terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14098: In memoriam (215): José Alberto Morais da Silva (1941-2014), cor pilav ref, ex-cmdt da esquadra 121 (Fiat G91), BA12, Bissalanca, 1970/72

Segundo notícia da agência Lusa, citando fonte da Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA), morreu ontem em Lisboa, aos 73 anos, José Alberto Morais da Silva, cor pilav ref, que fez uma comissão no CTIG, em 1970/72, na antiga BA nº 12 em Bissalanca, onde foi comandante da Esquadra 121, dos Fiat G91.

Foi Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), de 12 de março de 1975 a 9 de janeiro de 1977.

Segundo os dados biográficos fornecidos à Lusa pela FAP (e outras fontes disponíveis na Net), o antigo CEMFA:

(i) nasceu em Lisboa, a 21 de setembro de 1941;

(ii) tirou o curso de pilotagem aeronáutica da Academia Militar em 1960;

(iii) esteve colocado, entre 1963 e 1969, na base aérea n.º 1 (Sintra) e na já extinta base aérea n.º 2 (Ota);

(iv) frequentou o "Curso Geral de Guerra Aérea", já no ano de1974, na  extinta Escola Superior da Força Aérea;

(v) a seguir ao 25 de abril, esteve ligado ao “Grupo dos Nove”, tendo desempenhado importante papel, como CEMFA, nos acontecimentos do 25 de novembro:

(vi) em julho de 1976, e na sua qualidade de CEMFA, participou igualmente na iniciativa que levou à libertação de 23 militares portugueses e de 562 civis, oriundos de Timor Leste;

(vii) graduado em general, saiu do cargo de CEMFA com o posto de tenente coronel, sendo louvado pelo então presidente da República e CEMGFA, gen Ramalho Eanes (DR nº 285, de 12/12/1977);

(viii) foi promovido a coronel a 1982; passou  à reserva 10 anos depois e à reforma em 1997.

O blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresenta,  à família enlutada e aos camaradas da FAP que com ele privaram,  os seus votos de pesar. ´

Segundo informação do blogue Especialistas da BA 12 (Guiné, 1965/674), o corpo estará em câmara ardente a partir das 17 horas de hoje na Igreja de S. João de Brito, em Lisboa e o funeral realiza-se amanhã pelas 14h00.

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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14053: In Memoriam (214): Ana Paula G. Pires Dias (1962-2014): Homenagem e agradecimento (Armando Pires, jornalista reformado da Antena 1; ex-fur mil enf, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/71)

Guiné 63/74 - P14097: Fotos à procura de... uma legenda (50): Fotos de António Fernandes Abreu, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 19 de Dezembro de 2014:


Olá Carlos, boa noite!
Acabo de receber estes retratos do António Fernandes Abreu, distinto furriel miliciano da minha Companhia, a intrépida CCaç 2679, que nunca virou as costas, nem ao inimigo, nem às bajudas.

Aliás, sobre esta vertente, o dito militar revelou muito aprumo nas suas escolhas e referências, fazendo frequentes demonstrações de boteré, e registando testemunhos para recordar mais tarde.

Deixo à tua consideração sobre a possibilidade de as publicares. Porque me sugerem excelentes postais natalícios, aproveito para te desejar Boas-Festas e melhor Ano Novo do que prevejo, votos extensivos ao tabancal.

Com um abraço
JD






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Comentário do editor:

Fotos sem legenda quase sempre não dizem nada.
Serão de Bajocunda? Que representam? Em que data?
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14071: Fotos à procura de ... uma legenda (49): a escolinha do nosso tempo e a Carta de Portugal Insular e Ultramarino (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P14096: Blogpoesia (399): "Eu e a Mina", de Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art.ª, Minas e Armadilhas da CART 1659

1. Em mensagem do dia 23 de Dezembro de 2014, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos este poema intitulado Eu e a Mina.

Caros Camaradas
Envio aquilo que denomino por “poésia” – e não poesia – porque não tenho pretensões em ser poeta. Gostaria de saber a vossa opinião.

Um Bom Natal e um Feliz Ano de 2015
Mário Vitorino Gaspar(a)


Eu e a Mina

Mário Vitorino Gaspar

De Gadamael Porto a picar,
até Guileje, “o corredor da morte”,
para emboscada montar.
A vontade é mais forte.
Picar, o perigo ameaça,
A CART 1659 é heroína.
Vencerá com raça.
Gritaram: - Mina, mina!

Rebentá-la? Deu-me na tola
a mina levantar.
Não vou dar à sola?
E se estoirar?
Estou sereno!
A vida é uma flor,
Vou ser seu amigo pleno.
Voz do interior:

– São irmãos. Dá-lhe um beijo!
Minha mente esvaziou.
Anestesiado, tudo claro e vejo
a mina a sorrir. Me mirou.
– Queres-me enganar?
Eu e ela, só os dois,
Vamos então conversar?
– A guerra continua. E depois?

Estendi os braços,
fazer as pazes?
Fiquei de olhos límpidos e baços,
a vida estava para os audazes,
Se não te conseguir desmontar:
– Meu amor, minha rica menina,
Vais de certeza me matar!
Minha querida mina!

Mirei-a, sem ódios e enganos,
a mina grata pela nossa amizade, afinal,
feita para matar e com planos
é um ser simples e banal,
arma mortífera e traiçoeira. Foi uma fada.
Cheirei-a, vi-lhe nos olhos a morte. Sei!
Livrei-me de uma grande alhada.
Mas nunca a gozei.


