terça-feira, 17 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18531: Agenda cultural (635): Convite para a inauguração da exposição "A Biblioteca de Samuel Schwarz, espelho de uma vida", amanhã, dia 18, 4ª feira, às 17h30, na Assembela da República (João Schwarz)


Cinquenta e cinco anos depois da nossa muito querida e saudosa amiga Clara Schwarz (1915-2016) ter chegado a um acordo com o Estado Português para a preservação e conservação da preciosa biblioteca do seu pai, Samuel Schwarz, Portugal homenageia a este homem, avô do Pepito e do João, que nos deixou um importante legado cultural.

Já o seu pai, Isucher Szwarc, nascido em Zgierz, na Polónia,  era detentor de uma um das  maiores bibliotecas  privada do país e a sua casa era o ponto de encontro de intelectuais de primeiro plano da Haskalá (movimento do iluminismo judaico, surgido na Alemanha no séc. XVIII).

Samuel veio para Portugal em 1914, e aqui prosseguiu os estudos sobre a história dos judeus portugueses, a par da sua atividade profissional como engenheiro de minas e homem de negócios. A biblioteca do pai, Isaque., foi pilhada   pelos nazis, desconhecendo-se o seu paradeiro.

A biblioteca do filho, Samuel  (e em especial a "biblioteca hebraica")  foi transferida para os arquivos históricos do Ministério das Finanças em 1953, em condições muito deficientes de transporte e depois de conservação, arquivo e salvaguarda. ...

Só em 1986 (!), a  biblioteca de Samuel Schwarz (ou que restava dela) foi finalmente parar a "boas mãos", a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa...  Foi preciso mais de meio século para, na casa da democracia, se dar a conhecer aos portugueses algumas das raridades da biblioteca de Samuel Schwarz (que em vida reuniu mais de 10 mil livros)...De qualquer modo, o ncleoo importante da biblioteca é chamada "biblioteca hebraica" (c. de mil livros e incunábulos).

Eu lá estarei amanhã para homenagear este homem, a quem se deve, entre muitas outras coisas, a descoberta da antiga sinagoga de Tomar (, edifício que ele próprio comprou, com dinheiro do seu bolso, e de que fez doação ao Estado Português), a par da descoberta da comunidade cripto-judaica de Belmonte. Nunca esquecerei o amor filial e a admiração intelectual que por ele tinha a sua filha Clara Schwarz. Esse trabalho de culto da memória tem sido continuado pelo seu filho João, irmão do Pepito. (LG)


1. Mensagem que nos foi enviada pelo nosso grã-tabanqueiro João Schwarz da Silva, hoje, às 11h38:

Caro Luís

Junto envio um convite para a exposição que terá lugar a partir de amanhã na Assembleia da Republica.

Abraços, João,


2.  Trata-se de um convite da Assembleia da República e da Faculdade de Ciências e Humanas (FCSH) da Universidade NOVA de Lisboa (UNL) para a inauguração da exposição "A Biblioteca de Samuel Schwarz, espelho de uma vida", no edifício da Assembleia da República, amanhã, 4ª feira, dia 18 de abril,  às 17h30 (no final da sessão plenária).

O engº Samuel Schwarz (Zgierz, Polónia, 1880 - Lisboa, 1953) tem meia dúzia de referências no nosso blogue. Foi pai da nossa grã-tabanqueira Clara Schwarz (Lisboa, 1915-Lisboa, 2016), e avô (materno) do Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (Bissau, 1949-Lisboa, 2014) e do João Schwarz da Silva, ambos membros da nossa Tabanca Grande, bem como bisavô (paterno) da nossa jovem amiga e grã-tabanqueira Catarina Schwarz que vive em Bissau.


3. Excerto da notícia relativa à à Biblioteca de Samuel Schwarz, que vai  ser exposta na Assembleia da República 

(...)  Samuel Schwarz juntou, ao longo de 73 anos de vida, uma extensa biblioteca, principalmente dedicada a temáticas judaicas. Depois de dezenas de anos no Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, esta coleção está hoje a cargo da Biblioteca Mário Sottomayor Cardia, da NOVA FCSH. A partir de 18 de abril e até 22 de maio, fica em exposição na Assembleia da República.

