Pesquisar neste blogue

domingo, 25 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14187: Em busca de... (252): exemplares de 1970/71 da revista "Presença" do Movimento Nacional Feminino (Júlio César, ex-1º cabo, CCaç 2659, Cacheu e Teixeira Pinto, 1970/71)

Capa da revista Presença, do Movimento Nacional Feminino, edição nº 1, outubro de 1963. Cortesia do blogue Livros Ultramar - Guerra Colonial

1. Mensagem do nosso camarada Júlio César, membro da nossa Tabanca Grande desde Julho de 2007, ex-1º cabo, CCAÇ 2659 / BCAÇ 2905 (Cacheu, 1970/71):

Data: 8 de dezembro de 2014 às 14:30

Assunto: Revistas Literárias


Boa tarde Luís Graça

Lembro-me, muito vagamente ( a memória já me atraiçoa) de ler umas revistas que nos chegavam, (ao Cacheu, em 1970 e 1971) via Movimento Nacional Feminino, nomeadamente o Jornal do Exército e uma outra, Sentinela, creio, onde escrevi um ou outro poema e um ou outro conto/artigo.


Onde poderei arranjar estas Revistas? Será que ainda existem?


Caso o meu querido amigo saiba de algo, agradeço a dica ou então, porque não uma sondagem acerca deste tema.


À tua consideração

Um abraço

Júlio César C. Ferreira

ex-1º cabo, CCaç 2659/BCaç. 2905, Cacheu e Teixeira Pinto 1970 1971

2. Comentário de L.G.:

Júlio, julgo que te queres referir á revista "Presença", essa, sim, editada pelo Movimento Nacional
Feminina, desde 1963, com apoio (subsídios) dos Ministérios da Defesa e do Ultramar.

Fica aqui o nosso apelo aos camaradas, eventuais colecionadores de papeis antigos, do nosso tempo. Pode ser que alguém tenha exemplares da revista "Presença" e até mesmo do Jornal do Exércitom, da época em que estiveste na TO da Guiné (1970/71).

______________

Guiné 63/74 - P14186: Libertando-me (Tony Borié) (1): A leste do paraíso, a oeste do Inferno

Primeiro episódio da nova série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Companheiros,
Hoje regressamos à guerra, a uma guerra que eu não sei dar qualquer nome, mas oficialmente, chamaram-lhe A guerra do Golfo, alguns até lhe chamaram a guerra do petróleo e, creio que todo o mundo, ainda hoje continua a sofrer os efeitos dessa guerra, creio que foi o início da guerra moderna, onde participou o nosso filho, Anthony Sérgio, um jovem, tal como nós éramos quando fomos para a guerra da Guiné, tinha corpo de atleta, praticava futebol na equipa do High School, jogava ténis, no parque, na frente da nossa casa, onde era o responsável pela área de desportos do referido parque, além de trabalhar em part-time, num estabelecimento da cidade, entre outras coisas. Ajudava a limpar a neve, por altura do inverno e, era um dos estudantes mais populares de High School, da cidade, onde na altura vivíamos.

Em casa, o nosso herói era o Tony, como quase todos lhe chamavam e, talvez influenciado, também entre outras coisas, pelas fotos que via do pai, que foi combatente na guerra colonial, em África, quando os USA se envolvem na Guerra do Golfo, o tal conflito militar travado entre o Iraque e forças de uma coligação internacional, liderada pelos USA e patrocinada pelas Nações Unidas, com a aprovação do seu Conselho de Segurança, autorizando o uso da força militar para alcançar a libertação do Kuwait, ocupado e anexado pelas forças armadas iraquianas, o nosso Tony, com o tal orgulho, talvez herdado do pai, pois a pátria amada, neste caso o Uncle Sam, chamava por si, e assim, alista-se no Corpo de Marines dos Estados Unidos.


A mãe dizia a chorar:
- Tal pai, tal filho, agora levam o meu filho para a guerra!


