se ouve o trabalhar dos motores, as viaturas das colunas... O cabo mete-me na primeira...
- Sobe, diz o oficial.
Guiné > Zona Leste >Ector L1 >Xitole > 1970 > A coluna logística mensal de Bambadinca chega ao Xitole... Em cima da Daimler, ao centro o alferes miliciano de cavalaria Vacas de Carvalho, comandante do pelotão Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1970/71); à sua direita, o furrriel miliciano Reis, da CCAÇ 12, à sua esquerda o furriel miliciano enfermeiro Godinho, da CCS do BART 2917, mais o furriel miliciano Roda, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados
E lá fui eu a tremer até ao Xitole, a bordo o de uma viatura... de Cavalaria, a autometralhadora Daimler do Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler... Esse mesmo, o da fotografia, espero que não tenha sido nesse dia mesmo que eu fiquei doente; julgo que na altura lhe agradeci a boleia, mas se o não fiz, devido ao estado febril em que eu me encontrava, ainda vou a tempo, trinta e seis anos depois:
- Obrigado, meu alferes! Foi a melhor boleia, a mais oportuna, a mais rápida, que eu apanhei na puta da vida! Mesmo à justa!...
Bom, o resto da estória é fácil de imaginar: enfermaria, uns comprimidos e cama - uma semana de baixa!... Ai que bom, nem precisei de injecções... Aí naquele quarto de hotel de cinco estrelas, o que o Santos e o Quaresma - falecido pouco depois, uma história negra que hei-de aqui contar - me disseram!
- Então, seu caralho, tu é que eras o bom!...
- Por favor, deixem-me em paz! - pedia-lhes eu...
A guerra naquela zona sempre foi tremendamente difícil. Sei que o Xitole era das zonas da Guiné que mais problemas tinha com o caraças do paludismo: tínhamos muito charcos de água e dois rios bem perto, o Corubal e o Poulom, aquele da ponte dos Fulas... Chegámos a ter muita gente acamada ao mesmo tempo e não dávamos descanso à enfermaria...
Como estão a ver na guerra apanhava-se de tudo: boleias de Daimler, picadas de formigas, moscas e mosquitos, paludismo, além da porrada... Em matéria de picadas, também as fiz, picadas à pista de aviação de Bambadinca... Mas isso é outra estória, que fica para uma próxima...
- Sobe, diz o oficial.
Guiné > Zona Leste >Ector L1 >Xitole > 1970 > A coluna logística mensal de Bambadinca chega ao Xitole... Em cima da Daimler, ao centro o alferes miliciano de cavalaria Vacas de Carvalho, comandante do pelotão Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1970/71); à sua direita, o furrriel miliciano Reis, da CCAÇ 12, à sua esquerda o furriel miliciano enfermeiro Godinho, da CCS do BART 2917, mais o furriel miliciano Roda, da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).
Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados
E lá fui eu a tremer até ao Xitole, a bordo o de uma viatura... de Cavalaria, a autometralhadora Daimler do Vacas de Carvalho, comandante do Pel Rec Daimler... Esse mesmo, o da fotografia, espero que não tenha sido nesse dia mesmo que eu fiquei doente; julgo que na altura lhe agradeci a boleia, mas se o não fiz, devido ao estado febril em que eu me encontrava, ainda vou a tempo, trinta e seis anos depois:
- Obrigado, meu alferes! Foi a melhor boleia, a mais oportuna, a mais rápida, que eu apanhei na puta da vida! Mesmo à justa!...
Bom, o resto da estória é fácil de imaginar: enfermaria, uns comprimidos e cama - uma semana de baixa!... Ai que bom, nem precisei de injecções... Aí naquele quarto de hotel de cinco estrelas, o que o Santos e o Quaresma - falecido pouco depois, uma história negra que hei-de aqui contar - me disseram!
- Então, seu caralho, tu é que eras o bom!...
- Por favor, deixem-me em paz! - pedia-lhes eu...
A guerra naquela zona sempre foi tremendamente difícil. Sei que o Xitole era das zonas da Guiné que mais problemas tinha com o caraças do paludismo: tínhamos muito charcos de água e dois rios bem perto, o Corubal e o Poulom, aquele da ponte dos Fulas... Chegámos a ter muita gente acamada ao mesmo tempo e não dávamos descanso à enfermaria...
