Falta aqui o major de artilharia, oficial de operações/ informações, e adjuntdo do comando do BART 2917, Jorge Vieira Barros e Bastos, de que não temos nenhuma foto. (Temos da esposa, na festa de Natal de 1970, imaginem!)
Em termos de créditos fotográficos, a primeira, é do Humberto Reis. As duas seguintes, do Arlindo T. Roda.
1. É um segredo de polichinelo...Uma das primeiras histórias a ser aqui contadas no nosso blogue, logo nos primeiros tempos. Mas a autoria, moral e material, do "crime" (ou a participação na operação, a que chamámos a Op Noite das Facas Longas em meados de 1970, em Bambadinca, zona leste, região de Bafafá, Comando Territorial Independente da Guiné) tem de ficar aqui devidamente registada.
O Humberto Reis já há muito "confessou" que foi o "executante", logo o autor material do "crime"...Também era, tecnicamente falando, o mais bem preparado de nós todos. Era "ranger", de Lamego. Foi ele que, de pistola "Walther em punho, abateu friamente, um a um, todos os cães "turras" de Bambadinca. Nem o nosso pobre do "Chicas" escapou à mortandade, por suspeita de colaboração com o "IN". E, se bem recordamos, havia também um segundo animal de estimação, o Boby, que também foi executado.
O major Bê Bê conduzia o jipe. E, por ser o mais graduado, terá sido o "autor moral do crime"... O Luís Graça e o Luciano Severo de Almeida iam no banco de trás... Foram "cúmplices". O Luís Graça dizia que não gostava de cães, mas era contra a pena de morte. O Luciano era o mais maluco dos quatro, queria era ação.
Hoje não sabemos qual seria a "moldura penal"... Na época havia um vazio legal: ainda não eram reconhecidos os "direitos dos animais" e nem mesmo os "direitos humanos" eram respeitados por todas as partes envolvidas na nossa "guerra a petróleo", como ainda hoje gosta de dizer o cor art ref António J. Pereira da Costa...
Hoje, cinquenta e cinco anos depois, teríamos o Ministério Público à pega, a Sociedade Protetora dos Animais, mais o Partido dos Animais e Natureza, e por aí fora. De qualquer modo, uff!, "o crime já prescreveu"...
Não sei se algum dos quatro se foi confessar ao capelão, que era açoriano, o Puim. O Bê Bê não gostava dele, e os outros já não iam à missa desde a 1ª comunhão. Se fossem ao Puim, haveriam logo de levar a rabecada: "Ó minha gente, mas o cão também é criatura de Deus!"...
Mas... porquê "segredo de polichinelo", pergunta o leitor ? É o oposto do segredo "bem guardado". A origem da expressão está ligada à personagem Polichinelo, um tipo cómico e astucioso do teatro de marionetes. A expressão sugere que o "segredo" é tão óbvio, que caiu na praça pública, só o personagem principal (o Polichinelo) é quem não o sabe. É como na história do "marido enganado", o último a saber.- primeiro, os cães eram muitos, famélicos, vira-latas, tinhosos, barulhentos, um perigo para a saúde pública e sobretudo para a segurança da população e das NT;
- segundo, e mais grave, muitos deles teriam vindo das chamadas zonas libertadas do PAIGC com a secreta missão de sabotarem o nosso esforço de guerra, não deixando nomeadamente dormir os operacionais de Bambadinca;
- um terceira explicação (propaganda dos "tugas"...) é que os cães vinham às sobras do rancho de Bambadinca porque rapavam fome nas suas tabancas de origem;
- em quarto e último lugar, o posto administrativo de Bambadinca (que pertencia à circunscrição de Bafatá) não tinha... "canil" e muito menos veterinário.
Ouçamos dois dos "protagonistas" desta história, que quiseram partilhar este seu "segredo" que muita gente da Tabanca Grande ainda não conhecia (**):
(i) Luís Graça
Todas as terras por onde passámos têm pequenas/grandes histórias para nos contar. Sabemos pouco de cada uma, é verdade, afinal o nosso tempo às vezes foi só de escassas semanas ou de um a dois meses...
Bolama, Contuboel, Cumeré, Fá Mandinga, Mansabá, etc., sítios onde havia Centros de Instrução Militar (CIM), ou aonde se fazia a IAO, ou eram simplesmente locais de aboletamentento ou passagem.
Eu e o o Humberto Reis estivemos em Contuboel, pouco mais de mês e meio: literalmente de bivaque, acampados, não havia instalações fixas para os 60 graduados e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2590. Queixas havia muitas: insolação, cobras, lagartos, etc., mas não me lembro de haver cães vira-latas, barulhentos, famintos, tinhosos e, mais grave, "feitos com o IN,"
O resto da comissão, cerca de 20 meses (de meados de julho de 1969 a meados de março de 1971) foi passado depois em Bambadinca, sede do sector L1, região de Bafatá.
Estivemos, é uma maneira de dizer: nem sempre dormíamos lá. A CCAÇ 2590/CCAÇ 12 era uma subunidade de intervenção, constituída por praças do recrutamento local (=100) e graduados especialistas de origem metropolitana (=60). Estivemos às ordens de dois batalhões: BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72).
