segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3511: O meu baptismo de fogo (23): Uma vacina para o enjoo... (António Paiva)

1. Primeira colaboração, para o nosso Blogue, de António Paiva (*), ex-Sold Cond no HM 241 de Bissau, 1968/70, enviada no dia 22 de Novembro de 2008. 

 Inserimos este baptismo que foi não de fogo real, mas um baptismo com contornos quiçá mais violentos, naquela casa de horrores que era o HM 241. Não devia ser fácil ser condutor de ambulância. CV 

  O meu Batismo ou vacina para o enjôo 


 Dia 9 de Junho de 1968, pelas 7 ou 8 horas da manhã chego à Guiné a bordo de um 707 da TAP. Daqui me levou para um mundo desconhecido, com destino ao Hospital de Bissau. Posso dizer que parti com um pouco mais de alegria do que muitos, porque ia dentro de mim a convicção de que voltava. 

 Nesse voo com 181 militares, três iam destinados ao HM 241. Da parte da tarde os outros foram chamados para serem levados ao seu destino. Não tendo eu sido chamado, fui perguntar ao sargento a causa. Prontamente me respondeu: 

- Tu ficas. Chegaste adiantado mais de um mês, talvez vás para o mato substituir um condutor que morreu. 

- Estou lixado, vou para o lugar do morto. 

 Devem imaginar o que senti e o que pensei. Passei a noite nos Adidos, deitado no chão, agarrado às coisas que levei comigo e com toda a roupinha no corpo. Fui um petisco para os mosquitos, que não me largaram toda a noite. 

De manhã, não sei se me levantei ou se já estava em pé, podia ir à cidade. Pelas 10 horas lá fui eu numa boleia. Chegado a Bissau fiquei só, não sabia para que lado me virar, mas fui andando por ali de rua em rua vendo o que ia ter durante os 24meses seguintes. Almocei no Hotel Portugal. 

 Em voltas e reviravoltas voltei a apanhar boleia e regressei aos Adidos pelas l6 horas, sendo informado de que o sargento tinha andado à minha procura. Fui ter com ele que estava de mau humor e que mandou levarem-me ao Hospital. Cheguei pelas 17 horas e perguntei onde me devia dirigir. Indicaram-me a Formação, depois daí a caserna onde encontrei cama e armário para mim. Assentei praça no mundo das agonias 

 Depois de tudo arrumado no seu lugar, porque os mosquitos se tinham requintado comigo na noite anterior, dirigi-me ao Posto de Socorros a ver o que me dariam para alívio das borbulhas e comichões. Entro e, para principio, não estava mau. Do lado esquerdo estava uma maca tapada e ao centro um ferido a ser assistido pelo enfermeiro de serviço. Ficámo-nos a conhecer e eu disse-lhe ao que ia. Indicou-me que o álcool era o melhor, fez-me um favor, mas tive de lhe pagar com outro. Pediu-me que visse o número que tinha o morto, a etiqueta estava no pé, daquele lado, indicou-me com o dedo. Parte de fraco não quis dar, fui, o lado era o outro, tremi de alto a baixo, serrei os dentes, os olhos fecharam-se ao encontro da escuridão e o estômago comprimiu-se, tentando expelir o que continha. 

 Foi a vacina contra o enjoo, podia ter sido mais suave, mandam as regras que... primeiro se esfrega o local suavemente com álcool ou éter e depois se espeta. Mas será que a GUERRA tem regras? Claro que não! Ela é selvagem, desumana e destruidora, pondo aos nossos olhos a miséria causada pelo seu resultado. Era triste e horrendo o que por ali se via, mas a minha missão ia ser longa e a vacina, algumas semanas depois a retardador, ia produzir o seu efeito. Se ia ser o prato de todos os dias, valia mais passar fome. 

 Um abraço a todos António Paiva
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Guiné 63/74 - P3510: Blogoterapia (76): Só nós aguentávamos 2 anos a beber água podre e a comer arroz com estilhaços de chouriço (Paulo Raposo)

1. Mensagem do Paulo Raposo, com data de 18 de Novembro de 2008, comentando o poste de P3463 (*):


Meu caro Luís.

Obrigado, és da corda.

O soldado é uma pessoa singular, quando estou em Paris, entro nos Museus, com desconto devido ao meu cartão da Liga, como sócio combatente. Vétérant de Guerre.

O soldado tem de ser Honrado, tal como ele é, quer pelos seus, quer pelos inimigos.

Batemo-nos em África e na Índia uma luta que não era nossa. Foi a parte quente da guerra fria entre Rússia e América.

Nós mais uma vez é que levámos nas orelhas. Quem é que hoje aguentava 2 anos sem fins de semana, a beber água podre e comer arroz com estilhaços de chouriço?

Toda a gente se pergunta hoje, como é que nós, um punhado de rapazes, aguentámos uma luta de desgaste em tantas frentes.

É triste ver os dirigentes politicos desde o 25 de Abril a ter vergonha do grande Soldado Português que somos nós.

Não percebo. Uma coisa é o fim e o triste fim, outra é Honrar os nossos. Aquando da 1ª guerra foi o mesmo. As tropas expedicionárias foram entegues de bandeja aos ingleses sem critério enquanto os senhores em Lisboa discutiam política. Tratantes. Com remorsos levantaram monumentos aos mortos por todo o país. Mas não se limparam.

Assim estamos hoje.

Isto tudo para dizer, que aparecem no Blogue muitos testemunhos em que parece que nós eramos o mau da fita e os outros os bons.

Nós somos os bons e a geração de OURO. Se não fosse a porcaria da política, as nossas relações com as populações de África eram das melhores.

Dizem-me que hoje ainda, em Goa, a população vive com ar mais digno do que no resto da Índia.

O que será, talvez, é propaganda, para esconder a incompetência dessa malta.

Vai um abraço forte de um dos muitos soldados portugueses.

Paulo
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Nota de L.G.:

(*) 17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3463: Os nossos regressos (17): Estavam lá todos, a família, os amigos, mas não o meu pai... (Paulo Raposo)

(...)"2. Comentário de L.G.:

"O Paulo Enes Lage Raposo, que hoje vive em Montemor-o-Novo, onde criou, desenvolveu e dirigiu um belíssimo empreendimento hoteleiro (o Hotel da Ameira), foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70).(Escrevo "dirigiu", no passado, por que acho que já passou a gestão para um dos filhos...).

"Durante a sua comissão, o Paulo esteve em Mansoa e sobretudo na zona leste (Galomaro e Dulombi), a sul de Bafatá. Uma nota trágica da sua comissão é a perda de 17 dos seus camaradas na travessia do Rio Corubal, em Cheche, na sequência da retirada de Madina do Boé, em 6 de Fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).

"Desde Abril até Setembro de 2006, o nosso blogue publicou o testemunho escrito que o Paulo elaborara em 1997 e que só era conhecido de alguns amigos e camaradas da sua companhia e do seu batalhão. É um documento policopiado, de 65 páginas, com o seu "testemunho e visão da Guerra de África", mais concretamente sobre a história da sua vida militar, desde a sua incorporação, como soldado cadete, em Abril de 1967, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, até à sua mobilização para a Guiné, como Alferes Miliciano da CCAÇ 2405, onde teve como camaradas os membros da nossa tertúlia Rui Felício, Victor David e Jorge Rijo (este último reformou-se dos seguros, e não temos sabido nada dele uma vez que o endereço de email não é mesmo" (...).

