domingo, 13 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21641: Casos: a verdade sobre... (18): Os "momentos dramáticos" vividos pela CCAÇ 12, em março de 1973, obrigada a render no Xime a CART 3494 [António Lalande Jorge, ex-fur mil mecânico auto, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, março de 1972 / abril de 1974)]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Espectacular vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região)

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era:

(i)  a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste);

(ii) vê-se ainda uma nesga do heliporto (2) e o campo de futebol (3);

(iii) a CCAÇ 12 começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento roubado (sic) à engenharia nas colunas logísticas para o Xitole;

(iv) de acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão (5) e as instalações de oficiais (6) e sargentos (8), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9).;

(v) apesar do "apartheid" (leia-se: segregação socioespacial) que vigorava, não só na sede dos batalhões, como em muitas unidades de quadrícula, uns e outros, oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum e uma gestão comum  (19);

(vi) do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá: o  aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste), uma vista fantástica; são visíveis as valas de protecção (22), abertas ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24);

(vii)  a luz eléctrica era produzida por gerador como em todo o território, de Bissau a Cacine; junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o abrigo da metralhadora pesada Browning (25); em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses 14);

(viii) a  caserna das praças da CCS / BCAÇ 2852  (11) ficava do lado oeste, junto ao campo de futebol (3):

(ix) o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler ficava instalado, salvo erro,  no edifício (12), que ficava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U;

(x) mais à direita, situava-se a capela (13) (que também de casa mortuária) e a secretaria da CCAÇ 12 (14);

(xi) por detrás ficava o refeitório das praças; em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

(xii) do lado leste do aquartelamento, tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais (18), a escola primária antiga (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga);

(xiii) ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do alf mil Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12, já falecido).

Esta reconstituição foi feita pelo Humberto Reis, completada por mim (editor LG) e pelo ex-1º cabo cripto GG (Gabriel Gonçalves).

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue LUís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Comentário, com data de 4/8/2016,  de António Lalande Jorge, ex-fur mil mecânico auto, CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, março de 1972 / abril de 1974),  ao poste P8302, de 20/5/2011 (*), 

Meus caros camaradas. 

Sou mais um dos que "felizmente" tive o prazer de conviver na Guiné com uma prole de rapaziada que ainda hoje considero mais do que amigos, como se fôssemos da mesma família.

Sou um dos que viveu momentos muito felizes nessa Companhia (com letra  grande) que foi a CCAÇ 12, mas que também viveu momentos "dramáticos", na última geração desta tão amada CCAÇ 12, quando tivemos que emigrar para o Xime e por lá permanecermos, até quando não sei,  porque eu pessoalmente, num gesto premonitório,  resolvi pagar a minha viagem para a Metrópole pela TAP no dia 20 de Abril de 1974 (é verdade,  5 dias antes do dito 25 de Abril).

Pois se não fosse assim,  só regressaria passados mais uns meses e, não é por nada. mas creio que, pelo que tenho falado com alguns camaradas,  não houve ninguém que tivesse estado na CCAÇ 12 tanto tempo seguido, como eu, que estive nesta Companhia durante 24 meses.

Cheguei como "periquito" a Bambadinca,  em Março de 1972,  em rendição individual como todos os camaradas que passaram pela CCAÇ 12, então comandada pelo célebre Capitão Bordal
o [Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier] e regressei como disse em Abril de 1974 quando era comandante o Capitão José António Campos Simão [hoje médico, cirurgião ortopedista reformado, tendo passado entre outros pelo Hospital de Évora]. 

Conheci portanto duas gerações desta Companhia [, a 2ª , de 1971/73, e 3ª, de 1973/74] e estive aproximadamente um ano com cada uma delas.

Nunca escrevi nada no blogue porque nunca fui "expert" em computadores e é para mim muito difícil dominar estas tecnologias.No entanto sempre acompanhei, lendo todos os comentários que por aqui foram passando.

Resolvi escrever agora porque achei muito triste não se ter ainda comentado a infeliz partida do nosso camarada Victor Alves, que foi vagomestre da CCAÇ 12 e um dos grandes impulsionadores dos convívios que vimos efectuando há 43 anos consecutivos e que muita saudade nos deixa...Paz à sua alma.(**)

Ainda não me identifiquei mas penso que alguns camaradas já me poderão ter reconhecido.

Sou o António Lalande Jorge (conhecido como Furriel Jorge) e, como disse,  fui Furriel Mil Mecânico Auto na CCAÇ 12 durante o período atrás citado [, marco de 1972 / abril de 1974],.