(a) - Ex-Furriel Miliciano – Atirador e com a Especialidade de Minas e Armadilhas – sempre dei o meu contributo, no período da minha comissão, de corpo aberto, especificamente para com os engenhos explosivos. Podendo dizer com respeito por estes e amor. Conseguia dominar-me e entrar num outro mundo. Anestesiado – posso dizê-lo – tudo era mais claro do que nunca, e atento sempre ao mínimo pormenor. Atingia o auge nestas circunstâncias.
Passava-se o mesmo nas Operações.
Numa primeira fase quando em contacto com o adversário, o coração acelera e volta em um, dois ou três segundos à tal situação.
Sei que hoje se pode explicar – pelo menos nos saltos de paraquedas através de um aparelho que os “páras” conhecem – mas que ignoro o nome. Penso, e sei que é um assunto que deveria ser estudado que o “Herói não existe, o heroísmo – se existisse era filho do medo – portanto para mim não existem heróis”.
De certo uns se distinguiram, mas fruto do que acabo de afirmar.

Lisboa, 23 de Dezembro de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14090: Blogpoesia (398): O Natal Segundo Jesus Cristo (Edgar Mata / Belarmino Sardinha)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14095: Notas de leitura (662): Eu e a minha burra, sozinhos, mais a nossa própria sombra... Recordações da infância (Fernando Sousa, natural de Penedono, autor de "Quatro Rios e um destino")


Penedono > Castelo de Penedono >  28/12/2011. Vídeo (0' 35''). Homenagem ao nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, natural de Bebeses, Penedono



Penedono > Castelo e Pelourinho de Penedono  > 28/12/2011 >  Visita que fiz às Terras do Demo há três natais atrás... (LG)


(...) Celebrada como uma das mais belas vilas de Portugal, assim como o seu airoso e esbelto castelo pentagonal (ou hexagonal imperfeito ?), erigido em data bem anterior ao dealbar da Nacionalidade, o é entre os seus pares, mantem inalterado o perfil medievo do seu centro histórico, já que as obras de restauro e edificações ulteriores, incluindo as mais recentes, têm, como ponto de honra, respeitar escrupulosamente o traço arquitectónico e o material granítico da região, nele se integrando de forma coerente e harmoniosa.


Penedono, concelho do distrito de Viseu
com cerca de 133 km2 e menos de 3 mil
habitantes (censo de 2011). Um dos mais antigos
de Portugal: o seu foral remonta a 1055.
Fonte: Wikipedia
Para além do seu altivo pelourinho de gaiola, fronteiro ao Castelo, com a qual delineia uma perspectiva estética de rara elegância, Penedono exibe, ainda, um património de atractivos múltiplos, consignado nas suas seculares igrejas e capelas, recheadas de arte sacra nas suas expressões plásticas e de paramentaria, a que se junta o austero e majestoso Solar dos Freixos, há poucos anos recuperado para acolher, condigna e funcionalmente, os Paços do Concelho e outros serviços da administração pública central e local.

Rezam a tradição e as crónicas que, aqui, teve berço Álvaro Gonçalves Coutinho, o insigne "Magriço", passado à imortalidade por Camões no canto VI dos "Lusíadas", quando o vate descreve e enaltece, ao ritmo épico dos decassílabos, o seu protagonismo exemplar de valentia e cavalheirismo na façanha, ímpar, cometida à frente dos denominados "Doze de Inglaterra", em chãos estranhos e longínquos da loira Albion. (...) 

(Excerto de belíssimo texto de Rui Ferreira Bastos > Penedono e o seu concelho, inserido no sítio da Câmara Municipal de Penedono)


Foto e vídeo: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.

1. Pequeno excerto do livro "Quatro rios e um destino" (Lisboa, Chiado Editora, 2014) (*), enviado pelo autor, o nosso camarada Fernando Sousa, no passado dia 28. 

O livro, de 302 pp. pode ser adquirido diretamente ao autor, através do email: fernandodjsousa@gmail.com 



Recorde-se  alguns dados biográficos do Fernando Sousa:

(i) nasceu a 24/12/1948, na véspera de Natal (daí chamar-se Fernando de Jesus...);

(ii) terra natal: Bebeses, freguesia de Póvoa de Penela, concelho de Penedono, distrito de Viseu;

(iii) esteve no TO da Guiné, como 1º cabo at inf, na CCAÇ 6 (Bedanda, 1969/71);

(iv) foi gravement6e ferido por uma mina A/P em julho de 1971;

(v) é DFA (Deficiente das Forças Armadas);

(vi) está escrever um segundo livro.


Excerto, do livro "Quatro Rios e um Destino"  (Capítulo 1 - A minha infância),  pp. 28-30. 


(...) Eu tinha apenas dez anos, para ser confrontado com uma escolha que jamais poderia recusar. Era uma ordem para cumprir, tinha que ser levada a sério, no sentido de moldar todo o meu corpo ao trabalho.  De tanto cavar, gastei essa enxada em pouco tempo e depressa foi substituída por outra ainda maior.

Capa do livro do Fernando Sousa
Voltando à minha companheira inseparável, a simpática burra, com ela percorria várias aldeias, umas mais próximas, outras a distâncias de vinte quilómetros, atravessando ribeiras e o rio Torto, subindo montes, descendo a vales bem profundos, indo mesmo até ao limiar das margens do rio Douro. Partia de manhã bem cedo, para regressar quase de noite por autênticas veredas, que essa burra conhecia bem melhor que eu, porque comecei com apenas nove ou dez anos. Era ela que me conduzia a mim,   por aqueles trilhos.

Foram muitas as viagens, porque a minha mãe, Ilda da Soledade Moutinho, era uma excelente tecedeira, excelente mestra que deu formação a algumas raparigas daquela região. Primava nos trabalhos de tecelagem e, como tal, por aqueles arredores tinha sempre muito trabalho. Era este o seu ganha-pão, era eu o seu mensageiro, o seu encarregado de negócios, o seu transportador eficaz que, de forma abnegada, levava a obra feita e, no regresso, trazia os materiais para novos trabalhos e indicações de como as clientes queriam o novo trabalho feito.

