domingo, 3 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21731: Fotos à procura de... uma legenda (136): Pistas de leitura para um casamento Balanta-Mané, em 1973, em Bigene, região do Cacheu (Texto: Cherno Baldé; fotos: António Marreiros)


Foto nº 1 >Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 3 (1973/74) > "Um casamento em Bigene"... 

Fotos (e legenda): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


António Marreiros

1. Respondendo pronta e generosamente  ao desafio do nosso editor LG ("Fotos a precisarem da ajuda de etnólogo ou, talvez ainda melhor, do 'conselho sábio' do nosso assessor para os assuntos etnolinguísticos, o Cherno Baldé que 'firma' em Bissau"), o nosso amigo e colaborador permanente, sacrificando o seu descanso, acaba, às 13h00 de hoje, de fazer o seguinte comentário ao poste P21729 (*) . 


O nosso editor agradece ao Cherno Baldé: mais do que um longo comentário, trata-se  de uma verdadeira lição de etnografia guineense, à volta do tema (fascinante) do casamento. Voltamos a reproduzir, embora em formato mais reduzido, as belíssimas imagens captadas pelo nosso camarada António Marreiros, um algarvio que vive há muito no Canadá e que, noutra encarnação, foi alf mil, CCAÇ 3544, Buruntuma, 1972, e CCAÇ 3, Bigene, 1973/74.(*)


Legendas para as fotos de um casamento balanta-mané, em Bigene, em janeiro de 1973





A Guiné-Bissau é um pequeno país, um enclave territorial que, paradoxalmente, alberga um número de etnias mais diversificado que qualquer dos seus vizinhos mais próximos e maiores em extensão territorial.  

Foto nº 2 
E o Sector de Bigene (oficialmente a sede do Sector, mas que, devido às dificuldades de acesso, está a perder este estatuto, pouco a pouco, a favor de Ingoré, cidade situada na via principal de acesso a S. Domingos e que dá acesso também à cidade senegalesa de Ziguinchor), é habitado maioritariamente pelo grupo Balanta-Mané que, sob o domínio do império mandinga de Gabu (Séc. XII-XIX), foram submetidos a uma dupla conversão à cultura mandinga e à religião islâmica, mesmo que superficialmente.

Culturalmente e por força de um longo dominio, militar, político e comercial na região no periodo pré-colonial, toda a região e, particularmente, o corredor desde Ingoré, Bigene, Binta, Guidage até Farim e arredores faz-se sentir fortemente a influência mandinga em todos os domínios da vida social e cultural dos diferentes grupos que aqui conviveram ao longo dos tempos.

Falando concretamente das bonitas imagens captadas pela objectiva do ex-Alf MilAntónio
Marreiros em Bigene em meados de 1973, provavelmente no mês de Janeiro a julgar pelas flores dos mangueiros, como o próprio faz notar, tenho a tecer as seguintes considerações (**):


I. Pelos detalhes e o ritual presentes na imagem, não se trata de um casamento Manjaco, longe disso, nem Mandinga ou Felupe, pelo que acredito que se trata de um casamento da etnia Balanta-Mané (a confirmar).

Foto nº 3
Estamos na presença de uma cerimónia que, visivelmente, apresenta elementos rituais animistas (o lenço vermelho na cabeça e o pano preto a cobrir o corpo da noiva) e muçulmanos (a noiva depois do ritual do arroz/milho e a cambança do pilão em casa dos pais num ambiente de festa (foto 1 e 2) é carrregada à cabeça de um jovem possante e só pisará o solo em casa do noivo, ou seja, realiza-se a simbologia da transferência definitiva da morada da mulher que, para todos os efeitos, deixa a casa dos pais e passa a fazer parte da familia do marido (fotos 3, 4 e 5) e não é suposto fazer o percurso inverso salvo por necessidade inadiável e/ou razões de força maior (divórcio).


II. A noiva ostenta ainda nos dois lados do rosto e preso aos cabelos, nozes de cola de cor vermelha (foto 1) 

.... que tem um significado especial para os muçulmanos e que simboliza o carácter sagrado e inviolável do casamento que tem o consentimento de Deus, a benção dos pais e dos mais velhos da comunidade (o correspondente ao ritual cristão que diz:  "O que Deus uniu que o homem não separe").
 
Foto nº 4

III. A chegada a casa do futuro marido a noiva, por algumas horas, fazem-na sentar-se numa esteira à  porta da casa do marido (foto 5)..
.

... e aqui repete-se a festa da chuva do arroz sobre a noiva que simboliza abundância e prosperidade e realiza-se o ritual da recepção por parte da família do marido que dá a entrada/aceitação e promete protecção e apoio à noiva na sua vida futura de mulher dedicada à vida do marido e da familia que doravante fará parte até ao fim da sua vida.

Ao mesmo tempo é dada a todos os membros da familia do futuro marido a oportunidade de se pronunciar, de apresentar ou não suas objecções quanto à futura esposa e que doravante fará parte da familia. 

É ocorrespondente Cristão do "Digam agora ou calem-se para sempre". Todavia, é muito raro que hajam pronunciamentos contrários, pois os investimentos já feitos desaconselham tais atitudes num meio de per si já pobre e bastante precário. E mesmo que houvesse dúvidas sobre o comportamento da noiva prevalecerá a confiança na sua mudança radical a partir desse momento fulcral na vida de uma mulher casada.