Guiné 63/74 - P3509: Visita do Ministro...para inglês ver...(António Matos)



Um Comandante de Batalhão com a vassoura na mão


Em Junho de 1972, o na altura ministro da defesa, Sá Viana Rebelo, deslocou-se à Guiné e especificamente a Bula no que eu suponho ter sido um "apalpar" da situação militar portuguesa perante a exigência do General Spínola na modernização do equipamento face ao avanço tecnológico demonstrado pelo IN. Para além disso inaugurou a estrada Bula-Binar ( na modalidade scut !! ).



o então Alf Mil António Matos, aguarda o Governador e Com-Chefe, General Spínola.

Nessa ocasião eu estava de oficial de dia à unidade o que me permitiu ver, "do alto estatuto de individualidade importante", a cretinice dos "yes men" na mais estrita subserviência na defesa dos tachos que possuíam ainda que não conseguissem descortinar, por detrás dum famoso monóculo, a crítica de que eram alvo.


o Ministro da Defesa Nacional, General Sá Viana Rebelo, em visita a Bula.

Nesse dia, até o comandante (pasme-se!) pegou numa vassoura para mostrar ao Comandante-Chefe como aquele quartel era exemplar ....
Não fui inquirido sobre qualquer tipo de questão e não sei o que, em privado, teriam discutido.
Sei que a partir daí ..... tudo ficou como até aí !
Foi, pois, como hoje se diz, mais do mesmo.
E no ano seguinte, Spínola (e Kaúlza) abandonam os respectivos territórios.


António Matos

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Notas:

1. António Matos foi Alf Mil da CCaç 2790, Bula 1970/72

2. Artigos relacionados em

20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3488: O PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas (António Matos)

Guiné 63/74 - P3508: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (3): Chegada a Bula


1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 22 de Novembro de 2008:

Vinhal
Cá vai mais um capítulo

Um abraço
Luis S Faria


Chegada a Bula

Terminada fase do IAO no CIM em Bolama e chegados a Bissau, o destino da CCaç 2791 passou a ser Bula, ao que me lembro depois de algumas indefinições.

Com armas e bagagens lá nos íamos acomodar ordeiramente nas Berliets Tramagal e demais viaturas que compunham a coluna auto que nos devia transportar ao futuro incerto. Estava preparado para o que desse e viesse, mas… será que os chefes já endoidaram?? Não é que dão ordem para que durante a viagem só os graduados levem munições?! Afinal que raio de guerra era esta? Se fosse preciso lutava-se à coronhada, à pedrada e por lá pouca pedra havia, ou ao foge-que-t’agarro?? Ou afinal a guerra tinha acabado sem que déssemos conta e as bocas de que o sector de Bula (01 A ) era meio f…, eram só para enganar piriquitos?? Pois se andamos a mentalizar o pessoal para não facilitar nunca e estar sempre com os sentidos em alerta, apanhamos agora com uma ordem destas!? É, os Chefes estão loucos, de certeza! Era para rir ou chorar??
Mas como nas F.A. as ordens eram para cumprir e não questionar, há que obedecer. E vai daí, lá foi a rapaziada com as suas G3 novinhas, mas aliviados daquele peso extra das balas, ao que parecia inúteis, ocupar o seu lugar nas viaturas. E chegou-me a explicação de tal ordem : …é que podia algum Soldado precipitar-se… e, deduzi eu, dar um tiro num turra que não era turra! Ok, afinal não era por ter acabado a guerra! Fiquei menos descansado! (julgo que nunca irei esquecer esta estória que mais deveria ser história).

E lá fui percorrendo aqueles quilómetros de estrada, com a arma preparada e o corpo pronto a saltar, sempre na expectativa de uma eventual emboscada. Para trás foi ficando Bissalanca, Comandos… e chegamos ao rio Mansoa. À espera (?) estava uma jangada, creio que da Marinha, que nos transportou para a outra margem, João Landim. Lá desembarcados, ficamos a aguardar até que chegasse escolta. Ah, afinal a situação não estava assim tão fácil, pensei! E lá chegou a escolta, se bem me recordo 2 Panhard e 3 Unimog, com os veteranos do BCAV 2868. F… esta merda deve estar mesmo f…, para termos uma escolta destas! Fiquei apreensivo. E o meu lema impunha-se: FACILITAR NUNCA, em nada!

A coluna arrancou em bom andamento, com as Panhard nos extremos e os Unimog da velhice intercalados com as nossas viaturas. Reparei nos desmatados de segurança, nos aquartelamentos de João Landim, Mato Dingal. Chegados à estrada de Teixeira Pinto, viramos à direita e a breve trecho começa a aparecer o aglomerado de Bula e depois à esquerda, o Quartel.
Para mim tudo isto era uma sensação nova. Os nativos juntavam-se a observar, curiosos, a velhice que passava atirava-nos com aquela axincalhadora frase salta periquito, salta,que mais tarde também viríamos a usar.
Passamos a Porta de Armas e perante o gáudio dos veteranos e com os salta pira à mistura, formamos e lá fomos à nossa vida, isto é, instalar-nos e fazer o reconhecimento logístico. Claro que nesse primeiro reconhecimento, só deu para ver a parada com o ecrã de cinema, ladeada pelos dormitórios, messe e bar, um abrigo e pouco mais. Mas as instalações eram satisfatórias. E o nosso chuveiro? Espectáculo!

Era já noite e estava estendido na cama quando dois ou três rebentamentos fortíssimos me fizeram saltar, agarrar a G3 e correr para o exterior. Eh pessoal, são eles, é ataque c…! E foram realmente eles, os veteranos, que fizeram fogo com os dois obuses, aproveitando para nos praxar e ao mesmo tempo bater a zona. Posteriormente, no mato, este barulho da saída dos projécteis passou a ser música regeneradora de esperança.

Estávamos a 31 de Outubro de 1970 e a partir desse dia iria passar por situações muito complicadas e por muitos e bons momentos, recordados ainda hoje com saudade.

Um abraço a todos
Luís S Faria

Foto 1 > Estrada Bissau – João Landim

Foto 2 > Rio Mansoa - João Landim

Foto 3 > João Landim -jangada

Foto 4 > Bula – rua principal – com Urbano (Fur Enf)

Fotos e legendas: © Luís Faria (2008). Direitos reservados

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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

3 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3397: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (1): A ida, do RI5 a Bissau

19 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3480: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (2): IAO, Bolama, Outubro de 1970

Guiné 63/74 - P3507: Historiografia da presença portuguesa em África (10): Bolama, 1930: a nova igreja e o proselitismo católico (Beja Santos)


Boletim O Missionário Católico, 1930, p. 30 > A notícia da construção, em 1930, da nova igreja de Bolama. Era então governador o Major Leite de Magalhães. Mandam-se recados para Lisboa, para o Governo da Ditadura Nacional (que abrirá o caminho ao Estado Novo): Não obstante o extraordinário desenvolvimento da Guiné, "mercê da ocupação total efectiva [sic] do seu território, e da criteriosa administração que tem tido", um duplo e "gravíssimo perigo" ameaça os seus povos: a propaganda do maometismo e do protestantismo... E cita-se o ponto de vista de um alto funcionário da colónia francesa vizinha: "Desde o dia em que a Guiné seja conquistada pelo maometismo, deixará de ser portuguesa"... (LG)
Imagens: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados

1. Apontamento, com interesse historiográfico para o conhecimento da presença portuguesa na Guiné-Bissau, na época colonial (*), enviado em 29 de Setembro último, pelo nosso camarada Beja Santos:

Para conhecer alguns ínfimos (mas preciosos) pormenores da nossa Guiné, vale a pena percorrer «O Missionário Católico - Boletim Mensal dos Colégios das Missões Religiosas Ultramarinas dos Padres Seculares Portugueses».