Ninguém lhe conseguiu tirar da ideia, o seu dever de cidadão e, depois de algum tempo, vai receber rigorosa instrução no “Marine Corps Recruit Depot Parris Island”, que está situado em Port Royal, no Estado de Carolina do Sul, próximo da cidade de Beaufort, que é onde os novos Marines, que residem a leste do Mississippi River, recebem o seu inicial treino, passando depois a outras bases de instrução e, quando já se encontrava como militar qualificado e pronto para combate, é colocado em diferentes partes do globo, acabando por ser enviado para o Golfo Pérsico, onde se encontrava uma formidável força de meios humanos e uma imensa quantidade dos mais modernos equipamentos militares, desencadeando em seguida uma campanha relâmpago que consumou a libertação do território kuwaitiano com extrema e surpreendente facilidade.





Dizem que foi uma das campanhas militares, (talvez o inimigo não tivesse grande poder de defesa), mais fascinantes e inovadoras da moderna história militar, introduzindo no campo de batalha sofisticação tecnológica e poder de fogo sem precedentes. Novos equipamentos foram adicionados nesta guerra, entre outros, os “aviões Stealth”, que são aqueles que possuem um radar baixíssimo, transversal, que se pode confundir com uma ave que ande a voar pela área da sua operação, ou as “bombas inteligentes”, que como quase todos sabem, é uma bomba guiada destinada a atingir com alto grau de precisão alvos específicos, minimizando a morte de pessoas ou a destruição de monumentos históricos, sendo esta a especialidade do nosso Tony, manusear e activar este tipo de bombas.


Talvez fosse a primeira guerra onde os jornalistas participaram, dando notícias ao minuto. Este novo tipo de guerra catapultou para a fama e reconhecimento mundial uma relativamente pouco conhecida empresa de notícias, que pela primeira vez acompanhou e transmitiu em direto um conflito militar, de seu nome CNN.

O nosso Tony continuou por mais um tempo à volta do mundo, estacionando em diferentes bases, onde passado uns anos e alguma experiência em como as pessoas vivem, se amam, se odeiam, se matam, ou simplesmente tentam sobreviver, termina a sua comissão no Corpo dos Marines e regressa a sua casa, com “Honor”.

Nós fomos esperá-lo à Base Militar de San Diego, na Califórnia, fazendo a viagem juntos, de regresso, por terra até Nova Iorque.

Quando regressámos a casa, a sua mãe voltou a dizer, chorando, tal como a mãe Joana dizia, muitos anos atrás:
- Ai, o meu querido filho voltou da guerra, está de novo comigo!

Hoje, o nosso Tony fez de nós um avós babados pois deu-nos dois lindos netos, continua a viajar por todo o mundo, tal como quando era um “Marine”, mas agora no exercício da sua profissão, mas retorna sempre às montanhas do estado de Pennsylvania, onde vive com a sua família.

Tony Borie (pai), Janeiro de 2015
____________

Guiné 63/74 - P14185: Agenda cultural (372): Apresentação dos livros "Descobrir Angola - Rumo às terras do fim do Mundo" e "Rumo ao Cazombo, 6.º e 7.º Raids todo-o-terreno do Kwanza-Sul", dia 28 de Janeiro, às 15h00, no Palácio da Independência, Lisboa (Manuel Barão da Cunha)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 24 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14181: Agenda cultural (375): Os Melech Mechaya, banda de música "klezmer festiva", hoje no CCB, às 21h00, à espera de mais "corpos dançantes"

Guiné 63/74 - P14184: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (8): Reencontrei o Michel Ajouz, de Bissorã, perto de Monte Real, cinco a seis anos depois, por volta de 1971/72... Ele andava a fazer termas, e eu na minha vida de delegado de propaganda médica... (Rogério Freire, ex-alf mil art, CART 1525, Bissorã, 1966/67)

1. Comentário de Rogério Freire (ex-alf mil art, minas e armadilhas, CART 1525, Bissorã, 1966/67) (*)

Caro Luís:

Vi a referência ao Michel Ajouz e ao meu nome e não posso deixar de contar uma história do "arco da velha".

Depois de regressar da Guiné, Bissorã, em finais de 1967, iniciei a minha atividade profissional como Delegado de Informação Médica (Propaganda Médica,  à moda antiga).

Uma das minhas zonas de trabalho era a região de Leiria. Num belo dia, creio que de 1971 ou 72, ao sair de Monte Real através do pinhal de Leiria a caminho da Marinha Grande, viajando a 80/90 km à hora, passo por um homem só,  que caminhava em direção a Monte Real e veio-me à memória o Sr. Michel Ajouz.

