segunda-feira, 11 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23422: Frase do dia (1): Faz hoje 55 anos que entrei para a tropa, em Santarém. Tinha 22 anos feitos, regressei com quase 26... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil at art, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)




Espinho > Silvade > Fevereiro de 1969 > Jantar de despedida antes da partida, a 18, para o TO da Guiné... Um grupo de sargentos e furriéis milicianos da CART 2479, futura CART 11, "Os Lacraus" (1969/70).

À esquerda, sentados: Canatário (armas pesadas), e Cândido Cunha; em pé Silva (transm.), Abílio Duarte e Pinto, atrás Macias e Pechincha (operações especiais); ao alto,  Sousa, ao centro 1º. Sarg Ferreira Jr. (já falecido), Renato Monteiro (1946-2021), Ferreira (vagomestre), Edmond (enfermeiro), Pais de Sousa (mecânico) e eu, sentado, à direita, Valdemar Queiroz (armado em finório) (nasceu em 30/3/1945; está assinalado com cercadura a amarelo). (*)

Para completar a classe de sargentos da CART 2479 (futura CART 11),  falta o 2º. sarg Almeida (o velho Lacrau) (já falecido), o fur mil Vera Cruz e o fur mil Aurélio Duarte  (também já falecido).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz 2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Fez ontem 55 anos que entrei para a tropa. Eu e o Cândido Cunha entrámos da parte da tarde no Destacamento da EPC em Santarém.

Tinha 22 anos feitos e regressei da tropa com quase 26 anos. Por acaso já tinha emprego certo, as empresas eram obrigadas a manter no Quadro de Pessoal os trabalhadores a prestar serviço militar.

Mas, quantos milhares de jovens ficaram a "patinar" no início da sua vida profissional por terem de ir para a tropa e depois para a guerra?

País do caraças, que obrigava os jovens a ir para a tropa e para a guerra em vez de os utilizar no desenvolvimento do País.




Valdemar Queiroz [ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de dezembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22821: Fotos à procura de... uma legenda (158): Tão meninos que nós éramos!... (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 61/74 - P23421: Notas de leitura (1463): “A primeira coluna de Napainor”, por António S. Viana; Editorial Caminho, 1994 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Trata-se de um romance muito bem organizado, sobressaem alguns alferes que primam por interesses culturais, intercala-se o horror com a pilhéria, por vezes a falta de sentido ressalta do jargão militar, galgamos os capítulos sempre à espera do mais capitoso imprevisto, vão-nos sendo apresentados vários perfis militares e em dado momento chegamos ao horror, aos comportamentos de cabeça perdida, há interrogadores completamente perversos, e pergunta-se, se acaso há fundamento real, como é que os Macondes sobreviveram a tanta bestialidade de parte a parte, mesmo que tenham de antemão tomado partido por serem independentes. Um romance altamente recomendado, precisamos de comparar o que é comparável, há literatura fora da guerra da Guiné que merece a nossa atenção, disso não duvidem.

Um abraço do
Mário



A primeira coluna de Napainor, por António S. Viana (1)

Beja Santos

Toda a análise da literatura de guerra colonial deve ter em conta o condicionante do território, uma descrição exuberante dentro de um planalto de Moçambique, subindo ou descendo ravinas, não tem analogia com um desembarque de fuzileiros numa maré-baixa, chapinhando no lodo; há o espaço em que decorre a ação, mas há o tempo, uma narrativa de experiência em 1963 ou 1964 pode ser incompreensível em 1973 ou 1974, houve mudanças, apareceu ou desapareceu população, a guerrilha está mais ativa ou desviou-se para outras regiões. Para além desta questão axial, a procura dos termos de comparação tem atrativos: o estado de espírito, a comunicação do militar com o meio em que se insere, a anatomia do sofrimento, o que aproxima e diverge o combatente no espaço e no tempo.

Isto para enfatizar que a questão central das leituras que aqui se apresentam, por via de recensão, teima, sempre que se proporciona, a comparar. Além de velhos combatentes, temos direito a ler bons livros. E é pois com satisfação que vos venho falar de uma obra de ficção passada no teatro moçambicano, “A primeira coluna de Napainor”, por António S. Viana, Editorial Caminho, 1994. É a chegada, aqui os periquitos dão pelo nome de checas. Fica-se com a sensação que se entrou numa peça de teatro do absurdo, os quartéis não têm nomes reais, a localização é indefinida, mas o jargão da tropa impõe-se, frases curtas e sacudidas, o herói chama-se Var, mais tarde adianta-se que é Avelar, é amigo de Fernando (no desenvolvimento da obra presta-se homenagem a José Bação Leal, que lá faleceu, por negligência médica) e de Henrique, não se disfarça que são alferes com bom grau cultural, há quem goste de ouvir Wagner ou ler a poesia de Saint-John Perse ou os romances de Lawrence Durrell.

Capítulos curtos, uma grande economia, descrições contundentes:

“A sua vida tinha sido comerciar com os indígenas. Vendia-lhes capulanas (pano usado pelas mulheres, termo moçambicano) que quase rivalizavam com as que iam comprar do lado de lá da fronteira, sal, açúcar, candeeiros de petróleo e todas as bugigangas que fazem parte do arsenal de um cantineiro: barros, pomadas para doença, camisas, calções, cordas, catanas, utensílios para agricultura e produtos alimentares.

Abandonou Napainor muito depois dos primeiros tiros. Aproveitou-se das migrações da população para fazer o negócio prosperar e só partiu quando esgotou os stocks. Foram quinze dias de atraso que lhe custaram a vida. Quando meteu os últimos frascos na carrinha e aconchegou ao seu lado o cofre cheio, não sabia que ia morrer. Uma bazucada arrancou-lhe as duas pernas e grande parte da chapa da viatura em que seguia. A mutilação não lhe tirou, todavia, a vontade de viver e, num último fôlego na picada da lama, o carro quase sucata foi embater num poste telegráfico onde a natureza fizera crescer pequenos rebentos.

Nos tempos da prosperidade dizia, a quem o quisesse ouvir, que nunca deixaria o planalto a não ser que o prendessem, mas que mesmo assim haveria de voltar, tal como os rebentos verdes das velhas árvores voltam a nascer nos postes fabricados do tronco morto”
.

A insinuação do absurdo persegue toda a narrativa, absurdo e fantasmagoria, alguém barafusta:

“Tu querias que um povo como nós, que fez da Índia, da África e do Brasil razões de sobrevivência no corpo e na alma, fechasse essa página da História sem que o absurdo, o sofrimento e até o ridículo se instalassem?”

São jovens cultos, a guerra ainda não atingiu níveis de brutalidade ou horror, ainda há disponibilidade para procurar nos outros vestígios da vida interior, é esse um dos trabalhos a que se dá Var naquele quartel que dá pelo nome de Arduz, ele não deixava de se assombrar como aqueles militares e civis a viverem o permanente sobressalto no Norte se conseguiam alhear como se a guerra fosse apenas mais um episódio no percurso normal das suas vidas. Var observava que os que tinham sentido a vida em perigo acusavam a transformação, o que mais o seduzia eram os comportamentos imprevisíveis, tanto os arroubos de heroísmo ou solidariedade como as atitudes de desvairo, esfaqueando mortos, enforcando possíveis terroristas, as atitudes demenciais debaixo de fogo.

