Olá Amigo Carlos!
Espero que esteja bem de saúde na companhia de família e amigos.
Olhe, recebi a sua referência através do amigo José Ferreira.
Li um blogue do L. Graça e, notei que se pode lá contar alguns episódios.
Entretanto, para ser franco, apesar de eu ter estado na Guiné durante a Guerra de libertação, o facto é que não me considero um combatente devido a que - SORTE MINHA? - nem uma pistola tive nas minhas mãos!... Assim tudo o que possa dizer, não envolve situações de "aperto". Obviamente, e já me têm dito o mesmo que vou dizer, é que, numa Guerra nem todos usam armas!... Se é bem certo que só quem passa por "elas" é que pode avaliar com conhecimento de causa e, como tal, para esses, vai o meu respeito aos vivos e homenagem aos que já nos deixaram!... Todos são HERÓIS!..
Eu fiz a minha comissão de serviço na Messe de Oficiais da FAP, em Bissau, mesmo junto ao Palácio do Governador - Bettencourt primeiro e Spínola depois.
Quando terminei, fiquei lá a trabalhar no Café-Cervejaria SOLMAR. Depois fui para o Grande Hotel - (isto, claro, se acaso teve a oportunidade de conhecer). Depois abri o restaurante "O PELICANO" mesmo junto ao cais de embarque. Eu era o encarregado do Restaurante.
Depois abri por minha conta "O NINHO DE SANTA LUZIA" na estrada do mesmo nome junto ao QG de então. Antes ainda do 25 de Abril, comprei A TABANCA - antiga META, que eu ajudei a abrir mesmo ainda quando ao serviço, uma vez que um dos sócios - por debaixo da mesa - era o meu chefe, Tenente Mário Ascenção ou Assunção, (agora não me lembro).
Com o 25 de Abril, acabei por ficar com mais uns quantos estabelecimentos, - vendidas algumas e subalugadas outras, devido aos proprietários quererem sair. Uma longa estória a contar mais tarde. Por agora, cinjo-me somente ao que o amigo Ferreira sugeriu e junto envio duas fotos - uma mais ou menos actual após "maquilhagem", devido a que trabalhava como agente de seguros e, como tal, tinha que andar mais ou menos.
Outra, como militar, no recinto da Messe de Of. da FAP em Bissau. Tenho outras mas em Portugal, uma vez que neste momento vivo nos EUA.
Gostava de contar um episódio real que foi o facto de o meu Tenente me ter apanhado a "batizar os barris de vinho", mas nunca me apanhou a "batizar" o arroz!...
Quando me apanhou, parecia que ia ser "o cabo dos trabalhos" mas... depois, consegui convertê-lo ao meu "batismo" - e não lhe pedi 10% de "bula" ou tiding, como se diz em Inglês.
Gostou tanto ou tão-pouco que... contou ao substituto dele o qual, já eu estava na "peluda" - a trabalhar no Solmar - me aparece lá o novo Tenente, chamando-me de lado, dizendo-me:
- Oh CABO... FAÇA-ME LÁ UM FAVOR!... Vá lá acima à Messe a ensinar "aquele cabrão" - palavras do Senhor Tenente - do cabo Zé António... senão vai ele e eu p´rá "choupa"!...
Enfim, como eu estou a terminar de escrever um livro, descrevo este e outros episódios que quase que tenho a certeza o pessoal vai achar engraçados.
Deste modo, aqui ficam os dados iniciais, juntamente com as fotos.
Nome completo: Mário Serra de Oliveira
Natural do Alcaide - Fundão
Nascido a 27 de Janeiro de 1945 - 66 anos hoje.
Assentei Praça em Leiria no RI7 - junto foto.
Fui transferido para a Força Aérea - BA3 - Tancos.
Fui para a Guiné em Maio de 1966
Disponibilidade a 24 de Dezembro de 1968.
Fiquei na Guiné até Agosto de 1981.
Trabalhei num navio sismográfico no Mar do Norte. Saí da Guiné a bordo do mesmo, com uma história por detrás disso.
Vim para aos EUA em Janeiro de 1982 - para a Embaixada Portuguesa - eu Mordomo e minha mulher cozinheira do Embaixador de Então.
Saí e fui trabalhar para a Embaixada da Alemanha em Washington, de onde me reformei em Janeiro de 2010.
Neste momento espero o dia de regresso - após vender uma casa que aqui tenho - o que está difícil.
Passo o tempo a escrever coisas e a divertir-me com o meu cão, e dois pássaros que até estão na minha página do Facebook.
