segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8970: Tabanca Grande (304): Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Amanuense (Bissau, 1967/68)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Mário Serra de Oliveira, ex-1.º Cabo Amanuense, Bissau, 1967/68, com data de 28 de Outubro de 2011:

Olá Amigo Carlos!
Espero que esteja bem de saúde na companhia de família e amigos.

Olhe, recebi a sua referência através do amigo José Ferreira.

Li um blogue do L. Graça e, notei que se pode lá contar alguns episódios.

Entretanto, para ser franco, apesar de eu ter estado na Guiné durante a Guerra de libertação, o facto é que não me considero um combatente devido a que - SORTE MINHA? - nem uma pistola tive nas minhas mãos!... Assim tudo o que possa dizer, não envolve situações de "aperto". Obviamente, e já me têm dito o mesmo que vou dizer, é que, numa Guerra nem todos usam armas!... Se é bem certo que só quem passa por "elas" é que pode avaliar com conhecimento de causa e, como tal, para esses, vai o meu respeito aos vivos e homenagem aos que já nos deixaram!... Todos são HERÓIS!..

Eu fiz a minha comissão de serviço na Messe de Oficiais da FAP, em Bissau, mesmo junto ao Palácio do Governador - Bettencourt primeiro e Spínola depois.

Quando terminei, fiquei lá a trabalhar no Café-Cervejaria SOLMAR. Depois fui para o Grande Hotel - (isto, claro, se acaso teve a oportunidade de conhecer). Depois abri o restaurante "O PELICANO" mesmo junto ao cais de embarque. Eu era o encarregado do Restaurante.

Depois abri por minha conta "O NINHO DE SANTA LUZIA" na estrada do mesmo nome junto ao QG de então. Antes ainda do 25 de Abril, comprei A TABANCA - antiga META, que eu ajudei a abrir mesmo ainda quando ao serviço, uma vez que um dos sócios - por debaixo da mesa - era o meu chefe, Tenente Mário Ascenção ou Assunção, (agora não me lembro).

Com o 25 de Abril, acabei por ficar com mais uns quantos estabelecimentos, - vendidas algumas e subalugadas outras, devido aos proprietários quererem sair. Uma longa estória a contar mais tarde. Por agora, cinjo-me somente ao que o amigo Ferreira sugeriu e junto envio duas fotos - uma mais ou menos actual após "maquilhagem", devido a que trabalhava como agente de seguros e, como tal, tinha que andar mais ou menos.

Outra, como militar, no recinto da Messe de Of. da FAP em Bissau. Tenho outras mas em Portugal, uma vez que neste momento vivo nos EUA.

Gostava de contar um episódio real que foi o facto de o meu Tenente me ter apanhado a "batizar os barris de vinho", mas nunca me apanhou a "batizar" o arroz!...

Quando me apanhou, parecia que ia ser "o cabo dos trabalhos" mas... depois, consegui convertê-lo ao meu "batismo" - e não lhe pedi 10% de "bula" ou tiding, como se diz em Inglês.

Gostou tanto ou tão-pouco que... contou ao substituto dele o qual, já eu estava na "peluda" - a trabalhar no Solmar - me aparece lá o novo Tenente, chamando-me de lado, dizendo-me:

- Oh CABO... FAÇA-ME LÁ UM FAVOR!... Vá lá acima à Messe a ensinar "aquele cabrão" - palavras do Senhor Tenente - do cabo Zé António... senão vai ele e eu p´rá "choupa"!...

Enfim, como eu estou a terminar de escrever um livro, descrevo este e outros episódios que quase que tenho a certeza o pessoal vai achar engraçados.

Deste modo, aqui ficam os dados iniciais, juntamente com as fotos.

Nome completo: Mário Serra de Oliveira
Natural do Alcaide - Fundão
Nascido a 27 de Janeiro de 1945 - 66 anos hoje.
Assentei Praça em Leiria no RI7 - junto foto.
Fui transferido para a Força Aérea - BA3 - Tancos.
Fui para a Guiné em Maio de 1966
Disponibilidade a 24 de Dezembro de 1968.

Fiquei na Guiné até Agosto de 1981.
Trabalhei num navio sismográfico no Mar do Norte. Saí da Guiné a bordo do mesmo, com uma história por detrás disso.

Vim para aos EUA em Janeiro de 1982 - para a Embaixada Portuguesa - eu Mordomo e minha mulher cozinheira do Embaixador de Então.

Saí e fui trabalhar para a Embaixada da Alemanha em Washington, de onde me reformei em Janeiro de 2010.

Neste momento espero o dia de regresso - após vender uma casa que aqui tenho - o que está difícil.

Passo o tempo a escrever coisas e a divertir-me com o meu cão, e dois pássaros que até estão na minha página do Facebook.

Mário Serra de Oliveira no RI7

Bissau, 1966 - 1.º Cabo Amanuense Mário Serra de Oliveira


2. Depois do envio de uma mensagem/resposta ao nosso camarada, recebemos esta:

Obrigado amigo Carlos, pela rápida resposta!

Quero frisar já que me dá muita satisfação poder fazer parte do vosso grupo. Sim... acredito, sem presunção alguma, que devo ter um historial interessante tal como muitos outros nossos conterrâneos - ex-combatentes ou não - o devem ter, só que, nem todos se dão conta e outros entregam-se ao "não quero saber"!...

Quanto ao Português... agradecendo antecipadamente sempre qualquer correcção que, por um motivo ou outro, poderá a vir ser necessária, permite-me referir que, nesse ponto, creio que estarei mais ou menos bem porque, se há algo - e o meu livro fala disso - a que eu me agarro ou agarrei "com unhas e dentes", é e foi exactamente a nossa língua.

Para o efeito, até mandei vir o novo Dicionário do acordo ortográfico de língua portuguesa, datado de 2010. Adiantando, somente para fazer uma nota neste aspecto, tenho inclusive sido o correspondente do jornal de língua Portuguesa, com maior tiragem, nos EUA - o Luso Americano. Resignei recentemente por motivos de incompatibilidade de me deslocar a certos locais onde a minha presença seria essencial. Ora, como se tratava de uma posição não remunerada... nem sempre se enquadrava com a minha disponibilidade. Desta forma, melhor não fazer parte!...

O que acontece, sobre certos erros, às vezes, carrega-se na tecla errada mas... quando assim é, a ajuda as pessoas com capacidade de perspicácia para saberem perceber do que se trata, tal como tu e bem te apercebeste que... "ismográfico" seria sismográfico" e 1910 seria 2010 porque, em 1910 nasceu o meu pai, que em paz descanse!... Para isso, conto sempre com pessoas do género.

A terminar - por hoje, claro - diz-me como e quando posso colocar a minha primeira história - 90% verdadeira já que os restantes 10% são uma espécie de "floreamento" das frases e linguagem utilizada... sem nunca fugir do "caroço" da história real!...

Um abraço.

PS - Não mencionei antes que, quando saí da Guiné no navio Sismográfico foi porque... nessa ocasião, a minha mulher era a cozinheira do Embaixador Americano lá em Bissau e, eu, era o encarregado de todo o pessoal local. Ou seja, eu trabalhava para os Ianques!...

Aconteceu que, o referido navio, apareceu lá em Bissau e, a tripulação visitou a Embaixada. O Embaixador de então, disse-me para eu dar um "Tour" pela cidade a certos elementos da tripulação. Escusado será dizer que foram aos sítios mais importantes.

Andei com eles - putas e cerveja - até que me perguntaram quanto é que eu ganhava. Quando lhes disse, ofereceram-me trabalho no Navio - como Cozinheiro. Aceitei, porque - o diabo quando tenta uma pessoa, quase sempre vence - o raio da oferta era 4 vezes mais o que ganhava e, ainda por cima, em USD.

Muito mais para contar... fui para Dakar, Inglaterra, Holanda, Escócia, Noruega, Inglaterra novamente, e EUA.

Depois acabou, se for no blogue, conto tudo.

Renovo abraço.
Mário


3. Comentário de CV:

Caro Mário
Nas tuas mensagens de apresentação denotas uma experiência de vida muito rica que fazem adivinhar um manancial de boas histórias. Perguntas quando podes começar a contar as tuas memórias. A resposta é desde já.