Um certo general lançou a operação Pé-Leve convencido de que ia resolver para sempre a guerra no planalto. 

“No maior segredo, foram deslocadas para a região duas baterias de artilharia, dois batalhões, uma companhia de comandos e outra de paraquedistas. Todavia, os possantes motores dos velhos carros de três toneladas, das mercedes e das berliets subindo o planalto de duas direções diferentes afugentaram os animais e só levantaram colunas de poeira.

Na madrugada em que foi iniciado o envolvimento, os canhões troaram despejando obuses para a zona onde se acreditava estar uma das bases do IN, enquanto as companhias iam fechando o cerco projetado com todo o cuidado no papel fino do gabinete de operações. Começavam a esbulhar o mato em busca de um inimigo que aparecia onde menos era esperado. O general percorria o terreno seco do quartel de Arduz, sempre com o havano na boca, entre o gabinete que confiscara ao comandante de batalhão, a sala de operações e o posto-rádio, esperando notícias iminentes que não chegavam. Alguns autóctones dobravam-se até ao chão, em intermináveis mesuras, à passagem das colunas militares, mas o IN não estava em lado nenhum, nem mesmo na base que as NT tomaram e destruíram”
.

O general está eivado pelo espírito de missão, acredita piamente nos séculos da presença portuguesa em África, procura doutrinar os oficiais à sua volta:

“- Nós sempre soubemos lidar com os selvagens, é uma qualidade intrínseca do nosso povo. Eu vejo pelo meu mainato. Você julga que ele é tratado de maneira diferente do meu neto? E quer saber porquê? Pela mesma razão por que eu sou capaz de comer uma posta de bacalhau com os soldados. Mas ai deles… ai deles… se me faltam ao respeito.

As antigas famílias portuguesas adotavam crianças de cor em qualquer parte do mundo, e havia muitas que lhes chegavam a dar o seu próprio nome. Às vezes, os nobres portugueses tinham filhos de aventuras fora do casamento e fossem eles pretos, índios, amarelos ou vermelhos, davam-lhes um nome cristão e o próprio apelido para que a semente da nossa civilização vingasse em toda a parte. Eu percebo essa atitude olhando para o filho do meu mainato. Que importância tem ele ser preto? É uma criança como o meu neto. Quando falo às tropas, costumo dizer isso”
.

E muda-se bruscamente de plano, a companhia 333, a que pertence Var e cujo comandante é o capitão Vaz, estão agora em operação, vamos conhecer novas figuras, como o furriel Leónidas, um militarão de cepa.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23416: Notas de leitura (1462): A lusitanização e o fervor católico na Guiné, um ideário do Estado Novo na publicação “Política de Informação”, por José Júlio Gonçalves, 1963 (Mário Beja Santos)

domingo, 10 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23420: Blogpoesia (774): "Já não entendo este mundo", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

© ADÃO CRUZ


Em mensagem do dia 6 de Julho de 2022, o nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68) enviou-nos este seu pema:


Já não entendo este mundo

Não entendo este mundo moribundo
este mundo escuro nascido sem sol e sem luar
já não entendo esta onda de sismos e cifrões
esta dor de milhões de cabeças rolando como esferas
para o fundo dos abismos.
Não entendo este mundo dilacerado e sem vida
já não aguento este frio de quatro paredes
este jogo do cemitério da história
este profundo alarido
este diabólico mistério de morte concebido
esta vida sem sentido a que chama mercado e democracia
a argentária escória.
Não entendo este mundo de olhos vendados com barras de ferro
este silêncio absorto e abstracto
no assalto impune a soberanas nações
este mundo de vidas e almas sem direitos nem justiça
este mar de sangue escorrendo pelas garras dos algozes
este rasgar de corações
este martírio dolorosamente tatuado na pele dos inocentes
por tanques e aviões por mísseis e canhões.
Já não entendo as metástases deste cancro da guerra
este perigo sistémico diariamente arquitectado
esta inelutável evolução para a desordem suprema.
Já não sou capaz de aguentar
o peso do crime chamado superlucro
brilhando como a luz do inferno na ponta dos punhais.
Já não entendo este mundo apodrecido
na secura do grande rio da esperança.
Não entendo este mundo escorraçado para as bocas da fome
pela infame corrida a um podium inglório
por entre as malhas da ganância enlouquecida
neste imparável caminho do caos e da fatalidade
na ensanguentada bandeira erguida para o nada
no constante apunhalar da liberdade.


adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)

Guiné 61/74 - P23419: O consulado do general Bettencourt Rodrigues (1): "Trocar sangue por suor": a famosa "diretiva para a diminuição das vulnerabilidades", de 21/10/1973


Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters, Joachim Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que substituiu o carismático gen António Spínola. (Nomeado para o cargo, em 25/8/1973,  só chegou ao CTIG em 21/9/1973, três dias antes da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau; em 16 de novembro de 1973, fa5ria uma  visita-relâmpago à antiga Madina do Boé, no âmbito da Op Leopardo, 15-17 nov 1973 )

Fonte: Página do Facebook de J. Raffelber, Raffelnews, Álbum Madina do Boe, 29 de janeiro de 2018 (cm a devida vénia)

1. Em 25 de Agosto de 1973 foi nomeado para os cargos de Cmdt-Chefe das Forças Armadas da Guiné  e de Governador da Guiné, o General José Manuel Bethencourt (ou Bettencourt) Conceição Rodrigues (1918-2011),  em substituição do General António Sebastião Ribeiro de Spínola (1910-1992), que terminou a sua  comissão de serviço  nesse data. (Já estava, de resto, de licença de férias no Continente desde o dia 6 de agosto.).

Bettencourt Rodrigues chegou ao CTIG numa altura em que já era pública e notória a degradação da situação político-militar. Deve ter aceite, contrariado, o presente envenenado que o Marcelo lhe deu... Tinha sido ministro do Exército (1968-1970), e chegava de Angola, onde fora comandante da Zona Militar Leste (1971-1973).

Com uma brilhante folha de serviço, e talvez o melhor general disponível no ativo para substituir o carismático gen Spínola, Bettencourt Rodrigues aceitou os riscos da estratégia do governo de Marcelo Caetano que era, em última análise, resistir até à exaustão de meios e deixar cair a Guiné se tal fosse preciso, mas nunca negociar com o PAIGC... Será exonerado do cargo na sequência do golpe de de estado do Movimento das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974. (No nosso blogue tem 55 referências.)

Nos últimos três meses do ano de 1973,  o novo Com-Chefe publicou três Directivas, a primeira das quais, a 21 de outubro, a "Directiva para a diminuicão das vulnerabilidades". Não tem número.

