sábado, 24 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22134: Manuscrito(s) (Luís Graça) (201): Soneto em louvor do galo do IPO - Lisboa



Lisboa > IPO - Instituto Português de Oncologia Dr. Francisco Gentil > 23 de abril de 2021 > Galináceos à solta...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Não é de todo insólito o doente do IPO-Lisboa tropeçar de manhã, quando vai a correr para o seu tratamento, com um pequeno bando de galináceos (galos, galinhas, frangos, pintos, à mistura com pombos e melros...) a cirandar à volta dos diversos pavilhões, nos espaços verdes...

As aves são residentes do Instituto, que vai fazer 100 anos em 2023. Não sei se há aqui capoeiras, vejo, quando por lá passo, que a bicharada  tem "livre trânsito", e prioridade sobre tudo e todos, incluindo as ambulâncias que chegam, às dezens, da área metropolitana de Lisboa e de todo o sul do país... (Imagino o sofrimento de que vem às 5 da manhá, do Alentejo profundo, partilhando a ambulância com mais mais um ou dois doentes, para estar aqui a horas para a sua quimieo ou a sua radioterapia.)

Vários galos, com voz operática, dominam os seus haréns e parece que, à noite, perturbam o sono dos vizinhos da rua Prof Lima Bastos... Mais importante que tudo, o galinheiro do IPO dá um nota de ruralidade e humanidade àquela antiga quinta da Casa de Cadaval, de sete hectares, onde hoje trabalham 1900 profissionais e se tratam, anualmente,  57 mil doentes... e onde às 8h15 da manhã já não há lugar de estacionamento...

Gosto da divisa do Instituto: "Quando só se vê cancro, nós vemos as pessoas"... É inspirador e dá-nos confiança. E o simples ouvir do cantar dos galos e do cacarejar das galinhas dá-me paz interior quando caminho para o pavilhão de radioterapia nestes últimos dois meses, em plena pandemia de Covid-19... É o princípio da alegria contra a dor, da vida contra a doença e a morte.... Pequenos detalhes que fazem diferença no dia-a-dia do doente oncológico. LG

O galo do IPO


Cocorococó!... O galo do IPO

Deixa uma nota de alvoroço matinal

Para quem está aqui a tratar-se do seu mal,

E que vem de longe, está triste e sente-se só!

 

Não é o galo cata-vento, fanfarrão,

Todo empertigado lá na torre sineira,

Mas o pica-no-chão, fora da capoeira,

Cujo cantar nos alegra o coração.

 

Contra o cancro, o galinheiro da Palhavã

Também faz figas connosco, é solidário,

Bela trupe de aves canoras, logo p'la manhã!

 

E a gente lembra-se da aldeia natal,

E da igrejinha com o seu campanário,

E da bicharada toda... lá p’lo quintal.


Lisboa, IPO, Serviço de Radioterapia, Unidade 3,

23 de abril de 2021

Luís Graça



2. A propósito do galinheiro de Palhavã, fui encontra no Portal da Queixa, a seguinte reclamação de um morador, vizinho do IPO-Lisboa, António, de seu nome, com data de 9 de abril 2021

Galos a vaguear no IPO

Moro na rua Prof. Lima Basto, mesmo em frente ao IPO de Lisboa. 

O que no inicio achei engraçado, ver um galo a vaguear dentro do recinto do IPO, está se a tornar um inferno. Passou de um galo para cerca de uma dezena de galos dentro do recinto da instalação, se já é mau ouvir durante todo o dia uma dezena de galos a cacarejar,  pior é quando, quase todas as noites, somos acordados por lutas entre eles ou outro tipo de barulhos ensurdecedores que emitem.

Na noite passada,  durou mais de uma hora começando por volta das 2h da manhã, com os barulhos infernais acima descritos.É impossível descansar de dia bem como dormir de noite.

Sendo este um ambiente hospitalar, porquê a utilização destes animais a vaguear pelo recinto? Para nós, moradores, está se a tornar impossível conviver com esta situação, sendo privados de descanso e sono. Solicitamos fim a este inferno.
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6 comentários:

Valdemar Silva disse...