Mesmo não tendo sido operacional, tiveste em Bissau, no cumprimento das tuas funções, imensos contactos, ouviste muito, conheceste muita gente, e tudo isso é uma fonte inesgotável.

A continuação da tua permanência na Guiné depois da tropa, os teus negócios na restauração, a independência do território que tiveste oportunidade de viver, os políticos locais com quem terás convivido, as convulsões políticas a que assististe, etc, são uma mais-valia que podes partilhar com o Blogue para aumentar o nosso espólio histórico no que concerne àquele período transitório para a independência e já como nação independente.

Por outro lado, a tua estadia nos EUA e o périplo pela Europa dão muito assunto para a nossa série "Os nossos seres saberes e fazeres".

Posto isto, ficas com a responsabilidade de não nos defraudar.

Por favor toma nota de que deves enviar os teus textos e fotos para o endereço do Blogue: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos editores, cujos endereços constam da página do blogue.

Fica aqui e agora um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores do Blogue.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)

Guiné 63/74 - P8969: Notas de leitura (298): Guiné - Apontamentos Inéditos, por General Henrique Augusto Dias de Carvalho (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2011:

Queridos amigos,
Os apontamentos do general Dias de Carvalho são de grande argúcia, foram corrigidos por uma visão penetrante e compreensiva, alguém que ali viveu cerca de dois anos com uma missão e que dela se desincumbiu produzindo um relatório que são o hino à esperança nas potencialidades agrícolas da Guiné. Quase não se fala das pescas, o que também se pode entender. Dão-se recados sobre a educação, o sistema de transportes e o aproveitamento dos rios, não se esconde que é indispensável mudar o relacionamento com os autóctones, vivia-se num permanente pé de guerra. Foi pena ter esperado por 1943 para publicar tão valiosas observações. E são tão valiosas que tudo justificava que se voltassem a imprimir. Sobretudo na Guiné.

Um abraço do
Mário


A Guiné do final do século XIX, segundo o general Dias de Carvalho (2)

Beja Santos

Os apontamentos inéditos coligidos pelo general Henrique Augusto Dias de Carvalho sobre a Guiné (edição da Agência Geral das Colónias, 1944) constituem um documento histórico da maior valia e significado. O oficial general viveu ali cerca de dois anos, percorreu a colónia de lés e a lés, vê-se que estudou, procurou inteirar-se da realidade socioeconómica e cultural da região, levava a incumbência de organizar com Vitor Cordon a Companhia de Comércio e Exploração da Guiné. O seu registo sobre os Bijagós é impressionante, inteirou-se (mas fez juízos superficiais, hierarquiza e observa incorrectamente os Balantas e omite os Manjacos, por exemplo) sobre o mosaico étnico e repertoria como nunca encontrei noutro roteiro de viagem dados sobre flora e fauna, seguramente que esta observação lhe era indispensável para propor medidas de fomento agrícola.

Na continuação dos dados anteriormente expostos, vejamos agora o que o oficial general nos diz sobre o clima. Ninguém esperará juízos benignos. Mas se o clima é perigoso (mesmo a exposição ao cacimbo da noite) há comportamentos exemplares que mostram que a excepção pode distorcer a regra. Nesse ano de 1898 vivia em Bolama um antigo capitão da marinha mercante, João Carlos Rebelo Cabral, então com 75 anos de idade, tipo baixo, sobre o nutrido, alegre, dentadura completa, inteligência clara, boa memória, que fixara a sua residência na Guiné em 1848. Qual a receita da longevidade de Rebelo Cabral? Segundo o que contou ao autor, “Como o tempo em que se estabelecera na Guiné os vinhos de Portugal chegavam lá falsificados, deixou de beber vinho, bebia café no tempo fresco e chá no tempo quente, se durante o dia tinha sede ou bebia leite ou água filtrada com chá; não fumava; não se expunha ao sol nem às chuvas; se as chuvas em trânsito o molhavam, logo que recolhia se friccionava com álcool; regressava sempre a sua casa antes das oito horas da noite e às nove ia deitar-se”. E disserta sobre a falta de quadros, a curtíssima permanência dos governadores e dos secretários gerais, o funcionamento caótico da administração. Aproveitou para falar de um moço que viajara com ele para a Guiné, em 1898, para tomar posse do cargo de tesoureiro. Deram-lhe como auxiliar um nativo remador da Alfândega, a título de servente. Lamentava-se publicamente que tinha de fazer de tudo um pouco: o cofre geral do Província, a Alfândega, o correio, a venda de selos e papel selado, a escrituração do movimento de cada um desses cofres, a distribuição de emolumentos e, claro está, a contagem do dinheiro em todos os cofres. Logo que pôde regressou à metrópole e pediu transferência para outra província. A administração estava entregue a empregados provisórios. E escreve: “Há entre nós, acentuadamente, horror à Guiné e não se tem procurado modificar as condições que concorrem para como tal ser considerada; e por isso os portugueses europeus não pensaram na sua Guiné, nem se quer aproveitam as raças que lhes são mais afeiçoadas”.

O capítulo que dedica à agricultura complementa avisadamente o que escreveu sobre a flora. Acha que na Guiné há bons solos para os milhos, chegou a altura de abandonar a concepção da Guiné como entreposto comercial, invoca Andrade Corvo que ajuizara com optimismo as potencialidades do desenvolvimento agrícola da Guiné. Apela a que se eduque o agricultor já que o futuro da colónia é a agricultura. Considera que a exploração das pontas é instável e não fixa as populações à terra. Citando o governador Correia e Lança advoga que os cabo-verdianos poderiam prestar à agricultura e ao comércio da Guiné grandes serviços. Refere o sucesso de diferentes experiências e o que se conseguiu com a distribuição de sementes de mancarra, cola, cacau, borracha, gergelim, café e até videiras. Cita o exemplo de uma propriedade na margem direita de Cacine que estava a dar excelentes resultados com plantações de cacau.

Passando para a navegação em comércio, deplora a situação a que se chegou de não haver fretes regulares entre a metrópole e a colónia, recordando que são os alemães, os ingleses e franceses que aparecem nos primeiros lugares com os seus vapores marcantes. Indústrias não as encontrou e na medida em que todo o seu apanhado de notas tem por fito a ponderação de criar uma companhia de comércio, passa em revista a riqueza hidrográfica da região, recordando que foi sempre nos rios que se fizeram negócios de marfim, curtumes, cera e arroz. O seu juízo sobre a administração, como se compreenderá, é pouco lisonjeiro, a Guiné do tempo não tem praticamente população branca, tem escassos efectivos militares, a administração civil é de opereta, dos telégrafos à justiça. Não se podia fazer face às rebeliões permanentes com um batalhão de caçadores e uma bataria de artilharia.

O general Dias de Carvalho mostra-se bastante sensível à etnografia e à etnologia. Não espanta as considerações por vezes erróneas que deixa registadas, à luz dos conhecimentos da época. Ficam só aqui duas notas, são meras curiosidades. Falando dos Bijagós, diz que “Respeitam os portugueses porque deles precisam do seu comércio; e por isso vêm amigavelmente aos comandos militares. Recebem bem os portugueses que os procuram nas suas ilhas. Em outro tempo, se uma embarcação das nossas naufragava nas proximidades das suas ilhas, ainda assim a roubavam e prendiam a tripulação, que não entregavam sem o respectivo resgate ainda que pequeno. Nos costumes, não têm os Bijagós semelhança com povos da terra firme. Como vivem quase constantemente no mar, são excelentes marinheiros e tão destros que em se lhe virando a canoa mesmo a nado a reviram, continuam o seu caminho remando muito ligeiramente com as suas pás a que chamam pangaios”. Falando da miscigenação, observa: “Deram-se em princípio ligações de mulheres indígenas com europeus e filhos de Cabo Verde, o que era um grande auxiliar para os negociantes: manejavam as suas especulações no interior com uma habilidade e vantagens inimitáveis, pelas muitas relações do seu parentesco e perfeito conhecimento das coisas do país. A história regista um grande número delas mesmo nas classes inferiores: activas, laboriosas, muito fiéis a quem se ligavam, dando-se a tais pessoas com todo o carinho. Citam-se mesmo fortunas que se devem a essas ligações”.