Quantas vezes, faltei à escola para executar estas tarefas! Quantas vezes, ao serão, à luz da velha candeia a azeite, e mais tarde, a petróleo, ajudei a minha mãe a urdir a lã, a desfiar o linho ou a estopa e fazer os novelos na dobadoura, preparar o tear para ao outro dia começar nova obra. Era assim naquela casa. Tudo vinha do trabalho árduo, que executávamos com alegria!

Com esta companheira, autêntico burro de carga, passei noites inteiras a transportar molhos de centeio, do local onde era cultivado, a que chamávamos Cales. Meu pai carregava a burra, que, depois, eu conduzia até à eira, local próximo da povoação, onde seria malhado. A minha mãe descarregava. Neste trajecto, um ponto distante do outro quatro a cinco quilómetros.

Este era um trabalho que tinha de ser executado de noite, porque, se fosse de dia, com o calor, o grão saltava da espiga, tornando inútil todo o trabalho.

Cabia-me a mim, sozinho com a pobre burra, naquelas noites de lua cheia, noites em que o luar tinha mais esplendor, iluminando o céu e a terra, luar que construía segredos debaixo da ramagem de cada árvore, que parecia mexer-se à medida que me aproximava ou uma aragem suavemente e muito ao de leve lhe tocava, como que reflectindo movimento a coisas estáticas, saltando-me aos olhos apenas as imagens quase todas assombrosas, deixando transparecer imagens fantasmagóricas, aterradoras, imagens de todas as formas e feitios, consoante a minha imaginação e os medos deste grande homem com sete, oito e nove anos as interpretavam. Sombras essas que deixavam em mim a sensação de que me seguiam os passos e, no regresso, ali se mantinham quietas e firmes, esperando a minha passagem, para me aterrorizarem.

Panorâmica de Bebeses. Cortesia da
 junta de freguesia de Póvoa de Penela,
Penedono
Nesses trajectos, durante toda a noite, era frequente cruzar-me com aves nocturnas que por ali abundavam, tais como noitibós, mochos, as grandes corujas e morcegos. Nestas idas e vindas, o silêncio da noite era apenas interrompido pelo latir de raposas, pelo ladrar de cães nos povoados, que, pela distância, mal se conseguiam vislumbrar, e pelo barulho destas frágeis sombras em andamento constante e contínuo, levantando o pó do chão, fazendo a terra gemer sempre que estas duas sombras o pisavam.

As idas e vindas sucediam-se à medida e do tamanho da noite, daquelas noites quentes do mês de Julho, atravessando pinhais, soutos de castanheiros e tantas outras árvores mais. Eu e a burra, sozinhos, mais a nossa própria sombra, subindo o monte e descendo ao vale profundo, atravessando a ribeira despida de água, apenas com o reflexo das suas próprias sombras nas correntes da minha imaginação, sempre caminhando até o dia nascer.

Com o nascer do sol chegava a hora de ir dormir, dar descanso ao corpo deste menino homem e sossegar o meu frágil cérebro. Tentar compreender e interiorizar que, naquela noite, não houve nada mais que umas inofensivas sombras, às quais a minha imaginação dava demasiada importância.
Tinha que crescer desta forma e interiorizar, porque era assim e foi desta forma, ao longo de séculos, que os meus antepassados por aquelas paragens se fizeram homens valentes, sem medos para enfrentarem aqueles e outros fantasmas criados apenas na imaginação, em que todos os seres são férteis.

Guardo estas e outras recordações dessa infância, dessas passagens que nesse tempo eram tidas como normais, porque era assim que os homens por lá nascidos e criados se formavam, enfrentando os seus próprios medos, superando-os, ou aprendendo a viver com eles. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13923: Notas de leitura (652): “Quatro Rios e um Destino”, por Fernando Sousa, Chiado Editora, 2014 (Mário Beja Santos)

(...) É um livro, a vários tipos, raro. Raro pela confidência, raro pelo filtro que o autor se impõe quanto ao sujeito da memória: a infância, a recruta, a especialidade que culmina, praticamente, com a convocatória para a guerra.Não se sabe porquê, desembarca em Luanda e é direcionado, de supetão, para a Guiné, viaja até Bedanda.

Não se perde em considerandos nem faz crónica da guerra, regista estimas e chega depois a hora do sinistro que o transfigurou, até hoje. Impressiona quando escreve sobre os guineenses, captou-lhes a ternura, o gosto pela música, a afabilidade.

Temos aqui um livro que é também um grito de revolta, é alguém que superou o pesadelo e não o esconde. É um livro raro, encontrou um caminho inesperado depois da agonia de se ver sem duas pernas, venceu o destino. (...)

(**) Último poste da série > 29 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14093: Notas de leitura (661): “Guiné 1966, reportagens da época”, edição de autor de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14094: Agenda cultural (367): José Eduardo Reis Oliveira (JERO) apresentou no passado dia 9 de Novembro o seu livro "Família Coelho", o resultado da pesquisa das suas raízes

Sabendo que o nosso camarada e amigo JERO tinha lançado no passado dia 9 de Novembro um livro dedicado aos seus antepassados, a "Família Coelho", incentivei-o a falar dele na Tabanca Grande. Com a modéstia que lhe é reconhecida, a custo anuiu dizendo que se tratou de um projecto pessoal, logo desinteressante para as demais pessoas. Disse-lhe que não pensasse assim e que não podia privar a Tabanca de pelo menos uma pequena notícia.

Assim, hoje vamos dedicar este Poste às notícias e comentários alusivos à apresentação do livro e, proximamente, publicaremos um texto desse livro sobre o Avô Porraditas.







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Notas do editor

JERO, ou José Eduardo Reis Oliveira, foi Fur Mil Enf.º da CCAÇ 675, (Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66) e autor de, entre outros livros, "Golpes de Mão's - Memórias de Guerra", Edição de Autor, 2009, com prefácio do TGeneral Alípio Tomé Pinto.

Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14089: Agenda cultural (370): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial", levado a efeito no passado dia 12 de Dezembro de 2014, na Sala Manoel de Oliveira, em Fafe (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14093: Notas de leitura (661): “Guiné 1966, reportagens da época”, edição de autor de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
O autor adverte-nos que não o move a intenção literária, quer que o leitor tome nota do que guardou nos seus apontamentos diários, em linguagem do tempo. Daí resulta uma leitura bem diferente das obras do estilo memorial, são pedaços de diário, é um jovem que se vê estar dotado de sólida formação moral, atento às prosápias de uma certa hierarquia militar, atento aos sofrimentos dos seus homens e que desabafa com os seus papéis depois de voltar de Beli e de Madina de Boé, aqueles pontos do mapa cujo abastecimento eram uma empreitada temível, com mortos e feridos em minas e emboscadas.
E ele pergunta à folha de papel: e para quê?
E depois desta itinerância pelo Leste, embarca para o Norte, vamos vê-lo a seguir como comandante em Guidage.

Um abraço do
Mário


A Guiné em 1966 aos olhos de Domingos Gonçalves

Beja Santos

Quando estive em Fafe, em 12 de Dezembro último, para participar no lançamento da obra coletiva “Fafe e a guerra colonial”, conheci o nosso camarada Domingos Gonçalves [foto à direita], tomei a liberdade de lhe pedir os seus escritos sobre a Guiné. Já chegaram, quero-vos dar conta do que eles encerram. O camarada Domingos Gonçalves nasceu em Serafão, Fafe, em 1942. Frequentou os estudos preparatórios no colégio dos Padres Capuchinhos e licenciou-se em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa. Cumpriu o serviço militar de Maio de 1966 a Janeiro de 1968, em três volumes, baseando-se em apontamentos quase diários, descreve algumas das suas experiências. Avisa logo que não pretende colocar nas nossas mãos uma peça literária quer dar-nos um testemunho dos seus registos da época, tal qual.

O primeiro volume intitula-se “Guiné 1966, reportagens da época”, é uma edição de autor sem data. Tudo começa por um reencontro da malta da CCAÇ n.º 1546, e ele abre assim as hostilidades: “Compareceu o comandante do batalhão, alquebrado pelos anos, mas cheio ainda, de lucidez e vivacidade. Homem de ação, dinâmico e generoso, sabia merecer o respeito de todos os que dele dependiam. Compareceu o comandante da companhia, o homem que todos detestavam. Foi, enquanto comandante, uma pessoa em cuja alma a generosidade e o humanismo não tinham lugar. Porém, nada cura melhor que o tempo. Trinta anos foram suficientes para desfazer ressentimentos e apagar da memória a lembrança dos atos mais mesquinhos. Sem mágoa e sem desejos de vingança, na hora do reencontro, todos lhe estenderam a mão”.

Chegam à Guiné a 12 de Maio, do Uíge passaram para a Bor, rumo a Bambadinca, vão atormentados pela sede, chegaram ao destino já alta noite. Espojaram-se pelo chão, só na manhã seguinte é que haveria transporte para Nova Lamego. Feita a viagem, foram encaminhados para Piche, ali acantonam. A 21, escreve: “Dois pelotões da minha companhia abandonaram Piche, rumo a Nova Lamego, ali irão permanecer alguns meses”. Ele também devia seguir para Nova Lamego. Mas vemo-lo logo em Buruntuma, onde ele escreve a 26: “Piquei a estrada de Buruntuma a Caium, escoltei uma coluna de viaturas até Camajábá”. E habitua-se ao troar da artilharia entre Buruntuma e a Guiné Conacri. Chega uma DO 27, ao procurar aterrar foi alvejada com rajadas de armas automáticas, foi necessário chamar os Fiat. Comentará mais tarde: “Os ataques que sofremos tinham sido obra das tropas regulares da Guiné Conacri, aquarteladas em Kadica. Mas o preço que pagaram foi bastante caro. Grande parte das suas instalações ficaram arrasadas pelo fogo dos nossos morteiros”.

No início de Junho abandonam Buruntuma, regressam a Nova Lamego, a CCAÇ 1546 irá escoltar uma coluna de reabastecimento a Beli, no regresso sofrerão duas emboscadas; mais tarde haverá uma coluna de reabastecimento a Madina de Boé. Dias depois, seguem rumo ao Che-Che, escoltando uma coluna que vai até Beli, atravessaram o rio Corubal, pernoitaram na outra margem. Estamos no dia 10: “A poucos metros do cruzamento da estrada de Madina de Boé uma viatura fez explodir uma mina. O condutor quebrou uma perna e tivemos mais dois feridos ligeiros”. Só na manhã seguinte seguem para Beli: “A meio do percurso, uma viatura acionou outra mina-anticarro e verificaram-se mais dois feridos. Em Sutumaca rebentou outra mina anticarro e tivemos mais alguns feridos. Desta fez a viatura danificada ficou abandonada no local”. Mais adiante haverá uma emboscada, com mortos e feridos. E assim chegaram a Beli, que ele descreve: “Era uma pequena povoação perdida a Leste de Boé, isolada do resto do mundo durante a época das chuvas, guarnecida por um pelotão de atiradores de infantaria, homens que nunca entenderão a causa pela qual durante meses lá tiveram que permanecer esquecidos”. Voltam a atravessar o rio Corubal, uma viatura foi parar ao fundo do rio. A 20, estão já em preparativos para o reabastecimento Madina de Boé onde está a companhia n.º 1516 e ele comenta nas suas notas: “Um nome que apenas faz lembrar, a quem o escuta, o sofrimento de um grupo de homens valerosos que, estoicamente, ali vão permanecendo”. Tudo correu bem durante a ida e a volta.