Reproduz-se aqui o excerto publicado da CECA (2015), pp. 286-288. Numa primeira leitura, fica-se com a ideia que esta diretiva é ditada pelos ensinamentos colhidos dos acontecimentos mais recentes, ocorridos no 1º semestre  de 1973, e em especial a chamada "batalha dos 3 G" (Guidaje, Guileje e Gadamael); por outro lado, identificam-se algumas das "vulnerabilidades" mais conhecidas das NT no TO da Guiné, como o deficiente treino e preparação, a indisciplina de fogo, o laxismo, a rotina, o cansaço, etc. É difícil de saber se, no terreno, houve melhoria de alguns destes "pontos fracos" durante o curto consulado de Bettencourt Rodrigues...Mas alguns dos camaradas que serviram no CTIG sob o comando do gen Bettencourt Rodrigues  poderão elucidar-nos melhor.

2. Directiva do Com-Chefe,  de 21 de outubro de 1973 > Determina às Forças Armadas da Guiné que adoptem medidas tendentes à diminuição dos efeitos causados pela acção do lN sobre as nossas forças.

Transcreve-se a "Execução":

"a. Com vista ao cumprimento desta missão impõe-se:

(1) preparar as Unidades, a todos os níveis de Comando, para, face às possibilidades lN esboçadas, conseguir uma "diminuição de vulnerabilidades";

(2) estudar e adoptar, a todos os níveis de Comando, as medidas mais adequadas e velar exaustivamente pelo seu rigoroso cumprimento;

(3) responsabilizar todos os escalões de comando pelo estabelecimento de medidas convenientes, pela orientação das Unidades e pela fiscalização da execução, com vigor e com rigor;

(4) não aceitar desculpas como o calor, o cansaço do pessoal, o tempo de comissão, o desembaraço criado pela veterania e a incomodidade do esforço físico porque está em causa "a troca de sangue por suor".

b. Os Comandos do TO, a todos os níveis, adoptam todas as medidas convenientes, de entre as quais se indicam aquelas cuja adopção se considera imprescindível:

(1) Manter abertos os itinerários da respectiva ZA que permitam a ligação a Unidades vizinhas e, através dos quais, se possam executar reabastecimentos normais e de emergência e deslocamentos de
forças para apoio mútuo e reforço de localidades ameaçadas.

Com esta finalidade, toma-se necessário:

  • a desmatação de itinerários de molde a dificultar a montagem de emboscadas lN;
  • a realização de patrulhamentos frequentes para impedir a implantação de minas e para detectar e neutralizar as existentes;
  • a montagem de emboscadas e de minas e armadilhas nos trilhos de acesso às vias de comunicação e nos locais mais propícios a emboscadas lN.

(2) Treinar as tropas na reacção a emboscadas lN.

(3) Assegurar a defesa e segurança das pistas e heliportos de molde a mantê-las em permanente estado de utilização.

(4) Executar acções dinâmicas que criem insegurança e intranquilidade ao lN.

(5) Eliminar todas as rotinas que possam dar vantagens ao lN.

(6) Verificar a instrução de tiro do pessoal (1 cartucho por homem serve para detectar maus atiradores) e treinar os menos aptos.

(7) Mentalizar permanentemente o pessoal quanto à necessidade de disciplina de fogo. O consumo exagerado de munições denuncia nervosismo, baixo moral e deficiente nível de instrução e pode
colocar as tropas perante a necessidade dum reabastecimento urgente, nem sempre possível.

(8) Estudar e ensaiar medidas de reacção dinâmica que devem ser procuradas com o maior interesse e executadas com a máxima agressividade.

(9) Aperfeiçoar todos os procedimentos para pedidos de apoio, de molde a que estes possam ser feitos de maneira eficiente e em tempo útil. Salientam-se os referentes a apoio de fogos da Força Aérea e de Artilharia e aos transportes de evacuação (TEV).

(10) Rever os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, de forma a aperfeiçoar os dispositivos de defesa imediata, bem como os sistemas de apoio mútuo, quer pelo fogo quer pela
manobra.

(11) Melhorar a organização do terreno quer em abrigos, quer em trincheiras ou locais de combate, para fazer face à hipótese de tentativas de abordagem e assalto.

(12) Assegurar a defesa afastada dos aquartelamentos e localidades por meio de: 
  • patrulhamentos e emboscadas frequentes nas possíveis bases de fogo lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • implantação de minas e armadilhas nas bases de fogos lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
  • elaboração de planos de fogos perfeitamente adaptados às realidades.

(13) Treinar os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, pela execução de frequentes "exercícios de alarme", de dia e de noite, promovendo imediatamente as necessárias correcções.

(14) Proteger as populações.

(15) Intensificar o serviço de informações e o rigor de medidas de contra- informação.

(16) Assegurar uma efectiva e eficiente acção de comando, em todas as situações de modo que a tropa se encontre sempre convenientemente enquadrada.

(17) Dispor de uma reserva pronta a sair com prévio alerta, com vista a actuar contra  grupo lN detectado ou a socorrer uma Unidade vizinha. [... ]"


Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 286-288. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]

sábado, 9 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23418: Os nossos seres, saberes e lazeres (511): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (58): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 3 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2022:

Queridos amigos,
Prossegue a romagem em território onde se viveu alguns meses, vai para 55 anos, tudo começou em Mafra, da Ilha de São Miguel se saltou para a Amadora para formar batalhão, dado como ideologicamente inapto fui recambiado para a rendição individual. Por desígnios da roda da fortuna até nasceu na Guiné uma grata amizade com médico oftalmologista, era inevitável deambular por lugares e espaços associados a gratas recordações, no dia-a-dia, após trabalho no quartel, era por aqui que se andava pelo próprio passo, e jamais esqueceu o aprazimento de tais vivências. Agora vai-se até ao interior, até à Bretanha e aos Mosteiros, requintes do rochedo vulcânico em perpétua conversa com a espuma do oceano.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (58):
De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 3


