Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra col0onial, em geral, e da Guiné, em particular (1961/74). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que sáo, tratam-se por tu, e gostam de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 31 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23934: Os nossos seres, saberes e lazeres (548): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (83): Uma visita ao Ashmolean, o Museu de Arte e Arqueologia da Universidade de Oxford (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Impensável passar férias no Condado de Oxford sem bater à porta do Ashmolean; em visitas passadas, pré-estabelecia usufruir umas vezes do Mundo Antigo ou subir ao terceiro andar para apreciar pintura de renome mundial; mas não conheço nenhum museu que tenha um espaço como este intitulado "Explorando o passado", é uma pedagogia de mestres para cativar jovens, dando-lhes a perceber a importância de conservar e restaurar, atraí-los para o conhecimento histórico e artístico através da escrita e da sucessão de materiais que levaram até ao livro, a história do dinheiro, é uma vivacíssima viagem através da história material e imaterial como não conheço outra. E aqui fica uma amostra dos tesouros, quem sabe se o leitor não vai um dia destes visitar Oxford, então não perca a oportunidade de conhecer este expoente da museologia e da museografia.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (83):
Uma visita ao Ashmolean, o Museu de Arte e Arqueologia da Universidade de Oxford
Mário Beja Santos
Com que alegria, com que frenesim e entusiasmo, aqui chego, sabendo antecipadamente que serei surpreendido num dos mais belos museus do mundo, para os britânicos é o seu primeiro museu público, alberga meio milhão de anos de história humana e criatividade, desde a sua monumental representação da história egípcia até à arte moderna. Lord Ashmole tinha um gabinete de curiosidades, foi o ponto de partida para o museu que nasceu em 1683 e que hoje está albergado neste edifício neoclássico que data do final da primeira metade do século XIX. À entrada entregam-nos um folheto com uma proposta de um conjunto de obras para quem vem com o tempo comprimido. Aprendi muito com um incidente que sofri na Galeria dos Ofícios, em Florença. Ia para uma reunião de trabalho, proporcionou-se ir um dia mais cedo, ficava por conta própria, sem ilusões de que ia ver Florença por um canudo. Naquele tempo os museus italianos abriam às 8h30 e fechavam às 14h, uma hora antes já ali estava pespegado, devia ter a presunção que estava capaz de absorver o conteúdo daquele fabuloso museu. Comecei no duecento, depois o trecento, depois o quattrocento, ainda não eram 12h e em frente ao Nascimento de Vénus, de Botticelli, veio-me uma formidável dor de cabeça, ocorreu-me que tinha chegado a minha hora, fui a correr para a pensão, lá sosseguei com dois comprimidos de paracetamol e umas horas de descanso. Agora nunca mais, agarro no mapa e escolho um conjunto de obras, subo e desço airosamente sem me agarrar a cronologias ou movimentos artísticos. O Ashmolean tem uma secção que eu considero das mais pedagógicas em museologia e museografia, dedicada à conservação de objetos, à história dos têxteis, da escrita e da leitura e do dinheiro, é tão cativante que não acredito que os jovens não saiam dali fascinados.
Bom, vou passear-me entre o mundo egeu, o velho Chipre, o Egito antigo, o próximo Oriente, a pintura chinesa, a escultura greco-romana e o mundo grego, a Índia e a Itália antes de Roma vão ficar para outra visita.
O Ashmolean possui belas peças da escultura síria e impressiona-me muito este acervo da cultura cicládica, há mesmo um museu em Atenas só dedicado a esta cultura, é de um valor impressionante, permite-nos conhecer a arte do mediterrâneo oriental naquele berço do comércio marítimo que precede as viagens fenícias.
Continuo no Mundo Antigo e as suas manifestações artística deslumbrantes, temos aqui Cnossos, é um dos momentos gloriosos da arte cretense.
Senti-me tentado a visitar as diferentes salas da escultura greco-romana, fiquei-me por esta com os seus moldes em gesso, dei comigo a imaginar como terá sido deslumbrante aquele centauro à esquerda.
Já cheguei ao século XIX, há uma imensidão de obras para fruir, comecei com aquele esplêndido van Gogh e não resisto a mostrar-vos esta mulher de Manet, cativa-me a depuração nas linhas, a quietude do rosto, ela é figura que o genial pintor escolheu para centrarmos o nosso olhar, o resto é sóbrio, um fundo de encenação que parece projetar a figura para fora do quadro.
Acertei na escolha, gosto dos Pré-Rafaelitas, eles estão presentes em vários lugares do Condado de Oxford, William Morris tinha a sua casa de verão em Kelmscott Manor, Burne-Jones trabalhou em várias localidades, caso dos vitrais na igreja normanda de Eaton Hastings e Buscot Manor. Foram geniais nas artes decorativas, como exemplificam estas duas peças de mobiliário e não resisti a fotografar esta escultura do Diabo, tem uma envolvente original.
