sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21434: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Outubro de 2020:

Queridos amigos,
Paulo Guilherme vai arrumando as suas memórias da Guiné, tem ainda fotografias, foi recolhendo ao longo dos anos correspondência avulsa, metodicamente envia a Annette episódios que ele classifica como mais relevantes, mês a mês, estamos em janeiro de 1969. Aqui e acolá, manda a efabulação dos acontecimentos, surgem lacunas, é o caso do Natal de Missirá de 1968, marcou-o profundamente aquela festa, irrepetível pelo que ele conseguiu arregimentar de ajudas, ninguém se negou enviar-lhe as vitualhas da Consoada, houve cabrito para a população, pão fresco, arroz feito à moda portuguesa, com base em cebola frita, alho e calda de tomate, um regalo. Mas Paulo quis contar pessoalmente a Annette as alegrias daqueles momentos, perdeu-se esse episódio o que ganhou a comunicação destes cinquentões arrulhados. O que é mais surpreendente é como Annette vai gravando na sua própria pele o passado remoto do seu amoroso, ela própria estuda a História de Portugal, vive eufórica à espera da chegada de Paulo, nunca o presente foi tão intenso à custa da descoberta de um passado, para ela totalmente improvável, um ano antes. Assim se vai fundamentando o milagre da Rua do Eclipse, para aqui converge uma clamorosa paixão, aqui aportam documentos de uma guerra que ocorreu num pequeno ponto da chamada Alta Guiné, aqui se configura e molda o futuro promissor de dois amantes que aproveitaram um acaso para ressuscitar as suas vidas.

Um abraço do
Mário


Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (22): A funda que arremessa para o fundo da memória


Mário Beja Santos

Mon amoureux, Estou felicíssima porque tu chegas dentro de dois dias, felizmente que as minhas reuniões fora de Bruxelas coincidem com a tua vinda, terei reuniões em Lille, amanhã, e em Eindhoven logo a seguir, sigo diretamente de Lille para lá, a reunião acaba por volta das quatro horas, estarei em Zavantem à hora que indicas. Entretanto, vou conhecendo pormenores da tua família, quanto adorei a história da tua mãe, o falecimento da tua avó de sangue com bilharziose dois meses depois da tua mãe nascer, o teu avô entregou a sua custódia aos padrinhos de batismo. Tocou-me muito aquele pormenor de ele abrir um lenço e mostrar umas jóias que eram da tua avó Amália, seria um agradecimento, havia ainda outras duas filhas para que era preciso descobrir acolhimento e a tua nova avó respondeu-lhe: “Compadre, a partir de hoje a Gigi é nossa filha, a filha que eu não pude gerar e que vai ser a candeia dos meus olhos. Reparta essas jóias por quem vai receber a Fernanda e a Lídia, a Gigi terá a seu tempo todas as joias que os novos pais lhe puderem oferecer”. Mandaste muito mais fotografias da tua mãe, tu não sabes se estas imagens foram tiradas em Malanje, N’dalatando (Vila Salazar) ou mesmo Lucala, de que tu guardas uma bandeira em seda, datada de 13 de março de 1913 e referente à constituição da Coletividade Recreativa e Musical de Lucala, vi a fotografia, que pormenor de trabalhos na seda! Vi com a lupa que a primeira imagem é referente ao Natal de 1916, tem a tua mãe dois anos, sorridente, com um ar maroto abraçada pela sua nova mãe, por detrás da Dona Ângela, visivelmente mais velho, o Sr. Costa. Meu Deus, como era possível aquelas roupagens em clima tropical húmido! A segunda fotografia, tu não vais acreditar, pareceu-me um cenário de estúdio, como sabes melhor do que eu, os fotógrafos concebiam arranjos de estúdio espantosos com carros e aviões, cadeiras estofadas, imitações de fachadas de casas, mas estive a ver ao pormenor, acredito que a imagem foi tirada com paisagem natural, abraça a tua mãe a Tia Lucília, a irmã da tua Avó Ângela, que ternura, como a força do amor pode superar a voz do sangue. Obrigado pela lembrança, meu adorado Paulo, indo a este passado, e sabendo como tu respeitas tanto, posso perceber outras coisas que reforçam o meu sentimento por ti.

A propósito, tu perguntaste-me o que gostaria de visitar em Lisboa, nas férias do Natal. Imagina tu que fui encontrar numa das minhas estantes o catálogo de uma exposição que visitei em Antuérpia salvo erro em outubro de 1991, tinha o nome em português Feitorias, a Arte em Portugal no Tempo dos Grandes Descobrimentos (fins do século XIV até 1548), fiquei deslumbrada, até descobri elementos da História anterior à Bélgica que desconhecia completamente. Os portugueses instalaram-se primeiramente em Bruges e daqui partiram para a Antuérpia, precisavam de comerciar produtos portugueses e africanos e levar mercadorias para o comércio de escravos. Fiquei impressionada com o intercâmbio cultural que se realizou, feliz por saber que a pintura flamenga da mais alta qualidade estava nos vossos museus, como Gérard David, Hans Memling, Quentin Metsys e até o meu tão apreciado Albrecht Dürer, pois gostaria muito de ver o quadro dele alusivo a São Jerónimo. Uma noite destas, pude ler com cuidado o catálogo da sua edição francesa, vários historiadores debruçam-se sobre as condições excecionais que os portugueses encontraram para a sua aventura marítima quando a demais Europa vivia em permanente conflito, o vosso sistema de alianças que de vários ziguezagues encontrou o seu eixo nos Ingleses, e li apaixonadamente o mundo científico que fundamentou a vossa aventura náutica e até adormecer contemplei com profunda admiração todas aquelas obras de arte de várias proveniências adquiridas com o comércio euro-africano e euro-asiático. Nesta exposição das Feitorias não vieram duas obras-primas da Arte Portuguesa, os Painéis de Nuno Gonçalves e a Custódia de Belém, atribuída esta a um dos vossos maiores escritores, Gil Vicente. Pois gostaria muito, se formos ao Museu Nacional de Arte Antiga, de as visitar.

