quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26259: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte IV: Um dos santuários do PAIGC (1966-1972)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina do Cantanhez, perto da "barraca" (acampamento) Osvaldo Vieira (que eu visitei em 2 de março de 2008) > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 >  A silhueta de um "dari" (chimpanzé) descendo uma árvore ... 

Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, ainda com relativa abundância como o macaco fidalgo ("fatango", em crioulo). O Cantanhez ainda era, em 2009, uma das últimas florestas primárias do planeta. É imperioso que os guineenses e todos nós as saibamos proteger e salvar. O João Graça que esteve cinco dias como médico, voluntário,  em Iemberém (a nossa antiga "Jemberém"), teve o privilégio de observar "in loco"  um chimpanzé do Cantanhez (depois de se levantar muito cedo e caminhar um bom par de horas, com um guia). Outro habitat do "dari é o Boé (agora ameaçado com a prospeção e eventual exploração da bauxite, entregue a uma empresa chinesa).

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Farim do Cantanhez > 9 de Dezembro de 2009 > 17h06 >  Resto de mangas de um ou mais "daris"...

Com mais de 100 mil hectares (mil quilómetros quadrados), este parque é muito importante, segundo o IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Areas Protegidas, com sede em Bissau:

"Grande diversidade da fauna e da flora com a existência de várias florestas húmidas onde se destacam sobretudo as essências raras e únicas, tais como: copaifera, salicaunda, 'pau' miseria, mampataz, 'pau' de veludo, tagarra, faroba de 'lala' e outras. Ainda alberga diferentes espécies de fauna (elefante, búfalo, baca branco, sim-sim, chimpanzé, macaco fidalgo, porco de mato), entre outros: é reconhecido por WCMC como um dos 9 sitios importantes do ponto do vista da bioiversidade. Cantanhez é igualmente uma das 200 eco-regiões mais importantes do mundo identificadas pela WWF."

Fotos (e legendas): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Península de Cubucaré / Cantanhez > Carta de Cacine (1960) (Escala 1/50 mil)  > Durante 6 anos, de 1966 a finais de 1972, o Cantanhez foi um "santuário" do PAIGC. O único destacamento das NT era Cabedu (parte do setor S3, Catió) (e Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine). Depois da Op Grande Empresa (dez 72 / jun 73), vão ser instalados aquartelamentos das NT em Jemberém, Cafine, Cafal, Cadique, e outros (que este excerto do mapa não mostra, como Caboxanque, Chugué e Combumba)  (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


1. Antes da Op Grande Empresa (*), houve outras operações de envergadura, com tropas terrestres, marinha e força aérea... Mas a verdade é que o PAIGC encontrou na península de Cubucaré condições ideais para construir um dos seus santuários, no interior da Guiné... 

Sabemos que a reivindiação de 2/3 de áreas libertadas foi sempre "show-off" do Amílcar Cabral para impressionar os seus financiadores externos e fornecedores de armas, bem como reforçar a "moral" da sua tropa, militantes e simpatizantes... Nunca correspondeu à verdade... Não havia recanto da Guiné onde a tropa portuguesa não pudesse chegar, com maior ou menor dificuldade... 

Isso não nos impede de reconhecer, também por mor da verdade, que  o Cantanhez , o Oio e o Boé foram três santuários do PAIGC: o primeiro , de 1966 a 1972, o segundo, durante toda a guerra, o terceiro. depois do abandono de Béli,  Madina do Boé e Cheche, em 6 de fevereiro de 1969... 

Mas a população que lá podia viver no Cantanhez era, afinal,relativamente  escassa: no final da Op Grande Empresa, as NT  conseguiram recuperar não mais do que 3,5 mil habitantes, sobretudo  mulheres, velhos e crianças, que foram "reordenadas"...

No ReI Ac Psic n° 4/72 (citado, pela CECA, 2015, pág. 186), e no que diz respeioto à "População", escreve-se:

(...) "O aspeto mais significativo no período foi a recuperação de cerca de 3.500 elementos da população balanta em Caboxanque e Cadique que após a implantação das NT naqueles locais, franca e abertamente, se acolheram à nossa proteção, colaborando na construção dos aldeamentos locais imediatamente iniciados.

"Esta atitude, manifestada por uma população há anos sob controlo IN, para além de revelar um fraco índice de contaminação subversiva, confirma o quadro de desequilíbrio psicológico a nosso favor vindo há muito manifestar-se pela generalidade da população controlada pelo inimigo em consequência dum cansaço de guerra, pesadas exigências do Partido e precárias condições da vida no 'mato'. " (...)

Onde estavam, afinal,  os  trezentos e tal mil habitantes  da Guiné, que o PAIGC controlaria nos tais 2/3 do "território libertado" ? 

Na altura,em 1970,  a Guiné tinha c. de 595 mil   habitantes; na melhor das hipóteses, o PAIGC controlava, direta ou indiretamente,  dentro e fora do território, 15% a 20% da população, incluindo a população refugiada dos dois países vizinhos, o Senegal e a Guiné-Conacri.

Recorde-se aqui os números apurados pelo jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues,  em meados de 1972, aquando da sua visita à Guiné em missão de reportagem, a convite pessoal de Spinola:

(i) "Bissau afirma controlar 487 448 habitantes (foram os que se deixaram recensear em 1970)",

(ii)  "mantendo-se outros 27 174 em 'zonas de duplo controle' ".

(iii) "no Senegal vivem 60 000 refugiados, e na Guiné (Conacri) 20 000, segundo informa o Comando-Chefe, apoiando-se em  dados da Comissão de Refugiados da ONU";

(iv) "a ser assim, 89,5 por cento dos guinéus viveriam no interior do TO (teatro de operações) e 82 por cento do total estariam sob controle português."