Fiquei de tal maneira incomodado com a visão que, passados uns bons 5 a 6 Km,  decidi voltar atrás e,  surpresa das surpresas, era mesmo... o Michel Ajouz!... Em pleno Pinhal de Leiria,  a fazer o seu passeio matinal.

Anúncio da casa comercial de Michel Ajouz, 1956 (*)


Foi uma grande alegria, ele lembrava-se perfeitamente de mim e da CART 1525 bem como dos outros alferes, o Rui, o Oliveira e o Silva bem como do Capitão Mourão [ Jorge Manuel Piçarra Mourão,]  que era ocasionalmente seu parceiro de bridge.

Fiquei a saber na altura que vinha às Termas de Monte Real à procura de alívio para as suas maleitas e depois de um grande abraço nos separámos.

Foi um dqueles acasos ... em pleno Pinhal de Leiria quem me diiria vir-me a encontrar com o Michel Ajouz, de Bissorã,  5 a 6 anos depois? (**)

E como dizia o nosso Pessa ..." E esta,  hem???!!!". 

(**)  22 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13639: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (7): Vermeer teria gostado de pintar as libanesas de olhos verdes... (Valdemar Queiroz, ex fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 63/74 - P14183: Parabéns a você (851): João Alberto Coelho, ex-Alf Mil Op Esp do BART 6522 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 23 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14175: Parabéns a você (850): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73); Francisco Godinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2753 (Guiné 1970/72) e José Albino, ex-Fur Mil Art do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Guiné, 1969/71)

sábado, 24 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14182: Casos: a verdade sobre... (5): Soldados metropolitanos "desaparecidos" ou torturados, depois da sua captura pelo inimigo... (José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70)

1. Mensagem de José Belo [,ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; cap inf ref, é jurista, vive Suécia há quase 4 décadas, e onde formou família: e, ultimamente, reparte o seu tempo com os EUA, em Kew West, Florida, aonde família tem negócios; autor do blogue Lapland Near Key West]:

Data: 20 de janeiro de 2015 às 16:18
Assunto: Prisioneiros de guerra.

Caro Luís Graça.

Tenho verificado que,  nos inúmeros postes publicados no blogue (*),  näo existem referências a sevícias exercidas pelos guerrilheiros do PAIGC sobre militares metropolitanos (e chamo a atenção para o adjetivo "metropolitanos"),  aquando de capturas efectuadas em combate, ou sobre elementos que desertaram,  entregando-se ao inimigo.

Näo terão sido muitos os casos, mas suficientes para a existência de um grupo de prisioneiros em Conacri.

Näo se poderá esquecer que, em todas as guerras, no calor e ressaca imediatas do combate, dão-se explosões, difíceis de controlar, de ódio, vingança, raiva e frustração  perante os corpos de amigos e camaradas mortos ou estropiados.

Mas sevícias "a frio" depois de os prisioneiros terem sido retirados das zonas dos combates,.  pouco ou nada à referido quanto ao PAIGC.

As normas e directivas estabelecidas pelo programa do PAIGC estavam bem explícitas nos detalhes quanto ao uso dos prisioneiros em acções de propaganda a nível internacional.

A nossa deontologia a este respeito näo seria diferente.

Muitos dos que estiveram colocados em zonas de contacto frequente com os guerrilheiros poderão referenciar casos de elementos inimigos "apanhados à mäo" que,  depois de entregues à polícia política local [PIDE]... desapareciam.

Os números de tais "desaparecimentos" não são dispiciendos,  pois as histórias contadas á volta deles säo inúmeras.

Nas situações extremas em que nos encontrávamos,  pouco tempo, vontade ou paciência haveria para aprofundar tais conjecturas. Obviamente as nossas preocupações eram dominadas por tantos outros acontecimentos envolventes e,não seria então (também!) muito "saudável" questionar a polícia política local.

Meio século passou e... muitas destas perguntas  não têm respostas documentais. Não somos de modo algum únicos nestes silêncios."Desaparecimentos" têm sido uma constante necessária (?) em todas as guerras do tipo da travada na Guiné.

 Mas a pergunta aqui levantada não se situa à volta de ontologias bélicas universais mas simplesmente sobre o número de soldados metropolitanos "desaparecidos" ou torturados, depois da sua captura pelo inimigo.

