1. Mensagem de José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71), com data de 3 de Abril de 2010:
Caros amigos Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães
Desejo-vos uma Páscoa Feliz na companhia dos vossos familiares.
Mais uma vez venho relatar um pouco da actividade operacional da CCAÇ 5, em Canjude, Guiné. Deixo ao vosso critério a publicação, ou não, da mesma, assim como a inclusão das fotos.
Um Abraço
José Corceiro
José Corceiro na CCAÇ 5 (8)
PRIMEIRO REBENTAMENTO DE MINA ENTRE CANJADUDE E NOVA LAMEGO
Estamos no dia 31 de Agosto 1969. Na CCAÇ 5, as saídas para o mato, têm sido quase diárias e continuamos submetidos a muita tensão, pois são constantes as informações a dizer que vamos ser flagelados.
A vinda de correio ultimamente tem sido inconstante, os intervalos de tempo sem receber cartas são muito espaçados. Eu, a última vez que recebi correspondência, entre aerogramas e cartas, recebi 19 unidades, foi normal, é que fiz 22 anos o dia 28 de Agosto. A falta de correio, que aparentemente pode não parecer um facto muito importante, deixa-nos a todos com os nervos em franja. Aqui, para o nosso equilíbrio emocional, é demasiado importante receber notícias da namorada, dos pais, amigos, pessoas que nos são queridas. Estamos no dia 3 de Setembro e mais uma vez já passaram oito dias sem correio. Até há frescos (comer mais mimoso) em Nova Lamego, para a CCAÇ 5, e não há coluna nem vem a DO trazer os mesmos e o correio!
Dia 5 de Setembro, veio a DO trazer o correio e alguns dos frescos que estavam em Nova Lamego, eu recebi mais um montão de correspondência, o pessoal estava todo impaciente e ansioso à espera de notícias.
Dia 6 de Setembro, Sábado, recebi o meu primeiro pré na Guiné, recebi 3.978$00 deve rondar 1.200$00 mensais. Se não fossem os meus queridos Pais a mandarem-me dinheiro todos os meses, só com esta quantia, seria bem mais complicado viver aqui. Eu vejo o que acontece com os meus camaradas, que são obrigados a impor muitas restrições nas suas despesas. Houve alguns que fizeram anos há dias e ocultaram a data, porque não tinham dinheiro para pagar uma cerveja, fiquei sensibilizado com esta conduta de honestidade e humildade, foi um comportamento que revela dignidade e apreço. Agora que receberam o pré, é que se abriram e propuseram que amanhã se fizesse um “petiscozinho”, porque já há dinheiro fresco para cervejas, são logo três nestas circunstâncias. Embora eu tivesse pago umas cervejas ao pessoal quando fiz anos, quero-me associar aos gastos deste elegantíssimo gesto, pois eu teria muita dificuldade em estar sem dinheiro e por isso mais valorizo e compreendo a atitude sincera e disponibilidade que manifestaram.
Aqui em Canjadude, está-se a disputar um campeonato de futebol entre as equipas formadas pelos: 1.º, 2.º, 3.º, 4.º pelotão, a Formação, os graduados e as Transmissões, hoje Domingo jogaram o 1.º pelotão e a Formação.
Foto 1 > Equipa de Transmissões > Frente lado direito: Fur Mil José Martins, José Carlos Freitas (jogador V. Guimarães), Alex, José Corceiro e Enfermeiro Soares (massagista). De pé lado direito: Nora, Rogério, Costa, Silva e Loupa
Foto 2 > Equipas em campo: Transmissões e Formação > Da esquerda para a direita: Loupa, Soares (massagista), José Corceiro, Silva, Costa, José Carlos, Alex, Nora, Rogério, José Martins, Fur Mil Carvalho (árbitro), Fur Mil Gil (Delgado do Campeonato), João Monteiro (Formação), Martins (Formação), e ? (Formação)
Dia 8 às 6.00h, saí para mais uma operação no mato, durante dois dias, de Transmissões fui eu e o Rogério. Foi sair do Aquartelamento e entrámos logo feitos patos dentro água, tivemos que atravessar rios em que a água nos dava pelo peito, este tipo de progressão é muito desgastante. A operação no mato foi rotineira, grande parte do tempo a caminhar com água até aos joelhos, acampar para comer a ração de combate, descansar um pouco, mandar mensagem a relatar estado e definir localização, progredir novamente, acampar para passar a noite.
