1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2015:
Queridos amigos,
“O Império da Visão” é um documento extraordinário, ao
longo das suas 500 páginas ficamos a entender como entre 1860 e 1960 a
fotografia foi o principal modo de tornar o mundo visível, uma imagem
que jaz nos arquivos coloniais
do presente e sobre a qual a nova historiografia tem muito a apostar:
são momentos preciosos que falam da antropologia e da etnografia, da
botânica e da medicina tropicais, de exploradores e de exposições, de
denúncias do colonialismo, das revistas, da literatura,
dos aparatos imperiais.
Uma obra que desvela a estetização do colonial
graças a uma laboriosa investigação em bibliotecas e arquivos públicos. É
o princípio da aventura, pois quando estes investigadores descobrirem o
nosso blogue irão ficar siderados com o
nosso acervo, passe a imodéstia com que invoco o nosso orgulho
coletivo.
Um abraço do
Mário
Memória e fotografia no contexto da guerra da Guiné
Beja Santos
“O Império da Visão, fotografia no contexto colonial português (1860-1960)”, com organização de Filipa Lowndes Vicente, Edições 70, 2014, é um empreendimento científico extraordinário. O que se diz na contracapa é elucidativo: “A fotografia não foi uma mera ilustração das colónias. A fotografia criou experiências coloniais. Os estudos recentes sobre colonialismo reconhecem como, ao lado da documentação escrita, as imagens são determinantes para se compreenderem e estudarem os impérios. Nas histórias entrelaçadas entre o império e a visão que se contam neste livro, destacam-se alguns temas: a fotografia usada como um instrumento inseparável dos vários saberes científicos que usaram as colónias como laboratório, da história natural à antropologia ou à medicina; fotografia como afirmação do poder; a fotografia apropriada pelos sujeitos colonizados, como também pelos europeus anticolonialistas, enquanto forma de resistência, no forjar de identidades nacionais”.
Trata-se de uma empolgante viagem onde a Guiné é largamente necessitada: logo na missão antropológica e etnológica da Guiné (1946-1947), que teve à cabeça o prof. Mendes Corrêa e as suas teses raciais hoje totalmente destituídas de fundamento; viagens dos régulos da Guiné a propósito das idas a Meca, bem como participação de guineenses nas exposições coloniais; e as imagens de guineenses combatentes de um lado e do outro enquanto meio de memória da guerra. É este o último tema que trazemos à consideração do leitor. Autora do artigo, Catarina Laranjeiro, dá-nos conta de que a prática fotográfica era frequente nos rituais associados à vida militar portuguesa (caso dos juramentos de bandeira, provas de recruta, imagens captadas em formaturas em Bolama, etc.) e do lado da guerrilha existe um apreciável acervo fotográfico relacionado com reportagens de jornalistas estrangeiros em bases dos PAIGC ou missões diplomáticas do PAIGC junto de países apoiantes. A autora entrevistou pessoas de um lado e do outro. Constata que um bom número de dirigentes do PAIGC era constituído por pessoas conhecidas por assimilados e cita dois excertos de entrevista: “Eu sou de uma família, parte de pai francês mestiço, parte de mãe negra, mas com meios de fortuna e preparação. Porque o meu avô, pai da minha mãe, negro, mandou educar os filhos todos em Portugal, e tinha fortuna…" e: “Fui estudar primeiro na Faculdade de Ciências e depois no Técnico (em Lisboa) e com os outros jovens cabo-verdianos e guineenses desenvolvemos uma atividade política que veio a desembocar na criação de um comité do PAIGC em Lisboa (…). Eu como tinha problemas de serviço militar, abandonei Portugal. Vou para Paris, e é aí que eu conheço Amílcar Cabral”.
Estes comandantes da luta, diz a autora, tornaram-se parte da nova elite nacional e ocupou lugar dos antigos governantes portugueses, todas as residências de Bissau que pertenciam à administração colonial passaram para as mãos desta elite. Diz a autora: “As fotografias que me mostravam eram fotografias de um mundo que já não existe: um bloco de Leste que apoiava incondicionalmente a libertação das colónias africanas e que espalhava o ideal marxista-leninista”. E mais adiante: “Foi ao fim de algumas entrevistas que me apercebi que este exercício era absolutamente inútil”. Porque tudo era silêncio perante um passado que perdera significado. E há mais: “Estes homens e mulheres são políticos formados em países como a antiga URSS, Cuba ou Checoslováquia. Ao longo das minhas entrevistas, mesmo sem a presença das fotografias, não consegui que tivessem o mínimo de espontaneidade. Cada palavra ou frase já tinha sido dita antes, ensaiada”.
Passando para os combatentes do exército colonial português, a autora também confessa que também aqui as coisas não correram bem. Pediu apoio logístico à embaixada de Portugal e foi-lhe cedido um espaço no Centro Cultural Português. Nesse edifício trabalhava o sargento Viana que era o seu interlocutor privilegiado com a Liga dos Antigos Combatentes. Ela via uma fila enorme de gente de todas as manhãs à porta da embaixada. O sargento Viana pô-la em contacto com a liga dos antigos combatentes. E ficou atónita pois logo na primeira entrevista o seu interlocutor pediu-lhe para pressionar o sargento Viana para lhe assinar a documentação que lhe permitisse ir para Portugal. E não esconde a sua deceção: "todos os antigos combatentes estavam comigo com a esperança que, de alguma forma, a colaboração com a minha investigação lhes trouxesse algum benefício. Eu apenas me propus a ouvir a sua história e eles pediam-me apoio, num discurso impregnado de uma hierarquia colonialista, no qual o branco é que detém o poder. Aproveitar-me da sua situação para recolher dados para a minha investigação seria uma enorme falta de ética". Descobriu que os seus interlocutores tinham feito desparecer as fotografias, a seguir à independência os antigos combatentes guineenses procuraram desembaraçar-se de documentos, fotografias de todo o tipo. Um dos entrevistados não lhe escondeu a sua mágoa e deixou um alerta: “Nem que morramos todos, os nossos filhos ficarão cá a lutar pelos direitos dos seus pais”. E a autora conclui: “A memória das lutas de libertação vive uma parábola análoga à de outros movimentos emancipadores, na medida em que a sua memória pública desapareceu. Hoje o povo guineense não é visto como um povo que conduziu uma luta bem-sucedida contra o regime colonial. Tal como outros movimentos emancipadores africanos contra o imperialismo, este também foi silenciado e recoberto por outras representações africanas do mundo. Hoje, o povo da Guiné-Bissau é outra vez vítima, na medida em que continua a ser objeto de salvamento. Por seu turno, os países europeus, outrora colonizadores, como Portugal, continuam a cumprir a sua ‘missão civilizadora’, agora envolta na capa ideológica do apoio ao desenvolvimento”.
E dei comigo a pensar quando estive na Guiné em 2010 para me despedir dos meus antigos soldados, as precauções com que tiravam do vestuário sacos de plástico de onde saiam, por vezes em retalhos, os seus documentos militares, incluindo a caderneta, as folhas com louvores, e sorriam, era impossível que nosso alfero não viesse de longe sem trazer as boas notícias da pensão digna depois de tanto sofrimento… E como doía ter que explicar, uma, duas, três, muitas vezes, que infelizmente eu não tinha poder para contrariar a indiferença da História.
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14149: Notas de leitura (670): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (3): Como era Alcobaça em 1890
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Guiné 63/74 - P14162: Historiografia da presença portuguesa em África (48): Praça de S. José de Bissau, segundo Francisco Travassos Valdez (1864) (A. Marques Lopes)
1. Mensagem do nosso camarada A. Marques Lopes, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968):
Data: 18 de janeiro de 2015 às 13:25
Assunto: Praça de S. José de Bissau
Em "Africa Occidental – Noticias e Considerações – Tomo I", Lisboa, Imprensa Nacional, 1864, pgs. 313-314, diz Francisco Travassos Valdez:
«Passemos agora a descrever a povoação. A praça de S. José de Bissau, com os seus poilões (erio exdentron anfractorum), árvores gigantescas que se erguem com majestade nos quatro baluartes, e que os abrigam com as sombras, sendo de taes dimensões que uma dellas tem 18 metros de perímetro na maior grossura, está situada na foz do rio Geba, e foi construída no ano de 1766, reinando el-rei D. José I.
De seu princípio teve alojamento para o governador, bons quartéis par 200 homens e officiaes correspondentes, igreja da invocação de S. José, alfandega, grandes armazéns, e um poço com agua potável. Mas depois de tudo isto feito com grossos capitaes, pela necessidade que houve de conduzir de Lisboa muitos operários e grane parte dos materiaes, bem como s vazos de guerra e tropa para sustentar a guerra contra o gentio papel e balanta, e para proteger a edificação da praça, que referem escriptores antigos custou a vida a mais de 2:000 portugueses, chegou este estabelecimento a uma decadencia tal que ainda há bem pouco só lhe restava um casarão construído de pedra e barro, aonde o governador e officiaes estavam pessimamente alojados e nas peiores condições hygienicas, um quartel para soldados, quasi em ruinas e em grande parte descoberto, uma mesquinha capella, alguma miseráveis barracas cobertas de palha, destinadas às mulheres dos
Ultimamente porém, alem de se estabelecer uma nova tarifa para os soldos dos officiaes da provincia de Cabo Verde, destacados na Guiné portuguesa, dando-se-lhe de augmento o equivalente a metade dos seus vencimentos, têem tido certo incremento as obras militares.
O governador geral Fortunato José Barreiros ordenou que se procedesse à reparação do forte do Pigiguiti, da tabanca e da palissada, e auctorisou a construção de uma parede (guarda fogo) no paiol da pólvora.
Sob a direcção do activo e inteligente governador da Guiné, Antonio Candido Zagallo, reconstruiu-se o quartel militar, comprehendendo alojamentos para os soldados e officiaes inferiores, arrecadação e cozinha, e começaram-se também as obras para a reconstrucção da casa de residência dos governadores, cujo madeiramento foi oferecido ratuitamente pelo falecido comendador Honorio Pereira Barreto.»
E acrescenta esta imagem, que me parece representar as construções feitas no interior da praça:
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12575: Historiografia da presença portuguesa em África (45): Angola, Diamang, Cmdt Vilhena, gen Norton de Matos, Cunha Leal, Salazar... Tanta coisa que não sabemos (José Manuel Matos Dinis)
Último poste da série > 12 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12575: Historiografia da presença portuguesa em África (45): Angola, Diamang, Cmdt Vilhena, gen Norton de Matos, Cunha Leal, Salazar... Tanta coisa que não sabemos (José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P14161: Parabéns a você (847): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil Op Esp da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apont de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de Janeiro de 2015 Guiné 63/74 - P14158: Parabéns a você (846): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo de Comandos Centuriões (Guiné, 1964/66)
domingo, 18 de janeiro de 2015
Guiné 63/74 - P14160: Casos: a verdade sobre... (4): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte IV: "Guerra é guerra, meu irmão", dizia-me em 2008 o antigo guerrilheiro Braima Cassamá que reencontrei em Guileje (José Teixeira)
1. Mensagem do José Teixeira , com data de 16 do corrente
[José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatáe Empada, 1968/70, Foto á esquerda, no Quebo, em 1968]
Luís:
Não posso meter a foice em seara alheia (*), porque em 1974 estava na minha terra, apenas preocupado em não regressar à guerra por repescagem, pois cá pelo Porto já corria esse boato, devido á falta de "carne para canhão".
