segunda-feira, 12 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6722: Blogoterapia (152): Logo se vê... (Torcato Mendonça)

1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) com data de 9 de Julho de 2010:

Caro Carlos Vinhal
Vai para ti e para o blogue.

Li ontem à noite e comentei. Hoje voltei a ler. Tinha mexido comigo.

O P6698 do José Corceiro, levou-me, outra vez aos bons, maus e vilões - como costumo dizer. Ora muitos Camaradas nossos, além dos três majores, um alferes e três, creio eu, militares, foram barbaramente assassinados. Houve outros, houve Quirafo, houve ataque selváticos a populações indefesas. Houve e calar ou, pior que isso, confundir e acusar as NT, algum elemento das NT e quantas vezes sem se saber ou dizer o porquê. Não desculpabilizo qualquer atitude de violência gratuita, quanto mais assassinatos ou violações. Mas de quantas mentiras é feita a verdade (como diz o escritor angolano Águalusa)

Ou o P6694 do Beja Santos. Aí refiro-me ao fuzilamento de um amigo, o Capitão Comando Zacarias Saiegh, homem de Abril.

Sobre Cabral e Nini nada se diz. Está escrito.

Suavizo com a Poesia do Mexia Alves que tem mais que se lhe diga e eu gosto e releio. Enfim... ainda bem que há pessoas assim.

Anexo um texto em bruto. Fui ao arquivo dos textos e escolhi esse. Cuidado com ele. Vai assim e logo' irei ler. Sem rede e sem titulo.

Abraço amigo do Torcato
E esta porra de guerra que se entranha. Há um poilão em Candamã e logo conto... pode ser um desejo de velho... terra vermelha e ardente...


Titulo, logo se vê

A folha de papel em branco, ecrã neste caso, as ideias a quererem sair e não saber o que fazer ou por onde começar. Galomaro, COP 7, Madina.

É mais fácil, antes de teclar, escrever no papel. Será assim ou é defeito da idade? Questão que tem a ver com a idade, certamente. Quando era mais novo escrevia no papel, emendava no papel e depois passava ao teclado. Não era teclado de computador. Nesse tempo, para onde a memória agora me levou, os computadores usavam cartões perfurados e eram uma sala para um computador. Os teclados das Remington, Olivetti e outras eram barulhentos, letras noutras posições que não QWERT. Se bem me lembro eram HCESAR ou AZERT e quando um fulano se enganava era uma maçada.

Mas porque escrevo isto? Para arrefecer as ideias ou dar tempo a que elas se arrumem? Não sei. Continuo a não saber por onde começar. Claro que o assunto se prende com o Blogue, a Guiné e os escritos geradores de controvérsia. Felizmente geradores de controvérsias. Que seria um blogue, com tantos tertulianos ou membros do dito, a pensarem todos de igual forma. Era um estado novo. Bem isso não. Se fosse um estado novo pensavam de forma diversa mas poucos, muito poucos, divergiam em opinião expressa.

Isto, esta conversa, é como os teclados de computadores e máquinas de escrever: todos se lembram e quase todos já se esqueceram deles. Como se esqueceram ou relembram certas situações, então vividas, de forma diversa.

Li o escrito de Luís Graça sobre Madina Xaquili e a sua CCaç 12 e, também sobre Madina e a Guerra Vista de Bafatá de Fernando Gouveia.

Fui até lá. Andei por lá, relembrando aquela zona, o que por lá fiz e vivi. Voltei a reler, mais ao correr do rato, vendo as boas fotos e abrindo a memória, desbaralhando ou arrumando ideias. Depois procurei na velha agenda de 69 o mês de Julho/Agosto.

Que idade teria eu? Vinte e quatro e dezanove meses de Guiné. Era isso. Andava por aqueles lados, emprestado à Companhia de Galomaro e ao Cop 7. No historial da minha 2339 nada diz. Não convinha.

As ideias entram, agora em catadupa. É a Guerra vista do Fundão. Sem o querer vi a guerra de forma diferente de LG ou de FG. É lógico que assim seja. Arrumo as ideias, bato ao teclado, falo da minha guerra e digo: – A vossa foi diferente. Digo ou não? Digo. Se foi.

Madina Xaquili ficou indelevelmente no coração de FG. Foi a viagem ao mato, a aventura, o perigo. É um amante da natureza e um homem com uma enorme saudade da Guiné. Foi lá agora, em turismo de saudade – designação foleira não é?... e lastimo que não tenha ido a Madina.

Mas porque mandaram um oficial de Informações naquela missão? Que o In estava mais activo depois do abandono do Boé (e margem esquerda do Corubal) todos sabíamos, excepto o Administrador de Bafatá claro.

Certamente malhas que o império teceu. Gostei da Série de “A Guerra vista de Bafatá” e das fotos claro. Bafatá, para mim, era o contacto com outro mundo, quase o contacto com a civilização. Raramente lá ia. Da Série relevo ainda a parte relacionada com o morteiro 60, a ausência? Do prato e só 16 (dezasseis) granadas o que, no meu ver dava manga de ronco. Para quem fez a maior parte da comissão por Madinas e similares é natural que assim pense. Erro meu, má fortuna…