No início de Junho estão de novo a caminho do Che-Che, procedem a um patrulhamento, nada a assinalar. Nas suas notas vai comentando o comportamento da seleção portuguesa no campeonato do mundo de futebol, Portugal vence a Hungria, a Bulgária e depois a Coreia do Norte. A 25, estão novamente de rumo a Piche, vão à terra dos Bucurés. Vaza nos seus apontamentos as suas inquietações e as dos outros, o alcoolismo está a trepar, os soldados da 1546 começam a dar sinais visíveis de desgaste. E voltam ao Che-Che, e ele escreve: “Entre Madina e o Che-Che detetámos três minas anticarro. Duas, convencionais, levantaram-se. Uma, de caixa em madeira, de modelo desconhecido, fez-se explodir no local. Ao atravessar novamente o Corubal, nova viatura caiu ao rio". Redobram as censuras ao comportamento do capitão, certa vez para castigar o cozinheiro levou-o no jipe e largou-o a cerca de vinte quilómetros de distância, na estrada de Sonaco. Toda a companhia protestou, houve zaragata brava, foram buscar o pobre do cozinheiro. No dia 21 de Setembro, vemo-lo em Farim, vem em serviço enquanto a companhia seguiu para o Enxalé onde vai efetuar a operação “Girandola”. A 11 de Outubro, deslocam-se para o Enxalé, é a operação “Granizo”, sem resultados, regressam a Nova Lamego, e depois são enviados para Fá, patrulham Mero, uma tabanca Balanta junto da margem esquerda do Geba, e no fim do mês seguem de novo para o Enxalé, novamente sem resultados. E seguem para o Xitoli, juntamente com tropas do Xime. Trata-se de uma operação até Galo Corubal, os guerrilheiros não ofereceram resistência, as nossas tropas incendiaram o acampamento e capturaram algum material, o regresso foi cansativo mas sem problemas. No fim de Novembro, saem de Fá e vão numa operação até Porto Gole. Seguem pela estrada entre Porto Gole e Mansoa, ficamos sem saber onde era o objetivo, entraram na base dos guerrilheiros à hora do almoço, foi um sucesso, capturaram algum armamento. Vai registando nos seus apontamentos alguns acidentes, coisas estúpidas e desgastantes. E em meados de Dezembro vão até ao Buruntoni, na região do Xime, voltaram a apanhá-los de surpresa, era a hora do almoço, entraram na maior surpresa na base da guerrilha, apanharam nove armas e incendiaram tudo. Com inocência, escreve: “O Buruntoni, enquanto mito, deixava de existir”. E seguem para Bissau, têm outro destino para cumprir depois daquela itinerância estranhíssima na região de Nova Lamego. Vão ficar instalados na fortaleza, passam o Natal em Bissau e no dia 26 seguem na LDG Alfange até Farim.

Estamos no dia 31, e ele escreve: “Estou convencido de que esta guerra em que andamos metidos dificilmente terá uma solução militar”. Assim chega ao termo o primeiro volume de apontamentos de Domingos Gonçalves da CCAÇ 1546 que, conjuntamente com as CCAÇs 1547 e 1548, pertencia ao BCAÇ 1887. Não há uma explicação sobre esta errância, sete meses na pura intervenção, desligados das outras companhias, não há uma só palavra sobre a sede do batalhão. O jovem Domingos Gonçalves é profundamente crítico da hierarquia e há uma virtude que ninguém lhe pode tirar: é praticamente um cronista anónimo, só lá para meio das suas notas é que sabemos que é alferes, isso tem a ver com os valores e princípios que defende, vemo-lo igualmente crítico perante o alcoolismo e a existência daqueles quartéis no Boé que eram meros destacamentos sem população, sacrificados à plena liberdade de ação dos guerrilheiros.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14082: Notas de leitura (660): “Crepúsculo de Sangue”, de Nelson Leal, Lugar da Palavra Editora, 2013 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14092: Convívios (647): A Tabanca de Bedanda na sede nacional da ADFA, em Lisboa, Av Padre Cruz, no passado dia 18, a convite do Fernando de Jesus Sousa, autor de "Quatro Rios e um Destino” (Chiado Editora, 2014)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Fernando Jesus e Beja Santos


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Renato Vieira de Sousa (cor ref, antigo cmdt da CCAÇ 5), e o "Salazar" (alcunha do Eduardo Cesário Rodrigues, que também passou pela CCAÇ 6)


 Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  Beja Santos com os bedandenses João Martins e José Vermelho



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Manuel Lema Santos e o Fernando de Jesus Sousa


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Rui Santos e o Carlos Jesus Pinto



Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  O Carlos Alberto de Jesus Pinto, nosso grã-tabanqueiro desde 12 de outubro de 2011  (foi 1.º  cabo condutor apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71;  nunca esteve em Bedanda,  mas foi "adotado" pelos bendandenses).




Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > Em primeiro plano, o reaparecido Joaquim Pinto Carvalho e o seu vizinho do Cadaval, o Belarmino Sardinha. Entrre os dois, em segundo plano o Carlos Alberto de Jesus Pinto.


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Joaquim Pinto Carvalho com o chapéu do saudoso Tony Teixeira (1948-2013)


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda >  o Rui Santos, o "nosso mais velho", foi quem se ofereceu para receber a massa do almoço, 7 euros por cabeça... Os galináceos, caseiros, criados pelo Fernando Jesus em Palmeira, foram oferecidos por ele,,,


Lisboa >  Av Padre Cruz > ADFA > 18 de dezembro de 2014 > Convívio da Tabanca de Bedanda > O Beja Santos, o Luís Nabais (que já integrou em tempos os órgãos sociais da ADFA)  e, se a memória me não falha, o José Manuel Farinho Lopes, que integra  os atuais corpos sociais da ADFA como secretário do Conselho Fiscal Nacional


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O pretexto foi um livro e uns galináceos, caseiros... O autor do livro e o criador dos galináceos é o nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (ex-1º cabo at inf, Bedanda, 1970/71, DFA).(*)

 Além dos camaradas que aparecem nas fotos, lembro-me ainda do Hugo Moura Ferreira, que chegou atrasado, bem como o João António Carapau (médico reformado).