Aqui se põe termo aos apontamentos surpreendentes de um oficial general que no virar do século XIX inopinadamente veio parar à Guiné, procurou estar atento às potencialidades económicas e tece um hino magnífico ao futuro agrícola da região. Estes apontamentos mereciam ser reeditados, constituem um primor de que a auto-estima dos guineenses bem carece.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 28 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8955: Notas de leitura (295): Guiné - Apontamentos Inéditos, por General Henrique Augusto Dias de Carvalho (1) (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 31 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8968: Notas de leitura (297): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte V): Início desastrado e desastroso da luta de guerrilha no chão fula, em 1963 (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8968: Notas de leitura (297): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte V): Início desastrado e desastroso da luta de guerrilha no chão fula, em 1963 (Luís Graça)

1. Continuação da leitura do livro de memórias do Bobo Keita (BK), da autoria de Norberto Tavares de Carvalho, guineense da diáspora (vivendo na Suíça) (*)...


Bobo Keita (abreviadamente, BK) estreou-se no Leste, para onde foi destacado por Amílcar Cabral para fazer “trabalho político”. A data é imprecisa: mas terá sido em Outubro de 1961. Não sabemos quais os critérios usados na escolha, se é que os houve: de qualquer modo, BK era muçulmano e o leste era essencialmente habitado por população islamizada.

Numa das tabancas (fula ? mandinga ? balanta ? beafada ? ),  ele e os seus camaradas foram recebidos, aparentemente,  com hospitalidade e boa fé, para logo de seguida serem denunciados às autoridades locais. Tiveram que fugir, debaixo de fogo dos tugas (não sendo claro se estes eram forças do exército ou, mais provavelmente, polícia administrativa, sabendo-se que ainda eram escassos os militares, metropolitanos, estacionados no território em 1961).


Foi o batismo de fogo do BK, embora sem consequências de maior. Desta vez ninguém foi ferido ou preso.

Mas o “Cabral mandou-nos regressar a Conacri”… A estreia tinha sido desastrosa… “Era urgente redefinir a estratégia de mobilização” (p. 68).


Em 1 de outubro de 1961 morreu-lhe a mãe, que o tinha ido procurar a Ziguinchor, no Senegal, preocupada com a sorte do seu filho de quem se dizia que passava mal em Conacri. Constava que BK ia ao Senegal “carregar bananas para subsistir” (sic) (p. 69). Em Ziguinchor a mãe acaba por não encontrar o filho e, pior, morre de doença súbita.


Na época os militantes do PAIGC não circulavam livremente no Senegal. Cabral arranjou um salvo-conduto para BK ir ao choro de sua mãe. BK é preso no aeroporto de Ziguinchor. Com alguma sorte e esperteza, acabou por ser solto. E teve tempo de passar alguns dias com a família que tinha hospedado a sua mãe. Quase meio século depois, BK recorda, emocionado, esse momento:

“Embora me tivesse preparado psicologicamentre, não pude conter as lágrimas quando me remeteram os seus pertences. Nesse dia, fui invadido por uma profunda emoção e chorei a morte da minha mãe que nunca mais veria” (p. 71).

BK volta a Conacri. Retoma o trabalho de mobilização, sendo destacado desta vez para uma vasta região que ia do Cacheu até ao Óio, incluindo as zonas de "Varela, Susana, Subijac, Bassarel, Elias, Bobonda, D. Domingos, Apiudjo, Sedengal, Bigene, Binta, Farim, Cuntima e Ingoré". Foi na época de 1961/62. 

"Contrariamente ao que se passou na zona leste onde fomos denunciados logo à chegada, aí tivemos francos sucessos. Estávamos mais à vontade no norte” (p. 75).


Esta foi, em boa verdade, a “primeira grande missão” confiada ao antigo titular da seleção de futebol da província portuguesa da Guiné, agora transformado em militante nacionalista. Em Conacri,  Amílcar Cabral marcava pontos, ao ver reconhecido por Sékou Turé, o seu Partido Africano para a Independência (PAI) como "o único representante legítimo dos povos da Guiné e de Cabo Verde". (Isto terá sido em 1962, mas o BK diz que foi em 1961). Na realidade, os estatutos do PAI são revistos em janeiro de 1962. E só a partir de agosto de 1962 é  que a sigla PAI passa a ser substituída pelo acrónimo PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

Perdedores deste braço de ferro, travado em Conacri,  foram o MLG (Movimento de Libertação da Guiné) e a FLING (Frente de Libertação Nacional da Guiné), ambos criados por François Mendy, um manjaco, de nacionalidade francesa, e antigo expedicionário na Argélia, em 1959 e 1962, respetivamente. 




Fotograma do filme Labanta Negro, do realizador italiano Piero Nelli, 1966, a preto e branco, com 39' de duração. Guerrilheiros do PAIGC, no Morés. Em primeiro plano, um  deles empunhando uma Patchanga; e um outro, uma Ricco... Filme projetado no doclisboa2011... Foto de Luís Graça (2011).

Por outro lado, no interior da Guiné, a luta clandestina não era fácil.  O ano de 1962 é de grande repressão. Em fevereiro de 1962 há uma vaga de prisões levadas a cabo  pela PIDE.  O histórico Rafael Barbosa é detido. 

Eis o relato do BK em relação às dificuldades desse ano, experimentadas no interior do território:


"(...) Em 1962 os tugas lançaram uma grande campanha de prevenção no interior da Guiné. Não podíamos nem estacionar num lugar para fazer o trabalho de mobilização. Pior ainda era que não tínhamos armas naquela altura, as frentes de combate ainda não estavam constituídas. Tirávamos as sandálias de plástico,  e andávamos descalços, porque os tugas observavam os pés e tinham informações de que os guerrilheiros de Cabral  usavam sandálias de plástico... Diziam que eramos 'terroristas', chamavamn-nos 'turras', bandidos." (p. 76)


BK e os seus camaradas só em 1963 (princípios ?) receberam as primeiras armas: 1 pistola metralhadora PPSH 41, calibre 7,62 mm, com tambor de 72 munições, de origem soviética; 1 espingarda semi-automática, Simonov, de calibre 9 mm, com capacidade para 30 munições, e igualmente de origem soviética; e ainda 25 granadas ofensivas.


A PPSH, a que chamávamos “costureirinha”, foi batizada por BK e seus camaradas como “Patchanga”, que era então um estilo de música tipo salsa, latinoamericano… A alcunha tem a ver com “os discos Patchanga que nos faziam dançar em Bissau” (p. 78). A Simonov, uma arma mais pequena, por sua vez, foi batizada como “Ricco”… Explicação ? 


“Havia a música congolesa do conjunto Ricco Jazz cujos discos de 45 rotações, os mais pequenos, faziam dançar Bissau” (p. 78-79).


Essas primeiras armas vieram de Marrocos, diretamente de Rabat para Conacri. Mas o carregamento,  que vinha camuflado, acabou por ser descoberto, devido ao arrombamento de uma das caixas por uns vulgares ladrões que procuravam outro tipo de mercadorias… Na sequência desta “bronca” todos os dirigentes do PAIGC, presentes em Conacri, foram detidos por ordem das autoridades locais. Amílcar Cabral, que estava no estrangeiro, teve de regressar, de imediato, a Conacri para resolver a delicada situação que configurava o primeiro conflito sério do PAIGC  com Sékou Turé…


Este incidente teve, como condão, levar alguns militantes do PAIGC a decidir iniciar a luta armada, com o escasso material que possuíam ainda e com a impreparação geral. 


“Fizemos algumas acções isoladas só para marcar o acontecimento e dar a entender que estávamos dispostos a tudo para lutar contra os colonialistas. No fim, Sékou Turé compreendeu que não se tratava de uma aventura ordinária e mandou libertar os camaradas” (p. 80).


Mal conhecendo o funcionamento das armas distribuídas, BK tomou a Ricco e o João Silva a Patchanga, preparando-se para a luta no norte, enquanto no sul o jovem Arafan Mané, com apenas 18 anos, atacava Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (p. 86-87). Não é claro, das conversas com BK,  se as ordens vieram de "cima" (ou seja, de Amílcar Cabral, que centralizava tudo), se foi uma "iniciativa espontânea" dos comandantes operacionais que estavam no terreno...


