Queridos amigos,
Trata-se de uma surpreendente revelação de uma faceta desconhecida de Veloso Salgado. Esta exposição foi apresentada na Temporada Cruzada Portugal-França, no Museu de Boulogne-sur-Mer, em França, no ano passado. Tudo começou com a doação da neta de Veloso Salgado de um acervo de centenas de peças e de uma correspondência que revela grandes amizades deste mestre do retrato e da paisagem tanto com artistas portugueses, caso de Teixeira Lopes e Ventura Terra como com um conjunto de artistas franceses com quem manteve relações afetuosas toda a vida, tendo mesmo integrado o Grupo da Escola de Wissant no norte da França. Veloso Salgado tornou-se um reconhecido artista na zona de Lille. No seu legado, encontraram-se obras destes pintores, agora patentes ao público. Promete-se continuar, até para fazer referência a outros eventos que se podem visitar no MNAC - Museu do Chiado.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (99):
Veloso Salgado no MNAC – Museu do Chiado:
O maravilhamento de obras desconhecidas de amigos franceses (1)
Mário Beja Santos
Atrai-me a pintura de Veloso Salgado (1864-1945), conhecido retratista, paisagista e pintor de grandes espaços (designadamente públicos) enquadrado no movimento da segunda geração naturalista, rótulo que considero insuficiente para alguém que experimentou um pouco de tudo entre o realismo e romantismo até às primícias do modernismo. O MNAC – Museu do Chiado já lhe consagrara uma retrospetiva onde claramente se manifestava, no último período dos seus trabalhos, uma total disponibilidade para transitar para formulações fora do academismo pictórico.
Esta exposição intitula-se “De Lisboa a Wissant”, espraia-se por todo o seu processo artístico e a sua formação, este homem de origem galega formou-se em Lisboa foi professor na Escola de Belas Artes, teve intervenção em grandes espaços decorativos, caso do Palácio da Bolsa, da Escola de Medicina do Porto, da Assembleia da República. Este acervo vem na continuidade da exposição apresentada no Museu de Boulogne-sur-Mer, que revelou detalhes até agora desconhecidos do percurso artístico de Veloso Salgado. A exposição do MNAC foca-se sobre os estudos e a carreira artística de Veloso Salgado em França enquanto bolseiro, entre 1888 e 1895, nela se expõe obras inéditas desse período. Segundo a documentação que o MNAC distribui, a exposição acolhe 70 obras, põe enfoque no seu itinerário francês (Paris, Bretanha e Wissant), desvela a ligação de uma amizade com os artistas Virginie Demont-Breton e Adrien Demont e a Escola de Wissant. É a primeira vez que se dá a público este diálogo de Veloso Salgado com os seus pares franceses.
Abertura da exposição, com peças do seu ambiente familiar e doméstico
Retratos do jovem artista. Ele começou a trabalhar com o seu tio desde os 10 anos na Litografia Lemos (situava-se na rua Ivens), frequentou a partir de 1878 a Academia Real de Belas Artes, chamou a atenção dos seus professores, caso do escultor Simões de Almeida. Distinguiu-se pela sua profunda capacidade de observação psicológica, a exposição exibirá o Retrato de Julieta Hirsch, que foi seu modelo, uma obra pontuada por uma modernidade incomum na época.Veloso Salgado
O Éden-Hotel, chalé de férias de Veloso Salgado e onde viveu a sua neta Conceição
A sua neta, Conceição Veloso Salgado legou ao MNAC o acervo concentrado na casa de família, em Lisboa, na rua da Quintinha e no chalé de férias, em Colares. Trata-se de uma importante coleção composta por 400 peças, abarca pintura, desenho, escultura, joalharia, medalhas, mobiliário e um significativo acervo de fotografias do século XIX. Assim se abriu a perspetiva de estudar a correspondência de Veloso Salgado com os artistas franceses seus amigos, correspondência que revela uma cumplicidade e uma profunda amizade que durou toda a vida. Coube a Maria de Aires Silveira, conservadora do MNAC este estudo que permitiu avançar tal rede de contactos.
“Casas pobres”, pintura de Adrien Demont, 1890
Fernand Stiévernart, “Pôr-do-sol”, 1895
Veloso Salgado, “Preto e rosa”, 1872
Veloso Salgado, enquanto bolseiro do Estado português, trabalhou em Paris onde fez conhecimento e nasceu amizade com Viriginie Demont-Breton e Adrien Demont, Félix Planquette e Fernand Stiévenart, tudo aparece confirmado nos quadros que constavam da sua coleção. Foi assim que se descobriu na dita correspondência, as interações de Veloso Salgado com outros artistas, também bolseiros portugueses em França, caso do escultor Teixeira Lopes e do arquiteto Ventura Terra. Nesta exposição comprova-se o interesse de Veloso Salgado pela captura de cenas bretãs, ficam evidentes as suas ligações com o grupo de paisagistas da Escola de Wissant, no norte da França e com artistas praticamente desconhecidos em Portugal. A exposição permite, deste modo reatualizar o estudo do percurso artístico de Veloso Salgado e a sua cumplicidade com estes artistas franceses.
Trabalhando na Bretanha, Veloso Salgado deixou-nos imagens luminosas da região, anos depois a sua obra vai transmitir sentimentos melancólicos e místicos, caso do quadro Velhice. Despedimo-nos hoje com a promessa de continuar a falar de Veloso Salgado e de outro acervo do MNAC, mostrando uma obra dessas relações afetuosas que estabeleceu e onde é incontestável a sua mestria no campo de observação psicológica.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 15 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24225: Os nossos seres, saberes e lazeres (568): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (98): Vestígios soltos de dias felizes, custa apagá-los sem haver partilha (Mário Beja Santos)