Foto nº 5
No fundo, o mundo é transversal e a cultura é universal e, muitas vezes, lá onde queremos ver grandes diferenças, são simplesmente variações de um mesmo fenómeno que é diversificado e vestido de outras roupagens e matizes culturais. 

Antes da chegada dos europeus à Africa, o Império do Mali e sua expansão ja tinham feito chegar outras culturas, técnicas e influências sociais globalizantes.

Actualmente os casamentos continuam a ser feitos com os mesmos rituais e simbologias, mesmo se há algumas inovaçõs e mudanças em função da evolução e da dinâmica multicultural que a globalização está a acelerar a bom ritmo, onde a inclusão da música global em detrimento da tradicional é um dos marcos mais visíveis.


Cherno Baldé, Bissau, 3 jan 2021, 13h
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(**)  Último poste da série > 17 de outubro de  2020 > Guiné 61/74 - P21459: Fotos à procura de... uma legenda (128): Levantamento de minas A/P no carreiro de Uane, em julho de 1974 (António Murta, ex-alf mil inf, MA, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)... E um grande texto de antologia, um grande documento humano de um grande português, dilacerado entre dois imperativos antagónicos, a sua consciência humana e as suas obrigações militares.

Guiné 61/74 - P21730: Blogpoesia (712): "Nunca esperei...", "Vultos na noite" e "Folhas caídas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:



Nunca esperei...

Passaram milénios na minha ausência total.
Uns, suaves e pacíficos.
Outros, com tumultos, revoluções e convulsões de terror ocorreram na terra.
Pois, quase no fim da minha vida,
Calhou a desgraça, com garras mortais.
Uma ameaça total.
Soçobram os fortes e fracos.
Ricos e pobres.
Tudo a eito.
Onde irá parar?
Se elevam clamores.
Pedindo perdão.
Se fazem promessas.
De emenda. Conversão.
Pode ser que o Criador as oiça
E ainda volte a paz e a esperança de que tudo passou.
Oxalá!


Berlim, 27 de Dezembro de 2020
9h29m
Jlmg


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Vultos na noite

Há vultos negros para lá das janelas.
Parecem sem vida.
Têm alma e têm corpo.
Um coração a bater.
Se alimentam de sonhos.
Sofreram desfeitas.
Ajudas também.
Avançam no tempo.
No rio da vida.
Cachos maduros.
Sabem ler e contar.
Os filhos se foram.
Trouxeram os netos.
Que prendas mais lindas.
Consoadas de mel.
Até aqui a vida valeu.
O futuro que vem,
Logo se verá...


Berlim, 29 de Dezembroe 2020
15h30m
Jlmg


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Folhas caídas

Somos folhas de árvore
Que ameaçam cair a todo o momento.
Dá-lhes o vento e o sol.
Até que um dia, cansadas, voam para o chão.
Têm o destino marcado.
Se não for de velhice,
Basta um grãozinho minúsculo,
Entope-lhes as veias
E záz!
Aí vai.
Não há uma que fique.
Em qualquer dia e hora do ano.
Fadista, pintor?
Craque da bola?
Ninguém lhes escapa.
É a lei...


(a propósito da perda do Carlos do Carmo)

Berlim, 1 de Janeiro de 2021
10h59m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21698: Blogpoesia (711): "Nunca desistir", "Poemas de oiro" e "Concerto n.º 3 de Rachmaninov para piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P21729: Memória dos lugares (416): Um casamento em Bigene (António Marreiros, ex-alf mil, CCAÇ 3544, Buruntuma, 1972, e CCAÇ 3, Bigene, 1973/74)








Guiné > Região de Cacheu > Bigene > CCAÇ 3  (1973/74) > "Um casamento em Bigene"... Fotos a precisarem da ajuda de etnólogo ou, talvez ainda melhor, do "conselho sábio" do nosso assessor para os assuntos etnolinguísticos, o Cherno Baldé que "firma" em Bissau... Parece ser um casamento manjaco, não, Cherno ? Podes dar-nos alguns "pistas de leitura" ?


Fotos (e legenda): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Mensagem de  António Marreiros, a viver há 48 anos no Canadá (Victoria, BC, British Columbia), ex- alferes miliciano em rendição individual na Companhia CCaç 3544, "Os Roncos", Burumtuma, 1972,  e, meses depois, transferido para Bigene/Guidage, CCaç 3, até Agosto 1974 (*):


Data - 2 jan 2021 22:19
Assunto . Casamento em Bigene
 

Para o álbum de recordações...são 5 fotos.

Penso que foi em 73, os mangueiros estão em flor... (**)

António Marreiros


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Guiné 61/74 - P21728: Parabéns a você (1918): António Ramalho, ex-Fur Mil da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 31 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21717: Parabéns a você (1917): Publicação de Postais de aniversário em 2021: novas regras (Carlos Vinhal, Coeditor)

sábado, 2 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21727: In Memoriam (380): Domingos Fernandes (1946-2020), ex-fur mil at art, CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/70): membro, nº 825, da Tabanca Grande, a título póstumo



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (Xime e Quinhamel, 1969/71) > c. 1970 >  Furríéis milicianos.  Da esquerda para a direita: Domingos Fernandes (1946-2020), José Nascimento, Oliveira e Renato Monteiro.

Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Xime) > Madina Colhido >  Op Boga Destemida  >   9 de Fevereiro de 1970, "segunda feira de Carnaval" > Helievacuação de feridos graves, na sequência da violenta emboscasda de que foram vítimas as NT (CART 2520, Pel CAç Nat 63 e CCAÇ 12), em Gundagé Beafada.  (*)

Foto (e legenda): © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada algarvio José Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande, com 43 referências no nosso blogue, sendo o elemento mais ativo da CART 2520, a par do Renato Monteiro (que antes pertencia à CART 11);


Data: quarta, 30/12/2020 à(s) 18:36
Assunto: Falecimento do camarada Domingos Fernandes

Camaradas:

Faleceu no dia 28/12/2020 o nosso amigo e camarada de armas da CART 2520, o Domingos Fernandes.

Furriel do 4º. Grupo de Combate, foi um elemento de grande valor, pois este grupo dispunha apenas de dois furriéis, o que sobrecarregava os outros elementos.

Quando da chegada da CART 2520 ao Xime, foi destacado para Galomaro por vários meses, local do seu treino operacional.

Creio ter participado na Operação Boga Destemida no dia 9 de Fevereiro de 1970, quando a nossa Companhia sofreu uma emboscada, tendo falecido um dos elementos do seu pelotão. (*)

Muito estimado por todos os elementos do seu pelotão, atribuíram-lhe a alcunha do "Furriel Pistolas".

Afável, discreto, brincalhão, sempre bem disposto, este grande camarada, mereceu por todos nós uma grande consideração. (**)

Descansa em paz, grande camarada,  Domingos Fernandes. 

Um grande abraço a todos os camaradas da Tabanca Grande 

José Nascimento

PS - Junto foto: O Fernandes é o  1º. à esquerda. 

2. Comentário do nosso editor LG:

Zé,  é mais dos nossos bravos da zona leste que nos deixa.  É mais uma notícia triste ao findar do "annus horribilis" de 2020. Não sabia da alcunha dele, "furriel pistolas", mas lembrava-me da cara. De resto, partimos juntos no T/T Niassa, em 24/5/1969, a vossa CART 2520 e a nossa CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12). E regressámos juntos, no T/T Uíge, em 17/3/1971. E estivemos um ano juntos no Sector L1, para o melhor e para o pior. 

De ti e do Monteiro, vou tendo notícias, felizmente... Do Oliveira, o que é feito dele ? E do vosso capitão Maltez ? Vê se confirmas o ano de nascimento do Domingos Fernandes, ele era de 1946, como tu e o Monteiro, não ?! 

Gostei da maneira simples mas afectuosa como o descreveste. Convivi pouco com ele, uma vez que ele esteve algum tempo  destacado em Galomaro. Mas faço questão de o integrar na nossa Tabanca Grande, a título póstumo. Bastava o facto de termos feito essa dura operação em conjunta, a Op Boga Destemida. Quem é que a vai esquecer ? Essa e outras que fizemos em conjunto. 

Peço-te que transmitas à família, se puderes, a nossa solidariedade na dor. O Domingos Fernandes não ficará na vala comum do esquecimento: será lembrado pelos seus camaradas da Guiné, passando a estar, em espírito,  connosco, à sombra do nosso simbólico poilão, no lugar nº 825.

3. Ficha da unidade > CART 2520

Companhia de Artilharia n.º 2520
Identificação: CArt 2520
Unidade:  Mob: GACA 2 - Torres Novas
Crndt: Cap Mil Art António dos Santos Maltez
Divisa: "O Céu, a Terra e as Ondas Atroando"
Partida: Embarque em 24Mai69; desembarque em 29Mai69
Regresso: Embarque em 17Mar71

Síntese da Actividade Operacional

Em 2Jun69, seguiu para Xime, a fim de render a CArt 1746 no referido subsector, sendo integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2852 e guarnecendo, por períodos variáveis sucessivos destacamentos na zona de acção, em Mansambo, Ponte do rio Udunduma, Cansamba, Galomaro e outros e, a partir
de 290ut69, com um pelotão destacado em Enxalé, após transferência desta área para o subsector.

Em 1 e 7Jun70, foi substituída, por escalões, no subsector de Xime pela CArt 2715 e seguiu para o subsector de Quinhámel, com destacamentos em Ome, Ondame, Ponta Vicente da Mata e Ilondé e ainda um pelotão no subsector de Nhacra (este até 7Set70 e instalado em Safim e João Landim e entretanto
transferido para o subsector de Brá, por reajustamento dos subsectores), onde rendeu a CCaç 2572, ficando integrada no dispositivo de segurança e protecção das instalações e das populações da área, sob responsabilidade do COMBIS.

Em 1Mar71, foi rendida no subsector de Quinhámel pela CCaç 2617 e recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 121 - 2.a Div/4ª. Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág. 470.

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(**) 19 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...