BK e João Silva escolheram Elias, no chão felupe, para iniciar as hostilidades no norte… “Outros camaradas foram para Varela e Susana” (p. 81). BK conta como foi o seu verdadeiro batismo de fogo: 


“Disparámos tiros à toa, queimámos casas. Não tínhamos nenhuma formação militar. Só algumas bases rudimentares. Eu, por exemplo, nunca tinha disparado um tiro na minha vida, foi aí a primeira vez que ouvi o som dum tiro disparado por mim mesmo” (p. 81).


Os guerrilheiros que foram atacar Varela não tiveram a mesma sorte que os que foram a Elias. Os Felupes ripostaram em massa. Todos os atacantes foram mortos “com arcas e flechas” (sic). Cortaram-lhes as cabeças e levaram-nas para mostrá-las aos portuguesas… 


O início, pois, desastrado e desastroso!... Osvaldo Vieira, o comandante da Frente Norte, mandou então retirar o seu pessoal para Bigene e daí para a fronteira, uns, e o Morés, outros.


Entretanto, nos primeiros 5 anos da luta armada, as relações com os senegaleses não vão ser fáceis. 


“Ficámos [na fronteira norte] durante 5 anos. Tivemos tempo de estabelecer relações de confiança [ - eu acrescentaria, e de cumplicidade –] com as autoridades senegalesas. Na primeira fase da luta, os senegaleses só autorizavam a nossa instalação nas tabancas, na segunda fase, quando a luta armada já tinha começado, autorizavam os nossos camiões que transçportavam alimentos . Da nossa parte aproveitávamos para camuflar armamento nos camiões” (p. 88). 


BK tranforma-se em traficante de armas e  contrabandista. A sua tática era subornar os "gendarmes" senegaleses que passaram a fazer vista quando os camiões do PAIGC circulavam com mantimentos para a guerrilha...


(Continua)


Luís Graça,

Quinta de Candoz, Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, 28/10/2011

[ L.G. segue a nova ortografia. Respeita, no entanto, a ortografia antiga nas citações de outros autores ou fontes]



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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 29 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8961: Notas de leitura (296): De campo em campo: conversas com o comandante Bobo Keita, de Norberto Tavares de Carvalho (Parte IV): Os 'Portuguis Nara' de Boké e de Conacri (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P8967: (Ex)citações (153): Comandante da Companhia de Instrução de Milícias, em Bambadinca, por dois meses (Luís Dias)

1. Comentário de Luís Dias [, aqui em Bambadinca, ´no último trimestre de 1973, junto a um caça-bombardeiro T6,] ao poste P8950:
Eu já não apanhei o Paulo Santiago em Bambadinca. Encontrava-me com o meu Gr Comb de reforço ao Batalhão de Piche, quando fui nomeado para comandar a Companhia de Instrução de Milícias, em Bambadinca.

Tive como segundo comandante um dos meus furriéis e 1º cabos como comandantes de pelotão, oriundos de diversas unidades. Foi uma temporada de cerca de 2 meses para preparar os pelotões militarmente para serem colocados em diversas tabancas, embora já não me recorde, para onde foram e qual era a origem dos seus elementos.

Foi um tempo agradável, de que gostei particularmente e pude conviver com a malta da CCS do BART 3873. O quartel era também maior e com outra filosofia que a que eu não estava habituado, quer no Dulombi, quer nas sedes dos Batalhões de Galomaro, de Piche e de Bolama, onde estivera antes.

Creio que a carreira de tiro era onde tu referes [,  junto à ponte do Rio Udunduma, ] e tenho uma foto dela, mas não sei se dá para identificares. Recordo-me que também conheci na altura o Tenente Comando Jamanca, que comandava a CCAÇ 21, que intervinha na zona. Mais tarde iria intervir na área de Canquelifá, em conjunto com o BCA [, Batalhão de Comandos Africanos,].

Tinha um sargento na área administrativa que também fazia fotografia e onde muitos jovens africanos iam tirar o retrato (!!!). Isto admirava-me porque eram jovens, mas em idade de combater e, como se sabe, a maioria servia nas milícias, ou então nas fileiras do PAIGC.

Eu,  por brincadeira,  costumava dizer-lhes:
- Então onde é que ficou a kalash ou o roquete? Atrás de uma palmeira na bolanha?

Eles riam, mas...acho que muitas das vezes acertava. O quartel era aberto à população.

Não tive problemas com o pessoal, porque tinha uns óptimos instrutores, gente aplicada e isso foi manifesto no exercício final para os graúdos de Bissau verem - um golpe de mão, muito bem executado.

A única chatice foi que treinámos os milícias com as G3, e muito perto do fim foram-lhes entregues FN FAL, o que nos obrigou a um trabalho suplementar sobre esta arma. Ainda por cima, tive uma discussão com o responsável pelo Armamento (um Major)que afirmava que as armas eram novas e eu dizia-lhe que elas foram foi pintadas de novo, mas as coronhas, ainda em madeira, tinham inscrições feitas pelas nossas tropas com dizeres referentes a Angola. Calei-o.

Um abraço
LD
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Nota do editor:
 
 

domingo, 30 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8966: Blogpoesia (163): Fado da 'Orion' (José Pardete Ferreira)

1. Mensagem de J. Pardete Ferreira:

Data: 30 de Outubro de 2011 15:26
Assunto: Fado da Orion

 Caro Luís, o prometido é devido:

O Fado da Orion foi escrito em Homenagem ao Comandante Faria dos Santos. A LFG passou mais de um ano acostada ao molhe do Pi(n)djiguiti porque tinha cedido a Batarda um dos motores.

Quando o recebeu de volta ou ele foi substituído por um novo, já não posso precisar, fez uma viagem experimental e de contrabando "a acreditar nos praticantes da má-língua" e, de seguida,  foi o navio almirante da ida a Conacri, sob o Comando de Faria dos Santos, mais tarde Comandante do porto e, em seguida, Governador Civil de Aveiro.

Poeta e grande amigo, recebia a jantar e bem um pequeno número de amigos na torre, onde, no final, a poesia expulsava o álcool.

Ele foi, igualmente, a nossa chave de acesso à Base Naval de Bissau onde, às quintas-feiras, havia jantar melhorado e aberto a convidados.

2. Blogpoesia  > Fado da "Orion"
por José Pardete Ferreira


[, LFG Orion, a navegar no Rico Cacheu, em 1967, foto à esquerda; crédito fotográfico:  Manuel Lema Santos]






Tristes noites de Bissau,
Neste clima tão mau,
Passá-las não há maneira,
Sem comer arroz, galinha.
Ou então ir à "Marinha"
Aos "jantares da quinta-feira"!

Às vezes um Comandante,
Bom amigo, bem falante,
Obriga uma pessoa,
Com uma grande bebedeira,
Pensar que o Ilhéu do Rei
Fica em frente de Lisboa.

Refrão

Ser marinheiro
De "LFG' no estaleiro,
Sem motores nem cantineiro,
Junto ao cais sem navegar,
E esperando,
A comissão foi passando,
Ai!, os amigos engrossando,
Com o Geba a embalar.

Quando vinha dessa Terra
E voltava à minha Serra,
Nem eu queria acreditar !
Virei-me ainda p'ra ver,
O meu Adeus lhe lançar
E também lhe agradecer:

Com meu suor derramado
No teu chão, tão maltratado,
Deixo-te votos amigos
E, também, as minhas preces,
'squecendo rancores antigos,
Por ti, Guiné, que mereces.

Refrão...

(1ª parte e Refrão escritos em Bissau em Novembro de 1970. 2ª parte escrita em Setúbal na madrugada de 15 de Dezembro de 1997. Para ser cantado com a Música do "Fado do Cacilheiro" do Maestro Carlos Dias).

J. A. Pardete Ferreira
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P8965: Memória dos lugares (160): Bissau, bairro do Cupelom, Pilom ou Pilão... (António Graça de Abreu)




1. O nosso Camarada António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), enviou-nos uma mensagem com uma parte do seu Diário da Guiné sobre o Pilão.

Bissau, 16 de Dezembro de 1973


Ontem fui às p...!

