quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16489: Memória dos lugares (345): O destacamento e a jangada de João Landim, no Rio Mansoa (José Nascimento / Francisco Gamelas / Leonel Olhero / Alcídio Marinho)



 Guiné > Região de Cacheu > Junho de 1973 > Margem direita do rio Mansoa... Travessia  de João Landim, que se fazia em janganda. . Primeiro entravam as viaturas, depois as pessoas. Bissau ficava a cerca de quinze/vinte  quilómetros. Foto nº 51C, do álbum de Francisco Gamelas.

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > 1965/66 > A famosa jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005). Todos os direitos reservados



1. Comentários ao poste P16486 (*):

José Nascimento [ex-Fur Mil Art da CART 2520, 
Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71); vive no Algarve]


João Landim era constituído por um barracão em madeira e que era gerido em conjunto pela Marinha, que uma jangada, e pela Engenharia, que tinha outra jangada. A outra parte era um barracão em alvenaria, se a memória não me falha, era dividido em duas partes.

As condições não eram as melhores, havia uma latrina feita em madeira construída sobre o lodaçal da margem do rio Mansoa. Havia uns bidões com um chuveiro onde podíamos tomar banho, muitas vezes tínhamos que esperar que nos touxessem água de Safim e era de lá que esperávamos que viessem as nossas refeições e que quase sempre chegavam tarde e a más horas.

Felizmente havia um gerador que fornecia energia eléctrica, mas estavam tão perto de nós que ainda hoje parece que ouço o roncar do seu trabalhar. A guarnição era constituída por uma secção e quando o alferes Marques, ainda em Safim,  me disse, "vais para lá tu,  Nascimento", só aceitei ir com voluntários. A maioria do pelotão ficou em Safim.

Com algum receio dos jacarés ainda dei uns mergulhos no rio Mansoa e também vivi alguns episódios curiosos. João Landim ficava na margem direita do rio e mal de nós se nos quisessem fazer algum mal, penso que não havia interesse por parte do PAIGC, porque João Landim era um ponto de transição entre a zona de guerra e a dita ilha de Bissau e os guerrilheiros podiam perfeitamente passar entre a população. Quem é que sabia? Quando tiver oportunidade coloco umas fotos.

PS - Caros editores: quero corrigir que João Landim ficava na margem esquerda do rio Mansoa e não na margem direita, a sua água era salgada e sofria a influência das marés (cheia/vazia) e por vezes chegava quase ás paredes do nosso barracão. Nunca me senti muito seguro neste destacamento com pouco mais do 6 gatos pingados, sendo que durante a noite estava sempre um elemento de sentinela e como é evidente o meu sistema de alarme estava sempre em alerta.



Carta da província da Guiné  (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa do destacamento de João Landim, cujas instalações ficavam na margem esquerda do rio Mansoa, do aldo de Safim, ou seja, na ilha de Bissau, e não na margem direita, do lado de Bula. A distãncia, em linha reta, até Bissau deveria seria de 20 km.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


Francisco Gamelas [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089
 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73): vive em Aveiro]


Sobre João Landim, tanto quanto recordo, não existiria no local qualquer destacamento. Era a malta de Bula que fazia a protecção, sempre que a jangada era utilizada. Creio mesmo que era malta de Bula que operava a jangada. Isto do lado Norte. Do lado de Bissau nunca me recordo ali existir qualquer tipo de protecção, nem recordo ter ali existido qualquer conflito com a população. As viaturas circulavam livremente. Ataques do PAIGC à jangada, no meu tempo, nunca ouvi falar.

Leonel Olhero [, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec 3432 (Panhard),
Bula, 1971/73]


A protecção às jangadas em João Landim era feita pela malta do Esquadrão de Bula.

As jangadas eram operadas pela Marinha que estava aquartelada do lado de lá, na outra margem, num destacamento de barracas feito de latas. Todavia, ao fim da minha comissão 1973 (embarquei em 4/10/73),  João Landim já tinha instalações condígnas feitas em cimento e "até" bonitas.

Fui furriel das Panhards e fiz escoltas a João Landim, três vezes ao dia e sem conta. Nunca aquelas colunas foram atacadas.









Guiné > Rio Mansoa > João Landim >  c. 1972/74 > A "jangada militar"


Fotos (e legendas): © Leonel Olhero  (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Alcídio Marinho [ex-fur mil inf, CCAÇ 412 
(Bafatá, 1963/65): vive no Porto]


Quando chegou o mês de abril de 1965, o meu pelotão (3º) estava destacado, desde março, ma povoação de Geba, fomos avisados que iriamos ser rendidos pela CCAÇ  557 (, do José Botelho Colaço).

Chegou o fim do dito mês de abril e rumamos a Bissau, ficando a pertencer ao BCAÇ 600.
Em Bissau fazíamos patrulhamentos nocturnos e destacamentos semanais em João Landim, a nível de secção reforçada, cerca de vinte homens.

Então, colocou-se o problema, qual dos sargentos vai comandar o destacamento? Ofereci-me, para ir.
Levei o pessoal da minha secção e mais uns voluntários, incluindo um cozinheiro.
Na aquela altura, as instalações eram apenas um barraco e cada um desenrascava-se. Levamos géneros e viveres para uma semana, quando era preciso, éramos reabastecidos

No fim da primeira semana, do pessoal os que quiseram regressar a Bissau, foram substituídos por outros voluntários. Ali não havia o problema do serviço como havia em Bissau, cada um andava de calções e á vontade.

Estive duas semanas seguidas no principio de maio. Mais tarde na última semana na Guiné, voltei e dali partimos na antevéspera do embarque (Uíge), para Lisboa (27/5/1965).