Como estão a ver na guerra apanhava-se de tudo: boleias de Daimler, picadas de formigas, moscas e mosquitos, paludismo, além da porrada... Em matéria de picadas, também as fiz, picadas à pista de aviação de Bambadinca... Mas isso é outra estória, que fica para uma próxima...
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Notas do editor:
(*) Originalmente publicad na I Série > 27 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXX [480]: Uma boleia na Daimler do Vacas de Carvalho (Xitole, David Guimarães)
(**) Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
Notas do editor:
(*) Originalmente publicad na I Série > 27 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXX [480]: Uma boleia na Daimler do Vacas de Carvalho (Xitole, David Guimarães)
(**) Último poste da série > 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11456: Estórias do Xitole (David Guimarães, ex-fur mil, CART 2716, 1970/72) (2): Nem santos nem pecadores
21 comentários:
A malária, 40 anos depois, continua a ser a principal causa de morte na Guiné: 18% do total nas crianças com nenos de 5 anos... Ddaos da OMS (2010)
Ver artigo de Lassama Cassamá, reproduzido na Voz da América:
Na Guiné-Bissau, a malária continua a constituir uma das enfermidades com maior incidência na população.
Guiné-Bissau: Incidência do paludismo continua elevada
Este ano, o dia mundial de luta contra a malária não foi assinalado oficialmente, porque não havia os fundos necessários, mas foi possível analisar as estatísticas da doença.
Os dados foram apurados hoje pela Voz da América e constam do relatório de 2012, o último, o qual ainda não foi apresentado: dos 129.684 casos de malária registados no ano passado, 370 morreram e dentro deste número, 164 são crianças menores de cinco anos, ou seja, em termos percentuais, representam 44% de vítimas mortais.
Isto deve-se, segundo o coordenador do Programa Nacional de Luta contra Paludismo, Paulo Djata, à vulnerabilidade desta faixa etária.
O quadro geral da prevalência de malária na Guiné-Bissau situa-se em 7.9%, sendo a região de Gabu, leste do país, a mais afectada com 12.2, seguida de Oio, norte com 9.6%. Bissau, a capital, apresenta um quadro de prevalência calculada em 8.7%, mesmo número com região de Quinara, no sul da Guiné-Bissau.
A região menos afectada pelo paludismo é a região de Cacheu, a qual, conforme dados estatísticos, não figura além de 1.9%.
Em face deste cenário e com a época das chuvas à porta, uma época muito favorável a incidência de malária na Guiné-Bissau, o Ministério da Saúde guineense tem apostado em medidas preventivas, medidas rotineiras que têm surtido efeito no seio das comunidades.
http://www.voaportugues.com/content/bissau-malaria/1648964.html
BBCA para Áfrivca, 6/1/2011
http://www.bbc.co.uk/portugueseafrica/news/story/2011/01/110106_bissaumalariareductionlc.shtml
Mortes por malária em decréscimo na Guiné-Bissau
Salvador Gomes
Correspondente da BBC em Bissau
A luta contra o paludismo na Guiné-Bissau regista resultados encorajadores. Indicadores apontam para a redução de casos e óbitos por paludismo, doença endémica no país.
Em entrevista à BBC, o coordenador nacional do Programa de Luta contra o Paludismo, Paulo Djata revelou que o número de óbitos baixou de 1200, em 2000, para 390 em 2009.
"Esta situação encoraja-nos a prosseguir a luta contra essa doença", disse Djata que acrescentou que, quanto ao número de casos, se registaram mais de 250 mil, mas que nos últimos tempos baixou para cerca de 150 mil.
Djata disse que o combate ao paludismo está no bom caminho graças ao apoio do Fundo Mundial e à implantação de mecanismos de prevenção da doença em todas as regiões sanitárias da Guiné-Bissau.
"Se esse apoio continuar podemos chegar a menos de 100 óbitos por ano", afirmou.
O coordenador nacional do programa considera que ainda é cedo para se falar em erradicação da doença não obstante os avanços registados e as novas formas de prevenção que deverão começar a ser implementadas, no âmbito de um acordo assinado recentemente entre as autoridades sanitárias da Guiné-Bissau, Cuba e Venezuela.