Quanto à CAÇ 12, socorri-me da velha agenda de 69. Folheei até ter os meses de Julho e Agosto. Dia 22 de Julho lá está a ida a Madina Xaquili. Ia com a coluna levar militares e trazia as viaturas para Galomaro. A Tabanca de Madina era um buraco e, já lá, disse a alguém, creio que de T-shirt branca, que o lugar era mau etc, etc. Não ia adiantar muito pois o meu trabalho era outro. Mas bastava olhar para os abrigos, a defesa, a mata, o ter que fazer a aproximação a ela em terreno aberto. Tinha que ser dada uma volta urgente. Era o normal em muitas Tabancas. Fracas auto defesas, geralmente protegidas por Milícias. Aconteceu-nos semanas depois quando, devido aos ataques e outros problemas fomos destacados para Nova Cansamba. Aí estava um pelotão de uma qualquer companhia e não haviam Milícias. Grande parte da população estava armada mas nada treinada e a confusão era enorme. Defesa deficiente e nem arame farpado colocado para impedir avanço de nada. Quando foi colocado pelos rolos gastos, deu cerca de três quilómetros de perímetro. Grande Tabanca. Deixemos Cansamba para depois e voltemos à agenda. Diz lá, e reproduzo muito sinteticamente. Mês de Julho: - a 13 saída de Candamã e Áfia e regresso a Mansambo;- a 16 vinda para Bambadinca para seguir para Galomaro; - a 22 Madina Xaquili; - várias saídas e ataques vários em zona que nos dizia respeito como Candamã, Mansambo, Cansamba já na área onde nos encontrávamos e outros. Quinze dias a mostrar forte actividade do In, mesmo com o COP 7 e os Páras a trabalharem na zona. Trabalho não faltava e a 1 de Agosto fomos para a enorme Tabanca de Nova Cansamba. Na Carta do P6686 a Tabanca deve situar-se onde está a palavra Fontes.

Picada Afiá-Candamã

Uma confusão enorme naquela tabanca e, nessa mesma noite sofremos um ataque. Era o IN a mostrar estar informado e querer experimentar a nova tropa. Natural.
Aqui funcionou a nossa metralhadora pesada: Era, se visto agora, uma loucura. Funcionava do seguinte modo: cortava-se a tampa de um bidão de 200 litros totalmente e só metade do fundo. Lá dentro ia funcionar uma G3 em rajadas curtas.

Afirmo, mesmo hoje, que o barulho era tão grande que envergonharia a melhor vuvuzela. Um misto de loucura, gozo e dúvida. Que será aquilo dizia o chefe dos libertadores. Um tipo divertia-se assim… pois.

Depois deste ataque estivemos em trabalho normal. Aproveitamos para abrir valas, recuperar e construir abrigos e instruir os homens com armas distribuídas. Como no primeiro ataque foi disparado um dilagrama com bala real, causando a morte do atirador e ferimentos noutros, ensinamos a manusear essa arma também. Saímos a 15 de Agosto, passamos por Bambadinca e ficamos em Candamã. Fomos tentar encontrar a casa de mato do Mamadu Indjai. Encontrámos e, como não fomos convidados, deixámos isso para os pára-quedistas que no dia dezoito lá foram e partiram aquilo tudo.

Regressámos e o Coronel Hélio Felgas não nos deu o fim-de-semana prometido em Bafatá e o resto do mês foi o normal. De mais importante talvez uma ida ao Poidom sem resultados.

Não quero nem pretendo enaltecer a 2339 e, menos ainda, o Grupo de combate a que pertencia. Já eram rotinas e encaradas como normalidades. Anormalidade seria estar em Bissau, Bafatá ou Bambadinca.

A morte era também encarada com normalidade. Melhor não se pensava nisso. Medos todos têm. Se por azar um camarada tombava isso era uma sensação indescritível. Era a raiva, o vazio, um turbilhão de sentimentos e um homem vira fera. Era necessário ter cuidado e tentar manter a serenidade. Pouco tinha a ver com o inimigo. Aliás nunca vi matar ou matei qualquer inimigo. O IN sofria baixas e os elementos dos PAIGC eram abatidos ou eliminados. Baixas somente e não se usava a palavra morte. Seria uma violência tal designação. Mas disso não falo. Ouvia-se dizer isto ou aquilo mas nada de concreto sei. Logo não opino. Normalidades dentro da anormalidade.

Finalmente:

Concordo com a miséria e as dificuldades porque passavam as populações. Como foi possível estar cinco séculos e fazer-se tão pouco. Claro que antes de para lá irmos sabíamo-lo. Senão todos certamente muitos. Como sabíamos o que se passava com as nossas populações. Como era o Alentejo nos anos sessenta? Ou as Beiras? Sai fora do contexto.

Mansambo City > Vida nas Tabancas

Outro tema era o sexo e as NT. É tema a abordar com cuidado e tratado com, se possível, a, senão abertura total, a maior abertura possível.

Confesso que a principio foi difícil para mim. Depois foi encarado com naturalidade. Compreendo quem olhava à cor da pele, a juras de amor ou a fidelidades. Ultrapassei esses problemas com relativa facilidade. Eram estátuas de ébano, meigas e, ainda hoje ao passarem por mim sinto a saudade. Vidas.

Vivi de facto (sem acordo ortográfico – Chato). Por chato era necessário ter cuidado com eles. Principalmente de duas pernas e tiras doiradas nos ombros.

Vou continuar. Agora não. Agora vou dormir e espero sonhar com África. Era bom sonhar com Bafatá. Ia lá, raramente, e as esplanadas tinham gente à civil a beber e a rir, risos felizes e nós olhávamos uns para os outros e, passado um pouco, com mais ou menos esforço dos músculos da cara do riso esquecido, sorriamos e depois ríamos também, risos forçados e felizes os nossos risos.

Disseram-me que já não sabia viver em cidade. Eu e o bando que me acompanhava.

Talvez tivesse razão meu Coronel. Só que para vocês viverem felizes nas esplanadas, fornicarem debaixo das ventoinhas eu e muitos mais, muitos mais que eu vagueávamos como zombies por matos e savanas. Não só. E um dia voltámos e não sabíamos onde estávamos.

Para depois.

Fotos: © Torcato Mendonça (2010). Direitos reservados
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6637: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): E as crianças, Senhor, por que lhes dais tanta dor?

Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6506: Blogoterapia (151): Senti que já era o tipo que podia ter uma conversa séria com o velhote (João Santiago)

Guiné 63/74 - P6721: Agenda Cultural (83 ): o grande Kimi Djabaté no Festival de Músicas do Mundo, FMM Sines, 30 de Julho, 6ª feira, às 18h00, no palco do Castelo Medieval de Sines

 
Capa do álbum Karam [Educação, em mandinga], de Kimi Djabaté. Julho de 2009. Editora: Cumbancha. Cortesia de Cumbancha



FMM Sines 2010 – Festival Músicas do Mundo, 12ª edição28, 29, 30 e 31 de Julho de 2010,  nos palcos do Castelo Medieval e da Praia Vasco da Gama, em pleno coração do centro histórico de Sines.

FMM Sines 2010 > 30 de Julho, 6ª feira, 18h00, no Castelo de Sines >  Kimi Djabaté (Guiné-Bissau), 

Excerto do Programa, com a devida vénia:

Um dos artistas emergentes do circuito das músicas do mundo, o cantor e guitarrista Kimi Djabaté representa a Guiné-Bissau na 1.ª divisão da música de tradição mandinga.

A música da África Ocidental, em particular a ligada à cultura mandinga e à prática dos “griots” [didjius], tem produzido alguns dos mais cultos e talentosos artistas do mundo.

Na nossa ignorância imperial, desconhecemos que a Guiné-Bissau se inscreve nessa tradição e tem músicos, como Kimi Djabaté, que rivalizam com os melhores do Mali, da Guiné Conacri ou do Senegal.


Nascido em 1975, [em Tabatô, a nordeste de Bafatá,], Kimi foi uma criança-prodígio estimulada por uma família de músicos profissionais. Começou a tocar o balafon (xilofone africano) com apenas três anos, seguindo-se a kora, percussões e a guitarra, em que é exímio.

A viver em Lisboa desde 1994, lança o seu primeiro disco, “Teriké”, em 2005 [bvd. capa à esquerda], mas é “Karam”, editado no ano passado pela Cumbancha, uma das maiores editoras de “world music”, que lhe dá exposição internacional e o torna uma das figuras emergentes do circuito.

Fundado na música mandinga, mas também interessado no gumbé, na morna, no jazz e nos blues, Kimi toca e canta a luta do povo africano nos palcos do mundo como o faziam os seus antepassados “griots” [djidius] nos terreiros das aldeias. Ouçamo-lo como merece.

http://www.myspace.com/kimidjabate
http://cumbancha.com/kimidjabate

Fonte:  FMM Sines - Festival de Músicas do Mundo (com a devida vénia...)

[ Revisão / fixação de texto / título / bold a cor: L.G.]
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Nota de L.G.:

Vd último poste desta série >  3 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6671: Agenda cultural (82): Lançamento do CD "Ai Bissau!", do grupo Os Fidalgos, 2ª feira, 5, às 18h00, no Centro Cultural Português, em Bissau

Guiné 63/74 - P6720: Álbum fotográfico de João Graça (4): Uma noite memorável na terra de Kimi Djabaté, a tabanca jacanca de Tabatô


















Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > 15/16 de Dezembro de 2009 > Músicos, homens e mulheres, da etnia minoritária jacanca (leia-se, djacanca), da famíla de Kimi Djabaté (*), tocando os seus instrumentos (balafón, kora...), experimentando os instrumentos (violino) do outro, mostrando  a sua música, oferecendo a sua hospitalidade... Uma noite memorável que emocionou o João Graça (**), médico e músico, em viagem  pelo Leste (Bambadina, Bafatá, Contuboel, Gabu...). 

O João ficou, nessa noite, na casa dos Super Camarimba,  o conhecido grupo de música afromandinga da aldeia de Tabatô, liderado por Mamadu Baio. No seu bloco de notas, o João registou (e a foto documenta...) que na casa havia uma pele de cascavel [?], de mais ou menos 7 metros, morta um mês antes. O João irá encontrar (e tocar com) os Super Camarimba, em Bissau, dois dias depois (haveremos também de publicar as fotos desse encontro)... Eles tinham acabado de participar num festival de música... 

Esperemos que o João arranje tempo para publicar aqui as suas prometidas notas de viagem, e transmitir-nos as emoções que sentiu ao ver reunir-se à sua volta 20 músicos que tocaram e cantaram, para ele,  nessa noite... Ele retribuiu essa magnífica hospitalidade tocando também, no seu violino, música do seu reportório "world music"... 

"Eles agradeceram que um músico europeu tenha vindo a Tabatô", escreveu o João no seu bloco de notas.
De facto, "o momento da viagem [à região de Bafatá] foi a recepção em Tabatô. Inicialmente o Homem Grande (o tio do Kimi Djabaté) estava a ver TV, mas o Demba [, primo do Mamadu Baio e do Kimi,]  lá o convenceu a mostrar o estaminé, à entrada da sua casa.  Era preciso meter gasolina no gerador, mais ou menos 1000 francos (cerca de 1,5 €) para amplificar as vozes. Chegaram os balafons, o kora, os djambés,  o coro feminino"...

Na sua biografia oficiosa, na sua página pessoal, em My Space / Kimi Djabaté, diz-se que Tabatô foi uma prenda do poder reinante na região, há muitos, muitos anos atrás,  aos seus antepassados, músicos ambulantes,  que vieram do Mali...e que encantaram os seus hóspedes com a sua música... Mais obscura parece ser a história da aldeia durante o período colonial... Kimi nasceu já depois da independência, em 1975, e como muitos outros meninos africanos (e portugueses...)  conheceu a dura experiência de ter um "pai e patrão"...

Kimi Djabaté, o filho mais ilustre de Tabató, viveu aqui até aos 21 anos. Na última foto, aqui publicada (a contar de cima para baixo), vê-se o chefe da aldeia, que é tio do Kimi...