São Jerónimo, pintado por Albrecht Dürer, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

Chegaram os documentos e imagens referentes a janeiro de 1969, que acontecimentos tu descreves!
Primeiro, regressavam vocês a Missirá e apareceu na estrada um guineense com o pavor estampado no rosto, à cautela mandaste parar a coluna, não se tratasse de um expediente para uma emboscada, levaram o homem para Missirá e ele contou que houvera um ataque a embarcações civis à entrada do Geba estreito, tu não sabias de nada ainda, nesse dia enviaras um furriel a Mato de Cão, receberas instruções para ires a Bafatá falar com o Comandante do Agrupamento, ele queria a tua opinião quanto à eventualidade de se criar uma tabanca em autodefesa entre Missirá e Finete, em Canturé, apoiavas a ideia desde que entregassem um pelotão de milícia e dessem armas à população, reforçarias assim o sistema defensivo, mas em termos logísticos já não era possível, estava em marcha a criação de um novo aldeamento perto de Bambadinca, tu dizes chamar-se Nhabijões, não havia meios para Canturé. Este homem espavorido fora apanhado à mão quando se atirara à água, em desespero desatou a correr para dentro do mato e assim apanhou a estrada, todo esfarrapado e sempre a olhar para trás, com medo de possíveis seguidores.

Segundo, a tal viagem que fizeste de avioneta sobrevoando o Cuor e regulados limítrofes, a tua estupefação quando viste terrenos cultivados na região de Gambiel, a cerca de quatro quilómetros em linha reta de Missirá, nesta altura, e era essa a grande surpresa, tu já percorreras todas aquelas florestas, daí a tua surpresa quando lá do alto avistaste uma miríade de caminhos que saíam de Madina em direção a Belel e para mais longe e que derivavam para os tais terrenos cultivados no outro lado do rio Gambiel. Mal refeito do choque, fizeste um patrulhamento até Gambiel, que na carta que acabo de receber tu tratas como um dos locais mais belos do mundo, um verdadeiro Éden tropical, altíssimas palmeiras de Samatra como que vergadas sobre as bermas do rio, numa grande extensão, pensaste então que tinha sido obra do tal cartógrafo, Armando Cortesão, que por ali andara umas boas décadas antes. E vocês meteram-se pela mata para explorar do lado de cá onde é que havia terrenos lavrados. É nesse afã de quererem passar despercebidos, confiantes no sombreado da floresta impenetrável que, como trovões, ouviu-se o silvo de três morteiradas, um estrondo medonho, afinal vocês tinham sido avistados, os guerrilheiros procuravam intimidar. Tu ripostaste também com fogo de morteiro e dois destemidos bazuqueiros teus avançaram para terreno aberto, completamente destemidos, um verdadeiro combate nas duas margens do rio Gambiel. É nisto que uma morteirada estoira perto desses dois bazuqueiros, levantando rios de lama mas igualmente fazendo erguer aqueles dois homens, teme-se o pior, um deles levanta-se prontamente e pega no seu armamento, outro parece inanimado, geme baixinho, leva-se o ferido para dentro da segurança da mata, tem as pernas estilhaçadas, presume-se haver gravidade, findou a patrulha, regressa-se a Missirá, o bazuqueiro de nome Abdulai Djaló, conhecido entre vós pelo nome de Campino, e evacuado para Bissau, regressará uma semana depois, com as duas pernas entrapadas, tinham sido felizmente estilhaços superficiais, no mês seguinte, escreves nos teus apontamentos, este Campino viverá a teu lado, hora a hora, a agonia de uma operação que teve contornos horríveis, mesmo à entrada de Madina estoirou uma armadilha que matou e sinistrou e irá obrigar a uma retirada que teve aspetos catastróficos, onde não faltou um brutal ataque de abelhas, entre tanto sofrimento, tu prometes contar em breve o que aconteceu.

Terceiro, descobriste os efeitos do rancor, a canalhice de uma denúncia, um pequeno grupo de milícias de Finete, seguramente apoiado pelo comandante, o pedante Bazilo Soncó, que só vive para se pavonear, com a sua farda imaculada, que houve as tuas sarabandas, pois tu exiges-lhe que ande no mato ao lado dos seus homens, coisa que ele não faz, entregou uma carta ao comandante de Bambadinca falando nos teus maus-tratos, que só tens olhos para Missirá e desprezas Finete, a carta era tão mal engendrada que o comandante te chamou e te pediu para descobrires por onde começava calúnia tão ruim, enquanto conversavas com o comandante já uma comitiva de Finete estava à porta para denunciar o golpe baixo dos intriguistas, tu foste a Finete e tudo se resolveu num ápice, não era possível expulsar Bazilo nem os seus poucos sequazes, a intriga morreu no choco e a malandragem neutralizada. E tu concluíste que as insidias não têm fronteiras e os gestos miseráveis não escolhem a cor da pele.

Obrigado por estes documentos, meu adorado Paulo, contribuem para te conhecer melhor, para estar cada vez mais próxima de ti. Tenho uma surpresa à tua espera, uma surpreendente exposição do Palácio das Belas-Artes, prepara-te para ver peças de uma qualidade insuperável da cerâmica chinesa. Vem depressa, vem com a tua fogosidade, aquele ímpeto que me sacia a alma e a carne, sinto-me dona do mundo com este privilégio do teu amor. Bien à toi, Annette.

(continua)

O esplendor do Geba
Uma escultura Bijagó, entre a alegria da festa e a devoção animista
Aos aviadores italianos, falecidos num desastre aéreo, nos anos 1930, Bolama
Monumento ao presidente Ulysses Grant, Bolama (monumento desaparecido)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21409: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (21): A funda que arremessa para o fundo da memória

Guiné 61/74 - P21433 - Os nossos capelães (10): Frei José António Correia Pereira, OFM, natural de Ponte de Lima, ex-alf mil capelão, BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)


Foto nº 1 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui sentado, na primeira fila: é o terceiro a contar da esquerda para a direita; o primeiro da ponta é o nosso camarada Manuel Oliveira Pereira. Os restantes são amigos, ex-colegas e ex-camaradas.


Foto nº 2 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui de costas à direita.   O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira foi um dos membros da comissão organizadora do evento: aparece aqui na foto, junto ao altar, a dirigir-lhe a palavra.


Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora;

Date: sexta, 9/10/2020 à(s) 03:46
Subject: Post 21432 - Capelães Militares 

Meu caro Luis, as minhas saudações.

Aqui vai uma achega, ao vosso pedido. (*)

José António Correia Pereira (nº 84 da lista publicada no poste P19023) (**),  meu ex-camarada, amigo e conterrâneo,  foi Capelão Militar  na Guiné, entre Março de 72 a Junho de 1974, integrado no BCAÇ 3884, sediado em Bafatá ( com companhias de quadrícula em Geba, Contuboel, Fajonquito, Sare Bacar). 