"Com apoio do Fundo Mundial, não conseguimos implementar todas as medidas de prevenção. Só fazemos a distribuição de mosquiteiros impregnados e impregnacão. Mas, com esse acordo vamos implementar outras formas de prevenção, que certamente trarão resultados positivos", explicou.
O paludismo é a principal causa de morte, e motivo da maioria das consultas na Guiné-Bissau.
Nos últimos anos foi introduzido o teste rápido de diagnóstico, para melhorar a qualidade do diagnóstico e o tratamento da
doença.
1200 mortes por paludismo no ano 2000, 390 em 209... Quantos casos mortais haveria no nosso tempo ?
Não tenho dados históricos... Mas já li que em certas regiões, na década de 1960, a taxa de prevalência podia ultrapassar os 50& (Ilham de Bolam, Ilha de Bissau...). Na época a população total não ultrapassava o meio milhão. A taxa de mortalidade (por todas as causas) poderia situar-se nos 10% (ou mais): 50 mil... 3500 casos (7%) poderiam ser causados pelo paludismo...
Comunicado do Diretor Geral de Saúde, de 9/7/2012
Malária
Em relação a notícias ultimamente difundidas sobre a eventual reintrodução em Portugal da
malária (também designada por paludismo), a DGS esclarece:
1. Como resultado dos trabalhos de erradicação conduzidos pelos serviços de Saúde Pública, os
últimos casos de malária adquiridos em Portugal foram diagnosticados em 1959;
2. Desde então, todos os casos identificados em Portugal foram importados e ocorreram em viajantes
regressados de países tropicais onde adquiriram a doença;
3. Em 2011 foram notificados em Portugal 58 casos importados de malária;
4. Desde 2008 que o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e a DGS, em colaboração com
as Administrações Regionais de Saúde e as Regiões Autónomas, mantêm ativo um programa de
vigilância das populações de mosquitos em Portugal, designado por REVIVE (www.insa.pt);
5. Todos os dados atualmente disponíveis relativamente à doença e ao vetor não permitem prever
qualquer alteração a esta situação.
Francisco George
Diretor-Geral da Saúde
http://www.min-saude.pt/NR/rdonlyres/C84A7EE3-D595-4BD6-9EBD-61E68492106F/0/malaria.pdf
Paludismo
O que é:
O Paludismo, ou malária como também pode ser conhecida, é uma infecção no sangue transmitida através da picada de um mosquito do gênero Plasmodium contaminado.
O diagnóstico breve assim como o tratamento precoce são importantes, porque em alguns casos o paludismo é fatal.
Sintomas do paludismo
São sintomas do paludismo:
Febre alta;
Calafrios;
Sudorese intensa;
Pele avermelhada;
Dor de cabeça;
Dor no corpo;
Fraqueza;
Mal estar;
Tremores pelo corpo;
Tontura
Náuseas;
Vômitos.
Os sintomas do paludismo iniciam 10 a 35 dias após o mosquito ter picado o indivíduo, são inespecíficos e frequentemente confundidos com os da gripe.Os parasitas instalam-se no fígado e amadurecem em 2 a 4 semanas, e após esse período invadem e destroem as células vermelhas do sangue.
Diagnóstico do Paludismo
Para o diagnóstico do paludismo deve-se realizar um teste rápido com uma gota de sangue, que deverá ser observado num microscópio para identificação dos parasitas.
Tratamento para Paludismo
O tratamento para paludismo é feito com a toma de medicamentos fornecidos gratuitamente pelo SUS. O paludismo tem cura e o seu tratamento é eficaz quando é instituído rapidamente.
Prevenção do Paludismo
A prevenção do paludismo pode ser feita com medidas como:
Usar roupas de manga comprida e calça comprida;
Evitar tomar banho em lagos e lagoas em áreas endêmicas depois do pôr-do-dol e até ao amanhecer;
Colocar telas de proteção nas janelas e portas para evitar a entrada do mosquito nas casas e no trabalho;
Usar repelente com DEET (N-N-dietilmetatoluamida), respeitando as orientações do fabricante quanto à sua reposição.
Fonte: Portal Tua Saúde
Doenças Infecciosas > Paludismo
http://www.tuasaude.com/paludismo/
Atenção em 15% a 20% dos casos, o "paludismo cerebral" mata mesmo!... Ainda há uns escassos mese, o conterrâneo meu, irmão dum amigo meu, morreu de palydismo cerebal em Angola.