Acabo de adquirir na Feira da Ladra um volume com boletins de "O Missionário Católico" referente a 1930 a 1931. Há imagens de edifícios, documentos, relatos de viagens, análises de missionários, por exemplo, que só podemos encontrar nesta publicação que apareceu com a Ditadura Nacional e procurar entender o novo surto de estímulo missionário.

Fala-se numa Guiné como terra prometedora para a missão de novas almas. Escreve-se:
(...) "Apenas sobe o ponto de vista religioso se encontra ainda pouco menos do que abandonada. Até há pouco tempo tinha somente um missionário em Bissau; hoje em, Bolama, conta com mais outro... a população da Guiné é dócil e em grande parte cristã (!!!). A tradição dos antigos missionários (que muitos houve outrora por lá, sobretudo na região de Cacheu) ainda perdura. A Guiné é terreno preparado para a evangelização cristã... o governo estabeleceu já vários postos agrícolas em diversos pontos da Guiné, mas isso não basta. É preciso estimular o indígena ao trabalho e levá-lo a procurar o seu próprio bem-estar e interessá-lo pelo desenvolvimento da riqueza pública. Certamente que uma larga rede de missões espalhadas pela província viria auxiliar o desenvolvimento progressivo da daquela nossa importante colónia." (...).
A Guiné estava sem uma igreja desde 1908. Graças a subscrições entre fiéis foi inaugurada em 1930 uma igreja em Bolama, tendo ao lado uma casa paroquial.

Em 1991, assisti aqui a uma missa falada em crioulo, é um interior singelo, tem um corpo com cerca de 11 metros, estava cheia e o batuque vibrou em momentos de grande significado. A igreja de Bolama perdeu importância com a mudança da capital para Bissau, em 1941, e com o aparecimento da Catedral, na Avenida da República.

Beja Santos

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3454: Historiografia da presença portuguesa (9): Carta da Guiné, 1843

domingo, 23 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3506: Tabanca de Matosinhos (6): Porto é Porto, é a minha terra (Jorge Teixeira-Portojo))

Blogue Portojo, de Jorge Ferreira, nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande (*) e frequentador assíduo da Tabanca de Matosinhos (**).

Eis como se ele apresenta: "Faço parte da Tabanca de Matosinhos, onde à Quarta-feira, no Milho Rei, se faz o ponto da situação da sardinha. Se foste um ex-militar na Guiné, aparece, não precisas de convite. Comigo foi assim"...

Trata-se de um blogue generalista, e não especificamente centrado na guerra colonial.

Imagem:
Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)






No passado dia 9, podia ler-se um poste com uma colagem de 4 fotos sobre a Tabanca de Matosinhos e a seguinte legenda:

"Quarta-feira passada, foram colocadas com pompa e copos, as placas que assinalam a localização da Tabanca. Depois do desmantelamento do refeitório um, o refeitório dois foi activado pelo menos para 8 a 9 meses, época das chuvas aqui neste território nortenho; no entanto a vaguemestria prometeu que isso não influenciará a qualidade do rancho nem da pomada".

1. Mensagem do Jorge Ferreira, de 20 de Novembro último:

Caro Luís:

Não sei se terá algum interesse para o blogue. Passou há pouco tempo o Dia de Finados (*). Para além dos nossos entes queridos, relembramos sempre os companheiros que em África morreram. Creio que todos nós já vimos uma Memória ou um Túmulo em qualquer cemitério do nosso País, recordando esses nossos companheiros desaparecidos.

É sempre com emoção que páro um pouco junto a eles, fazendo recuar a memória, dirigindo-lhes uma palavra aonde quer que estejam.

Jorge Teixeira

Porto (?) > Cemitério > Talhão dos "heróis que deram a vida em defesa do Ultramar"

Fotos: © Jorge Ferreira (2008). Direitos reservados



2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Jorge, vou publicar, juntamente com uma referência a um dos teus blogues e à Tabanca de Matosinhos, de que és um entusiasta... Autorizas-me a publicar uma ou duas fotos que tiraste no Milho Rei ? ... Sempre, com a devida vénia e referência ao autor...

Espero poder conhecer-te um dia destes. Parabéns pelos teus blogues. Aprecio a tua paixão pela tua terra, que é também um pouco minha. Casei com um nortenha, e tenho muitos amigos aí... Gosto sempre de voltar ao Porto. Gosto do Rui e do Tê, como tu, gosto do Douro, desde o Alto até à foz, gosto das gentes... .

3. Resposta do Jorge Ferreira:

Olá, Luís. Obrigado pelos comentários. Sem desprimor para o resto do nosso Portugal, Porto é Porto, é a minha terra.

Caro amigo, podes utilizar as fotos que quiseres. Elas são da malta. Espero conhecer-te breve. Será um prazer.

Um abraço da amizade

Jorge Teixeira

http://jportojo.blogspot.com/
http://portojo.multiply.com/
http://youtube.com/portojo

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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3270: O meu baptismo de fogo (3): Catió, 6 de Junho de 1968 (Jorge Teixeira)

(**) Vd. poste de 20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3489: Blogues da nossa blogosfera (4): Nasceu o bloguinho, o blogue da Tabanca de Matosinhos (Álvaro Basto)

(***) Vd. postes de:

2 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3394: Blogoterapia (68): Amnésia, vergonha, denegação ou ocultação dos próprios nossos mortos (Luís Graça)

2 de Novembro de 2008> Guiné 63/74 - P3391: In Memoriam (10): Recordemos os camaradas que se foram desta vida (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P3505: Album fotográfico de Santos Oliveira (5): Tite, Outubro de 1965


1. Continuição do Álbum fotográfico do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, apresentamos a quinta série de fotos relacionadas com aspectos e acontecimentos em Tite, região de Quínara.


Fotos (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.





Tite > Macaco Fidalgo. Imagem de autor desconhecido


Tite > Ronco. Imagem de autor desconhecido

Tite > Setembro de 1965 > Saudades

Tite > Setembro de 1965 > Pista

Tite > Setembro de 1965 > Alguns camaradas da CCS do BCAÇ 1860 e da CCAÇ 797

Tite > Outubro de 1965 > Com orfã adoptada pelo BCAÇ 1860

Tite > Outubro de 1965 > Saindo a Porta d'Armas

Tite > Outubro de 1965

Tite > Outubro de 1965 > Com o Duarte

Tite > Outubro de 1965
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

15 de Outubro de 2008 Guiné 63/74 - P3318: Album fotográfico de Santos Oliveira (1): Tite

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3416: Album fotográfico de Santos Oliveira (2): Tite, Tempestade tropical

10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3434: Album fotográfico de Santos Oliveira (3): Tite, dia de ronco

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3458: Album fotográfico de Santos Oliveira (4): Tite

Guiné 63/74 - P3504: Em busca de... (53): Companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, Guiné, 1964/66 (José Matos)

1. Mensagem de José Matos com data de 21 de Novembro de 2008, querendo saber dos companheiros de seu pai, o nosso camarada de nome também José Matos.

Caro Luis Graça

O meu pai (José Matos) esteve na Guiné em 1964-66 na Companhia de Cavalaria n.º 677; Batalhão de Caçadores n.º 599. Era Furriel Miliciano e gostava de saber de colegas que estiveram com ele nessa Unidade e que o conheceram.
Será que podia publicar este post no blogue?

José Matos


2. Em 23 de Novembro foi emitida a seguinte mensagem à tertúlia:

Caros camaradas
Mais um pedido de um filho de um nosso camarada que quer saber onde param os seus companheiros da CCAV 677/BCAÇ 599, que esteve na Guiné entre 1964/66.

