Guiné > Regão de Tombali > c. agosto de 1968 > Sangonhá destruída. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. Esta foto tem Direitos de Autor. Foi tirada com uma CANON
Foto (e legenda): © Mário Gspar (2015). Todos os direitos reservados (Edição:: L.G.).
1. Mensagem, com data de 6 do corrente, do Mário Gaspar [ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]
Assunto - Abandono de Sangonhá e Cacoca
Camarada Carlos
Penso ser preferível indicares a data de 29JUL68, visto ser a data oficial da CCAÇ 1621.
Na História da CART 1659 pode-se ler somente:
“300 Indivíduos vindos de Sangonhá e Cacoca para Gadamael durante o mês de JUL68 onde construíram 44 moranças”. Não refere a data.
Não fica mal acrescentares as Histórias das Companhias 1620 e 1621 – paguei as cópias no AHM.
Julgo não ficar mal publicar-se este último texto e com a minha dúvida.
Tenho a certeza que no dia que abandonei a segurança foi o abandono de Sangonhá, Cacoca e a CART 1659 foi atacada.
Um abraço, Mário Vitorino Gaspar
Guiné > Mapa da província > Escala 1/500 mil (1961) > Detalhe: Posição relativa de Sangonha e Cacoca, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, a sudeste. Estes dois destacamentos e tabancas foram abandonados pela CCAÇ 1621 em 29/7/1968
Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)
2. O abandono de Sangonhá e Cacoca, pela CCAÇ 1621, foi em 29 de julho de 1968:
Caros camaradas
Para que o assunto fique esclarecido, em relação à extinção de Sangonhá e Cacoca, dou o meu parecer. A vista de avião da Região de Tombali - Sangonhá, deve ser de 1967/68.
Para que o assunto fique esclarecido, em relação à extinção de Sangonhá e Cacoca, dou o meu parecer. A vista de avião da Região de Tombali - Sangonhá, deve ser de 1967/68.
A CCAÇ 1620, comandada pelo cap mil inf Fernando António de Magalhães Oliveira foi rendida pela CCAÇ 1621, comandada por cap mil inf Eduardo de Oliveira e Silva e cap graduado art Artur Olímpio Sá Nunes, e foi esta Companhia, a CCAÇ 1621, a abandonar estes aquartelamentos, portanto em 29JUL1968, foi a retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele Subsector.
Em 26JUL68 numa coluna de reabastecimentos, efectuada por elementos da CART 1659 a Guileje, rebentou uma mina A/C e tivemos um ferido grave e 7 feridos ligeiros e perdemos uma GMC. Não estive na mesma, como é de calcular, montava a tal segurança.
Sucede que na História da Unidade da CCAÇ 1621 consta o abandono a 29JUL78 – é erro de certeza – e será 29JUL68.
Tenho dúvidas, julgo ter sido em 28JUL68, mas é para esquecer. Carlos, podes não publicar esta parte.
Estive a comandar segurança – não sei bem quantos dias – enquanto 300 civis vindos de Sangonhá e Cacoca transferiram os seus haveres para Gadamael Porto, onde construíram 44 moranças. Os restantes civis foram para Cacine e não sei se seguiram alguns para Cameconde.
Na tal data, a data de 29JUL68, quando passava por mim a última viatura de Sangonhá, perguntei ao condutor se era mesmo a última, e era. Esperei por ordens de Gadamael para abandonar a segurança. O Radiotelegrafista estava junto e aguardava por ordens. Como não as recebesse, chamei os amigos e camaradas Furriéis Milicianos e resolvemos – já que era eu que comandava o dispositivo de segurança – que regressássemos. Assim foi, mas desconfiado, resolvi dizer ao pessoal que ao chegarmos a Gadamael, e por brincadeira:
– Fazem um batimento com o pé esquerdo e corram!
Assim sucedeu, dei mais uns passos e o Radiotelegrafista acompanhou-me, tendo o Capitão, que não devia estar a ver bem me dissesse:
– Quem lhe deu ordens para abandonar a segurança? – Respondi:
– Fui eu, se era quem comandava!
– Vai chamar os homens e regressa à segurança!