(***) Último poste da série > 1 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21723: In Memoriam (379): as minhas manas freiras, franciscanas hospitaleiras, Maria Augusta Crisóstomo e Emília de Jesus Bárbara Crisóstomo, que acabam de morrer em Portugal, vítimas de Covid-19, e cujas vidas foram uma grande história de amor a Deus, aos pais e ao próximo (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 61/74 - P21726: Facebook...ando (58): Fotos do meu pai, já falecido, Jorge Nicociano Ferreira, ex-fur mil at cav, CCAV 678 (Bissau, Fá Mandinga, Ponta do Inglês, Bambadinca, Xime, 1964/ 66) (Rui Ferreira)


Foto nº 1 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAV 678 (1964/66) > O fur mil at cav Jorge Nicociano Ferreira, no Saltinho, junto à ponte sobre o Rio Corubal, general Craveiro Lopes. A legenda no verso diz: " 3 outubro de 1964_Ponte do Saltinho. Distam 3 km do fim da ponte à fronteira do Senegal. [.O autor queria dizer: "Guiné-Conacri"].

 
Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali  > Catió > CCAV 678 (1964/66)  > s/d > O fur mil at cav Jorge Nicociano Ferreira,  Lacónica legenda: "Escolta [a]  Catió".


Foto nº 3 > s/l > s/d > Cabo Verde (?) > Graduados (furriéis) da CCAV 678, entre os quais o Jorge Nicociano Ferreira... A foto não tem legenda e é de má qualidade. Sabe.se que a CCAC 678 esteve em comissão, em Cabo Verde, 8 de maio de 1964 e 18 de julho de 1964, e que nesta data embarcou para a Guiné.  A foto pode ter sido tirada em Cabo Verde... Os militares estão junto a um memorial. Não conseguimos identificar a unidade  (CCE 342 ?) nem a divisa. (Parece tratar-se de uma Companhia de Caçadores Especiais, e o número mais provável será o 342.)



Foto nº 4 > Porto > Bonfim > Cemitério do Prado do Repouso > 24 de dezembro de 2020 > Túmulo do capitão Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meirelles, a um escasso metro e tal do túmulo onde repousam os restos mortais do ex-fur mil Jorge Nicociano Ferreira.

Fotos (e legendas): © Rui Ferreira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAV 678 >  1965 > Festa de 1º. aniversário da CCAV 678, em Bambadinca. Na mesa dos oficiais e sargentos, o 1º de frente e da esquerda é o Fur Mil At Manuel Bastos Soares, autor destas fotografias, natural de Vila Nova de Gaia e residente na Maia, 

Foto (e legenda): © Manuel Bastos Soares (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de Rui Ferreira, deixada na página do Facebook Tabanca Grande Luís Graça, em 31/12/2020, às 1h39:

Caro Luís Graça, sou filho de um ex-combatente na Guiné e já acompanho o vosso blog há uns anos. O meu pai, Jorge Nicociano Ferreira, foi furriel na CCav 678 e. nomes como Xime, Xitole, Ponta do Inglês, Bambadinca, Bafatá, entre outros, estiveram sempre presentes na minha infância. 

Recentemente encontrei fotos do meu pai e camaradas na Guiné, de uma paisagem na Ponta do Inglês, de uma avioneta que poderia ser a do intrépido Honório... Quase todas têm uma legenda e gostaria de as partilhar convosco. 

Sempre presente está também o capitão Francisco Meirelles, sobre quem o senhor Jorge Araújo escreveu um notável texto, já que está sepultado a pouco mais de um metro do túmulo do meu pai. A vida está recheada de ironias...

2. Resposta do nosso editor LG:

Obrigado, Rui, o prometido é devido, aqui tens o  fazer o poste que tu e o teu pai merecem. Obrigado por nos teres evocado a memória do teu pai e nosso camarada. Vejo que ele conheceu as mesmas estações do calvário que eu. Temos poucas referências no blogue, umas sete ou oito, à CCAV 678.  Mas um dos camaradas do teu pai é membro da nossa Tabanca Grande, o ex.fur mil Manuel Bastos Soares, que mora na Maia.  (*).

Publicamos, acima, uma foto dele, em Bambadinca, no 1º aniversário da companhia. Vê se o teu pai está lá, no grupo de furriéis. Se tiveres mais fotos, manda com melhor resolução, para o meu endereço de email: luis.graca.prof@gmail.com

O teu gesto de amor filial merece ser conhecido e reconhecido (**). Como dizemos, na nossa Tabanca Grande, os filhos dos nossos camaradas, nossos  filhos são. Um ano de esperança para ti e os teus.  LG



3. Ficha de unidade > Companhia de Cavalaria nº 678


Identificação;  CCav 678
Unidade Mob: RC 7 - Lisboa
Crndt: Cap Cav Juvenal Aníbal Semedo de Albuquerque
Cap Cav Inácio José Correia da Silva Tavares
Cap Art José Vítor Manuel da Silva Correia
Divisa: "Com os Nossos Fica a Palma da Victória"
Partida: Embarque em 18Jul64 (em Cabo Verde); desembarque em Bissau, em 18Jul64
Regresso: Embarque em 27Abr66


Síntese da Actividade Operacional

Em 18Ju164, foi transferida de Cabo Verde, onde se encontrava em comissão desde 08Mai64, para a Guiné, por troca com a CCaç 417.

Após um curto período de adaptação operacional realizado na região de Quinhamel com a CCaç 414, de 19 a 26Ju164, ficou colocada em Bissau, na dependência do BCaç 600, com vista à segurança e protecção das instalações e das populações da área.

Em 16Set64, foi substituída em Bissau pela CCaç 594, tendo seguido, em 25Set64, para Fá Mandinga, como subunidade de intervenção e reserva do BCaç 697 e destacando pelotões para Enxalé e Xitole, este de 25Set64 a 11Nov64, em reforço das guarnições locais.