(... )Kimi Djabaté was raised in Tabato, Guinea-Bissau, a village known for its griots, hereditary singer-poets whose songs of praise and tales of history and legends play an essential role in Africa's musical life.

Centuries ago, Djabaté's ancestors, a wandering troupe of musicians from Mali, traveled to the region and the king of Guinea so loved their songs he invited them to stay and offered them the territory of Tabato.

Ever since, the area has been a recognized center for music, dance, handcrafts and other creative arts. Djabaté was born into a poor but musically accomplished family in Tabato on January 20, 1975.

His parents, two brothers and his sister were all professional musicians. Recognized as a prodigy, Djabaté began playing the balafón, the African xylophone, when he was just three years old and soon after learned to play many other traditional instruments. As a pre-teen he was sent to the neighboring village of Sonako to study the kora, which provided a foundation for subsequent accomplishments as a guitarist.

As his musicianship developed, Djabaté also mastered a wide variety of traditional drums and other percussion instruments. Music was not a past time or a hobby for the young Djabaté, however, and from a very young age he was obliged to contribute to the family's income by performing at weddings and baptism ceremonies.

Djabaté's early talents proved both a gift and a burden, as his family often forced him to sing and dance against his will, and he had little time to partake in the carefree fun and games of other children his age.

Djabaté's parents as well as his uncle, provided the young phenom with excellent training in traditional Mandingo music, but Djabaté was also interested in popular African genres such as the local dance music style gumbé, Nigerian Afrobeat, Cape Verdean morna, not to mention western jazz and blues.

In 1994, Djabaté toured Europe as a member of the national music and dance ensemble of Guinea-Bissau, and he decided to settle in Lisbon, Portugal. Djabaté's move to Europe proved to be one of the most difficult experiences of his life, and he faced many personal challenges adapting to a different culture and society. (...)



O cantor, guitarrista e exímio tocador de balafón [xilofone africano), vive em Portugal desde 1994. Próximos concertos do Kimi Djabaté (façam o favor de divulgar):

16 de Julho de 2010, 21h00 > Tom de Festa, ACERT, Tondela
30 de Jullho de 2010, 18h00 > Sines - Festival de Músicas do Mundo, Castelo de Sines, Sines
5 de Agosto de 2010, 21h30 > Festival Sons do Atlântico, Lagoa, Algarve
4 de Setembro de 2010, 21h30 > Festa do Avante, Seixal

Fonte: http://www.myspace.com/kimidjabate

Comprem o último álbum dele, saído em Julho de 2009, Karam (Educação, em mandinga), sob a prestigiada etiqueta norte-americana Cumbancha. É obrigatório comprar e ouvir muitas vezes... Um cheirinho (da sua música e da nossa querida Guiné...) pode ser sentido aqui:


Um dos músicos que toca com ele, é o Braima Galissá, o mestre do kora, já diversas vezes referido no nosso blogue. São dois grandes nomes da música e da cultura da Guiné-Bissau de hoje. (LG)

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Guiné 63/74 - P6719: Parabéns a você (129): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Editores)

Postal de aniversário de autoria do Strelado Casal Pessoa



1. Neste dia 12 de Julho de 2010, o nosso camarada António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, deixa o clube dos SEXAS para ingressar no dos SEPTA. Grande promoção que registamos aqui com alegria.

Camarada Dâmaso, vimos dar-te os nossos parabéns pela sua entrada na década dos setenta. Votos muito sinceros de muita saúde e longa vida cheia de amor, já que não faltarão muitos familiares e amigos em seu redor.

Momentos de ternura não te faltarão pela vida fora como os que documenta a foto dos teus tempos de juventude.



Caro Dâmaso, renovados votos de felicidades. Marcamos encontro para daqui a um ano neste mesmo local.

Recebe um abraço da Tertúlia
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6665: Parabéns a você (128): Mensagens para a Tertúlia (José Firmino / Manuel Maia)

domingo, 11 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6718: Memória dos lugares (92): Contuboel e o meu amigo Braima Sissé (Eduardo Costa Dias)



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Contuboel > 16 de Dezembro de 2009 > O João Graça, médico e músico, posando ao lado do dignitário  Braima Sissé. Por cima deste, a foto emodulrada de Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya [, islamismo sunita, seguido pela maior parte dos mandingas da Guiné; tem o seu centro de influência em Jabicunda, a sul de Contuboel; a oputra confraria, tidjanya, é seguida pela maior parte dos fulas]. O Braima Sissé foi apresentado ao João Graça como sendo um estudioso corânico, filho de uma importante personalidade da região, amigo dos portugueses na época colonial [, presume-se que fosse o próprio Fodé Irama Sissé].

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo Eduardo Costa Dias, professor e investigador do ISCTE:

Luís:

Hoje estive no teu blog... e encontrei esta foto tirado pelo teu filho em Contuboel (*). Foi um choque. Não resisti: mando-vos duas fotografias do meu amigo Braima Sissé. Uma de 1992 tirada por mim, outra tirada por alguém em 1975 ou 1976.

Na mais antiga está ao centro o mesmo senhor cuja fotografia foi captada pelo teu filho: Fodé Irama Sissé, um importante letrado e membro da confraria quadriyya. Nesta mesma fotografia Braima está à direita de chapéu vermelho, atrás de Fodé Irama está o meu amigo Sissau Sissé (já falecido) e "vestido à civil" Malan Sissé que foi quem em Bissau me mostrou a fotografia e me deixou tirar fotografia da fotografia. Entre Malan e Braima está Arafan Conte, aluno de Irama. Conheci toda esta gente.

Já agora o teu filho tem mais destas fotografias - de Contuboel, claro?!!