Passado que foi todo este tempo, penso que a verdade dos factos já não se pode aclarar devidamente. Branquear ou escurecer este acontecimento conforme a origem da informação é um exercício difícil de realizar, dado que a matriz patriótica funciona quer queiramos quer não.
Uma coisa é eu contar um acontecimento de forma natural, vivido por mim, sem pressões de espécie alguma, outra é, contar o acontecimento "pressionado" pelo tempo e por uma informação vinda de outra fonte, neste caso totalmente oposta. Por muito que queira, me parece que a isenção é muito difícil.
A minha forma de estar na vida face a acontecimentos que vivi e relatei em devido tempo, obriga-me a pôr reservas quanto ao que diz o Amâncio Lopes ,com o apoio de um piloto Português de quem se afirma que assistiu (?) ao possível violento assassinato, bem como às afirmações do Rachid Bari, com quem devo ter cruzado em Quebo nos anos 68/69.
Na realidade, que eu saiba no fim da guerra, o PAIGC poucos ou nenhuns prisioneiros guineeses entregou a Portugal e muitos fez, com toda a certeza. Por outro lado, também sabemos das histórias do "corta de orelha". Fama de que o falecido Aliu Sada Candé, com todo o respeito e admiração que tenho por ele e pela sua família, onde me orgulho de ter grandes amigos como exemplo a sua filha Cadi Guerra (minha sobrinha por opção pessoal) e seu primo Sulimane Baldé – Régulo de Contabane, não se livra.
O Aliu Candé era de fato um guerrilheiro ao serviço de Portugal e quando ele ia com o seu grupo de milícia á nossa frente, ou nas laterais da picada, podíamos ir descansados que o inimigo fugia a sete pés. Ele arrancava de peito aberto para o inimigo e dizia-se, à data em Quebo, que trazia as orelhas dos inimigos mortos em combate, mas nunca ouvi falar de bárbaros assassinatos como relatado. Por isso era temido e por isso foi condenado em tribunal popular juntamente com o seu primo Braima Baldé à morte por fuzilamento, no pós-guerra em Bambadinca.
Outras "histórias" há, de prisioneiros lançados ao mar/rio ou assassinados a frio com a justificação de que se fossem entregues à Pide, "cantavam" e as consequências caiam em cima de nós.
Verdades/mentiras que só o tempo as fará escurecer e não nos compete a nós julgar, mas também não devemos tentar branquear, por muito que nos custe.
Como dizia o meu "ermon de sangre" Braima Cassamá que conheci em 2008 em Guiledge, o tal que colocou em Agosto de 1968 o campo de 80 minas em Txangue Laia a caminho de Gandembel e originou sete mortos às nossas tropas e se cruzou algumas vezes comigo na frente de combate, sem sabermos – Guerra é guerra, discurpa!
Tenho a certeza que o seu coração, nesse momento sangrava, e o meu também, mas fizemos a paz connosco mesmo e a guerra morreu ali.
Guerra é Guerra
Guerra é guerra, meu "ermon",
Quando passa não deixa saudades.
Mas, muitas amizades, neste mundo perdido
Os antigos inimigos se procuram,
Para saldar as contas com um abraço sentido.
Braima Cassamá, antigo guerrilheiro do PAIGC, meu inimigo.
Reencontrado em 2008, em Guiledge.
Armas caladas,
Em mãos armadas,
Cantam horrores,
Silenciam com a morte,
Quem por má sorte
Lhe sofre as dores.
Sangue e pranto,
[José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatáe Empada, 1968/70, Foto á esquerda, no Quebo, em 1968]
Luís:
Não posso meter a foice em seara alheia (*), porque em 1974 estava na minha terra, apenas preocupado em não regressar à guerra por repescagem, pois cá pelo Porto já corria esse boato, devido á falta de "carne para canhão".
Passado que foi todo este tempo, penso que a verdade dos factos já não se pode aclarar devidamente. Branquear ou escurecer este acontecimento conforme a origem da informação é um exercício difícil de realizar, dado que a matriz patriótica funciona quer queiramos quer não.
Uma coisa é eu contar um acontecimento de forma natural, vivido por mim, sem pressões de espécie alguma, outra é, contar o acontecimento "pressionado" pelo tempo e por uma informação vinda de outra fonte, neste caso totalmente oposta. Por muito que queira, me parece que a isenção é muito difícil.
A minha forma de estar na vida face a acontecimentos que vivi e relatei em devido tempo, obriga-me a pôr reservas quanto ao que diz o Amâncio Lopes ,com o apoio de um piloto Português de quem se afirma que assistiu (?) ao possível violento assassinato, bem como às afirmações do Rachid Bari, com quem devo ter cruzado em Quebo nos anos 68/69.
Na realidade, que eu saiba no fim da guerra, o PAIGC poucos ou nenhuns prisioneiros guineeses entregou a Portugal e muitos fez, com toda a certeza. Por outro lado, também sabemos das histórias do "corta de orelha". Fama de que o falecido Aliu Sada Candé, com todo o respeito e admiração que tenho por ele e pela sua família, onde me orgulho de ter grandes amigos como exemplo a sua filha Cadi Guerra (minha sobrinha por opção pessoal) e seu primo Sulimane Baldé – Régulo de Contabane, não se livra.
O Aliu Candé era de fato um guerrilheiro ao serviço de Portugal e quando ele ia com o seu grupo de milícia á nossa frente, ou nas laterais da picada, podíamos ir descansados que o inimigo fugia a sete pés. Ele arrancava de peito aberto para o inimigo e dizia-se, à data em Quebo, que trazia as orelhas dos inimigos mortos em combate, mas nunca ouvi falar de bárbaros assassinatos como relatado. Por isso era temido e por isso foi condenado em tribunal popular juntamente com o seu primo Braima Baldé à morte por fuzilamento, no pós-guerra em Bambadinca.
Outras "histórias" há, de prisioneiros lançados ao mar/rio ou assassinados a frio com a justificação de que se fossem entregues à Pide, "cantavam" e as consequências caiam em cima de nós.
Verdades/mentiras que só o tempo as fará escurecer e não nos compete a nós julgar, mas também não devemos tentar branquear, por muito que nos custe.
Como dizia o meu "ermon de sangre" Braima Cassamá que conheci em 2008 em Guiledge, o tal que colocou em Agosto de 1968 o campo de 80 minas em Txangue Laia a caminho de Gandembel e originou sete mortos às nossas tropas e se cruzou algumas vezes comigo na frente de combate, sem sabermos – Guerra é guerra, discurpa!
Tenho a certeza que o seu coração, nesse momento sangrava, e o meu também, mas fizemos a paz connosco mesmo e a guerra morreu ali.
José Teixeir, Empada, 1969 |
Guerra é guerra, meu "ermon",
Quando passa não deixa saudades.
Mas, muitas amizades, neste mundo perdido
Os antigos inimigos se procuram,
Para saldar as contas com um abraço sentido.
Braima Cassamá, antigo guerrilheiro do PAIGC, meu inimigo.
Reencontrado em 2008, em Guiledge.
Armas caladas,
Em mãos armadas,
Cantam horrores,
Silenciam com a morte,
Quem por má sorte
Lhe sofre as dores.
Sangue e pranto,
Em jorro constante,
Num jardim sem flores,
E na última despedida,
Clamam pela vida,
Que queriam viver.
E pelos seus amores,
A sua razão de ser.
A esperança, essa, resiste,
Num corpo ainda quente,
Até aos últimos estertores.
…E perdeu-se uma vida.
A seu lado, a vida,
De armas na mão,
Não acredita
No sangue que correu.
Chora uma lágrima sentida,
E avança,
Destemida,
Vingando o que morreu.
E verte a raiva que lhe vai no sangue
Para dentro da palavra
Que transpira asperamente.
Põe no dedo do gatilho
E com que raiva o lavra,
O destino de quem matou.
Inutilmente.
Até que a guerra tem o seu fim,
Enfim.
Inimigos de ontem,
Hoje se perguntam num abraço de paz,
Eternamente selado:
– Que fiz eu?
E tu, meu irmão,
O que te aconteceu?
E chora a alegria,
Caldeada com lágrimas de dor,
Não pelo que sofreram,
Já tudo passou,
Sem desejos de vindicta,
Mas pelos amigos que se perderam
Na guerra maldita
Que alguém sem rosto
Nos criou.
José Teixeira
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Num jardim sem flores,
E na última despedida,
Clamam pela vida,
Que queriam viver.
E pelos seus amores,
A sua razão de ser.
A esperança, essa, resiste,
Num corpo ainda quente,
Até aos últimos estertores.
…E perdeu-se uma vida.
A seu lado, a vida,
De armas na mão,
Não acredita
No sangue que correu.
Chora uma lágrima sentida,
E avança,
Destemida,
Vingando o que morreu.
E verte a raiva que lhe vai no sangue
Para dentro da palavra
Que transpira asperamente.
Põe no dedo do gatilho
E com que raiva o lavra,
O destino de quem matou.
Inutilmente.
Até que a guerra tem o seu fim,
Enfim.
Inimigos de ontem,
Hoje se perguntam num abraço de paz,
Eternamente selado:
– Que fiz eu?
E tu, meu irmão,
O que te aconteceu?
E chora a alegria,
Caldeada com lágrimas de dor,
Não pelo que sofreram,
Já tudo passou,
Sem desejos de vindicta,
Mas pelos amigos que se perderam
Na guerra maldita
Que alguém sem rosto
Nos criou.
José Teixeira
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Noat do editor:
Último poste da série > 17 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)
Guiné 63/74 - P14159: Bom ou mau tempo na bolanha (84): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (24) (Tony Borié)
Octogésimo terceiro e último episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Dia 16 de Julho de 2014
Companheiros de viagem, este é o resumo dos vigésimo sexto e vigésimo sétimo dias, portanto o final da “aventura”. Nestes dois últimos dias, continuámos usando o mesmo trajecto de ida para o Alaska, só que agora era em direcção ao sul e de oeste para leste.
Já explicámos a história das povoações e estados por onde passámos, mas é sempre bom lembrar alguns pormenores.
Era perto da meia-noite, não eram “quatro da madrugada, como quando o passarinho cantou”, 27 dias antes e, nos acordou para iniciarmos os preparativos da nossa longa jornada, agora seguíamos na mesma estrada, a estrada rápida 95, no estado da Flórida, plana, larga e longas rectas, não mais montanhas, vales, rios, riachos, lagos, precipícios, glaciares, animais selvagens a atravessar a estrada, terra, lama, frio, acidentes, zonas de construção, trânsito parado, esperando o “carro piloto”, neve, nevoeiro, chuva ou sol tórrido, aqui havia noite, não era sempre dia, como depois do “paralelo 48”, lá no norte, no Alaska, em que era quase sempre de dia, agora viajávamos em sentido contrário, estávamos quase a chegar a casa, um pouco cansados, mas felizes, por regressarmos ao nosso ponto de origem.