Em 19Jan65, com a realização da operação Farol, ocupou a povoação de Ponta do Inglês, mantendo no entanto, um pelotão destacado em Enxalé.

Em 16Abr65, substituída em Ponta do Inglês por um pelotão da CCaç 508, assumiu a responsabilidade do subsector de Bambadinca, onde rendeu a CCaç 508, mantendo-se na zona de acção do BCaç 697, em acumulação com a função de intervenção e reserva do sector e mantendo ainda o pelotão destacado em Enxalé

Em 2Ago65, deslocou forças para Xime e Ponta do Inglês, a fim de substituir a CCaç 508 e ministrar o treino operacional à CCaç 1439 naquela zona de acção.

Em 10Set65, por troca com a CCaç 1439, assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, com pelotões destacados em Ponta do Inglês e Enxalé, este deslocado em 28Jan66 para Quirafo.

Em 14Abr66, por troca com a CCav 1482, voltou a assumir, temporariamente, a função de intervenção e reserva do sector, sendo substituída, em 26Abr66, pela CCaç 1551 e recolhendo a Bissau para o embarque de regresso.

Observações:

Não tem História da Unidade. Tem Resumo de Factos e Feitos (Caixa n." 314 - 2: Div/4." Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 498/499.


 
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > O ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (1969/71), junto ao memorial da CCAV 678, identificado por Luís Graça, e aqui confimado pelo Manuel Bastos Soares. (*)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3453: Brasões, guiões ou crachás (2): CCAV 678, 1964/66 (Manuel Bastos)

(...) Mensagem do nosso camarada Manuel Bastos Soares, ex-Fur Mil At da CCAV 678, Guiné 1964/66, com data de 7 de Novembro de 2008:

Caro Luís:

As minhas cordiais saudações.

Durante o dia de hoje, estive a visionar o teu blogue, e verifiquei que, no álbum das minhas fotos, inseriste uma outra, do e com o Humberto Reis, onde se vê os brasões de algumas das unidades que passaram por Bambadinca, e de entre eles, lá está o da minha CCAV 678, já com as cores comidas pelo tempo e pelo rigor do clima da Guiné.

Fiquei deveras sensibilizado, pelo que quero expressar-te o meu agradecimento. Não há dúvida nenhuma de aquele brasão é de facto o da CCAV 678, e a prova segue em anexo, de um slide que digitalizei do dito brasão.(...)

Vd. também poste de 7 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos Soares  (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66)

(**) Último poste da série > 7 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21618: Facebook...ando (57): Confúcio e o confucionismo, ontem e hoje: visita ao templo de Pingyao, 2011 (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Guiné 61/74 - P21725: Os nossos seres, saberes e lazeres (431): De Trancoso para Santa Maria de Salzedas (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Setembro de 2020:

Queridos amigos,
É sacramental, chegado o mês de agosto, subir à Beira Alta, de Trancoso se pode cirandar entre primórdios da nacionalidade, sobretudo sentir a dimensão das atalaias para resistir ao hostil castelhano, intruso século fora. Um amigo dileto põe e dispõe quanto ao que se faz o dia inteiro, é sempre aprazível o orgulho com que mostra o que o seu terrunho e circunvizinhança oferece de esplendoroso.
Chega-se a Rio de Mel, e é aí que se dita a sentença das excursões do dia. Desta feita, S. João de Tarouca e Santa Maria de Salzedas, compraz ver com olhos de ver que obras não faltam e que os monumentos nacionais, outrora postergados ou praticamente desconhecidos, aparecem altaneiros e verdadeiros expoentes do turismo cultural.

Um abraço do
Mário


De Trancoso para Santa Maria de Salzedas

Mário Beja Santos

Todos os anos, chegada a época estival, com filha e neta em Pedrógão Pequeno, telefono ao meu dileto amigo Luís Rodrigues, cuja terra-berço é Rio de Mel, concelho de Trancoso, para marcar visita, ladeia-se a Serra da Estrela, passam-se dois túneis, anda-se à margem da Guarda, conferem-se as muralhas de Trancoso e segue-se por uma estrada de pedregulhos, que trazem à reminiscência a cultura megalítica, e entra-se na quinta, pela calada já está organizado um programa bem surpreendente, pode ser Numão, Sernancelhe, Almeida, descer ao Douro, milhentas são as hipóteses. Aqui chegados, no agosto pandémico de 2020, vem a notícia, desta feita o passeio será a S. João de Tarouca e a Santa Maria de Salzedas, já lá tivemos há um bom par de anos, tem havido e continuam as obras de restauro, há que comparar entre o pretérito e o presente. Tinha saudades deste reencontro, é uma amizade encetada em 1977, este engenheiro químico enveredou pela política dos consumidores e marcou presença, foi uma referência durante décadas na área da segurança dos consumidores, mexia-se à vontade entre os cosméticos e os produtos de limpeza, a normalização dos bens de consumo, saiu-lhe das mãos legislação de realce, ainda hoje vigente. Uma carreira de funcionário público exemplar, foi galardoado com uma condecoração da Ordem de Mérito. Saúdo-o aqui, ele não sabe que o apanhei à porta do mosteiro, agradeço-lhe o seu acolhimento modelar e a plena surpresa destas digressões culturais.