Nestes dias em Bissau, com tanta tropa à solta, anda tudo num magnífico regabofe. Para estes homens, o fim da Guiné é a loucura. Aqui no “Biafra”, de madrugada ainda havia alferes a cair de bêbados, entrando pelos quartos em gritarias e choradeiras de pasmar. Não deixavam ninguém dormir.

Ontem o meu serviço foi fazer companhia ao alferes Tomé, meu antigo companheiro de quarto em Teixeira Pinto e em Mansoa. Era o seu último dia na Guiné, embarcou hoje para Lisboa no avião dos TAM e passou comigo as horas da derradeira festa guineense.

Fomos os dois até lá baixo à cidade, depois jantámos, bebemos bem e, entre pesaroso e alegre, o Tomé desatou a contar-me as suas aventuras com uma prostituta cabo-verdiana que o andava a encher de ilusões, ou o Tomé a ela. A rapariga gostava dele, sempre que vinha de Mansoa a Bissau ia visitá-la, de sexta para sábado dormiu a noite toda em casa da beldade, a menina desembrulhava-se em bolanhas de ternura e desdobrava-se em arrozais de dignidade. Existiria qualquer coisa de verdade nesse relacionamento oblíquo. A rapariga deve ter adivinhado no Tomé um homem que não lhe comprara apenas prazer para vinte minutos e talvez tenha gostado dele. Ontem o Tomé foi-se despedir e levou-me para eu conhecer a pérola dos seus sonhos reais. A moça tinha bom aspecto, pequena, redonda, um rosto suave e sorridente onde não se adivinhava o labor da mais velha profissão do mundo. O Tomé abraçou-a, entrou na casa dela e dedicou-se de imediato aos prazeres carnais, ia pela última vez comer o chocolate claro da sua princesinha.




Eu fiquei cá fora, à espera, aí uns quarenta e cinco minutos encostado a um monte de sucata, a carcaça desfigurada de um carro velho. Entretive-me a olhar à volta. Estava no Pilão, um bairro de Bissau habitado por muita miséria e alguma prostituição. O lugar é sujo, tem pouca luz e dizem os entendidos que é perigoso à noite. Ontem, sábado, havia muita tropa branca a fazer as despedidas da Guiné, à procura dos últimos prazeres do sexo negro ou mulato para levarem como recordação para Portugal. As prostitutas do Pilão trabalhavam heroicamente. Na casa em frente, vi uma mulher aviar três gajos em pouco mais de meia hora, entravam, saíam uns atrás dos outros. Não sou propriamente um puritano mas tudo aquilo com excepção da rapariga do Tomé, parecia boa menina me deixou um travo a desgosto, desconforto e imundície.

Enquanto esperava, uma das prostitutas meteu-se comigo. Chegou saracoteando-se dentro de um vestidinho vermelho, dengosa, um perfume barato, meloso, agarrou-me no braço e disparou: Vá amor, vem f...! Disse-lhe: Não posso, já f.... Resposta pronta: Vai apanhar no c... !

Andei pelo Pilão a cirandar junto às putas mas não fui às putas, não faz parte dos meus hábitos. E não segui o interessante conselho da prostituta do perfume oleoso e reles.

Apanhar no c... também não faz parte dos meus hábitos.

Abraço,

António Graça de Abreu
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Nota de M.R.:

Vd. Também o último poste desta série em:

23 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8939: Memória dos lugares (159): Lugajole, 2004 - Memorial à declaração unilateral da Independência da Guiné-Bissau, localizado em Orre Fello (Rui Fernandes)

Guiné 63/74 - P8964: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (28): Quando os segredos da guerra se tornam em surpresas

1. Mensagem de José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 30 de Outubro de 2011:

Caro amigo Carlos Vinhal,
Junto encontrarás mais uma pequena e simples história das minhas andanças pela Mata dos Madeiros. Os segredos militares, quando bem usados, eram muitas vezes as bases dos sucessos e da disciplina. O Cap Mil Rogério Rebocho Alves usava-os com mestria ponderada.

Para ti e para os nossos camaradas vai um abraço imenso do
José Câmara


Memórias e histórias minhas (28)

Quando os segredos da guerra se tornam em surpresas

No regresso de Bissau a coluna da CCaç 3327 foi pernoitar ao Bachile, sede da CCaç 16. Ali, talvez por falta de instalações ou pela falta de lembrança de quem comandava, não éramos acomodados ou recebíamos instruções de defesa em caso de ataque. Nas poucas noites que ali pernoitei, sempre estranhei esse procedimento.

Independentemente dos motivos que me faziam sentir parte de uma outra guerra, chegada a hora do recolher, acomodei-me, juntamente com os meus camaradas, no alpendre de um dos edifícios ali plantados. A minha amante, como era seu costume, recolheu-se entre as minhas pernas, encostou o seu corpo ao meu e apoiou a sua cabeça no meu ombro. No nosso primeiro contacto surgira um sentimento profundo, aquilo a que bem poderíamos chamar amor à primeira vista. Os adornos, amarrados à minha cintura, pareciam sorrir daquele inocente amor, prontos para ajudar em qualquer pezinho de dança que acontecesse nas imediações.

José Câmara com a sua amante, par inseparável, algures na Mata dos Madeiros

A noite avizinhava-se longa, cheia de visitas indesejáveis. Estas, talvez deliciadas com o meu cheirinho natural e pela falta daquele perfume pestilento, com o qual normalmente me besuntava, eram de tal maneira agressivas que me faziam perceber que não estava necessariamente no paraíso. Mesmo assim sonhei, de olhos bem abertos, com chuvas torrenciais que me levariam a Teixeira Pinto e aos seus destacamentos. Chuvas que só tinham aparecido uma vez e que tardavam em reaparecer.

Passei em revista a minha ida a Bissau. Naquela cidade as pessoas, dentro do possível, tentavam passar pela vida. Eu, ali sentado contra uma parede, só podia fazer pela vida. Não podia aspirar a mais.

Pela manhã, a nossa coluna juntou-se à escolta matinal que viera do acampamento e rumámos à Mata dos Madeiros. Ali ainda não havia notícias quanto à nossa saída daquele lugar. Tínhamos entrado em compasso de espera.

Na noite de 10 para 11 de Junho fomos surpreendidos com outro temporal. Tal como acontecera no primeiro, fiquei extasiado com aquele espectáculo da natureza que tinha tanto de belo como de pavoroso. Os relâmpagos e os trovões deflagravam por todos os lados, o firmamento transformava-se numa autêntica bola de fogo e a chuva caía como um caudal. Esses elementos naturais chegaram repentinamente e com a mesma ligeireza se foram, dando lugar à lua e às estrelas.

Sempre confessei à minha madrinha de guerra o meu fascínio por esses dons da natureza. Desta vez não foi diferente. Mas estas chuvas trouxeram outra novidade, em tudo muito semelhante às primeiras, as que levaram os capinadores a regressar aos seus lares com as primeiras chuvas e às sementeiras do arroz.
Agora, com este novo temporal, foi a vez dos trabalhadores das máquinas recusarem continuar a trabalhar na estrada.
Sobre este assunto escrevi o seguinte:

Mata dos Madeiros, 11 de Junho de 1971
“Há algumas coisas novas por aqui, entre elas a proximidade da nossa saída deste sítio. A minha afirmação é bastante contingente pois que, formalmente, nada se sabe. Falar assim é proveniente da recusa dos trabalhadores das máquinas que estão a trabalhar na estrada, em continuarem os trabalhos.”

Essa recusa, melhor a saída destes últimos trabalhadores da estrada, deixou-nos apreensivos. Sabíamos que sem civis ficaríamos mais vulneráveis. Compreendíamos isso, mas nada se poderia fazer. A nossa ordem de marcha tardava a chegar, ou se existia e alguém sabia dela, neste caso o nosso comandante de companhia, mantinha muito bem o segredo.

Escrever à minha madrinha de guerra não era um passatempo, mas uma necessidade

Por incrível que pareça, na correspondência seguinte, não voltei a tocar na saída da CCaç 3327, diria iminente, da Mata dos Madeiros.