Um grande abraço

Eduardo

Braima Sissé. 1992. Autor da foto: ECD 

Foto: Eduardo Costa Dias (2010). Direitos reservados



Fotografia de fotografia, de autor desconhecido, datada provavelmente de 1975/76. Cópia: Cortesia de Eduardo Costa Dias (2010).

 Legenda: Ao centro, Fodé Irama Sissé.  O Braima Sissé está à direita,  de chapéu vermelho; atrás de Fodé Irama,  está Sissau Sissé (já falecido) e, "vestido à civil",  Malan Sissé que foi quem em Bissau me mostrou a fotografia e me deixou tirar fotografia da fotografia. Entre Malan e Braima está Arafan Conte, aluno de Irama. (ECD).

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Nota de L.G.: 



Guiné 63/74 - P6716: Estórias do Juvenal Amado (29): Depois do meu regresso, ou o homem que num certo dia teve três mães

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 8 de Julho de 2010: 

Meus caros Luis, Carlos, Magalhães, Virginio e restante Tabanca Grande
É um estória que escapa ao que se entende por relatos da nossa passagem pela Guiné e os caminhos que lá nos levaram.
Qualquer dos factos podem com alguma alteração de redacção serem comprovados.

É a minha vida após o regresso, são os lugares que passei a frequentar e as pessoas que para além de alguns odores desconfortáveis, me acabaram por enriquecer.
Na aldeia de Boavista casei e morei mais de vinte anos, mas entenderei como legitimo a não publicação no blogue desta estória.

Um abraço
Juvenal Amado



DEPOIS DO MEU REGRESSO OU HOMEM QUE NUM CERTO DIA TEVE TRÊS MÃES

O Zé Lourenço quando regressou de Angola, foi a casa dos meus pais e admirou-se de eu ainda não ter regressado, uma vez que tinha embarcado para a Guiné primeiro. Penso que o meu atraso deu azo a que se fizesse conjecturas sobre algum castigo que eu tivesse por lá levado. Os vinte e sete meses custavam a engolir pelas pessoas conhecidas, não sendo poucas as vezes que a minha mãe, vislumbrou alguma dúvida nos olhos de quem por mim perguntava.

– Oh Dona Nita parece impossível tanto tempo! - pois é Dona X não sei porquê este atraso – primeiro diziam que eram 21 meses depois 24 e agora já ultrapassou os 25 e não há forma de saber com certeza, quando o mandam embora.

Não sabiam na verdade, que as rendições dos Batalhões se tinham atrasado a partir do momento em que o comando militar, tinha criado novos destacamentos na mata do Morés. Um Batalhão novinho em folha, foi pois atirado aos «bichos» e segundo se dizia só saíam das valas às vezes, tal foi a recepção que tiveram por parte do IN, que não gostou da intromissão. O meu amigo de infância José Eduardo, foi um desses felizardos mas a verdade, por nosso afastamento social e profissional, nunca com ele comentei esses episódios.

Mas voltando ao Zé Lourenço, que com quem andei na escola primária da Vestiaria, mais tarde fizemos a recruta e especialidade juntos, acabou por vir a casar com uma moça da mesma terra que a minha futura esposa. Por uma daquelas bocas que se querem engraçadas, acabei por não ir ao seu casamento.


O que não teve graça nenhuma

Quando regressei, fui convidado para todos os casamentos de jovens conhecidos. Ia eu já no 4.º ou 5.º disse em ar de gozo ao Zé, que deixava de falar ao próximo gajo que se casasse e me convidasse. Resultado ele não percebeu a brincadeira e não me convidou. No entanto a amizade manteve-se, as nossas filhas foram amigas, andaram na mesma escola, até também elas rumarem para os seus curso e suas vidas profissionais.

Nos bailes da Boavista, onde era local de namoro obrigatório e consentido, depois da série dançante com as respectivas namoradas, bebíamos uma cerveja e dávamos dois dedos de conversa, até que éramos interrompidos por aquelas personagens que existem em todos os lugares, que com o buxo sempre atestado de tinto, não tendo a quem pregar as secas, facilmente se aproximavam de nós, novos na terra a não querer causar má impressão.

Esta personagem era de todos bem conhecida.

Lá ouvíamos por vezes sem saber bem o quê, pelo o meio dos vapores do vinho, que para este apreciador mesmo quando já quase vinagre dizia muito sério, que ainda só tinha um leve pique.

Mas este homem era também dono de uma vontade muito própria, manifestava um critério nas amizades verdadeiramente surpreendente.
Tinha uma lista de convidados para o seu próprio funeral.

Assim mercê de lhe ser negado um copo de vinho, logo o responsável pela negativa, era riscado da famosa lista de convidados para o seu funeral, que era por sua vontade como atrás narrei, só para convidados a quem ele dava a honra dessa deferência.

Quanto a borrachos estava a pequena aldeia bem recheada. Famosos como o Zé da Ribera, os irmãos Júlio e Mário auto-intitulados como artistas da enxada, bem como alguns mais comedidos e discretos no acto de emborcar copos de 3.

Também largamente falado foi o senhor Coelho que todos anos enchia o barril, que acompanharia o seu próprio funeral. Dizia ele que se passava muita sede a empurrar a carreta pelo carreiro de pedras soltas, com subidas de fazer recuar os mais afoitos, desde a Boavista até ao cemitério dos Prazeres de Aljubarrota e que ele não queria, que tal acontecesse no seu enterro.
Assim se fez quando ele faleceu, o cortejo parou por diversas vezes no caminho, para os acompanhantes beberem do falado pipo um copito e alguns deles acrescentaram ao Ahhhh de satisfação estalando a língua, que a pinga não era nada má naquele ano.

Os enterros também eram famosos, por o padre se queixar de que só as mulheres é que apareciam na igreja. O cortejo fúnebre quando chegava ao largo da igreja, os homens ia recuperar das agruras da caminhada, numa taberna mesmo ao lado e deixavam para as mulheres, o piedoso cerimonial do corpo presente.