As obras deste mosteiro cisterciense arrancaram em 1168, a patrona foi a segunda esposa de Egas Moniz, neste território que era designado de Salzeda, estamos no concelho de Tarouca. A escolha do território obedecia à lógica da regra de Cister, incrustado num vale, com acesso direto a um curso de água, a ribeira de Salzedas, afluente do rio Varosa. Enquanto igreja medieval de planta em cruz latina, com três naves e transepto saliente, foi sagrada em 1225. A atenção do visitante é de andar à cata dos sinais desse tempo, alguma coisa se encontrou, e dentro da intervenção a que o mosteiro está a ser sujeito mostram-se colunas do passado, como se pode ver.

Interior da Igreja de Santa Maria de Salzedas

Como foi uso na vida destes templos religiosos, as alterações acabaram por tudo transformar, e Salzedas conheceu obras de vulto entre os séculos XVI e XVIII. Como se viu na primeira imagem, a atual fachada data dos finais do século XVIII, tem duas torres laterais adiantadas. Monumento nacional desde 1997, Salzedas tem conhecido benéficas intervenções, todas elas justificadas, guarda obras notáveis de Grão Vasco e porventura da sua oficina, possui retábulos excecionais deste grande artista, produzidos entre 1511 e 1515. A sacristia é um espanto, resta dizer que este conjunto monástico abarca a igreja e adjacências como o Claustro do Capítulo, a Sala do Capítulo, a botica, a cozinha e o refeitório, espraia-se por dois andares, há muito para ver e assim perceber a riqueza dos artistas que aqui intervieram, sobretudo Vasco Fernandes e Bento Coelho da Silveira.

Magnificência, riqueza e grande aparato na Sacristia de Santa Maria de Salzedas

Esplendor barroco não falta, mas quem aqui acaba de chegar elogia para si mesmo estas intervenções de conservação e salvaguarda, fizeram bem em integrar Salzedas na rede de monumentos do projeto turístico-cultural Vale do Varosa. E se valeu a pena comparar o que se viu anos atrás e o estado de conservação a que se chegou, mesmo sabendo que foi bem pesada para os monumentos nacionais a forma como se distinguiam as ordens monásticas em 1834, e daí, em jeito de despedida, olhar-se ao fundo para as instalações monásticas arruinadas, num profundo contraste com a recuperação a que se assiste na igreja e nos claustros. Vamos ver o que o futuro nos reserva. E bem hajas, meu querido amigo Luís Rodrigues, pela magnífica digressão a Salzedas.

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Nota do editor

Último poste da série de 26 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21693: Os nossos seres, saberes e lazeres (430): Os primeiros Cistercienses de Vale Varosa: S. João de Tarouca (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)


Foto nº 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2  fevereiro de 1969 >  Canjadude foi o local onde as NT se reuniram para o início, propriamente dito, da Operação. À esquerda os pilotos da FAP Cap Pilav José Nico (filmando) [, hoje ten gen pilav ref] [1] e o Sarg mil  Honório [2] e o Cmdt da Operação,  Cor Inf Hélio Felgas [, Cmd Agrup 2957, Bafatá, 1968/70][3].



Foto nº 2 Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Op Mabecos Bravios > 2 de fevereiro de 1969 >  Concentração das NT em Canjadude, quartel guarnecido pela CCAÇ 5.



Fotos (e legendas): © Hilário Peixeiro (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Há dias falou-se aqui do cor inf ref Hilário Peixeiro, que foi capitão no CTIG, cmdt da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851, Nova Lamego, Piche, Fá MandingaOlossato e Mansabá, 1968/70, mas de quem não temos notícias há já uns anos largos (*). 

Num poste já antigo, de 16/5/2011, há documentação interessante (texto e fotos) sobre a participação da CCAÇ 2403 / BCAÇ 2851 na operação de retirada de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios) (**). Reeditamos agora esse materal, valorizando em especial a documentação fotográfica. (***) 

Recorde-se que o desastre do Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, fez 47 vítimas mortais. Foi há 52 anos. É uma efeméride difícil de esquecer por todos nós.


 Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403

por Hilário Peixeiro (**)


Durante o mês de Janeiro [de 1969] tiveram lugar os preparativos e reconhecimentos na zona do Boé, com vista à Operação de evacuação de Madina do Boé, denominada “Mabecos Bravios”.

Para além da CCaç 1790, local, comandada pelo Cap inf Aparício,  participaram na operação outras 6 Companhias [, incluindo da CCaç 2405, Destacamento F].

A 2 de Fevereiro [de 1969] a CCaç 2403, com 3 G Comb  (...)  [Destacamento ], deslocou-se para Canjadude e depois para o Cheche onde chegou já no final do dia, transportada nas viaturas destinadas ao transporte, no regresso, dos materiais da CCaç 1790 e da população de Madina. Desta vez todos os Gr Comb eram comandados pelos respectivos Alferes.

Juntamente com a CCaç 2405, do Cap Jerónimo [Destacamento F], atravessou o Corubal numa das jangadas, recém-construídas para o efeito, indo cada uma ocupar as colinas que flanqueavam a estrada para Madina, á esquerda e á direita. 

Quando as Companhias se separaram, já noite fechada, o IN lançou 2 granadas de morteiro sobre a estrada, sem consequências o que, 15/20 minutos antes, poderia ter tido resultados bem diferentes. 