No dia 15 de Junho de 1971, escrevi à minha madrinha de guerra aquele que foi, sem saber que o era, o último aerograma que escreveria no acampamento da Mata dos Madeiros. Sobre a situação militar foi isto que lhe escrevi:

“Cá vai mais este bate estradas ao teu encontro para uma pequena conversa, dando assim algumas notícias minhas. Estas são poucas e sem interesse, daí o serem breves. Por aqui tudo continua bem, felizmente.
Mais uma saída para o mato, sem problemas na ida e no regresso. Isso, por si só, é motivo suficiente de regozijo; aliás, nem poderia ser de outra maneira.”

No dia 16 de Junho de 1971, dois grupos de combate, sendo um deles o meu, saíram normalmente para mais uma acção de patrulha e emboscada com a duração de 24 horas. Como todas as outras que fizéramos antes, esta também correu bem. A surpresa estava reservada para o nosso regresso, na manhã do dia 17.
Ao entrarmos no acampamento, como vinha na frente com a minha secção, reparei de imediato que algo de anormal se passava no acampamento, sobretudo, não vi os grupos preparados para nos substituir no mato. Apesar das minhas observações quase nem tive tempo para perguntar o que se passava.

Que teria sido de mim, de nós, sem a sua protecção

As ordens breves e rápidas voavam por todos os lados. Passar de imediato pela cozinha de campanha, beber o café, levantar nova ração de combate, preparar as malas pessoais, carregá-las nas viaturas, acima de tudo não destruir nada no acampamento. Tudo cumprido sem confusões, sem rasgos de alegria, disciplinadamente. Nessa altura, apenas sabíamos que tínhamos cumprido uma missão e que iríamos embalar noutra.

Ao fim da manhã, a coluna da CCaç 3327 punha-se em marcha a caminho de Teixeira Pinto. Para trás ficava a Mata dos Madeiros, um acampamento intacto, as antenas de rádio montadas e alguns dos nossos camaradas das Transmissões, entre eles o Fur Mil João Nunes Correia, agora protegidos apenas e só por uma das outras forças de intervenção.

Aquilo que deveria constituir um motivo de alegria, a nossa saída daquele inferno, acabava por ser um motivo de grande preocupação. Tudo levava a crer que a nossa missão na Mata dos Madeiros ainda não tinha terminado.
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Nota do Editor

Vd. último poste da série de 24 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8597: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (27): Algumas fotos de Tite

Guiné 63/74 - P8963: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (III e última parte) (Luís Dias)


Guiné > Zona leste > Setor de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 3491 (1971/74) > Em primeiro plano, o Gen Spínola e o Cap Mil Pires, comandante da CCAÇ 3491, na inaguração do Quartel do Dulombi, em 27 de Abril de 1972. Em 2º plano, o Alf Mil Dias.

Foto (e legenda): © Luís Dias (2011).  Todos os direitos reservados. 



1. Continuação do texto de Luís Dias (*):


As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (III e última parte)

por Luís Dias

ANO DE 1973



10 CC – “Rubber bullets”, um tema interessante sobre uma revolta numa cadeia e a repressão a surgir feita de balas de borracha, foi o segundo single desta banda que se lançara na música com este nome em 1972, embora os seus principais membros viessem de outros grupos, nomeadamente, dos Mindbenders. O seu maior êxito iria surgir em 1975, com o tema “I´m not in love”.


ALICE COOPER – “No more Mr. nice guy” e “Billion dollar babies” são temas da evolução desta banda que foram sucessos.


AMERICA – “Don´t cross the river” foi mais um bela canção deste grupo vocal.


BILLY JOEL – “Piano man” é o primeiro sucesso deste cantor/compositor e pianista nova iorquino, retirado do álbum com o mesmo nome, saído também em 1973. Muitos outros grandes sucessos se seguiriam, mormente:”The entertainer”, “Just the way you are”, “The stranger”, “Honesty”, “You maybe right”, “It´s still rock´n´roll to me”, “This is the time”, “Uptown girl”, (de 1983, em cujo teledisco entrava a lindíssima super modelo Christie Brinkley, na altura esposa do cantor e que era famosa pelo anúncio ao Martini, em que entrava de patins num elevador, com uma bandeja com a bebida) “We didn´t start the fire”, “New York state of mind”, “Good night Saigon” e “River of dreams”. Billy Joel retirou-se da produção de álbuns em 1993, dedicando-se a concertos ao vivo. Produziu 13 álbuns de originais, 4 álbuns ao vivo, 11 colectâneas de êxitos e 59 singles.


BLACK SABBATH – “Sabbath bloody sabbath”. A banda continuava em grande estilo e este tema foi a grande música do seu trabalho com o mesmo nome. A partir deste álbum o sucesso manteve-se em termos de concertos ao vivo, mas os temas que foram saindo não tiveram o êxito dos temas dos álbuns produzidos até 1973. O grupo continuou a fazer originais até 1995, com mudanças constantes na composição dos membros da banda.


BOB DYLAN – “Knockin´on heaven´s door” é uma das músicas mais importantes deste fabuloso cantor e foi composta para o filme do realizador Sam Peckinpah, “Pat Garret & Billy The Kid”. Mais tarde, Eric Clapton teria um grande êxito com esta mesma composição.


BOB MARLEY – “I shot the sheriff”- Um grande tema e um grande êxito para o cantor jamaicano, um dos monstros da música Reggae. Morreu de cancro em 1981 e o seu enterro na Jamaica foi uma cerimónia digna de qualquer chefe de estado. “Lively up yourself”, “Get up, Stand up” e o fabuloso “No woman, no cry” são temas que ainda mexem com os amantes da boa música. Eric Clapton também pegou no tema “I shot the sheriff” e fez dele um sucesso.


COCKNEY REBEL –“Sebastian”: O tema mais conhecido desta banda, que em 1975 adoptaria o nome de Steve Harley & The Cockney Rebel. Praticando um Art Rock/Glam Rock, o grupo nunca atingiu grande fama, embora tivesse um grande núcleo de fãs na Grã-Bretanha.


ELTON JOHN – “Candle in the wind”, “Crocodile rock” e “Saturday night it´s all right for fighting”, com estes temas Elton continuava a sua ascensão para o estrelato e iriam consagrá-lo como um dos grandes compositores da música moderna.


EMERSON, LAKE & PALMER – “Still you turn me on” e “Jerusalem”, ambas do album “Brain salad surgery” do ano de 1973 foram os temas do momento para este grupo.


GENESIS – “I know what I like”, “Firth of fifth” e “The battle of epic forest”, foram os temas mais importantes do excepcional álbum “Selling England by the pound”, sendo que o primeiro tema era dos mais apreciados pelos fâs da banda e foi, sem dúvida, um grande sucesso comercial. Em 1974 sairia o álbum colocaria os Genesis como uma das mais importantes bandas da cena rock – o “The lamb lies down on Broadway” – em que se salienta as músicas “The lamb lies down on Broadway”, “Counting out time”, “The carpet crawlers” e “The lamia”.


Em 1975 a banda deu um concerto memorável no pavilhão de Cascais (em que tive o privilégio de estar presente) e regressou ao nosso país, em 1990, para um concerto no Estádio de Alvalade (em que também estive presente).


GENTLE GIANT –“In glass house” foi uma das mais populares canções desta banda inglesa de Progressive Rock/Jazz Rock/Symphonic Rock, que se iniciara em 1970, sendo que em 1973 lançaram o seu quinto trabalho. A banda nem sempre foi muito bem acolhida, embora os seus membros fossem excelentes músicos. Produziram 11 álbuns de originais, 5 ao vivo e 6 compilações.


JIM CROCE – “Which way are you going” é, do meu ponto de vista, uma das melhores músicas deste cantor/compositor, falecido num desastre de aviação nos Estados Unidos, neste mesmo ano. É também uma das músicas mais importantes da cena rock internacional.

“Which way are you going? Which side you will be on? Will you stand and watch, while all the seeds of hate are sown”


“Qual é o caminho por onde vais? De que lado é que tu estás? Ficas parado a olhar enquanto as sementes do ódio estão a germinar”.


“One hand on the bible, one hand on the gun”  (Uma mão na bíblia e a outra mão na arma).

“´Cause you love the baby, but you crucify the man” (Amas a criança, mas crucificas o homem).