Esta mostra biobibliográfica, que fará igualmente parte das comemorações do Parlamento de Portas Abertas, a 25 de abril, estará dividida em três núcleos: um dedicado ao percurso de vida de Samuel Schwarz, com vários objetos pessoais e fotografias, outro com uma seleção de livros da sua biblioteca pessoal (alguns bastante raros, do século XVI e seguintes) e o terceiro com obra do próprio.

Samuel Schwarz, com formação em engenharia de minas, naturalizou-se português em 1939 e distinguiu-se como investigador e historiador, tendo publicado obras de referência acerca da presença dos cripto-judeus, também chamados marranos, em Portugal. O seu trabalho foi fundamental no processo de desocultação dos cripto-judeus portugueses.

Chegou ao nosso país em 1914, para trabalhar na extração de volfrâmio. No entanto, ainda no início dos anos 20, iniciou uma atividade paralela como arqueólogo e etnógrafo, o que lhe permitiu identificar a sinagoga de Tomar, que adquiriu e ofereceu ao Estado português em 1939. Algumas das fotografias que o próprio tirou nessa época farão parte do primeiro núcleo da exposição no Parlamento português, em formato físico ou digital.

Será também exposta uma seleção do seu acervo bibliográfico, que constituirá o segundo núcleo da exposição. Marcel Paiva do Monte, da Divisão de Bibliotecas e Documentação da NOVA FCSH, refere uma biblioteca “de grande coerência”, cujas obras estão maioritariamente relacionadas “com o povo judeu, a sua história, religião, língua e cultura”.

Da sua carreira como investigador serão também expostos alguns exemplares das suas publicações, entre artigos, livros e ensaios, que constituirão o terceiro núcleo desta exposição. Estas obras estão presentes nas suas versões originais, datilografadas ou manuscritas, mas também em versões e edições mais recentes, atualmente disponíveis na Biblioteca Mário Sottomayor Cardia.

Esta exposição teve origem num projeto de estudo e preservação do fundo de Samuel Schwarz, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian com o apoio da Direcção-Geral do Livro dos Arquivos e das Bibliotecas.(...)

(Fonte: FCSH / UNL,  14 abr 2018. Adapt. , com a devida vénia)

4. Sobre a biblioteca de Samuel Schwarz, ver ainda aqui, no síto do seu neto, João Schwarz:

Des Gents Interessants > Samuel Schwarz >  La bibliothéque de Samuel Schwarz [2012, em francês]

Vd. também o artigo a “Les bibliothèques de Isucher et Samuel Schwarz” [, em formato pdf, 9 pp., em francês].


Página do nosso amigo e grã-tabanqueiro João Schwarz > Des Gens Intéressants > "Eis aqui um mundo de outrora e de gentes que tiveram uma vida interessante. O que vai de Odessa a Lisboa, passando por Lisboa, Paris, Rio de Janeiro, Dacar, Montreal, Tel-Avive. Bissau e Zgierz. Todos têm por único atributo comum fazer parte da mesma família e ter conhecido sob uma forma ou outra as agruras da gierra ou da perseguição". [tradução do francês, LG]

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Nota do editor:

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quando o livro está, hoje, em perigo, e com ele a memória (e a identidade) de um povo, é bom saber que há ainda bibliotecas que se salvam e nos abrem as portas tanto do passado como do futuro... Esta é a história singular de um judeu polaco que teve a sorte de se perder de amores por Portugal, em 1914...Menos sorte teve o seu pai e a sua família polaca, trucidados pelo nazismo logo em 1939...O pai, Isucher Szwarc, nascido em Zgierz, na Polónia, era detentor da maior biblioteca privada do seu país e a sua casa era o ponto de encontro de intelectuais de primeiro plano da Haskalá (movimento do iluminismo judaico, surgido na Alemanha no séc. XVIII). Samuel morreu em 1953, naturalizado português. Deixou uma biblioteca com 10 livros, e alguns centenas eram raridades (em hebraico, grego, latim, português...). Foi pai da nossa amiga Clara Schwarz (1915-2016), que fez um acordo, em 1953, com o Estado Português, para salvaguardar a preciosa biblioteca do pai Samuel, avô dos nosos amigos e membros da nossa Tabanca Grande, Pepito (1949-2014) e João Schwarz. Vamos prestar-lhe, a ele e à sua família, uma pequena homenagem, amanhã, na Assembleia da República. (LG)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A biblioteca de Samuel Schwark, criada ao longo de uma vida, não tinha 10,,, mas 10 mil livros... Pede-se desculpa pela gralha- LG