Mário Beja Santos

É imperioso regressar aos meus lugares mágicos, àqueles a que me afeiçoei, vai para cinquenta a e cinco anos. Era aqui à esquina, vindo da Rua de Lisboa, e depois de tomar o pequeno-almoço no mesmo local, merecendo sempre a distinção de um pãozinho quente com queijo da Ilha e galão, que tomávamos a viatura militar que nos conduzia aos Arrifes, o meu camarada Vasconcelos Raposo limitava-se a sair do Palácio da Conceição, onde vivia o Governador, lá íamos na caixa todos a monte, eram cerca de 7 quilómetros até chegarmos ao Batalhão Independente de Infantaria N.º 18, era seu comandante um distinto oficial Clodomiro Sá Viana de Alvarenga, demitiu-me de gerente de messe, eu, para evitar ficar encalacrado com dívidas, pus os oficiais a chicharro, ovos preparados de toda a maneira, carne guisada, houve levantamento, era gente fina, de boca delicada, agradeci a demissão, deixei as contas em ordem, passei a dormir sossegado, quem me antecedeu passou de facto um mau bocado, teve que desembolsar cerca de 100 contos, eu vivia a contar os meus 1100 escudos, até deu para convidar a minha mãe a visitar esta terra dos meus sonhos.
Aqui vim pedir, antes de regressar ao Continente, que o meu amado Jesus me desse o bom comando, saber ajudar, ser destemido e dar o melhor aos subordinados. Por razões que a Deus pertence, fui ouvido, deram-me bravos soldados guineenses para comandar, é um outro território de saudades, complementar a este. A imagem deste Deus-Homem sempre me acompanhou, sempre nos demos muito bem, irrecusável era esta visita, na parede lateral a este computador em que escrevo tenho uma réplica no registo do Senhor Santo Cristo feito por uma artífice de gabarito, a Graça Páscoa.
A igreja tem muita harmonia e belíssimos azulejos. Como gosto de apreciar a devoção alheia, espequei-me a ver quem entra, e de facto o ponto magnético é aquela grade, no ponto oposto a esta imagem, onde se conserva a relíquia que qualquer açoriano invoca, não só os tementes, mas todos aqueles que nesta relíquia encontram um dado indispensável do seu bilhete de identidade, faz parte da sua pertença.
Imagine-se, no sétimo ano dos liceus dávamos literatura do século XIX, e falava-se nos sonetos de Antero, o meu professor, Padre António Dias de Magalhães, estudara-o afincadamente, criava aos alunos uma atmosfera tão forte que era impossível não deixar de ficar impressionado com aquele Santo Antero que num ato de desvairo, num banco que tinha por cima a palavra Esperança pôs termo à vida, ainda hoje me perturba o que leva o ser humano ao suicídio, aqui fiquei em contemplação, não há nada como amar a vida até ao último dia, na ciência de que devemos dar a nós e aos outros de acordo com os talentos recebidos.
Perco-me a ver estes motivos da calçada, todos tão engenhosos e felizmente tão bem cuidados, há seguramente um apreço cultural nesta minha ilha mágica pelo chão bem tratado, a presença constante da lava que o Homem domestica para sua comodidade.
Aqui me venho prostrar diante deste altar que me parece uma renda de bilros, nada sei sobre esta devoção a São Sebastião, é um templo grandioso marcado pelo gosto dos primitivos povoadores (há dias, a ver o livro da minha neta de História e Geografia encontrei a barbaridade de se falar em colonização dos Açores, como é que é possível não se saber a diferença entre colonização e povoamento?), temos aqui bastante requinte manuelino, muito barroco, o templo é gracioso, impossível não percorrer os altares, primeiro o altar-mor, e depois as devoções, como aqui se mostram.
Vinha com a fisgada de poder visitar o tesouro, conversei com o sacerdote, tinha trabalho litúrgico pela frente, vinha acompanhado de um inglês e queria mostrar-lhe duas dalmáticas e duas casulas do século XIV, do que me foi dado perceber alfaias religiosas adquiridas depois da Reforma, aqui vieram parar, mas há muitos mais outros tesouros para ver, seguramente fica para a próxima viagem.
Tive sorte com a hora do dia, uma luz crua que não permite contraste com os tons de alvenaria e o rendilhado manuelino, tanto da porta principal como da lateral, com estes belos medalhões, a Igreja de São Sebastião tem conhecido intervenções capazes, não vejo nada desfigurado, é sempre com satisfação que ando à volta deste belo património, outro traço da identidade nacional, é com orgulho que olho para estes primeiros traçados da aventura portuguesa fora do Continente Europeu.
Finalizo por ora esta deambulação, primeiro as Portas da Cidade, todos os dias aqui me vinha enamorar deste ornamento de pedra que possui o dom não de ser volátil, mas de abraçar quem chega. E ali perto vejo a fachada de um prédio onde, no primeiro andar ia visitar José Luís Bettencourt Botelho de Melo, tudo começou na Guiné, limpou-me os olhos depois de uma mina anticarro, nasceu uma linda amizade, veja-se esta foto ali na praia do Pópulo, fomos comer, como era da praxe, os filetes de abrótea, na companhia da filha. Melancolia, perdi o amigo que aqui me recebia sempre de braços abertos. Deixo aqui o meu preito de homenagem.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23404: Os nossos seres, saberes e lazeres (510): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (57): De novo em São Miguel, é infindável a romagem de saudade - 2 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23417: Parabéns a você (2080): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE JUNHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23394: Parabéns a você (2079): Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort Ind 912 (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23416: Notas de leitura (1462): A lusitanização e o fervor católico na Guiné, um ideário do Estado Novo na publicação “Política de Informação”, por José Júlio Gonçalves, 1963 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
A grande mudança que constituiu a governação de Sarmento Rodrigues, uma verdadeira arrancada nas comunicações, transportes, infraestruturas, urbanização, saúde, educação, etc., também se fez acompanhar de uma preocupação confessional e cultural, os discursos de Sarmento Rodrigues eram perfeitamente claros quanto à necessidade de intensificar o uso da língua portuguesa num processo cultural mais amplo, prismado de "lusitanização". Numa atmosfera imperial, também se era sensível ao facto de a Guiné sofrer todos os impactos de séculos de crescente islamização e aonde o mundo missionário progredira de forma lenta e inconstante, havia que mudar as coisas. É à luz desse ideário que se deve ler, penso eu, o trabalho de compilação elaborado por José Júlio Gonçalves que, reconheça-se, leu cuidadosamente todos os artigos publicados sobre esta matéria religiosa no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa. Tudo mudou com a independência, a língua portuguesa é a do Estado e as missões são um dos pilares fundamentais nas políticas de saúde e de educação na Guiné-Bissau. São assim as ironias da História...

Um abraço do
Mário



A lusitanização e o fervor católico na Guiné, um ideário do Estado Novo

Beja Santos

José Júlio Gonçalves foi professor extraordinário do então Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina. O seu livro de ensaios publicado em 1963, “Política de Informação”, inclui um trabalho que o autor publicara anteriormente no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa em 1958 e que aqui vem completar com largas referências a outras colaborações recolhidas no referido Boletim Cultural que permitem ao autor apresentar um quadro da vida confessional da Guiné para, sem ambiguidades, retomar uma política seguida pelo governador Sarmento Rodrigues para reforço da língua e da cultura portuguesa bem como de maior suporte à religião católica na colónia, de modo a travar fundamentalmente os riscos de um islamismo que pudesse vir a constituir um elemento dissolvente da presença portuguesa. Como é sabido, nem a religião islâmica se revelou hostil à presença portuguesa como se mostrou agradada pela aceitação das escolas corânicas, pela crescente construção de mesquitas e do apoio às peregrinações a Meca. Uma luta surda se travou entre vários governadores entre os apoios à escola laica ou à escola de missionários. A missionação na Guiné datava de fresca data, foram os franciscanos que se impuseram e daí a respeitabilidade com que ainda hoje são credenciados. O sistema educativo foi permanentemente frágil e difuso, conheceu crescimento durante o período da guerra colonial graças aos familiares dos militares e deles próprios, investiu-se tarde e más horas no sistema educativo. Este, deploravelmente, continua em bolandas desde a independência.

O trabalho de José Júlio Gonçalves mostra-nos as etnias animistas (Felupes, Baiotes, Banhuns, Papéis, Brames, Balantas e Bijagós), as etnias animistas pouco islamizadas (Manjacos e sub-ramos Balantas), as etnias gradualmente islamizadas (Cassangas, Nalus, Beafadas e Pajadincas), seguem-se as etnias quase completamente islamizadas (predominantemente Fulas e Mandingas) e as minorias constituídas por católicos e por um grupo ainda mais minoritário de protestantes.