Se alguém tiver uma pista, pode-a mandar directamente ao José Matos ou para o nosso Blogue.

Muito obrigado e continuação de bom Domingo.

Um abraço do
Carlos Vinhal

3. Comentário de CV

Este apelo do nosso camarada José matos é extensivo a todos os nossos leitores, pelo que qualquer informação deve ser dirigida a ele ou a nós.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3473: Em busca de... (52): Ernesto, balanta de Bula, lançador de roquetes... (António Matos)

Guiné 63/74 - P3503: Controvérsias (11): O início da guerra (Tite, 23 de Janeiro de 1963) e a estreia da G3 alemã, em 1961 (Santos Oliveira)

1. Mensagem do Santos Oliveira, com data de 22 de Novembro

Luis e Mário [Dias]

Acabo de chegar e tomar conhecimento desta mensagem para conhecimento. Não me foi solicitada opinião, mas dou-a na mesma; posso vir a ser controverso, mas também não possuo documentos que possam atestar a veracidade do que digo. Foi o que apurei no tempo.


Luis

A tua questão e a do nosso Camarada Alberto Nascimento (*), na minha opinião pessoal, não tem muito a clarificar.


(i) Escaramuças antes do início oficial ou oficioso da Guerra, em 23 de Janeiro de 1973

Escaramuças, desde a fundação do PAIGC, aconteciam com mais frequência que as que são conhecidas e/ou registadas. Eram casos de Polícia. O PAIGC necessitava de alimento para a sua causa, pelo que os problemas com os Comerciantes, menos colaboracionistas, foram mais que muitos, mas passavam por ser questões de índole social. Quando não eram resolvidas pelos Chefes de Posto e dos seus Cipaios, era activada a segunda fase, ou seja, a intervenção da PIDE; esta, agia de acordo com o seu Estatuto de Toda Poderosa e “ordenava” a intervenção do Exército que agia e era utilizado como se de Polícia se tratasse. Não havia que justificar o que quer que fosse. Os Castros da época nem pestanejavam e mandavam avançar.

Dos primeiros ou últimos tiros dados antes de Tite, podemos confirmar que se disparam imensos. Podemos falar de Pidjiguiti. Foi aqui que começou? Foi em Farim? Em que ficamos? É que o tema era a “sublevação” social e não a reivindicação da Independência.

Dos poucos Documentos que consegui ler em Tite e das muitas vozes que consegui ouvir entre os mais antigos, conseguindo comparar com o que havia documentado, tirava as ilacções que agora vou reportando. Era um dos assuntos que me fascinava porque havia uma transmissão oral em contraposição com a quase total ausência de Documentação que o atestasse. Veja-se o exemplo gritante do início oficial da Guerra.

Em Tite, uns quantos documentos designavam por um desacato de elementos de fora da jurisdição e que obrigou as NT a reagirem a tiro. Referências aos mortos e feridos e mais nada. A descrição notável do Gabriel Moura, que o Camarada e Amigo Carlos Silva, herdeiro e depositário do Documento já trancrito em Poste (**), tanto quanto conheço, corresponde perfeitamente à realidade do tempo. Confirmei a descrição de factos ao Carlos Silva antes da sua publicação no Blogue. Dessa conversa guardo em memória de que até ele se sentia um tanto céptico. Deficiência Profissional de Advogado, que me perdoe a revelação deste meu sentimento. A sua reacção em nada me surpreendeu, porque é esse o sentimento que encontro nos Camaradas que percorreram os mesmos trajectos uns escassos dois anos depois.

Os mais antigos, os dos primeiros tempos, como o Mário Dias, o Colaço, o Alberto Nascimento, sabem que as informações que o Exército possuia, eram as da PIDE; a 5ª Divisão existia a trabalhar o que já estava trabalhado, decidido e muitas vezes já executado. A informação, a verdadeira, corria, sim, de boca a boca. As comunicações militares, CTMs, eram filtradas e manipuladas segundo conveniências incompreensíveis, das outras, só se estivessemos a uns escassos 2 Km. Esta a minha opinião do que vivi, acompanhei com raiva e com raiva o senti. Daí a importância que se tornou em o Ponto de Encontro, denominado 5ª Divisão, que foi o Café Bento, em Bissau. Alí parava tudo quanto vinha do Mato e a transmissão oral era o modo comum de Informação.

(ii) Agora as famosas e magníficas G3

Vou responder-te pelas perguntas que hás feito ao meu amigo Mário Dias (*).

(a) No meu Curso de Sargentos Milicianos de 63, existiam G3 (Alemãs) e FN suficientes e necessárias ao treino total de Manipulação (montagem, desmontagem) e de Tiro; no entanto, a Mauser era Arma atribuida para o Curso.

(b) A G3 foi conhecida nessa altura, foi na data, em parceria com a FN, o meu brilharete em Tiro Instintivo, mas que não consta dos meus registos individuais.

(c) Como é referido acima, as escaramuças existiam mas não tinham carácter de Guerrilha. As G3 que o nosso Camarada Alberto Nascimento recebeu, teriam sido as que nos foram facultadas pela NATO para utilização dentro do âmbito da Organização e de que Portugal fazia parte. Como se percebe pela descrição do Gabriel Moura (Pel Mort19/ Bcaç 237, 1961 a 1963), as G3 estavam encaixotadas e apenas havia meia dúzia delas em Serviço. A Mauser era a Arma do Batalhão. Deve ter sido um recurso ousado, embora apressado, o ter equipado aquela Unidade para a sua deslocação á região de Farim. Dúvidas não existem de que estas Armas já estavam no Bcaç 237 desde 1961, mas não em utilização oficial.

Esta Brochura do Gabriel Moura (**) bem merecia ser devidamente Editada e Publicada para conhecimento de todos os Camaradas, sobretudo dos que por lá chegaram depois de 65 (pensariam que estavam noutra Guerra ou que era Ficção).

(d) Perante o exposto, não parece ter sido ficção o início das hostilidades a 23 Jan 63, com o ataque ao Quartel de Tite. Data coincidente por ambas as partes.

Acrescento um Comentário aos Comentários do Mexia e do Colaço ao Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim (...) (*):

(e) Joaquim Mexia refere, e muito bem, que a Arma G3 não fazia parte do Equipamento do seu irmão, numa zona de Guerra activa e em pleno desenvolvimento;

(f) O Colaço reporta, igualmente muito correcto, que a Licença de produção em Portugal da G3, só se adquiriu em 1962. Mas a verdade é que as Armas que estavam no território da Guiné, como disse, eram originais (alemãs) e que eram parte da nossa participação na NATO (OTAN), pelo que a sua utilização seria ilegal (como os F86-Sabre, os Lockeed P2V-5, etc.). A prudência aconselhava... A partir de 64 começaram a chegar as G3-FBP e então tudo ficou bem. Já era legal.

É quanto sei e posso dizer. Espero merecer a Vossa compreensão para se poder escrever, com verdade, a História desta Guerra na Guiné, pese, embora, que nos sobrem mais dúvidas que certezas.