Como foi referido em comentário ao poste P14160 (*) : "Excluindo a situação aparentemente (!) atípica que levou ao bárbaro e desnecessário assassinato dos [3] Majores e [1] Alferes (no chão Manjaco), aquando do encontro onde se iria discutir a PAZ, em aparente represália-exemplo espelhando as profundas divergências político-militares internas então existentes no PAIGC".

Todos sabemos o que se passava em relação a muitos elementos das milícias, ou soldados africanos, aquando da sua captura pelo inimigo durante todo o período da guerra. Estão também bem documentados os fuzilamentos e sevícias que foram exercidas nos anos posteriores à independência sobre ex-militares que tinham servido no Exército colonial.

Mas, quanto aos soldados metropolitanos capturados... algo falta.

Um grande abraco do
José Belo.
___________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14160: Casos: a verdade sobre... (4): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte IV: "Guerra é guerra, meu irmão", dizia-me em 2008 o antigo guerrilheiro Braima Cassamá que reencontrei em Guileje (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P14181: Agenda cultural (371): Os Melech Mechaya, banda de música "klezmer festiva", hoje no CCB, às 21h00, à espera de mais "corpos dançantes"


Página de rosto do Facebook > Melech Mechaya


Lisboa > CCB (Centro Cultural de Belém) > CCBeat > Pequeno Auditório > 23 de janeiro de 2015 > Concerto da banda Melech Mechaya > Apresentação do novo disco "Gente Estranha" > Comentário da banda na página do Facebook: "Lisboa! Que noite maravilhosa! Este mar de sorrisos encheu-nos o coração!"...


1. E hoje, 24 de janeiro, há um espetáculo extra, às 21h00, porque o concerto de ontem, no pequeno Auditório (400 lugares) do CCB, esgotou...


Sessão Extra > Pequeno Auditório | Duração 1h10 | S/ intervalo ! M/6
Preços > Plateia 13,5€ | Laterais 11€


Aqui fica a informação para os amigos do João  Graça, nosso grã-tabanqueiro, e dos fãs da banda de "música klezmer festiva" Melech Mechaya [leia-se: Melek Mekaia, "rei da festa", em hebraico]... 

Como  me dizia ontem um amigo e ilustre psiquiátra,  "isto é que faz bem à saúde, física e mental... Porque o resto é tudo o  que nos faz mal, todas as outras coisas à nossa volta"... E outro amigo, arquiteto, o Zé António Paradela: "E pensar que estes putos eram uma banda de garagem há uns anos atrás!"... De fato, com o seu terceiro disco, "Gente Estranha" (2014), a banda atinge o patamar da maturidade.  O seu entrosamento, talento, criatividade, alegria, improviso, cunplicidade, capacidade de interagir com o público (a ponto de porem as cadeiras a dançar e a pular!), para além do profissionalismo e do domínio técnico, são já notáveis... 


(...)  "Melech Mechaya é uma das bandas portuguesas mais excitantes, com uma expansão notável a nível internacional: meio milhão de visualizações no YouTube, e mais de 250 actuações em dez países. A banda trabalhou com artistas premiados, como Frank London, Mísia, Amélia Muge, Pedro da Silva Martins (Deolinda), e com a companhia de teatro catalã La Fura Dels Baus. Aqui Em Baixo Tudo É Simples (2011), figurou na lista de melhores do ano da revista Blitz, foi nomeado para Melhor Disco Instrumental nos Independent Music Awards e esteve várias semanas nos tops de rádios de Portugal, Espanha e EUA. Gente Estranha, álbum de Março de 2014, atingiu já o 3.º lugar no top iTunes PT de Músicas do Mundo, e o single Gente Estranha o 14.º lugar no Blue Top da MTV.
A não perder o concerto desta «banda que deveria ser contratada, em todo o lado, agora» (John Pheby, fRoots Magazine, Reino Unido)." (...)