Rendo-me a estas atmosferas onde se respira romantismo, naturalismo, há mesmo uma alvorada ténue de realismo e simbolismo. O primeiro quadro é de Turner, impressiona aquele ambiente montanhoso, fixamo-nos na ponte, e fica-nos a questão em aberto de como se pode miniaturar, com tal rigor e precisão, aquele gigantismo alpino; Edward Lear é o autor do quadro de Jerusalém, impressiona como o artista reparte os espaços, o declive agreste e talvez um contemplação de pastores sobre aquela cidade suave onde estão representadas as mais importantes religiões teístas, evola-se daquele branco o sigilo da contemplação divina.
Já chega de emoções, despeço-me com bela azulejaria turca e holandesa, ainda vou cumprimentar o coronel Lawrence da Arábia, embora custe a acreditar que esta era a sua indumentária, foi um construtor de nações e um dos grandes autores de língua inglesa. E agora vou andarilhar por Oxford, a cidade prepara-se para as exéquias de Isabel II.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23914: Os nossos seres, saberes e lazeres (547): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (82): Regresso a Inglaterra em plenos funerais de Isabel II (2) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P23933: Parabéns a você (2132): Adelaide Barata Carrelo, Amiga Grã-Tabanqueira
Nota do editor
Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23923: Parabéns a você (2131): António Figuinha, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2884 (Bissau, Buba e Pelundo, 1969/71)
sexta-feira, 30 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23932: Boas festas 2022/23 (13): E o nosso coeditor jubilado Virgínio Briote saiu-se com esta...
Data - 30 dez 2022 , 20:17
Anedota - Colegas de escola... !
Entrem bem, não se esqueçam…
Abraço
V. Briote
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Estava sentada na sala de espera para a minha primeira consulta com um novo dentista, quando observei que o seu diploma estava exposto na parede.
Estava escrito o seu nome e, de repente, recordei-me de um gajo moreno, alto, que tinha esse mesmo nome.
Quando entrei no gabinete, afastei essa ideia. Este homem grisalho, quase calvo, gordo, com um rosto marcado, enrugado... era demasiado velho para ter sido do meu tempo de liceu.
Depois de ele ter examinado o pobre meu dente, perguntei-lhe se tinha estudado no Pedro Nunes.
E então, "aquele velho horrível daquele dentista, cretino, careca, barrigudo, flácido, filho da mãe, lazarento, safado " (!) saiu-me com esta:
− A senhora era professora... de quê?
Último poste da série > 30 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23931: Boas festas 2022/23 (12): Mensagem do nosso camarada António Graça Abreu, com oferta de dois poemas breves, do poeta chinês Su Dongpo (1037-1101)
Guiné 61/74 - P23931: Boas festas 2022/23 (12): Mensagem do nosso camarada António Graça Abreu, com oferta de dois poemas breves, do poeta chinês Su Dongpo (1037-1101)
O escritor e tradutor António Graça de Abreu com a esposa, Hai Yuan |
1. Do nosso António Graça de Abreu, que regressou há algumas semanas de um cruzeiro à África do Sul (Durban, Cidade do Cabo...) (vem moderadamemte otimisma sobre a classe média negra que lá, sob o regime de Mandela, se está a desenvolver, contrastando com a miséria social que continua por essa África subsariana fora que se libertou do colonialismo há 50/60 anos)...
Deseja-nos a todos boas festas e as melhoras do editor e fundador do blogue, com a oferta de dois "jueju" do grande poeta chinês Su Dongpo (1037-1101), traduzidos primorosamente por ele:
Data - 29 de dezembro de 2022, 00:59
Assunto - Dois jueju, poemas breves, vinte caracteres, de Su Dongpo (1037-1101)
Vazio e silêncio
欲令诗语妙
无厌空且静
静故了群动
空故纳万境
Para a maravilha do poema,
o melhor é o vazio e o silêncio.
Em silêncio, floresce tudo o que se move,
o vazio alberga dez mil imagens.
我心空无物
斯文定何间
君看古井水
万象自往还
O meu coração vazio, suportando coisa nenhuma,
não importam as comezinhas coisas do mundo.
Olhem a água de um velho poço,
dez mil imagens aparecem, desaparecem. [1]
Nota do tradutor:
[1] A propósito destes versos, do silêncio e da água no velho poço, escreve He Qing, letrado chinês nosso contemporâneo:
Le vide et le silence sont considérés comme le principe premier de la poésie. Plus um poème sonne vide et silencieux, plus il gagne en valeur esthétique.