Motivo de muitas falas, foi um dia o Júlio resolver trocar os ditos copos de vinho, por copos de leite a acompanhar invariavelmente uma fatia de torta.
O facto deixou a Maria Augusta dona da taberna, café, mini-mercado sem fala e digo já, que era coisa difícil se não quase impossível.

Ficaram assim para sempre gravados para a posteridade, os dois acontecimentos.

Algum valor teve a troca que o Júlio fez, pois os outros já marcharam pelo tal caminho hoje arranjado e o Júlio ainda cá bebia o seu copo de leite há pouco tempo.

Mas voltemos ao Mário Gomes, que me tinha mais uma vez apanhado numa ida ao bar para beber uma cerveja.

Muito chegado a mim, perfumando-me com aquele bafo acompanhado de perdigotos, lá ele entendeu dar-me mais uma palavrinha para mal dos meus pecados.

Juro que não percebia nada do que ele dizia e ao mesmo tempo levantava a cabeça, a ver se alguém me salvava. O Zé ria-se a ver a minha aflição. Nisto a minha namorada percebeu - mais esse favor lhe fiquei a dever - e vem em meu auxílio, dizendo que estava a dar uma música para nós dançarmos.
Ele olhou para ela, fez um ar entre o meio alcoolizado e meio maroto, deitou-me para cima um bafo, que se eu fosse escanção rapidamente separaria por anos mais de cinquenta colheitas, abraçando-me, disse-me:

- Sabe o meu amigo, que logo no dia do meu casamento tive um prenúncio de que ia ser muito feliz?

Perante o meu ar incrédulo acrescentou.

– É que eu tive três mães nesse dia.

-Uma foi a minha mãe, que a chorar me chamou querido filho, a outra foi a minha sogra que me também tratou por filho e por fim a minha mulher, que às tantas da noite, também me disse ai filho!

Fui dançar, mas não parei de rir toda a noite e ainda falo nisso com o Zé.

Não me lembro de ter ido ao seu funeral, embora estivesse convidado.

Juvenal Amado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6668: Estórias do Juvenal Amado (28): Ele voltará a crescer, ou a entrada na vida militar

Guiné 63/74 - P6715: Notas de leitura (129): Sobre a Unidade no Pensamento de Amílcar Cabral, de Sérgio Ribeiro (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso Camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
A minha preocupação é de procurar proceder ao levantamento da documentação que interesse a todos, aqui e na Guiné.
Não entender o que foi esta unidade, até ao extremo da irracionalidade, é não querer perceber as causas remotas e próximas da ruptura entre a Guiné e Cabo Verde.

Um abraço do
Mário


A questão da unidade no pensamento de Amílcar Cabral

por Beja Santos

O ensaio “Sobre a Unidade no Pensamento de Amílcar Cabral”, de Sérgio Ribeiro (Tricontinental Editora, 1983), aparece hoje completamente datado e provavelmente com reduzido interesse histórico e político, sobretudo se se pensar que são remotas as hipóteses de uma união política entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau. Ninguém desconhece que Amílcar Cabral invocara uma unidade mítica entre a Guiné e Cabo Verde para justificar um PAIGCV que a uma só voz e com uma só direcção representasse a luta libertadora das duas regiões. Digo unidade mítica na medida em que a aproximação da história e da sociedade tiveram um peso limitado, o que já não sucedeu com a economia das duas regiões, desde o povoamento de Cabo Verde que as relações económicas foram importantes, embora convenha prevalecer usando a expressão “Senegâmbia”, que é geograficamente mais ampla que a Guiné. A colonização de Cabo Verde não foi exactamente a que veio apregoada nos manuais do PAIGC: basta pensar na legião de judeus que o poder régio aqui desterrou. O arquipélago foi predominantemente, conheceu uma elevada taxa de alfabetização, dotou-se de uma língua veicular própria, ganhou identidade na música, na gastronomia, nas festividades, na literatura. É facto que a administração da Guiné teve historicamente uma presença elevadíssima de cabo-verdianos que, regra geral, conservavam os seus usos e costumes e não escondiam que se sentiam estatutariamente superiores. Durante décadas, desde a formação do PAI, nos anos 50, até à separação dos dois países, pretendia-se iludir as duas realidades à sombra de uma libertação que era entendida por Amílcar Cabral e os seus próceres cabo-verdianos como uma causa comum e alvo de unidade na acção. Após a ruptura de 1980, alguns intérpretes vieram dizer que afinal o pensamento de Amílcar Cabral no que tocava à unidade dos dois países tinha um alcance muito mais amplo do que alguns pretendiam: unidade africana, unidade combativa, unidade como meio e não como fim, unidade orgânica, etc.

O texto de Sérgio Ribeiro é um apanhado de reflexões que ele apresentou num simpósio dedicado a Amílcar Cabral, 10 anos depois do seu assassinato.

Cabral distinguia “unidade africana” (unidade a favor dos povos africanos, um meio e não um fim, uma construção, que ele encarava como uma cooperação e de acordo com a independência política e a coexistência das razoes de Estado) da “unidade Cabo Verde – Guiné” (prática revolucionária capaz de levar à libertação nacional, justificada pela natureza, história, geografia e até sangue). Escreve Sérgio Ribeiro para Amílcar Cabral que o problema desta unidade não existia, o que existia era o problema da união orgânica dos povos da Guiné e Cabo Verde, como fundamento nos laços de sangue e nos laços históricos que ligam esses povos. Goste-se ou não, foi desta análise enviesada (para não dizer completamente deturpada) que nasceu uma unidade que nunca existiu. O facto de ter havido, em meados do século XVI, um capitão geral nas ilhas de Cabo Verde e na Guiné, uma mesma organização e administração que se prolongou até 1889, de modo algum pode querer significar uma ligação histórica com vínculos poderosos a todos os níveis: os escravos vindos da “Costa da Guiné” não vinham todos da Guiné actual; a população das ilhas de Cabo Verde não provinha esmagadoramente da Guiné actual (aliás, mesmo que essa fosse a proveniência, a cultura sulcou, ao longo de séculos, distinções absolutas de que a religião, a língua e as atitudes civilizacionais passaram a ter um peso dominante.