Vê-se que o autor leu atentamente a bibliografia da época e que lhe permite dissecar todas as etnias animistas à luz das investigações do tempo. É nas entrelinhas e nas observações que se perceciona qual a mensagem que o autor pretende fazer passar. Predominam as escolas muçulmanas sobre as escolas missionárias. Lembra-se que em meio século de atividade, entre 1900 e 1950, o islamismo obteve na Guiné mais adesões que os cristãos em cinco séculos de evangelização. Apela-se a uma maior eficiência da atuação dos missionários católicos, mas não se hesita em escrever: “Indígena islamizado está perdido para o cristianismo. Os maometanos guineenses têm grande respeito pelos missionários cristãos; não têm mesmo hesitação em mandar os filhos às escolas onde eles lecionam. Mas ao menor intento de catequese, ao mais pequeno sinal de que o espírito da criança se está interessando pela religião dos brancos – logo se ergue uma barreira a isolá-lo e a afastá-lo de tal influência. O missionário bem sabe isso e evita distribuir assim a sua atividade pelas áreas francamente islamizadas”.

E surpreende-nos com a afirmação que é possível catequizar as populações islamizadas, “não se esqueça que o sul de Portugal já foi habitado por muçulmanos que, em boa parte, se fizeram cristãos”. Mas as surpresas não ficam por aqui, o autor alerta para a possibilidade de os brancos se socorrerem de práticas de feitiçaria ou passem a usar amuletos iguais aos dos negros. E não sendo muito claro a quem está a culpabilizar, observa que o islamismo avançava em direção à faixa litoral e que não havia firmeza no binómio Administração – Missões. Sugere uma ocupação missionária que deve não só visar as regiões ainda pagãs como também as dominadas pelas etnias islamizadas.

Falando do protestantismo na Guiné, diz existir uma missão evangélica anglo-americana que tem sede em Bissau e várias filiais e que mantém um dispensário de combate à lepra em Bissorã. É um protestantismo que sabe atuar no campo assistencial e que dispõe de fundos. E deixa um alerta: “Os missionários protestantes não favorecem a nossa política de integração porque não lusitanizam, mas são cuidadosos no trato com as nossas autoridades administrativas”.

Discreteia seguidamente sobre alguns aspetos mais representativos da influência árabe-islâmica na Guiné, especificando a ação dos marabus, mouros, judeus e sírios. Contextualiza a atividade das confrarias muçulmanas (a Qadiria e a Tidjania), citando Teixeira da Mota:
“A confraria dos Qadiria foi fundada no século XII na Mesopotâmia. Na África Ocidental, o movimento está desligado da confraria-mãe e subdividido em confrarias independentes, embora todas subordinadas aos ideias e práticas da ordem Qadiria. Os fiéis aspiram ao aniquilamento do ser perante Deus, para o que se recomendam práticas comparáveis às dos dervixes orientais (…). Na nossa Guiné os principais centros Qadiria são Jabicunda e Bigene, na circunscrição de Bafatá. Parece que a maioria dos Mandingas do nosso território segue a ordem Qadiria. Quanto à confraria Tidjania, diz igualmente Teixeira da Mota que “é de origem relativamente recente (fins do século XVIII) e especificadamente africana, constituindo, além do lado religioso, uma ordem política e em certas épocas também guerreira, nomeadamente sob o afamado Al Hadj Omar, que se serviu dela para combater os Qadiria, cuja influência suplantou no Futa Djalon e Futa Toro. Na Guiné Portuguesa um dos principais centros Tidjania é Ingoré, onde um xerifo prepara numerosos talibés vindos de áreas distantes, inclusive Beafadas. Ao que parece, a maioria dos Fulas segue esta ordem”.

As etnias islamizadas iam exercendo a ação catequística junto dos animo-feiticistas, daí resultando fenómenos como a mandinguização e a fulanização. E o documento de divulgação salta agora para as Artes Plásticas, concluindo que as proibições religiosas na escultura, vedando, por exemplo, a reprodução de figuras animadas, tornavam as Artes Plásticas muito pobres, as grandes exceções era a escultura bijagó e o que restava da escultura nalu.

Em jeito de conclusão, o autor enfatizava a urgência de: dar maior incremento à ação missionária e católica, sugerindo que a catolicização devia ser predominantemente dirigida para as famílias monogâmicas; estudar atentamente os nexos políticos resultantes da peregrinação a Meca, sobretudo naqueles aspetos que mais de perto se prendem (ou possam vir a prender-se) com a nossa soberania nas terras guineenses; combater a difusão do árabe como língua franca e litúrgica da Guiné, incrementando o crioulo e criando mais escolas para difusão do português; vigiar sempre a administração da Justiça – pedra de toque da nossa civilização e que mais vivamente apaixona a mentalidade dos primitivos atuais. Todo o ato injusto conduz à rebelião latente. Daí a necessidade de a justiça europeia nunca dever aparecer inferiorizada em relação aos preceitos corânicos.

Todo este quadro ideológico enunciado por José Júlio Gonçalves se esfumou com as realidades da independência da Guiné-Bissau. A esfera confessional está alterada: o islamismo pouco cresceu, quem cresceu significativamente foi o catolicismo, e ambos os credos, a que se pode adicionar o protestantismo, se relacionam bem, sem querelas. A língua portuguesa, como Amílcar Cabral sempre advogou, foi “roubada” aos portugueses, é língua do Estado, Cabral era firme nesta decisão, o enclave tinha que se distinguir da língua francesa, para não ser engolido. Tal como Teixeira da Mota sugeria, o crioulo é a língua franca dos guineenses e a língua portuguesa lá prossegue aos tombos… sem preocupações de lusitanização. Quanto às missões, florescem, são respeitadas nos domínios da Saúde e da Educação, sobretudo. Em muitos casos, estes missionários são apoiados por organizações não-governamentais de gabarito, que contam com voluntários de excecional qualidade, preparando formadores e pessoal técnico e auxiliar em vários ramos da Saúde.

Imagem referente à Fundação Instituto Social Cristão Pina Ferraz, Missão Católica de Cumura.
Imagem referente à Fundação Instituto Social Cristão Pina Ferraz, Missão Católica de Cumura.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23410: Notas de leitura (1461): "Crónicas Soviéticas", por Osvaldo Lopes da Silva; Rosa de Porcelana Editora, 2021 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23415: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (8): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VII: "Gadamael tremeu mas não caiu" (Manuel Reis, "pirata de Guileje", dixit), e isso deveu-se aos seus bravos defensores, com destaque para a atuação pronta, inteligente, corajosa e eficaz do BCP 12, e da FAP


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14... Foto do álbum do  J. Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974... e que é um dos heróis (esquecidos) de Gadamael.

Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007).  
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação desta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).

Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Sobre Gadamael, podemos fazer nossa a opinião do Manuel Augusto  Reis, ex-alf mil at cav, um dos "piratas de Guileje (CCAV 8350, 1970/72): 

"Gadamael tremeu mas não caiu e tal se deve à actuação do Batalhão de Paraquedistas [, BCP 12,] e à actuação EFICAZ da Força Aérea. Como homem no terreno, é minha convicção que se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído com estrondo, aprisionando ou matando tudo o que lá se encontrava." (**).