Na manhã seguinte [, 3 de fevereiro], as Companhias seguiram, apeadas, rumo a Madina, sempre sobrevoadas por 1 T6 ou 1 DO até ao final do dia.

 
Foto nº 3 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório



Foto nº 4 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969 > Progressão da coluna em direção a Madina do Boé, sob a proteção da DO 27 do srgt pil Honório


A meio da manhã [do dia 3 de fevereiro] houve um reabastecimento de água, planeado e, mais à frente, não planeado, um fortíssimo ataque de abelhas à CCaç 2405  {Destacamento F] que deu origem à evacuação de alguns homens no heli do Comandante da Operação, Cor Felgas, que aterrara entretanto.

Este contratempo provocou grande atraso na coluna e a certa altura o efeito do calor e das abelhas fez-se sentir mais acentuadamente sobre a CCaç 2405, tendo a CCaç 2403 [, Destacamento D] que ia na retaguarda, passado para a frente com o intuito de pedir a Madina reabastecimento de água para o pessoal mais atrasado que estivesse em dificuldades. 

Quando, cerca de 10 minutos depois, um Gr Comb se preparava para sair do quartel, chegou a outra Companhia [, CCAÇ 2405].

Enquanto o pessoal foi instalado,  os Capitães receberam do Comandante a missão para o dia seguinte  [4 de fevereiro] que consistia na ocupação dos morros que se estendiam a sul de Madina entre esta e a República da Guiné.



Foto nº 5 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > 3 de fevereiro de 1969  > Evacuação de vítimas de ataques de abelhas e insolação,  com o helicanhão a sobrevoar a zona.

 

Foto nº 6 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 3 de fevereiro de 1969 > Viaturas das NT abandonadas (Mercedes)



Foto nº 7  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé  > 3 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 8  > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > A caminho de Madina do Boé > 4/5 de fevereiro de 1969 > Viatura das NT abandonada (Berliet)



Foto nº 9 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios >  Madina do Boé > 5 de fevereiro de 1969 > Reparação
 de GMC (rebocada) e sem paragem da coluna, de regresso a Cheche,


Quando se fez dia  [em 5 de fevereiro de 1969] o pessoal ficou surpreendido com o cabeço a que Madina estava encostada e os que a rodeavam. Eram autênticas “montanhas” na Guiné, onde tudo era plano. 

As Companhias ocuparam as elevações que lhes foram indicadas e aí permaneceram nesse dia enquanto as viaturas chegaram e no dia seguinte enquanto se procedeu ao seu carregamento com os materiais da guarnição e da população civil que ia ser deslocada para Nova Lamego. 

No dia 6 [de fevereiro], logo que se fez dia, deslocaram-se para a coluna que já se encontrava em movimento a caminho do Cheche, assumindo a segurança dos flancos e retaguarda. 

Antes de atingir o rio Corubal,  a coluna ainda foi alvo de mais um feroz ataque de abelhas que só provocou, como vítimas, a morte de dois cães da população.



Foto nº 10 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 11 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



Foto nº 12 > Guiné > Região de Gabu > Cheche > Op Mabecos Bravios > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 >  I
magem das jangadas com a CCaç 2403 a embarcar para a última travessia antes da tragédia



As viaturas e pessoal foram atravessando o rio até só restarem as 2 Companhias e parte da CCaç 1790 de Madina. Comandava a Operação de carregamento da jangada o Cap Aparício [, da CCAÇ 1790]. 

Na penúltima travessia foram transportadas a CCaç 2403 e parte da CCaç 2405, tendo a primeira recebido imediatamente ordem do Cor Felgas para montar a segurança do flanco esquerdo da coluna que partiria, logo que pronta, rumo a Canjadude.

Para a última travessia, seria embarcado o pessoal que restava das CCaç 2405 e CCaç 1790, muito menos de 100 homens. 

Enquanto se aguardava a chegada do pessoal que faltava para a coluna se pôr em marcha foram disparadas 1 ou 2 granadas das armas pesadas do Destacamento do Cheche. 

Pouco depois surgiu um soldado a correr em direcção ao rio, a chorar, dizendo que a jangada se havia virado e que muita gente tinha caído à água no meio do rio. 

Através do rádio do Capitão,  foi ouvido o Cor Felgas em comunicação com o General Spínola, que não esteve no local, dizendo que havia muitos homens desaparecidos no rio. 

Com grande atraso em relação à hora prevista, a coluna iniciou o deslocamento para Canjadude onde pernoitou.

No dia seguinte [, 7 de fevereiro] chegou a Nova Lamego, onde o Comandante-Chefe falou às tropas participantes na Operação.

Com a chegada da CCaç 1790 a Nova Lamego,  a CCaç 2403 recebeu ordem de marcha para o Olossato com passagem por Fá Mandinga (...) e aí ficou mais de 1 mês, em missão de intervenção do Comando de Agrupamento de Bafatá. (...)

[Revisão / fixação de texto: LG]

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Notas do edidtor:


(*) Vd. poste de 31 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21715: Em busca de... (310): Hilário Peixeiro, capitão que conheci no Forte da Graça, em Elvas, em 1973/75 (João Rico, ex-fur enfermeiro)

Vd. poste de 13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)


(...) 2. Extractos de: Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Classificação: Reservado. Cap. II. 36-38..

(...) Iniciada a Op Mabecos Bravios, em 1 [de Fevereiro de 1969], com a duração de 8 dias, para retirar as nossas tropas de Madina do Boé. 