Muito mais felizes do que os índios “Cherokee”, um povo muito orgulhoso, que por volta do ano de 1838, o governo dos EUA forçou a deslocar-se das suas terras para o estado de Oklahoma, ainda hoje chamam a essa jornada para o exilo, “Trail of Tears”, que quer dizer, “caminho de lágrimas” e que em tempos viveram na área do que hoje é a cidade de Chattanooga, que fica quase na fronteira com o estado da Geórgia. Ainda no estado do Tennessee, cidade que atravessámos depois de ter passado pelos estados de Kentuchy e Illinois, onde tínhamos dormido por algumas horas na cidade de Mt. Vernon, onde no século passado não havia estrada, as pessoas vinham do norte para sul passando por “swamps”, que eram terras alagadiças, mas hoje já tem estradas rápidas.
Dois dias antes, tínhamos deixado a cidade de Hays, no estado do Kansas, onde por volta do ano de 1865, os US Army, construiram o Fort Fletcher, um pouco ao sul do que hoje é a cidade de Hays, para proteger as caravanas de imigrantes ou aventureiros prospectores de ouro que viajavam na “Smoky Hill Trail”, que era um trilho que seguia paralelo às colinas do rio Smoky, em direcção ao oeste e que eram frequentemente atacadas pelos índios “Cheyenes” e “Arapaho”, que viam as suas terras serem invadidas. Tudo isto se passava numa região selvagem, muito próxima do que hoje é a estrada rápida número 70, onde podíamos também viajar a 70 milhas por hora, ouvindo as velhas músicas favoritas, como por exemplo: “King of the Road”, “Hit the Road Jack”, “On the Road Again” ou “Adorei viajar por cada e, todas as estradas”.
Dizem que por razões económicas, o Fort Fletcher encerrou, mas um ano depois, o Exército dos EUA reabriu o Fort Fletcher, desta vez com o objetivo de proteger os trabalhadores da construção do caminho de ferro da “Divisão Leste Union Pacific”, que seguia em direcção ao oeste, paralelo à “Smoky Hill Trail”, desta vez o Exército deu novo nome ao Forte, chamando-lhe Fort Hays, em honra do Brigadeiro General Alexander Hays, que foi morto numa batalha nesta região selvagem durante a Guerra Civil Americana, todavia em junho de 1867, uma inundação severa quase destruiu a fortaleza, matando alguns soldados e civis.
Nestes dois dias, seguimos o mesmo roteiro, percorrendo áreas que já foram descritas nos primeiros dias da nossa aventura, vimos todos aquelas paisagens, onde aqui e ali apareciam algumas quintas com animais, outras abandonadas, transformadas em zona de caça, pastagens com grandes manadas de vacas, plantações de milho, trigo, aveia, soja ou girassóis, poços de petróleo e moinhos energia em funcionamento e pouco mais, além de algumas áreas desertas, próximo e atravessando as cidades de Kansas City, no estado do Kansas, St. Louis, no estado do Missouri e Atlanta, no estado da Geórgia, tivémos alguma dificuldade, pois o trânsito já era intenso, não era estrada deserta, como já estávamos um pouco acostumados.
Por vezes olhávamos para a nossa companheira e esposa por quase cinquenta anos e sorriamos, pois tínhamos viajado atravessando um continente, diferentes estados e países, cidades, vilas ou aldeias, por autoestradas, estradas secundárias e carreiros, conhecendo novas pessoas, novos costumes, com tempo de sol, frio, vento ciclónico, chuva, granizo, neve, planícies com altas temperaturas, montanhas, vales, atravessando rios, ribeiros, terras alagadiças, cozinhando as nossas refeições, dormindo na nossa “caravana”, tomando banho nos rios e lagos, onde se podia beber a água, respirando ar puro e selvagem, pescando em rios selvagens, ao lado de gaivotas, águias de colarinho branco, ursos ou coiotes, céu cinzento ou tempestades, nuvens de mosquitos, lama ou pedras na estrada. Em algumas regiões, logo a seguir, céu limpo, azul, vendo paisagens de montanha, mar, lagos, glacieres, animais selvagens atravessando a estrada, entre outras coisas maravilhosas, com que a natureza nos contemplou.
Quando éramos jovens, dizíamos que nunca poderíamos fazer isto, viajando ao redor, vivendo num pequeno espaço, não tendo residência permanente e estar longe da família e dos amigos. Estou certo de que tanto eu como a minha companheira e esposa, às vezes encontramos momentos em que nos sentimos assim e pensámos que não devíamos ser tão aventureiros, mas no geral, também estamos certos de que nos iremos tornar em pessoas melhores quando voltarmos para junto da família e amigos, indo provavelmente sentir que deveriamos ter começado isto antes, conhecer o modo de vida puro, das pessoas, não das atrações que aparecem nos cartazes da estrada, nos anúncios de revistas e na televisão, onde só nos mostram o que “eles” na verdade querem.
No regresso, parámos muitas vezes para comprar gasolina, café, pão, água e alguns vegetais. Percorremos 1560 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.51 e $3.58 o galão, que são aproximadamente 4 litros e, com tudo sujo e desarrumado, dentro Jeep e da Caravana, que deixámos em frente da casa, mas felizes e sem dores, desejosos de um refrescante banho e alguma comida e, mesmo antes de abrir a porta de casa, ainda tivémos tempo de verificar o contador do Jeep, que marcava mais 14.626 milhas (23.538 Km), do que quando saímos, quase um mês antes.
Até qualquer dia, de novo em viajem, ou na guerra.
Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14139: Bom ou mau tempo na bolanha (83): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (23) (Tony Borié)
Dia 16 de Julho de 2014
Companheiros de viagem, este é o resumo dos vigésimo sexto e vigésimo sétimo dias, portanto o final da “aventura”. Nestes dois últimos dias, continuámos usando o mesmo trajecto de ida para o Alaska, só que agora era em direcção ao sul e de oeste para leste.
Já explicámos a história das povoações e estados por onde passámos, mas é sempre bom lembrar alguns pormenores.
Era perto da meia-noite, não eram “quatro da madrugada, como quando o passarinho cantou”, 27 dias antes e, nos acordou para iniciarmos os preparativos da nossa longa jornada, agora seguíamos na mesma estrada, a estrada rápida 95, no estado da Flórida, plana, larga e longas rectas, não mais montanhas, vales, rios, riachos, lagos, precipícios, glaciares, animais selvagens a atravessar a estrada, terra, lama, frio, acidentes, zonas de construção, trânsito parado, esperando o “carro piloto”, neve, nevoeiro, chuva ou sol tórrido, aqui havia noite, não era sempre dia, como depois do “paralelo 48”, lá no norte, no Alaska, em que era quase sempre de dia, agora viajávamos em sentido contrário, estávamos quase a chegar a casa, um pouco cansados, mas felizes, por regressarmos ao nosso ponto de origem.
Muito mais felizes do que os índios “Cherokee”, um povo muito orgulhoso, que por volta do ano de 1838, o governo dos EUA forçou a deslocar-se das suas terras para o estado de Oklahoma, ainda hoje chamam a essa jornada para o exilo, “Trail of Tears”, que quer dizer, “caminho de lágrimas” e que em tempos viveram na área do que hoje é a cidade de Chattanooga, que fica quase na fronteira com o estado da Geórgia. Ainda no estado do Tennessee, cidade que atravessámos depois de ter passado pelos estados de Kentuchy e Illinois, onde tínhamos dormido por algumas horas na cidade de Mt. Vernon, onde no século passado não havia estrada, as pessoas vinham do norte para sul passando por “swamps”, que eram terras alagadiças, mas hoje já tem estradas rápidas.
Dois dias antes, tínhamos deixado a cidade de Hays, no estado do Kansas, onde por volta do ano de 1865, os US Army, construiram o Fort Fletcher, um pouco ao sul do que hoje é a cidade de Hays, para proteger as caravanas de imigrantes ou aventureiros prospectores de ouro que viajavam na “Smoky Hill Trail”, que era um trilho que seguia paralelo às colinas do rio Smoky, em direcção ao oeste e que eram frequentemente atacadas pelos índios “Cheyenes” e “Arapaho”, que viam as suas terras serem invadidas. Tudo isto se passava numa região selvagem, muito próxima do que hoje é a estrada rápida número 70, onde podíamos também viajar a 70 milhas por hora, ouvindo as velhas músicas favoritas, como por exemplo: “King of the Road”, “Hit the Road Jack”, “On the Road Again” ou “Adorei viajar por cada e, todas as estradas”.
Dizem que por razões económicas, o Fort Fletcher encerrou, mas um ano depois, o Exército dos EUA reabriu o Fort Fletcher, desta vez com o objetivo de proteger os trabalhadores da construção do caminho de ferro da “Divisão Leste Union Pacific”, que seguia em direcção ao oeste, paralelo à “Smoky Hill Trail”, desta vez o Exército deu novo nome ao Forte, chamando-lhe Fort Hays, em honra do Brigadeiro General Alexander Hays, que foi morto numa batalha nesta região selvagem durante a Guerra Civil Americana, todavia em junho de 1867, uma inundação severa quase destruiu a fortaleza, matando alguns soldados e civis.
Nestes dois dias, seguimos o mesmo roteiro, percorrendo áreas que já foram descritas nos primeiros dias da nossa aventura, vimos todos aquelas paisagens, onde aqui e ali apareciam algumas quintas com animais, outras abandonadas, transformadas em zona de caça, pastagens com grandes manadas de vacas, plantações de milho, trigo, aveia, soja ou girassóis, poços de petróleo e moinhos energia em funcionamento e pouco mais, além de algumas áreas desertas, próximo e atravessando as cidades de Kansas City, no estado do Kansas, St. Louis, no estado do Missouri e Atlanta, no estado da Geórgia, tivémos alguma dificuldade, pois o trânsito já era intenso, não era estrada deserta, como já estávamos um pouco acostumados.
Por vezes olhávamos para a nossa companheira e esposa por quase cinquenta anos e sorriamos, pois tínhamos viajado atravessando um continente, diferentes estados e países, cidades, vilas ou aldeias, por autoestradas, estradas secundárias e carreiros, conhecendo novas pessoas, novos costumes, com tempo de sol, frio, vento ciclónico, chuva, granizo, neve, planícies com altas temperaturas, montanhas, vales, atravessando rios, ribeiros, terras alagadiças, cozinhando as nossas refeições, dormindo na nossa “caravana”, tomando banho nos rios e lagos, onde se podia beber a água, respirando ar puro e selvagem, pescando em rios selvagens, ao lado de gaivotas, águias de colarinho branco, ursos ou coiotes, céu cinzento ou tempestades, nuvens de mosquitos, lama ou pedras na estrada. Em algumas regiões, logo a seguir, céu limpo, azul, vendo paisagens de montanha, mar, lagos, glacieres, animais selvagens atravessando a estrada, entre outras coisas maravilhosas, com que a natureza nos contemplou.
