terça-feira, 24 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2982: Tabanca Grande (76): José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 4152 (Guiné 1974)

Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > Tabanca, reordenada pelas NT.

Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: © AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).


1. Em 23 de Junho passado, recebemos uma mensagem do nosso novo camarada José Gonçalves que passamos a apresentar

Luis
Eu sou o anónimo que respondeu a polémica de quem ganhou ou perdeu a guerra na Guiné relatando a minha experiência em Gadamael e obviamente dando a mnha opinião.

Não é normal fazer comentários anonimamente, mas como comentaste eu não tenho usuário do Google mail.

Como podes também verificar, eu tentei apresentar-me aqui há uns tempos atrás e por duas vezes mandei este e-mail (aqui anexado) o que nunca vi publicado no Blog.

Também tenho dialogado com o Nuno Rubim acerca de Gadamael e tentar ajudá-lo sobre o pedido dele, mas não tenho muito conhecimento de como o quartel era durante o tempo quente de Maio de 1973.
O Nuno Rubim também me disse que o conhecimento que eu tenho do Pós 25 de Abril poderia ser interessante para este Blog. Eu estou disposto a colaborar naquilo que nos aconteceu em Gadamael durante 1974 até entregarmos o quartel ao PAIGC.

A minha memória já não é o que era, mas há acontecimentos que nunca nos esquecemos apesar de os nomes de algumas personagens estarem apagadas da minha memória.
Podes publicar as estórias que aqui envio e se quiseres fotos, posso mandá-las, mas talvez possa demorar algum tempo porque vou de férias a Portugal por algum tempo.
O Nuno Rubim tem muitas fotos que lhe mandei e se quiseres tens a minha autorização de as usar.

Um abraço do
José Gonçalves

2. Já em 16 de Março este nosso camarada tinha reenviado a mensagem que se segue com a sua apresentação. A original tinha data de 23 de Fevereiro de 2008. Ei-la:

Luís
Não sei se recebeste este meu email pois agora verifiquei que o tinha mandado para um endereço que não é o actual. De qualquer maneira aqui vai.

Caro camarada Luís.
Apresenta-se o Alferes Miliciano de Operações Especiais José Gonçalves.

Antes de mais tenho que pedir desculpa pelas acentuação e ortografia (1) uma vez que vivo no Canadá (já lá vão 33 anos) o meu teclado não tem acentos e a minha língua agora é o inglês.

Sei que, ou te encontras na Guiné ou vais em breve para a Guiné para o Simpósio sobre Guilege. Espero ler o teu parecer sobre este acontecimento.

Tenho vindo a acompanhar este teu/nosso blog que aprecio muito, e dou os meus parabéns a todos os responsáveis e participantes pela capacidade de reviverem da sua memória com toda a emoção que lhes vai na alma a sua história da Guiné que por vezes é bastante dolorosa.

Também é emocionante a galhardia como muitos dos nossos camaradas prestam homenagem aos seus companheiros de batalha.

Pela minha parte decidi desde início esquecer tudo aquilo que para mim foi algo traumático principalmente pelo esforço e sacrifícios inúteis que todos nós fizemos por uma Pátria que valorizava mais um helicóptero ou um jacto do que um dos seus filhos a morrer no mato.

Todas estas experiências e recordações foram esquecidas e raramente contadas porque não via razão para recordar tais experiências.
Achando e lendo este Blog muitas coisas me vieram à mente e aqui encontrei coragem de recordar e de uma certa maneira reviver alguns momentos que julgava perdidos.

Também pensei que poderia juntar algumas passagens pós 25 de Abril que ainda não vi contadas.
Eu como a maioria dos participantes deste Blog também estive na Guiné em Gadamael Porto desde Janeiro de 1974 até Junho do mesmo ano, quando o mesmo quartel foi entregue ao PAIGC.

De Gadamael, a minha Companhia (CCAÇ 4152) foi para Cufar e aí também entregou o quartel ao PAIGC. (...) (2)

3. Caro José Gonçalves
É com imensa alegria que recebemos cada camarada que se nos apresenta, mais ainda quando nos escreve alguém da diáspora.

Finalmente estás apresentado aos camaradas e leitores do nosso Blogue.
Contigências várias concorreram para que só agora chegues ao conhecimento de todos os tertulianos.

Quando puderes, manda as fotos da praxe, a antiga e a actual (tipo passe de preferência, já agora em JPEG) para constar da nossa fotogaleria, em construção, que servirão também para encabeçar os teus trabalhos publicados.

Aguardamos as tuas estórias vividas no pós 25 de Abril, aí na Guiné, pois é um período pouco tratado no nosso blogue.

Para evitar desencontros com a tua correspondência, deverás enviar as tuas mensagens para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, com conhecimento para os endereços pessoais dos editores. Ficamos desde já ao teu inteiro dispor.

Por agora recebe um abraço de boas vindas em nome dos editores e de todos os tertulianos.
Carlos Vinhal
___________________

Notas do co-editor:

(1) - Os editores corrigem os textos de modo a apresentar uma ortografia correcta a quem lê.
(2) - Esta mensagem é muito extensa e vai ser alvo de um poste, a publicar pelo Editor do Blogue. Neste, fica só o essencial.

Guiné 63/74 - P2981: Hélio Felgas, com Spínola, em Bambadinca (Jaime Machado)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 > Visita do Gen Spínola, acompanhado pelo Coronel Hélio Felgas: este de costas, em primeiro plano de camuflado, e tem à sua frente, também de camuflado, o Gen Spínola que se dirige aos militares da CCS do BCAÇ 2852 e unidades adidas. O Pel Rec Daimler 2046 estava adstricto a este batalhão.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) > 1969 > O Coronel Hélio Felgas, comandante do Agrupamento de Bafatá, ao volante de um jipe em Bambandinca,com o Com-Chefe, Gen Spínola e o Ten Cor Pimentel Bastos, comandante do BCAÇ 2852. Há também um piloto de helicóptero na foto.

Fotos e legenda: ©
Jaime Machado (2008). Direitos reservados.


1. Duas mensagens do Jaime Machado, com data de hoje:

1.1. Caro Luís

Conheci pessoalmente o então Coronel Hélio Felgas quando o General Spínola se deslocou a Bambadinca por duas ou três vezes e ele estava presente.

Na foto vê-se o Coronel Hélio Felgas de costas, em primeiro plano de camuflado e mais à frente também de camuflado o Gen Spínola.

Que descanse em Paz (1).

Um abraço

Jaime Machado
ex-Alf Mil Cav
Pel Rec Daimler 2046
Bambadinca
1968/70


1.2. Caro Luís: Mais uma foto do Coronel Hélio Felgas ao volante de um jipe em Bambamdinca, com o Gen Spínola e Ten Cor Pimentel Bastos [, comandante do BCAÇ 2852].

Um abraço

Jaime
___________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 24 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

Guiné 63/74 - P2980: In Memoriam (5): Morreu ontem o Major General Hélio Felgas, antigo comandante do Agrupamento nº 2957, Bafatá (1968/69)

Hélio Felgas, num fotografia tirada presumivelmente em Tite, em 1967 ou 1968. Cortesia do blogue Batalhão de Artiharia nº 1914, Tite, onde se pode ler:

"A CCS do Batalhão de Artilharia 1914 esteve aquartelada em Tite, no Sul da Guiné, de Abril de 1967 até Março de 1969. Estiveram em Tite durante esse tempo a Comp de Artilharia 1743, o Pelotão de Morteiros 1208, o Pelotão Daimler 1131 e uma Secção de Obuses. Faziam parte desta Unidade o destacamento do Enxudé, no rio Geba, S. João, Nova Sintra e Jabadá. Lembraremos neste blog 'aqueles que se foram da lei da morte libertando', dando generosamente a própria vida". (Com a devida vénia...)


1. Texto do editor do blogue, L.G.:

Amigos e camaradas de terúlia:

Acabo de receber a seguinte mensagem:

É com profundo pesar que informo que o meu avô Major General Hélio Felgas faleceu hoje dia 23 de Junho de 2008. O seu corpo vai estar em velório na Igreja do Campo Grande. O funeral será esta Terça, dia 24 de Junho, às 14h30, no Cemitério do Alto de S. João.