(…) On peut imaginer ce silence, cette immobilité, cette limpidité, cette fraicheur, cette profondeur temporelle de l’eau d’un puits ancien, et se figurer que cette eau silencieux reflète, sereinement, les vols d’oiseaux, les voyages des nuages. les vibrations de la lumière du soleil, les oscilations des brins d’herbes et des branches des arbres, les mille couleurs de la nature. Dans cette image poétique reside non seulement la plus grande sagesse chinoise, mais aussi l’état ideal de l’ésthétique chinoise: rester ancré dans le silence le plus profund et contempler les mouvements les plus intimes de l’univers…
Tr. do Google, fr / pt (LG):
O vazio e o silêncio são considerados o princípio primordail da poesia. Quanto mais um poema soa a vazio e silêncio, mais ele ganha em valor estético. (…) Pode-se imaginar este silêncio, esta imobilidade, esta limpidez, esta frescura, esta profundidade temporal da água de um velho poço, e imaginar que esta água silenciosa reflite, serenamente, os voos dos pássaros, as viagens das nuvens. as vibrações da luz solar, as oscilações dos fios de ervas e galhos de árvores, as mil cores da natureza. Nesta imagem poética reside não só a maior sabedoria chinesa, mas também o estado ideal da estética chinesa: permanecer ancorado no silêncio mais profundo e contemplar os movimentos mais íntimos do universoFonte: He Ding, Images du Silence, Pensée et Art Chinois, Paris, L’Harmattan, 1999, pag. 80.
___________Nota do editor:
Guiné 61/74 - P23930: Notas de leitura (1538): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (10) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Dezembro de 2022:
Queridos amigos,
O trabalho de investigação de Hurley e Matos, que aqui se condensa, tem, para além do mérito próprio da probidade da avaliação dos factos que fazem, revelar a insídia que se veio a montar acerca dos primeiros líderes militares na Guiné, na eclosão da guerrilha. Louro de Sousa, nomeado comandante-chefe em cima dos acontecimentos, enviou sempre ao Governo relatórios fidedignos da crescente guerrilha, não dispunha de nenhum sistema de informações fiável, deparou-se com a fuga das populações e uma tremenda falta de recursos, nomeadamente terrestres e aéreos para contrariar os efeitos da guerrilha, que se manifestava muito atuante na região Sul, no Corubal e no Morés, principalmente. Não havia informações sobre os efetivos da guerrilha, nem até mesmo das bases de apoio na República da Guiné Conacri. Os efetivos eram tão minguados que quando o capitão Alípio Tomé Pinto chegou a Binta, em 1964, este importante porto estava praticamente cercado por forças e população afeta ao PAIGC. Hurley e Matos diagnosticam aqui as carências de meios aéreos e mostram como Louro de Sousa e a FAP estavam conscientes de que se impunha um abrir mão a meios humanos e materiais de grande envergadura. Era sempre tudo às pinguinhas, a fartura só virá com o superstar Spínola.
Um abraço do
Mário
O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974
Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (10)
Mário Beja Santos
Este primeiro volume d’O Santuário Perdido, por ora só tem edição inglesa, dá-se a referência a todos os interessados: Helion & Company Limited, email: info@helion.co.uk; website: www.helion.co.uk; blogue: http://blog.helion.co.uk/. Depois de sumariar o prefácio, entrámos no primeiro capítulo intitulado “O Vento da Mudança”, verificaram-se as alterações operadas no início da era de descolonização e as consequências que vieram a ter na colónia da Guiné. Os capítulos subsequentes permitem-nos ter, mediante processo diacrónico, a evolução dos decisores políticos quanto à formação e equipamento da FAP nos diferentes teatros de operações, e depois o trabalho incide sobre a Guiné, os equipamentos existentes no período que precede a eclosão da guerrilha e as sucessivas respostas para permitir à FAP sucesso na multiplicidade dos desempenhos. Estamos agora a acompanhar a evolução dos primeiros anos da guerra e a resposta da FAP.
Como vimos no texto anterior, o General Venâncio Deslandes deslocou-se à Guiné e produziu um relatório alertando para a gravidade da situação, propôs um conjunto de medidas para melhorar a eficácia do aparelho político-administrativo, incluindo a fusão da estrutura do comando militar, recomendação que foi posta em prática no ano seguinte, mas em 1963 a autoridade política e militar permaneceu dividida entre o Governador Vasco Rodrigues e o Comandante-Chefe Louro de Sousa. A falta de entendimento entre os dois oficiais inevitavelmente criou atrito e complexidade desnecessária no planeamento militar. Deslandes recomendou igualmente o emprego de forças de “intervenção” de reação rápida capazes de responder rapidamente a atos hostis que se pudessem desencadear em qualquer ponto do território.