Foram umas férias bem merecidas.

A jangada era em madeira, tinha um cabo que atravessava o rio, e que passava numas roldanas que com umas manivelas fazia a travessia do rio.

A população civil era controlada à entrada de um lado e do outro.

As unidades militares eram apenas controladas pelas ordens de serviço e também era controlado o peso e o número das viaturas para não sobrecarregar a jangada.

O pessoal que manobrava a jangada eram nativos comandados por um cabo, creio que era papel (raça).
Durante o dia, quatro militares estavam no controle em terra, de cada lado do rio. Na jangada circulavam dois e às vezes três. A outra malta estava estacionada do lado de Bissau.


Guiné-Bissau > Ponte Amílcar Cabral,  mais conhecida  por  ponte João Landim. Com 785 metros de comprimento, inaugurada em 2003, tendo sido totalmente financiada pela União Europeia e construída por um consórcio espanhol  [Foto à esquerda com a devida vénia, fonte: Acciona-Engineering]


Por vezes éramos visitados por colunas da Companhia e às vezes até aparecia o Comandante da Companhia, o Sr. Tenente Azevedo

Um dia, deixaram passar um individuo com uma malinha. Ele já estava na jangada e eu mandei que saísse para revistar a mala. Dentro tinha ligaduras e outro material médico. Mandei um rádio para Bissau e vieram buscá-lo, já não passou dali.

Foram umas semanas bem passadas. Quando queríamos peixe, lá vai uma granada ofensiva para o rio 
e recolhíamos o peixe, que distribuíamos pelos nativos que apareciam por ali.

Assim conheci João Landim, não estava sujeito aos salamaleques da tropa macaca de Bissau.



Guiné-Bissau > Rio Mansoa, Ponte Amílcar Cabral > Abril de 2005 > Belíssima foto do português Carlos Galveias [Reproduzida, com a devida vénia, do seu blogue República da Guiné-Bissau > 28 de abril de 2005 > Guiné-Bissau Topur 2005 - Actualização].

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7 comentários:

Anónimo disse...

Comentário. de hoje, de Jose Carlos Antunes na página do Facebok da Tabanca Grande:

Fotos não tenho mas fiz talvez centenas de vezes escoltas para e de João Landim. Pertenci Esq Rec Panhard 2641 - 1ª fase - Bula e diariamente faziamos esse percurso de manha e à tarde. Um abraço a todos os ex-Camaradas.

https://www.facebook.com/profile.php?id=100001808348667

Anónimo disse...

Comentário. de hoje, de João José Alves Martins na página do Facebook da Tabanca Grande:


Passei por João Landim em 20/12/67 rumo a Bissum Naga, onde vi a morte a passar ao lado e o PAIGC a informar na rádio que me tinha abatido conforme narro nas minhas memórias com 199 fotografias.

zeca disse...

Centenas ou talvez milhares as vezes que atravessei nessa jangada, sem o mínimo de segurança, hoje há distância, sou obrigado a concluir, que se corriam muitos riscos, travessia que demorava entre 20 a 25 minutos, onde muitas vezes com a maré em cima, era-mos arrastados mais para baixo !!!!!!! tempos idos e vividos, onde ficam as lembranças, e a alegria de termos voltado.
Abraços a votos de muita saúde, para todos ex, especialmente para os que, tal como eu a utilizaram.

Anónimo disse...

Jose Henrique Costa Sousa: comentário de hoje na página do Facebook da Tabanca Grande:


https://www.facebook.com/profile.php?id=100001808348667

Para recordar. A 1ª vez em Janeiro 71, para Bula, para o Ba. 2928. Comp Independente Cac 3328, acoreanos implac´sveis. Durante 18 meses sempre operacionais desde o Mansoa até ao Cacheu. Várias travessias e comandos da coluna Bula-Bissau. 6 meses no Hotel de Joao Landim com o 2º grupo de combate. Última travessia em Dezembro, para o Cumeré para posterior regresso a Metrópole, em Jano 73.

Abracos para todos os camaradas.

Anónimo disse...

Joao Manuel Prates Lourenço:

comentário de ontem na página do Facebook da Tabanca Grande:


Grande malta das jangadas, fizeram um excelente trabalho, passei lá dezenas e dezenas de vezes, estava em Teixeira Pinto e fazia o reabastecimento da 35ª de comandos duas vezes por semana. Belos tempos, um abraço para todos.

Anónimo disse...

Jose Carlos Antunes

comentário de ontem na página do Facebook da Tabanca Grande:

Fotos não tenho mas fiz talvez centenas de vezes escoltas para e de João Landim. Pertenci Esq Rec Panhard 2641 - 1ª fase - Bula e diariamente faziamos esse percurso de manha e à tarde.

Um abraço a todos os ex-Camaradas.

Antº Rosinha disse...

As jangadas de João Landim (rio Mansoa) e jangada de S. Vicente (rio Cacheu) foram as únicas jangadas eliminadas por pontes até hoje.
O Paris-Dakar não vê jangadas por ausência de rios.
Só vai aparecer água no rio Casamance, onde foi construída uma ponte já depois do "nosso" 25 de Abril.
E é na continuação dessa ponte do rio Casamance que no tempo de Luís Cabral são previstas as pontes de João Landim e S. Vicente.
Um projecto que ligava por uma rodovia as capitais do mundo afro-francófono.
Penso que já estará ligado sem jangadas de Paris a Brazaville, quase sempre a falar Francês.
O estudo e planeamento dessas duas pontes, foi de engenheiros da UE, e o financiamento provavelmente também.
Embora na Guiné já houvesse muitos engenheiros guineenses, que penso, teriam participado na sua construção.
Cumprimentos