Regressado à metrópole, novas missões lhe são confiadas pela sua Ordem: professor, tutor e missionário, em  Moçambique. 

Novamente em Portugal, é nomeado responsável pela feitura de todas as publicações e livros da sua congregação  (OFM). 

Homem de grande cultura e intelectualidade, é autor de diversos livros e tradutor de várias obras de lingua alemã. Foi igualmente responsável das paróquias de Vila Real e Penafiel.

O Zé António, tal como eu, natural de Ponte de Lima, comemorou no ano transacto, o 50° aniversário de vida sacerdotal. Algumas centenas de pessoas da comunidade onde nasceu, aproveitaram o momento para o homenagear a que se juntaram muitos dos seus amigos, familiares, paroquianos, antigos e velhinhos professores, autoridades civis, religiosas e, também, uma mão cheia de ex-camaradas.

O Padre Zé António, continua o mesmo Homem. Um ser humano bom, calmo, ponderado e sempre com uma palavra de conforto e esperança.

Presentemente, é o responsável pela casa da Ordem Franciscana em Leça da Palmeira. Matosinhos.

Abraço
Manuel Oliveira Pereira
 
PS. Junto duas fotografias, cujos registos correspondem ao dia em se comemorou o 50° aniversário de "missa nova". Na primeira o Pe. Zé António é o terceiro, em primeiro plano,  a contar da esquerda. Os outros, somos nós os ex-camaradas.


2. Comentário do editor LG:

Informação adicional sobre o Frei José António Correia Pereira,  a quem desde já convidamos a sentar-se à sombra do fraterno poilão da Tabanca Grande, apadrinhado pelo Manuel Oliveira Pereira (, estando disponível o lugar nº 820):

(i) sacerdote franciscano, é natural de Gaifar, concelho de Ponte do Lima;

(ii) tirou a licenciatura em teologia pela Faculdade de Teologia de Paderborn, Alemanha, e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, Braga;

(iii) viveu como missionário na Guiné-Bissau e em Moçambique onde lecionou filosofia no Seminário interdiocesano da Matola;

(iv) foi diretor do centro de Franciscanismo durante três anos e é diretor da Editorial Franciscana há mais de quinze anos.


(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

 Vd. postes anteriores:

17 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19021: Os nossos capelães (8): Adelino Apolinário da Silva Gouveia, do BCAÇ 506: "Os filhos da p... matam-me!"... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)

17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13577: Os nossos capelães (3): O capelão do BCAÇ 619 ia, de Catió, ao Cachil dizer missa... Creio que era Pinho de apelido, e tinha a patente de capitão (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

Guiné 61/74 - P21432: Parabéns a você (1877): José Carmino Azevedo, ex-Soldado CAR do BCAV 2868 (Guiné, 1969/71) e Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)


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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Outubto de 2020 > Guiné 61/74 - P21428: Parabéns a você (1876): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21431: FAP (121): Cor pilav Gualdino Moura Pinto, comandante da BA 12 (1971/73), já falecido: "um grande líder" (Victor Barata, fundador e editor do blogue Especialistas da Base Aérea 12, e membro sénior da nossa Tabanca Grande)


Guiné > Bissau > Bissalanca > B 12 > 1973 > Esta foto recorda um dia de aniversário do Clube de Especialistas, em Bissalanca, tendo sido convidado o comando da BA 12 (1971/73), o  cor pilav Gualdino Moura Pinto (à esqureda) e o ten cor pilav José Lemos Ferreira (à direita)

Foto (e legenda): © Victor Barata (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Victor Barata: (i) foi especialista de Instrumentos de Bordo, 
esteve na BA 12, Bissalanca (1971/73), na linha da frente das DO 27"; 
(ii) terrou em tudo o que era bocado de pista;  
(iii) membro da Tabanca Grande desde maio de 2006.

1. Com a devida vénia, reproduzimos a seguir um excerto de um poste do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, da autoria do nosso amigo e camarada Victor Barata, membro  da nossa Tabanca Grande da primeira hora (com mais de três dezenas de referências), fundador e editor daquele blogue:

Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012 > Voo 2730:  O Grande Comandante  Moura Pinto:


(...) Companheiros, há personagens na nossa vida que pela sua conduta, e pelas mais variadas acções, nos marcam para sempre.

(...) Pois bem, vou falar do Coronel Moura Pinto, como um verdadeiro líder, homem de poucas falas, alto, magro, com grandes qualidades humanas. (*)

Remonta ao ano de 1973, quando entre Março e Abril, a nossa Força Aérea perdeu Grandes Homens, companheiros do dia a dia dia que lutavam pela mesma causa que nós mas que o destino quis que partissem primeiro: ten cor pilav Brito, major pilav  Montovani, furriéis mil pil Baltazar e Ferreira. 

A instabilidade estava instalada, o receio, principalmente em quem operava com aeronaves de pequenas velocidades, apoderou-se, por se desconhecer o tipo de arma utilizada pelo PAIGC para abater os nossos aviões.

É nestas ocasiões que se distinguem os grandes Comandantes: o coronel Moura Pinto mandou reunir na sala de operações os 42 pilotos presentes na Base e, com a serenidade que lhe era virtude, foi dizendo:

"Havia garantia de que a arma utilizada pelos guerrilheiros para abater as nossas aeronaves era um míssil”.

Em seguida afirmou ter duas certezas, uma, fruto das suas convicções pessoais, outra, resultado da sua experiência de oficial: a primeira era muito subjectiva e resumia-se numa frase: Só é atingido pelo míssil quem tiver esse destino traçado. A segunda, também se dizia em poucas palavras: 

"Ninguém pode ter medo do míssil, porque o piloto que vai voar com medo está mais vulnerável e acaba por ser atingido."

Depois para reforçar a sua argumentação linear, recordou o ditado latino: "A sorte protege os audazes".

Estas afirmações no ambiente tenso que pairava na sala, tiveram um impacto extraordinário. Gerou-se uma descompressão colectiva, embora estivessem todos ainda apreensivos. Faltava na sala um único piloto, Furriel Santos, por se encontrar de serviço ás operações.

Nesse momento a porta do fundo da sala abriu-se e entrou o piloto em falta, pedindo licença para falar. Toda a assembleia virou a cabeça em sua direcção. O comandante Moura Pinto autorizou-o a falar. Com desenvoltura,o furriel Santos informou ter recebido um pedido de evacuação de feridos graves de um Batalhão do Exército que tinha sido atacado. Vinha pedir instruções. 