2. "Mensagem para o público"  que a banda distribuiu ontem á noite, à entrada para o seu concerto no CCB:

"Caríssimos corpos dançanets: O concerto de hoje é muito importante para nós, e queremos agradecer a vossa presença do fundo do coração. É uma noite especial que queremos registar para a  posteridade, par um dia mostarrmos aos nossos netos as palermices que fizemos e ganharmos uma aura de avós extremamente cool.O concerto será gravado em vídeo [, sete câmaras,] por uma equipa especializada, pelo que desde já pedimos desculpa por qualquer incómodo que daí advenha, e agradecemos a vossa colaboração. Sejam bem vindos. Divirtam-se. Andre Santos [, viola e sanfona], Francisco Caiado [percussão], João da Graça [violino], João Novais [contrabaixo], Miguel Veríssimo [clarinete]".

Página oficial da banda, aqui > Melech Mechaya

__________

Guiné 63/74 - P14180: Convívios (649): Rescaldo do último Encontro da Magnífica Tabanca da Linha levado a efeito no passado dia 22 de Janeiro de 2015 (José Manuel Matos Dinis)

A Magnífica Tabanca da Linha em Convívio
Foto: © Jorge Canhão

1. Em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2015, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71 e actual amanuense da Magnífica Tabanca da Linha), enviou-nos a sua visão do último Encontro desta Tabanca.


Para o Padre Américo não havia rapazes maus, mas dão muito trabalho

Obviamente, esta frase acrescida à consabida expressão do famoso padre, é da minha autoria.
Porque eu também acredito, que não há rapazes maus, embora alguns tenham que ser "sensibilizados" para preservação do grupo. E vem isto a propósito de uma certa leviandade (de alguns) na desconsideração dispensada a quem tem trabalhado, no sentido de desenvolver e cimentar um espírito colectivo bem disposto, colaborante e solidário.

Desta vez, na Linha, verifiquei que houve um desalinho de mais sete pessoas do que as inscritas, para além de mais três "intrusos". Peço ainda ao camarada Graça de Abreu para, futuramente, fazer a sua inscrição junto do Senhor Comandante Rosales, já que eu não recebo os mails que alegadamente me envia, ou então, agradeço que o faça por telefone.

A verdade, é que ninguém, parece, pretende degradar o ambiente, e se os alimentos são adquiridos com dois dias de antecedência, após a minha comunicação, o esticanço afecta inexoravelmente a dose individual, podendo até comprometer tanto nos "hours d'euvres" como nas sobremesas.
Isto parece de fácil entendimento, mas organizar, consome horas de trabalho, com telefonemas, mails, elaboração de listas, com acrescentos e retiradas, mais a luta conjunta que o Senhor Comandante Rosales, eu, e o gerente do restaurante temos mantido pela preservação da qualidade e preços. Note-se, que o Oitavos é agora uma casa de chá, e só serve de restaurante para grupos previamente negociados, e que mexam algum cordelinho.

Assim, peço a vossa compreensão para este desabafo, antes que a Magnífica redunde num "flop" suicida. E se acabar, perderemos oportunidades desejadas pela maioria, para o entretenimento e convívio de veteranos camaradas da Guiné. A tropa só pode ter sucesso, quando não se registam perturbações para as acções desenvolvidas. Em frente, marche!... e a partir de agora agora, que vingue a frase do santo, mas já aviso que sou ateu.

Sobre o encontro, no geral, o pessoal mostrou-se alegre e bem disposto, com esperança sobre a melhoria do nível de vida anunciado, talvez na expectativa de tornar os encontros mais frequentes, e com boa condição física e moral, pois não sobrou nada. Provavelmente, quem comeu melhor, terão sido os "páras" que abifaram lombos. Disseram que foram bem servidos. Registaram-se algumas estreias, e o que eu peço agora aos piriquitos, é que me dêem informação actualizada dos vossos contactos. De entre as estreias, quero aqui referir duas em especial, porque me tocam muito pelo elevado conceito de camaradagem e amizade, porque integraram como eu a CCaç 2679, e para fazer inveja a outros elementos da Companhia, que distantes, não podem comparecer. Trata-se dos excelentíssimos veteranos Eduardo Guerra e Tito Martins (alô Picado, o Guerra já cá anda).