Respondi que não o faria, tinha palavra e mandara os homens embora e para o banho e jantar. Então respondeu um Capitão que não era a mesma pessoa que conhecera, eu fui decerto o primeiro elemento da CART 1659 que ele, meu amigo, conheceu:
– Então vá sozinho!
Avancei e o Radiotelegrafista acompanhou-me, pedindo que regressasse, eu sempre em frente e o meu camarada não me deixou, perguntando o que faríamos se surgisse o PAIGC. Sem querer tinha ao meu lado um elemento de ligação com Gadamael. Aproximou-se uma viatura com uns homens comandados por um camarada e amigo Furriel Miliciano que transmitiu ter o Capitão dito para eu regressar a Gadamael. Recusei dizendo que só recebia ordens pelo rádio. No cruzamento com o destacamento de Ganturé, o Alferes Miliciano que comandava o Grupo de Combate do nosso destacamento em Ganturé, diz-me para regressar. Continuei a andar, acompanhado pelo Radiotelegrafista, mais os homens de Gadamael e Ganturé.
Então recebo ordens para ir para as origens e assim fiz. Ao chegar a Gadamael, estava o Capitão que nada disse. Fui beber as minhas sete cervejas de seis decilitros fresquinhas, tomei banho e sentei-me para jantar.
Somos atacados com fúria e desandaram. Será que não passámos por eles? Acredito que sim.
Estávamos quase no final da comissão. O amigo Capitão devia estar noutra.
Mário Vitorino Gaspar
Em 26JUL68 numa coluna de reabastecimentos, efectuada por elementos da CART 1659 a Guileje, rebentou uma mina A/C e tivemos um ferido grave e 7 feridos ligeiros e perdemos uma GMC. Não estive na mesma, como é de calcular, montava a tal segurança.
Sucede que na História da Unidade da CCAÇ 1621 consta o abandono a 29JUL78 – é erro de certeza – e será 29JUL68.
Tenho dúvidas, julgo ter sido em 28JUL68, mas é para esquecer. Carlos, podes não publicar esta parte.
Estive a comandar segurança – não sei bem quantos dias – enquanto 300 civis vindos de Sangonhá e Cacoca transferiram os seus haveres para Gadamael Porto, onde construíram 44 moranças. Os restantes civis foram para Cacine e não sei se seguiram alguns para Cameconde.
Na tal data, a data de 29JUL68, quando passava por mim a última viatura de Sangonhá, perguntei ao condutor se era mesmo a última, e era. Esperei por ordens de Gadamael para abandonar a segurança. O Radiotelegrafista estava junto e aguardava por ordens. Como não as recebesse, chamei os amigos e camaradas Furriéis Milicianos e resolvemos – já que era eu que comandava o dispositivo de segurança – que regressássemos. Assim foi, mas desconfiado, resolvi dizer ao pessoal que ao chegarmos a Gadamael, e por brincadeira:
– Fazem um batimento com o pé esquerdo e corram!
Assim sucedeu, dei mais uns passos e o Radiotelegrafista acompanhou-me, tendo o Capitão, que não devia estar a ver bem me dissesse:
– Quem lhe deu ordens para abandonar a segurança? – Respondi:
– Fui eu, se era quem comandava!
– Vai chamar os homens e regressa à segurança!
Respondi que não o faria, tinha palavra e mandara os homens embora e para o banho e jantar. Então respondeu um Capitão que não era a mesma pessoa que conhecera, eu fui decerto o primeiro elemento da CART 1659 que ele, meu amigo, conheceu:
– Então vá sozinho!
Avancei e o Radiotelegrafista acompanhou-me, pedindo que regressasse, eu sempre em frente e o meu camarada não me deixou, perguntando o que faríamos se surgisse o PAIGC. Sem querer tinha ao meu lado um elemento de ligação com Gadamael. Aproximou-se uma viatura com uns homens comandados por um camarada e amigo Furriel Miliciano que transmitiu ter o Capitão dito para eu regressar a Gadamael. Recusei dizendo que só recebia ordens pelo rádio. No cruzamento com o destacamento de Ganturé, o Alferes Miliciano que comandava o Grupo de Combate do nosso destacamento em Ganturé, diz-me para regressar. Continuei a andar, acompanhado pelo Radiotelegrafista, mais os homens de Gadamael e Ganturé.