Também tenho algumas histórias curiosas que poderei divulgar num momento de inspiração.

Já agora não sei se será o local mais apropriado para estar a fazer este comentário mas peço desculpa pela minha ignorância.

António Lalande

4 de agosto de 2016 às 23:49 


2. Comentário de LG:

Meu caro camarada Jorge, lamentavelmente só dei conta, há dias, e por mero acaso,  do teu comentário de agosto de 2016 (*). Fiquei a saber:

(i)  da morte, com um atraso de 4 anos e meio, do nosso camarada da  CCAÇ 12, Victor Alves (1949-2016). que eu ainda conheci em fevereiro de 1971, vinha render o fur mil SAM Jaime Soares Santos; mais tarde, encontrámo-nos por aqui, no blogue e nalguns convívios da CCAÇ 12 (*); 

(ii) que estavas em março de 1973, em Bambadinca, quando a "nossa" CCAÇ 12 se recusou a ir para o Xime, em substituição da CART 3494 (transferida para Mansambo); qualificas esse momento justamente como "dramático", mas não dás mais informação detalhada, sobre o que se passou, antes, durante e depois;

(iii) em poste anteriormente publicado, o João Candeias da Silva, do teu tempo, tal como o António Duarte e o saudoso Sucena Rodrigues, diz-nos que foi "transferido da CCaç 12 para Bolama (...) , como consequência de uma recusa da 12 avançar para o Xime para substituir a companhia que lá estava [, CART 3494 / BART 3873 ], e com a qual fizemos algumas operações conjuntas de que destaco duas em Fevereiro desse ano onde tivemos dois contactos com o IN [, ao tempo do cap mil inf José António de Campos Simão]". (...)

Jorge, foi pena não teres deixado um contacto na altura (endereço de email, telemóvel ou telefone...). Nem sequer sei onde vives. Gostaria muito de saber mais coisas sobre a "nossa" CCAÇ 12 do teu tempo. E, naturalmente, conhecer-te, em carne e osso, se houver oportunidade para tal.

Ficas, desde  já, convidado, tal como o João Candeias da Silva, para te juntares à nossa Tabanca Grande, onde, em 822 membros, vivos e mortos,  temos bastante malta que passou pelo Sector L1 (Bambadinca) ao longo da guerra, entre 1961 e 1974. E temos vários camaradas da CCAÇ 12, entre eles o António Duarte... 

Da primeira geração, a dos "pais-fundadores" temos vários: eu próprio, e outros furriéis, como por exemplo, o Humberto Reis, o António Levezinho, o António Branquinho (já falecido), o António F. Marques, o Arçindo T. Roda, o Joaquim Fernandes, o José Luís Sousa (, que vive no Funchal), o  José Fernando Gonçalves Almeida (transmissões),  o João Carreiro Martins (enfermeiro),  o 2º sargento José Manuel Rosado Piça (vive em Évora, e espero que esteja bem de saúde)... 

Temos, no blogue, cerca de 30 postes com a história da unidade (junho de 1969/fevereiro de 1971).

Dá notícias. E até lá, Festas, Boas e Quentes! Cuida-te, cuidemo-nos... LG

____________

Notas do editor:



(***) Último poste da série > 12 de dezembro de 2020 > 
Guiné 61/74 - P21637: Casos: a verdade sobre... (17): A alegada "insubordinação" da CCAÇ 12, em março de 1973, recusando-se a render no Xime a CART 3494 [João Candeias Silva, ex-fur mil at inf, CCAV 3404 (Cabuca, 1972), CCAÇ 12 (Bambadinca, 1973) e CIM Bolama, 1973/74]

1 comentário:

João Candeias da Silva disse...

Camarada Jorge,

Ao ler na tua mensagem os dias difíceis de Março de 1973 em Bambadinca deduzo que viveste como eu a transferência para o Xime. Por isso senti necessidade de escrever esta mensagem.
A palavra chave foi o Victor Alves o nosso Vagomestre que foi, em minha opinião, quem mais sofreu naqueles dias de expectativa em que pairava no ar uma remota hipótese de não se concretizar.
A apreensão era gerada pelo facto de ter com ele a esposa que acabou por fazer durante pouco tempo parte da 12.
Na primeira formatura, a que correu "mal" para o comandante da CAOP, o Victor estava à minha direita e a tensão em todos nós era enorme.
Ao saber que o Victor no deixou não resisti em deixar um abraço à esposa e outro para ti.

Sou o João Silva do quarto grupo de combate e no Xime estava no quarto do Osório e do António Duarte. Ajuda alguma coisa?

Abraço