JOHN LENNON –“Mind games”, de um dos mais prestigiados elementos dos “FAB FOUR”, ou seja dos Beatles, era o tema preferido do seu álbum com o mesmo nome. John Lennon, após a separação dos Beatles, inicia uma carreira a solo que obteve grandes êxitos, em especial com temas como: “Peace a chance”, “Instant kharma”, “Mind Games”, “Imagine”, “Bless you”, “What ever gets thru´the night”, “Just like starting over” e “Woman”. O músico viria a ser assassinado a tiro, pelo fanático Mark Chapman, com 4 tiros pelas costas, em 8 de Dezembro de 1980.


LED ZEPPELIN –“The song remains the same” é o tema principal do album deste super grupo de Blues Rock/Folk Rock/Hard Rock/Heavy Metal, saído neste ano.


A banda formou-se em 1968, em Inglaterra, com os músicos: Robert Plant (Vocalista), Jimmy Page (Guitarrista), John Paul Jones (Baixista/Teclista) e John Bonham (Baterista). A batida rítmica, o som da guitarra, o timbre do vocalista, tornaram-nos precursores do Hard Rock e Heavy Metal. É considerada a melhor banda dos anos 70 e uma das melhores de toda a história do rock. Venderam 300 milhões de discos em todo o mundo, sendo que 111,5 milhões deles o foram nos EUA. Se os Beatles influenciaram a década de 60, o mesmo se pode dizer dos Zeppelin na década de 70. A banda terminou em 1980, após a morte do seu baterista Bonham. Em 2007 os membros sobreviventes e o filho do falecido Bonham (Jason Bonham) reuniram-se para um concerto na O2 Arena, em Londres.


A discografia da banda consiste em 9 álbuns de estúdio, 3 álbuns ao vivo, 9 discos de compilações, 19 singles e 2 vídeos álbuns.


Os meus temas predilectos são: Álbum Led Zeppelin (1969): “Good times, bad times”, “Babe I´m gonna leave you”. Álbum Led Zeppelin II (1969): “Whole lotta love”, “Heartbreaker”. Álbum Led Zeppelin III (1970): “Immigrant song”, “Since I´ve loving you”. Álbum Led Zeppelin IV(1971):”Black dog”, “Rock´n´roll”, “Stairway to heaven”. Álbum Houses of the holy (1973): “The song remains the same”. Álbum Physical graffiti (1975): “Kashmir”. Álbum Presence (1976):”Nobody´s fault but mine”. Álbum In through the outdoor (1979): “In the evening”, “All my love”.


MIKE OLDFIELD –“Tubular bells” é uma obra musical deste excelente músico multi-instrumentista que tendo sido gravada no ano de 1972, apenas saiu em 1973, aquando do lançamento da editora Virgin Records.

Em 1983 o tema “Moonlight shadow” iria ser um êxito à escala mundial, mas irá ficar na história da música rock, essencialmente, pela obra “Tubular bells”.


PAUL McCARTNEY & THE WINGS –“My love”, "Band on the run” e “Live and let die” (música do filme de James Bond do mesmo ano), foram os temas mais importantes deste importante músico, o ex-baixista dos Beatles, no ano de 1973. Sir Paul é um dos maiores compositores da música rock, segundo as revistas da especialidade. Quer nos Beatles, quer com os Wings, quer a solo, Paul construiu algumas das mais belas composições da música moderna. Não nos esquecemos da fantástica música dos Beatles “Yesterday”, considerada a canção com mais diversas “covers” de todos os tempos e as que compôs a solo como: “Baby I´m amazed”, “Another day”, “Mary had a little lamb”, “My love”, “Live and let die” (usado como tema de um filme de James Bond), “Jet”, “Bando on the run”, “Silly love songs”, “Mull of Kintyre”,”Ebony and Ivory” (com Stevie Wonder),”Tug of war”, “Say say say” (com Michael Jackson), “Pipes of peace”, “No more lonely nights”, “We all stand together” e “Spies like us”.


PAUL SIMON – “Kodachrome” e “Take to the mardigras” são temas importantes da carreira a solo deste compositor/cantor.


PINK FLOYD – “The Great gig in the sky”, “Breathe”, “Time”, “Money”, e “Us and them”, 4 maravilhosos temas do mais importante álbum destes extraordinários músicos, “The Dark side of the moon”.

A banda de Progressive Rock/Psychedelic Rock, teve o seu início em 1965, fundada por: Roger Waters (guitarra baixo e voz), Richard Wright (teclista), Nick Mason (baterista) e Syd Barrett (guitarrista e voz). Em 1967 surgiu o seu primeiro álbum, “The piper at the gates of down”, onde se incluíam os singles, “Arnold Layne” e “See Emily Play”.

Devido a doença Syd é substituído em 1968 por David Gilmour, embora ainda tome parte no segundo álbum (a única vez que os Pink são 5 elementos), “A saucerful of secrets”, de 1968. Seguem-se os álbuns: “More” (1969”, “Ummagumma” (1969), “Atomic heart mother” (1970), “Meddle” (1971), “Obscured by the clouds” (1972), “The dark side of the moon” (1973), “Whish you were here” (1975), “Animals” (1977), “The wall” (1979). Nesta altura Rick Wright abandona a banda e na gravação do álbum “The Final cut” (1983), é substituído por Andy Bown (órgão) e Michael Kamen (piano).

Em 1985 Roger Waters, uma das figuras mais importantes da banda entra em litígio com os outros membros e abandona o grupo, que continuam a tocar usando o nome de Pink Floyd o que foi contrariado em tribunal por Waters, tendo no entanto a formação restante conseguido o acordo. Em 1987, Richard Wright retorna ao grupo e é lançado o álbum “A momentary lapse of reason”, seguindo-se em 1994 o álbum “Division bell”.


A banda Pink Foyd é uma das mais extraordinárias rock bands de todos os tempos, com 200 milhões de discos vendidos, influenciando muitos outros músicos. O álbum “the dark side of the moon” manteve-se no Top 100 de vendas por mais de uma década.Temas como: “If”, “Echoes”, “Atomic heart mother”, “Stay”, “The Great gig in the sky”, “Breathe”, “Time”, “Money”, e “Us and them”, “Shine on your crazy diamond”, “Whish you were here”, “Pigs on the wing 1”, “Another brick in the wall”, “Comfortably numb”, “Run like hell”, “Not now John”, “Learning to fly”, “The dogs of war”, “On the turning away”, “What do you want from me”, “Take it back”, “Coming back to life”, “High hopes”, “A great day for freedom” e “Keep talking” são conhecidos à escala mundial.


Tive a alegria de assistir ao 1º concerto dos Pink Floyd em Portugal (22 de Julho de 1994), com 60 000 pessoas (mais 60 000 no segundo, a 23/7), realizado no Estádio de Alvalade.


Em 2 de Julho de 2005, a banda reuniu-se novamente para um show no “Live 8”, em Londres, contando também com a presença de Roger Waters. Era a primeira vez em 24 anos que voltavam a tocar juntos. A banda tocou um conjunto de quatro canções consistindo em "Speak to Me/Breathe/Breathe (Reprise)", "Money", "Wish You Were Here" e "Comfortably Numb", com Gilmour e Waters dividindo os vocais. No final da performance Gilmour agradeceu "muito obrigado, boa noite" e começou a sair do palco. Waters chamou-o, e então a banda deu um abraço colectivo, que se tornou uma das imagens mais famosas do “Live 8”.


PROCOL HARUM – “A rum tale” – O último tema interessantes desta banda, integrado no álbum “Grand hotel”. O Grupo tocaria em Portugal em Fevereiro de 1973, no Pavilhão de Cascais.


QUEEN – “Keep yourself alive” tema do primeiro álbum de originais de uma banda que veria a ser líder no mercado comercial da música internacional, especialmente devido à voz forte e empenho visual do vocalista Freddie Mercury.


RICK WAKEMAN – “The six wives of Henry VIII” foi o primeiro disco de originais deste famoso teclista inglês, que tocou com os “Strawbs” e com os famosos “Yes”. O álbum seria muito bem recebido e originou que o músico continuasse a produzir discos a solo, entre os quais: “Journey to the centre of the Earth”; “The myths and legends of King Arthur and the knights of the round table”; “Lisztomania”; “No earthly connection”; “White rock” e “Criminal record”.