Gostaria de agradecer àqueles que fazem durar as notícias e histórias do grande homem e exemplo que foi o meu avô. Nunca o vi como tal, para mim sempre foi um Pai.
Descansa finalmente em PAZ .
O Neto - Miguel Felgas Rezende

miguel.rezende@sapo.pt


Publicámos bastantes postes, na I Série do nosso blogue (Abril de 2005 a Maio de 2006), com referências a este controverso mas brilhante militar que estava na Guiné quando eu lá cheguei, em Maio de 1969. Nunca o conheci pessoalmente. Para mim está sobretudo associado à trágica retirada de Madina do Boé (1) e à grande e polémica Op Lança Afiada (2), em Fevereiro e em Março de 1969, respectivamente.

Era então o comandante do Comando de Agrupamento nº 2957, com sede em Bafatá. Foi, para todos os efeitos, o comandante de toda a Zona Leste (que incluía o Sector L1, Bambadinca). Já como Brigadeiro, Hélio Felgas foi condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, em 1970, por feitos praticados na Guiné (onde dfez duas comissões), tendo passado compulsivamente à reserva, a seguir ao 25 de Abril de 1974. (Esatva em Angola nessa altura). Sempre se considerou vítima de um saneamento político-militar. Era decididamente um homem da direita político-militar, nunca o escondeu. Mas não menos patriota, e com uma brilhante carreira profissional.

Não conheço em detalhe a sua biografia e o seu currículo militar, mas sei que foi também um homem da palavra, escritor e conferencista, autor de dezenas de publicações (vd. Memória de África), talvez o nosso maior teórico militar da Luta contra o Terrorismo, Professor Catedrático da cadeira de Estudos Militares, na Academia Militar e, nessa qualidade, professor de muitos dos homens que estiveram por detrás do Movimento das Forças Armadas (MFA), incluindo capitães de Abril como o Otelo Saraiva de Caravalho.

Sabíamos, no nosso tempo, que as relações entre ele e Spnínola, não eram as melhores. Mas tudo isso, já faz parte da história. Era, ao que parece, um homem com uma personalidade forte, quiçá autoritário, mas popular entre os soldados que com ele privaram. Era um homem de grande verticalidade, que não escondeu a Spínola o que pensava de uma possível concessão da independência da Guiné (de que já se falava em finais de 1969). Comparou a Guiné ao Vietname... Sobre a Guiné, escreveu:

"Conheci praticamente toda a antiga colónia portuguesa e da forma que menos se esquece: a pé e de jipe. Nas 84 operações que comandei, percorri 7000 km de más estradas, piores picadas e pantanosas bolanhas (arrozais). Nelas sofri 26 emboscadas, além de meia dúzia de flagelações aos aquartelamentos e tabancas (aldeias nativas) onde pernoitava". Veja-se o depoimento dele em Os últimos guerreiros do império. Amadora: Erasmos. 1995. 131-132. No nosso blogue publicámos diversos excertos (3).

Estava há vários anos doente e acamado. Ainda há uns meses atrás, telefonei-lhe para casa, aqui em Lisboa, para lhe pedir autorização para publicar no nosso blogue um escrito dele, com a sua versão do desastre do Cheche. Atendeu-me, muito gentilmente, a esposa. Expliquei-me a razão de ser do telefonema. Ouvi a conversa da senhora com o marido, que devia estar perto... Ainda me recordo das suas palavras, em que se percebia a voz do velho comandante:
- Diz-lhe que a culpa foi do alferes, a culpa foi do alferes... [Julgo que se queria referir ao Alf Mil Diniz, responsável pela segurança da travessia do Corubal... Julgo, mas não tenho a certeza, que esse alferes pertencia à CCAÇ 1790, evacuada de Madina do Boé, e que era comandada pelo então Cap Inf Aparício, que, após o 25 de Abril, veio a assumir a função de Comandante Geral da PSP de Lisboa].

Prometi à senhora que foi muito gentil para comigo, que ia publicar o texto, e que que depois lhe mandava cópia. Acabei por não o fazer, por falta de oportunidade editorial. Vou finalmente cumprir essa promessa, até como homenagem a um dos nossos comandantes da Zona Leste que acaba de morrer, aos 87 anos, depois de largos de anos com uma doença crónica, do fororespiratório.

Foi o Paulo Raposo que, em tempos, me fez chegar esse documento. Não sei se eram amigos, mas o Paulo falava dele com admiração e respeito. Sempre que morre alguém, nosso camarada ou superior hierárquico na guerra da Guiné, é um pouco de nós que morre também. Independemente das nossas maneiras de avaliar as pessoas e as situações, das nossas idiossincrasias, das memórias, das nossas posições de ontem ou de hoje, etc.

Vou fazer uma notícia, um In Memoriam, no nosso blogue. Fico a aguardar depoimentos sobre o Major General na Situação de Reforma Hélio Esteves Felgas, de quem o conheceu, realmente (o que não é o meu caso). Se puder, ainda irei passar rapidamente, à hora do almoço, pela capela mortuária do Campo Grande, para dar um abraço ao neto, Miguel, cujas palavras singelas e sinceras merecem destaque, e a quem agradeço a gentileza de nos dar, através do blogue, a triste notícia da morte do seu avô, a quem prestamos a nossa última homenagem:

"Gostaria de agradecer àqueles que fazem durar as notícias e histórias do grande homem e exemplo que foi o meu avô. Nunca o vi como tal, para mim sempre foi um Pai.
Descansa finalmente em PAZ".


Luís Graça, editor e fundador do blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné

_____________

Notas de L.G.:

(1) Sobre o desastre do Cheche, no Rio Corubal, no âmbito da Operação Mabecos Bravios, e sobre Madina do Boé, vd. os postes publicados no nosso blogue (1ª e 2ª série). Há ainda uma depoimento de Hélio Felgas, a publicar em breve, e que nos chegou às mãos por intermédio do Paulo Raposo, ex-Alf Mil da CCAÇ 2405.

17 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CIX: Antologia (7): Os bravos de Madina do Boé (CCAÇ 1790)

2 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXXXIII: O desastre de Cheche, na retirada de Madina do Boé (5 de Fevereiro de 1969)

8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)

12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

7 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P853: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (10): A retirada de Madina do Boé

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1292: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte I)

15 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1370: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (Parte II)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1388: Madina do Boé: contributos para a sua história (José Martins) (III parte)

(2) O então coronel Hélio Fellgas comandou a Op Lança Afiada bem como a retirada de Madina do Boé, na qualidade de comandante do Agrupamento de Bafatá. Sobre a Op Lança Afiada, vd postes:

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIII: Op Lança Afiada (1969): (iii) O 'tigre de papel' da mata do Fiofioli

9 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXI: Op Lança Afiada (1969) : (ii) Pior do que o IN, só a sede e as abelhas

15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

(3) Vd. por exemplo, e em especial o mais controverso, o último ("Ou se faz a guerra ou se acaba com ela")

4 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCVIII: Antologia (27): depoimento do brigadeiro Hélio Felgas (1): os aquartelamentos

25 de Novembro de 20065 > Guiné 63/74 - CCCXII: Antologia (28): depoimento de Hélio Felgas (2): as emboscadas

29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIII: Antologia (29): depoimento de Hélio Felgas (3): os ataques aos acampamentos do IN

9 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIII: Antologia (32): depoimento de Hélio Felgas (4): "Ou se faz a guerra ou se acaba com ela"

Vd. também:

24 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIX: O Hélio Felgas do nosso tempo (A. Marques Lopes / David Guimarães)

13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2979: Exercício do meu direito à indignação (1): Simplesmente obnóxio, senhor anónimo (Vitor Junqueira)

1. Mensagem, com data do dia 20 do corrente, enviado pelo nosso camarada e amigo Vitor Junqueira, médico, organizador do nosso II Encontro Nacional, em 2007, residente em Pombal, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72)

Caros amigos,

Luís Graça, Virgínio Briote e Carlos Vinhal.

Como poderão notar, esta é uma reacção a quente a um post que acabei de ler no nosso sítio. É um daqueles temas que me fazem arripiar os cabelos do espinhaço, sobretudo pela forma como é tratado. Não aceito lições de fedelhos emplumados, cuja educação parece ter ficado na barriga da mãezinha.

Cordiais saudações,

Vitor Junqueira

2. Comentário ao post de um tal “anónimo”
por Vitor Junqueira


Se a estultícia fosse música, certos indivíduos valeriam por uma orquestra inteira. Se o autor anónimo do dito post não fosse um (alto?) quadro, eu diria que possui um dom natural para a asneirada, palavra não aplicável uma vez que apresenta indícios de derivar de asno, sendo por isso equivalente a burrice, e por tabela poderia estar a ofender os jumentos, onagros, jericos e toda a restante família asinina. Se o dito cujo fosse um pouco menos ignaro e tivesse sido convenientemente alfabetizado, do que duvido, uma vez que o editor encima o chorrilho com a advertência “revisão e fixação de texto: vb”, saberia um pouco mais da história de Portugal e dos Descobrimentos do que aquilo que vem na cartilha que lhe enfiaram na cabeça.