Foto 3 > José Corceiro em Operação no mato a repor rnergias para ir para os braços de Morfeu.
A noite, tudo indica que vamos ter um manto de nuvens cinzentas a cobrir-nos, pois não terei oportunidade de observar constelações e, apressa-se a hora de escolher o poiso para entregar o corpo nos braços de Morfeu. Só que neste estado de alma e com este desconforto físico com a roupa toda ensopada, agora e, aqui neste lugar, a sonolência não vai chegar, para as minhas pestanas poderem fechar. Nada adiantaria que o leito fosse feito de ébano, com colchão macio engendrado com penas de pato, que a cama fosse feita com lençóis aveludados de cetim encarnado, que o cenário fosse dentro duma gruta toda decorada com flores e salpicada de pétalas de todas as matizes, que a iluminação fosse prismática dispersada por raios de luz cintilantes, em feixes de luminescência deslumbrante, de cromáticos arco-íris, nada, nem ninguém, consegue prender o meu espírito e a minha imaginação, que vagueiam por outras paragens, por outros aléns e não vão ser com certeza, as forças hipnóticas e sugestivas, ou as suas farsas “fantasiantes”, dos filhos de Hipnos, os Oniros (Oneiroi), nem a capacidade e ilusão das suas “morfinices” terão a inspiração e capacidade, para me transportar para mundos oníricos, ou sonhos demenciais, porque o momento não é de aconchego, o tempo promete tempestade, a brisa trará os endiabrados mosquitos que não me vão dar sossego, nem deixar descansar. Vai ser mais uma noite de vigia, tão propícia a divagações com projecções angustiantes de imagens fantasmagóricas, com devaneios assombrosos de sonhos irreais.
Praticamente toda a noite choveu. Ao raiar da luz matinal, levantamo-nos do chão enlamaçado e, moldado pelos nossos corpos, que estavam encharcados, encolhidos e entorpecidos com a inactividade e, fresquidão que se sentiu durante a noite. Preparámo-nos para enfrentar mais uma jornada de progressão nas Bolanhas alagadas, a caminhar até Canjadude, onde chegámos por volta das 11.00h.
Dia 10 de Setembro, houve informação que hoje o inimigo nos vai flagelar. Na parte de tarde choveu torrencialmente. Mudámos as frequências dos equipamentos de emissão recepção, no Posto de Rádio. O IN não nos flagelou, isto já começa a ser desmensurado, a continuar assim entra-se no foro do patológico, degenera em neurose, cria tensão e ao mesmo tempo, esta exacerbada emoção inibe o discernimento, alimenta o descrédito que nos pode levar a ser menos previdentes, quando nós precisamos de estar bem precavidos.
Foto 4 > José Corceiro no abrigo do Posto de Rádio da CCAÇ 5 > Lado direito na vertical vê-se o AN-PRC-10 - Frente vê-se AN-GRC-9 com amplificador acoplado. - Lado esquerdo vê-se a Central Telefónica - Tinha extensões distribuídas que sinalizavam, accionando o Magneto por manivela, nos abrigos: Capitão, Morteiros 81 e Postos de Sentinela.
Foto 5 > Posto de Rádio de Nova Lamego. O Mota, a ajustar os cabos de ligação, ele estagiou, como periquito, em Canjadude e a primeira vez que saiu para o mato, em Canjadude, foi comigo.
Dia 12 de Setembro de 1969, há coluna de abastecimento a Nova Lamego, não era a minha vez de acompanhar a coluna, mas troquei por minha conveniência, para poder comprar com o dinheiro que me mandaram como prenda de anos, uma máquina fotográfica, pois preciso ter duas, uma para fotos a cores e diapositivos e outra para foto a preto e branco, para poder optar em função do momento a fotografar. Na última coluna que fiz, já andei a namorar uma máquina “reflex” na casa Caeiro, a rondar os 4.000$00, é uma óptima máquina da marca Canon. A filha do Sr. Caeiro bem me provocou para que eu a comprasse, mas não vim preparado com dinheiro suficiente, embora eles dissessem que isso não tinha importância nenhuma e pagaria o resto depois, mas esse facilitismo comportamental não se coaduna com a minha postura tranquila e harmoniosa de estar em paz com vida.