A certa altura, muito atento às circunstâncias e ao Blogue, o Manuel Resende lembrou-me de perguntar ao Marcelino sobre uma questão relacionada com Copá, o que acabou por não acontecer, mas ficará, provavelmente para a próxima semana; a outra é uma ideia de que é reincidente, sobre a eventualidade de organizarmos um Blogue privativo, semelhança do da Tabanca do Centro, através do "face-book"para nos comunicarmos de maneira fácil e informal. Eu não sou "amigo do Face, mas admito vir a sê-lo num ambiente como este proposto. Ora, para o realizarmos, pretende-se avaliar se vale a pena, e teremos que saber quantos são os interessados. Por acaso, um bocado antes, já o Miguel Pessoa tinha feito a mesma sugestão, embora avisando que não se propõe transferir do Centro. Nestes termos, peço a todos que me comuniquem, se sim, se não, estão interessados na ideia proposta.

O tempo não esteve radioso, tem chovido copiosamente nos últimos dias, mas hoje, conforme negociação de última hora com o meu amigo Pedro, registou-se uma acalmia, que incluiu aberturas solarengas.

Nota: as expressões entre aspas têm tradução de fácil acesso no Google.

Em nome do Senhor Comandante Rosales, e no meu próprio, apresento efusivas saudações
JD














Fotos: © Manuel Resende






Fotos: © Miguel Pessoa
____________

OBS:
- Selecção de fotos da responsabilidade do editor
- Aguardam-se as legendas que identifiquem os fotografados
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14133: Convívios (648): O primeiro Encontro de 2015 da Magnífica Tabanca da Linha é já no próximo dia 22 de Janeiro no sítio e com a ementa do costume (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P14179: Efemérides (182): Cerimónia evocativa do 10.º aniversário da inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar de Moledo - Lourinhã, dia 25 de Janeiro de 2015

Monumento aos Combatentes do Ultramar de Moledo - Lourinhã
 
C O N V I T E
 
PRESIDENTE DO NÚCLEO DA LIGA DOS COMBATENTES DE TORRES VEDRAS

Estimados amigos Combatentes, 
Um grupo de antigos combatentes de Moledo - Lourinhã, apoiados pela Liga dos Combatentes (Núcleo de Torres Vedras) vai realizar uma cerimónia evocativa do 10º aniversário da inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar, no dia 25 de Janeiro próximo. 

Nesta cerimónia serão, também, impostas medalhas a antigos combatentes da Guerra do Ultramar. 

A cerimónia será presidida pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lourinhã e conta com a presença das autoridades locais e do senhor Presidente da Direcção Central da Liga dos Combatentes (Tenente-General Chito Rodrigues) e do senhor Tenente-General Jorge Silvério, terá o seguinte programa: 

08.00 - Içar da Bandeira; 
09.45 - concentração junto da igreja paroquial de Moledo; 
10.00 - Missa solene 
11.00 - Concentração junto do monumento para honras militares e imposição de medalhas a antigos combatentes; 
13.00 - almoço convívio 

Junta-te a nós! 

O Presidente da Direcção do Núcleo 
José da Costa Pereira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14128: Efemérides (181): Copá – Janeiro de 1974 (António Rodrigues, ex-sold cond auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 11973/74)

Guiné 63/74 - P14178: Historiografia da presença portuguesa em África (54): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte VI (Mário Vasconcelos): (i) João Said Handem (Gadamael); (ii) Jacinto Maria de Figueiredo Duarte (Bedanda, com filial no Chugué e Cafine); (iii) Michel Ajouz (Bissorã); e (iv) Hipólito da Costa Ribeiro (Fulacunda): compra e venda de mancarra, coconote, óleo de palma, fazendas, miudezas, mercearias...






Fotos: © Mário Vasconcelos (2015). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Continuação da publicação de anúncios de casas comerciais, da Guiné. Reproduzidos, com a devida vénia, da em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).

Trata-se de um aprenda, para o nosso blogue, oferecida pelo nosso camarada Mário Vasconcelos, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, COT 9 e CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, e Cumeré, 1973/74; foto atual à direita] que descobriu um exemplar, já raro, deste edição, no espólio do seu falecido pai.

Dos quatro anúncios que hoje divujgamos dois são de comerciantes; o João Said Handem, estabelecido em Gadamael, e que negociava sobretudo com o milho; e Michel Ajouz, de Bissorã... Será que alguém ainda se lembra deles ?