Diz-lhe o Coronel Moura Pinto:

"Responda que se vai fazer a evacuação. Mande preparar o helicóptero. Quem faz essa evacuação sou eu".

Voltou-se para a assistência e perguntou: 

"Meus senhores quem quer colocar alguma questão? "

Reinou o silêncio entre toda a gente; 

"Se não têm perguntas, eu já disse tudo, e, como há  coisas mais importantes a fazer, vou-me embora." (#)

Foi fazer a evacuação.

O desfecho desta reunião teve impacto fortíssimo no moral dos pilotos, o ânimo passou a falar mais alto, abafando os últimos resquícios do medo natural.

Descanse em paz, meu COMANDANTE! (**)
Victor Barata
Melec/Av Inst

(#) Nota: Esta passagem foi retirada do livro "A Força Aérea na Guerra de África: Angola, Guiné e Moçambique 1961-1974",  de autoria de Luís Alves de Fraga, ,Coronel da FAP na reserva (Editora Prefácio, 2004, 158 pp.).

Postado por Especialistas da BA 12 às 22:29:00

[Revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG]

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Guiné 61/74 - P21430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (75): procuro mais notas biográficas sobre o cor pilav Gualdino Moura Pinto, dado erradamente como morto no acidente do avião da TAP, TP425, no Funchal, em 19/11/1977 (Santiago Garrido, jornalista, "La Voz de Galicia")



Gualdino Moura Pinto, cor pilav, 
Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, 
Comandante da Base Aérea nº 12, em 1973
(Fotografia de Arnaldo Sousa, quando se despediu da Guiné
 como Comandante da Zona Aérea e Piloto, junto de pessoal 
que compunha a linha da frente dos Fiat... Com a devida vénia...) (*)


1. Mensagem de Santiago Garrido Rial, jornalista de "La Voz de Galicia":


De: Santiago Garrido Rial <santiago.garrido@lavoz.es>
Date: terça, 22/09/2020 à(s) 18:34
Subject: Galicia 

Estimado Luís

Soy Santiago Garrido, periodista de La Voz de Galicia. Le escribo en castellano porque lamentablemente no sé hacerlo en portugués (sí en gallego, si le resulta más cómodo). En caso de no entender algunas palabras o frases, se las traduciré.

He llegado hasta su página buscando información sobre el comandante Gualdino Moura Pinto, del que leí un artículo sobre su fallecimiento en el accidente de la TAP en Funchal en 1977. Y muchos más de sus numerosos méritos.

Cuando era joven, con apenas 25 años, en 1950, tuvo que realizar un aterrizaje forzoso en una finca de labranza de Ponteceso (Provincia de A Coruña). Fue un hecho muy comentado, ya que no le pasó nada, ni a él, ni al avión. Había salido de Bragança y, por diversas circunstancias, llegó a este punto de Galicia.

Me gustaría reconstruír algún dato sobre él, tal vez hablando con su hijo, que veo que también es aviador en el Ejército del Aire. O alguna foto... No sé si usted podría ayudarme.

En todo caso, muchas gracias por su atención. (**)

Santiago Garrido Rial
La Voz de Galicia, Redacción Carballo
981704210, 606 968 683
@santiagogrial




Título de caixa alta do Diário de Lisboa, de 21 de novembro de 1977. Cortesia de Fundação Mário Soares, Casa Comum, Documentos Ruella Ramos.

Citação:
(1977), "Diário de Lisboa", nº 19511, Ano 57, Segunda, 21 de Novembro de 1977, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_22565 (2020-10-7)

2. Resposta do editor Luís Graça:

Sugerimos ao Santiago Garrido Rial que explore o blogue Especialistas da Base Aérea 12 Guiné 65/74 onde há mais informação sobre o cor pilav Gualdino Moura Pinto, que era Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, e Comandante da Base Aérea nº 12, Bissalanca, em 1973.

No nosso blogue não temos muito mais informação sobre ele. Pode ser que algum dos nossos leitores possa ajudar. Boa sorte nas pesquisas e nos contactos. Sabemos que, em 2016, o filho, António Gualdino Ventura Moura Pinto, era Coronel de Infantaria, mas de quem, infelizmente, não temos o contacto.

3. Correção à nossa inf0rmação inicial:

O cor pilav Moura Pinto não morreu nesse acidente aéreo, mas sim de doença, em data, que não podemos precisar. 

Houve uma lamentável troca de identidades, numa notícica dada pela APTCA- Associação do Pessoal Tripulação e Cabine, ao referir a Homenagem aos Tripulantes e Passageiros vitimados no acidente da TAP, 30 anos após, por iniciativa do SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil... Na lista dos tripulantes mortos vinha o "técnico de voo" Gualdino Maria Moura Pinto... Ora o técnico de voo (TV) que morreu no Funchal, era de apelido Encarnação. Este assunto está, de há muito,  esclarecido no blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74.


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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 9 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21242: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (74): Canábis - II (e última) Parte : Efeitos psicoativos, imediatos e a longo prazo

Guiné 61/74 - P21429: Brunhoso há 50 anos (14): A Despensa - Adega do Zé (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Adega do Zé de Remondes

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", com data de 6 de Outubro de 2020 com mais uma memória de Brunhoso:

No tempo das candeias quase todos os bens alimentares se guardavam nas despensas que pela sua situação um pouco abaixo do rés-do-chão, tinham uma temperatura amena, quer no inverno quer no verão, propicia à sua conservação.

Lembro-me que os grandes pães de trigo e de centeio, cozidos no forno de lenha pela minha mãe, se conservavam por muito tempo, quinze dias. A maioria dos outros produtos conservavam-se durante um ano, o melhor prazo para os lavradores já que as colheitas eram anuais. 

O vinho guardado em pipas de carvalho durava um ano, por vezes começava a "atirar" ou envinagrar pois os lavradores não lhe punham conservantes ou por não os conhecerem ou porque bebendo-o todos os dias não se davam conta da acidez que aumentava gradualmente.

O presunto dos porcos caseiros, depois de curado, duraria muitos anos mas os porcos eram mortos à medida da necessidade anual de cada família. O presunto que combina bem com o vinho, tal como ele, guardado, numa boa adega, em condições ideais, durante alguns anos melhora a qualidade. 
 
O toucinho, a parte mais gorda e menos nobre do porco atingia o seu melhor paladar na transição do Verão para o Outono, no tempo das sementeiras. O azeite era lá guardado em grandes talhas de barro ou de cimento, para consumo da casa, o excedente era vendido, com mais de um ano ficava velho e podia ganhar ranço. 