Nas colunas que tenho acompanhado, cerca de uma dezena, nem sempre é habitual montar flancos e fazer picagem ao trilho, para passarem as viaturas, em algumas que fui, montámos em Canjadude e apeámos em Nova Lamego. Não foi o que aconteceu hoje, logo após termos saído de Canjadude a cerca de 4 quilómetros, apeámos, montaram-se flancos laterais e iniciou-se a picagem. Progrediu-se em picagem mais de uma hora.
Ainda não eram 8.30h, subimos para as viaturas para avançar. Eu estava a estabelecer contacto via rádio com Canjadude. A viatura da frente arrancou, eu ia na segunda viatura, a última da coluna ainda não estava em movimento de progressão. Neste intervalo de tempo ouviu-se um violento rebentamento, tudo à minha frente voou pelos ares, envolto em cortina de fumo e terra, devido ao rebentamento de mina anticarro accionada pela primeira viatura. Não sei como saltei do transporte onde eu ia, só ganho consciência que estou no chão de pé e com uma G3 na mão, que não era minha, pois não tinha arma distribuída. Olho em frente e vejo a escassos metros uma viatura atravessada na picada, com a parte frontal toda destruída e, o chão assolado com corpos humanos, pensei o pior, aproximei-me ajudei alguns a levantarem-se, mas deparei-me logo com um ferido que me inspirou muito cuidado e preocupação, caso que nunca esqueci e me marcou. Estava caído no chão, inerte, desconsolado, a gemer desfalecido com muito padecimento, não havia mobilidade e a visão daquela fácies hipocrática com a sua fisionomia de músculos contraídos, atestavam bem o sofrimento e dor porque estava a passar aquele ser humano, imagem que já mais apaguei da minha mente. Verifiquei que não tinha contracções musculares nem sensibilidade nos membros inferiores, ajudei-o a apoiar a cabeça e pedi para que não o movimentassem, continuava a gemer desesperadamente e acabou por desmaiar. Nunca mais tive notícias deste militar nativo, presumo que tenha sido mais uma vítima da guerra que ficou paraplégica.
Fui para a viatura de Transmissões para enviar mensagem a Canjadude, a pedir evacuações urgentes e apoio de enfermagem, pois havia muitos feridos deitados no solo e, em sequência, pediu-se a Nova Lamego que enviasse um grupo de protecção e um pronto-socorro para levar a viatura acidentada. (Do local do acidente a Nova Lamego eram aproximadamente 15km)
O Comandante da CCAÇ 5, Capitão Pacífico dos Reis, também ficou ferido, mas aparentemente parece ser sem gravidade.
Como enfermeiro acompanhava a coluna o meu estimado amigo António Manuel. Cerca das 9.30h, chegou ao local, vindo de Canjadude, numa viatura com uma secção de combate o Sarg Enfermeiro Cipriano, com o material auxiliar de enfermagem. Passadas quase 3 horas, após o rebentamento, chegaram reforços de viaturas e pessoal de Nova Lamego assim como pronto-socorro para levar a viatura acidentada.
Passaram mais de 3 horas e meia após o rebentamento quando, chegou o primeiro heli para dar inicio às evacuações dos feridos. Feridos houve um total de quinze, ainda que outros viessem a sentir mazelas posteriores, evacuados foram nove, alguns com gravidade. Após concretizar as evacuações, o pessoal que veio de Nova Lamego ficou emboscado no local do acidente e a coluna de Canjadude seguiu o percurso normal, onde se reabasteceu. Regressámos e juntámo-nos com o pelotão que estava emboscado que nos acompanhou para Canjadude onde chegámos próximo das 17.30h. (Ver neste blogue P5987)
Foto 6 > Heli a aterrar numa clareira, com sinalização com tela, para dar início às evacuações dos feridos da mina anticarro.
Foto 7 > Heli quando aterrou na clareira.
Foto 8 > Heli a efectivar as evacuações. O metropolitano que está com óculos escuros era o Enfermeiro meu amigo António Manuel, desde que veio da Guiné, há 40 anos, perdi-lhe o rasto.