Quando éramos jovens, dizíamos que nunca poderíamos fazer isto, viajando ao redor, vivendo num pequeno espaço, não tendo residência permanente e estar longe da família e dos amigos. Estou certo de que tanto eu como a minha companheira e esposa, às vezes encontramos momentos em que nos sentimos assim e pensámos que não devíamos ser tão aventureiros, mas no geral, também estamos certos de que nos iremos tornar em pessoas melhores quando voltarmos para junto da família e amigos, indo provavelmente sentir que deveriamos ter começado isto antes, conhecer o modo de vida puro, das pessoas, não das atrações que aparecem nos cartazes da estrada, nos anúncios de revistas e na televisão, onde só nos mostram o que “eles” na verdade querem.
No regresso, parámos muitas vezes para comprar gasolina, café, pão, água e alguns vegetais. Percorremos 1560 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.51 e $3.58 o galão, que são aproximadamente 4 litros e, com tudo sujo e desarrumado, dentro Jeep e da Caravana, que deixámos em frente da casa, mas felizes e sem dores, desejosos de um refrescante banho e alguma comida e, mesmo antes de abrir a porta de casa, ainda tivémos tempo de verificar o contador do Jeep, que marcava mais 14.626 milhas (23.538 Km), do que quando saímos, quase um mês antes.
Até qualquer dia, de novo em viajem, ou na guerra.
Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14139: Bom ou mau tempo na bolanha (83): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (23) (Tony Borié)
Guiné 63/74 - P14158: Parabéns a você (846): Luís Rainha, ex-Alf Mil Comando, CMDT do Grupo de Comandos Centuriões (Guiné, 1964/66)
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Nota do editor
Último poste da série de 13 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14144: Parabéns a você (845): Maria Ivone Reis, ex-Cap Enfermeira Paraquedista (!961/74)
Nota do editor
Último poste da série de 13 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14144: Parabéns a você (845): Maria Ivone Reis, ex-Cap Enfermeira Paraquedista (!961/74)
sábado, 17 de janeiro de 2015
Guiné 63/74 - P14157: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (96): Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia (António Dâmaso)
1. Mensagem do nosso camarada António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista
Reformado, com data de 15 de Janeiro de 2015:
HOMENAGEM AO COMANDANTE POMBO
Li que havia três Antónios que voaram em Cessna.
Eu também sou António e voei em Cessna. Estava na 2.ª Comissão, pertencia à CCP 122, estava destacado em Teixeira Pinto, um dia à boa maneira da Tropa, sem me darem qualquer explicação, mandaram-me embarcar numa DO 27 com destino a Bissalanca, aí integrara-me por empréstimo numa Companhia menos de Páras que tinha sido mobilizada para Angola e foi parar à Guiné como reforço à zona Leste.
Esta companhia foi reforçada com sargentos e praças das CCP 121 e CCP 122 e passou a ser denominada CCP 123, no dia 11 de Julho embarcou em lancha com destino a Bafatá, com camas e colchões da FAP.
Em Bafatá, ficou alojada no Esquadrão FOX junto do aeroporto, no dia 12 fez um heli-assalto.
Era na 2.ª quinzena de Julho de 1969, não posso precisar o dia, se foi a 19 ou 30, depois de uma operação na zona, estava em Galomaro para tomar o transporte de regresso para Bafatá, ouvi uma conversa de um casal de comerciantes locais, que ia embarcar em Bafatá com destino a Bissau em viagem de negócios. Como tinha a família em Bissau, perguntei se me davam uma boleia, foi-me dito que tinham prazer na minha companhia, pedi ao Comandante de Companhia e este disse-me que me dava dois dias.
Saltei para a caixa de carga da Pick-up do casal, com destino a Bafatá onde nos esperava uma avioneta Cessna, embarcámos com destino a Bissalanca, aterramos já depois do por do sol com as luzes da pista acesas.
Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia. O meu regresso a Bafatá, foi feito em Dakota onde o meu saudoso camarada MMA, Luís Maria Vitorino era tripulante, este faleceu nos Açores quando o Aviocar colidiu com a serra de Santa Bárbara, na Ilha Terceira em 05 de Julho de 1978.
Nota do editor
Último poste da série de 15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14152: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (95): Mais uma pequena história... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (Mário Migueis da Silva)
HOMENAGEM AO COMANDANTE POMBO
Li que havia três Antónios que voaram em Cessna.
Eu também sou António e voei em Cessna. Estava na 2.ª Comissão, pertencia à CCP 122, estava destacado em Teixeira Pinto, um dia à boa maneira da Tropa, sem me darem qualquer explicação, mandaram-me embarcar numa DO 27 com destino a Bissalanca, aí integrara-me por empréstimo numa Companhia menos de Páras que tinha sido mobilizada para Angola e foi parar à Guiné como reforço à zona Leste.
Esta companhia foi reforçada com sargentos e praças das CCP 121 e CCP 122 e passou a ser denominada CCP 123, no dia 11 de Julho embarcou em lancha com destino a Bafatá, com camas e colchões da FAP.
Em Bafatá, ficou alojada no Esquadrão FOX junto do aeroporto, no dia 12 fez um heli-assalto.
Era na 2.ª quinzena de Julho de 1969, não posso precisar o dia, se foi a 19 ou 30, depois de uma operação na zona, estava em Galomaro para tomar o transporte de regresso para Bafatá, ouvi uma conversa de um casal de comerciantes locais, que ia embarcar em Bafatá com destino a Bissau em viagem de negócios. Como tinha a família em Bissau, perguntei se me davam uma boleia, foi-me dito que tinham prazer na minha companhia, pedi ao Comandante de Companhia e este disse-me que me dava dois dias.
Saltei para a caixa de carga da Pick-up do casal, com destino a Bafatá onde nos esperava uma avioneta Cessna, embarcámos com destino a Bissalanca, aterramos já depois do por do sol com as luzes da pista acesas.
Não sei se era o senhor Comandante Pombo que estava aos comandos, sei que fiquei muito sensibilizado com esta boleia. O meu regresso a Bafatá, foi feito em Dakota onde o meu saudoso camarada MMA, Luís Maria Vitorino era tripulante, este faleceu nos Açores quando o Aviocar colidiu com a serra de Santa Bárbara, na Ilha Terceira em 05 de Julho de 1978.
Bafatá - Depois do meu regresso. Ao centro está o Vitorino a quem presto homenagem póstuma
____________Nota do editor
Último poste da série de 15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14152: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (95): Mais uma pequena história... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (Mário Migueis da Silva)
Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)
Guiné > Mapa da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Copa e canquelifá junto à fronteira com o Senefgal e a Guiné-Conacri.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Mensagem do nosso editor LG, enviado ao José Vicente Lopes, em 15 de janeiro de 2015 13:22 (*)
Caro amigo José Vicente:
Aqui tem uma versão, em primeira mão dos acontecimentos. O José, no seu artigo, parece sugerir que a execução sumária do Jaime Mota tenha sido obra do Marcelino da Mata e do seu grupo [, que esteve ne zona de Copá em março de 1974, e não em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá]...
Tudo aponta para que o Jaime Mota tenha sido abatido pela CCAÇ 21, unidade regular do exército colonial, constituída apenas por graduados, especialistas e praças do recrutamento local. Não confundir com o batalhão de comandos africanos. A CCAÇ 21 era uma unidade de intervenção, ao serviço do Comando Operacional da Zona Leste. A CCAÇ 21 estava sediada em Bambadinca.
Nesta ação (Minotauro) estão envolvidos dois grupos de combate, comandados por antigos oficiais comandos graduados, fulas, os alferes Aliu Candé e Braima Baldé, que serão torturados e executados pelo PAIGC em 1975, tal como o comandante da companhia, o tenente graduado Abdulai Jamanca, e um antigo soldado da minha CCAÇ 12, o Abibo Jau. Entre outros...
Eu tenho um especial afeto por Cabo Verde (onde o meu pai foi expedicionário, em 1941/43, Mindelo, São Vicente, e onde tenho bons amigos). Tenho também um grande carinho pela Guiné e as suas gentes. O meu/nosso blogue "faz pontes" há mais de 10 anos...
Um abraço. Luis Graça
Guiné > Zona leste > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > Foto 6 - O Furriel Ventura em ambulância capturada ao PAIGC" [, entre Copá e a fronteira, em Março de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do Cap Pára-quedista do BCP 12, António Ramos, já falecido]
Fotos do álbum dfe Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec Auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves.
Fotos (e legendas): © Amilcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]
2. Resposta do jornalista e escritor José Vicente Lopes:
Data: 15 de janeiro de 2015 às 19:40
Assunto: Canquelifá 74
Meu caro Luis Graça:
Uma vez mais agradeço a ajuda para o esclarecimento deste caso - a morte de Jaime Mota e dos outros dois combatentes do PAIGC, um cubano e outro guineense. Tudo parece apontar que a operação Minotauro é realmente o mesmo episódio por mim reportado no meu artigo de "A Nação", reaproveitado pela Fundação Amilcar Cabral.
A história chegou ao meu conhecimento através de várias fontes do PAIGC; como jornalista, na altura, procurei outras possiveis fontes, neste caso portuguesas,para um equilíbrio dos argumentos de um e doutro lado. Cheguei a recorrer ao vosso blogue e outros meios, o que levou a aproveitar alguns relatos que pareceram estar relacionados com esta história há muito perdida nas brumas da memória - daí a menção a Marcelino da Mata que nessa altura, pelo que me pude dar conta, actuava também na região de Canquelifá.
Um dos meus informantes, o comandante cabo-verdiano Joaquim Pedro Silva (Baró), que também actuou na Guiné, sendo um dos primeiros responsáveis do PAIGC a chegar a Bissau em 1974, juntamente com Julião Lopes, relatou-me que ouviu pela primeira vez do "martírio" de Jaime Mota através de um oficial militar português já em Bissau que terá assistido ao triste episódio.
Uma outra fonte, também antigo guerrilheiro cabo-verdiano do PAIGC, António Leite, o tal que se refere à "forquilha", diz que ouviu isso de populares quando ele e outros mais guerrilheiros se abeiraram do povoado e tomaram conhecimento ao que se tinha passado com os três combatentes mortos.
Amâncio Lopes, que escapou com vida da emboscada, e que comandava o tal grupo de 7 homens, também fala na tortura de Jaime Mota e entende, inclusive, que o comandante desse quartel é o responsável por essa suposta tortura, um "crime de guerra", a ser isso verdade.
Todos os meus informantes estão convencidos que essa foi uma operação de "comandos africanos", quando, pelo que deduzo do material que me enviaram, ter se tratado e uma CCaç com soldados guineenses [, a CCaç 21]. Aliás, como a vossa própria fonte refere, no passado, terá havido a prática de seviciar prisioneiros. Eu, como calcula, tenho de lidar com o que diz os dois lados.
Note-se que esta foi a primeira vez que alguém em Cabo Verde, neste caso o autor destas linhas, procurou indagar das condições de morte de Jaime Mota, cuja existência tomei conhecimento de forma incidental.
Tudo mais que que você e os seus companheiros tiverem e quiserem compartilhar comigo, estarei ao vosso inteiro dispor.
Subscrevo-me com um forte abraço, desejando a todos um bom ano.