Estiveram presentes no almoço o José Eduardo Gaspar Arruda, presidente da direcção nacional da ADFA,  e o Manuel Lopes Dias, 2º vice presidente da direção nacional, além da jornalista Isabel Tavares e de um repórter fotográfico do jornal "i" que estavam a fazer um reportagem sobre a ADFA e os seus 40 anos de existência. (**)

Eu e o Beja Santos fomos gentilmente convidados pelo Fernando de Jesus Sousa (que teve
referências elogiosas ao nosso blogue, de que ele, de resto, é membro efetivo).

Uma das ideias discutidas, durante o almoço, foi a possibilidade de utilização das excelentes instalações da  sede da ADFA para próximos convivios da malta da Guiné, em especial dos que vivem na região da Grande Lisboa e se sentam à sombra do poilão da Tabanca Grande.

Tive oportunidade de conhecer dois camaradas que são habitués da sede da ADFA,  o Luís Nabais e o Carmo Vicente.





Vídeo (2' 55''), alojado em You Tube > Luís Graça

Fernando de Jesus Sousa, no uso da palavra. O pretexto foi o lançamento, recente, do seu livro  “Quatro Rios e um Destino” (Lisboa, Chiado Editora, 2014).

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P14014: Convívios (646): Magusto do Combatente no Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, dia 29 de Novembro de 2014 (Armando Costa / Abel Santos / Carlos Vinhal)

(**) Vd. no jornal i "on line" > 25 de dezembro de 2014 > Deficientes de guerra. A realidade que alguns preferiam esconder, por Isabel Tavares

Alguns excertos (com a devida vénia):

(,,,) São 13 mil só na Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). E não estão lá todos. Estima-se que tenham ficado 30 mil feridos em combate. E mais 40 a 50 mil homens afectados por stresse de guerra. Tantas décadas depois continuam a chegar à instituição processos e pedidos de ajuda para qualificar combatentes da guerra colonial como deficientes das Forças Armadas. Gente à procura de uma pensão, de uma vida mais digna, se não para si, pelo menos para os seus. O Estado atrasa-se na qualificação e as indemnizações materiais teimam em não chegar. (...).

(...) Na ADFA quase todos são voluntários. Mas mais nunca é de mais e aqui é fácil entender porquê. Embora a maioria tenha aprendido a ser tão autónoma quanto possível, há coisas que um cego ou um tetraplégico não conseguem fazer, como cortar um bife, levantar uma colher, um garfo ou uma chávena de café "com cheirinho". São gente que aprendeu a depender da boa vontade dos outros. (...)


(...) No entanto, continuam a existir realidades que ultrapassam a ficção. As próteses dos deficientes militares, grande parte pernas e olhos, são compradas através da central de compras públicas do Estado. Ou seja, uma perna ou um olho, que qualquer técnico acredita que deveriam ser tratados como uma impressão digital, exigem o lançamento de um concurso público. Das três casas candidatas, ganha a que oferecer o preço mais baixo. Já houve resultados desastrosos. Um militar recebeu um olho tamanho standard, metido à força dentro da órbita. A operação valeu-lhe uma valente infecção e um internamento que só por sorte não teve consequências mais graves. Mas não foi caso único.


Outro militar contou que está à espera de uma perna há mais de um ano. As próteses, que podem custar, em média, 7 mil euros, têm de ser trocadas de dois em dois anos e muitas vezes têm de ser afinadas. Este engenheiro de 75 anos não quis ser identificado porque há amigos e familiares que até hoje não sabem que não tem um dos membros inferiores. Foi sempre seguido pela mesma casa, porque se trata de um processo "um bocadinho cirúrgico". No seu caso, um desgaste de cinco milímetros estava a provocar-lhe graves problemas de coluna e também na perna boa. Acontece além disso que a prótese que está a usar era a mais barata do concurso e não a feita na casa que sempre o seguiu e já conhece o seu corpo de cor. "Isto não é a mesma coisa que comprar arroz e batatas", diz. As consequências não se fizeram esperar: dores agudas e coxear como nunca.

Este problema ainda não está completamente sanado e é apenas um dos que o ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, se comprometeu a resolver definitivamente. Outro tem a ver com a requalificação do estatuto de deficiente das Forças Armadas, nomeadamente naquilo que são os afectados pelo stresse pós-traumático. "Os afectados pelo stresse pós-traumático ficaram esquecidos, mas a verdade é que eclodiu na nossa cabeça algo muito estranho", diz José Arruda. Este algo muito estranho pode levar à depressão e pode levar a matar. Ou apenas a discussões que fazem voar próteses e impropérios até à chegada da GNR, como aconteceu há uns anos na sede da ADFA. Mas nessa altura eram todos bons rapazes. (...)

(...) E o calvário continua, num tempo que devia, mais que nunca, ser de afecto. Não os deixaram ser miúdos e "agora vamos mais a funerais". No tempo que sobra é preciso ir a juntas médicas, procurar testemunhas do tempo da guerra, fazer requisições para o Ministério da Defesa, ir a médicos, psicólogos, psiquiatras, advogados, Segurança Social. Como no campo de batalha, cada um encontra a sua estratégia de sobrevivência. José Arruda, cego, amputado, corre com a sua personal trainer e, diz quem já viu, ninguém o apanha. Corre porquê? "Corro para ter alento."


domingo, 28 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14091: Ser solidário (177): Saudação natalícia do presidente da direção nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA), comendador José Gaspar Arruda, e bilhete postal comemorativo doss 40 anos da ADFA



Já se encontra à venda nas estações dos correios o bilhete-postal comemorativo do 40º anos da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas. A data de 23 de novembro de 1974 tem para os deficientes das Forças Armadas um triplo significado: (i) ocupação do palácio da Independência, 1ª sede nacional da ADFA; (ii) 1ª manifestação pública dos Deficientes das Forças Armadas; e (iii) 1ª edição do jornal ELO.