E aqui convém repetir o que  escreveu o gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (e na altura, tenente, que pilotava um dos nossos Fiat G-91, BA 12, Bissalanca, 1972/74, que foram neutralizar Kandiafara, a base do PAIGC; já no território da Guiné-Conacri):

"O que travou o avanço do PAIGC e estancou o tão apregoado 'efeito dominó', propagandeado vezes sem conta por 'Nino' Vieira? A explicação é simples e tem duas vertentes, por um lado a presença do Batalhão de Paraquedistas na área condicionou de imediato os movimentos dos guerrilheiros na zona, por outro lado a Força Aérea Portuguesa (FAP) bombardeou as matas à volta de Gadamael, silenciando várias bases de fogo, e em seguida entrou pelo território da República da Guiné-Conacri, destruindo a maior base de apoio do PAIGC, situada perto da localidade de Kandiafara." (***)


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto  (continuação)

Operação "Dinossauro Preto" - 2jun a 17lul73

[Nota: É feito um resumo do Relatório de Operações, n.º 16/73 do Cmdt do BCP 12 de jul73.]

A "Missão" consistia em "destacar as três CCPs para Gadamael Porto, onde ficam sob Comando Operacional do COP 5 com missão e actividade a indicar por aquele comando". Nota: CCP 121, 122 e 123 articuladas em 4 GComb a 25, 29 ou 30 homens, conforme as disponibilidades 
em pessoal.

Em 2jun73, a CCP 122 foi deslocada de Bissau para Cacine e no dia seguinte para Gadamael Porto, sempre em meios navais.

Em 2jun, a CCP 123 foi destacada de Cadique para Cacine e em 5jun deslocada para Talaia, em meios navais, e daí em progressão apeada para Gadamael Porto.

Em 11jun a CCP 121 foi deslocada de Bissau para Cacine e em 13Jun para Talaia também em meios navais e nesse dia em progressão apeada para Gadamael Porto.

"Diversos"

"a. O Comandante do BCP 12, ten Cor Para Sílvio Rendeiro de Araújo e Sá, que se encontrava em Cufar no comando do COP 4 recebeu em 5jun73 ordem para se deslocar para Gadamael Porto e assumir o comando do COP 5, substituindo o Major Pára-quedista António Valério de Mascarenhas Pessoa, que em 2jun73, estando em Cufar como adjunto do COP 4, seguira para Cacine em 2jun73, e em 3jun desembarcara em Gadamael Porto com a CCP 122.

O Comandante do BCP 12 nesse mesmo dia seguiu em helicóptero para Cacine, e na manhã seguinte (6jun73), logo que as condições de maré o permitiram seguiu via marítima para Gadamael Porto.

b. Feito o necessário estudo, e verificando-se que o Inimigo exercia forte pressão sobre Gadamael Porto:
  • Flagelando com armas pesadas com bases de fogos na República da Guiné e em território Nacional junto da fronteira;
  • Mantendo observadores avançados para regulação de tiro;
  • Mantendo na área de Gadamael Porto volumosos efectivos de infantaria.

A Manobra a seguir pelas nossas forças assentou nos seguintes pontos:
  • Fazer estacionar dentro de perímetro defensivo o mínimo de forças, e disperso por todo o perímetro, ocupando assim também a periferia dos reordenamentos;
  • Manter em permanência em actividade operacional o máximo de forças, tomando em atenção os efectivos e o período de actuação que se previa longo;
  • Ir aumentando gradualmente a amplitude das acções e operações, por forma a aliviar a pressão sobre Gadamael Porto, e permitir o lançamento de acções e operações sobre os objectivos mais importantes (Sangonhá, Tambambofa, Gadamael Fronteira, Lamoi e Sori Ucreá);
  • Manter liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto mediante ocupação quase em permanência de Talaia e da ponta da península;
  • Impedir a livre actuação de observadores mediante patrulhamentos frequente dos possíveis pontos a ocupar pelos mesmos;
  • Colocar o Pelotão de Artilharia em condições de actuação com rendimento, melhorando os espaldões, acionando o emprego do plano de fogos previsto, garantindo as ligações obuses - PC, e prevendo o apoio directo às forças em operações, face à ausência do helicanhão;
  • Garantir a utilização com rendimento das armas pesadas disponíveis (canhões s/recuo, morteiros médios e metralhadoras pesadas), melhorando os espaldões, preparando os planos de fogos ainda não executados, e garantindo as ligações armas-PC. No caso de morteiros e canhões s/recuo prever o apoio directo às forças em operações, para as distâncias mais curtas, para as quais a Artilharia não podia actuar;
  • Utilizar códigos para conversação em claro, prevendo de preferência a utilização do HF, e distribuir mosaicos gráficos com referências numeradas, para não permitir ao Inimigo tirar partido da escuta que se previa estar a fazer às transmissões das NT;
  • Garantir a evacuação em "sintex" para Cacine de feridos ou doentes, face à ausência de helicóptero para evacuações;
  • Prever, a todo o momento, ajustamentos no plano de actividade operacional, face à actividade desenvolvida pelo Inimigo.

c. Dado que as Companhias do Exército estacionadas em Gadamael Porto se encontravam em condições deficientes, no que respeitava a efectivos, moralização e armamento, o esforço sobre as zonas de contacto provável e de maior amplitude foi exercido pelas CCP reservando-se para aquelas companhias a missão de garantir a liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto."

"Desenrolar da Acção":

De 6jun a 13jul foram efectuadas 31 acções e 8 operações.

A CCP 121 e a CCP 123, em 9 acções, fizeram o treino operacional das 3ª C/BCaç 4612/72, CArt 6252/72 e CCav 8452/72 respectivamente 3, 1 e 5, incluídas nas 31 referidas.

Destacam-se algumas em que houve contacto com o lN.

- Acção COP 5 - 6jun

A CCP 123 saiu da Gadamael Porto em patrulhamento, rumo Norte. Pelas 17h30 o agrupamento foi flagelado em Cacoca 6D8.80 com armas automáticas e LGFog RPG por um grupo ln estimado em 30 elementos.

Na reacção o ln sofreu vários feridos confirmados por abundantes rastos de sangue.

- Acção Bojarda - 10 e 11jun

A CCP 122 saiu de Gadamel Porto em patrulhamento. Em Cacoca 6F6.88, foram detectadas muitas pegadas lN, sendo montada uma emboscada, sem contacto. Pelas 14h00 as NT foram emboscadas em Cacoca 6F2. 78 por um grupo ln estimado em 40 elementos. 

A CCP 122 sofreu 17 feridos ligeiros. Feita a batida, verificou-se que o lN sofreu vários feridos, confirmados por abundantes rastos de sangue. 2 GComb regressaram ao aquartelamento para evacuar os feridos e os outros dois fizeram uma emboscada nocturna sem contacto com o lN.