Foto 9 > José Corceiro, em primeiro plano, durante as evacuações dos feridos.
A mina foi colocada debaixo de uma árvore, cujos ramos atravessavam a picada, quando rebentou e projectou o pessoal para o espaço, muitos deles feriram-se ao bater nos ramos da árvore, ainda que o impacto de compressão e descompressão no organismo, causado pela força aplicada que projectou a massa do corpo para o vazio, fosse causa mais que suficiente para ocasionar distensões musculares, provocar roturas de tecidos, ou fracturas ósseas. Após o rebentamento alguém se lembrou e, teve a ideia luminosa, de picar até mais à frente do local do rebentamento, 30 ou 40 metros, e, detectou-se e foi levantada mais uma mina, colocada com o mesmo engenho e manha da que rebentou, também debaixo de uma árvore.
Dia 13 de Setembro, mais uma operação em que saíram para o mato os quatro grupos de combate da CCAÇ 5, por três dias. Ficou o pelotão de outra companhia, que ontem nos acompanhou, a proteger o Aquartelamento. Logo às 6.00h, as viaturas foram-nos levar a cerca de 4 quilómetros na direcção da picada do Cheche, apeamos e começamos a progredir para a esquerda obliquamente, orientação Siai, a caminhar como habitual em terreno pantanoso, algumas vezes com água até à cintura. Acampamos para comer a ração de combate e descansar cerca de duas horas. Na parte de tarde progredimos constantemente dentro de lodaçais e por duas ou três vezes tivemos que fazer paragens, para repor energias, pois há pessoal estoirado visto ser muito desgastante caminhar em zonas alagadas. Acampamos para passar a noite que felizmente pouco choveu. O pessoal de Transmissões juntamente com Enfermagem, ficámos próximo do Capitão, como é normal. O Capitão, provavelmente ainda resquícios dos ferimentos da mina de ontem, passou a noite com dores e lamentações, possivelmente mialgia muscular.
Ainda estava o alvorar envergonhado, já toda a companhia caminhava dentro de lamaçal, em direcção a Ganguiró, com os corpos amarfanhados e friorentos devido à noitada agreste. O pessoal chegou exausto a Ganguiró e tivemos que pedir meia dúzia de evacuações, entre as quais a do nosso Comandante Capitão Pacífico dos Reis.
Depois das evacuações, progredimos durante 2 horas, sempre em terreno hostil e a circundar na zona, fomos acampar junto da margem do rio Bauro, (deve ser afluente do rio Corubal) onde passámos a noite, não muito longe de Ganguiró. A passagem da noite não foi muito agradável, pois ainda choveu. Ausente ainda, o alvorecer, pois vinha a aurora a subir a encosta de Madina de Boé, já nós estávamos todos a pé, um pouco encharcados, enlameados e conformados a palmilhar terrenos alagados em direcção ao objectivo, Siai. Chegámos a este sem nada digno de registo, nada de vestígios. A partir daqui tomámos o rumo de Canjadude, onde chegámos por volta das 16,30h, com todo o pessoal extenuado. Está-se a tornar impossível a mobilidade das viaturas para nos ir levar ou buscar ao mato, porque ficam atoladas nos trilhos e só o guincho, com corda amarrada ao tronco de árvores, as consegue libertar para avançar.
Dia 16, houve coluna a Nova Lamego a levar o pelotão que estava aqui a manter segurança, mas algo de estranho aconteceu, porque só regressou a coluna dia 17, nunca aconteceu regressar no dia seguinte. Veio um capelão para Canjadude.
Dia 19, logo de manhã, foram dois pelotões para o mato. Ao meio da tarde recebeu-se uma mensagem Zulu, a pedir que fosse imediatamente um pelotão da CCAÇ 5, para Nova Lamego. Foi enviado o pelotão e mandaram-se regressar as forças que estavam no mato, que chegaram ao Aquartelamento por volta das 23.00h. A vinda inesperada dos dois pelotões, que estavam no mato, sem se ter dado conhecimento ao resto do pessoal que estava no aquartelamento, provocou uma enorme confusão e celeuma, pois os ausentes não estava previsto regressarem neste dia e, quando chegaram às suas casas encontraram algumas das suas mulheres envolvidas com outros homens, na sua própria habitação.