Se fosse uma pessoa assisada e prudente, não emitiria juízo tão pesporrente como aquele em que, dirigindo-se a alguém que nem conhece, afirma: “a sua missão na Guiné, como militar …foi igualmente a de opressão e tentativa de submissão de um povo”. Se tivesse sido enviado para o “exterior” numa fase mais precoce da sua vida, teria tido oportunidade de conviver com pessoas educadas e saberia que classificar de “debate estéril” semelhante a “definição do sexo dos anjos” a troca de opinião entre terceiros, é no mínimo descortês e revelador de má-criação.

Se fosse tão intelectual como quer fazer crer ao citar um ícone das letras Argentinas, saberia que ao moldar a argila de que é feito o passado, o presente se metamorfoseia de oleiro e, ao mesmo tempo que dá forma ao barro de que são feitos os humanos, vai edificando o farol que lhes permitirá rumar ao futuro, em segurança. Ao contrário do que pensa, o passado não é menos importante do que o presente. Se fosse corajoso, identificava-se, assinando o que escreveu.

Agora que está no “exterior”, oxalá encontre no “interior” o respeito dos seus concidadãos para que possa apreciar plenamente a “pátria, a bandeira, o hino e a dignidade” que os nacionalistas guineenses, nossos respeitáveis adversários de ontem lhe legaram, à custa de muito sangue, suor e lágrimas. Porque como diz Platão: “Não há nada mais vergonhoso do que alguém ser honrado pela fama dos antepassados e não pelo merecimento próprio”.

Como nota final, não posso eximir-me ao dever de atribuir uma nota ao post: Obnóxio !

Com respeito e amizade,

Vitor Junqueira

Guiné 63/74 - P2978: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (13): A Guerra estava militarmente perdida... o 10 de Junho

Pensar em Voz Alta


Penso em voz alta e envio ou não? Se for, vagueará ciberespaço fora e pode aterrar; se não for ou não aterrar no destino, perde-se mais um amontoado de palavras ditas ou escritas.

Nesta tarde já de verão de 2008, quente e chata, resolvi tratar de assuntos para a segunda-feira que se aproxima. Li um bocado e abri o mail e a seguir o blogue.

1 - Faço por isso um breve comentário, puxando pelo que retive do que acabei de ler. O Texto (s) do Mário Fitas é uma reacção natural e epidérmica. O VB edita e não vem o nome de quem escreve. Mas ele sabe e certamente terá outra razão para o não fazer. Ser padre em certas freguesias é difícil ou deve ser. Creio eu. Assunto esclarecido e a polémica da guerra perdida ou ganha, a dar belo assunto de consulta, ao menos para memória futura, é pena ter acabado. Outra questões se levantarão.

2 – No texto escrito pelo Coronel Bernardo, em nota no ponto 2: diz o nosso Camarada Virgínio Briote ser responsável…meu caro Editor e Camarada, podes efectivamente ser – e és responsável – pela colocação do texto. Em tudo o mais, concorde-se ou não com o teor, todos os tertulianos se sentem sempre, penso eu e não me desiludam – claro que não…claro que não… – co-responsáveis pelos textos aqui, neste espaço colectivo, “postados”.
Se sentirmos a necessidade de comentar fá-lo-emos: - aprovando ou desaprovando!
No caso vertente, penso ser da mais elementar justiça que os nomes daqueles meus Camaradas venham a ter o nome deles no "Monumento". È assunto a levar páginas de escrita.

Só nota breve: foram cobardemente assassinados, pelo exército de libertação e sabemos, ou não sabemos?... Quem foram os responsáveis. Parece ser assunto a tratar um dia. Merece.
Há ainda tantos assuntos pendentes, tantos. Podem dizer ter eu um fraco pelo “Comando”. Certamente que sim e os Milícias e outros??? Bem…



3 – Não tenho escrito. Se escrevo não teclo ou se teclo directo como agora, muitos ficam. Motivos vários: expõe demasiado; pode provocar divergência e estou em tempo de pouca paciência; escrevo ao correr de…na recordação ou no avivar da memória daquele tempo, sentindo ainda hoje os verdes da mata, os putos e a alegria e risos de gente que sofria e mantinha a alegria; o pôr-do-sol; tudo isso e muito mais a virem brincar, ainda hoje, com os meus olhos e a entrarem calmamente na minha mente.

Um passado a virar presente, despretensiosamente, escrito da forma mais “primária” que consigo.
Relato a memória da guerra sem ir á guerra porca, á violência vivida. Era a guerra e…procuro não ir além de….

4 - Por isso se recebo e-mail de alguém, não em critica, talvez só em mera constatação – esse escritos perturbam…fico perplexo, daí talvez seja termo demasiado forte, admirado. Ai se eu fizesse o relato do que ficou gravado com “ferro em brasa”…

5 – Por formação sou solidário. Nem sei como se pode viver livremente sem essa prática. Pareço frio no trato ou na convivência. Vidas!
Isto a propósito do 10 de Junho do corrente:
Cá – não comento as palavras de um economista e dois "pensadores". Mas terão algo que comentar?!

Lá – há tempo, menos de dois anos, uma Senhora foi tratada de forma menos correcta por Militares. Ora um Militar, cidadão fardado tem o duplo dever de tratar correctamente todos e, mais ainda uma mulher. Está, hoje, um pouco esbatida essa questão do sexo ou de ser mulher. Sou velho e rejo-me por princípios de outrora e burro velho não aprende línguas. Mostrei, aqui neste espaço a minha solidariedade e disse que um militar tinha, por obrigação, um comportamento correcto. Devia ter ou não honrava a farda. Mas calei-me a pedido. Claro que sei que a democracia e a liberdade, como a entendo, ainda por lá lentamente se constrói…Desta vez nada digo.
Somente o lastimar e aproveitar para dizer: As Duas Faces da Guerra – ou as duas faces da Paz…

Tanto para comentar, tanto para dizer ou tanto para recordar. A assiduidade deve ser mantida.



Torcato Mendonça
Fundão
__________


Notas

1. Edição da responsabilidade de vb.

2. Caro Torcato:

O trabalho do editor está muito facilitado. As regras estão escritas no canto esquerdo, os tempos que levamos são de respeito pelo outro e as nossas idades também contam... E não estamos pressionados com shares. Mas vou pensar mais que uma vez antes de publicar um artigo não assinado.
Continua a Pensar em voz alta e não te esqueças de enviar.

Guiné 63/74 - P2977: Recortes de imprensa (6): a cidadã portuguesa, Cristina Silva, expulsa da Embaixada de Portugal em Bissau no 10 de Junho

1. Com a devida vénia: Correio da Manhã, 21 Junho 2008

Guiné-Bissau: Embaixador português ‘retaliou’
Expulsa por não cumprimentar


Uma cidadã luso-guineense foi expulsa da embaixada de Portugal na Guiné-Bissau pelo embaixador José Manuel Paes Moreira durante a cerimónia de 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, por não o ter cumprimentado, alegou o diplomata.

A visada enviou uma carta de protesto ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, e outra para o Parlamento português.

Em declarações ao Correio da Manhã, Cristina Silva, a vítima, manifestou-se indignada com a atitude do embaixador. "Fui chamada, por um segurança, para falar com o embaixador. Ele volta-se para mim e diz-me para abandonar a embaixada porque não o cumprimentei. Quando tentei explicar o que se passou, deu-me ordem de expulsão".

Cristina, casada com um professor de português que lecciona em Bissau, alega que chegou tarde à cerimónia. "Quando cheguei já tinham terminado os cumprimentos e não vi o embaixador. Isto não é caso para expulsão".

O gabinete de Luís Amado confirmou a recepção da carta e adiantou que a mesma "foi encaminhada para a secretaria-geral do Ministério para averiguar o que se passou". Recorde-se que, em Março último, as autoridades guineenses pediram a Lisboa a substituição do cônsul Eduardo Rafael acusado de "tratamento indigno" a guineenses.

Carlos Menezes


2. Nota do editor L.G. sobre a cidadã portuguesa em causa:

Nome completo: Cristina Ribeiro Schwarz da Silva (Pepas, para os amigos e familiares), filha mais mais velha de Carlos Schwarz da Silva, guineense, e Isabel Levy Ribeiro, portuguesa.