Precaução: Ir à consulta de saúde do viajante antes de viajar para países onde a malária é endémica... Quem é que tem feito isso, a nossa malta que tem ido *à Guiné nestes últimos 5, 10, 15, 20 anos ?...
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/informacoes+uteis/saude+em+viagem/consulta+de+saude+do+viajante.htm
Não me lembro exactamente quantas crises de paludismo sofri na Guiné nem de quantas recaí já civil.
Lembro-me que a primeira me aterrou em febre/frio e dores de cabeça.
Na altura, deitado no meu catre que ficava no último edifício na parte mais alta do quartel de Aldeia Formosa, comecei a ouvir uns soldados a abrir latões de gasolina para chapas à porrada de martelo e o barulho rebentava-me a cabeça. A custo vim à porta pedir-lhes que fossem fazer aquilo para outro lugar e responderam-me que eram ordens superiores. Pouco me importavam tais ordens e avise que não aguentava aquilo. Pararam um pouco, voltei à cama e ouvi recomeçarem. De novo me levantei, peguei na G3, meti um carregador e fui à porta pedir de novo mas já de canhota na mão. Disseram-me que seria melhor ir falar com o Alf. PG e eu já nem pensei mais, culatra atrás e bala na câmara, um tiro pró ar -Tá bem, chamem lá o PG"- Foram embora e o PG veio ao meu quarto e percebeu tudo. Recaí duas vezes dramaticamente, já a voar na TAP, uma no hotel no Algarve e outra em Nova Iorque, assustando ingleses e americanos, mas isso fica, talvez, para uma próxima. Abraços
José Brás
Se bem me lembro tive cinco ou seis vezes paludismo. Nem sempre era forte e,o ultimo,lá, o mais forte, foi em Agosto já com cerca de 19/20 meses de comissão. Estava a trabalhar no COP 7, destacado em Canssamba/Galomaro e fiquei apanhado. Como não tinha melhoras avisaram Galomaro e o Cap.Jerónimo (Comp.2405) foi buscar-me.Havia médico em Galomaro e estive em risco de ser evacuado. Lá passou e fugi de lá em regresso apressado até Canssamba.Os medicamentos, se fossem comprimentos "rebentavam" com o estômago. Vim com dois africanos e eles tratavam-me com "mesinho"...(creio já ter contado isso no blogue).
Depois de vir, talvez cerca de dois anos depois, voltei a ter paludismo. Por acaso estava no Fundão e procurei um médico com passagem por África. Lá me medicou, tentamos encontrar injecções mas não encontramos aqui ou na Covilhã. Eu tinha injecções de Aralen? que o Fur. Enfermeiro me deu numa caixa metálica com seringa e tudo. O médico não quis e vá os 16 de Resoquina?. Depois regressei a Lisboa, fiz exames novamente e não mais apareceu.
Tenho más recordações dessa maleita, raios a partam. Em Portugal soube que na zona da Idanha- a- Nova e em Alcácer do Sal, apareceu paludismo (sezões? no vulgo alentejano). Eu tinha estado a trabalhar cerca de dois meses em Alcácer mas parece que nesse tempo já estava irradicado.Felizmente nunca mais me apareceu.
Na Guiné éramos sugados por milhares de mosquitos e, com o Deraprin das quartas feiras? ou sem ele muitos o apanharam.
David um tipo fica todo partido, partidinho, o estomago procura com afinco o que quinze dias antes bebemos e comemos e as canelas das pernas ficam com osteoporose em ultimo grau...da-se camarada. A propósito de da-se e bajudas...conheceste alguma Mariema ou Nhalu no Xitole??? Creio que o Xico Carvalho da 2715 me falou nisso.
Ab,T.
Fui um felizardo. Nunca tive paludismo.
Durante os primeiros 10 meses de comissão a minha secção só conheceu um caso de paludismo.
Aconteceu quando um dos soldados, o J. Serpa, o homem maior da companhia, esteve de baixa médica com queimaduras graves.
Abraço transatlântico.
