terça-feira, 19 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16317: Controvérsias (132A): Quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto... A morte do comandante Mamadu Cassamá,e as viaturas blindadas, em Copá, em 7/1/1974 (confrontando duas versões, a do guineense Bobo Keita, "o comandante dos tanques anfíbios" e a do escritor cubano Ramón Pérez Cabrera)

1.  Depoimento de Bobo Keita, comandante do PAIGC (1939-2009) sobre a morte de Mamadú Cassamá(*), em Copá, em 7/1/1974:


"Mamadú Cassamá morreu no ataque a Copá. Tomei parte nesse ataque, juntamente com o camarada Paulo Correia. O Mamadú era dos que ainda acreditavm na 'força' dos amuletos... Avançou muito e foi até aos arames  que circundavam o quartel,  Pegou nos arames e fez força para os arrancar. Foi localizado e um tiro cverteiro silecncoiu-o de vez. O Mamadú Cassamá era o camdante daqule zona".

In: Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes. p. 244.


Bobo Keita, já antes, noutra passagem se tinha referido a Copá e à utilização de viaturas blindadas;(p. 193):

"Para o assalto a Copá, que fica a uns trinta quilómetros da cidade senegaleas de Wassadou,  peguei em dois dos meus tanques (sic), constitui um comando e fomos à emboscada.  A operação em Copá contou com Quemo Mané, comandante de infantaria. Copá também não foi fácil para os tugas, Alinhámos um número razoável de combatentes, menor que Guileje e Guidaje, e o objetivo era o de isolar os colonialistas. A tomada do quartel não nos interessava, queríamos somente convencê-los  de que não tinham mais nenhuma escapatória e que deviam partir da nossa terra".

Infelizmente, Norberto Tavares de Carvalho, nas longas conversas com Bobo Keita, não explorou devidamente o fato de este ter sido nomeado, ainda em vida de Amílcar Cabral, " comandante dos tanques anfíbios" (sic) ou   "chefe dos blindados",  em substituição do Inocêncio Cani (1938-1973), antigo comandante da marinha do PAIGC, que iria ser o carrasco do  líder do PAIGC, em 20/1/1973 (vd. pp. 165 e ss.)...

No início do cap. XII, pode ler-se (p. 177): "Depois do funeral do Amílcar, realizado no dia 1 de fevereiro de 1973 em Conacri, fui tomar conta dos tanques anfíbios (sic)", tendo seguido depois  "de Boké para o Leste em março de 1973".

Em conclusão: o PAIGC já tinha viaturas blindadas anfíbias e vai usá-las contra Copá, em janeiro de 1974, de acordo com o testemunho (insuspeito) do nosso camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá (*). 

Mas fica a dúvida por esclarecer:  o PAIGC  tinha duas ou mais "viaturas blindadas" de tipo anfíbio  ? Eram mesmo do PAIGC ? Ou eram emprestadas pelo Sékou Touré ? Seriam do tipo  BRDM-2 ? Se sim, por que é que o Bobo Keita não se faz transportar nelas,  na "viagem triunfal" até Bissau,  em setembro de 1974 ?

2.Excerto de: Ramón Pérez Cabrera - "La historia cubana en África: 1963-1991: pilares del socialismo en Cuba" (edição de 2005), p. 1979


[Com a devida vénia...Sublinhados nossos] [Extensas partes do livro podem ser consultadas, em modo de pré-visualização, no portal da Kilibro]


3. Aristides Ramón Pérez Cabrera (n. 1939) não é nem jornalista nem historiador, e muito menos um investigador independente.  É um "homem de partido", é um homem do regime castrista, que chegou ao comité central do Partido Comunista, pelo que se não pode esperar do seu livro "La historia cubana en África", publicado em 2003, uma obra isenta, objetiva, imparcial, crítica, etc. Tal como muita da tralha "chauvinista", "trauliteira e patrioteira" que todos  nós escrevemos e continuamos a escrever sobre o glorioso passado dos nossos países europeus (nós, os portugueses, os espanhóis, os franceses, os ingleses, os alemães, os italianos, os suecos, os russos, etc.).

Muito menos foi, tanto quanto sei, o nosso Cabrera,  um combatente "internacionalista" que tenha arriscado o coirão nas bolanhas da Guiné ou nas savanas do sul de Angola... Os elementos que juntou para escrever "La historia cubana en África" e as informações que publicou, devem ser tomadas com as naturais reservas... É um trabalho de pesquisa bibliográfica e de recolha de testemunhos, que tem alguém interesse documental.  