Luís.
Provavelmente o galo chega noite dentro à capoeira e tem outro galo no seu poleiro.
Coitados dos vizinhos, ainda se fosse barulho dos carros, autocarros ou motas a passar vá que é barulho habitual, agora galos a cantar a altas horas da noite é preciso 'ter galo'.
....fossem eles poetas, outro galo cantaria.

Força contigo
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E bisarmas de aviões que passam a toda a hora por cima dos desgraçados que lá trabalham e dos que lá andam em tratamento ou estão internados... ´São "violinos mecânicos" no telhado... a toda a hora!...

Enfim, não sei quem criou este mundo, mas a verdade é que não o fez perfeito, isso já o sabíamos há muito mas temos tendência para o esquecer. Há, porém, alturas, mais cruéis, em que em que somos obrigados a relembrar essa verdade puar e dura.

Antº Rosinha disse...

Por norma veterinária constou em jornais doutro país mais rural que as nossas gerações ainda conheceu, o Portugal do António, que todos os vizinhos podiam criar galinhas na condição de cada 9 galinhas apenas um galo.

Ninguém podia reclamar, se esta proporção fosse respeitada.

Foi discussão de jornais, mas como os tempos mudam, hoje os amigos dos animais não pensam mais em galos, só mesmo o Luis Graça, porque agora é mais cães e gatos.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em bom português nos entendemos (às vezes...): os galos cantam, as galinhas cacarejam... Se calhar as nossas femininistas dão na corneta, por não sermos politicamemte corretos... Mas foi isso que aprendemos na escolinha do Conde Ferreira, há sessenta e tal anos, ainda não se ouvia falar em guerra (muito menos do ultramar ou colonial, conforme o freguês...).

Para os nossos filhos e netos, citadinos, que nunca foram a Rio de Onor ver o boi do povo montar a vaca, em plena rua...LG

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Vozes dos animais
Por Pedro Dinis 21 abr. 2004 (com a devia vénia...)
       
Palram pega e papagaio
E cacareja a galinha
Os ternos pombos arrulham
Geme a rola inocentinha

Muge a vaca, berra o touro
Grasna a rã, ruge o leão,
O gato mia, uiva o lobo
Também uiva e ladra o cão.

Relincha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovellha bala,
Zurrar é próprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa,
Brutinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar:
Fazem gorjeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal, daninho aos campos,
Não aprendeu a cantar;
Como os ratos e as doninhas
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho,
A serpente no deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir,
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramam os tigres, as onças,
Pia, pia o pintainho,
Cucurica e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros
O cordeirinho balidos,
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.

A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontra em pobre rima
As vozes dos principais.

Fonte
In Elementos para um tratado de fonética portuguesa, de Rodrigo de Sá Nogueira (Imprensa Nacional de Lisboa, 1938).'

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/outros/antologia/vozes-dos-animais/730 [consultado em 24-04-2021]

Toni Levezinho disse...

Indiferente aos comentários extra muros, o galo do IPO, lá vai cumprindo a sua missão de dar as boas vindas aos doentes que chegam de outras paragens onde a convivência é bem mais pacífica.
Pois então deixai o galo "cantar de galo".
Um abraço fraterno Luís e força para a reta final desta fase do teu percurso rumo ao sucesso.
Tony Levezinho

Anónimo disse...

José Rocha
25 abril 2021 17:52

Caro Amigo Luis

Há uns tempos, ao ler uma das tuas poesias - em que falavas das flores de macieira - fiquei intrigado! (Será que o Luis está em tratamentos no IPO ?!)

E aguardei que surgissem mais pistas para não meter a "pata na poça".

Ontem ou anteontem tive a confirmação das minhas suspeitas através dos teus escritos no Blogue.

Luis, Amigo, espero e desejo, sinceramente, que venças mais esta "emboscada" da vida.
Muita coragem, ânimo e resistência!

Com os votos de rápida recuperação e que em breve nos possamos rever

Aceita um Grande Abraço de Amizade, Fraternidade e Solidariedade

José Rocha