Tem 35, é licenciada em biologia marinha. Trabalha no IBAP- Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas da Guiné-Bissau. É Coordenadora para o Seguimento das Espécies.

Sobre a pessoa do embaixador de Portugal, que é posta aqui em causa (1), o nosso camarada e amigo J. L. Vacas de Carvalho não acredita tratar-se da mesma pessoa:

Luís e Pepito: Continuo a achar estranho. O nosso Embaixador na Guiné chama-se José Manuel Paes Moreira. Tem cerca de 60 anos e cerca de 60 Kg, usa bigode e é casado com uma amiga minha, que diz ser um indivíduo tímido mas muito educado.

Gostaria que me esclarecessem se é da mesma pessoa que estamos a falar.

Um abraço
Zé Luís

Resposta de L.G.:
Meu caro Zé: O teu amigo, ou o marido da tua amiga, como pessoa e como cidadão tem direito ao bom nome. Lamento o caso, por ti, por todos nós. Ninguém aqui vai fazer nenhum assassinato de carácter. Porém, como figura pública que é, está muito mais exposto, em termos mediáticos, à crítica da sua conduta pública. Além disso, é um funcionário público. E, para mais, é pressuposto representar-nos, a nós, portugueses e a ao nosso país, Portugal. Ora todos esperamos que os nossos diplomatas nos representem condignamente. A embaixada de Portugal em Bisssau é, para os guineenses (e para os portugueses que lá vivem ou que por por lá passam, em turismo, negócios, cooperação...), a montra ou o espelho de Portugal. É ou devia ser.
As notícias que nos chegam de Bissau, não parecem abonar algumas das condutas públicas do senhor embaixador. Não tudo o que se escreve ou diz, merece credibilidade, nem vou alimentar o blogue com este incidente (preferia chamar-lhe assim...). Acontece que o caso com a Cristina foi apenas a gota de água, ou é apenas a ponta do iceberg. Os numerosos portugueses que estiveram em Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (29 de Fevereiro a 7 de Março de 2008) ficaram furiosos com a atitude dele, na altura. Foram ignorados olimpicamente por ele. Ser tímido é uma coisa, mal educado é outra.
Infelizmente, há coisas mais graves e muito mais importantes, para o futuro dos nossos dois povos, do que o eventual mau humor do senhor embaixador e a sua postura pouco ou nada institucional. Se ele for uma pessoa educada, dá-nos pelo menos a sua versão dos factos e, no caso de se ter excedido, pode (e deve) apresentar publicamente as suas desculpas. Errar é humano, diz o nosso povo. Mas também diz: Quem não se sente, não é filho de boa gente. É assim que as coisas funcionam entre pessoas civilizadas e, para mais, entre lusófonos.
Estamos solidários com a Cristina mas também com o Carlos Schwarz e a Isabel Miranda, da AD - Acção para o Desenvolvimento, que foram deliberada e ostensivamente postos na lista negra, não tendo sido convidados este ano - ao fim de 33 anos ! - para a festa de Portugal e dos portugueses, por razões que, não sendo de Estado, só podem ser pessoais e pequeninas (pequeno é uma palavra que vem latim parvulu, parvu, parvo, pequeno...).
Zé Luís: espero, ao menos por ti, que não estejamos a falar da mesma pessoa e, por todos nós, amigos e camaradas da Guiné, que não estejamos em vão a gastar o nosso precioso latim...
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Nota de L.G.:
(1) Vd. poste de 18 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2958: E os nossos assobios e pateadas vão para... (1): Um embaixador que não honra Portugal... (Luís Graça / Pepito)

Guiné 63/74 - P2976: Fórum Guileje (16): Como está a lusofonia em Bissau ? (António Rosinha / Luís Graça)


1. Mensagem do António Rosinha, com data de 15 de Abril de 2008. Recorde-se que o Rosinha foi Furriel Miliciano em Angola (1961) e, como civil, trabalhou na Guiné-Bissau, entre 1979/84, como topógrafo da TECNIL (1):



Assunto - O SIMPÓSIO DE GUILEJE E O QUASE DESAPARECIMENTO DO PORTUGUÊS E DO CRIOULO, DE UM PAÍS LUSÓFONO (2)


Luís, co-editores e co-tertulianos,

Penso que, ao lermos e vermos as reportagens sobre a referida viagem à Guiné [,por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008,], uma das coisas que mais chama à nossa atenção é o facto de quase não ouvirmos guineenses a falar a nossa língua.

E, eu digo, até o próprio crioulo está muitíssimo rarefeito.

Escreveu o Luís Graça, que o Presidente Nino falou em professores que Portugal podia enviar...

Agora não vai ser o politicamente correto que vai-me limitar a relatar aquilo que eu assisti, durante vários anos, que levou ao lento desaparecimento da língua portuguesa, da terra onde havia imensos guineenses, lusoguineenses, suecos, soviéticos, etc. que falavam a nossa língua tão corretamente como qualquer um de nós.

A primeira razão foi aparecer o que o IN resolveu chamar as "zonas libertadas". Na realidade não eram libertadas, mas sim pura e simplesmente abandonadas, não só pelo exército português, como pelo PAIGC, isto ao ponto de passados 20 anos após a independência em Madina do Boé, reconhecida na ONU, para dar um exemplo, toda aquela região nunca mais teve escolas, médicos... E as visitas dos governantes eram muito raras, isto entre a jangada de Ché-Ché, Boé e toda aquela região fronteiriça.

A segunda razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, etc., logo após o 25 de Abril. Muitos vieram para Portugal, outros para Caboverde, outros para a França, e até para os países vizinhos. Com receio a qual IN? Pergunto, mas não respondo.

A terceira razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, etc., logo após o 14 de Novembro de 1980. Muitos vieram para Portugal, por exemplo Luís, o irmão de Amílcar, outros para Caboverde, França, e até para países vizinhos. Com receio a qual IN? Pergunto, mas não dou resposta.

A quarta razão foi a fuga de imensos falantes de um português correcto, entre eles, professores, funcionários, comerciantes, treinadores de futebol e jogadores, militares, em 1998, em que Bissau esteve ocupado pelo exército senegalês, e a nossa Marinha acompanhou de perto e nós em Portugal tivemos ocasião de assistir pela TV ao desembarque de muita daquela gente em Lisboa. Fugiram a qual IN?

Existem outras razões para o desaparecimento do português/crioulo, por exemplo, imensos doutores que foram, alguns ainda durante a luta com 10 anos de idade, subtraídos aos pais, enviados para a então URSS, e vieram com 24/25 anos, sem domínio do portugês nem crioulo. E mesmo, dos muitos guineenses formados que nos países do leste, os desprotegidos, como os que se formaram no ocidente, os protegidos, nem sempre regressam à Guiné. Porquê?

E as fábulas de donativos de ONG e de vários países que, quer durante a luta como durante muitos anos seguintes, continuaram a dar quer para a educação como para a saúde, mas que por azar não se notou nada no desenvolvimento daquele país. Porquê?

Termino por aqui, apenas para dizer algo que se deu comigo directamente: Foi-me exigido, no meu currículo para um determinado trabalho na Guiné, falar francês.

Penso que ao abordar este assunto não é intrometer-me nos assuntos da Guiné, mas apenas dar uma ajuda para compreender um ponto de vista da nossa guerra.

Um abraço
António Rosinha

2. Comentário de L.G.:

António:

Regressaste, da Guiné-Bissau, há 24 anos... É muito tempo. Não sei se lá voltaste. De qualquer modo a situação da lusofonia não terá piorado, como tu afirmas. Os guineenses, com quem eu lido em Portugal (nomeadamente, profissionais de saúde, médicos, etc.), mesmo quando estudaram na China, em Cuba, ou nos ex-países comunistas da Europa Leste, dominam o português, escrito e falado, e muitas vezes muito melhor que a generalidade da população portuguesa. Dirás que têm essa obrigação, já que pertencem a uma elite escolarizada, com formação universitária, etc. Organizações não-governamentais como a AD - Acção para o Desenvolvimento e que empregam dezenas de quadros e colaboradores (alguns dos melhores quadros da Guiné-Bissau) têm o português e o crioulo como línguas de trabalho. Os seus relatórios são em português, e de bom português. No contacto diário com as populações interiores utilizam, naturalmente, o crioulo. Durante o Simpósio contactei com um parte deles, e sempre falámos em português, em bom português.