A todos, o meu mais sincero abraço
Santos Oliveira

2. Comentário de L.G:

Camarada Santos Oliveira: obrigado pelas tuas preciosas informações. O facto de ter-te dado conhecimento do mail, a ti e outros camaradas mais velhinhos (de 1961 a 1963...), era na esperança de poder suscitar também a tua opinião. Em boa hora o fizeste. Há montes de coisas que não vêm (nem nunca virão) nos documentos oficiais ou oficiosos da tropa. Há coisas que só se podem conhecer, ou vir a conhecer, pelo método do boca a boca... Este método tem, de algum modo, funcionado no nosso bogue... LG

_________

Nota de L.G.:

(*) Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66., membro da nossa Tabanca Grande desde 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf.ª (Como, Cufar e Tite, 1964/66)


Vd. postes mais recentes:

15 de Outubro de 2008 Guiné 63/74 - P3318: Album fotográfico de Santos Oliveira (1): Tite

6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3416: Album fotográfico de Santos Oliveira (2): Tite, Tempestade tropical

10 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3434: Album fotográfico de Santos Oliveira (3): Tite, dia de ronco

15 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3458: Album fotográfico de Santos Oliveira (4): Tite

18 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

21 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3222: Convívios (84): Pessoal dos BCAÇ 237 e 599, Pel Mort 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807 (Santos Oliveira)

4 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3021: Os nossos regressos (6): Regressei a olhar para trás...(Santos Oliveira)
Vd. psotes de:

22 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3499: Controvérsias (10): Vi em 1961 chegarem, a Bissau, as primeiras tropas equipadas com a espingarda automática G3 (Mário Dias)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nacimento)

(**) Vd. postes de:

11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

13 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3308: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte III) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

Guiné 63/74 - P3502: In Memoriam (16): José Maria Fernandes Carvalho foi a sepultar no dia 18 de Novembro de 2008, em Travanca-Amarante (Albano Costa)

1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa, com data de 19 de Novembro de 2008:

Caros editores:

Estas são algumas fotos que fiz no dia do funeral do José Maria Fernandes Carvalho (*), cuja família pôde finalmente fazer o seu luto.

A cerimónia realizou-se em Travanca, Amarante, ontem dia 18, conforme estava anunciado.

A irmã do José Maria, D. Teresa, em conversa comigo, disse: - Hoje não é dia para sentimentos, mas sim de alegria.

Deu para perceber que estando um pouco nervosa, também estava a sentir-se muito feliz, por ver os restos mortais de seu irmão serem sepultados na sua terra Natal, ao fim de 42 anos.

A D. Teresa fez uma autêntica maratona para conseguir trasladar o seu irmão. Foi à Guiné-Bissau, ao cemitério de Bolama assistir a exumação do corpo para finalmente o ver ser sepultado em Travanca, Amarante, na companhia da família e amigos. Também fizeram questão de estar presentes, eu, Xico Allen, José Manuel, que veio da Régua, e o Carvalho de Gondomar.

Albano C osta


Foto 1 > Levantamento dos restos mortais na capela de S. Sebastião

Foto 2 > Transporte dos restos mortais para o interior do Mosteiro de Travanca

Foto 3 > Vista do interior do Mosteiro de Travanca, na altura da missa pelo malogrado José Maria

Foto 4 > Guarda de Honra Militar no exterior do Mosteiro, aguardando a saída dos restos mortais do José Maria, para seguir em direcção ao cemitério local

Foto 5 > O cortejo fúnebre a caminho do cemitério de Travanca

Foto 6 > Últimas cerimónias religiosas, antes da descida ao Campo Santo

Fotos e legendas: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.

________________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 200 > Guiné 63/74 - P3461: In Memoriam (14): Finalmente em Portugal o corpo do camarada José Maria Fernandes Carvalho (Albano Costa)

Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3469: In Memoriam (15): Foi hoje a sepultar Mário Ferreira (José Teixeira)

sábado, 22 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3501: Brasões, guiões ou crachás (3): CAOP 1: BCAÇ 2885; CART 2732 e CCAÇ 5 (Jorge Picado/Carlos Vinhal/José Martins)

COMANDO DE AGRUPAMENTO OPERACIONAL N.º 1

CAOP 1 - Guiné, 1968/74 - Divisa: Onde Necessário

Constituído por rendições individuais

Criação em 08 de Janeiro de 1968
Extinção em 01 de Julho de 1974

Em 27 de Janeiro de 1968 instalou-se em Teixeira Pinto, abrangendo as áreas dos sectores de Teixeira Pinto e Bula. Alargou a sua área em 12 de Março de 1969 ao subsector de Có, em 05 de Setembro de 1969 ao subsector de Cacheu e em 01 de Julho de 1969 ao Sector O7 em Pelundo

Em 01 de Agosto de 1970 passa a designar-se como CAOP Oeste e em 22 de Agosto de 1970 CAOP 1, tendo assumido o comando dos subsectores de Cacheu e Bacile, em 28 de Janeiro de 1971.

Em 01 de Fevereiro de 1973 é transferido para Mansoa, assumindo o comando dos sectores de Bissorã, Mansoa, Bula e Nhacra.

A 21 de Março de 1973 destaca elementos para a criação do CAOP 3 e em 02 de Janeiro de 1974 foi transferido para Cufar, com a responsabilidade dos sectores de Aldeia Formosa, Catió, Cadique e Gadamael.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil
José Martins
ex-Fur Mil Trms Inf


BATALHÃO DE CAÇADORES N.º 2885

Batalhão de Caçadores 2885 - Guiné, 1969/71 - Divisa: Nós Somos Capazes

Mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 15 – Tomar

Embarque em 07 de Maio de 1969
Desembarque em 13 de Maio de 1969

Regresso em 25 de Fevereiro 1971

Divisa – Nós Somos Capazes

Em 14 de Maio de 1969 assumiu o Sector O4, sediado em Mansoa, com os subsectores de Mansoa e Porto Gole.

Em 23 de Outubro de 1969 recebe o subsector de Mansabá.

Em 29 de Outubro de 1969 cede o subsector de Porto Gole e em 15 de Novembro de 1969 recebe o subsector de Jugudul.

Tem como subunidades a CCaç 2587, a CCaç 2588 e a CCaç 2589, que se mantêm na sua área de acção.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil
José Martins
ex-Fur Mil Trms Inf


COMPANHIA DE ARTILHARIA N.º 2732



CART 2732 - Guiné, 1970/72 - Divisa: Nam Acha Quem Por Armas Lhe Resista

Mobilizada no GAG 2 - Funchal - Madeira

Embarque em 13 de Abril de 1970
Desembarque em 17 de Abril de 1970

Regresso em 19 de Março de 1972

Divisa - Nam Acham Quem Por Armas Lhe Resista

Em 21 de Abril de 1970 chegou a Mansabá, onde se instalou.
Ficou dependente operacionalmente do BCAÇ 2885.
Por sua vez, ficaram adidas à CART 2732: o Pel Caç Nat 57, o Pel Art 21, O Pel Mil 253, 1 Esq Mort 81 e 2 AML Daimler.

Em 11 de Novembro de 1970 deixa de pertencer ao BCAÇ 2885, passando a estar integrada no COP 6, cujo comando ficou instalado em Mansabá.

Em Fevereiro de 1972 deixa Mansabá, sendo substituída pela CCAÇ 2753.

Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA


COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 5

CCAÇ 5 - 1961/71 - Divisa: Justos e Valorosos

A CCAÇ 5 teve origem na 3.ª Companhia de Caçadores Indígenas (criada em 1961), alterando o nome para Companhia de Caçadores 5 em 1 de Abril de 1967. Teve a sede em Nova Lamego (actual Gabu) e destacamentos em Canjadude, Che-che e Cabuca.
Em Agosto de 1968 passou a ser responsável pelo subsector de Canjadude.
Em 20 de Agosto de 1974 foi desactivada e extinta, após entrega do aquartelamento ao PAIGC.

José Martins
ex-Fur Mil Trms Inf
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)

Guiné 63/74 - P3500: Blogoterapia (75): Entrei para a Tabanca de maneira um pouco desabrida...(António Matos)


Mais contentes ou menos contentes, todos compraram bilhete para a 1ª fila do blogue!