As instalações eram boas. Recém-construídas pela engenharia militar. A messe era boa, Mas, lamentavelmente, havia muitos refugiados, em Bambadinca. E com eles, muitos cães, famélicos e vadios, doentes, ruidosos... Não nos deixavam dormir, os cães vira-latas...
Um dia, às tantas da noite, depois de muitas noites de insónias e pesadelos, pegámos num jipe, nas pistolas Walther, com balas derrubantes de 9 mm, e matámo-los todos... Em correria loucas pela parada.. Ainda hoje essa cena me incomoda... Chamei_lhe Op Noite das Facas Longas...Evoquei-a ou tentei exorcizá-la num dos meus poemas, Esquecer a Guiné:
(,...) Esquecer a Guiné... por uma noite!
As bombas de napalm
Carbonizando cada centímetro quadrado de vida,
Lá longe, em Sinchã Jobel,
Na ZI do Com-Chefe.
As insónias às três da manhã,
A hora mortal da madrugada.
Os famélicos cães vadios
Que um dia abatemos a tiro,
Um a um,
Depois de loucas correrias de jipe
À volta da parada.
No manicómio de Bambadinca.
Um a um,
Às tantas da madrugada,
Com tiros de pistola Walther na cabeça.
Sem dó nem piedade.
Pela simples razão
De que... não nos deixavam dormir.
A mim, a ti, ao major.
A todos nós, almas penadas...
Chamei-lhe a Operação
Noite das Facas Longas. (...)
(ii) Humberto Reis:
Já confessei, há vinte anos atrás, a autoria material do "crime" (*). Nessa noite nem o pobre do Chichas, que era a nossa mascote, a mascote da messe de sargentos, escapou da morte anunciada.
Segundo esclarecimento que aqui deu, em 2005, ao meu camarada Luís Graça, e meu companheiro de quarto em Bambadinca, com a rudeza, franqueza e a frontalidade que ele me conhece de há muito:
"O cão, que dormia à porta do nosso quarto, era o Chichas, alcunha vinda do 2º sargento corneteiro do BCAÇ 2852, que também era o Chichas.
"O condutor do jipe nessa Noite das Facas Longas era o major de operações do BART 2917 (o tal que mandou ir para lá a mulher quando se casou) e o assassino... fui eu".
Acrescente-se que quem ia atrás no jipe era o Luís Graça e o o Luciano Severo de Almeia (morreria, já depois da peluda, em circunstâncias trágicas, nunca esclarecidas)... Esse tal major era conhecido como o Bê Bê... Barros e Bastos:
(i) na altura, era o OfInfOp/Adj do BART 2917, maj art Jorge Vieira de Barros e Bastos;
(ii) dava-se relativamente bem com os "milicianos", os "nharros" da CCAÇ 12 (até por que precisava deles para lhe defenderem as costas);
(iii) as nossas relações esfriaram muito, depois da Op Abencerragem Candente (25-26 de novembro de 1970, subsetor do Xime);
(iv) nunca mais tive notícias dele: diz-me o Luís Graça que foi 2º comandante do BArt 6323/73, que esteve, em Angola, de maio de 74 a agosto de 1975, no subsetor de Zala, e depois em Malange; se for vivo (e esperemos bem que sim), deve ser cor art ref.; e, para ele vai, sem ressentimentos, um alfabravo.
_______________(*) Vd. poste de 17 de junho de 2005 > Guiné 63/74 - P62: Op Noite das Facas Longas (Humberto Reis)
(**) Último poste da série > 15 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27121: O segredo de... (51): Virgínio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAQÇ 1933 (Nova Lamego e Sáo Domingos, 1967/69), economista, consultor, gestorempresário: como perdi dois mil contos, em 1985 (c. de 46,5 mil euros, a preços de hoje), com o projeto



2 comentários:
Não vou fazer mais elogios às belas fotos aqui presentes. Nos anos de 69 em diante os rolos a cor e os slides vieram dar nova visão à fotografia.
Falas nas armas pesadas RPG....
Para mim, que também as vi, eram os chamados Roquetes!
O Fiuza, antigo marinheiro da LDG 101 Alfange, disse-me aqui na Vila, onde agora era Vigilante da Nau Quinhentista, que os roquetes já perfuravam as LDG e os navios Patrulha.
Então, foram revestidos, o couraçado com aço especial, e já não havia esse perigo de perfuração e rebentamento no interior. Não sei se é assim, mas mais ou menos é isto. Por isso pergunto os RPG -Lança granadas foguete, que se vê nas imagens, parece, mas não eram os Roquetes, as Bazucas conheço bem eram mais usadas pelo menos na minha humilde opinião.
Continua mais tarde, agora interrompi o almoço pois não me lembrava do nome de Roquetes.
.....
Virgilio Teixeira
vt
Os nossos dois melhores fotógrafos da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, o Humberto Reis e o Arlindo Roda, ambos furriéis milicianos.
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