JVL
PS - Volto a perguntar-lhe onde poderei obter o tal livro [, do Amadu Bailo Jaló] a que se refere num dos emails. E, já agora também, se pode dizer-me onde poderei encontrar material sobre os cabo-verdianos na guerra da Guiné, não importa se do lado do PAIGC ou de Portugal. Como já deve ter dado conta não tenho uma visão unilateral ou maniqueista da história. Pela minha idade escapei da guerra colonial, sou dos primeiros "historiadores" a procurar dar uma visão aberta acerca da história contemporânea de Cabo Verde e de outras antigas colónias. Um exemplo disso foi o meu livro sobre o Tarrafal, "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", que deixou muita gente indisposta, mas isso não é problema meu, foram os dados a que tive acesso.
PS - Volto a perguntar-lhe onde poderei obter o tal livro [, do Amadu Bailo Jaló] a que se refere num dos emails. E, já agora também, se pode dizer-me onde poderei encontrar material sobre os cabo-verdianos na guerra da Guiné, não importa se do lado do PAIGC ou de Portugal. Como já deve ter dado conta não tenho uma visão unilateral ou maniqueista da história. Pela minha idade escapei da guerra colonial, sou dos primeiros "historiadores" a procurar dar uma visão aberta acerca da história contemporânea de Cabo Verde e de outras antigas colónias. Um exemplo disso foi o meu livro sobre o Tarrafal, "Tarrafal-Chão Bom, Memórias e verdades", que deixou muita gente indisposta, mas isso não é problema meu, foram os dados a que tive acesso.
Cabo Verde > Ilha de Santiago > Cidade da Praia > Quartel Jaime Mota > 2012 > Imagem do domínio público, cortesia da Wikimedia Commons.
3. Segundo mail do nosso editor LG, com data do mesmo dia:
Obrigado, amigo, acho que nos move a ambos a vontade de esclarecer a verdade, sem preconceitos, sem ideias feitas, sem ressentimentos... Ambos temos formação científica, você em história, eu em sociologia e em saúde pública... Para além do mais, temos profissões (você jornalista e eu investigador social e professor) com exigências éticas e deontológicas acrescidas... Claro que você não fez a guerra colonial, e ainda bem...
De qualquer modo, pessoas como nós, temos a obrigação de ajudar a geração que fez a guerra, de um lado e do outro, a fazer as contas com o passado e a transmitir às gerações seguintes uma visão positiva da nossa história partilhada... Como eu costumo dizer em relação aos meus camaradas que integram esta "tabanca grande", virtual, cabemos aqui todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa. E nem todos são ex-militares...
Há mais de 10 anos que, neste blogue, procuro põr os antigos combatentes , a juntar as "pontas", a salvaguardar e partilhar as suas memórias, a fazer pontes entre os dois lados...Estive em 2008, no Simpósio Internacional de Guileje, a convite do meu saudoso amigo Pepito, mas foi pena que nessa altura, os antigos combatentes do PAIGC, oriundos de Cabo Verde, não tivessem podido viajar até Bissau por razões alegadamente de segurança: Nino ainda estava no poder...
Obrigado pelos seus esclarecimentos que, não havendo objeção da sua partem, irei partilhar com os leitores do nosso blogue. Oxalá apareçam outras versões de quem presenciou os acontecimentos em questão, e que estava em Canquelifá por esses dias de janeiro de 1974, nomeadmente antigos militares, guineenses, da CCAÇ 21, e antigos militares, metropolitanos da CCAÇ 3545, comandada pelo capitão de infantaria miliciano Fernando Peixinho de Cristo. Seria importante igualmente identificar e localizar o oficial médico (, possivelmente alferes miliciano) que terá vindo de Nova Lamego para reconhecer os cadáveres dos dois guerrilheiros mortos, que não eram guineenses (um dos quais seria o Jaime Mota).
Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça
Obrigado, amigo, acho que nos move a ambos a vontade de esclarecer a verdade, sem preconceitos, sem ideias feitas, sem ressentimentos... Ambos temos formação científica, você em história, eu em sociologia e em saúde pública... Para além do mais, temos profissões (você jornalista e eu investigador social e professor) com exigências éticas e deontológicas acrescidas... Claro que você não fez a guerra colonial, e ainda bem...
De qualquer modo, pessoas como nós, temos a obrigação de ajudar a geração que fez a guerra, de um lado e do outro, a fazer as contas com o passado e a transmitir às gerações seguintes uma visão positiva da nossa história partilhada... Como eu costumo dizer em relação aos meus camaradas que integram esta "tabanca grande", virtual, cabemos aqui todos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa. E nem todos são ex-militares...
Há mais de 10 anos que, neste blogue, procuro põr os antigos combatentes , a juntar as "pontas", a salvaguardar e partilhar as suas memórias, a fazer pontes entre os dois lados...Estive em 2008, no Simpósio Internacional de Guileje, a convite do meu saudoso amigo Pepito, mas foi pena que nessa altura, os antigos combatentes do PAIGC, oriundos de Cabo Verde, não tivessem podido viajar até Bissau por razões alegadamente de segurança: Nino ainda estava no poder...
Obrigado pelos seus esclarecimentos que, não havendo objeção da sua partem, irei partilhar com os leitores do nosso blogue. Oxalá apareçam outras versões de quem presenciou os acontecimentos em questão, e que estava em Canquelifá por esses dias de janeiro de 1974, nomeadmente antigos militares, guineenses, da CCAÇ 21, e antigos militares, metropolitanos da CCAÇ 3545, comandada pelo capitão de infantaria miliciano Fernando Peixinho de Cristo. Seria importante igualmente identificar e localizar o oficial médico (, possivelmente alferes miliciano) que terá vindo de Nova Lamego para reconhecer os cadáveres dos dois guerrilheiros mortos, que não eram guineenses (um dos quais seria o Jaime Mota).
Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça
Sobre combatentes caboverdianos... Temos bastantes referências a Cabo Verde... E eu gostaria de ter ainda mais... Ocorre-me, desde já dois ou três nomes: Barbosa Henriques, António Medina, Manuel Amante da Rosa (, que pertenceram ao exército português).
O Barbosa Henriques foi ofiicial do exército português e instrutor da 1ª companhia de comandos. Conheci-o pessoalmente, em Fá Mandinga e em Bambadinca. Acho que era da Brava, tenho que confirmar...
O António Medina vive hoje nos EUA, e fez a guerra, em 1963/65... É de Santo Antão. Esteve no BNU de Bissau até 1974 e é primo do Agnelo Medina Dantas Pereira, que foi comandante do PAIGC... Encontraram-se em Bissau, após o 25 de abril... Uma história bonita, veja aqui.
Tenho também aqui um bom amigo e camarada, que é hoje o vosso embaixador em Itália, o Manuel Amante da Rosa.
... E há muitas mais referências a Cabo Verde (mais de 170)...Incluindo fotos do meu pai, Luís Henriques (1920-2012), expedicionário no Mindelo (em 1941/43)... E, mais recentemente, do meu fiho que foi lá tocar no Festivel Sete Sois Sete Luas... (João Graça, da banda Melech Mechaya) (...).
4. Mail do José Manuel Matos Dinis, com data também de 15 do corrente:
Viva, Luis!
Obrigado pela tua vontade de me manteres a par deste caso. Recordo agora, que há poucos dias o Blogue publicou um episódio ocorrido em Copá, acho que em data coincidente, mais dia, menos dia. Nós sabemos que o Marcelino chegou lá imediatamente a seguir, ou iria na coluna de reabastecimento que caíu na emboscada. Sabemos, ainda, que logo a seguir foi abatido um avião em Copá, e Marcelino foi buscar uma ambulância IN algures na fronteira.
Não sei quanto tempo decorreu entre essas datas. A distância entre Copá e Canquelifá é de cerca de 12 km, e, que havendo informações sobre um ataque a Canquelifá, não seria dificil proceder a um patrulhamento, com uma ou mais unidades em coordenação. Assim, se o Virginio comparecer na próximo encontro da Magnífica Tabanca da Linha, no dia 22, pode ser que perante uma abordagem, o Marcelino possa confirmar, se esteve ou não envolvido nesse caso e, em caso afirmativo, possa produzir um esclarecimento. Também o Francisco Palma, parece-me, terá pertencido a essa Companhia, mas podia já ter sido evacuado. Vou indagá-lo.
Sobre a resposta que deste ao José Vicente Lopes, achei-a perfeitamente adequada, temperada por sensatez e afabilidade de trato, evitando sempre qualquer tendência para especular.
Com um abraço
JD
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Nota do editor:
Vd. postes anteriores da série >
15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14151: Casos: a verdade sobre... (2): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte II (Virgínio Briote / Rachid Bari, ex-sold trms, CCAÇ 21, Bambadinca, 1973/74, natural do Quebo e residente em Portugal)
15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14150: Casos: a verdade sobre... (i) Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 (Virgínio Briote / Amadu Djaló / José Vicente Lopes)
Marcadores:
Amadu Djaló,
Amílcar Ventura,
Cabo Verde,
Canquelifá,
CCAÇ 21,
CCaç 3545,
Copá,
Jaime Mota,
José Manuel Matos Dinis,
José Vicente Lopes,
Luís Graça,
PAIGC,
prisioneiros,
Virgínio Briote
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Guiné 63/74 - P14155: Os nossos seres, saberes e lazeres (76): O vício da pesca desportiva à linha (Juvenal Amado)
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 9 de Janeiro de 2015:
Caros camaradas
Hoje vivo a uma distância considerável do mar e sem companhia, deixei há muito essa prática que chegou a ser um caso sério na ocupação de todos os tempos livres. Chegávamos a ir directos das pescarias para o trabalho, embora fosse mais aos fins de semana que praticávamos com mais afinco.
A vida é como é e, na altura dizíamos uns para os outros, que quando nos reformássemos é que seria apanhar peixe, pois ele não espera pelos fins de semana para aparecer, sendo nós a ter que esperar por ele.
Não vou à pesca há mais de vinte anos e agora não é por falta de tempo.
É a vida.
Juvenal Amado
Pesca Desportiva
Eu e o meu cunhado, também ex-combatente na Guiné, no caso dele em Fulacunda, depois de regressados apanhamos vício da pesca desportiva à linha.
Assim era ver-nos a ouvir as notícias para saber o estado do mar e de que lado soprava o vento e logo que pudessemos, lá íamos nós mais o Barrão(1), o Victor Amado(2), de canas de pesca, bornal com farnel, carretos, estralhos, destorcedores e amostras para a corricagem quando o mar estava encarneirado.
Consoante o sítio para onde íamos exercer o mister, os iscos eram também escolhidos com parcimónia, uma vez que os pesqueiros tinham o peixe engodado a diferentes tipos de isco. Também era importante saber a qual o peixe estava a morder melhor: no Salgado, no Areeiro, no Vau Furado, em água de Madeiros, no Sordão, na Foz de Arelho, etc.
Na Nazaré quase sempre era tripa de sardinha, uma vez que as peixeiras amanhavam os carapaus e sardinhas para secar e deitavam-nas ao mar.