Fonte: Cortesia do sítio da ADFA




Presidente da direção nacional da ADFA deseja Festas Felizes. Foto; Cortesia do sítio da ADFA


1. Com a devida vénia, do sítio da ADFA, notícia de 19-12-2014:

"O Presidente da Direção Nacional da Associação dos Deficientes das Forças Armadas, comendador José Gaspar Arruda, neste ano tão importante para a nossa Associação, pois está a celebrar o 40º aniversário da sua fundação, com espírito solidário, deseja o todo o povo português em geral e aos deficientes das Forças Armadas em particular, votos de um Natal com generosidade, tolerância, paz, saúde e muita força e empenho para continuarmos a nossa luta pela dignidade de TODOS e em especial pela plena inclusão das pessoas portadoras de deficiência".


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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P14090: Blogpoesia (398): O Natal Segundo Jesus Cristo (Edgar Mata / Belarmino Sardinha)

1. Mensagem do nosso camarada Belarmino Sardinha (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74), com data de 26 de Dezembro de 2014:

Caros editores,
Envio este texto que, como sempre, deixo à vossa consideração a sua publicação.

Meus amigos, após todas as mensagens de Natal que vi, li e ouvi, decidi-me enviar-vos este poema, de um nosso camarada que esteve na Guiné e não se decide a entrar pela porta das nossas Tabancas, seja a Grande, a do Centro ou qualquer outra, mas que me concede o prazer da sua amizade e dos seus poemas e me autoriza a enviá-los aos amigos ou a divulgá-los.

Considero este nosso camarada um verdadeiro poeta.
Sempre que abordamos a sua publicação em livro vai dizendo não, embora com superior qualidade, o que se traduz neste poema e reflecte o sentimento de muitos que se manifestam pelo silêncio nesta quadra, sem contudo deixarem de aceitar ou respeitar os que pensam de forma diferente.

BS



O Natal segundo Jesus Cristo

Ao mundo vim entre bosta e urina
E um fedor ao excremento do gado
Ali o meu futuro foi traçado
P’lo capricho da vontade divina.

Depois, Judas, e para meu tormento
Pelas trinta moedas é tentado
Por remorsos acaba enforcado
Numa corda de arrependimento.

Desprezado eu fui p’los fariseus
Suportei toda a casta de maus-tratos
Mãos lavadas, condenou-me Pilatos
Mas, pior, foi o silêncio de Deus!

Sofri açoites, vaias, fui cuspido
Esvaí-me em sangue, exaurido
Condenado de forma amoral

Pelo ouro traíu-me um amigo
P’rá cruz meu Pai mandou-me por castigo
Por isso é que eu não gosto do Natal!

2014 – Edgar Mata

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14076: Blogpoesia (397): O meu Menino Jesus Chinês... com votos de Feliz Natal e um Bom Ano 2015 para todos os camaradas (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Guiné 63/74 - P14089: Agenda cultural (366): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial", levado a efeito no passado dia 12 de Dezembro de 2014, na Sala Manoel de Oliveira, em Fafe (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Dezembro de 2014:


Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial"

Beja Santos

O Núcleo de Artes e Letras de Fafe inspirou uma investigação inédita, com caráter local: o estudo da participação dos militares de Fafe nos três teatros de operações, assinalou deste modo o cinquentenário do início do conflito em África.

Tudo começou com um curso livre de história local sob a temática genérica "O concelho de Fafe e a guerra colonial", foi o conteúdo desta iniciativa que apareceu agora vazado em livro graças à investigação de Artur Coimbra, Artur Magalhães Leite, Daniel Bastos, José Manuel Lajes e Jaime Bonifácio da Silva.


Fui cumulado com o duplo convite de prefaciar a obra e de a apresentar a uma plateia fafense. A matéria do prefácio está publicada no blogue(*), seria rebarbativo insistir nos meus pontos de vista. Importa dizer que era comovente ver chegar os nossos contemporâneos que por ali tagarelaram, se abraçaram, nos escutaram e no fim renderam homenagem com um minuto de silêncio àqueles que já partiram.


A iniciativa merece todos os encómios, é um levantamento que merece ser refletido por todos aqueles que estudam história local. Aproveitei para expender alguns pontos de vista sobre as dificuldades em retratar de um modo mais fidedigno possível tudo quanto se passou: perderam-se relatos, há textos irrecuperáveis como correspondência entre líderes nacionalistas e os seus quadros, o que permitiria visualizar a evolução da guerra do outro lado; a documentação sobre as operações deixa muito a desejar, nem toda é verdadeira, o que altera o nosso próprio posicionamento, ficando assim dificultado o conhecimento do que efetivamente se controlava como território e populações, nas sucessivas conjunturas; e a postura ideológica mantém o seu caráter fraturante, na justa medida em que uns, a par considerar a descolonização um processo inevitável, não têm, regra geral, uma visão lisonjeira da condução da guerra, e outros continuam a insistir que havia condições para superar quaisquer condicionalismos conducentes a derrotas militares a prazo.

Enunciadas estas dificuldades para melhor iluminar todas as cenas da guerra colonial, concentrei-me no fenómeno literário, destacando a explosão de obras, nomeadamente desde o virar do século, de caráter memorial, e que revelam uma gradual desinibição de sexagenários e septuagenários que estão dispostos a dar a cara, revelando as suas experiências, sem ou com muito poucos palpos na língua.

Houve debate animado, um badaleiro da nossa geração espevitou a assistência com canções de várias tonalidades, ninguém saiu da sala sem levar vários volumes debaixo do braço.