Entre vários destacamentos, tomou parte no Destacamento F a CCAÇ 2405 [ .Comandante: Cap. Mil. José Miguel Novais Jerónimo; 1º Gr Comb – Alf Mil Jorge Lopes Maia Rijo; 3º Gr Comb  – Alf Mil Rui Manuel da Silva Felício; 4º Gr Comb  – Alf Mil Paulo Enes Lage Raposo]. (...)

1 de fevereiro de 1969

(...) O Dest F com o efectivo de 112 homens (4 oficiais, 10 sargentos e 98 praças - estão incluídos 1 secção de sapadores e 8 condutores auto), saiu de Galomaro em 1 de Fevereiro de 1969, pelas 9.30h, e chegou a Nova Lamego por volta das 13.00h do mesmo dia, sem qualquer novidade.

Aqui fizeram-se os preparativos finais da organização da coluna que partiu às 5.30h do dia 2 [D]. (...)

2 de fevereiro de 1969

(...) A coluna saiu de Nova Lamego para Canjadude com o pessoal totalmente embarcado e atingiu-se esta povoação por volta das 9.00h sem qualquer problema. A partir de Canjadude a coluna progrediu com guardas de flancos,  tendo o Dest F colaborado na guarda da rectaguarda da coluna fazendo uma progressão apeada que não estava prevista.

Atingiu-se o Cheche [entre Canjadude e Madina do Boé] por volta das 17.00h (sempre com uma cobertura aérea excelente).

3 de fevereiro de 1969

(...) O IN não voltou a manifestar-se mas obrigou-nos a uma vigilância nocturna permanente e a uma mudança de posição por volta das 23.00h.  (...)

Pelas 5.30h [do dia 3, D + 1] mandou-se um Pelotão a Cheche buscar um Pelotão do Dest E que fazia guarda imediata às viaturas e que eu [, cmdt da CCAÇ 2405,] devia levar até Madina.

Cerca [ das 10.00h ] o Dest F sofreu um violento ataque de abelhas e teve que recuar cerca de um quilómetro para se reorganizar de novo. Um soldado, em consequência, ficou imediatamente fora de acção. Foi pedida a respectiva evacuação bem como a de outro soldado que apresentava sintomas de insolação.

As evacuações fizeram-se para Nova Lamego  (...)

O héli desceu mais tarde para reabastecer o pessoal de água.

O Dest D [CCaç 2403[ passou para a frente e reinicou-se a marcha, sempre fora da estrada até à recta que leva a Madina. Nada mais se passou além do sofrimento intenso das tropas por via do calor. O Det D foi reabastecido de água. 

Atingimos Madina [do Boé] por volta das 19.00h [do dia 3 de fevereiro ] desligados do Dest D que prosseguiu a sua marcha quando F teve que parar para reajustar o dispositivo e tratar os mais debilitados (4 praças e 1 furriel).

Houve descanso em Madina e tomou-se uma refeição quente (...)

4 de fevereiro de 1969

(...) No dia 4 (D + 2)  o Dest F dirigiu-se para [ Felo Quemberá, ilegível] ocupando a posição 3 que se atingiu sem dificuldade por volta das 11.00h. Alternadamente ocupou-se as posições 3 e 4 de acordo com o plano.(...)

5 de fevereiro de 1969

(...) Em D + 3 [5 de Fevereiro de 1969] por volta das 7.30h,  recebemos ordens do PCV [Posto de Comando Volante] para a abandonar a nossa posição e seguir ao encontro da coluna. 

Uma hora depois atingimos o campo de aviação de Madina onde fomos reabastecidos de água e r/c [rações de combate]. 

Pelas 9.00h a coluna pôs-se em movimento e meia hora depois 4 carros da rectaguarda tiveram um acidente. Não obstante, a coluna prosseguiu e o pessoal do Dest F mais os mecânicos resolveram a dificuldade.

6 de fevereiro de 1969

(...) Próximo de Cheche recebi ordens para ocupar a posição que ocupara que tivera em D / D+1 porque o Exmo. Comandante da Operação [, cor inf Hélio Felgas,] entendeu dever poupar alguns quilómetros ao Dest F e D, bastante atingidos pela dureza dos respectivos percursos. Essa foi a razão porque não transpus o [Rio] Corubal em D + 3 [ 5 de Fevereiro] só o vindo a fazer em D + 4 [6 de Fevereiro] por volta das 9.00h.(...)

(...) Durante a transposição do Corubal a jangada em que seguiam 4 Gr Comb [da CCAÇ 2405 e da CCAÇ 1790], respectivos comandos e tripulação afundou-se espectacularmente acerca de um terço da largura do rio, provocando o desaparecimento de 17 militares do Dest F e grandes quantidades de material perdido. (...)

(...) Por voltas das 10.00h de D+ 4 [6 de Fevereiro] saímos de Cheche para Canjadude que atingimos por volta das 16.30h com o pessoal deste Dest embarcado. (...)

7 de fevereiro de 1969

(...) Descansou-se e em D + 5 [7 de Fevereiro] às primeiras horas a coluna pôs-se em movimento para Nova Lamego que foi atingida por volta das 11.00h. 

Às 12.00h as tropas ouviram uma mensagem do Exmo. Comandante-Chefe [, brig António Spínola,] que se deslocou propositadamente para a fazer.