quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26364: S(C)em comentários (55): O fantasma do "capitão-diabo" (João Teixeira Pinto) e o "djubi" que, na fortaleza do Cacheu, de costas voltadas, não está a pensar no futuro-mais-que-perfeito, mas no presente mais comesinho e mais premente: o que é que eu vou comer hoje ao almoço… (Luís Graça)

 



Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Estátua desmantelada do cap inf João Teixeira Pinto (o "capitão-diabo"), agora na fortaleza do Cacheu. Fotograma do vídeo do Carlos Silva, "Guiné-Bisssau, Estatuária" (2020) (7' 01") 


 
1. O nosso camarada Carlos Silva, que conhece bem o território, de antes e depois da independência, pôs, em 2020, à nossa disposição um vídeo sobre a estatuária colonial portuguesa na Guiné e as suas "andanças" desde 1974 (vd. a sua página, Jumbembem, no You Tube).

A estátua do Teixeira Pinto fora erguido em Bissau,  no Alto do Crim, parque municipal (atual Largo da Assembleia Municipal). É da autoria de Euclides Vaz (Ílhavo, 1916 - Lisboa, 1991) e deve ter sido executada emf inais dos anos 50/princípios dos anos 60.

A estátua, em bronze, desmantelada, encontra-se há muitos anos, ao ar livre, no forte do Cacheu, que funciona, infeliz e vergonhosamente, como uma espécie de caixote do lixo da presença histórica dos portugueses na Guiné.

É pena, porque, quer queiramos ou não, temos uma história comum, e só podemos ganhar, uns e outros, os portugueses e os guineenses, se soubermos construir pontes ligando o passado, o presente e o futuro, Está na altura de fazermos as pazes com o passado... E o passado deve ser explicado aos nossos filhos e netos. Essa pedagogia histórica está por fazer.

2. Ao jovem guineense que, na imagem acima, aparece de costas para a estátua, desmantelada, do "Capitão-Diabo", eu diria o seguinte:

"Que adianta, 'djubi', virares as costas ao passado, ou seja,  à História ?...Não terás futuro se não souberes aprender as lições do passado e do presente... Percebo a tua postura: não tens direito ao sonho,  estás a pensar,  não no futuro-mais-que-perfeito,  mas no presente mais comesinho e mais premente: o que é que eu vou comer hoje ao almoço… 

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!"...  Luís Graça
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Nota doo editor:

Último poste da série > 7 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26358: S(C)em Comentários (54): "Fui saneada em 17 de abril de 1975 do Hospital da Força Aérea que ia abrir em janeiro de 1976" (Maria Ivone Reis, ex-maj enfermeira paraquedista, 1929-2022)

2 comentários:

Anónimo disse...

João Crisóstomo, Nova Iorque
Luís,
O que me faz raiva é que não era preciso ser assim. Não deviam haver "djubis de costas voltadas," nem estátuas e monumentos tratados de maneira tão lastimosa; como não deviam haver biliões de pessoas passando fome pelas razões que tu conheces tão bem ou melhor que eu. Por isso eu tenho tanto receio que um dia vá tudo pelos ares. E depois... quantos milhões de anos vão ser precisos para chegar onde estamos agora, se é que alguma vez isso possa vir a acontecer?
Cá estou eu outra vez... desculpa o meu vaguear. A alternativa seria apagar tudo! e tentar esquecer. Não seria a segunda nem terceira vez...
Abraço,
joao

António J. P. Costa disse...

Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Estátua desmantelada do cap inf João Teixeira Pinto (o "capitão-diabo"), agora na fortaleza do Cacheu. Fotograma do vídeo do Carlos Silva, "Guiné-Bisssau, Estatuária" (2020) (7' 01")



1. O nosso camarada Carlos Silva, que conhece bem o território, de antes e depois da independência, pôs, em 2020, à nossa disposição um vídeo sobre a estatuária colonial portuguesa na Guiné e as suas "andanças" desde 1974 (vd. a sua página, Jumbembem, no You Tube).

A estátua do Teixeira Pinto fora erguido em Bissau, no Alto do Crim, parque municipal (atual Largo da Assembleia Municipal). É da autoria de Euclides Vaz (Ílhavo, 1916 - Lisboa, 1991) e deve ter sido executada emf inais dos anos 50/princípios dos anos 60.

A estátua, em bronze, desmantelada, encontra-se há muitos anos, ao ar livre, no forte do Cacheu, que funciona, infeliz e vergonhosamente, como uma espécie de caixote do lixo da presença histórica dos portugueses na Guiné.

É pena, porque, quer queiramos ou não, temos uma história comum, e só podemos ganhar, uns e outros, os portugueses e os guineenses, se soubermos construir pontes ligando o passado, o presente e o futuro, Está na altura de fazermos as pazes com o passado... E o passado deve ser explicado aos nossos filhos e netos. Essa pedagogia histórica está por fazer.

2. Ao jovem guineense que, na imagem acima, aparece de costas para a estátua, desmantelada, do "Capitão-Diabo", eu diria o seguinte:

"Que adianta, 'djubi', virares as costas ao passado, ou seja, à História ?...Não terás futuro se não souberes aprender as lições do passado e do presente... Percebo a tua postura: não tens direito ao sonho, estás a pensar, não no futuro-mais-que-perfeito, mas no presente mais comesinho e mais premente: o que é que eu vou comer hoje ao almoço"…
Concordo em absoluto com o texto supra. Porém passaram 50 anos sobre a independência e mais 11 de guerra. E, como também já disse, sou estrangeiro e nada tenho que ver com a vida dos guineenses. Como já disse acho que Portugal deveria encontrar maneira de recuperar estes vestígios da sua passagem pela Guiné. Já tentei lançar a ideia aqui, mas não tive êxito... Porquê? Sei lá. Escrevi ao Min. Cultura para que tentassem recuperar esta estátua, as dos navegadores e o busto do Cmdt Mdzanty, mas nem resposta tive. De todas as estátuas existentes só é verdadeiramente guineense a do Honório Barreto (como sabem)
Enfim... isto é Portugal que enterra 3 vezes o mesmo escritor!...
Um Abraço
António J. P. Costa