Baseado em parte na insistência de Deslandes, chegaram a Bissalanca em setembro os primeiros helicópteros Alouette II, “emprestados” do Esquadrão 94 em Angola, foram os precursores da frota de helicópteros que irá gradualmente revelando significativa. Um relatório suplementar de 1963, do Tenente-Coronel Augusto Brito e Melo da Secretaria-Geral da Defesa Nacional, deu ênfase às necessidades da FAP na Guiné. O dispositivo aéreo em Bissalanca incluía sete F-86, oito T-6, oito Austers, três C-47, um Broussard, um P2V-5 Neptune (este em alerta na Ilha do Sal). Os aviões Sabre estavam atrasados. Brito e Melo não deixava de sublinhar que “a coordenação ar-terra é deficiente e, portanto, a eficiência da campanha ar-terra é baixa”.
Enquanto Deslandes e Brito e Melo redigiam os seus relatórios, a FAP sofreu as suas primeiras perdas em combate na Guiné. Em 22 de maio de 1963, no decurso da operação Seta, aviões F-86 e T-6 atingiram alvos no reduto da guerrilha na Ilha do Como. O Furriel António Lobato, tendo suspeitado sido atingido por fogo de metralhadora, pediu ao seu asa, Eduardo Casals, que voasse por baixo dele e inspecionasse a parte inferior para avaliar os danos. O T-6 de Casals tocou na hélice de Lobato durante a inspeção, o que causou a queda do avião de Casals e a sua morte (o seu corpo foi recuperado nesse mesmo dia pelas forças portuguesas). Lobato conseguiu direcionar o seu avião danificado para um arrozal, onde foi capturado por militantes do PAIGC, assim começava o cativeiro mais longo da Guiné, ele passaria os próximos sete anos recluso, primeiro na Maison du Force de Kindia e depois na prisão de La Montaigne em Conacri. Foi o único aviador português prisioneiro de guerra.
Apenas nove dias depois de Lobato ter sido capturado, em 31 de maio, dois F-86 pilotados pelo Capitão Fausto Valla e pelo 2.º sargento Manuel Pereira Clemente, enquanto realizavam uma missão de bombardeamento na região de Bedanda, as aeronaves sofreram estilhaços de uma das suas próprias bombas de 250 kg, os pilotos voltaram imediatamente para Bissalanca, mas o F-86 de Fausto Valla incendiou-se, forçando-o a ejetar-se. Pereira Clemente conseguiu aterrar em Bissalanca sem mais incidentes, depois de despejar a sua artilharia no Geba, o jato de Fausto Valla explodiu antes de chegar a Bissalanca. Três meses mais tarde, a FAP sofreu uma das perdas mais mortíferas da guerra quando um Auster caiu após bater numa palmeira quando descolava de Bissalanca, em 4 de setembro. Nenhum dos três aviadores a bordo (Alferes Eduardo Spínola Freitas e José Madureira Nobre e Primeiro-Sargento José Pinheiro Garcia) sobreviveu. No mês seguinte, ãem 14 de outubro, o Capitão João Cardoso Rebelo Valente faleceu quando o seu T-6 se despenhou durante manobras na região de Morés-Olossato.
Os desaires da FAP continuaram quando o único Broussard sofreu um grave acidente, nove meses depois de ter sido introduzido no teatro da guerra; em 4 de dezembro um segundo Auster descolou e caiu, matando o piloto 2.º Sargento André Miranda Farinha e dois meteorologistas da FAP, Tenente Austrelindo Gaspar Dias e o 1.º Sargento Humberto Silva Matos. Em síntese, a FAP perdeu sete aeronaves e sete pilotos (seis mortos e um prisioneiro) devido a acidentes ou fogo hostil durante o primeiro ano de guerra – uma taxa considerada insustentável.
Em setembro de 1963, Louro de Sousa, perante o Conselho Superior da Defesa Nacional, reclama mais aeronaves para apoiarem operações previstas, pediu entre dez e quinze helicópteros Alouette III para substituir os três helicópteros Alouette II; pediu mais doze T-6, nove DO-27 e quatro F-86. Durante a sua exposição, destacou a insuficiente cobertura aérea, a inadequada capacidade de reconhecimento aéreo para assegurar eficiência às suas forças na Guiné. Louro de Sousa, tendo exposto o caráter das operações da guerrilha do PAIGC, apelou ao envio de forças de reação rápida incluindo paraquedistas e transporte aéreo adequado – no fundo, seguia as propostas de Venâncio Deslandes.