O meu "estatuto" de piriquito enquanto tertuliano do "Guiné 63/74" leva-me a ser um pouco contido na formulação de algumas opiniões no que diz respeito ao blogue ele próprio, com o receio de virem de lá os "velhinhos" e mandarem uma fogachada do quilé e acagaçarem-me todo e depois fico inibido e não escrevo mais.

Eu entrei para a Tabanca de maneira um pouco desabrida porque não tinha lido nada sobre alguns procedimentos que lhe estariam inerentes, mas somente porque outro tertuliano ma indicou.
Porque colaboro noutros blogues onde os textos são editados pelos próprios, atirei-me de cabeça e comecei a produzir, ainda que a triagem que os editores terão necessidade de fazer, possa ser algo desmotivante pela desactualização dos mesmos.

Reconheço que há bloguistas que por disponibilidade de tempo, por melhor manuseamento das ferramentas, por questões de memória, por prazer em escrever, etc., são mais produtivos do que outros e não deveriam, por isso, ser colocados em fila de espera.
Claro que o critério editorial pertence aos editores e estas achegas não pretendem ser mais do que isso ,para que eles possam também ponderar sobre a dinâmica a imprimir ao blogue.

Uma coisa parece-me pacífica : quanto maior a solicitação de entradas de textos, melhor !
Não me preocupa não ter tempo de ler todas as entradas do dia! Leio-as amanhã!
A faculdade de poder fazer pesquisas por tema ou por nome do camarada, por exemplo, pode permitir-me o critério mais acertado na exploração do blogue.
Isto é um pouco como consultar um dicionário. Não é para ser lido de fio a pavio, ao quilómetro !
Aliás, muitas vezes queremos relacionar acontecimentos e isso leva-nos a leituras cruzadas donde, não é grave não ler a última publicação na hora da sua edição.
Como nota de rodapé, e se isso me for permitido, gostava de reforçar a ideia já exposta de que as nossas estórias deverão ter o cariz de estórias contadas no regalo da lareira, intimistas, sentimentais, como se tivéssemos os nossos netos a ouvirem-nos, embevecidos até que adormecessem...
Provavelmente o futuro trará uma inversão no desenvolvimento deste sítio numa lógica de maior adaptação do blogue aos tertulianos em desfavor dos tertulianos ao blogue. Será ?
Vale a pena pensar nisto ...


António Matos
___________

Nota: artigo da série em

Guiné 63/74 - P3499: Controvérsias (10): Vi em 1961 chegarem, a Bissau, as primeiras tropas equipadas com a espingarda automática G3 (Mário Dias)




Guiné > Região do Oio > Farim > CCAÇ 84 > 1961 > O Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, da CCAÇ 84, com o capacete na mão, e o seu camarada e amigo Maximino, de G3 ao ombro (*).

Foto: © Alberto Nascimento (2008) Direitos reservados


A G3, espingarda automática, de calibre 7,62 mm,de origem alemã, começou a aparecer na Guiné em meados de 1961... Com punho e fuste de madeira.


1. Resposta do Mário Dias a um pedido de esclarecimento do editor, Luís Graça, sobre a G3 e o início da sua introdução no TO da Guiné (vd. ponto 2).

Comandante Luís:

Mais uma vez me fazes "descalçar as tamancas e largar a ronceirice de gato enroscado no borralho" para responder às tuas dúvidas e lançar alguma luz sobre questões levantadas na nossa Tabanca Grande. Sobre elas recordo o seguinte:

I- Em 1959, ano em que "fui às sortes", ainda não havia "G3" na Guiné. Era a velha Mauser.

II- Vi as "G3" pela primeira vez a uma (duas?) companhia(s) que em 1961 chegou(chegaram) à Guiné,  constituindo a segunda vaga de reforço de tropas. Também duas companhias da Caçadores especiais que para lá foram em 1962 já iam armadas de "G3".

A primeira a ser enviada para a Guiné, ainda em 1959 no seguimento dos acontecimentos de Pidjiguiti, foi uma companhia mobilizada e pertencente ao Batalhão de Caçadores 5 (Campolide) cujo comandante era o capitão Ressano Garcia. Ainda iam armados com Mauser.

III- De facto os primeiros actos de guerra foram em 1961 na área de S. Domingos e Varela feitos pela FLING, organização cuja existência o PAIGC procura ignorar. Era precisamente a referida Companhia de Caçadores 5 que aí se encontrava e aguentou os ataques.

Quanto aos acontecimentos de Guidaje relatados pelo Alberto Nascimento (*) não me recordo deles nem me lembro de os ouvir comentar em Bissau onde tudo se ia sabendo, tal como aconteceu no caso de S. Domingos. Talvez por não ter chegado a haver "troca de tiros" entre os "beligerantes" conforme julgo entender da descrição feita. É possível que algo me tenha escapado pois nessa altura, 1961, já tinha passado à peluda e estava a trabalhar no Sindicato.

A controvérsia gerada sobre a data da utilização da "G3" na Guiné deve-se ao entendimento que alguns têm de, tendo essa arma começado a ser fabricada em Braço de Prata apenas em 1963, então só a partir dessa altura ela esteve disponível. Nada disso, pois as primeiras G3 que equiparam o exército foram cedidas (vendidas?) pela Alemanha e sobretudo pela Espanha e tinham a coronha e o guarda-mão de madeira ao contrário das fabricadas em Portugal que passaram a ser de material plástico. Alguns se lembrarão certamente de ver as primeiras a que me refiro.

Espero ter contribuído para o esclarecimento desta questão da "G3" e continuo à disposição para clarificar dúvidas que estejam ao meu alcance.

Um abraço para todos os "moradores da tabanca".

Mário Dias


2. Pedido de esclarecimento enviado anteriormente ao Mário Dias, pelo editor do blogue L.G.:

Mário:

Eu sei que queres que te deixem em paz, nas tuas tamanquinhas, à lareira, a curtir a tua musiquinha... Mas acontece que tu és o pai de nós (como dizem ainda hoje alguns guineenses, a nosso respeito, a respeito de nós, tugas...). Tu és o pai da velhice, uma testemunha privilegiada dos acontecimentos político-militares na Guiné entre 1959 e 1966... Na nossa Tabanca Grande tens o estatuto de Homem Grande, de mauro, de sábio, de marabu... Se fosses fula, tratava-te por Cherno (tio), Cherno Mário Dias...

É por isso que, de vez em quando, eu venho pedir-te dois cêntimos para este peditório: refiro-me às nossas blogarias, esta conversa mole e amigável, que vamos mantendo entre antigos camaradas de armas, que querem esclarecer (e esclarecer-se sobre) alguns aspectos da nossa história, a pequena e a grande...

Hoje as questões que eu te ponho, meu caro Cherno Mário Dias, são as seguintes:

(i) No teu curso de sargentos milicianos, em 1959, ainda não tinhas obviamente a G3, mas sim eventualmente a Mauser; certo ?

(ii) Em que data é conheceste a G3, menina que tu, de resto, nunca trocarias pela Kalash; (Publicámos um excelente poste teu, sobre as qualidades e as virtudes da menina G3):

(iii) Tens conhecimento de escaramuças, na região do Cacheu (Guidage) ou no Óio (Farim), em meados de 1961 ? O nosso amigo e camarada Alberto Nascimento, soldado condutor auto da CCAÇ 84 (1961/63), foi em coluna, a Farim, nesse mês e ano, a partir de Bissau, para socorrer os comerciantes e população de Guidaje... E já levava a G3, como testemunham inequivocamente as fotos que publicámos...