Eram noites ou madrugadas passadas com o dedo na linha. A força das ondas faziam-na vibrar, rolando a chumbada dando a ideia de que era o peixe a picar. A maior parte das vezes não apanhávamos nada, só se salvava o lanche, uns golos de brandy que aqueciam a malta quando frio apertava e as conversas sobre o que tínhamos passado “lá longe onde o Sol castiga mais”.
Quando se pescava um robalote ou uma raia, era uma festa. Os mais felizardos apanhavam uma dourada ou sargo e então a felicidade era total. Falava-se durante algum tempo sobre como o tínhamos sentido, da luta que tinha dado e da alegria quando o víamos emergir entre a espuma da rebentação.
Em Alcobaça havia um grupo de pescadores mais velhos com os quais nós não nos misturávamos porque eles não queriam. É que eles faziam da sua forma de pescar um segredo e o mais engraçado é que passavam a vida a vigiar quando uns iam para a pesca para irem logo atrás. Alguns trabalhavam na mesma empresa que eu e quatro eram pintores na minha secção.
Um belo domingo, dois ou três foram até ao Salgado, onde o mar era sempre forte, passar um bocado, enquanto ouviam o relato dos jogos da 1.ª Divisão do Campeonato Nacional de Futebol.
As canas, de perto de 5 metros, num movimento onde se unia a força dos braços com vergar delas ao peso da chumbada cónica de 150 gramas, projectavam o estralho com o respectivo isco para dentro do mar, sendo necessário ultrapassar 80 metros, para que as ondas não devolvesse o anzol ao areal.
Às tantas, o senhor João preparou-se para fazer o seu lançamento e, quando vai com equipamento atrás, o anzol pegou, por azar, na alça do pequeno rádio, só se ouvindo associada à vergastada que a cana deu a voz do Romeu Correia a passar por cima das cabeças da malta, com se fosse zumbido mergulhando sem apelo nem agravo para lá da rebentação do Salgado, que era sempre bem forte .
Era uma chatice, já não se podia ouvir o relato da bola, mas o pior é que ia ser motivo de gozo de toda a malta. Combinaram logo ali que o assunto era para esquecer e que não se falava mais nisso.
Mas isto de segredos tem que se lhe diga, a coisa acabou por transpirar e foi motivo de muita risota entre a malta.
Um belo dia o senor João entrou na secção e, como de costume, ia logo para o pé do grupo onde eu me incluía, falar de como tinham corrido as pescarias, sobre a qualidade dos iscos, enfim conversa de pescadores. Já toda a malta estava a arreganhar os dentes quando Adriano diz com um ar muito sério:
- Ouvi dizer que no Domingo, à tardinha, no Salgado, foi pescado um safio. Não quer saber que ficou toda a gente muito assustada pois o bicho falava e parecia um locutor a relatar um jogo de futebol?
Nessa altura a secção toda rebentou em fortes gargalhadas para desespero do desanimado pescador.
O homem ficou malino e deixou de falar com a malta. Compreende-se…
• O Adriano era levado para pregar partidas. Esteve em Angola e sobre ele há várias pequenas estórias onde ele foi o herói, outras vezes a vítima. Uma delas conta-se num instante. Os pais tiveram um filho antes dele a quem chamaram Adriano. Ora essa criança, para grande desgosto dos pais faleceu ainda bebé de colo. Quando o meu colega nasceu, talvez para minorar a falta do filho que tinha morrido, puseram-lhe o nome exactamente igual. Até ai tudo bem, mas quando o Adriano tinha 17 anos a Policia Militar foi a sua casa para o prender como refratário. Viu-se e desejou-se para explicar que não era ele e que procuravam, mas sim, o irmão morto, que tinha o mesmo nome e que se estivesse vivo estava na idade da incorporaração, já tendo faltado à sortes. Lá se safou pois era bem de ver que era demasiado novo. Coisas da tropa portuguesa.
• Na secção da pintura da Crisal também o Zé Marques, que foi pára-quedista, e o Félix estiveram na Guiné.
(1) - O meu amigo Barrão já falecido prestou serviço em Angola
(2) - O meu primo e colega de profissão Victor Amado foi marinheiro e prestou serviço em Moçambique
Um abraço e bom fim de semana
JA
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Nota do editor
Último poste da série de 28 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14087: Os nossos seres, saberes e lazeres (75): O Porto (e)terno (Luis Graça)
Guiné 63/74 - P14154: Convite (12): O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras vai realizar, no dia 17 de Janeiro, pelas 14h30, no Auditório da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, uma apresentação da Instituição aos antigos combatentes, Instituições e população do concelho
NÚCLEO DA LIGA DOS COMBATENTES
TORRES VEDRAS
TORRES VEDRAS
C O N V I T E
Estimados amigos Combatentes,
O Núcleo da Liga dos Combatentes de Torres Vedras vai realizar, no próximo dia 17 de Janeiro de 2015, pelas 14h30, no Auditório da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, uma apresentação da Instituição aos antigos combatentes, Instituições e população do concelho.
A Liga dos Combatentes, os seus objectivos e programas, assim como a acção que tem vindo a ser desenvolvida pelo Núcleo, são um dos temas a apresentar, sendo igualmente feita uma apresentação sobre PPST (Perturbação Pós-Stress Traumático), vulgarmente conhecida como “stress de guerra”, suas causas, sintomas e tratamento.
Aparece e colabora,
José da Costa Pereira
Presidente da Direcção
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11284: Convite (11): Museu da Guerra Colonial, a visitar em Ribeirão, Vila Nova de Famalicão (António Teixeira)
Guiné 63/74 - P14153: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 10 de Junho (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Janeiro de 2015:
Queridos amigos,
Foi escassa a safra, ainda encontrei uma revista ultranacionalista chamada Resistir editada em francês para os nostálgicos da França de Vichy e que trazia mera propaganda turística.
Achei curioso este princípio do federalismo africano do final dos anos de 1950 em que Amílcar Cabral encontrou as raízes par a unidade Guiné-Cabo Verde, é esta uma das interpretações possíveis para aquela associação que se sabia de antemão condenado ao malogro.
Foram várias as tentativas de associações de países, como é sabido, tirando a Tanzânia, tudo caiu no charco. E Ahmed Sékou Turé foi uma peça essencial no apoio ao PAIGC, é dado que ninguém ignora.
Um abraço do
Mário
No rescaldo de uma ida à Feira da Ladra, em 10 de Janeiro
Beja Santos
Naquela manhã ensoleirada, sem uma aragem na pouca friagem daquela arquitetura maciça onde não chega o sol, numa das faces no mosteiro de S. Vicente, iniciei as hostilidades por uma incursão a fotografias e papéis avulsos. Nada de deslumbrante, a não ser uma fotografia onde Sequeira e Costa está ao piano acompanhado o violinista Vasco Barbosa, os dois de casaca e bem compenetrados no seu míster, foram companheiros de muita música que tenha ouvido ao longo da vida, ainda há três anos me embeveci com Sequeira Costa, já não é criança, num concerto portentoso no Palácio de Queluz, no festival de música de Sintra.
Só mais à frente é que me chegou a Guiné e colaterais. Primeiro, uma radiografia do ensino, saúde e assistência e atividade missionária da Guiné ao nível de 1968, dados informativos da Agência Geral do Ultramar. Não vale a pena reproduzir as fotografias, todas elas são sobejamente conhecidas, desde o Museu e Biblioteca de Bissau até à Sé Catedral. Ficamos a saber que em 1883 havia já professores oficiais em Bolama, Bissau, Cacheu, Buba, Geba e Farim, e que em 1890 foi publicado o primeiro Regulamento Escolar da Província, tornando-se o ensino primário obrigatório para as crianças de ambos os sexos, dos 7 aos 15 anos de idade. Depois desta informação e todo o seu caráter ilusionista, ficamos igualmente a saber que nos números relativos a 1966/67 haveria 105 escolas primárias com 280 professores e 12 mil alunos, mais 52 postos escolares, com 64 professores. Fazia parte do ensino primário, embora estranho ao plano oficial, 276 escolas muçulmanas.
O liceu Honório Barreto surgiu em 1958 e no ano letivo de 1966/67 teve 417 alunos, lecionados por 21 professores. Passando para a saúde e assistência, a rede sanitária da época incluía o hospital de Bissau, três hospitais regionais (Bolama, Teixeira Pinto e Bafatá), seis hospitais rurais, dez delegacias de saúde, cinquenta e três postos sanitários, dez maternidades regionais e doze maternidades rurais. Concentrava-se no Hospital Central de Bissau a gama dos serviços de medicina com praticamente todas as especialidades. Fazem-se referências igualmente ao combate à tuberculose, às tripanossomíases, à doença do sono. Quanto à atividade missionária, a prefeitura apostólica de Bissau tinha três arciprestados em Bissau, Cumura e Bafatá, confiados, respetivamente, aos missionários franciscanos portugueses, padres franciscanos da província de Veneza e missionários do Instituto das Missões Estrangeiras de Milão. Nota curiosa é o que se diz sobre o Islamismo: “A dispersão do Islamismo encontra-se ligada ao sistema de confrarias (na Guiné Portuguesa, a dos Cadiriya e a dos Tidjaniya) derivados do ritmo malequita. As confrarias são dirigidas por grão-mestres (cheiques) que detêm a emanação de santidade (baraca), sendo muito hierarquizadas. À volta delas gravitam os operadores de milagres, curandeiros, místicos ou iluminados). A nova mesquita de Bissau foi inaugurada em Abril de 1966, está situada no bairro do Cupelon".
O segundo achado da manhã intitula-se “Mohammed V, Ferhat Abbas e Séku Turé” escrito por Jean Lacouture, figura prominente do jornalismo francês dos últimos 40 anos do século XX, Editorial Início, sem data. Como é óbvio, não vamos falar nem de Marrocos nem da Argélia, mas Lacouture descreve de forma muito impressiva a ascensão de Ahmed Sékou Turé, a implantação do RDA (Rassemblement Democratique Africain) e a tese federalista a que seguramente Amílcar Cabral não foi insensível, a industrialização acelerada da Guiné Francesa graças aos seus recursos em ferro e bauxite. Sékou provinha da etnia dos malinké, etnia de conquistadores, nasceu na linha de junção da África da savana e da África das florestas. Foi graças ao sindicalismo que ganhou proeminência. Desde cedo que perfilhou teses nacionalistas e sentiu a tentação pelo socialismo e a revolução. Lacouture disseca a personalidade do líder guineense, releva os seus aspetos mais paradoxais de um dirigente que parecia animando em pertencer a uma grande comunidade franco-africana que imprevistamente deu sinais claros de querer a independência de Conacri sem quaisquer ligações políticas a Paris. Em 1958, ele é já líder absoluto e liquidou toda a oposição interna, diz para o exterior que é um mero porta-voz do Bureau Político, o que era uma pura ficção. Jogou até ao fim a cartada dúplice da ameaça franco-africana e da independência pura e simples da Guiné Conacri.