Os salpicões e as linguiças, depois de passarem algum tempo no fumeiro, eram guardadas em talhas de barro com azeite.

Na despensa guardavam-se ainda as batatas e as cebolas, e guindas penduradas em cacho.  O queijo era guardado em armários de rede fina, por causa das moscas e mosquitos.  A "gradura",  casulas, feijões, o grão de bico, os "chicharros", ou feijão frade também tinham lá lugar pendurados em sacos ou dentro de arcas de madeira. 

As castanhas eram igualmente guardadas em talhas de barro e conservavam-se sãs até ao Verão.

Para alguns lavradores, a despensa era também um local de convívio ocasional para onde convidavam alguns amigos a beber um copo acompanhado com pão, azeitonas, cebola ou até mesmo presunto.

Até à instalação da eletricidade nessas aldeias, já tarde, no século anterior, as dispensas, também assim chamadas, eram indispensáveis, passe o pleonasmo, depois continuaram a ser utilizadas por muitos, pois sabiam que não havia melhor frigorífico, embora tenham adquirido também um eléctrico para alimentos mais frescos.

Em Brunhoso na adega ou despensa do Zé, tive convívios agradáveis com bons acepipes caseiros. Porém as fotografias que acompanham este texto, foram tiradas na adega do Zé de Remondes que tem também sempre bom vinho, presunto, e outros petiscos para os amigos.

Só quem já foi a uma adega destas, um pouco abaixo do nível do chão, e longe na idade e longe da cidade, beber dois copos de vinho e petiscar, sabe avaliar quanto é bom reviver o passado.

As fotos retratam em parte as despensas do passado, pois embora o espaço seja o mesmo, agora há uma miscelânea de coisas antigas e modernas. 

Antigamente não havia plásticos de qualquer feitio, para acondicionar os produtos havia recipientes de barro, madeira, vime e alguns de cimento.

A funcionar há dezenas de anos como adega-despensa, agora para o José é também um museu onde guarda objetos caseiros e ferramentas agrícolas que herdou dos pais e avós e um espaço para arrumar outros bens mais actuais.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18294: Brunhoso há 50 anos (13): Viagens de comboio ao Porto (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)

Guiné 61/74 - P21428: Parabéns a você (1876): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21413: Parabéns a você (1875): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont Armas Pesadas da CART 2732 (Guiné, 1970/72)

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21427: Historiografia da presença portuguesa em África (234): “África Ocidental, notícias e considerações”, por Francisco Travassos Valdez; impressas por ordem do Ministério da Marinha e Ultramar, 1864 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Julho de 2017:

Queridos amigos,
Dentre os relatos de viagem mais impressivos, ao longo do século XIX, avulta, pela qualidade de observação e o rigor de análise a narrativa deste viajante qualificado que conhecia algumas parcelas o império. Vem confirmar os preciosos documentos de Honório Pereira Barreto e o abandono a que tínhamos votado a Senegâmbia; fica um claro registo do pouco espaço ocupado, dos negócios efetuados e até das dificuldades previsíveis. Não se esqueça que o livro é dedicado ao rei D. Luís I, o funcionário pretende ir mais além e sensibilizar a Coroa para a triste situação da Senegâmbia, que só em 1879 será desafetada de Cabo Verde, e terá então governador e capital em Bolama.

Um abraço do
Mário


Francisco Travassos Valdez e a Senegâmbia (1)

Beja Santos

O
livro intitula-se “África Ocidental, notícias e considerações”, por Francisco Travassos Valdez, impressas por ordem do ministério da Marinha e Ultramar, 1864. Primeiramente, a publicação surgiu em Londres com o título "Six years of a traveller’s in western Africa, 1861". Francisco Travassos Valdez tem um curioso currículo: ex-árbitro das comissões mistas luso-britânicas e do Cabo da Boa Esperança; ex-Secretário da Comissão Especial de Colonização e Trabalho Indígena das Províncias Ultramarinas; Secretário do Governo da Província de Timor.

O volume é apresentado como 1.º, abarca as seguintes descrições: Porto Santo e Madeira; Canárias; Cabo Verde (ilhas de Barlavento), Cabo Verde (ilhas de Sotavento); Senegal e Senegâmbia (Guiné Portuguesa). Nesta recensão trata-se exclusivamente do que o viajante viu e sentiu na Senegâmbia, mais tarde reportaremos o que do Senegal tem interesse relevante para a Guiné do século XIX. Falando da extensão do território, faz um registo singular: “Desde o Cabo Roxo começa a notar-se diferença na cor das águas, passando de um azul carregado a um verde-claro ou amarelo turvo, que se conserva em todo o litoral. São estes mares junto à costa de difícil navegação pelos numerosos parcéis (escolhos recifes), por diversas correntes de sensível velocidade, pela sujeição das marés nas entradas dos canais e pela irregularidade dos ventos; apesar destas circunstâncias, há alguns práticos tão experimentados, que tendo vento ou maré, navegam a qualquer hora da noite, e por escuro que seja, e com o poderoso auxílio da sonda marcam precisamente a posição relativa do navio em um dado momento”.

É um viajante que não escamoteia o que lhe vai mexendo nos sentidos, o barco aproxima-se e nesta aproximação dá-se um maravilhamento que ele passa a escrito: “Quando principiamos a avistar as viçosas ilhas do arquipélago e a costa da Guiné, notamos quanto contraste há com as ilhas de Cabo Verde! Nestas, as massas basálticas, as montanhas enegrecidas pelas terras vulcânicas, quase todo o ano privado de vegetação, mostrando uma aridez e uma esterilidade que por fortuna não se dá nas aprazíveis e viçosas ribeiras do interior; na Guiné, pelo contrário, tudo denota ao viajante um país muito rico de produtos da natureza, terras baixas e extensas, literalmente cobertas de uma vegetação pomposa”. Feita a aproximação, entra-se no Ilhéu do Rei, e logo o autor observa que é opinião de muita gente que se deveria ter colocado o estabelecimento comercial que existe em Bissau aqui, em consequência do ilhéu ser mais saudável, ser arborizado e de bonita aparência. Mas informaram-no de uma dificuldade insuperável: “O busílis era haver ali uma proliferação de árvores sagradas, inclusivamente a china, que é a maior de quantas existem no território dos Papéis, aqui se dirigem anualmente milhares de negros na mais devota romaria, durante a lua cheia do mês de Março”. Fica impressionado com o que vê no ilhéu, a sua importância: “A feitoria do senhor Nazolini está no referido Ilhéu do Rei desde 1847, é o mais importante de todos os estabelecimentos portugueses na Senegâmbia: 300 escravos empregados em cultivar quase todo o ilhéu, nas oficinas e no carregamento da mancarra (…) A casa de habitação e da mais pitoresca aparência, bem edificada e muito cómoda, dando-lhe os alpendres de que se acha cercada um tipo próprio daquelas regiões, e proporcionando-lhe igualmente agradável frescura”.