Sérgio Ribeiro invocou um trabalho elaborado em 1980 para inventariar a proximidade de razões da história próxima, falando de comércio externo da divisão internacional do trabalho e da complementaridade que era desejável para essas duas economias que se julgava que iriam ficar planificadas, propondo mesmo uma união económica para essa complementaridade que pudesse ser forjada pelos panificadores. A história encarregou-se de separar os dois povos também pela abolição de economias planificadas.

Fica o registo, ainda há muito a escrever sobre esta unidade mítica que teve na sua base a contingência de os principais líderes do PAIGCVC terem sido de proveniência cabo-verdiana. Querer fingir que este problema não existiu só serve para esconder a realidade da história dos dois países.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6707: Notas de leitura (128): A Libertação da Guiné, de Basil Davidson (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6714: Tabanca Grande (229): Artur José Miranda Ferreira (ex-1º Cabo Enfº da CCAÇ 6 – Bedanda -, 1968/70

1. Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Artur José Miranda Ferreira (ex-1º Cabo Enfº da CCAÇ 6 – Bedanda -, 1968/70, que nesta sua primeira mensagem nos enviou uma reportagem fotográfica do seu álbum de memórias:

1 - Bedanda > 1970 > Pessoal da companhia com o célebre “Duo Ouro Negro


2 - Bedanda > 1969 > Eu, em frente ao posto de comando

3 - Bedanda > 1970 > Eu, em cima de um bagabaga


4 - Bedanda > 1969


5 - Bedanda > 1970


6 - Bedanda > 1970 > Eu e 2 camaradas a tirar água do poço na tabanca


7 - Bedanda > 1969> Eu, na tabanca a pilar arroz


8 - Bedanda > 1969 > Eu, à saída do abrigo


9 - Bedanda > 1969> Eu, junto do morteiro de 60 mm

10 - Bedanda > 1970 > Eu, numa chegada do mato

11 - Bedanda > 1969 > Eu no dia em que fui ferido numa perna


12 - Bedanda > 1970 > Eu numa saída para o mato


13 - Bissau > 1969


14 - Bissau > 1969
2. O Artur José Miranda Ferreira da CCAÇ 6, não está sozinho nesta nossa tertúlia, pois já se encontram 5 elementos, entre nós, na Tabanca Grande, da sua Companhia:
O Vasco Santos, ex-1.º Cabo Op Cripto, o nosso Camarada Mário Silva Bravo (ex-Alf Mil Médico), o Carlos Azevedo (ex-1.º Cabo At inf), o Hugo Moura Ferreira (ex-Alf Mil At Inf) e o Carlos Ayala Botto (hoje Cor Cav, na situação de reforma, que foi Comandante desta magnífica Companhia).

3. Amigo e Camarada Artur José Miranda Ferreira, em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, quero dizer-te que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.

Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados em postes no blogue, todos aqueles que constituíram a geração dos “guerreiros” do Império, temos alguma coisa a contar para memória futura e colectiva, deste período sangrento da História de Portugal, que foi a Guerra do Ultramar.

Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte…

Como se não tivesse bastado, continuamos a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo como os políticos portugueses nos tratam. Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, feitos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.

Nós até nem pedimos muito além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela “sorte” da vida.

Oferecendo-te então as nossas melhores boas-vindas, ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos aqui.

Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.

Fotos: © Artur Ferreira (2010). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6709: Tabanca Grande (228): António Branco, ex-1.º Cabo Reab Mat da CCAÇ 16, Bachile, 1972/74

Guiné 63/74 - P6713: Memória dos lugares (91): Tabatô, tabanca antiga de Djacancas, berço de didjius, terra de Kimi Djabaté (Pepito)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Carta de Bafatá 1/50000. Detalhe: localização de Tabatô (rectângulo a azul), no canto superior direito. No canto inferior esquerdo, temos (também assinalada a azul) a localidade de Comuda, no ponto em que a estrada que vem de Bafatá se divide em duas: uma que segue para norte, para a fronteira com o Senegal, via Contuboel; e outra que se dirige para o leste, via Nova Lamego (Gabu).

Imagem: Luís Graça (2010).




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Tabatô > Músicos do clã de Kimi Djabaté.


Foto (editada por L.G): © João Graça (2009). Direitos reservados.


1. Resposta do Pepito (AD, Bissau) a um pedido meu, de esclarecimento, sobre a localização e a história de Tabatô:

Luís

Tabató é uma tabanca muito antiga e sempre foi conhecida por ser uma povoação de djidius, isto é cantores, mas cantores que andam de tabanca em tabanca contando a história passada, os feitos individuais e colectivos marcantes e, desta forma, asseguram às novas gerações o conhecimento do passado.

Não me recordo o nome deles na Europa, mas andará à volta de jograis ou trovadores.

Alguns são contratados para enaltecerem as qualidades reais ou fictícias de certas pessoas.

É natural que não conheças esta tabanca, uma vez que se situa depois do cruzamento para Contuboel (de quem sai de Bafatá para Gabú), e a cerca de 5 Km da tabanca principal.

É uma tabanca de Djacancas, etnia aparentada aos Mandingas.

abraço
pepito

2. Comentário de L.G., com data de 9 do corrente, ao poste de  8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6695: Memória dos lugares (82): Bafatá, Tabatô, Tabaski 2009:Não há preto nem branco, somos todos irmãos, disse a Fátima de Portugal numa cadeia de união... (Catarina Meireles)


Devo dizer, com toda a sinceridade, que nunca ouvi falar da Tabatô, durante a guerra colonial. Nem nunca fui para os lados do Gabu.