O general De Gaulle apercebeu-se de que Sékou queria a independência e negava-se a fazer parte da aliança franco-africana. E dá instruções terminantes para que os quadros da administração retirem na manhã do dia seguinte de Conacri, sem apelo nem agravo. Assim irá acontecer, em pouquíssimo tempo as autoridades francesas deixam o país sem investimento e sem quadros: era a consequência do “não” à França. Vai seguir-se um período de aproximação e repulsa em que por várias vezes se esteve à beira de concluir acordos de cooperação com maior interesse para a Guiné, mas Sékou eleva a parada, pede demasiado e Paris desinteressa-se. Todo o ano de 1959 será um período de rancores, intrigas e promessas de parte a parte. Nos seus discursos, Sékou passa a acusar a França de ter sufocado a cultura negra, de ter preferido ensinar aos jovens africanos Lamartine e Corneille e impedir a formação de uma elite intelectual, o que levou ao caos inicial da administração civil. O ano de 1960 marcará o afastamento, Sékou entrara na onda anticolonial, será nesse ano que receberá em Conacri Amílcar Cabral, pelo PAIGC, e Mário Pinto de Andrade, do MPLA. E na conclusão do seu ensaio, Lacouture interroga: “No afastamento em que está hoje Sékou em relação à França, qual é a nossa parte de responsabilidade? Ele está demasiado ligado à França da Frente Popular para poder render justiça ao fenómeno De Gaulle e para não ser repudiado por ele. Mas que fez verdadeiramente a França de Esquerda – tão hábil em manter abertas as vias do lado vietnamita ou norte-africano – para libertar Sékou do isolamento que pesou extraordinariamente na história dos últimos meses. Enquanto a França de Jaurès não sabe sobrepor-se à de Poincaré, a descolonização corre o risco de se tornar uma perda desolado e irreparável”.
Isto foi escrito em Abril de 1961, o ditador de Conacri sente-se tentado pelos apoios de Moscovo e companhia, isto enquanto a economia do país se afunda. A ver se descubro outro livro que nos dê a visão senegalesa, Senghor viu sempre com suspeita Sékou, irá lutar vários anos para apoiar forças multipartidárias nacionalistas guineenses, do lado da Guiné Portuguesa, cortará cedo relações com Portugal mas tentará manter o diálogo com as autoridades de Lisboa por muito tempo. Senghor era anticomunista e temia ficar rodeado de democracias populares. Como veio a acontecer.
Estas foram as leituras decorrentes da manhã de 10 de Junho.
Guardo sempre a esperança de que tenho novas descobertas a fazer num sábado desses que se avizinham.
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13963: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Foi escassa a safra, ainda encontrei uma revista ultranacionalista chamada Resistir editada em francês para os nostálgicos da França de Vichy e que trazia mera propaganda turística.
Achei curioso este princípio do federalismo africano do final dos anos de 1950 em que Amílcar Cabral encontrou as raízes par a unidade Guiné-Cabo Verde, é esta uma das interpretações possíveis para aquela associação que se sabia de antemão condenado ao malogro.
Foram várias as tentativas de associações de países, como é sabido, tirando a Tanzânia, tudo caiu no charco. E Ahmed Sékou Turé foi uma peça essencial no apoio ao PAIGC, é dado que ninguém ignora.
Um abraço do
Mário
No rescaldo de uma ida à Feira da Ladra, em 10 de Janeiro
Beja Santos
Naquela manhã ensoleirada, sem uma aragem na pouca friagem daquela arquitetura maciça onde não chega o sol, numa das faces no mosteiro de S. Vicente, iniciei as hostilidades por uma incursão a fotografias e papéis avulsos. Nada de deslumbrante, a não ser uma fotografia onde Sequeira e Costa está ao piano acompanhado o violinista Vasco Barbosa, os dois de casaca e bem compenetrados no seu míster, foram companheiros de muita música que tenha ouvido ao longo da vida, ainda há três anos me embeveci com Sequeira Costa, já não é criança, num concerto portentoso no Palácio de Queluz, no festival de música de Sintra.
Só mais à frente é que me chegou a Guiné e colaterais. Primeiro, uma radiografia do ensino, saúde e assistência e atividade missionária da Guiné ao nível de 1968, dados informativos da Agência Geral do Ultramar. Não vale a pena reproduzir as fotografias, todas elas são sobejamente conhecidas, desde o Museu e Biblioteca de Bissau até à Sé Catedral. Ficamos a saber que em 1883 havia já professores oficiais em Bolama, Bissau, Cacheu, Buba, Geba e Farim, e que em 1890 foi publicado o primeiro Regulamento Escolar da Província, tornando-se o ensino primário obrigatório para as crianças de ambos os sexos, dos 7 aos 15 anos de idade. Depois desta informação e todo o seu caráter ilusionista, ficamos igualmente a saber que nos números relativos a 1966/67 haveria 105 escolas primárias com 280 professores e 12 mil alunos, mais 52 postos escolares, com 64 professores. Fazia parte do ensino primário, embora estranho ao plano oficial, 276 escolas muçulmanas.
O liceu Honório Barreto surgiu em 1958 e no ano letivo de 1966/67 teve 417 alunos, lecionados por 21 professores. Passando para a saúde e assistência, a rede sanitária da época incluía o hospital de Bissau, três hospitais regionais (Bolama, Teixeira Pinto e Bafatá), seis hospitais rurais, dez delegacias de saúde, cinquenta e três postos sanitários, dez maternidades regionais e doze maternidades rurais. Concentrava-se no Hospital Central de Bissau a gama dos serviços de medicina com praticamente todas as especialidades. Fazem-se referências igualmente ao combate à tuberculose, às tripanossomíases, à doença do sono. Quanto à atividade missionária, a prefeitura apostólica de Bissau tinha três arciprestados em Bissau, Cumura e Bafatá, confiados, respetivamente, aos missionários franciscanos portugueses, padres franciscanos da província de Veneza e missionários do Instituto das Missões Estrangeiras de Milão. Nota curiosa é o que se diz sobre o Islamismo: “A dispersão do Islamismo encontra-se ligada ao sistema de confrarias (na Guiné Portuguesa, a dos Cadiriya e a dos Tidjaniya) derivados do ritmo malequita. As confrarias são dirigidas por grão-mestres (cheiques) que detêm a emanação de santidade (baraca), sendo muito hierarquizadas. À volta delas gravitam os operadores de milagres, curandeiros, místicos ou iluminados). A nova mesquita de Bissau foi inaugurada em Abril de 1966, está situada no bairro do Cupelon".
O segundo achado da manhã intitula-se “Mohammed V, Ferhat Abbas e Séku Turé” escrito por Jean Lacouture, figura prominente do jornalismo francês dos últimos 40 anos do século XX, Editorial Início, sem data. Como é óbvio, não vamos falar nem de Marrocos nem da Argélia, mas Lacouture descreve de forma muito impressiva a ascensão de Ahmed Sékou Turé, a implantação do RDA (Rassemblement Democratique Africain) e a tese federalista a que seguramente Amílcar Cabral não foi insensível, a industrialização acelerada da Guiné Francesa graças aos seus recursos em ferro e bauxite. Sékou provinha da etnia dos malinké, etnia de conquistadores, nasceu na linha de junção da África da savana e da África das florestas. Foi graças ao sindicalismo que ganhou proeminência. Desde cedo que perfilhou teses nacionalistas e sentiu a tentação pelo socialismo e a revolução. Lacouture disseca a personalidade do líder guineense, releva os seus aspetos mais paradoxais de um dirigente que parecia animando em pertencer a uma grande comunidade franco-africana que imprevistamente deu sinais claros de querer a independência de Conacri sem quaisquer ligações políticas a Paris. Em 1958, ele é já líder absoluto e liquidou toda a oposição interna, diz para o exterior que é um mero porta-voz do Bureau Político, o que era uma pura ficção. Jogou até ao fim a cartada dúplice da ameaça franco-africana e da independência pura e simples da Guiné Conacri.
O general De Gaulle apercebeu-se de que Sékou queria a independência e negava-se a fazer parte da aliança franco-africana. E dá instruções terminantes para que os quadros da administração retirem na manhã do dia seguinte de Conacri, sem apelo nem agravo. Assim irá acontecer, em pouquíssimo tempo as autoridades francesas deixam o país sem investimento e sem quadros: era a consequência do “não” à França. Vai seguir-se um período de aproximação e repulsa em que por várias vezes se esteve à beira de concluir acordos de cooperação com maior interesse para a Guiné, mas Sékou eleva a parada, pede demasiado e Paris desinteressa-se. Todo o ano de 1959 será um período de rancores, intrigas e promessas de parte a parte. Nos seus discursos, Sékou passa a acusar a França de ter sufocado a cultura negra, de ter preferido ensinar aos jovens africanos Lamartine e Corneille e impedir a formação de uma elite intelectual, o que levou ao caos inicial da administração civil. O ano de 1960 marcará o afastamento, Sékou entrara na onda anticolonial, será nesse ano que receberá em Conacri Amílcar Cabral, pelo PAIGC, e Mário Pinto de Andrade, do MPLA. E na conclusão do seu ensaio, Lacouture interroga: “No afastamento em que está hoje Sékou em relação à França, qual é a nossa parte de responsabilidade? Ele está demasiado ligado à França da Frente Popular para poder render justiça ao fenómeno De Gaulle e para não ser repudiado por ele. Mas que fez verdadeiramente a França de Esquerda – tão hábil em manter abertas as vias do lado vietnamita ou norte-africano – para libertar Sékou do isolamento que pesou extraordinariamente na história dos últimos meses. Enquanto a França de Jaurès não sabe sobrepor-se à de Poincaré, a descolonização corre o risco de se tornar uma perda desolado e irreparável”.
Isto foi escrito em Abril de 1961, o ditador de Conacri sente-se tentado pelos apoios de Moscovo e companhia, isto enquanto a economia do país se afunda. A ver se descubro outro livro que nos dê a visão senegalesa, Senghor viu sempre com suspeita Sékou, irá lutar vários anos para apoiar forças multipartidárias nacionalistas guineenses, do lado da Guiné Portuguesa, cortará cedo relações com Portugal mas tentará manter o diálogo com as autoridades de Lisboa por muito tempo. Senghor era anticomunista e temia ficar rodeado de democracias populares. Como veio a acontecer.
Estas foram as leituras decorrentes da manhã de 10 de Junho.
Guardo sempre a esperança de que tenho novas descobertas a fazer num sábado desses que se avizinham.
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13963: Recordações de uma ida à Feira da Ladra: 15 de Novembro (2) (Mário Beja Santos)
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Guiné 63/74 - P14152: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (95): Mais uma pequena história... Em honra do Cessna dos TAGP e do Comandante Pombo (Mário Migueis da Silva)
1. Em mensagem de hoje, 15 de Janeiro de 2015, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), enviou-nos uma história passada com o Comandante Pombo, que assim se junta às já publicadas.
O Comandante Pombo
Outubro de 1972
Dedicara a manhã exclusivamente às despedidas dos meus amigos fulas e mandingas das tabancas do Saltinho e de Madina-Contabane, régulo Sambel, mulheres e filhos incluídos, com os quais, em sinal de reconhecimento pela hospitalidade e cordialidade com que sempre me distinguiram, “parti” algumas coisinhas, meras recordações, enfim, com destaque para umas bonitas peças de fazenda que, com razoável antecedência, encomendara em Bafatá.