É um testemunho precioso que nos obriga a contestar a ficção do PAIGC que estabeleceu a data do ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963, como a data oficial do início da luta de libertação, se bem que a fundação do PAIGC (ou melhor, do PAI) seja de 1956...

As escaramuças de que eu já tinha ouvido falar, em 1961, eram as do chão dos felupes, em São Domingos e Varela, ligadas a gente da FLING... Confirmas ?

Para terminar: Sabes mais alguma coisa que queiras partilhar com os teus amigos e camaradas da Guiné ? E, já agora, por onde andavas em 1961 ? Sei que em 1960 andavas a dar instrução militar como 1º cabo miliciano...

Sei que és um homem de palavra, que medes as palavras, e que detestas as luzes da ribalta. Mas já em tempos tive que discordar de ti, quando me pediste discrição em relação à história do Domingos Ramos, alegando que os mais fantáticos do PAIGC nunca entenderiam o estranho comportamento dos dois amigos inimgos (tu e ele)...

Cito o qu então escrevi:

"Estou em total desacordo contigo neste ponto: acho que tens a 'obrigação' (histórica, moral…) de divulgar este momento (raro, se não único…) em que dois antigos camaradas e amigos se encontram, de armas na mão, em campos opostos... Esta história é fabulosa e diz muito dos grandes seres humanos (e dos grandes profissionais) que vocês eram (e tu continuas a ser, agora 'paisano')…


"Não creio que os 'fanáticos' do PAIGC ou dos teus 'comandos' saibam entender estas coisas da grandeza da alma... Que faria o Domingos Ramos, se fosse vivo ? Morreria com este segredo ? Eu acho que esta história já não te pertence mais, desde o momento em que a partilhas comigo ou com outros amigos… Fazia-te bem divulgá-la… Mas eu respeito inteiramente a tua decisão"...

Felizmente, tu reconsideraste, de imediato, a tua posiçáo, e eu tive a o privilégio de publicar, em 2 de Fevereiro de 2006, na I Série do nosso blogue, uma das histórias mais fantásticas e bonitas que eu já ouvi sobre a amizade entre homens, e que tocou muitos dos nossos amigo e camaradas da Guiné.

Um Alfa Bravo, querido Mário.
Luis

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

16 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3459: Histórias da velhice (1): Eu e o 1º Pelotão da CCAÇ 84 em Farim, em Julho de 1961, em socorro de... Guidaje (Alberto Nascimento)

21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3492: Controvérsias (9): Eu fui para Farim, em Julho de 1961, com a G3, com o 1º Gr Comb da CCAÇ 84 (Alberto Nacimento)


(**) Sobre a G3, Hedder & Koch G3 ou HK G3 > Vd. Wikipédia

A G3 (em alemão: Gewehr 3, Espingarda 3) é uma espingarda automática fabricada pela Heckler & Koch (daí ser também conhecida por HK G3) e adoptada como a espingarda de serviço pela Bundeswehr (Exército Alemão) em 1959 (e até 2001), e depois por outros exércitos, nomeadamente dos países da NATO.

A G3 é tipicamente um espingarda, de calibre 7,62 mm, capaz de fogo semi-automático ou totalmente automático. Pode ainda ser anexada uma baioneta à G3. Foi desenvolvida pelos engenheiros da Mauser. A versão original da G3 era com punho e fuste de madeira.


Do mesmo fabricante é a HK 21, a metralhadoras em calibre 7,62, igualmente usada pelas NT nos TO da Guiné, Angola e Moçambique.

Face à Guerra do Ultramar, no incío dos anos 60, e ao embargo de armas imposto a Portugal pelo Governo Kenedy, uma nova arma. Por causa do embargo dos Estados Unidos, na época do Kenedy, a escolha acabou por cair num outro país da NATO, a Alemanha, disposto em transferir a tecnologia para a fabricação da arma em Portugal, neste caso para a Fábrica de Braço de Prata.

Quando chegou a África, em comparação com as antigas armas ligeiras das forças armadas a G3 era vista como extremamente sofisticada. Tratava-se de uma arma automática, que podia disparar rapidamente uma considerável quantidade de munição.

Foi necessário bastante treino de forma que a tropa se habituasse a entender que a posição normal da arma deveria ser a posição tiro-a-tiro, porque do ponto de vista operacional, gastar rapidamente a munição no meio do mato, seria um problema.

Em 1965, já o número de espingardas automáticas G3 tinha ultrapassado as 150.000 nas forças armadas, e mesmo assim, ainda existiam em funcionamento 15.000 espingardas automáticas FN, fornecidas de emergência pelo exército alemão, antes da introdução da G3.

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2485: O nosso armamento no princípio da guerra: G-3, FN, Uzi (Santos Oliveira)

(...) Notas de L.G.:

(...) "Sobre armamento usado pelo Exército Português no início da guerra colonial / guerra do ultramar, vd. sítio do Centro de Documentação 25 de Abril, da Universidade de Coimbra:

(...) "Para acorrer às necessidades imediatas, a RFA [República Federal Alemã] prontificou-se a ceder, dos seus stocks, 15 000 espingardas FN usadas, sem restrições de emprego, que deveriam ser devolvidas depois de beneficiadas e à medida que fossem fabricadas as G-3. De facto, foram recebidas 14 867 FN por esta via, mas quanto à devolução, parece não ter havido pressa, porquanto, em 1965, havia já cerca de 140 000 G-3 de fabrico nacional e estas FN continuavam em Portugal.

"Ainda quanto às espingardas FN, foram também adquiridas directamente à fábrica, ou através de outros utilizadores (África do Sul). Mais concretamente, dado o carácter de urgência, houve um lote de armas cedido por este país dos seus próprios stocks, posteriormente repostos pela fábrica belga. No total seriam fornecidas cerca de 12 500 destas armas.

"Antes da adopção da G-3, a distribuição prevista de armas automáticas era a de FN para Moçambique e de G-3 para Angola, mas problemas políticos levaram a que, em certo período, a G-3 fosse mantida “fora de vistas” nesta última. O total de armas adquiridas, antes do fabrico nacional, foi de 8000 G-3, 12 500 FN belgas e de 14 500 FN alemãs, repartidas pela metrópole, Guiné, Angola, Moçambique e Timor.

"A produção julgada necessária em Junho de 1961 era de 105 000 armas, sendo 75 000 para a metrópole e 30 000 para o ultramar. O conceito inicial era de manter na metrópole o número de armas destinadas à instrução e ter em depósito as necessárias para equipar as unidades mobilizadas, mas o futuro se encarregaria de inverter esta distribuição. É curioso notar que só por despacho de 18/9/65 do CEMGFA a G-3 foi considerada 'arma regulamentar'. (...)
.

Guiné 63/74 - P3498: No 25 de Abril eu estava em... (6) Agrupamento de Transmissões, Bissau (Belarmino Sardinha)

1. Mensagem de Belarmino Sardinha, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, 1972/74, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, com data de 11 de Novembro de 2008:

Estimados Editores,

Caro Carlos Vinhal,

Não me esqueci do pedido para escrever como foram as coisas depois do 25 de Abril de 1974, mas andei a ver como poderia organizar isso e encontrei como solução aquela que envio em ficheiro.

Ficam inteiramente à vontade para publicarem ou não.

Os nomes mencionados são quase todos de amigos de quem há muito não sei o paradeiro, não deixaram de ser amigos e indico-os porque poderá haver quem, também conhecendo-os e sabendo onde estão, possa convidá-los a participarem. Admito que aconteça com eles o que comigo aconteceu, não fosse um outro camarada e só por acaso descobriria este blogue.

Pronto, está dito o essencial e o que queria.