A operacionalidade dos meios aéreos disponíveis era um tremendo desafio. De acordo com uma avaliação da 1.ª Região Aérea, elaborada em agosto de 1963, apenas metade dos oito Auster em Bissalanca estava em condições operacionais, os outros em grandes reparações ou a aguardar peças. Um dos quatro DO-27 recém-entregues a Bissalanca já estava inoperável, por falta de peças. A situação complicava-se por falta de mecânicos e pelo uso criterioso de baterias. A eficácia de combate do T-6 estava limitada pela ausência de informações técnicas sobre o uso e manutenção das armas. Três C-47 estavam na revisão periódica nas OGMA, e a falta de peças de substituição era crónica. Na Ilha do Sal, os dois Neptune também se debatiam com limitações operacionais devido à falta de recursos. O relatório da 1.ª Região Aérea avaliou os oito caças Sabre como operacionais, apontava-se para obrigatoriedade de um ciclo periódico de manutenção; considerava-se que o armamento dos F-86 era precário, exigindo substituições nos dispositivos de suporte das bombas. Em agosto de 1963, o Coronel Krus Abecassis, Chefe-de-Estado-Maior da 1.ª Região Aérea, identificou a necessidade de enviar para Bissalanca oficiais experientes para preencher vagas e alertou para a escassez de especialistas em comunicação. Na já referida reunião do Conselho Superior da Defesa Nacional, Louro de Sousa instou para o reforço dos quadros superiores, era indispensável a presença de dois tenentes-coronéis em Bissalanca.
Por último, havia a necessidade imperiosa de enviar meios financeiros para melhorar as instalações, quartéis, torres de vigilância e iluminação perimetral. Louro de Sousa apelou à introdução de radares e sistemas de comunicação adequados e equipamentos para lidar com qualquer intrusão do espaço aéreo da Guiné. Já ao tempo havia a preocupação dos meios aéreos dos dois vizinhos hostis.
(Continua)
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Notas do editor:
Poste anterior de 23 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23909: Notas de leitura (1535): "O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume I: Eclosão e Escalada (1961-1966)", por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2022 (9) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 27 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23922: Notas de leitura (1537): Germano Almeida, prémio Camões (2018), filho de pai português e mãe cabo-verdiana, explica a origem mítica de Cabo Verde: uma criação divina, não por maldição... por distração (Luís Graça)
Guiné 61/74 - P23929: Fotos à procura de uma legenda (167): "Apanhado" na Guiné, "apanhado" no PREC, "apanhado" por viver 287 km dentro (!) do Círculo Polar Ártico!... (J. Belo, Suécia)
Um aquário decorado com corais e cornos de rena... e temperatura amena, (24,9º)... Coisas do nosso J. Belo (que está vivo e recomenda-se, embora irremediavelmente "apanhado do clima")
“Apanhado” na Guiné,” Apanhado” no PREC,” Apanhado” por viver há 44 anos a 287 quilómetros dentro (!) do Círculo Polar Árctico!
(Obviamente que o aquário é decorado com… cornos de rena!!!!.)
Um abraço,
(particípio de apanhar)
adjectivo
1. Que se apanhou.
2. Tacanho, mesquinho, estreito.
3. [Portugal, Informal] Que não é bom da cabeça ou age de modo insensato (ex.: é um casal simpático mas um bocado apanhado). = PIRADO
4. [Portugal, Informal] Que está dominado por sentimento de grande paixão (ex.: ficou logo apanhada pelo amigo do irmão; o tipo é completamente apanhado por futebol). = APAIXONADO
nome masculino
5. Resumo.
6. Refego, prega.
7. [Cinema, Televisão] Filmagem, geralmente feita com câmara escondida, onde os participantes são surpreendidos com situações cómicas, constrangedoras, provocatórias ou insólitas.
"apanhado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/apanhado [consultado em 30-12-2022].
quinta-feira, 29 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23928: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XV: Op Ebro, março de 1965, ajudando o BCAV 490 a reocupar Canjambari
Foto (e legenda): © Carlos Silva (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada. |
Saímos do aeroporto de Bissalanca num Dakota que nos levou para Farim. Daqui partimos em coluna, primeiro até Jumbembem e depois virámos à direita, até ao cruzamento de Canjambari, onde já estava uma companhia do batalhão a ocupar a povoação. Era só tropa, população não tinha nenhuma. Os únicos vizinhos que eles tinham eram os guerrilheiros do PAIGC.
Eram aproximadamente 13 ou 14h00, quando lá chegámos. A coluna não se demorou, deu logo a volta, de regresso a Farim. Entrámos na povoação fortificada e ali nos mantivemos até à hora de saída, que estava prevista para o anoitecer.
Não tínhamos que andar muito, o nosso objectivo era o acampamento de Tite Sambo, situado muito perto do quartel das nossas tropas.
Por volta das 20h00, arrancámos directos a Canjambari lojas. Eu era o primeiro homem do grupo. O alferes Saraiva mandou cortar à esquerda, para deixarmos a estrada que divide a pequena povoação ao meio. Desconfiávamos que a guerrilha tinha sentinelas na área das lojas de Canjambari.