Regista igualmente certas singularidades do clima: “As trovoadas começam em meados de Maio e duram até ao fim de Outubro; são imponentes e majestosas, principalmente para quem não está acostumado a presenciá-las. Primeiramente forma-se uma forte aglomeração de nuvens no horizonte, e segue-se logo o fuzilar ao longe com uma constância e frequência incríveis; em seguida, vem o tufão com tal violência que arranca árvores frondosas, desloca as telhas e faz tal barulho com o bater de todas as portas e janelas que levanta, que parece realmente a quem pela primeira vez presenceia este fenómeno que as casas vão ser destruídas. Muitos navios estando bem fundeados no porto têm feito da quilha portaló. A este tufão segue-se a trovoada que parece estalar sobre a cabeça, e depois a chuva, caindo os raios com frequência”.

Do Ilhéu do Rei passamos para Bissau, vejamos a opinião do viajante: “A sua perspectiva é agradável pelo arvoredo que a adorna e pelos seus arrabaldes atapetados de verdura, de modo que o viajante, para não perder a ilusão e a saúde, fica talvez melhor em limitar-se a ver a terra de bordo. Aceitou-se o obsequioso convite que nos fez o opulento Comendador Honório Pereira Barreto”. No ato do desembarque, fica muito mal impressionado com o grande número de tubarões que ali nadam à superfície das águas. Contrafeito e um tanto timorato atravessa uma ponte com sinais de pouca segurança até chegar a terra firme, informa-nos que o edifício da Alfândega fica no largo da Mãe Júlia, fronteiro à porta da Praça de Bissau. Registou o exótico da sua chegada: “O que mais atrai as vistas são as bajudas ou donzelas, que pelo seu estado são excessivamente modestas no vestuário, que se compõe unicamente de avental de dimensões microscópicas, avental que, como o pedacito de coiro ou o búzio que os mancebos usam adiante suspenso por um barbante nem sempre lhes oculta de todo o que a decência manda recatar!”. Faz depois a descrição do comércio na rua principal onde os vendedores estão enfileirados e acocorados ao longo da rua, ali se trocam objetos, fundamentalmente exerce-se ali uma economia de troca, mas há exceções: “Às vezes admitem também algum patacão, como chamam à nossa antiga e incómoda moeda de 40 reis, que aqueles negros reservam unicamente para a manufactura dos seus grosseiros artefactos”.

Desembarcou, percorreu interessado o comércio na rua principal, vai agora falar-nos de Bissau: “A Praça de S. José, com os seus poilões, árvores gigantescas que se erguem com majestade nos quatro baluartes, e que os abrigam com a sombra, está situada na foz do rio Geba, e foi construída no ano de 1756, no reinado de D. José I”. Tece comentários à sua construção, que terá custado a vida a mais de 2 mil portugueses e que ficou num estado miserável, dá-nos também a notícia de que ultimamente têm tido o incremento algumas obras militares. Diz igualmente que aquela Praça não passa de uma povoação mal alinhada, com algumas casas palhoças, outras de barro e bem poucas de sólida construção. Há por ali um problema elementar, a fonte que fornece a água de consumo à Praça fica no Pidjiquiti, a cerca de uma milha, quando há desacatos e cercam a Praça levanta-se um problema sério de abastecimento de água. É franco na descrição das condições hígio-sanitárias, são deploráveis. E daí entender-se a descrição que faz do hospital: “Para se fazer ideia da desgraça a que chegaram os enfermos na Guiné basta dizer que só há bem pouco, com melhoramento muito importante, se compraram 12 camas de ferro para o hospital, a fim de se armarem com cortinas para evitar o flagelo dos mosquitos!”.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21405: Historiografia da presença portuguesa em África (233): “Guiné, Alguns aspetos inéditos da atual situação da colónia”, por A. Loureiro da Fonseca; Sociedade de Geografia de Lisboa, 1915 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1313): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C



Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 423 (1963/65) > Os efeitos devastadores das primeiras minas e fornilhos A/C no CTIG, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro

1. Continuação da apresentação do último livro do Gonçalo Inocentes (Matheos),  "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (Vila Franca de Xira, ModoCromia, 2020, 126 pp, ilustrado).

Recorde-se que o autor do livro, de que já publicámos três notas de leitura (*),  Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande, foi fur mil, CCAÇ 423 e dpois da CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual, tendo passado por Bissau, Bolama, S.João, Jabadá e Jumbembem, entre 8 de abril de 1964 e 14 de agosto e 1965... 
 
Nasceu em 1940, em Nova Lisboa (hoje, Huambo, Angola). Está reformado da TAP e vive em Faro.

Esta CCAÇ 423, "independente",  é uma das primeiras subunidades a ser mobilizada para a Guiné: pertencia ao RI 15, partiu em 16/4/1963 e regressou, dois anos depois,  em 29/4/1965. Esteve em São João e em Tite, mas também em Jabadá (1 grupo de combate). O comandante era o cap inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado.

Segundo o nosso autor, terá sido a primeira a conhecer o pesadelo das minas A/C e dos fornilhos:

"As minas form um pesadelo desde os primeiros dias da companhia. Quase todas as baixas resultaram  do rebentamento destes engenhos" (...) "O IN percebeu cedo de sua eficiência e começaram até a juntar aos fornilhos bombas que a nossa força aérea lançava e não rebentavam" (p. 60).

A nossa  historiografia militar (por ex., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) aponta para a segunda metade do mês de outubro de 1964 para o início do emprego generalizado de minas e fornilhas anticarro.

 No Leste, na região de Bafatá, o primeiro engenho a explodir acontece na estrada Bambadinca-Xitole. É desta época a debandada de várias tabancas fulas e futa-fulas, nomeadamenet do regulado do Corubal e Xime, que se refugiam em Bambadinca. Intensifica-se a atuação do PAIGC nas margens, esquerda e direita do rio Geba, nas áreas de Jabadá, Porto Gole, Enxalé, Xime, Bambadinca.