Os nossos agradecimentos, em nome de todos os camaradas e amigos da Guiné que integram esta Tabanca Grande onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa... (LG)

 ___________________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 23 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14176: Historiografia da presença portuguesa em África (49): Revista de Turismo, jan-fev 1956, número especial dedicado à então província portuguesa da Guiné: anúncios de casas comerciais - Parte V (Mário Vasconcelos): 4 firmas de Bissau: Benjamim Correia (fundada em 1915), NOSOCO (francesa), Augusto Pinto Lda, e C. J. Matoso (talho moderno)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14177: Notas de leitura (673): “O Império da Visão, fotografia no contexto colonial português (1860-1960)”, organização de Filipa Lowndes Vicente, Edições 70, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Janeiro de 2015:

Queridos amigos,
As imagens com guineenses publicadas neste assombroso empreendimento de investigação que dá pelo nome de “O Império da Visão”, com organização de Filipa Lowndes Vicente, faz-nos meditar sobre as expedições científicas e a surpreendente aliança de políticos nacionalistas portugueses com o credo maometano.
A Guiné tinha um peso específico no imaginário imperial: um surpreendente mosaico étnico num espaço tão exíguo; a fidelidade dos Fulas e dos Mandingas depois das operações de pacificação, que se prorrogou até à independência; e o facto de ter sido a primeira colónia europeia dos tempos modernos. Isto para já não falar do sentimento associado ao derramamento de sangue, tudo custou sangue, dor e doença, basta pensar na construção da Fortaleza de S. José de Bissau.

Um abraço do
Mário


Fotografia no contexto colonial português: o caso da Guiné(*)

Beja Santos

“O Império da Visão, fotografia no contexto colonial português (1860-1960)”, organização de Filipa Lowndes Vicente, Edições 70, 2014, é um extraordinário empreendimento historiográfico que coloca a imagem fotográfica em lugar cimeiro das fontes de investigação no nosso tempo. Como se escreve na contracapa: “A fotografia não foi uma mera ilustração das colónias. A fotografia criou experiências coloniais. Os estudos recentes sobre colonialismo reconhecem como, ao lado da documentação escrita, as imagens são determinantes para se compreenderem e estudarem os impérios. É por isso que esta aventura visual sobre o império português permite um ousado entrelaçamento de olhares: a fotografia como um instrumento inseparável dos vários saberes científicos que usaram as colónias como laboratório, da história natural com a antropologia ou à medicina; a fotografia como prova de violência ou de intimidação, afirmando o poder durante as guerras coloniais; a fotografia apropriada pelos sujeitos colonizados, mas também por europeus anticolonialistas, enquanto forma de resistência, no forjar de identidades nacionais”.

Falámos anteriormente da leitura da fotografia vista por pessoas que se combateram durante uma terrível guerra como foi a da Guiné: gente do PAIGC e gente que se pôs debaixo da bandeira portuguesa. Agora pretendem-se duas incursões bem distintas, olhar para fotografias da missão antropológica e etnológica da Guiné (1946-1947) e apreciar imagens de guineenses ou de muçulmanos que passaram por Portugal a pretexto de exposições coloniais, de prémios ou de viagens de muçulmanos a Meca.

O professor Mendes Corrêa era um dos mentores de uma antropologia que hoje está totalmente desacreditada. Ele escreveu um livro que teve sucesso no tempo, Raças do Império, que foi divulgado pela Editora Portucalense em fascículos colecionáveis, num total de 625 páginas, entre 1943 e 1945. Mendes Corrêa acreditava no caráter distintivo das raças e não escondia a sua convicção na superioridade dos brancos. Ele chega à Guiné num período científico febricitante: a missão Geo-Hidrográfica, Zoológica, Antropológica e Etnológica da Guiné, entre 1944 e 1946. Bissau acolhera a Semana do Império, em 1943, o V Centenário dos Descobrimentos da Guiné tiveram o seu epicentro em Lisboa mas comemoraram-se com distinção em Bissau, em 1946; a 2.ª Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, em 1947, são algumas dessas manifestações. Isto para significar que quando Mendes Corrêa chega à Guiné havia investigação e divulgação científica, contactos com organismos internacionais, e aspirava-se à constituição do Museu da Guiné Portuguesa. Da sua viagem à Guiné publicou-se um livro Uma jornada científica na Guiné Portuguesa, onde ele fala do estudo das etnias locais, recorreu a equipamento antropométrico transportado de Lisboa. O cientista pretendia realizar investigações de Pré-História, também. O resultado final foram clichés ilustrando indivíduos, masculinos e femininos, em duas poses invariáveis (frontal e de perfil), imagens estáticas. Como observa o autor do artigo, estas fotografias assumem, perigosamente, uma dimensão cenográfica passível de interpretações erróneas, o que limita a leitura do que efetivamente se pretendia captar.