Agora, com a coluna pronta a seguir para o Xitole, onde, em troca de mais um saco de correio para a malta ávida de notícias e palavras de afecto, me deixariam à guarda do piloto de uma avioneta que fazia habitualmente a ligação com Bissau, mal tinha tempo para, com a bucha na boca, carregar para cima da GMC a meia dúzia de sacos e malas cheios de artefactos de valor meramente estimativo: dois batuques, um korá, uma espécie de cavaquinho, um violino acabaçado com arco provido de cordas de rabo de cavalo, manuscritos diversos, peças de artesanato várias – faltava saber se a pequena aeronave teria espaço para tanta tralha.
- Não há problema nenhum, até porque você é o único passageiro – sossegou-me o comandante Pombo, piloto do Cessna, que, já em plena pista, dava os últimos retoques no acondicionamento da carga, antes de levantar voo.
Pois é verdade, meus caros, era ele, o próprio, o melhor, o mais experiente, o mais espectacular de todos os pilotos civis de sempre em céus africanos, o já lendário comandante Pombo, com quem nunca tinha viajado, mas de quem ouvia falar à boca cheia desde que, dois anos atrás, chegara à Guiné.
Com um dos batuques em cima dos joelhos – que foi a solução encontrada –, enquanto subíamos em grande estilo, pouco menos que na vertical, ousei lembrar timidamente para a minha esquerda:
- Comandante, olhe que hoje é sexta-feira, 13!...
- Dia da segunda aparição em Fátima, não é?!...
E, acto imediato, iniciou o voo picado de despedida à pista, número que não deixava nunca de dedicar ao pessoal de terra.
Esposende, 14 de Janeiro de 2015
Mário Migueis
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P13148: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (94): Ainda o Comandante Pombo, a quem convidámos para partilhar connosco as suas histórias e memórias... (Maria João Pombo / Amaral Bernardo)
O Comandante Pombo
Outubro de 1972
Dedicara a manhã exclusivamente às despedidas dos meus amigos fulas e mandingas das tabancas do Saltinho e de Madina-Contabane, régulo Sambel, mulheres e filhos incluídos, com os quais, em sinal de reconhecimento pela hospitalidade e cordialidade com que sempre me distinguiram, “parti” algumas coisinhas, meras recordações, enfim, com destaque para umas bonitas peças de fazenda que, com razoável antecedência, encomendara em Bafatá.
Agora, com a coluna pronta a seguir para o Xitole, onde, em troca de mais um saco de correio para a malta ávida de notícias e palavras de afecto, me deixariam à guarda do piloto de uma avioneta que fazia habitualmente a ligação com Bissau, mal tinha tempo para, com a bucha na boca, carregar para cima da GMC a meia dúzia de sacos e malas cheios de artefactos de valor meramente estimativo: dois batuques, um korá, uma espécie de cavaquinho, um violino acabaçado com arco provido de cordas de rabo de cavalo, manuscritos diversos, peças de artesanato várias – faltava saber se a pequena aeronave teria espaço para tanta tralha.
Foto do Cessna, vermelho, pilotado pelo Comandante Pombo, dos Transportes Aéreos Civis da Guiné
- Não há problema nenhum, até porque você é o único passageiro – sossegou-me o comandante Pombo, piloto do Cessna, que, já em plena pista, dava os últimos retoques no acondicionamento da carga, antes de levantar voo.
Pois é verdade, meus caros, era ele, o próprio, o melhor, o mais experiente, o mais espectacular de todos os pilotos civis de sempre em céus africanos, o já lendário comandante Pombo, com quem nunca tinha viajado, mas de quem ouvia falar à boca cheia desde que, dois anos atrás, chegara à Guiné.
Com um dos batuques em cima dos joelhos – que foi a solução encontrada –, enquanto subíamos em grande estilo, pouco menos que na vertical, ousei lembrar timidamente para a minha esquerda:
- Comandante, olhe que hoje é sexta-feira, 13!...
- Dia da segunda aparição em Fátima, não é?!...
E, acto imediato, iniciou o voo picado de despedida à pista, número que não deixava nunca de dedicar ao pessoal de terra.
Esposende, 14 de Janeiro de 2015
Mário Migueis
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P13148: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (94): Ainda o Comandante Pombo, a quem convidámos para partilhar connosco as suas histórias e memórias... (Maria João Pombo / Amaral Bernardo)
Guiné 63/74 - P14151: Casos: a verdade sobre... (2): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte II (Virgínio Briote / Rachid Bari, ex-sold trms, CCAÇ 21, Bambadinca, 1973/74, natural do Quebo e residente em Portugal)
Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Setor de Piche > Canquelifá > CCAÇ 3545 (1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... A artilharia do PAIGC era operada e comandada por cubanos e caboverdianos.
Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Mensagem do nosso coeditor (jubilado) Virgínio Briote [ex-alf mil ex-alf mil , CCAV 489 (Cuntima), e alf mil comando do 2.º curso de Comandos do CTIG (Brá), cmdt do Grupo Diabólicos (1965/67)]
[Vb, foto à direita, em Seatle, estado de Washington, EUA, julho de 2014]
Assunto: Artigo "O martírio de Jaime Mota" [, de José Vicente Lopes]
Caros Luís e Carlos,
O Amadú [Bailo Jaló], embora apresente alguns sinais de melhoria, não está em condições para falar sobre estes assuntos. Está sem memória.
Consegui obter e gravar um depoimento de um fula, o Rachid Bari, que era soldado das transmissões da CCaç 21 e que nesse dia acompanhou e foi testemunha visual do ocorrido. Refuta a acusação de tortura, abertura de barriga, etc.
O PAIGC não contava com a tropa ali a cerca de 100 metros, encostaram as armas, um pôs-se a trepar uma palmeira e alguns não terão sido apanhados à mão porque um dos militares da CCaç 21 não aguentou a pressão e disparou uma rajada, a que se seguiram séries de rajadas a curta distância. Morreram dois imediatamente e o outro, encurralado, mostrou-se, desafiante. Ainda hoje o Rachid não entende o procedimento desse fula.
Havia directivas muito claras do Com Chefe sobre a questão dos prisioneiros. Aprisioná-los, de preferência sem recurso à violência. Considerava-se que esse modo de actuar era mais adequado para recuperar não só a população como a própria guerrilha. Casos houve, refere o Rachid, em que foram punidos militares por violências exercidas sobre prisioneiros.
Espero que este anexo que remeto seja útil.
Abraço do V Briote
2. Depoimento de Rachid Bari [que vive em Portugal, na zona de Belas, concelho de Sintra,] sobre o ocorrido em 7 de Janeiro de 1974, na zona de Canquelifá, em referência ao artigo “O Martírio de Jaime Mota", de José Vicente Lopes (*)
Rachid Bari, fula, natural de Quebo, foi incorporado em 22 de Janeiro de 1973 e, depois de ter feito a recruta em Bolama, foi enquadrado na CCaç 21, comandada pelo tenente [Abdulai] Jamanca. Fez parte da secção de transmissões e desempenhou actividade operacional, uma vez que sempre que um grupo de combate saía dois elementos de transmissões eram destacados para acompanhar o referido grupo.
A CCaç 21, baseada em Bambadinca, desempenhou várias acções na zona, tendo sido destacados para a área de Canquelifá, então sujeita a forte pressão da guerrilha.
Enquanto lá se mantiveram durante cerca de 5 meses não houve qualquer contacto com o IN, tendo sido então mandada regressar a Bambadinca onde lhe estavam destinadas outras acções.
Logo que abandonaram Canquelifá, foi novamente esta povoação sujeita a bombardeamentos e a CCaç 21 pôs-se de novo em marcha para reforçar o destacamento militar de Canquelifá.
Nesta 2ª estadia em Canquelifá todos os dias e noites saía um grupo, que se emboscava nas imediações do aquartelamento. Num desses dias, por volta das 16 horas, saiu um bigrupo comandado pelos alferes Ali[u] Sada Candé e Braima Baldé.
Quando estavam emboscados viram aproximar-se um grupo de 7 elementos armados. Cautelosamente o comandante do grupo emitiu sinais de alerta e, ao mesmo tempo que começaram a manobra de se disporem em V, avisou que só deveriam disparar ao sinal de fogo.
Inesperadamente um elemento da CCaç 21 disparou uma rajada, a que se seguiram mais rajadas de outros militares até repararem que elementos IN estavam em fuga e que dois ou três teriam sido abatidos. A correr dirigiram-se para o local e enquanto se apoderavam das armas e de um rádio Racal [1] apareceu-lhes de frente um guerrilheiro do PAIGC, fula, com uma Kalash assente na anca direita tendo-os por mira que, depois de perguntar por que motivo irmãos andavam em guerra, carregou no gatilho.
A rajada saiu alta e os militares da CCaç 21 responderam a tiro, abatendo-o.
Depois, o grupo recolheu os corpos, improvisaram macas e trouxeram-nos para Canquelifá. Estavam a acabar de entrar na povoação quando começaram a ser bombardeados pela artilharia e o fogo partia da Guiné-Conacri. Não tiveram tempo de mais nada, a não ser abrigarem-se rapidamente, depositando os corpos na pista. A primeira granada acertou no gerador, a segunda no depósito de géneros e o inferno estava instalado em Canquelifá, com as granadas a caírem todas dentro da povoação-aquartelamento.
Ao amanhecer, o pessoal da CCaç 21 procedeu às cerimónias do funeral do fula, tendo sido seguidos os procedimentos habituais entre os muçulmanos. Corpo envolvido num lençol branco e, depois das orações na mesquita, o corpo foi enterrado.
Em relação aos dois outros cadáveres, levantou-se a questão, logo de início, de que como eram de tez muito clara, deviam ser cubanos e para o efeito entraram em contacto com o COP de Nova Lamego pedindo instruções. Foi-lhes dito que aguardassem, que um médico se iria deslocar a Canquelifá e só depois deveriam enterrar os cadáveres. De facto, momentos depois, o médico desembarcava na pista e foi observar os cadáveres.
Dois dias depois da ocorrência procedeu-se ao enterro dos cadáveres na pista de aviação de Canquelifá, depois de terem sido lavados e vestidos com a farda nº 2 do Exército Português.
Rachid diz que, posteriormente, teve a informação que tinham sido feitas análises e que os resultados admitiam a possibilidade desses guerrilheiros serem brancos. Daí o facto de se admitir a ideia de que eram cubanos.
[Depoimento recolhido por Virgínio Briote]
[Depoimento recolhido por Virgínio Briote]
[1] Quando foi emitida para o QG a mensagem da operação com a indicação do material capturado, alguém confirmou, através do nº do aparelho, que o radio Racal era o que as NT tinham perdido, cerca de dois anos antes em Morés. [Vb]
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Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior da série > 15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14150: Casos: a verdade sobre... (i) Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 (Virgínio Briote / Amadu Djaló / José Vicente Lopes)
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Nota do editor:
(*) Vd. poste anterior da série > 15 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14150: Casos: a verdade sobre... (i) Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 (Virgínio Briote / Amadu Djaló / José Vicente Lopes)
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