José Câmara
Até nisto do paludismo tive sorte, fiz sempre a prevenção com aqueles comprimidos que o "pastilhas" nos dava todas as semanas ou de 15 em 15 dias e nunca tive nada. Houve um soldado do meu pelotão que esteve quase a bater a "bota", tivemos que o levar com urgência para Bambadinca para ser evacuado para o hospital de Bissau, mas acabou tudo em bem.
Medidas preventivas que não respeitávamos no todo ou em parte, por ignorância, desmazelo, facilistismo...
(i) Usar roupas de manga comprida e calça comprida
... No quartel, a regra geral era manga curta, calção, chanatas... Quando não mesmo tronco nu... O calor e a humidade eram insuportáveis para um caucasiano da Europa... Frio,frio, só experimentei em certas noites e dezembro, com temperaturas que podiam descer até aos 15 graus (!)
(ii) Evitar tomar banho em lagos e lagoas em áreas endémicas depois do pôr-do-dol e até ao amanhecer...
... Na maioriaa dos aquartelamentos, não havia instalações sanitárias interiores "à prova de mosquito" (por ex., com janelas com rede...).... Tomava-se um duche a qualquer hora, quando havia água... Nos destacamentos e nas tabancas em autodefesa, o banho era "à fula"...
(iii) Colocar telas de proteção nas janelas e portas para evitar a entrada do mosquito nas casas e no trabalho;
... Poucos aquartelamentos tinham estes "luxos"... E o nosso local de trabalho era ao "ar livre"...
(iv) Usar repelente com DEET (N-N-dietilmetatoluamida), respeitando as orientações do fabricante quanto à sua reposição.
... No início, "meninos bem comportados", besuntávamos a cara e as mãos com repelente... Passados seis meses, considerávamo-nos já velhinhos e imortais...
Olá Luís Graça,
Nos três meses, mais ou menos, que estivemos em Fá tínhamos quartos individuais, casa de banho, janelas com rede e ,ao anoitecer. o Lali acendia uma espiral de Lion Brand (quartos dos oficiais),um pouco menos no dos sargentos,excepto os do quadro,e muito ,ou nada, nas camaratas dos soldados.
Mas eramos operacionais e aí todos eram iguais. Eles ferravam então com mais ímpeto as carnes mais cuidadas. Depois em Mansambo e nas Tabancas,felizmente eramos todos iguais.Um abrigo enterrado no chão...um sanitário que era uma vala e depois tapavas com uma pasada de terra...um banho á fula (nas Tabancas os Fulas tinham locais bons aonde se lavavam). Eu só via casas em Bambadinca e eram óptimas.Até tinham luz electrica, messe com toalhas nas mesas, bar com bebidas frescas, putas ali ao lado -ou vindas de Bafatá...os mosquitos ferravam-me e deviam morrer envenenados, a mim e aos outros...Um dia foi um Capitão de Bissau a Candamã e ficou lá a noite (depois logo te direi o porquê), eu estava de calção e tronco nu e ele conforme mandam as NEP anti malária. Passado tempo disse-me: oh pá como é que os mosquitos não te picam porra. Talvez lhe tenha dito que o "anophelis" gostavam de carne fresca e rosadinha...foi deitar-se cedo...
Abraço,T.
Amigos e camaradas, ora cá está um bom tema para a gente discorrer, escrever, comentar, acrescentar, melhorar, aumentar, delirar...
Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...
Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou ebacuados por doença grave (por ex., hepatite C, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)
O meu primeiro ataque do paludismo, em Bambadinca, na época seca (talvez princípios de 1970), foi uma experiência brutal para mim... Um pesadelo. A imagem que ainda tenho é a do ciclo (curto) da temperatura do corpo que ia do muito baixo (abaixo dos 36!) ao muito alto (quase a roçar os 42!)... Pensei que morria...Sozinho, no meu quarto (que aliás não era só meu, era de mais 4 ou 5), com o meu amigo "Pastilhas" (ex-fur mil enf João Carreira Martins, da CCAÇ 12, que se reformou como enfermeiro chefe do Hospital Curry Cabralm e é hoje pai de 2 médicos) a vigiar-me de tempos e a medicar-me com doses de cavalo...
Como se tratava o paludismo, na época, não sei... Mas a sensação que tinha, era a de abandono, solidão, desespero... Ora ardia em febre, ora tiritava de frio, entrando em hipotermia... Um dia vou ter que passar isto para um poema...