ROBERTA FLACK – “Killing me softly with his song”, ofereceu-lhe um “Grammy” no ano seguinte e foi das músicas mais ouvidas desta cantora de R&B/Soul/Jazz.


ROGER DALTREY – “Giving it all away” tema do primeiro trabalho a solo do vocalista da famosa banda “The Who”, que conseguiu algum êxito nas “Charts” internacionais.


ROGER McGUINN – “The water is wide” é um dos temas do primeiro registo a solo do guitarrista e vocalista dos “Byrds”, famosa banda norte-americana de Country Rock/Folk Rock dos anos 60.


ROLLING STONES – “Angie” foi um estrondoso “hit”, de uma das mais importantes bandas de Blues Rock, da cena musical internacional. O seu nome dispensa quaisquer apresentações, pois, a par dos Beatles, foram dos grupos mais conhecidos e com maior produção musical que se conhece. A discografia dos Rolling Stones, banda inglesa, consiste em vinte e nove álbuns de estúdio, dez álbuns ao vivo, trinta e uma compilações, dezasseis álbuns vídeo, cinquenta e sete videoclips e noventa e dois singles oficiais. ´

 O seu produto vendeu milhões de discos e os seus temas, tais como: “I can´t get no, satisfaction” (um hino da geração de 60), “Tell me”, “Carol”, “Time is on my side”, “Lady Jane”, “Mother´s little helper”,”She´s a rainbow”, “Sympathy for the devil”, “Street fighting man”, “Angie”, “Gimme shelter”, “Live wiht me”, “You can´t always get what you want”, “Midnight rambler”, “Brown sugar”, “Tumbling dice”, “It´s only rock´n´roll, but I like it”, “Honky tonk women”, “Fool to cry”, “Emotional rescue”, “Where the boys go”, “Start me up”, “Waiting on a friend”, “Undercover of the night”, “Harlem shuffle”, “Rock and a hard place”, “You got me rocking”, “Anybody seen my baby?”, “19th nervous breakdown”, “Let´s spend the night together”, “Ruby Tuesday”, “Paint it black”, “Under my thumb”, “Jumpin´jack flash”, “As tears go by”, “Out of time”, “Bitch”, “Rough justice”, serão para sempre lembrados no “Hall of rock music”.


STRAWBS – “Part of the union” foi o maior sucesso desta banda inglesa de Folk Rock. Canção de intervenção sobre as greves e o papel dos sindicatos.


STYX – “Lady” é um dos mais reconhecidos temas desta banda norte-americana, dos irmãos Panozzo e do seu principal vocalista Dennis DeYoung. O tema pertence ao seu segundo álbum – “Styx II” – e iria ser um grupo de muito sucesso, principalmente nos EUA, reconhecido pelos seus temas melódicos, pelas estruturas vocais e pela conceptualidade que aplicavam na maioria dos seus álbuns. Iniciada em 1972, a carreira dos Styx irá prolongar-se até 2005, embora com diversas alterações nos seus membros. Produziram 15 álbuns de estúdio, 6 álbuns ao vivo, 6 discos de compilações e 37 singles. Entre os seus temas mais famosos podemos incluir, para além de “Lady”: “Lorelei”, “Come sail away”, “Fooling yourself”, “Babe”, “Too much time on my hands”, “Rockin´the paradise”, “Mr. Roboto”, “Don´t let it end”, “Show me the way” e “Paradise”.


THREE DOG NIGHT – “Shambala” foi o sucesso deste ano para o grupo de “Pop Rock”/Blue Eyed Soul” de Los Angeles, que já era conhecido da cena rock desde 1968, em especial por interpretar músicas (“covers”) de outros músicos e que se tornaram grandes êxitos, pelas vozes deste famoso trio. Canções variadas como: “One”, “Mama told me not to come”, “Joy to the world”, “An old fashioned love song”, “Easy to be hard” (fantástica melodia do filme hair), “Black and white”, “Cyan”, “Celebrate” e “Seven separate fools”, são temas tornados interessantes pela interpretação dos TDN, que iriam continuar a produzir música até 1983.


T. REX – “20th century boy” e “Children of revolution” eram os temas na berra deste grupo de “Folk Rock”/”Glam Rock”, também conhecidos por Tyrannossaurus Rex. A banda movimentava-se envolta do seu vocalista Marc Bolan e terminou quando este morreu num acidente de carro em 1977. Outras músicas conhecidas eram: “Get it on”, “Ride a white swan”, “Hot love”, “Telegram Sam” e “Metal Guru”.



THE WHO –“Love reign on me”, “5.15” e “ReaL one” eram temas do duplo album conceptual “Quadrophenia” deste grande grupo inglês de estilos “Rock”/”Hard Rock”/”Art Rock”/”Proto Punk Rock”/”Psychedelic Rock” e a banda favorita dos grupos “Mods”. Os The Who já andavam na música desde 1965 e os seus concertos ao vivo era uma pedrada no charco, em especial com as “perfomances” do seu guitarrista, Pete Townsend a quebrar a guitarra e do baterista Keith Moon a partir também a bateria. Três dos seus principais álbuns foram utilizados para sonorizar filmes com o mesmo nome dos títulos dos álbuns: “Tommy” (não nos esquecemos das soberbas interpretações de Elton John no tema “Pinball wizzard” e de Tina Turner no “The acid queen”), “The kids are alright” e ”Quadrophenia”. Algumas das suas músicas inspiraram toda uma geração e eram perfeitas críticas sociais daqueles tempos: “Substitute”, “My generation”, “I´m a boy”, “Pictures of Lily”, “I can see for miles”, “Magical bus”, “The seeker”, “Summertime blues”, “I´m free”, “Baba o´Riley”, “The song is over”, “Behind blue eyes”, “Won´t get fooled again” (tema que viria a ser usado no genérico das séries CSI) e “Who are you”.


A banda era inicialmente formada por Roger Daltrey (Vocals), Pete Townsend (Guitarra), John Entwistle (Baixo) e Keith Moon (Bateria). Em Setembro de 1978 o baterista morre a dormir com uma “overdose” de um medicamento para combater o alcoolismo e é substituído pelo ex-baterista dos Small Faces e Faces, Kenney Jones. Kenney Jones deixa a banda em 1988, vindo a ser substituído por outros bateristas. Já em 2002, num hotel em Las Vegas, antes da Tour Americana, John Entwistle é encontrado morto no seu quarto, vítima de um enfarte causado por ingestão de cocaína.


A banda interveio nos famosos festivais de “Woodstock”, em 1969 e “The Isle of Wight”, em 1970 e foram os inspiradores de largas dezenas de rockers pelo mundo inteiro.


ZZ TOP – “La grange” é um dos excelentes temas da banda texana de Blues Rock/Hard Rock/Southern Rock, que lançara o seu primeiro álbum em 1971. O trio de barbudos são um grupo muito conceituado nos EUA, onde as suas músicas alcançaram os Top e temas como: “Sharp dressed man”, “Legs”, “Viva Las Vegas”,”Tube snake boogie”, “Gimme all your lovin´”, “Tush”, “Rough boy” e “Double back”, ainda hoje são canções muito estimadas pelos fãs. O grupo continuou a produzir álbuns de originais até 2003 e “Tours” até 2010.


Estas foram as músicas que, naqueles anos, foram a minha companhia ao longo da comissão. As músicas de intervenção ouvia-as com bastante à vontade na sede do batalhão, em Galomaro, sendo que, numa das vezes, o Comandante interpelou-me para me perguntar quem era o cantor, por acaso era o Zeca Afonso, e ele apenas referiu a sua excelente qualidade vocal, depois de lhe dizer o seu conhecido nome.

Não posso afirmar que tivesse uma música preferida pois elas são muitas e variadas, mas “Which way are you going?” de Jim Croce, era, indubitavelmente, um dos temas meus preferidos e apropriado ao que ali passávamos.


Um abraço, Luís Dias
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8950: As músicas pop/rock anglo-americanas mais em voga em 1972/73 e que eu ouvia no mato (Parte II) (Luís Dias)