Os fornilhos, permitindo atuar à distância através de um fio ou arame, e selecionar a viatura (, em geral a do meio) cujo rebentamento provocaria mais estragos.  resposta das NT foi deixar de  de fazer colunas auto, deixando as viaturas no quartel e optando por operações a pé. Os picadores começaram a detetar minas antigas e criou-se então o "vício" de as levantar por causa do "ronco" e do prémio monetário.

Tudo indica que nos primeiros fornilhos e minas  A/C, a provocar baixas mortais entre as NT, tenham sido postos na estrada Nova Sintra-Fulacunda. E que as primeiras vítimas tenham sido os nossos camaradas da CCAÇ 423. 

Veja-se a lista, publicada pelo nosso camarada A. Marques Lopes sobre os militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (**)





Guiné > Região de Quínara > CCAÇ 423 > c. 1964 > S/l> O fur mil Arménio Dias de Almeida a levantar uma mina A/C... Será morto, por ferimentos em combate, na zona de São Jioão- Nova Sintra, em 9 de janeiro de 1964. Estas podem ser das últimas fotos dele.

Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Na pág. 61 do seu livro, o autor publica três fotos do furriel [Arménio Dias de] Almeida a levantar uma mina A/C. Será mais tarde abatido pelo IN, em 9/1/1964, sendo o seu corpo ficado inumado em Bolama, conforme lista que se reproduz a seguir, com os mortos da CCAÇ 423, de 3/7/1963, 18/7/1963 e 9/1/1964.


NOME e POSTO / UNIDADE / DATA DA MORTE / LOCAL DA MORTE / CAUSA D MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA (**)

António Augusto Esteves Magalhães, 1.º Cabo / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda, HM241 / Ferimentos em combate / Amares / Cemitério de Bissau, Campa 291, Guiné.

Alberto dos Santos Monteiro, Soldado / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda / Ferimentos em combate / Rio Tinto, Gondomar / Cemitério de Fulacunda, Guiné.

José Rato Casaleiro, Soldado / CCaç 423 / 18.07.63 / Estrada Tite-Nova Sintra / Ferimentos em combate / Freiria, Torres Vedras / Cemitério de Bissau, Campa 360, Guiné.

Arménio Dias de Almeida, Furriel / CCaç 423 / 09.01.64 / São João, Nova Sintra / Ferimentos em combate / Vila Cova de Perrinho, Vale de Cambra / Cemitério de Bolama, Campa 3/64, Guiné.


De qualquer modo, a situação nas estradas e picadas de Quínara tornaram-se um terror para as NT, ao ponto da "Maria Turra" , na "Rádio Libertação", em Conacri, considerá-las já como "áreas libertadas"... 

Daí ter sido decido, por ordem de Bissau, já no tempo de Schulz, fazer uma "demonstração de força", em 13 de outubro de 1964, realizando-se para o efeito de uma coluna de carros que fizeram o percurso Nova Sintra-Serra Leoa, ida e volta. 

O moral do pessoal estava em baixo, Mas a operação realizou-se,  com detetores de minas na frente e levando as viaturas  troncos de palmeira e sacos de areia para amortecer o impacto dos fornilhos e minas A/C (p. 171).

Felimente nenhum  engenho explosivo foi accionado desta vez. Mas no regresso a São João, via Nova Sintra, , o pessoal da CCAÇ 423 foi surpreendido com fogo cerrado de "costureirinha" e "kalash". 

Regressou-se a São João, com o moral mais em alta, apesar de um Unimog ter capotado e ter havido feridos cuja gravidade obrigou a helievacuação.

(Continua)

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PS - O livro pode ser adquirido pelo correio, com pagamento por transferência bancária. Preço de capa com portes incluidos: 15 (quinze) euros.


Email do autor: Goncalo Inocentes <rpeixoto.inocentes@gmail.com>


NIB - 0018 0000 0160 5800 0013 9

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 28 de abril  de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21425: Efemérides (337): O 4 de Outubro, dia do meu mentor espiritual, Francisco de Assis (1181-1226)... É uma ocasião também para lembrar os 7 capelães do Exército, no CTIG, que eram da Ordem dos Frades Menores (João Crisóstomo, Nova Iorque)


João Crisóstomo, luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; tem  cerca de 120 referências no nosso blogue.


1. Mensagem do João Crisóstomo 
 
Data - 04/10/2020, 21:01
Assunto - 4 de Outubro, Dia de São Francisco de Assis


 Caríssimos irmãos:

Entre telefonar para Montariol, Varatojo, Portela de Leiria e Seminário da Luz escolhi o velho Varatojo para um abraço mais directo.  Falei com o sr. P. Vitor Melícias que me prometeu transmitir ao P. Castro e demais residentes o meu abraço de saudades e de Paz e Bem. E como não dá para falar a todos vocês pelo telefone tenho mesmo de usar estas possibilidades que as novas tecnologias de múltiplos endereços proporcionam.

Este abraço vai pois para todos vocês também, para que o espírito do Pai Francisco continue a nortear as nossas vidas e o nosso viver.

E se todos os membros de outras ordens justificadamente lembram e celebram os seus fundadores, é gratificante verificar o lugar especial de carinho e afecto com que "o nosso" Francisco de Assis é celebrado: 

 Num mundo tão egoista como este em que vivemos hoje, o seu desinteresse por coisas “materiais’, o seu amor pela natureza em todas as suas vertentes é de tal maneira inspirador que até o próprio Papa achou pertinente escolher o nome de Francisco. E se não de outra maneira, pelo menos como protector dos animais ele já era conhecido de muita gente, agora verifico com muita satisfação a maior relevância com que em toda a parte neste dia o seu espírito de simplicidade e de desinteresse é lembrado e apontado como exemplo.

Regozijemo-nos todos os que logo de pequenos tivemos a sorte de dele ouvir falar e o termos agora como guia e mentor do nosso viver.

Um apertado abraço de PAZ e BEM.

João Crisóstomo
Nova Iorque

2. Comentário do editor LG:

João. como sabes o nosso blogue é ecuménico, mas "laico",  cabem cá todos os crentes e não-crentes, homens e mulheres de paz e boa vontade... 

Não sabia que o teu "mentor espiritual" tinha sido o Francisco de Assis (c. 1181-1226) (... a par do padre Vitor Melícias).  A maneira como falas dele é tão genuina que eu achei por bem publicar o teu poste, de resto sabendo que tu e outros milicianos que fizeram a guerra colonial na Guiné passaram pelos seminários da Ordem dos Frades Menores (OFM), ou Franciscanos. (**)

É, de resto,  o clero regular mais representado (, são 7 ao todo), na nossa  amostra de capelães militares, publicada no poste P19023.