Missão de Mendes Corrêa em Canhabaque, Bijagós, 1946

Os guineenses começam por ser acontecimento noticiado na I Exposição Colonial do Porto, em 1934. Aparecerão no Parque Eduardo VII poucos anos depois e desfilarão em 1947 na avenida da Liberdade no cortejo dos municípios, surgem escoltando o “Carro do Império”. O régulo Baró Baldé dirigiu-se ao Ministro das Colónias, capitão Teófilo Duarte, em nome dos régulos e teria dito: “Somos pretos da Guiné mas bons portugueses” e o Ministro das Colónias concluiu estar “em presença dos representantes das elites negras da Guiné, dos homens que são auxiliares preciosos da nossa tarefa civilizadora”. As elites negras a que o ministro aludia eram Fulas e Mandingas, procurava-se no fundo de uma aliança com os amigos dos portugueses que eram muçulmanos, outros políticos já tinham referido que os muçulmanos negros possuíam uma certa superioridade relativamente aos outros negros. Em 28 de Abril de 1953, Salazar concede uma receção aos muçulmanos da Guiné. E o jornal O Século escrevia que “Salazar apertou a mão e falou a todos eles, interessando-se por conhecer os seus nomes e indagando acerca das localidades onde desempenham as suas funções de direção de importantes aglomerados populacionais”.

Salazar cumprimenta régulos da Guiné em 28 de Abril de 1953

O autor do artigo refere que desde finais dos anos de 1950 que a política do Estado colonial se orientava para os muçulmanos da Guiné e assentava em duas práticas de “conquista das populações”: o financiamento da construção e da restauração de locais de culto e o patrocínio de peregrinações a Meca. A cobertura oficial destas últimas teve início em 1959 e até 1972 elas realizaram-se de forma regular todos os anos. Não há, evidentemente, ilusões dos intuitos de apoio a estas peregrinações, havia que mostrar ao mundo a realidade ecuménica da Guiné portuguesa. Estas peregrinações tinham um caráter turístico, havia que criar uma imagem de uma certa portugalidade: “Em 15 de Janeiro de 1971 partiu para Meca, via Lisboa, um grupo de 38 muçulmanos que ali vão em peregrinação. O grupo voltará a Lisboa em meados de Fevereiro, visitando na Metrópole os locais de maior interesse histórico e turístico, a convite da Agência Geral do Ultramar”.

Peregrinos guineenses a Meca junto da Torre de Belém, 1970

A lógica imperial há muito que firmara o conceito, de simbiose identitária que foi igualmente uma das retóricas desenvolvidas na nossa preparação militar, parecia um facto consumado: “Do Minho a Timor, homens de raças e crenças diversas comungam o mesmo sentimento de júbilo nacional, todos conscientes de que é do esforço comum que se obtém o êxito nacional”. A imagem da Guiné pesava muito: a pacificação e o sentido da ordem e daí o prémio em se ter transformado numa colónia modelo; a carga de exotismo, ver aqueles régulos como cavaleiros aprumados, na dianteira do Carro do Império, no Cortejo dos Munícipios, empunhando espadas erguidas na vertical. E aliança tácita que se estabelecerá entre o poder político, estruturalmente católico, e as etnias de pendor islâmico, tratava-se de uma aliança crucial, uma imagem de propaganda que se tinha que dar ao mundo naqueles tempos em que Portugal estava orgulhosamente só.
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 19 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14163: Notas de leitura (671): “O Império da Visão, fotografia no contexto colonial português (1860-1960)”, com organização de Filipa Lowndes Vicente, Edições 70, 2014 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14166: Notas de leitura (672): Do livro "Família Coelho", edição de autor, 2014, de José Eduardo Reis Oliveira (JERO) (4): Como era Alcobaça nos tempos dos primeiros Coelhos