Para a esquerda, para onde o alferes nos tinha mandado seguir, era só capim seco. Progredir num terreno assim era quase impossível manter o silêncio. Espaçámos os intervalos entre nós, sempre com a preocupação de caminharmos com o mínimo de barulho. Atrás da primeira loja, estava a travessia de um pequeno curso de água[2]. A ponte era uma prancha e no outro lado do riacho calculávamos estar o quartel-general de Samba Culo.
Quando cortámos à esquerda, redobrámos ainda mais os cuidados. A noite estava muito escura, não havia luar e o capim seco estava a dificultar-nos a marcha. Ainda não tínhamos acabado todos de entrar no capim, ouvimos uma sentinela, em crioulo, a perguntar alto:
- Quem está partir capim ali?
Parei logo e abaixei-me de vagar, até os meus joelhos tocarem no chão. Fui continuando a deslizar para o chão, até ficar de gatas. O alferes fez a mesma coisa, depois apoiou a G-3 nas minhas costas, apontando para a frente. A sentinela voltou a falar alto com alguém, que lhe perguntou o que se estava a passar. Ouvimos a resposta da sentinela. Que alguém estava a fazer barulho ali à frente, no capim. O outro, que estava na outra margem do riacho, disse para ele não fazer fogo ainda.
O alferes é que não obedeceu, disparou logo uma rajada e nós recuámos, a correr, atravessando a estrada para o outro lado.
Logo de seguida, começámos a ouvir tiros e rebentamentos na área do quartel. Estavam a atacá-lo. Mas o PAIGC não podia demorar, já sabia que havia militares fora do quartel, e poderia ter problemas no regresso. A flagelação não demorou muito, retiraram rapidamente, a correr, para irem receber os visitantes, que éramos nós e que também não os encontrámos em casa.
Passámos a noite ali. Por volta das 06h00, começámos a andar até ao local onde tinha havido o contacto com a sentinela. Atingimo-lo, havia ali vestígios de sangue, até na prancha da travessia do riacho.
A guerrilha devia estar, calculámos nós, a mais ou menos 200 metros. Ouvíamos a fala deles. O alferes disse que eles não sabiam que nós andávamos por perto e que era boa ideia ir ter com eles.
Então deu-me ordem e ao Cabo Cruz para nos mantermos ali em vigilância, no próprio local da travessia. Havia duas árvores de grande porte, a que nós na Guiné chamamos bissilão[3], uma atrás da outra.
Não sabíamos que o pessoal do PAIGC estava a observar os nossos movimentos. Eles estavam à espera que nós atravessássemos, tinham preparada uma emboscada do outro lado do ribeiro. A conversa em voz alta que eles estavam a ter, era de certeza um chamariz para nós atravessarmos e cairmos na emboscada.
A certa altura, deviam ser 07h00, fomos surpreendidos com rajadas. Um dos tiros bateu na árvore onde eu estava abrigado. Atirei-me para o chão e meti-me entre as raízes do bissilão. O fogo estava bem forte e eu interrogava-me como é que íamos agora sair dali.
Quando os tiros abrandaram, o alferes correu para junto de nós e deu-nos ordem de retirar daquele local. Corremos para junto do grupo, debaixo de fogo.
Os Comandos são treinados para não fazerem fogo à toa, cada bala é para abater um. Mas, desta vez, abrimos mesmo fogo de qualquer maneira, para tentar abrir o nosso caminho. Entretanto, o alferes pediu reforço à companhia. Não demoraram, chegaram em viaturas e o fogo abrandou, sem nós termos ido ter com eles e eles também não quiseram vir ter connosco. Abandonámos Canjambari Lojas e de seguida retirámos para o quartel.
Depois de dois dias de descanso em Canjambari, por volta das 20h00, saímos em direcção a Cunacó. Não tínhamos desistido da visita. O nosso objectivo era o mesmo. Nesta saída [4], com o Kássimo à frente, andámos a noite quase toda, mas atrasámo-nos muito. Como fomos sempre pelo caminho, a progressão teve que ser muito cautelosa por causa das minas.
Por volta das 06h00, fomos detectados mesmo à entrada da tabanca. Fugiram todos e nem tempo tiveram de soltar as cabras. Nós entrámos por um lado e saímos pelo outro, sem encontrarmos ninguém.
Trouxemos as cabras todas connosco e nesse dia tivemos ao jantar caldeirada de cabras.
Não descansámos muito. Na saída seguinte, saímos mais cedo do quartel de Canjambari, levávamos um prisioneiro cabo-verdiano, já idoso, amarrado como uma corda pela cintura. Marchava à minha frente, ligado a mim.