Então recebo ordens para ir para as origens e assim fiz. Ao chegar a Gadamael, estava o Capitão que nada disse. Fui beber as minhas sete cervejas de seis decilitros fresquinhas, tomei banho e sentei-me para jantar.
Somos atacados com fúria e desandaram. Será que não passámos por eles? Acredito que sim.
Estávamos quase no final da comissão. O amigo Capitão devia estar noutra.
Mário Vitorino Gaspar
Furriel Miliciano, Atirador e Artilharia e MA
Gadamael Porto
CART 1659 – JAN67 a OUT68
PS - Voltei a comandar militares da CART 1659, pouco tempo depois da retirada, após escutarmos em Gadamael Porto, fortes e prolongados rebentamentos em Sangonhá: ainda hoje os tenho na memória, fomos a Sangonhá. O que vimos: restavam restos de paredes, um cão e também um gato. O cão por lá ficou, o gato depois de beber leite condensado com água, morreu em Gadamael. Aqui está a prova do que restou de Sangonhá. [Vd. foto acima].
Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > 1968 > Picada de Sangonhá para Cacine.
A CCAÇ 1621, que esteve antes em Cufar e Cachil, terminou a sua comissão em Sangonhá[, em 29 de julho de 1968, data do abandono do aquartelamento e tabanca. Seis meses depois, os guerrilheiros do PAIGC foram, massacrados pela FAP, em 6 de janeiro de 1969, quando atacavam Ganturé, apartir da antiga pista de Sangonhá. Terá havido 36 mortos, e muitos feridos.
Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > 1968 > Mulheres de Sangonhá, ao tempo da CCAÇ 1621.
Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (2).
Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (3): ao centro, o ex-fur mil Correia Pinto.
Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ 1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) foram abandonados pelas NT em emados de 1968.
Estas fotos foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira, entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto. Foram-nos enviadas em julho de 2006, na sequência do convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de julho de 2006.
O Hugo Moura Ferreira esteve na Guiné de novembro de 1966 a novembro de 1968, como alf mil inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de novembro de 1966 a junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de julho de 1967 a julho de 1968). O Hugo já não acompanhou a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de julho de 2006 (***)..
Fotos (e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
Guiné > Região de Tombali > Sangonhá > CCAÇ 1621 (1966/68) > Coluna de Sangonhá para Cacine (3): ao centro, o ex-fur mil Correia Pinto.
Depois de estar em Cufar e Cachil, a CCAÇ 1621 foi terminar a comissão em Sangonhá, que ficava a sul de Gadamael-Porto. O aquartelamento (e a tabanca) foram abandonados pelas NT em emados de 1968.
Estas fotos foram cedidas por antigos camaradas de armas ao Hugo Moura Ferreira, entre eles o ex-Fur Mil Correia Pinto. Foram-nos enviadas em julho de 2006, na sequência do convívio anual do pessoal da CCAÇ 1621, em 2 de julho de 2006.
O Hugo Moura Ferreira esteve na Guiné de novembro de 1966 a novembro de 1968, como alf mil inf, primeiro na CCAÇ 1621, em Cufar e Cachil (de novembro de 1966 a junho de 1967), e depois na CCAÇ 6, em Bedanda (de julho de 1967 a julho de 1968). O Hugo já não acompanhou a companhia, com destino a Sangonhá, por ter sido transferido para Bedanda (CCAÇ 6 - antiga 4ª Companhia de Caçadores) . A grande maioria do pessoal desta unidade era do Minho e Trás-os-Montes. O Hugo esteve pela primeira vez com eles, no convívio de 2 de julho de 2006 (***)..