Não sei quantas vezes tive paludismo na Guiné... E cá tive ressacas ou sequelas, como muita malta... Por outro lado, trouxemos o fígado em mau estado, de tanto uísque, água da bolanha, gin tónico, cerveja, tintol, brancol e outras merdas que emborcávamos...
Um alfa bravo. Luís Graça
####
Temos falado pouco, muito pouco, nestes nove anos a blogar, da nossa experiência (pessoal, única mas transmissível...) de doença em tempo de guerra...
Como é que a gente lidava com os esquentamentos, os ataques de paludismo, as lesões cutâneas, as depressões, as diarreias, os problemas musculoesqueléticos... E, mais do que isso, como é que a gente viveu e sobreviveu nos hospitais militares (Bissau, Estrela/Campolide...), aqueles de nós que foram feridos gravemente em combate ou ebacuados por doença grave (por ex., hepatite C, tuberculose; felizmente ainda não havia o HIV/SIDA)####
ORA AQUI ESTÃO TEMAS COM INTERESSE. PODIAM SER DISCUTIDOS, PARTILHADOS...
Ab,T.
Caro David,
ERA DO CARAÇAS O PALUDISMO...
Isso de falar de paludismo e colocar uma bajuda coas ditas arrebitadas...
AQUELE TRATAMENTO NÃO ME CONSTA QUE FOSSE PARA O PALUDISMO...DAVID.
ABRAÇO
mm
OH...OH...Meus amigooosssseesss.
Vamos lá ver...
Paludismo ou malária é uma doença provocada por um protozoário denominado Plasmodium.
As espécies de plasmodium que infectam o ser humano são os P.falciparum,vivax,ovale e malariae.
O vector é o mosquito fêmea do género anopheles.
O ovale pode dar recidivas até 60 anos após se sair de uma zona endémica..calma..não existe na Guiné.
O falciparum (gajo perigoso)dito cerebral pode dar recidivas até 2 anos.
Em Portugal o vector não é do mesmo género, por isso,é muito difícil ou impossível a contaminação.
Esqueçam os nomes de fármacos que tomavam lá,pois actualmente o plasmodium é resistente a todos.
Existiu paludismo em Portugal que era designado pela população como "maleitas" ou febres "terçâs" ou "quartâs", nas zonas de Alcácer do Sal,Idanha-a-Nova (Ladoeiro), Coimbra (rio Mondego),Coruche..etc.
Considera-se erradicado desde 1974.
Tive um doente no H.Egas Moniz que tinha paludismo,nunca tinha ido a Á frica ou outra região endémica..só que descarregava aviões vindos de África ..e pimba..foi picado por uma "mosquita" que viajou num avião, certamente clandestina.
As últimas novidades sobre esta doença é de que ainda não existe vacina, o "bicharoco" é resistente a quase todos os fármacos existentes,e parece que a última novidade é "capar"..perdão esterilizar o mosquito..só que..só que nada está ainda com efeito comprovado...pudera..é uma doença de 3.º mundo..logo os laboratórios não estão muito interessados em investigar..é caro e o retorno é zero..(genti pobre na podi comprar.. né).
Não sei se fui esclarecedor..
Ah..também tive paludismo lá e cá..não sou filho de "cabo miliciano".
Estou à vossa disposição para qualquer esclarecimento, basta contactarem o editor ou co-editores que têm o meu mail.
Para quem não sabe, sou médico e tenho uma pós-graduação em medicina tropical.
Sigam o conselho do Luís Graça...antes de viajarem DEVEM IR A UMA CONSULTA DO VIAJANTE..se soubessem as doenças que por lá existem até "caíam de c..." pois..pois estiveram lá..já me esquecia.
Um alfa bravo e um "queijo da serra"..
C.Martins
P.S.
Caro Luís Graça
Não te fies muito nas estatísticas enviadas..até cá..aqui que ninguém nos "ouve"..a maioria são "adulteradas", para não empregar um adjectivo mais forte.
O diagnóstico do paludismo, na Guiné é apenas baseado em sintomas clínicos e como sabes os sintomas são comuns a muitas doenças..
Basta ter "corpo quente"..tem paludismo.