Não tendo formação (científica) em história, é natural que corra o risco de descambar para o panegírico, a propaganda, a tirada patrioteira, sem grande preocupação com o rigor factual e o respeito pela verdade, o contraditório, a triangulação, a exploração  de outras fontes documentais, etc.

É o caso, por exemplo,   do nome do comandante das forças que atacaram Copá em janeiro de 1974... O homem que morreu em 7/1/1974 não era Mamadou Cassamba (sic), mas sim Mamadu Camassá... E não terá morrido a tripular uma das "quatro" (sic)  viaturas  blindadas BTR (ou BRMD) que o PAIGC não devia ter na altura, mas sim de um tiro certeiro, talvez no coração ou noutro órgão vital... disparado pelo nosso António Rdorigues ou algum outro dos bravos de Copá.

O Ramón Pérez Cabrera estava a milhares de quilómetros de distância, provavelmente em Havana, não viu o horror e o heroísmo desses dias em Copá, nem cita fonte idónea... Inclino-me mais facilmente para aceitar, como versosímil,  a versão do  Bobo Keita, que afirma ter estado em Copá nessa noite, tal como o comandante da Frente Leste, o Paulo Correia, valente guerrilheiro balanta, com várias  e importantes funções políticas a seguir à independência, que irá morrer muito mais tarde, em 1986, fuzilado, depois de barbaramente torturado  pelos esbirros do 'Nino' Vieira, na sequência de uma inventona....

Enfim, tudo indica que o  Cabrera, ingénua ou deliberadamente,  terá inventado um versão "heróica" para a morte (estúpida) de um comandante de guerrilha que nem sequer devia ter "carta de condução" de BTR (ou BRDM)... 

Aliás, o Bobo Keita, velha glória do futebol no tempo dos "tugas", não parece ter grande consideração pelo seu camarada Mamadu Cassamá: dele diz, com ironia, que  "era dos que ainda acreditavam na 'força' dos amuletos", a exemplo do próprio 'Nino' Vieira (leia-se, dos "mésinhos" que tornavam o "corpinho de bó" impenetrável às balas do "tuga")...

Moral da história: quem conta um conto, acrescenta-lhe sempre um ponto...  LG

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Vd. poste anterior:

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O BRDM ou BTR era um simples veículo de "reconhecimento" (tal como as nossas Daimlers), que na melhor das hipóteses podia operar no tempo seco, junto à fronteira... O ataque a Copá é em janeiro, em pleno tempo seco...

O PAIGC podia ter (e tinha alguns exemplares) do BRDM-1... A sua função era mais psicológica do que efetiva, do ponto de vista operacional... Chamar-lhe "tanque" (apesar da tonelagem: 5 toneladas de meia, no caso da versão 1 do BRDM) é um insulto à cavalaria...

O Inocênciop Cani, de etnia manjaca, nascido em Bubaque, com 2 anos de treino na URSS antes de ir comandar pomposamemte a "marinha do PAIGC", foi destituído de todos os seus cargos, em 1971, por corrupção... Mas o Amílcar Cabral cometeu o o erro (fatal) de lhe ter dad uma segunda "chance": ficou ainda assim a comandar os "tanques"... Devia ser mesmo um cargo menor... Passou em 1973 para o Bobo Keita, que também não os valoriza...

Manuel Luís Lomba disse...

A informação que o PAIGC dispunha de de 2 blindados, creio que de origem checo-eslovaca, com a circulação condicionada a uma faixa fronteiriça da Rep. Guiné (cerca de 30 km de profundidade), e que, apesar do apoio aberto, a partir de 1972, o Senegal nunca nunca lhes permitiu a circulação neste país, colhi-a há muitos anos de fonte oral, mas segura. Sekou Touré não só condicionara a sua circulação mas também a circulação do seu armamento pesado, impondo uma escolta do porto de desembarque até às bases fronteiriças e Shengor impunha uma escolta às suas manobras de ataque às nossas posições fronteiriças - manobras que nunca interessaram aos "patrões" da nossa guerra...
O camarada António Martins Matos foi assertivo: A intensidade dos ataques a Canquelifá, Pirada, Copá, etc foi possível porque o Comando-chefe não a quis "resolver" à maneira de Cumban-Hory e de Kandiafara...
A base de Koundara, a base-mãe do PAICG, distava menos de 30 km de Buruntuma e,no meu tempo, por impedimento de circulação pelo Senegal, constituía a base logística de ataque a Canquelifá e vizinhas. Para se lançar sobre elas a malta do PAIGC passava nas nossas barbas e atravessava calmamente o pequeno rio Piai - porque nunca nos deixaram fazer-lhe a devida "espera, na banda de lá...
Boas férias!
Manuel Luís Lomba
Koundara

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Tenho acompanhado as discussoes a volta dos temas da existencia ou nao dos famosos MIG's e agora dos "Blindados, Tanques ou BRDM...).