Em Bissau, na semana do Simpósio Internacionald e Guileje, tivémos duas audiências, uma com o primeiro ministro e outra com o Presidente da República: a única língua que se falou foi o português. O próprio Simpósio Internacional de Guileje foi em português, embora tenha havido algumas intervenções em crioulo por parte de antigos guerrilheiros.

Há excelente gente, na Guiné-Bissau, a escrever excelente português... a fazer teatro, a fazer música, a fazer cinema, a fazer jornalismo... Em português e em crioulo (este mais falado do que escrito). E aqui, justiça seja feita, cabe também um papel de relevo ao Centro Cultural Português (CCP), que é dirigido pelo Frederico Silva, o diplomata português que nos acompanhou na visita ao sul da Guiné-Bissau, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, no âmbito do Simpósio Internacional de Guileje.

Por exemplo, recentemente realizou-se, em Abril passado, o Encontro do Teatro da Guiné-Bissau 2008, com o apoio do CCP (mas também dos nossos amigos e parceiros da AD - Acção para o Desenvolvimento). E sobre esta iniciativa, pode-se ler-se no sítio Oficinas em Movimento - Oficinas em Língua Portuguesa do PASEG (Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau)

(...) "O Encontro de Teatro da Guiné-Bissau 2008 contou com a participação de 13 grupos de teatro guineenses (dois deles do interior da Guiné-Bissau), com a realização de três ateliers na área do teatro (cada um com uma média de 25 formandos), dirigidos aos actores dos 13 grupos participantes, e com um debate final, no dia do encerramento, sobre o Teatro na Guiné-Bissau. Durante a semana do Encontro esteve ainda patente no Centro Cultural Português uma exposição permanente de fotografias, textos dramáticos, cartazes e históricos dos 13 grupos de teatro participantes.

(...) "O público foi incansável e, a cada dia, ia enchendo mais o Centro Cultural Português, onde cada grupo foi apresentando as suas peças de teatro. Nos dois últimos dias as actuações contaram com lotação esgotada! As apresentações do último dia, resultantes dos ateliers, foram de tal maneira enérgicas que o público permaneceu de pé a aplaudir actores e formadores. Foi difícil concentrar novamente os participantes na realização do debate sobre o Teatro na Guiné-Bissau, mas passada a euforia, os representantes dos grupos de teatro e o público trocaram ideias interessantes e capazes de inicar uma movimentação enriquecedora do teatro na Guiné-Bissau. No final, o PASEG ofereceu um Buffet a todos os presentes" (...).

Eu sei que a Guiné-Bissau não é o campeão da lusofonia, e está cercada por francófonos de todos os lados. Eu sei que a Guiné é uma frágil economia e está à beira de um garvce crise, devido à escalada e à escassez de bens essenciais, como o gasóleo e o arroz. Eu sei que os melhores fiulhos da Guiné-Bissau são hoje obrigados a emigrar. Eu sei que os sucessivos governos portugueses, depois do 25 de Abril, se calhar não têm feito, como é(era) esperado que o façam, o trabalho de casa, como deve ser, em matéria de cooperação com os países africanos de expressão oficial portuguesa... De qualquer modo, a escolha do português como língua oficial não foi imposta por nós, é uma opção livre e consciente dos guineenses! E isso é um motivo de orgulho para todos nós, lusófonos, e uma oportunidade de enriquecimento cultural mútuo. Implica também, naturalmente, direitos e deveres, de um lado e de outro.

Meu caro Rosinha, não podemos fazer da língua uma arma de arremesso, nem muito menos um instrumento de políticas neocolonilistas, ou um factor de divisão nas relações entre os nossos dois povos... Pelo contrário, deve ser um traço de união, uma ponte, entre nós... Por outro lado, nós, portugueses, não somos donos da língua portuguesa.... Às vezes comportamo-nos como se o fôssemos. Se não tivéssemos sido conquistados e colonizados pelos romanos, nunca Camões teria escrito os Lusíadas, nem Amílcar Cabral teria escrito em português: Mamãi Velha, venha ouvir comigo / o bater da chuva lá no seu portão... A chuva amiga já falou mantenha / e bate dentro do meu coração. Nem o Manuel Lopes ou o Pepetela ou o Mia Couto ou o Hondjaki ou a Paulina Chiziane teriam existido como escritores lusófonos.

Tudo isto parta te lembrar que os guineenses são também nossos parceiros na aventura da língua... Parceiros, pares, de igual estatuto, é bom não esquecê-lo!

E a propósito da lusofonia, vejam-se algumas citações constantes do sítio Portugal em Linha:

"A Lusofonia é o meu Bilhete de Identidade. Exibo-o (com orgulho, pois claro!) em Angola, Brasil, Cabo Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. A Lusofonia é, enfim, o ar puro que respiro onde quer que vá. A Lusofonia é a música com a qual exprimo os meus sentimentos. Canto-a alto e bom. A Lusofonia é a minha mátria, não largo os seus panos. O amor que nutro por ela é puro, verdadeiro. Por isso recuso-me a cultivar outra fonia que não a lusa" (Jorge Eurico).

"Por esse Mundo fora, literalmente, há mais de 200 milhões que se expressam através da Língua Portuguesa. Portugal em Linha consegue manter os cinco continentes unidos há 12 anos e o contributo desse esforço continuado é, muito provavelmente, mais relevante do que o trabalho desenvolvido por algumas instituições de designação sonora" (Paulo Silva).

"Porque partilhamos os mesmos valores, porque somos África e somos Europa, somos Mundo, é importante comunicar com Portugal…em linha" (Liliana Castro).

"A língua portuguesa é o principal veículo de comunicação de cerca de 200 milhões de falantes oficiais matizada pelas características impares de cada um dos 8 países e 1 região que a conjugam. E para isso conta com a ajuda inestimável do Portugal em Linha!" (Eugénio Almeida).

Não estou por dentro da situação do ensino do português na Guiné-Bissau, nem sequer acompanho com a atenção que devia, a actualidade política, social, económica e cultural da Guiné-Bissau. De vez em quando espreito os portais, as notícias, oiço a rádio e a televisão.... Mas tenho ideia que há hoje um maior empenhamento, por parte de Portugal, do Brasil, de Angola e de outros países lusófonos, em reforçar a lusofonia na Guiné-Bissau. Senti que o próprio Nino Vieira é hoje um dos paladinos da lusofonia, por razões estratégicas tanto internas como externas. O apelo que ele nos fez, pareceu-me sincero e sem complexos: mandem-nos professores de português, vocês que têm gente desempregada, e que aqui [, na Guiné-Bissau,] seriam preciosos!

Sei que a situação, à partida, é má. Já era muito má, no final dos anos 50, no início da guerra: vejam-se as conhecidas denúncias do fundador e líder histórico do PAIGC, um lusófono de grande nível intelectual, e que se orgulhava do português como língua, que escrevia em (e falava) um excelente português, e que impôs o português como língua (estrangeira) aos povos da Guiné que ele queria libertar...

Era o português que era ensinado nas escolas das tais regiões libertadas ou nas bases da rectaguarda, na Guiné-Bissau e no Senegal. Os manuais escolares do PAIGC, impressos na Suécia, eram escritos em português (e o primeiro foi em 1964)... O Amílcar Cabral podia ter escolhido o francês, para se libertar, mental, psicológica e culturalmente, pelo menos, da opressão dos colonizadores portugueses: porque não o fez ? ... Por que era um homem extremamente inteligente e culto, porque era uma estratego clarividente, porque era amigo do povo português, e porque o português foi a sua língua materna ou paterna (o pai, pelo menos, era professor pimário...). Este e outros factos não podem ser ignorados, escamoteados ou branqueados...

Sendo historicamente escassa a nossa presença humana no território da Guiné-Bissau, a situação da língua portuguesa também não melhorou excepcionalmente com a presença de algumas dezenas de milhares de soldados metropolitanos durante a guerra do ultramar / guerra colonial(1963/74). Houve alguns progressos, mas tardios. Recordo que, na altura em que eu estive na Guiné (1969/71), já sob o consulado de Spínola, os homens que faziam parte da minha companhia, a CCAÇ 12 (que nós fomos formar em Contuboel), não falavam nem escreviam português. Eram fulas, eram analfabetos (embora alguns soubessem algum árabe e algum francês), e por isso mesmo classificados e tratados como soldados de 2ª classe!!! Aprenderam a falar português comigo e com os outros camaradas, oriundos da metrópole... E alguns chegaram a graduados, depois de terem, com êxito, frequentado as nossas escolas militares e feito o exame da então 4ª classe, com manuais feitos em Lisboa, para as crianças portuguesas da Metrópole...