Os fafenses estão de parabéns e são de prever, um pouco por toda a parte, iniciativas congéneres.
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Nota do editor

(*) Vd. poste de 8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13988: Notas de leitura (655): Apresentação do livro "O Concelho de Fafe e a Guerra Colonial (1961-1974)", dia 12 de Dezembro de 2014, pelas 21h30, na Sala Manoel de Olivera, em Fafe (Beja Santos)

Último poste da série de 15 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14032: Agenda cultural (369): Rescaldo da apresentação do livro da autoria de Manuel Fernandes (ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 2796) levada a efeito no passado dia 7 de Dezembro de 2014 na freguesia de Arcozelo, Ponte de Lima (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P14088: Bom ou mau tempo na bolanha (81): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (21) (Tony Borié)

Octogésimo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 13 de Julho de 2014

Resumo do vigésimo terceiro dia

Estávamos com saudades do oceano Atlântico, portanto o nosso destino era o leste, desviando-nos sempre para sul, seguindo a estrada rápida número 84, por entre planícies, vales, precipícios e algumas montanhas, surgindo longas rectas, com placas de sinalização avisando que podia haver fortes ventos. Entrámos no estado de Utah, onde há muitos anos viviam duas tribos nativas americanas, que eram os “Utes” e os “Navajos”, dizem que há milhares de anos, antes da chegada dos primeiros exploradores europeus membros de uma expedição espanhola liderada por Juan Maria de Rivera, realizada em 1765, que percorreu partes do sul do actual estado de Utah. Em 1776, no início da Revolução Americana do mesmo ano, os espanhóis realizaram mais explorações na região, porém não se interessaram em colonizar a região, devido à sua natureza desértica. Mais tarde, por volta do ano de 1850, o Congresso Americano criou o Território de Utah, cujo nome foi dado em homenagem à tribo nativa americana “Ute”, que vivia na região e, em Janeiro de 1896, o Utah tornou-se o 45.º Estado americano, onde agora se pode viajar a 80 milhas por hora.



Visitámos o Centro de Informação, continuando na estrada número 84, onde o terreno era mais plano, com poucas montanhas, mas com o termómetro do Jeep a marcar 112ºF (cerca de 44,5ºC), eram 10 horas da manhã, mas continuámos viajando sem problemas, entrando, passado algum tempo, de novo na estrada número 15, no sentido sul e, quanto mais nos dirigíamos para sul mais frequentes eram os cruzamentos com outras estradas que se estendiam por longas milhas nas proximidades para além da cidade de Salt Lake City, pois o crescimento da indústria de mineração e a construção da primeira ferrovia transcontinental, inicialmente, trouxeram algum crescimento económico e, a cidade foi apelidada de "Crossroads of the West".

Salt Lake City é a capital e cidade mais populosa do estado do Utah. O nome da cidade é muitas vezes abreviado para Salt Lake ou SLC. Situa-se nas margens do Grande Lago Salgado, de onde provém o seu nome. A cidade foi fundada em 1847, no Great Salt Lake City por um grupo de pioneiros mórmons liderados por seu profeta, Brigham Young, que dizem ter fugido da hostilidade e violência do meio-oeste dos Estados Unidos. Dizem ainda que actualmente 78% da população da cidade é adepta da religião mórmon. Está situada numa grande área urbana chamada “Frente Wasatch”, o que podemos comprovar, pois existem ao longo da estrada, tanto antes como depois de passar a cidade, grandes bairros de casas nas montanhas. Dizem que esta área tem mais de 2.300.000 habitantes.

Dizem também que, pela sua localização, centro bancário industrial, economia, património histórico, cultura ou acontecimentos políticos aqui passados, fizeram dela uma das mais importantes cidades do mundo. Tem estações de esqui, onde se desenvolve uma forte indústria de turismo ao ar livre e, não esquecemos que foi a sede dos Jogos Olímpicos de Inverno no ano de 2002. Podemos mostrar algumas fotos de Salt Lake City, que com a devida vénia tirámos do “Gogle”, pois viajávamos na estrada, e estas foram tiradas de avião, para que possam admirar a cidade, pois quem viaja ao longo da estrada número 15, ao atravessar Salt Lake City, repara que atravessa uma grande metrópole.



Sempre rumo ao sul, um tempo depois, na cidade de Spanish Fork, desviámo-nos para a estrada com paisagem, número 6, que nos levaria de novo à número 191, com temperaturas de 115ºF. Fomos atravessando de novo um pequeno deserto, entrando finalmente na estrada rápida número 70, com duas vias de trânsito, rumo ao Atlântico, onde, talvez não reparando bem na sinalização, mas sim, no GPS, estávamos a seguir em direcção ao Pacífico. Um pouco à frente surge uma placa de sinalização onde nos informava que a próxima localidade com algumas facilidades e, onde talvez se pudesse mudar de direcção, era a 140 milhas. À boa maneira portuguesa, confiando no nosso veículo, quando nos surgiu um terreno mais ou menos nivelado, entre as duas estradas, reduzimos a velocidade, parando, a estrada estava deserta. Fomos ver o terreno, era melhor que o “Alaska Highway”, sem qualquer problema, voltámos em direção ao Atlântico. Estava qualquer coisa mal, com aquela sinalização.



Sempre rumo ao Atlântico, viajando nesta larga e deserta estrada, que nesta direção recebe por alguma distância, a estrada número 191, já próximo onde esta segue em direção ao sul, passando junto ao “Arches National Park”, que era o nosso destino no próximo dia. Como neste deserto quente, não havia parques de campismo, procurámos um daqueles hotéis de estrada, onde se dorme, toma banho e, às vezes o café de manhã, encontrando um de acordo com a nossa situação financeira, no meio do deserto, com um nome bonito, pois chamava-se qualquer coisa, como “Green River”, que em português quer dizer, “Rio Verde”. Por lá ficámos, já era noite, comendo o que sobrou do dia anterior, que vinha na caixa frigorífica.


Neste dia percorremos 527 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.51 e $3.58 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14062: Bom ou mau tempo na bolanha (79): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (20) (Tony Borié)