Eu que, na altura, era um simples Rafeiro do quartel, tenho dificuldades em compreender o interesse vital dos antigos combatentes em saber se era, realmente, verdade ou nao a existencia de tais maquinas de Guerra, porque o PAIGC, matreira como sempre, a seu tempo, conseguiu convencer toda a gente, o que, do seu ponto de vista, era o mais importante, pois a Guerra eh antes de mais psicologica antes de ser fisica e os objectivos foram atingidos de forma muito eficaz e eh isso que importa reter hoje quando se faz a analise do que foi a Guerra colonial e da forma como foi feita dum e d'outro lado.

Um abraco amigo,

Cherno AB

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Luis, obrigado pela tua informação.

Estamos todos verdadeiramente enpenhados em carrear "materiais" informativos para a reconstrução da memória do nosso "puzzle"... A interpretação, a leitura do "painel final" da história fica por conta de cada um...

Cada um de nós põe os seus óculos para ler o "mural" da história e tirar as devidas conclusões, ilações, recomendações... Já não nos vão ser muito úteis, individualmente falando, a não ser pensando na outra ou nas outras "encarnações"...Segundo a lei das probabilidades, não voltaremos a ser tugas...nem voltaremos à Guiné... na próximas ou nas próximas encarnações...

De qualquer modo, é um exercício intelectual que até nos faz bem, para prevenir o Alzheimer... Eu vejo-o como um jogo, pelo que não faz sentido qulquer polémica no nosso blogue, entre canmaradas,,,

As mim, pessoalmete, não me interessa saber quem ganhou ou perdeu a guerra.. Esse assunto está resolvido na minha cabeça, desde que pus os pés na Guiné, saído do T/T Niassam creio que em 30 de maio de 1969, quando desmebraquei em Bissau... Em todas as guerras, todos perdemos... Mas já que perdi 3 anos da minha vida ao serviço do exército da minha pátria, sempre me achei no direito de percebewr o que se passou, comigo, com os meus camaradas, com as populações que estavama do nosso lado e que confiavam em nós (e, nomeadamente, os nossos amigos fulas), mas também daqules qyue nos combatiam e as populações que eles controlavam...

Daí ser importante que todos partilhemos informação uns com os outros e citemos as nossas fontes... Não estamos em competição uns com os outros, queremos apenas esclarecer "coisas" que estão mal documentadas ou esclarecidas... Por exemplo, essa dos blindados do PAIGC... Os "tanques" do "nosso" Bibo keita (um rapaz que até gostava de fazer bluff...) não passavam de dois pedaços de lata... Com uma valente e certeira bazucada transformavam,-se em pira funerária... Tal como as nossas Daimlers, Panhards, Whites, Chaimites...

Tudo isto sme desprimor para os nossos valentes camaradas da cavalaria... Todas as vezes que levei porrada, no mato, a única chapa blindada que me protegeu foi a pele colado ao "corpinho de bó"...Para além da sorte, que é um conceito estatístico, e não tem metafísica nenhuma...

Boas férias, mas não desertes....LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, tens toda a razão... Às vezes parece que fazemos aqui o papel de idiotas discutindo o "sexo dos anjos"... Os MiG, os Strela, os "jactos do Povo" (o Graad ou "órgãos de Estaline), os morteiros 120, os "tanques" (!), toda essa tralha bélica que o PAIGC recebia no porto de Conacri, vindo dos países de leste - em troca de quê ? - hoje deviam apenas fazer-nos sorrir...

Não é bem assim, afinal essas armas mataram portugueses e guineenses, e seguramente não trouxeram a paz, o pão, a liberdade, a justiça, etc. com que os guineenses sonhavam, legitimamente, de um lado e do outro...