Dia 20, está tudo de prevenção, mais uma informação a dizer que o IN está na zona e que vai flagelar hoje Canjadude.
Dia 21, o pelotão continua em Nova Lamego, tivemos missa de manhã e, na parte de tarde continuação do campeonato, jogo entre Formação e 3.º pelotão.
Dia 23, também reflexos do acontecido no dia 19, e não só, hoje para irmos para o refeitório comer as refeições, tivemos que ir devidamente fardados o que não é habitual. Como já atrás referi, a má qualidade alimentar, não tem sido apelativa para o exercício das nossas pupilas gustativas e como tal protestámos, porque o comer que nos têm servido mais parece ser confeccionado com géneros deteriorados.
Foto 10 > Arranchados descontentes com o comer. Estão de pé dois cozinheiros e o Cabo de Dia, Dias. Sentados à mesa – lado direito – Silva, José Corceiro, Saldanha (nativo), Malhada e Alex (com óculos). Lado esquerdo - Rogério.
Foto 11 > Depois de se ter acordado, outro suplemento alimentício com o Oficial de Dia, foi indicado o José Corceiro para distribuir a refeição.
Foto 12 > Tudo com cara de poucos amigos. Primeiro plano – Camilo, Silva (atirador), José Carlos Freitas.
Dia 24, saí para o mato com dois pelotões, para os lados de Cantocoré a caminhar, como é uso, por Bolanhas alagadas que aqui começa a ser rotina. Progredimos com muita precaução pois havia informação que o IN estava na zona. Durante a noite foi tanta a chuva e o vento, que ameaçava sermos todos arrastados pelo vendaval, ninguém se lembra de ter passado uma noitada, no mato, tão atemorizante quanto esta, mesmo assim durante a noite ouvimos os intensos e nítidos rebentamentos, da flagelação que sofreu Cabuca, que esteve embrulhada, debaixo de fogo, mais de meia hora. Por volta das 6.00h, começamos a caminhar em direcção ao Destacamento, onde chegámos às 8.30h. Fomos atacados no regresso por abelhas, às quais o pessoal reage com muita desorientação e medo, a mim não me mordeu nenhuma.
Dia 26, fomos meia dúzia de militares para o rio, junto à ponte, para experimentar a minha nova máquina fotográfica, a malta arrisca-se. Em Canjadude têm convergido um conjunto de acontecimentos que aglutinados têm contribuído para um
stress generalizado: A actividade operacional tem sido excessiva e, efectivada em condições atmosféricas muito adversas, em terreno alagado e avesso, que requer esforço físico e muita exigência para a progressão, que causa muito desgaste somático, deixando-nos exaustos; as informações constantes a dizer que vamos ser atacados, já virou psicose, psicologicamente ficamos mais inseguros; a vinda do correio tem sido tão espaçado, que não era habitual, deixa-nos ansiosos; a alimentação grande parte dos dias não se pode tragar e, nós que somos tão poucos arranchados, podíamos ter alimentação mais condigna e melhor confeccionada. É muito raro o dia em que não haja vozes descontentes devido à alimentação. Ainda que eu seja um caso à parte na problemática alimentar, eu já não me queixo, por mais justas e pertinentes que sejam as minhas razões para reclamar ninguém me ouve a desacatar. Além disto foi ainda a flagelação ao Aquartelamento, o rebentamento da mina, avistou-se por duas vezes o inimigo e as supra-renais têm actuado!...
Dia 30 de Setembro de 1969, veio o Capitão Manuel Ferreira de Oliveira, para render, que acabou a comissão, o Capitão José Manuel Marques Pacífico dos Reis. Hoje também regressou o Furriel de Transmissões, que chefia a minha secção, José da Silva Marcelino Martins.
Para todos um abraço.
José Corceiro
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 30 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 - P6078: Convívios (122): Encontro do pessoal da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, dia 24 de Abril em Porto de Mós (José Corceiro)
Vd. último poste da série de 22 de Março de 2010 >
Guiné 63/74 - P6036: José Corceiro na CCAÇ 5 (7): Canjadude debaixo de ameaça