Rosinha: Há outras questões que levantas, e que eu agradeço, mas que não têm uma resposta fácil. De qualquer modo, nesta como noutras matérias, de natureza cultural, não me interessa tanto o passado, como sobretudo o que podemos fazer juntos, hoje e no futuro. Por que queremos justamente continuar a comunicar, mais e melhor, com os nossos amigos guineeenses, em português, em bom português. É por essa razão que eu não partilho, inteiramente, do teu pessimismo, mesmo sabendo que tens um grande carinho pelas gentes da Guiné, e que queres o melhor para elas.

Um grande abraço. Mantenhas. Luís Graça.
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Notas de L.G.

(1) Vd. postes de:

29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1358: Nostalgias (1): No cais do Xime, dois velhos Unimog pedindo boleia a algum barco (António Rosinha, ex-topógrafo da TECNIL)

14 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2178: Efemérides (6): 24 de Setembro de 1973... Quo Vadis, querida Guiné ? (António Rosinha / Leopoldo Amado)

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2201: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (2): Eu estava lá em 1961 e lá fiquei até 1975 (António Rosinha)

17 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2274: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (6): Luís Cabral, os assimilados e os indígenas (António Rosinha)

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2420: Notas de leitura (6): Amílcar Cabral, um lusófono fazedor de utopias (António Rosinha)

(2) 13 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2754: Fórum Guileje (15): Há ainda muita gente do PAIGC calada... Por medo ? Por falta de domínio da língua de Camões ? (Mário Fitas)

Guiné 63/74 - P2975: Ser Solidário (11): Sugestões de colaboração (José Teixeira)


José Teixeira
ex-1.º Cabo Enfermeiro
CCAÇ 2381
Buba, Quebo, Mampatá e Empada ,
1968/70



1. Em 5 de Junho de 2008, o nosso camarada José Teixeira enviou-nos esta mensagem com sugestões de colaboração. Deixamo-la à consideração de todos os nossos leitores.

Luís:_ Saúde, paz e felicidade, para ti, tua esposa e familia e, colaboradores no Blogue e bloguistas.

No Encontro da Tabanca Grande em Monte Real, a tua esposa e querida amiga levantou-me esta questão: Como ajudar aquela gente a sair da situação difícil em que se encontra?

Deixou-me a pensar e agora aí estou eu - o chato do costume - a provocar mais um desafio.

Gostava de te pedir para colocares no blogue os indicativos das Associações, na sua maioria criadas por antigos combatentes, e que estão a juntar-se outras gentes, mais novas, mas sensíveis. Segue também uma carta, desafio, que pedia para ser publicada, se assim o entenderes.

Fraternal abraço para udo djenti da Tabanca Garandi

2. Caros tertulianos.

A Guiné Bissau, que nós tão bem conhecemos e onde deixámos um pouco do nosso coração, tem actualmente profundas carências nas mais diversas áreas. Políticas mal orientadas, como a de trocar a produção do arroz pela produção da castanha de cajú, aconselhada pelo Banco mundial, aliadas à falta de experiência politica dos seus governantes e outras, têm conduzido aqueles povos a uma miséria extrema, da qual é preciso retirá-los.

Creio que, com a nossa ajuda, por mais pequena que seja, pode ser uma alavanca de crescimento nas áreas do ensino, cultura, saúde, economia, etc.

Desafiei-vos há algum tempo a lançarmos uma campanha de recolha de sementes em atendimento ao griiiiiiiiito das mulheres de Cabedú, na inauguração do seu fontenário, na qual eu tive imenso prazer em estar presente juntamente com outros antigos combatentes e comungar da sua enorme alegria.

Pretendi dar seguimento ao apelo do Zé Carioca, antigo combatente em Guileje, que comigo viveu o acto e mais que eu se comoveu com o pedido daquelas mulheres. Ele já está a trabalhar nesse projecto. Possivelmente, sentir-se-á muito sozinho, pois ninguém de nós deu sinais de querer ajudar.

Outros desafios se nos põem: A Associação dos Padrinhos de África - http://www.padrinhosdeafrica.org/ - tem um projecto em desenvolvimento de apoio escolar para crianças sem pais, ou pobres para que tenham condições de estudar.

Eu estou em ligação com este projecto e posso dar orientações a quem estiver interessado.

Deixai-me apresentar uma proposta às vossas esposas e filhos para que assumam o apradrinhamento de uma criança da Guiné. Pede-se por mínimo de 60,00€ por ano, mais 12,00€ de filiação na Associação. Acham muito?

Outros desafios:

i - http://saude-alerta.blogspot.com/.
Um dos projectos actuais é melhorar as condições do Centro de Saúde de Buba.

"O CS-Buba, recebe diariamente problemas com a saúde infantil, desde diarreias, problemas gástricos, paludismo, problemas respiratórios, etc. A população não tem culpa, de uma saúde doente e em colapso na Guiné. Ao passarmos por esta vila, em 20 de Fevereiro de 2008, 5 mil pessoas sairam à rua implorando-nos ajuda. Levámos roupa, calçado, brinquedos, livros e manuais escolares, dicionários e gramáticas, material de apoio à escola, mas... não imaginávamos que algo mais grave e preocupante estava ali diante dos nossos olhos.
Uma gente carinhosa, respeitadora, afável e hospitaleira. Este povo de Buba, merece um pouco da nossa atenção".




ii - http://humanitarius.roxer.com/.

"Em Outubro de 2007, produzimos uma campanha nacional, para levar à Guiné, especialmente ao seu interior, o produto da recolha de material escolar, entre muitos outros donativos, que foram chegando para essa campanha. Em Fevereiro, a expedição partiu rumo à Guiné, atravessando o sul de Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental, Mauritânia, Senegal e finalmente a Guiné. Uma viagem de 6 dias que permitiu a este grupo de expedicionários conhecer outras culturas e, sobretudo, outras realidades distanciadas do europeísmo, e sua forma de vida. A expedição humanitária levou consigo 3 projectos de expressiva relevância: o "Ler e Conhecer" com Vanda Germano e Jorge Baptista; o "Teatro vai à Escola" com João Bota e Tania Nascimento, do TIPO (Teatro Infantil de Portimão); e o "Escola para todos" com João Almeida, Helena Duarte, António Camilo, e Artur Cruz.
Roupas, brinquedos, 3 cadeiras de rodas, material ortopédico, calçado, mochilas, bolas e camas para bebé, que fizemos chegar a instituições várias, como a Missão de Nhouma, e Casa Emanuel um dos prestigiados orfanatos da Guiné-Bissau.
Por 16 escolas de Tabancas (aldeias) distantes da capital, entregámos o mais diverso material escolar, sendo que algumas dessas escolas receberam dos nossos voluntários, roupa e calçado, e alguns equipamentos desportivos.
No Hospital Simão Mendes, em Bissau, entregámos ao serviço de pediatria, muitos brinquedos que fizeram por certo aquelas crianças mais felizes. No mesmo hospital, foram entregues ao Administrador e médico Dr. Agostinho Semedo, duas (2) cadeiras de rodas, que foram doadas à associação, pelos Rotários de Loulé e Karting de Almancil. Uma das três cadeiras, ficou justamente na Cooperação Portuguesa em Bissau, para que este equipamento possa, caso seja necessário, servir os cooperantes portugueses em serviço na Guiné.
Excedentes desta campanha, foram ainda destinados a Bubaque, uma das 88 ilhas que compõem o arquipélago dos Bijagós, onde são notórias as dificuldades a todos os níveis, especialmente no sector da educação

iii - Associação Humanitária Memórias e Gentes




"O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores"
(Paulo Quintana)




Associação sem fins lucrativos/Matriculada na C.R.C. de Coimbra NIPC 508 343 461, Parceiro especializado da Liga dos Combatentes para acções humanitárias.

Contacto: E-mail j.moreira@sapo.pt / Telem 96 402 80 40

Vd. poste de 13 de Fevereiro de 2008> Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau

3. Caros tertulianos, um desafio novo vos apresento - Tenhamos a coragem de ajudar a Guiné.

Peço aos gestores para colocarem na página do Blogue estes endereços para que todos nós possamos consultar sempre que desejarmos.

Na esperança de que se abram os vossos corações.
O camarada
José Teixeira

domingo, 22 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2974: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (12): Mais algumas fotos ao acaso (Mário Fitas)

Por ordem aleatória, aqui ficam mais umas fotos do nosso Encontro Nacional no dia 17 de Maio, em Montereal, enviadas pelo nosso camarada Mário Fitas, ou Mário Vicente, autor de Pami Na Dondo, A Guerrilheira.