E de entre esses sete é de destacar o nosso amigo comum (e meu parente)  Horácio Neto Fernandes, nascido em Ribamar, Lourinhã: o nº 42 da lista, era também franciscano (, fui à sua Missa Nova, em 1959), e esteve lá dois anos, primeiro em Catió e depois em Bambadinca e Bissau, de novembro de 1967 a novembro de 1969.

C0mo já tive ocasião de escrever, há aqui um pormenor intrigante: nunca nos encontrámos em Bambadinca, nem eu conheci nenhum capelão, entre julho de 1969 e maio de 1970, em Bambadinca, no primeiro batalhão, a que esteve adida a minha companhia, a CCAÇ 12: refiro-me ao BCAÇ 2852 (1968/70). 

Sabemos que, ainda mais do que os médicos, os  capelães militares eram em número insuficiente para as necessidades do exército, no TO da Guiné. E o batalhão a seguir, que eu servi, o BART 2917 ficou sem capelão ao fim de ano:  era o nosso Arsénio Puim... Um e outro são membros da nossa Tabanca Gramde.

Além do Horácio Neto Fernandes (nº 42) (, que esteve no CTIG de 1/11/1967 a 3/11/1969), cite-se mais os seguintes capelães, da Ordem dos Frades Menores (OFM), por ordem alfabética:

José António Correia Pereira (nº 84): de 26/3/1972 a 21/3/1974;

José de Sous Brandão (nº 79): de 25/9/1871 a 22/12/1973:

José Marques Henriques (nº 97): de 28/4/1974 a 9/10/1974):

Manuel Gonçalves (nº 58): de 19/7/1969 a 30/6/1971;

Manuel Maria F. da Silva Estrela (nº 11): de 27/9/1963 a 14/8/1965;

Manuel Pereira Gonçalves (nº 91): de 28/5/1968 a 29/6/1974):

Pode ser que algum leitor nos ajude a localizar o batalhão a que pertenceram estes capelães franciscanos.


(**) Último poste da série > 6 de outuibro de 2020 > Guiné 61/74 - P21423: Efemérides (336): No dia 5 de Outubro, homenagem aos Antigos Combatentes de Guifões falecidos em campanha e depois de regressados da Guerra do Ultramar (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150)

Guiné 61/74 - P21424: Os nossos seres, saberes e lazeres (414): Adão Cruz expõe as suas pinturas na Taberna do Doutor - Rua da Firmeza, Porto

© Adão Cruz


1 - Mensagem do nosso camarada Adão Cruz, médico, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68) com data de 3 de Outubro de 2020:

O meu amigo Zé Carlos, dono da Taberna do Doutor, olhou-me bem nos olhos e disse-me: 

Por que é que você tem os quadros no corredor encostados à parede, em vez de os expor aqui na Taberna? 

Eu respondi: Na Taberna…? Oh!...


A mais bestial das galerias! Eles aí estão. São 21.

Por baixo deste quadro que aqui reproduzo, aquele com que verdadeiramente me identifico, expus o meu resumo curricular. Só me esqueci de referir, no final, que o vinho verde tinto, na minha aldeia e na minha infância, foi o meu segundo leite.

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ADÃO CRUZ


- Nasceu em Vale de Cambra há oito décadas.

- Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

- Médico generalista em Vale de Cambra durante seis anos.

- Médico na Guerra Colonial da Guiné.

- Médico cardiologista, subespecializado em Eco-Doppler cardíaco, tendo sido um dos pioneiros desta técnica em Portugal. Foi quem adquiriu o primeiro Ecocardiógrafo Bidimensional que entrou em Portugal.

- Ex-Assistente Hospitalar de Cardiologia graduado em Chefe de Serviço.

- Fez o essencial da sua formação no Porto, Lisboa, S. Paulo, Madrid, Barcelona, Corunha, Santiago de Compostela, Paris, Roterdão e Bordéus.

- Sócio da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

- Foi Sócio da Sociedade Europeia de Cardiologia, com cartão de Cardiologista Europeu.

- Ex-sócio da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.

- Sócio e colaborador do Sindicato dos Médicos do Norte.

- Sócio da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos.

- Escreve desde jovem e pinta desde a década de oitenta.

- Frequentes colaborações em jornais, revistas e blogues.

- Tem doze livros publicados, entre poesia, contos e pintura, e mais um sobre assuntos de cardiologia.

- Tem quadros seus a ilustrar capas de livros de outros autores.

- Convidado para três bienais.

- Fez diversas exposições individuais e colectivas em Portugal e fora de Portugal.

- Tem quadros seus em sete países.

- Vem referido e comentado na Parte II, Vol. V, da enciclopédia “O Mundo Fascinante da Medicina”, ilustrando os seus quadros outros volumes, nomeadamente uma boa parte do Volume II da mesma Parte II.

- Convidado com poesia e pintura para o livro comemorativo dos noventa anos da BIAL.

- Convidado com texto e pinturas para o livro comemorativo dos vinte e cinco anos da abertura da Unidade de Cuidados Intensivos de Cardiologia do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.
 

Guiné 61/74 - P21423: Efemérides (336): No dia 5 de Outubro, homenagem aos Antigos Combatentes de Guifões falecidos em campanha e depois de regressados da Guerra do Ultramar (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 4150)


1. Mensagem do nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), com data de 5 de Outubro de 2020:

Hoje, dia 5 de Outubro, dia da implantação da República, os ex-Combatentes na Guiné, da Vila de Guifões, comemorariam o seu 25.º convívio, mas o estado actual em que nos encontramos devido ao Covid-19, fez com que o nosso convívio ficasse adiado para o próximo ano.

Mesmo assim não quizemos deixar passar o dia sem prestarmos uma singela homenagem a todos os combatentes do ultramar que já nos deixaram, e pelas 10 horas, em frente ao nosso monumento na Vila de Guifões, foi colocada uma coroa de flores, gentilmente oferecida pela senhor Eng. Pedro Gonçalves, Presidente da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões.

Um abraço
Albano Costa

Seguem-se as fotos alusivas ao acto.

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21399: Efemérides (335): Cumpre-se hoje 28 de Setembro, 53 anos da minha chegada à Guiné no HC-54 Skymaster 7504. Uma memória com mais de meio século (Mário Santos, ex-1.º Cabo MMA)