Sem querer desautorizar ou faltar ao respeito a ninguém,pela minha experiência,julgo que a saúde em geral na Guiné se tem vindo a deteriorar cada vez mais..e não é culpa dos Profissionais de saúde..mas da situação política..
Como sabes até cá..oxalá que me engane..mas qualquer dia estamos ao nível dos anos 50...para os pobres,claro.
Um alfa bravo
C.Martins
Obrigado ao C. Martins, médico de de clinica geral e famíliar, com formação pós-graduada em medicina tropical, ex-copperante na Guiné-Bissau, cujos problemas de saúde (e não só) conhecem de "cátedra" (isto é, com experiência, com autoridade)... Retenho o seguinte do que disseste (n~´ao queres mandar um artigo, para se publicar em psote ?):
(...) Paludismo ou malária é uma doença provocada por um protozoário denominado Plasmodium.
As espécies de plasmodium que infectam o ser humano são os P.falciparum,vivax,ovale e malariae.
O vector é o mosquito fêmea do género anopheles.
Obrigado, caro C. Martins!... Tu, além de médico e com formação pós-graduada em emdician tropical, és especialista em saúde públcia da Guiiné-Bissau! Conheces os problemas como ninguém, foste lá médico cooperante.
Realço e aplaudo o que disseste:
(...) " Paludismo ou malária é uma doença provocada por um protozoário denominado Plasmodium.
As espécies de plasmodium que infectam o ser humano são os P.falciparum,vivax,ovale e malariae.
"O vector é o mosquito fêmea do género anopheles.
"O ovale pode dar recidivas até 60 anos após se sair de uma zona endémica... Calma, não existe na Guiné.
"O falciparum (gajo perigoso)dito cerebral pode dar recidivas até 2 anos.
"Em Portugal o vector não é do mesmo género, por isso,é muito difícil ou impossível a contaminação." (...)
"Sigam o conselho do Luís Graça...antes de viajarem DEVEM IR A UMA CONSULTA DO VIAJANTE... Se soubessem as doenças que por lá existem até 'caíam de c...' Pois... pois estiveram lá, já me esquecia." (...)
Caros Camaradas
Nos anos pós Ultramar eu fui duas ou três vezes a um centro de tratamento e creio que tambem era de pesquisa de doenças tropicais e em especial doenças adequiridas pelos militares em África.Esse centro de rastreio e tratamento estava localizado na zona de Ermezinde/Rio Tinto no Porto.E pelo que se dizia era dos centros mais avançados em tratamentos e estudo de doenças Tropicais.O que é certo é que após duas visitas a esse centro deixei completamente de ter "Paludismo"ou sintômas do mesmo .Tambem não me lembro qual a medicação que aplicavam ,só me lembro que era uma injeção de cada vês.
Esses centro era do género que existia antigamente para a despistagem da Tuberculose.Cheguei a ouvir num programa da TV que inclusivamente o nosso País estava a exportar a sua experiência na matéria.Agora não sei se ainda há algo do género pois que tem sido tudo destruido(ou quase tudo)em materia de investigação sedo mais rentável comprar,comprar e comprar para se ficar a dever depois.
Henrique Cerqueira
Caro David,
Do paludismo nem cheiro,
"capei" mosquitas da zona,
já o mosquito era porreiro,
não me deu cabo da mona...
Malária ou paludismo,
foi maleita que não tive,
por ter um bom organismo
sempre o "plasmodium" contive...
À custa duns largos jarros
e pastilhas LM,
cerveja,whisky e cigarros,
paludismo não se teme...
milhões de vezes picado
nos "resorts" conhecidos,
avisei-os,por recado,
se me infectais estais perdidos...
No Cantanhez foi a sorte,
a livrar-me do descambo
que à mosquitada deu morte
herói, AB, nosso Rambo...
Como Caio, o "mata sete",
ganhara fama por lá,
mosquitos do jet7
não picavam nos de cá...
Assim graças ao acordo,
e a uns copos bem regados,
as picadas que recordo,
não trouxeram mais cuidados...
Por outro lado também,
proibida era a doença,
por lá médico "cá tem"
e só na guerra se pensa...
Maleita é mais na cidade,
com hospital logo à mão
mosquito é da urbanidade
que lhe dá mais atenção...
Sobre a doença hei dito,
acreditem que a verdade
a relação com mosquito
quase digo que é saudade...
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