Nesta mesa pontuam, Carlos Santos, sempre presente nos nossos Encontros, mas que teima em não aderir à nossa Tabanca Grande; António Santos; Fernando Franco, ao telemóvel, as pessoas importantes são assim; o seu inseparável amigo António Baia, e o meu capitão Jorge Picado.
De pé, David Guimarães; eu e o Silvério Lobo, que conheci pessoalmente só em Montereal, apesar de morar em Matosinhos.


França Sores conversa com um camarada que não consigo identificar e, à sua esquerda, Vasco Ferreira acompanhado de sua esposa. Mais três senhoras completam este grupo.


Estes três camaradas vieram juntos ao Encontro. O nosso Ten Cor Ref Rui Alexandrino Ferreira, autor do livro Rumo a Fulacunda; Martins Julião e Carlos Santos.


Rui Alexandrino Ferreira, Idálio Reis, Virgínio Briote e Delfim Rodrigues escutam atentamente o António Batista (ao centro) o nosso morto-vivo do Quirafo.


Mais um grupo de bons camaradadas. Raúl Albino; Vacas de Carvalho; Henrique Matos; Mário Beja Santos, autor do livro Diário da Guiné 1969-1969, Na Terra dos Soncó e, por último, mas não menos importante, Paulo Santiago. O último camarada, lamentavelmente, não consigo identificar.


O ex-Cap Mil Jorge Picado em amena conversa com o nosso camarada França Soares.


Na penumbra, conspirando, Henrique Matos, Torcato Mendonça e Jorge Cabral. Salientemos a colaboração destes dois últimos camaradas que animam o nosso Blogue com as suas intervenções, Histórias de Mansambo e Estórias Cabralianas.


Atentos aos fadunchos brilhantemente interpretados pelos artistas da casa, estão o António Baia (de pé) e o Fernando Franco (sentado). Encoberto pela senhora que está em primeiro plano, adivinha-se o nosso camarada António Santos.


Neste grupo de camaradas estão: o nosso médico Vitor Junqueira; um camarada que lamento não identificar (quem me ajuda?); António Graça de Abreu, autor do livro Diário da Guiné Lama, Sangue e Água Pura; Delfim Rodrigues; Maurício Esparteiro e Vacas de Carvalho.


Nesta foto, Carlos Marques Santos está acompanhado da senhora dona Irene e de sua filha dona Maria Irene, respectivamente, sogra e esposa do nosso camarada Virgínio Briote.


Este grupo é composto por António Barroso; Francisco Silva e esposa; Álvaro Basto e esposa, à sua direita.

Fotos: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.

Selecção das fotos e legendas da responsabilidade do editor

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Nota de CV:

(1) Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P2973: Poemário do José Manuel (18): Não se morre só uma vez...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Fase da construção da estrada, quando a mesma passava em frente à escola de Mampatá

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Descanso e meditação em Nhacobá após missão para os lados do rio Cumbijã. Fur Vieira, Fur José Manuel, ao centro, o Fur José Pedro Rosa, o homem do apoio com os obuses, o Fur Gomes do Pel Caç Nat e o Cap Mil Luis Marcelino" [da CART 6250].

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Segurança a uma coluna de abastecimento que, partindo de Buba, levava de tudo um pouco até Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa".

Fotos, poema e legendas: © José Manuel (2008). Direitos reservados.

Não se morre só uma vez (1)
se eu morrer
vive no meu lugar
se eu chorar
ri por mim sem parar
quando um amigo cai
algo de nós também vai
morremos quando sofremos
morremos quando perdemos
morremos quando calamos
a razão dentro de nós
e se alguém morrer de vez
vive por ele a dobrar
não vale a pena chorar
riam riam
riam sempre sem parar.

Nhacobá 1973
josema
___________

Nota de L.G.:

(1) Vd. postes da série:

15 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2946: Poemário do José Manuel (17): A Companhia dos Unidos

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2911: Poemário do José Manuel (16): Saudades do Douro e do Marão...

25 de Maio de 2008 >Guiné 63/74 - P2884: Poemário do José Manuel (15): Dois anos e alguns meses

17 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2852: Poemário do José Manuel (14): É tempo de regressar às minhas parras coloridas...

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2844: Poemário do José Manuel (13): A matança do porco, o Douro, os amigos de infância, os jogos da bola no largo da igreja...

9 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2824: Poemário do José Manuel (12): Ao Zé Teixeira: De sangue e morte é a picada...

2 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2806: Poemário do José Manuel (11): Até um dia, Trindade, até um dia, Fragata

24 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2757: Poemário do José Manuel (8): Nhacobá, 1973: Naquela picada havia a morte

10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2739: Poemário do José Manuel (7): Recuso dizer uma oração ao Deus que te abandonou...

5 de Abril de 2008 Guiné 63/74 - P2723: Poemário do José Manuel (6): Napalm, que pões branca a negra pele, quem te inventou ?

28 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2694: Poemário do José Manuel (5): Não é o Douro, nem o Tejo, é o Corubal... Nem tudo é mau afinal.... Há o Carvalho, há o Rosa...

19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2630: Poemário do José Manuel (3): Pica na mão à procura delas..., tac, tac, tac, tac, tac, TOC!!!

9 de Março de 2008 >Guiné 63/74 - P2619: Poemário do José Manuel (2): Que anjo me protegeu ? E o teu, adormeceu ?

3 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2608: Poemário do José Manuel (1): Salancaur, 1973: Pior que o inimigo é a rotina...

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

Guiné 63/74 - P2972: Blogoterapia (56): Porra, também somos gente, camaradas! (Mário Fitas)




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > "Foto do Gibi Baldé a quem cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores" (MF).

Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.



1. Mensagem do Mário Fitas (ex-Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66)


Assunto - A Guerra estava militarmente perdida? Pedido de publicação urgente


Como dimensão do tempo, prolongando-se do passado ao presente, o Futuro não é pontual mas linear.O Futuro orienta-se e existe como uma prospectiva, planificação e previsão. O presente projecta-se sobre o Futuro enquanto houver capacidade real de o realizar.Nasce assim a ciência da futurologia. Assim sendo, o Futuro está consubstanciado na literatura de ficção científica, mitologias e utopias. A futurologia solicita à mente humana uma conversão do Tempo, o por-vir.

A Prudência, como correctora de toda a liberdade do homem, sendo uma virtude de razão prática contendo o conhecimento necessário para gerir a conduta humana no meio das suas próprias humanas contingências. Deve ser não só de apanágio de aplicação no ser humano.

Tudo isto começou com o P2706 do camarada Beja Santos sobre um livro do Cor Amaro Bernardo. Pelo P2711 respondi e formulei questões ao camarada Beja Santos, o qual resolveu não responder muito bem! Está no seu direito! Também nada disse sobre o P2713 do Cor Amaro Bernardo. Preferiu o P2760 do Graça Abreu.

Iria escrever um texto que julgaria interessante, mas verificando o P2966: A Guerra estava militarmente perdida? Comentário de um Guineense (Anónimo), editado pelo Virgínio Briote.
Com a Nota: Escreva Sempre...

Recuso-me! Não aceito entrar num Blogue onde haja Anónimos! Não aceito que se ofenda o mais insignificante soldado Português! Recuso-me a entrar em jogos destes! Não estou ao nível deste Anónimo.

Luís, as minhas desculpas, mas tenho direito a uma explicação no Blogue a tudo isto. Junto envio foto do Gibi Baldé, a qum cortaram as mãos, entre dois brancos, eu e o falecido Sargento-Mor Luís Tavares de Melo, natural dos Açores.

Embora o meu estado de espírito...

O abraço de Sempre do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > O Mário Fitas, ou melhor, Mário Vicente, o aclamado criador da Pami Na Dondo, a guerrilheira... Recorde-se que ele foi Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, os Lassas de Cufar (1965/66). É natural de Elvas e ainda tem muitas histórias para contar. O pai e o avô viveram, intensamente, as repercussões da guerra civil espanhola, ali às portas de casa. Como qualquer bom alentejano, o Mário é um excelente contador de histórias.


Foto e legenda: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


2. Comentário do editor L.G.:

Mário: Tens razão (ou até podes ter razão...) mas tens de controlar as tuas emoções... Ficaste visivelmente perturbado. E e eu entendo. Mas não podemos reagir assim. Aliás, na frente de batalha, não reagíamos assim. Felizmente que, em geral, as NT (e o nosso IN, na época) não regíam assim. Díziamos: calma, rapaz, está com a cabeça grande...