Comecei a dar volta ao baú e descobri lá um poema que foi adaptado por um alferes miliciano de uma companhia que estava em Aldeia Formosa. Foi impresso em postais de Boas Festas e serviu para enviarem no Natal de 1972. Estou a tentar descobrir um desses postais, só tive dois, mas parece-me tarefa difícil. Se houver alguém que se lembre ou tenha um postal do Natal de 1972 de uma companhia de Aldeia Formosa ajuda, não devem ter havido muitos, especialmente impressos. Tem inclusive o crachá dessa companhia que eu não me recordo qual era. Poderá também ajudar à recolha de emblemas e crachás feita pelo nosso outro camarada da tabanca. Pela minha parte vou tentar descobrir o crachá do Agrupamento de Transmissões para vos enviar.

O estar com todos sem fazer parte de ninguém tem destas coisas.

Um abraço,
BS


2. E Depois do 25 de Abril
por Belarmino Sardinha

Quando se contam Estórias que poderão fazer parte da História, estas, embora verdadeiras, só devem ser história depois de despidas da emotividade colocada na narrativa de quem, vivendo as situações, não conseguiu libertar-se de as descrever apaixonadamente, mesmo que devidamente documentadas.

Continuo assim empenhado em contar estórias, não podendo fazê-lo de outra forma por não me sentir habilitado a mais, embora o que escrevi seja verdade indesmentível, deixo para quem, especialista na matéria e melhor do que eu, possa fazê-lo ao reescrever e enquadrar as coisas no lugar correcto.

Após clarificada a minha posição para utilizar o termo Estória e não História, procurarei redigir novo rascunho acerca do que me foi sugerido, contar como foram vividos os dias, em Bissau, após 25 de Abril de 1974.

Pouco posso dizer, tinha praticamente a comissão acabada, em Abril de 1974. Se houvesse uma maior afluência ou adesão dos camaradas que como eu estiveram lá nos anos de 1972/74 era bom. Esperemos que se sintam motivados e respondam, pronto.

Ao longo do texto procurarei deixar alguns nomes, de conhecidos e amigos (espero que todos eles me desculpem), que foram protagonistas de acontecimentos que, não só pelas suas posições mas também por força delas, poderão ajudar a completar a História. Quem sabe se os editores ou outros camaradas, com trabalho feito, não conseguirão motivá-los e ajudá-los a integrarem o blogue.

Após grande agitação no Agrupamento de Transmissões, uns dois ou três dias imediatamente anteriores ao 25 de Abril de 1974, por parte de alguns oficiais que perguntavam com frequência se tinha vindo esta ou aquela mensagem, acordámos todos, os que não estavam de serviço, com a certeza de que algo se tinha passado na noite de 24 para 25 de Abril de 1974.

O nosso comandante, à data tenente-coronel, Mateus da Silva (*), tinha substituído interinamente o então Governador e Chefe Supremo da Forças Armadas Bettencourt Rodrigues. Esta situação manteve-se durante e até à chegada do Coronel, graduado em Brigadeiro, Carlos Fabião.

Foi este o nosso despertar, no Agrupamento de Transmissões, no dia da revolução dos cravos.

Como as rotinas de serviço nada tivessem de diferente e as possibilidades de procurarmos nova ocupação não fossem possíveis, havia também que manter a rotina das horas vagas, ir até ao centro de Bissau, beber umas cervejas, comer nos locais habituais ou naquele que era o mais recente, O Ninho , na estrada para o QG e assim passarmos o tempo que faltava.

Contudo essa rotina complicou-se em Bissau nos dias seguintes ou em quaisquer outros locais que não os quartéis. Começámos a ser insultados com palavras como vai-te embora para a tua terra ou fora daqui e até agredidos ou pelo menos essa tentativa, próprio de alturas de mudanças desta natureza, pelo que era impensável andar sem ser em grupo.

Isso obrigou a diversas intervenções da polícia militar, com alguma firmeza, pois as coisas ficavam, por vezes, bastante difíceis e quase sempre para os militares. O ambiente no meio civil nunca mais foi calmo e tranquilo como até então. Onde não havia guerra começava agora a inflamar-se a situação. Nessa altura julgo estar ainda lá, na PM, no Forte da Amura, o então alferes miliciano Fernando Pinto.

Mas também dentro dos quartéis se registaram mudanças, há muito que no Agrupamento de Transmissões falávamos nas condições que tínhamos nos nossos quartos (desculpem-me os camaradas que estavam ou estiveram em condições péssimas e lamentáveis, conheci algumas. Tenho sempre dito que fui bafejado pela sorte e que estive sempre bem. Tal como o apanhado num acidente mas que acaba sempre por ter sorte. Enfim, adiante. Não podia fazer este relato sem dizer isto), onde não cabíamos todos se chegava alguém vindo do interior.

Como trabalhávamos por turnos, de quatro horas, alguém tinha que ceder a cama, por vezes mais do que um até, caso contrário o camarada não dormia, montava uma tenda ou arranjava outro qualquer expediente.

Aproveitámos os ventos de mudança e até o segundo comandante, um Major pouco simpático cujo nome não me recordo, passou a ser uma simpatia e andou a ver as nossas instalações e a ouvir as queixas que tínhamos. Digo-o com conhecimento por ter feito parte do grupo que o acompanhou e expôs a situação. É claro que houve algumas melhorias, mas pouco pude acompanhá-las devido ao meu regresso em Julho de 1974, após cumpridos 24 meses e vinte dias.

Os festejos continuavam e eram uma realidade, ouvia-se agora na Rádio os diferentes grupos de militares que lá iam dando voz, havendo mesmo militares que lá iam cantar, alguns em coro. Recordo um que interpretou um dos hinos do 25 de Abril de 1974, Grândola, Vila Morena do saudoso Zeca Afonso. Refira-se que na altura era, salvo erro, Director da Rádio o conhecido autor de obras musicais Nuno Nazareth Fernandes, também ele à data alferes miliciano de engenharia.

Estas as pinceladas rápidas que posso dar sobre a vida após 25 de Abril de 1974 na cidade de Bissau. Ouvia-se dizer que no interior havia já confraternização e visitas dos elementos do PAIGC aos quartéis. Não pude testemunhar nenhum desses acontecimentos.

Acrescento ainda outro nome, o do ex-furriel miliciano Carlos Santos Pereira (**), que se encontrava lá também nessa altura e tratava de uma área ainda aqui não falada ou, pelo menos não vista por mim, os serviços de escuta, onde eram ouvidas todas as emissões de rádio do Senegal e Conacry e eram efectuadas ainda outras escutas.
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Notas do B.S.:

(*) O Tenente-Coronel Mateus da Silva, além de militar, era, e digo era porque apenas o conheci naqueles anos, entenda-se, uma pessoa de agradável trato com todos os militares, sendo frequente a sua presença em partidas de futebol dentro do quartel.

Posteriormente, já na Metrópole, integrou uma das administrações, à data CTT/TLP, onde trabalharam alguns dos ex-militares do Agrupamento de Transmissões.

(**) Também ele, além de poder falar sobre o assunto que era feito pelo serviço de escuta, e relatar a vida após 25 de Abril de 1974, pode contar porque foi até Bigene, durante uns três meses. Mas melhor que ninguém ele o poderá explicar.

Trata-se do jornalista Santos Pereira, convidado das televisões para falar sobre os conflitos na Tetchénia e nos Balcans e com obras publicadas na editora Cotovia.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3262: No 25 de Abril eu estava em... (3): Gadamael e depois Cufar (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp, CCAÇ 4152)

Vd. última colaboração de Belarmino Sardinha em 29 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)