Mário Serra de Oliveira no RI7
Bissau, 1966 - 1.º Cabo Amanuense Mário Serra de Oliveira
2. Depois do envio de uma mensagem/resposta ao nosso camarada, recebemos esta:
Obrigado amigo Carlos, pela rápida resposta!
Quero frisar já que me dá muita satisfação poder fazer parte do vosso grupo. Sim... acredito, sem presunção alguma, que devo ter um historial interessante tal como muitos outros nossos conterrâneos - ex-combatentes ou não - o devem ter, só que, nem todos se dão conta e outros entregam-se ao "não quero saber"!...
Quanto ao Português... agradecendo antecipadamente sempre qualquer correcção que, por um motivo ou outro, poderá a vir ser necessária, permite-me referir que, nesse ponto, creio que estarei mais ou menos bem porque, se há algo - e o meu livro fala disso - a que eu me agarro ou agarrei "com unhas e dentes", é e foi exactamente a nossa língua.
Para o efeito, até mandei vir o novo Dicionário do acordo ortográfico de língua portuguesa, datado de 2010. Adiantando, somente para fazer uma nota neste aspecto, tenho inclusive sido o correspondente do jornal de língua Portuguesa, com maior tiragem, nos EUA - o Luso Americano. Resignei recentemente por motivos de incompatibilidade de me deslocar a certos locais onde a minha presença seria essencial. Ora, como se tratava de uma posição não remunerada... nem sempre se enquadrava com a minha disponibilidade. Desta forma, melhor não fazer parte!...
O que acontece, sobre certos erros, às vezes, carrega-se na tecla errada mas... quando assim é, a ajuda as pessoas com capacidade de perspicácia para saberem perceber do que se trata, tal como tu e bem te apercebeste que... "ismográfico" seria sismográfico" e 1910 seria 2010 porque, em 1910 nasceu o meu pai, que em paz descanse!... Para isso, conto sempre com pessoas do género.
A terminar - por hoje, claro - diz-me como e quando posso colocar a minha primeira história - 90% verdadeira já que os restantes 10% são uma espécie de "floreamento" das frases e linguagem utilizada... sem nunca fugir do "caroço" da história real!...
Um abraço.
PS - Não mencionei antes que, quando saí da Guiné no navio Sismográfico foi porque... nessa ocasião, a minha mulher era a cozinheira do Embaixador Americano lá em Bissau e, eu, era o encarregado de todo o pessoal local. Ou seja, eu trabalhava para os Ianques!...
Aconteceu que, o referido navio, apareceu lá em Bissau e, a tripulação visitou a Embaixada. O Embaixador de então, disse-me para eu dar um "Tour" pela cidade a certos elementos da tripulação. Escusado será dizer que foram aos sítios mais importantes.
Andei com eles - putas e cerveja - até que me perguntaram quanto é que eu ganhava. Quando lhes disse, ofereceram-me trabalho no Navio - como Cozinheiro. Aceitei, porque - o diabo quando tenta uma pessoa, quase sempre vence - o raio da oferta era 4 vezes mais o que ganhava e, ainda por cima, em USD.
Muito mais para contar... fui para Dakar, Inglaterra, Holanda, Escócia, Noruega, Inglaterra novamente, e EUA.
Depois acabou, se for no blogue, conto tudo.
Renovo abraço.
Mário
3. Comentário de CV:
Caro Mário
Nas tuas mensagens de apresentação denotas uma experiência de vida muito rica que fazem adivinhar um manancial de boas histórias. Perguntas quando podes começar a contar as tuas memórias. A resposta é desde já.
Mesmo não tendo sido operacional, tiveste em Bissau, no cumprimento das tuas funções, imensos contactos, ouviste muito, conheceste muita gente, e tudo isso é uma fonte inesgotável.
A continuação da tua permanência na Guiné depois da tropa, os teus negócios na restauração, a independência do território que tiveste oportunidade de viver, os políticos locais com quem terás convivido, as convulsões políticas a que assististe, etc, são uma mais-valia que podes partilhar com o Blogue para aumentar o nosso espólio histórico no que concerne àquele período transitório para a independência e já como nação independente.
Por outro lado, a tua estadia nos EUA e o périplo pela Europa dão muito assunto para a nossa série "Os nossos seres saberes e fazeres".
Posto isto, ficas com a responsabilidade de não nos defraudar.
Por favor toma nota de que deves enviar os teus textos e fotos para o endereço do Blogue: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos editores, cujos endereços constam da página do blogue.
Fica aqui e agora um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores do Blogue.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor:
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)