Foi o meu filho que me contou a sua experiência ímpar. Passou lá uma noite a curtir a música afromandinga e a tocar também world music para os seus novos amigos...

Tabatô, a aldeia de Kimi Djabaté, é agora a tabanca mais famosa da Guiné-Bissau. É já um lugar mítico, nomeadamente para a malta nova, que não vai em "turismo de saudade", à procura de lugares e restos do passado, vai à descoberta do futuro, desse continente do futuro, que é a África... E quer ajudar a construir também esse futuro...

Não sei se Tabatô existia no tempo da guerra colonial... Já pedi ao meu amigo Pepito para saber da história da aldeia...

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Nota de L.G.:

Vd. poste anterior desta série > 10 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6706: Memória dos lugares (83): Mais postais ilustrados (Parte I): Nova Lamego (ou Gabu) (Agostinho Gaspar)

Guiné 63/74 – P6712: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (33): Na Guerra e na Paz… Até ao Fim…




1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil Enfº da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 8 de Julho de 2010:
Camaradas,
Acreditem ou não o grande responsável por esta minha longa ausência do blogue, do "nosso" Luis Graça e Camaradas da Guiné... é o Magalhães Ribeiro.
Passo a explicar. Estou há 11 meses como blogger... sendo ele, meu amigo e irmão, o grande responsável por este vício que me meteu no corpo em Agosto de 2009 a quando das suas férias na Nazaré.
Já atingi as 270 postagens e já tenho "fregueses" que na rua me interrogam quando passo uns dias sem novas postagens... Estou feito...
Quando puderem espreitem em: http://jeroalcoa.blogspot.com/
Assim o tempo é cada vez é menos. Vamos lá ver se consigo recuperar nas férias...
Segue um texto que se algum mérito tem é ser real e ter acontecido há dois dias, para os lados de Vila Nova de Famalicão...
Quando lerem o texto perceberão porquê...


NA GUERRA E NA PAZ… ATÉ AO FIM…
Álvaro e Francisco foram em vida irmãos.
Ambos já faleceram e estão sepultados na terra da sua naturalidade. Faleceram em tempos diferentes e, por motivos diferentes, também muito longe de Vila Nova de Famalicão.
O Álvaro em Binta, no norte da Guiné e o Francisco no Hospital de Cochin, em França.
Estão sepultados no Cemitério da Antas S. Tiago, numa nas entradas de Famalicão.

O Álvaro morreu na Guerra do Ultramar.
Morto em combate em 28 de Dezembro de 1964 na “quadrícula” da sua Companhia na região de Caurbá, a poucos Kms do aquartelamento de Binta, Norte da Guiné.
Nessa altura eu estava por perto pois pertencíamos à mesma “família”. A Companhia de Caçadores 675, então no mato desde Julho de 1964.Ele regressou à sua terra natal para ser sepultado nos primeiros dias de Dezembro de 1965.
Passaram desde essa data fatídica cerca de quarentas e cinco anos.
Na minha memória, e ao longo de toda uma vida, o Álvaro continuou – continua – a ser o meu “irmão” dilecto dos tempos da guerra.
O seu irmão Francisco, que conheci fugazmente muitos anos depois da morte do Álvaro, num encontro casual no Hotel D. Carlos, em Lisboa, faleceu agora, com 69 anos, em 1 de Julho corrente no Hospital de Cochin, em Paris.
Estive presente no seu funeral , na terra da sua naturalidade, em 8 de Julho de 2010.

Estive no seu funeral por diversas ordens de razões. Em preito à sua memória, em homenagem à família Vilhena Mesquita e em nome da minha C.Caç. 675, onde militou o seu e meu “irmão” Álvaro.
Eu e o ex-Alferes Belmiro Tavares, honrando a divisa da “675” «Nunca Cederá», estivemos presentes. Primeiro na guerra. Depois na vida e, sempre que possível, na hora da morte. Porque o sentimento fraterno que nos uniu na Guiné nos continua a unir e… nunca cederá.
Antes e depois das cerimónias religiosas do funeral de Francisco Manuel Vilhena Mesquita senti-me na obrigação de dizer a alguns dos seus familiares porque estava naquele dia em Vila Nova de Famalicão.
Disse-lhes que, com o devido respeito, estava ali “em nome” do Álvaro.
Na Igreja Matriz (Velha) de Famalicão soube pela Maria Teresa Vilhena Mesquita que tinha sido exactamente naquele local que tinha estado a urna do meu “irmão” Álvaro quando veio da Guiné. Em princípios de Janeiro de 1965.
Quarenta e cinco anos depois sentia-me “presente” no funeral do meu eterno amigo Álvaro Manuel, o primeiro do ramo desta família dos Vilhena Mesquita que a morte levou. Na flor da vida… com 22 anos de idade.
Quando em Maio de 1966 terminámos a comissão na Guiné o ex-Alferes Tavares e o ex-Furriel Oliveira tínhamos vindo a Famalicão para visitar a campa do Álvaro e conhecer os seus pais e irmãos.
Na tarde de 8 de Julho de 2010, durante o funeral do Francisco, olhei vezes sem conta a campa do Álvaro, situada a uns curtos 40 metros do jazigo da Família Mesquita.

O Álvaro e o Francisco continuam na morte próximos...
Sei que o Francisco me vai perdoar por nessa tarde de Julho ter estado tanto tempo com o Álvaro.
Até um dia Amigos.
Um grande abraço de Alcobaça
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

14 de Maio de 2010 >
Guiné 63/74 – P6386: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (32): Loureiro, Oliveira e passados…