A guerra foi uma tragédia imensa, mas não há volta a dar... Não tivemos líderes à altura da História... Em história não há o "e se...?". Matreiro, o PAIGC ? Faz parte da estratégia de guerrilha, aprendida na academia militar de Nanquim, na China e noutras escolinhas, de leste a oeste... Dirigentes e guerrilheiros do PAIGC foram mestres da simulação, a começar pelo Amílcar Cabral que tinha tantas qualidades humanas como defeitos... Como o nosso Spínola, ou o nosso João Bacar Dajó...

Aliás, como qualquer ser humano... A guerra faz vir ao de cima o melhor e o pior dos seres humanos: 'Nino' Vieira é outro exemplo... Mas também podíamos citar, do nosso nosso lado, camaradas metropolitanos e guineenses..., dos paraquedistas aos comandos africanos, a nossa elite guerreira...

Não santifiquemos nem diabolizemos ninguém... A guerra, todas as guerras, não se ganham só pelas armas... É preciso ser "matreiro", como tu vens dizer, e o PAIGC do Amílcar Cabral, soube ser matreiro, teve uma boa escola e um bom mestre...

Este Bobo Keita, que foi um carrasco dos fulas no leste, nos últimos meses da guerra, mas que não poupa críticas ao 'Nino' Vieira, também um é gajo matreiro e gostava de fazer "bluff"... Ele sabe que está a escrever para a História quando diz ao Norberto Tavares de Carvalho, "o Cote" (, alcunha que lhe deu a PIDE/DGS de Bissau...), o seguinte: "para o assalto a Copá, (...) peguei em dois dos meus tanques (!)", e zás, montei a emboscada aos tugas... Como se o obsoleto BTR (BRDM-1), um bocado de lata, fosse um "tanque de guerra", e ele comandasse um esquadrão de cavalaria...

Agora repara: este Bobo Keita que chegou a ser uma glória da seleção de futebol da Guiné, antes da guerra... Imagina que tinha nascido depois da independência... E hoje poderia ser um "herói nacional" tal como o Éder... Um herói nacional de dois países, a Guiné-Bissau e Portugal... Tudo isto se... Mas o se... não conta para a História...

De resto, quem são os jovens da Guiné que sabem hoje quem foi o Bobo Keita ? Mesmo assim confiou as suas memórias ao "Cote" que as publicou em livro... Só por isso merece o nosso apreço!... Ninguém faz a guerra sozinho, faz a guerra com outros, através dos outros e contra outros... E quando evoca as suas memórias, tem que falar em voz alta para todos os outros, amigos e inimigos...

É por isso, meu caro Cherno, que a gente fasta um bom bocado do nosso tempo a falar do "sexo dos anjos", quando há coisas bem mais graves e ameaçadores a acontecer todos s dias, à nossa volta, nesta "Tabanca Grande" que é o nosso pequeno mundo...

Um alfabravo fraterno. Luis

alma disse...

Em Missirá também se ouviam quase todos os dias os famosos tanques inimigos..Apesar de muito instado,resisti sempre a mandar umas morteiradas. No fim da comissão,fui sem o Pelotão, com os Paras, à base de Madina/ Belel e quando regressei, todos me perguntavam se tinha visto os tais tanques.Ficaram desiludidos...Vira apenas duas bicicletas e garanti que não eram blindadas.. Abraço.J.Cabral

JD disse...

«O NPAIGC, matreiro como sempre, a seu tempo, conseguiu convencer toda a gente, o que, do seu ponto de vista, era o mais importante, pois a guerra é antes de mais psicológica antes de ser física en os objectivos foram atingidos de forma muito eficaz», Do comentário do Cherno.
O Cherno foi um menino que frequentou um aquartelamento, onde criou empatias com a tropa portuguesa, simultâneamente brincalhona, perversa, e portadora de valores universais, que certamente desenvolveram o interesse, a observação e a admiração do menino. O Cherno, foi um dos elementos das antigas provincias ultramarinas a manifestar efusivamente o seu gosto por Portugal. Tive esse grato privilégio através de um inesperado telefonema.
Mas o Cherno decidiu ficar na sua terra, e patrocinado pela nova república fez a sua formação escolar e profissional. É indiscutível o seu amor à Guiné, e à valorização dos seus laços familiares. Mas também tem dado provas de rara verticalidade pela justeza dos seus pontos de vista, já aqui amplamente divulgados.
Por isso ganha especial realce aquela parte do seu comentário, quando se refere aos "bluff's" do PAIGC durante o período da guerra contra Portugal. E essa estratégia de fazer crer, é indissociável da guerrilha, sobretudo quando actua em terrenos sociais adversos, tendo em conta o apoio maioritário da população aos portugueses que lhes conferiam unidade. Prova disso, foi o revanchismo do PAIGC logo que lhe ofereceram o poder.
Sendo assim, imagino que estamos em presença de nova contrariedade para os elementos do MFA que recorreram à tese da «guerra perdida». Esses elementos é que não reuniam capacidades humanas para compreenderem e ajudarem à resolução da guerra, que podiam ter fito um abaixo-assinado para que o Governo estabelecesse os necessários contactos. Afinal, do que se tratava, era de uma questão de presença na rivalidade africana da «guerra-fria», presença que os factos vieram demonstrar, a breve prazo desprezaram os apoios marxistas, leninistas e maoístas, e enveredaram pelo modelo de vida ocidental.
Aqueles militares renunciaram e traíram o seu juramento para defenderem a Pátria. O mínimo que se lhes pode pedir, é o recato.
JD