Fotos (e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
3. Fichas de unidade: As páginas 360 e 361 da Resenha Histórico Militar da Guiné das Companhias:
Companhia de Caçadores N.º 1620
Identificação CCAÇ 1620
Unidade Mobilizadora: RI 1 – Amadora
Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Fernando António de Magalhães Oliveira Divisa: -
Partida: Embarque em l2NOV66; desembarque em 18NOV66
Regresso: Embarque em 16AGO68
Síntese da Actividade Operacional
Em 18NOV66, substituiu a CCAÇ 762 nas suas funções de segurança e protecção das instalações e das populações da área de Bissau, na dependência do BCAÇ 1876, efectuando, simultaneamente, uma instrução de adaptação operacional na região de Nhacra, de 25NOV66 a Dez66.
Em 05JAN67, rendendo, por troca, a CCAÇ 799, assumiu a responsabilidade do subsector de Cameconde, com um pelotão destacado em Cacine, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1861 e depois do BART 1896.
Em 01AGO67, por rotação com a CART 1692, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um pelotão destacado em Cacoca, mantendo-se no mesmo sector do BART 1896.
Em 20MAR68, por troca com a CCAÇ 1621, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, ficando então integrada no dispositivo e manobra do BART 1913, tendo entretanto, cedido um Grupo de Combate para reforço de forças daquele batalhão em operações, de 22MAR68 a 27ABR68.
Em 1JUL68, por retirada das forças aquarteladas em Cachil e consequente extinção do subsector, recolheu a Bolama, onde permaneceu até ao embarque de regresso.
Observações: Tem História da Unidade (Caixa n.º70 2.ª Div./4.ª Sec. Do AHM)
Companhia de Caçadores N.º 1621
Identificação: CCAÇ 1621
Unidade Mobilizadora: RI 2 – Abrantes
Comandante: Capitão Miliciano de Infantaria Eduardo de Oliveira e Silva e Capitão Graduado Artur Olímpio de Sá Nunes
Divisa:
Partida: Embarque em 12NOV66; Desembarque em 17NOV66
Regresso: Embarque em 18AGO68.
Síntese da Actividade Operacional
Em 19NOV66, foi colocada em Cufar, a fim de efectuar a instrução de adaptação operacional com a CCAV 1484. Seguidamente assumiu, em 27NOV66, a responsabilidade do referido subsector de Cufar, em substituição daquela subunidade, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 1858 e depois do BART 1913.
Em 09JUL67, por rotação com a CART 1687, assumiu a responsabilidade do subsector de Cachil, no mesmo sector.
Em 20MAR68, por rotação com a CCAÇ 1620, assumiu a responsabilidade do subsector de Sangonhá, com um Pelotão destacado em Cacoca, passando a integrar o dispositivo e manobra do BART 1896 e depois do BCAÇ 2834.
Em 29JUL68 (a) por retirada das forças estacionadas em Sangonhá e Cacoca e consequente extinção daquele subsector recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso
Observações: Tem História da Unidade (caixa n.º 74 – 2,ª Div/4.ª Sec do AHM)
(a) – Consta, por lapso, "1978", na História da Unidade.
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 29 de setembro de 2015> Guiné 63/74 - P15176: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (14): Uma "visita de solidariedade" à Escola Piloto do PAIGC, em Conacri, dos "amigos suecos" Göran Palm e Beril Malmström, em novembro de 1969... Aparentemente não há qualquer relação com o episódio de Sangonhá, em 6/1/1969
(**) Último poste da série > 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15200: (Ex)citações (295): Fui advogado e amigo de Luís Cabral, e até agora não encontrei uma explicação racional para o assassinato (gratuito) dos 4 oficiais portugueses no chão manjaco nem para o fuzilamento, no pós-independência, de muitos ex-militares guineenses que serviram lealmente as NT (António Martins Moreira, ex-alf mil inf, CART 1690, Geba, 1967/69)
(***) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1621 (1968)
(***) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2579: Álbum Fotográfico do Hugo Moura Ferreira (3): Em Sangonhá, a sul de Gadamael, com a CCAÇ 1621 (1968)
1 comentário:
Em 26JUL68 numa coluna de reabastecimentos, efectuada por elementos da CART 1659 a Guileje, rebentou uma mina A/C e tivemos um ferido grave e 7 feridos ligeiros e perdemos uma GMC. Descobri a foto da GMC.
Não estive na mesma, como é de calcular, montava a tal segurança.
Mário Vitorino Gaspar
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