Fomos andando até às 02h00, mais ou menos, que foi quando atingimos o rio Canjambari. Quando parámos, o alferes deu-me instruções para eu atravessar primeiro e só depois de eu estar na outra margem, o grupo passava todo. Passei a corda do prisioneiro já não me lembro a quem e entrei na água do rio, cauteloso, a apalpar com os pés o lodo do fundo.
Quando estava quase a meio, não sei que bicho [5] foi que saltou com grande estrondo para a água. A maré que ele levantou molhou-me a cara. Passada a surpresa, comecei a movimentar-me para o lado contrário de onde eu vira a sombra do bicho a saltar para a água. Vi uma pequena clareira e só respirei fundo quando a atingi.
Ao meu sinal, o grupo entrou na água e veio ter ao local onde eu me encontrava. Nem deu tempo para sacudir a água do camuflado. Começámos logo a andar, até que por volta das 08h00, com o sol já muito alto, sem termos visto nada que nos desse uma indicação, o alferes resolveu retirar.
Foi uma saída, para deixar as nossas marcas na zona e para eles ficarem a saber que nós íamos aonde queríamos, disse o alferes. Durou uma noite inteira, muita água e um susto que apanhei com um bicho que ainda hoje não sei qual foi.
Regressados ao quartel de Canjambari, apanhámos lugar nas viaturas até Farim e daqui regressámos a Bissau, de avião.[7]
Notas do autor ou editor literário (VB)
[1] 26 Março de 1965.
[2] Rio Canjambari.
[3] A madeira do bissilão é uma espécie de mogno avermelhado.
[4] Nota do editor: 31 de Março 1965.
[5] Nota do editor: Jacaré? OU antes pequeno crocodilo, não há jacarés na Guiné [LG]
[6] Nota do editor: 11/12Abril de 1965.
“Os relatórios referem terem sido feitas várias acções no itinerário Jumbembem-Canjambari e na própria região de Canjambari. Apesar de levantadas numerosas abatizes, o referido itinerário ainda se encontra com algumas árvores de pequeno porte nas imediações da bolanha que dá acesso ao pontão danificado sobre o rio Tufili (dados obtidos através do reconhecimento aéreo de 17Mar65). Parece, este pontão, de fácil transposição desde que se utilizem pranchas adequadas.
Dos contactos com o IN a reacção deste tem-se limitado a flagelações de longe, não sendo de desprezar a possibilidade de o mesmo dispor, na região, de forças importantes e, eventualmente, colocar minas nos itinerários de acesso.
O objectivo das NT é proceder à ocupação permanente de Canjambari. Elaborado o plano para a acção, foram constituídas as forças executantes, comandadas pelo próprio Cmdt do BCav 490, Ten. Cor. Cavaleiro. Às 03H00 de 22Mar65 iniciou-se o movimento, a partir de Farim. Atingido Jumbembem às 04H20, a força executante prosseguiu, rumo a Canjambari.
À passagem por Sare Tenen, um Gr Comb da CCav 488 apeou-se, emboscando-se de seguida junto ao caminho que cruza o itinerário. A partir daqui a equipa de sapadores encarregada da detecção de minas passou a picar a estrada nos locais mais suspeitos. Apesar das precauções, às 06H15 e a cerca de 9 kms de Jumbembem, a GMC da frente da coluna calcou um engenho explosivo, ficando a parte posterior da viatura enfiada na cratera aberta pelo engenho. Os dois homens que nela se deslocavam foram projectados, não tendo sofrido ferimentos de maior.
Passados cerca de 500 metros encontrou-se a 1.ª de uma série de cerca de 30 abatizes, algumas de grande porte, que se espalhavam numa extensão de quase 4 kms, até 1 km e meio de Canjambari Morocunda, que só foi atingida já passava das 12H00. O esgotante trabalho de levantamento de abatizes durou cerca de 5 horas e meia, sob constantes flagelações do IN, que utilizou metralhadoras pesadas e morteiros. As medidas de segurança adoptadas, apesar da extensão da coluna de 30 viaturas pesadas, revelaram-se eficazes, porquanto o IN nunca conseguiu aproximar-se de modo a causar baixas às NT”.
(*) Último poste da série > 25 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23915: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XIV: O Oio, sempre o Oio, na cabeça do alferes... "Porra, que guerra de merda! Guerra de mulheres", gritou o Cruz, abanando a cabeça.
(**) Vd, poste de 2 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14827: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (III Parte): Morreu-me um gajo ontem
Guiné 61/74 - P23927: Boas festas 2022/2023 (11): Mensagens dos nossos camaradas e amigos: Jorge Paes da Cunha Freire, da CART 1612; Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 e José Manuel Cancela, ex-Sold Ap Met da CCAÇ 2382
Começo por desejar um Feliz Natal a todos!
Desde há um tempo deixei de receber o emails diários, que apreciava muito, embora quase não interagisse. Agradeço que voltem a mandar-me os e-mails!