- Operação Bisturi Negro - 14 e 15jun

A CCP 121 saiu em patrulhamento apeado, rumo Leste, flectindo para NWe depois para Norte. Em Cacoca 6E4.94 foi flagelada durante 45 minutos com armas autom,  LGFog RPG-2 e RPG-7, canh s/r por um grupo lN estimado em 80 elementos que se deslocavam na direcção Leste/Oeste. 

As NT sofreram 1 morto (guia) e 2 feridos ligeiros. Da batida efectuada verificou-se que o lN sofreu 4 mortos confirmados e elevadas baixas prováveis dada a forma como procurou reter as NT com uma segunda linha de fogo com nítida intenção de retirar mortos e feridos, o que foi confirmado por sinais de arrastamento de corpos e abundantes rastos de sangue. 

Foram referenciados elementos de tez clara e o lN utilizou esp autom G-3, metr lig  HK-21 e dilagramas. 

A CCP 121 regressou a Gadamael Porto para evacuar os feridos. Dois GComb voltaram a sair, rumo Leste flectindo depois para Norte. Montaram uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Diamante Preto - 17 e 18jun

A CCP 122 a 3 GComb saiu em patrulhamento. Em Cacoca 6F8.65 foi detectado um grupo lN estimado em 20 elementos ao qual foi montada uma emboscada imediata. O lN sofreu 1 morto confirmado e feridos prováveis; foi recolhida uma pá articulada, uma pica e uma granada de
LGFog RPG-2 com carga. 

Reiniciada a progressão o agrupamento foiflagelado do lado da fronteira com 3 granadas de canh sr/, sem consequências.

Foi montada uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Gamo Selvagem - 20 e 21jun

Em 20 foi feito um patrulhamento e montada uma emboscada, sem contacto lN.

Em 21 6h30 em Cacoca 6h5.94, a CCP 123 teve um forte contacto frontal com um grupo lN estimado em 80 elementos que na sequência do contacto se instalou em 2 posições sendo uma mais recuada. No contacto inicial as NT sofreram 2 feridos graves e 4 ligeiros, o que não impediu que se lançassem ao assalto, tendo a linha recuada do lN batido as NT com mort 60 mm com o propósito de retirar elementos mortos, feridos e respectivo material. 

O lN sofreu 5 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis e foram recolhidas 3 granadas tipo chinês. Foram referenciados elementos lN de tez clara e utilização de esp aut G-3. 

O lN retirou para Leste. A CCP 123 reiniciou a progressão em direcção ao aquartelamento para evacuar os feridos.

- Operação Cobra Ondulante - 23 e 24 jun

A CCP 121 a 3 GComb saiu de Gadamael Porto para efectuar um patrulhamento apeado. Depois de ter seguido vários rumos, em Cacoca 500.18, detectou rastos de viaturas.

Pelas 12h00foi montada uma emboscada em Cacoca 6D1.13. Foi levantada e passada uma hora de marcha, foram ouvidas vozes de elementos IN, tendo sido iniciada a imediata perseguição. Apercebeu-se da existência de um acampamento.

Pelas 13h30, em Cacoca 6D0.19 foi efectuado um golpe de mão imediato a um grupo lN estimado em 40 elementos. Conjugando fogo e movimento as NT transpuseram o que era então um quartel e montaram segurança nos próprios abrigos do lN. 

As NT não sofreram baixas e o lN teve 6 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis pelos abundantes rastos de sangue encontrados durante a batida. 

Foram apreendidas:
  • 1 metr lig Degtyarev, 
  • 1 LGFog RPG-2, 
  • 2 esp aut Kalashnikov,
  • 3 pist metr  PPSH,
  • 2 esp Mosin Nagant, 
  • 10 gran de LGFog  RPG-2, 
  • 1 gran de LGFog RPG-7, 
  • 13 tambores pist metr  PPSH,
  • 15 carregadores de esp aut  Kalashnikov, 
  • 3 gran mão ofensivas tipo chinês, 
  • 4 gran mão ofensivas M/62, 
  • 1000 munições 9 mm, 
  • 350 munições 7,62 mm "Soviet", 
  • 50 munições 7,62 mm "Soviet" m/908 e diverso equipamento e fardamento.
Foram montadas uma emboscada nocturna e em 24, uma diurna ambas sem contacto lN.

- Acção Bera - 11jul

Um agrupamento constituído por 2 GComb/CCP 123 e 2 GComb/CArt 6252/72 saiu de Gadamael Porto em patrulhamento apeado em direcção ao cruzamento de Ganturé com a finalidade de fazer o treino operacional da CArt 6252/72.

Em Cacoca 6E2.73 foi encontrado um acampamento ln com cerca de 70 abrigos e restos de ração de combate. Próximo e ao longo da estrada encontravam-se mais de 30 abrigos individuais com disposição que levava a concluir ser uma posição para emboscar a estrada.

Pelas 09H30 ao ser efectuado um reconhecimento das minas implantadas pelas NT em Cacoca 6E9.74 verificou-se que uma armadilha tinha sido accionada pelo l. No mesmo local foram detectadas e levantadas 3 minas A/P  lN e foi accionada pelas NT uma mina A/P  que provocou 1 morto (furriel) e 2 feridos ligeiros. Foram prestados os primeiros socorros e em seguida reiniciou-se a progressão rumo ao aquartelamento.

Pelas 10h15 quando atravessava a estrada Oeste/Leste foram detectadas 2 minas A/C  que foram torneadas em virtude da urgência da evacuação dos feridos e foi encontrado um cadáver em decomposição. Depois da chegada ao aquartelamento, foi feita nova saída para uma batida à zona Cacoca 6F9.75 até ao pontão do rio Sarampita e uma emboscada em Cacoca 6F1.86, ambas sem contacto.

"Ensinamentos Colhidos"

"Os bombardeamentos inimigos a Gadamael Porto em 1jun73 causaram às NT pesadas baixas no aquartelamento, face ao tiro ajustado e, julga-se, ao facto de estarem concentradas na zona do quartel duas companhias, um pelotão de artilharia e um pelotão de reconhecimento, não dispondo essa zona de valas ou abrigos para tal efectivo.

Com base no conhecimento do sucedido, uma das preocupações do novo comando COP 5, foi dispersar ao máximo as forças pelo perímetro defensivo, ocupando também toda a periferia dos reordenamentos, e estacionar dentro desse perímetro o mínimo indispensável do pessoal, mantendo em permanência em actividade operacional elevado conjunto de forças.

Assim, as flagelações a Gadamael Porto a partir de 6jun73 não causaram baixas às NT, sendo digno de referir a fortíssima flagelação de todo o dia 2Jul73 em nada inferior à do dia lJun73, que apenas causou dois feridos muito ligeiros.

Julga-se ser este o procedimento a seguir em situações futuras similares."

Levantamento de minas

O lN procurou dificultar os deslocamentos de Gadamael Porto, sobretudo para nordeste, implantando minas antipessoal e anticarro nas vias de comunicação.

Depois da operação "Dinossauro Preto" já era praticável efectuar a desminagem. Executou-se a acção Barulho, em 19ago73 na zona de Ganturé, por forças do COP 5 e de uma equipa de Sapadores do BCaç 4510/72, na qual detectaram e levantaram várias minas antipessoal e destruíram 2 minas anticarro.  [Nota: Atenta-se à actividade operacional - 2° Semestre, deste Capítulo.