Anónimo disse...

Eu penso que o barulho que a malta ouvia eram os famosos T-34
CB

Manuel Luís Lomba disse...

Camaradas e Amigos Cherno e Luís:
Como a guerra é um meio de realizar política e a política é um meio de realizar guerras, a da Guiné, terá sido desnecessária e, mais que tudo, o seu decreto foi uma injustiça ao seu Povo.
Os povos podem promover e assimilar todas as transformações sociais, sem se matarem uns aos outros?
Podem! Há excepções a confirmar a regra. Haja em vista a "guerra" do bem-aventurado Nelson Mandela...
Quem perdeu a guerra do Ultramar? Os seus POVOS, obviamente.
Elas só podiam ter uma solução política? E tiveram-na - partidária. Impôs-se-lhes a ideologia de apenas se atender a quem dava tiros e a quem os apoiava, armava e municiava...
Foi assim: o PAIGC, o MPLA e a FRELIMO "ganharam" a guerra aos militares-políticos portugueses, mas PERDERAM A PAZ DOS SEUS POVOS.
É para não pactuar com mitos nem com a história escrita por "outros" que de vez em quando nos entretemos com os blindados, os MIGs, a superioridade do armamento e até militar do PAIGC.
Abraço
Manuel Luís Lomba.


Cherno AB disse...

Caros amigos JDinis e MLLomba,

Aproveito esta abertura para apresentar um exemplo tipico de acontecimentos que foram reais, mas que, na altura devida, nao mereceu a atencao devida dos portugueses e foi assim:

Em meados de 1964/5, salvo erro, como nos contaram, os elementos da guerrilha que actuavam na zona Norte (eixo Cuntima-Sitato-Cambaju) confrontados com a forte Resistencia do regulado de Sancorla apoiado por um pelotao de metropolitanos de uma companhia sediada em Bafata (penso que a companhia do Alcidio Marinho-CCAC 412/3?), contactaram os grandes de Cambaju e solicitaram um encontro para conversacoes "entre irmaos", longe dos olhares dos brancos, na realidade era uma cilada.

No dia combinado, os grandes de Sancorla desconfiados, no lugar dos homens grandes e dos regulos, resolveram enviar os filhos mais velhos para negociar, divididos em dois grupos. O primeiro grupo ia preparado para as conversacoes, mas na retaguarda ia um segundo grupo discretamente armado para o que desse e viesse.

Antes de chegar ao local combinado o primeiro grupo caiu numa emboscada dos homens do mato que sem pre-aviso abriram fogo, matando duas pessoas e ferindo outras. Nao fosse a pronta intervencao dos homens da retaguarda, provavelmente, seriam todos chacinados.

Todavia, os portugueses nao tiraram as devidas ilacoes deste acontecimento macabro, na primeira fase da guerra talvez porque os mortos eram civis armados e nativos guineenses ou por outras razoes que nunca saberemos e nao se tomaram as medidas que se impunham para que nao viesse a repetir-se.

E, pasmem-se, esta mesma estrategia seria utilizada alguns anos mais tarde (1970) no chao manjaco, no que ficou conhecido como a tragedia dos 3 Majores, talvez o crime que mais abalou os portugueses e a sua cupula dirigente na Guerra da Guine e a retaliacao nao se faria esperar com a invasao de Conakri, em Novembro do mesmo ano.

Para terminar, acho que, muitas vezes houve tendencia de menosprezar o PAIGC e as suas forcas, antes e depois da Guerra, quando, na minha opiniao, devia de ser tudo ao contrario.

Um abraco amigo,

Cherno AB