Um abraço a todos!
Jorge Freire,
CArt 1612
2. Mensagem natalícia do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa, DFA, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/71):
Boa tarde meu bom amigo Carlos.
Espero que o teu Natal, bem como todo o pessoal da tertúlia, tenha sido excelente, com paz, saúde e amor.
O meu agradecimento a todos que me deram os parabéns.
O meu abraço de respeito e amizade, sejam felizes e que a saúde vos acompanhe.
Bom Ano 2023.
Fernando Sousa
3. Mensagem natalícia do nosso camarada José Manuel Cancela, ex-Soldado Apont Met da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70):
A todos os camarigos da Tabanca Grande desejo um feliz Natal,e um novo ano com muita saúde e alegria...
José Manuel Cancela
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4. Comentário do editor
Com a certeza de partilhar o sentimento dos editores e colaboradores deste Blogue, deixo em nome de toda a equipa os votos de um excelente 2023 para a tertúlia e seus familiares, assim como para os nossos leitores em geral.
Em 2023 continuaremos a nossa missão de manter este blogue activo, contando para o efeito com a colaboração da tertúlia.
C.V.
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23913: Boas festas 2022/2023 (10): Mensagem dos nossos amigos nova-iorquinos Vilma e João Crisóstomo
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23926: Memórias cruzadas com 50 anos de intervalo: em tempo de guerra, no Xime (1972); e em tempo de paz, em Al Ain (Abu Dhabi) (2022)
O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem mais de 290 referências no nosso blogue.
Data - 20/12/2022, 19:30
Caro Luís,
Boa noite.
Espero que continues a recuperar das tuas maleitas.
Nesta oportunidade, e já com muito atraso em relação ao que era suposto, envio a minha mensagem de Boas Festas, partindo duma viagem que fizemos à cidade de Al Ain, situada a cerca de 130 kms. de Abu Dhabi.
Haverá uma segunda parte, que enviarei oportunamente.
Para ti e para todos os teus, desejamos um Santo Natal e um melhor ano de 2023, com mais saúde.
Um abração.
Jorge Araújo + Maria João
1. – INTRODUÇÃO
Em recente deslocação a Al Ain, uma cidade pertencente ao Emirado de Abu Dhabi, conhecida como a “Cidade Jardim”, e a quarta maior do território dos Emirados Árabes Unidos (EAU), depois do Dubai, Abu Dhabi (a capital) e Sharjah, encontrei na geografia local uma das razões (e a inspiração!) para a elaboração da presente narrativa, a partilhar na “Tabanca Grande”, no âmbito da actual Quadra Natalícia, tendo por comparação as memórias registadas em 1972, no contexto militar, em contraponto com as actuais experiências vividas, em tempo de paz, em território da Península Arábica.
Foi neste contexto que surgiu o título acima, que identifica apenas o conteúdo desta Parte I, uma vez que a segunda, a elaborar proximamente, será do tipo “reportagem” do que foi um fim-de-semana passado em Al Ain, a cidade onde alguns acreditam ter nascido o Sheikh Zayed Bin Sultan Al Nahyan (1918.05.06-2004.11.02), fundador dos Emirados Árabes Unidos, em 02 de Dezembro de 1971… fez agora 51 anos.
Para melhor enquadramento do seu território convém referir que Al Ain é a maior cidade
do interior dos Emirados, onde as suas principais rodovias, que ligam Al Ain, Abu Dhabi
e Dubai (ver mapa acima), formam um triângulo geográfico no país, estando cada
cidade a aproximadamente 130 quilómetros entre si.
No que concerne aos “Oásis” da cidade, visitas previstas no roteiro da viagem, uma placa colocada numa das avenidas arborizadas conduziu-nos ao «Al Ain Oásis». Adjacente a este existia também o Museu Nacional de Al Ain e o Forte do Sultão Bin Zayed, que também visitámos.
Antes de mais, é relevante acrescentar que o «Al Ain Oásis» é Património Mundial da Unesco.
Depois de concluída a implementação do seu projecto global, a autoridade de Turismo e Cultura de Abu Dhabi decidiu abrir o «Oásis» aos visitantes, organizando um roteiro da visita
completo, de modo a ajudar a compreender melhor o significado e as muitas lições que daí se poderão tirar.
Este projecto é de baixo impacto ambiental pois permite que cada um aprenda, observe
e interaja, respeitando a integridade cultural do mesmo.
Quanto a nós, e para além disso tudo, no final da visita os nossos olhos viram mais além… fazendo-nos recuar cinquenta anos (meio século) como são os exemplos abaixo.
2. – FOTOGALERIA COM 50 ANOS DE INTERVALO
▼ NO XIME (1972)
EM AL AIN (2022) ▼