Por se presumir a existência de mais minas, em 10Set, foi feita, na região de Ganturé, mais uma acção pelo COP 5 (Nota: Relatório da acção "Bandido" de 10Set73 do COP 5.). Foram constituídos 2 agrupamentos por forças de 1 GComb/CArt 6252/72, 1 GComb/CCav 8452/72 e por 1 Sec/Pel Mil 235. Transcreve-se:

 "Desenrolar da Acção"

"Pelas 14h00 os agrupamentos saíram do aquartelamento de Gadamael Porto seguindo pela estrada para Guileje. Ao cruzamento de Ganturé (Cacoca 6 FO 75) foi montada a segurança. Procedeu-se depois à picagem da estrada e bermas tendo sido detectadas e neutralizadas 14 minas antipessoal de plástico tipo PMN e detectadas e levantadas 3 minas anticarro TM-46.

Após o levantamento o Agrupamento B regressou ao Quartel e o Agrupamento A patrulhou a zona Cacoca 6 FI 85 onde montou uma emboscada. Pelas 23h00 regressou ao aquartelamento."

Flagelações a Gadamael Porto

O lN continuou a flagelar o aquartelamento mas com menores consequências para as NT. Entre outros ataques (Nota: Consulte-se as flagelações no 2.° Semestre a Gadamael Porto no "Inimigo - actividade militar" deste Capítulo.)
  • em 8nov; 
  • em 11nov, pelas 18h40, com 8 foguetões 122 mm;
  • e em 15nov. 
Desta última relata-se o "Desenrolar da acção"  [Nota: Relatório da flagelação a Gadamael Porto em 15Nov73 do COP 5 datado de l6Nov73

"Cerca das 17h00 o lN começou a flagelar o aquartelamento de Gadamael Porto com dois foguetões de cada vez, indiciando utilizar duas rampas. A flagelação durou cerca de 20 minutos e o lN disparou 15 foguetões da direcção de 80 graus cartográficos medidos a partir de aquartelamento. Os rebentamentos danificaram 3 casas ocupadas pelo pessoal da CCaç 20, as instalações do Comando da CCav 8452/72, uma caserna da CArt 6252/72 e uma antena do STM e causaram 7 feridos às NT, sendo 2 graves, 3 de menor gravidade e 2 ligeiros. Os feridos foram evacuados de "sintex" para Cacine.

Mais uma vez a população invadiu o edifício das transmissões e da enfermaria, abrigo onde aliás muitas mulheres e crianças se mantêm desde o dia 8nov73."

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 334-340. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 61/74 - P23414: Blogpoesia (773): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (2)

1. Lembremos a mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2022:
Bom Dia Carlos Vinhal, Bom Dia Tabanca Grande
Desta vez é, "ERA AQUELA COMPANHIA", parte 1, e depois será a segunda parte.
E muito mais haverá para enviar à Tabanca. É que agora pensei em não te dar sossego , é muito o trabalho aqui acumulado.

Para todos os que habitam na Tabanca Grande vai um bom abraço em especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva




ERA AQUELA COMPANHIA

Parte I - (2/2)


Santos era o Sargento
Era um pouco desordeiro
Mas era excelente pessoa
E muito bom corneteiro.

Fernando Guerreiro Nunes
Outro Sargento então
Na CCS como nós
A cumprir sua Missão.

Sargento Alfredo António
Na Oficina a trabalhar
Como era bom mecânico
Punha os motores a roncar.

O Furriel Moreira
Era Rádiomontador
Fazia o que sabia
Mudava bem o transístor.

O Nunes era mecânico
E Furriel também
Com rajadas na bolanha
Vendo se tudo estava bem.

Como era mecânico de armas
Para ver se estavam zeladas
Mandava fazer ensaios
Tiro a tiro e rajadas.

O Furriel Garrido
Um militar verdadeiro
Não ligava puto à tropa
E era ele Enfermeiro.

Como era responsável
Lá naquela Enfermaria
O trabalho que era dele
Era eu que o fazia.

Furriel Guimarães
Aquele bom bracarense
Em Teixeira Pinto então
Na CCS Amanuense.

Era bom camarada
Todo o soldado dizia
Estivesse ou não de serviço
Ou mesmo de sargento dia.

O Aires bom Furriel
Brincalhão bem humorado
Cumpria bem seu dever
Andava por todo lado.

O Furriel Carvalho
Miliciano e bom
Era ele o responsável
Pela nossa alimentação.

No seu Depósito de Géneros
Onde ele tudo guardava
Quando mais nada havia
Na bolanha ele pescava.

Ele era bom brincalhão
Se podia desenrascava
Quantas vezes em canecas
O vinho que ele me dava.

O Furriel Ribeiro
Sapador a comandar
Nos mais variados serviços
Cumpriu bem a trabalhar.

Com serviços no Quartel
Sua equipa comandar
Com ele estive na Ponte
Quando a fomos guardar.

Coimbra N. Furriel
De Amanuense fazia
Era bom miliciano
Lá na nossa Companhia.

Até o Furriel Freitas
No Pelotão de Reconhecimento
Mais tarefas praticava
Sempre que tinha um momento.

Nosso Furriel Rodrigues
Comandava as Transmissões
Recebia e transmitia
Em várias ocasiões.

Furriel Miliciano Sena
Reconhecimento e Informação
E quando jogava à bola
O Sena era mesmo bom.

O Furriel Fernandes
Comandava secção
Como era Sapador
Na CCS era bom.

Também o Silva Rodrigues
Sapador a comandar
Em tantos e mais serviços
Cumpriu sempre a trabalhar.

Na CCS o Lima Pereira
Era outro Furriel
Lá em sua secção
Fazia bem seu papel.

Havia outro Amanuense
O Furriel Amaral
Pertencia à CCS
E como nós era igual.

O Furriel Almeida
No Reconhecimento lá estava
Procurando tudo aquilo
Que no Quartel faltava.

O Furriel Ferreira
Na CCS do Batalhão
Dizia o que mais sabia
Pois era da informação.

Depois de Oficiais e Sargentos
Muitos Cabos lá haviam
Uns que faziam tudo
Outros que nada faziam

Com Alferes e Tenentes
Furriéis muitos havia
Sargentos e muitos Cabos
E Soldados da Companhia

Gostando de falar da Tropa
Porque dela não esqueci
Numa espécie de brincadeira
Assim isto escrevi.

Foi escrito sem maldade
Com todos brinquei assim
Lembrei Oficiais e Sargentos
Tudo escrito por mim.

Tenho mais para escrever
Continuar na brincadeira
Pois lembrar bons Camaradas
Acho ser boa maneira.

É dos Cabos que vou começar
Depois passarei ao Soldado
Depois de fazer isto tudo
Dou meu trabalho acabado.

Parte um e parte dois
E como na Guiné dizia
Com o mesmo nome que dei
Era aquela companhia.

FIM DA 1ª PARTE

Segue com Cabos e Soldados
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de Junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23411: Blogpoesia (772): A CCS, "Era aquela Companhia", por Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845 - Parte I - (1)