O VB decidiu, bem ou mal, publicar o comentário de um jovem guineense da diáspora... Ele, como editor, convidado por mim e com provas dadas de isenção, ponderação, bom senso, sensibilidade, experiência, cultura e um notável currículo (profissional e... operacional), tem autonomia para o fazer. Naturalmente isso não o isenta de possíveis críticas. Os editores do blogue não estão acima do resto do pessoal da Tabanca Grande...

Mário: Em princípio, não publicamos comentários anónimos (ou não devíamos)... Mas é tão raro aparecer um guineense que escreva razoavelmente o português (que é a língua materna de apenas 5% dos guineenses!)... O VB entendeu, e bem, que este comentário do tal guineense do exterior, mesmo anónimo, podia e devia ter mais visibilidade...

Deve tratar-se de um jovem quadro, que vive no exterior, e deve ter sido formado/formatado no exterior (talvez em Cuba, nos países de leste; ou porque não em Portugal ?)... Alguns deles, por terem crescido, vivido estudado em países onde não havia o pluralismo democrático (tal como não havia no Portugal dos anos quarenta/cinquenta em que nascemos...), tendem a ter uma visão ideológica, rígida, pouco crítica, do passado...



Por outro lado, alguns destes quadros guineenses (médicos, engenheiros, juristas, jornalistas, professores, etc.) que vivem no exterior, poderão ter (ou experimental) algum desconforto ou sentimento de culpa por isso mesmo, por serem relativamente privilegiados em relação ao seus irmãos que lá vivem, na miséria de Bissau ou das tabancas do interior, ao mesmo tempo que precisam de ter algum orgulho na geração dos seus pais, dos pais (e mães) fundadores da nacionalidade, de Amílcar Cabral a Pansau Na Isna, de Nino Vieira a Carmen Pereira.

Atenção: é um povo, nosso amigo, nosso irmão, que está a construir a sua identidade !... E que precisa de um mão amiga e fraterna... Vamos recusá-la ? Vamos amputá-la ?

Mário: não vamos dar muito importância a uma ou outra expressão mais excessiva... Vamos manter a cabeça fria. Não vamos puxar de novo pelas G3 e pelas Kalash... Sabes muito bem até onde, até que é tragédia, podem levar as questões de honra, de valores, de peito feito à balas...

Esquece, por favor, um ou outra expressão mais dura, mais agressiva (contra a missionação católica, por exemplo)... Não vamos responder taco a taco... Não vamos contar as cabeças cortadas... Põe-te na pele de um guineense e atravessa os últimos cinco séculos da história da Senegâmbia (onde se incluía a actual Guiné-Bissau, o Senegal, a Gâmbia, a Guiné-Conacri...) cujas fronteiras foram desenhadas a régua e esquadro pelas potências coloniais europeias, do domínio dos mandingas até à "pacificação militar" feita por homens como o Capitão Diabo (1913-1915), da subjugação dos mandingas e demais povos guineenses pelos fulas, da derrota dos fulas aos pés dos tugas, da guerra colonial ao ajuste de contas pós-independência... E já agora fala-nos do teu amigo Gibi Baldé e das atrocidades de que foi vítima, a seguir à independência, segundo presumo.

A Guiné-Bissau, tal como Portugal e os demais estados, tanto os mais antigos como os mais jovens, foi parida na dor, na violência, na conquista, na luta fraticida... Eu sei que há tabus, de que não falamos aqui, até porque sabemos pouco do que lá se passou... Quem não tem esqueletos nos armários ? Eu também gostaria de saber melhor o que se passou em Cassacá, no 1º Congresso do PAIGC, em Fevereiro de 1964, enquanto mais a sul as NT procuravam afirmar a soberania portuguesa sobre a Ilha de Como. Mas isso passou-se no seio de um movimento revolucionário, de que nemhum de nós era membro, militante ou partidário... Espero que os historiadores possam um dia contar-nos a história, sem ser por testemunhos enviesados, por portas e travessas...

O VB aproveitou entretanto para esclarer a origem deste comentário (a um poste do António Graça de Abreu) , o que no princípio não era claro... Volto a publicá-lo a seguir. Recebe um abraço do Luís, do Virgínio e do Carlos, os três mosqueteiros (ou melhor, bombeiros voluntários...).


3. Caro Guineense Anónimo no exterior:

Registamos o seu artigo, escrito sem complexos, e é sem complexos que o publicamos. E aceitamos o seu desafio: preservar a fraternidade entre os dois Povos. Escreva sempre. Mas, de preferência, dê a cara e identifique-se. Presumo que não esteve registado no Google, razão por que o seu nome não aparece no comentário. Vejo, por outro lado, que é mais jovem do que os homens e as mulheres que outrora lutaram, uns contra os outros, e que hoje se respeitam e são capazes até de se abraçar.

Por norma, não publicamos postes anónimos. Recuperámos o seu comentário, na esperança de que mais guineenses, da terra ou da diáspora, da sua geração e da geração dos seus pais, participem, com serenidade e fraternidade, neste desejável e necessário diálogo sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos povos.

Caro amigo guineense da diáspora: Não sei onde vive. Há muito que enterrámos as lanças de combate. Não vamos agora abrir feridas cicatrizadas. Respeitemos a memória daqueles de nós, de um lado e de outro, que morreram na guerra do ultramar/guerra colonial/luta de libertação. Mesmo entre nós, portugueses, há ainda questões que nos fracturam e dividem.

Não é fácil nem confortável fazer o balanço das nossas relações históricas. Por nós, como sabe, recusamos o princípio (monstruoso) da responsabilidade colectiva dos povos... Aplicado à Guiné-Bissau isso iria novamente lançar povos contra outros povos: os mandingas contra os fulas, os fulas contra os balantas, os guineenses que colaboram com o esclavagismo e o colonialismo contra as suas vítimas, e por aí fora... Aprendamos a ler a história, aprendamos com a história, não cometamos os mesmos erros das nossas elites do passado...

Mantenhas. O editor Virgínio Briote.

4. Comentário final, com data de hoje, do Mário Fitas:

Luís, tens absoluta razão em tudo o que dizes, mas também somos gente, e talvez colonizados de uma maneira mais cruel, que é de nos levarem (como País) a baixarmos as calças a tudo quanto é grande.

Não há muito, escrevi e assumo-o para um jornal: Depois de D. João II e de Camões, o pouco que nos resta, é actualidade de Eça de Queiroz e a eternidade da 'Porca' do Bordalo Pinheiro.

Há coisas injustas, na Guiné nós trabalhámos a argila, o Barro. Na Guiné, não havia colonos brancos... Os militares que lá estiveram? É verdade que poderiam ter fugido para França, Alemanha, etc. para toda a Europa! Mas como?...No entanto, ensinaram a ler e deram de comer e alegrias aos Guineenses.

Daquilo que eu iria escrever, constava a autorização do Pansau para o pessoal [da Ilha]do Como ir vender arroz a Catió, para poder ter alguns proventos. Isto porque o Nino se tinha ausentado do Cantanhez para Conacri. Sensibilidades diferentes, e que fazem parte da História dos nossos Povos. Como sabes, e para quem não sabia aqui fica a informação, toda a produção de arroz era obrigatóriamente entregue para o Cantanhez.

Eu não deveria escrever isto, porque não estive na Guiné! Mas, como um fantasma que por lá passou entre 1965 e 1966 me contou, olha aí vai como foi a Pami na Dondo. É que, por vezes, não damos atenção ao que se escreve no Blogue. Mas lá consta da herança de Spínola, em 1968. Os cinco anos para trás, foram excursões de férias!

Tenho pena de não ter o recorte fino do Alberto Branquinho, com palavras simples (e fotos) ele vai demonstrando tudo, com uma postura extraordinária, não mostrando o seu âmbigo.

Luís, as minhas desculpas, eu sei que tu e os dois homens que te acompanham são pessoas com uma extrema sensibilidade e cultura, não tendo culpa em nada do que se está a passar. Mas há gente que pensa que somos... mentecaptos.

Como calculas que se encontrarão o homem extraordinário que é o Mexia Alves, e o homem da escrita Graça de Abreu ?

Mais uma vez as minhas desculpas, e solicito, é para publicar no blogue, pode este escrito também ser agregado. Sou Alentejano de coluna direita, assumo tudo o que escrevo e falo.

Como sempre e extensivo a toda a Tabanca Grande o velho e forte Abraço do tamanho do Cumbijã

Mário Fitas