(v) "numa população que em 1970 era de 594 622 habitantes";

(vi) "os dois mil combatentes que (...) actuam dentro das fronteiras, manobram a partir das 'zonas sob duplo controle' (...), situadas ao longo do corredor florestal e particularmente nas proximidades de Bissorã / Mansabá / Canjambari, confluência do Geba/Corubal, e sobretudo na zona ao sul do rio Buba, à volta de Catió".

(vii) "outra zona 'quente' situa-se perto do Cacheu, junto ao rio do mesmo nome, alastrando pelas florestas ao norte do Bachile e do Pelundo";

(viii) "calculam-.se em 7 000 os combatentes do PAIGC atuando a partir de 25 bases da fronteira senegalesa e de 8 da República da Guiné, incluindo aqueles que se encontram dentro do TO" (**)


2.Reveja-se, aqui, em síntese, o que foi, no sector Sul 3 (S3), a Op Safari, em 3 e 4 de janeiro de 1966:
 
(...) "Teve como finalidade, aniquilar e destruir os grupos inimigos e as suas instalações localizadas nas regiões do Cantanhez, entre os rios Ualche e Macobum, particularmente as de Calaque, Cafine e Cafal. 

"Executaram a operação forças da CCaç 728, 763(-), 1423, 1424 e 1427(-), CPara, 4 DFE, 5° e 6° Pel / BAC (4 obuses), com apoio aéreo e apoio naval.

"As NT atacaram a 'Base Central', a sul do cruzamento de Cafal, tendo-a destruído.

Em Missida Jauiá foi assaltado um acampamento; o lN sofreu 1 morto e 1 prisioneiro, tendo-lhe sido apreendidas I metralhadora pesada e outra ligeira, 1 espingarda, 1 carabina e 1 pistola metralhadora, além de outras baixas não confirmadas. Foi apreendida documentação diversa. Foram destruídas grandes quantidades de arroz e de gado.

"As NT sofreram 4 mortos e 14 feridos."

 Comentário à Op Safira (Fonte: Relatório de Comando do CTIG n'º 1/66, pp. 109-110):.

(...) "Ressalta no período, pela sua importância, quanto a efetivos empenhados, meios de apoio de fogos, apoio aéreo e naval, pela duração e pelo prazo e, especialmente, pelo valor atribuído ao lN na zona de ação escolhida, a operação 'Safari'.

O Cantanhez é uma área de densa arborização e difícil acesso às NT, onde o lN mantém uma liberdade de ação quase absoluta, sofrendo apenas esporádicas ações de flagelações da FA, Artilharia e de curtas incursões por elementos combatentes.

"A Op Safari teve o condão de levar a essa área importantes efectivos das NT, que percorreram distâncias apreciáveis, causando ao lN baixas e danos materiais que não estão, ainda hoje, avaliados. As NT permaneceram na zona de ação durante a noite de 4/5 de janeiro, período que era considerado crítico, sem que o lN tivesse comprometido a sua segurança. 

"Desta operação colheram-se bons ensinamentos para futuras ações na mesma área e verificou-se a viabilidade de ali se levarem a efeito ações de desgaste do lN. "(...)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014), pp.  387/388 (Negritos nossos) (Com a devida vénia...).


3. Da leitura do livro da CECA,  6.º Volume (Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa, 2015), abrangendo o período de 1967 a 1970, vai-se percebendo que para o então Com-Chefe, gen Schulz, o Cantanhez é um osso duro de roer e não há condições para uma grande contra-ofensiva das NT... Vem o Spínola, em meados de 1968, e só quatro anos e meio depois (!), é que é possível planear e executar a Op Grande Empresa.

Temos de recuar no tempo, ao princípio da luta armada  (ou início da subversão, como diziam as autoridades portuguesas) para perceber por que razão só muito tardiamente as NT conseguiram pôr algumas bandeirinhas no mapa do Cantanhez: Jemberém, Cafine,Cafal,Cadique, Caboxanque, Chugué e Cobumba...


Vídeo nº 1  (4' 52 ''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. 

Alojado em: You Tube >Nhabijoes



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (*) > 


Neste vídeo (nº 1), um dos homens grandes da região conta como foram "os primórdios da luta"...  Era de etnia nalu, a  "dona  do chão". Chamava-se 
Mussá Camará  (e irá morrer uns meses mais tarde).

Entrou no mato, como ele diz, logo em 1962. Ou seja: passou à clandestinidade, depois de aderir ao PAIGC. 

Estava convencido que a designação deste acampamento ("Osvaldo Vieira") não tinha nada a ver com a verdade fática, histórica, que seria apenas uma homenagem, póstuma, a um dos heróis (não de todo consensual...) do PAIGC, cujos restos mortais repousam na Amura, a antiga fortaleza colonial de Bissau transformada em panteão nacional.. Mas não, o  Osvaldo Vieira atuou no Oio (Frente norte), mas também ao que parece no Cantanhez (Frente sul). 

Abramos aqui um parênteses, para dizer que já em 2008 eu tinha dúvidas (eu e outros participantes portugueses no Simpósio) sobre o seu papel no complô contra Amílcar Cabral de que resultara o seu miserável assassinato em 20 de janeiro de 1973.  Osvaldo Vieira e o executante do crime, o Inocência Cani,  eram próximos e críticos do líder histórico e da tese da unidade Guiné-Cabo Verde. Mesmo assim foi dado o seu nome ao Aeroporto Internacional de Bissau. Também tinha relações de parentesco com 'Nino' Vieira. De qualquer modo, repousam lado a lado no panteão nacional, ele e o Cabral, o " pai da Pátria".

Mas voltando ao vídeo (nº 1): o antigo guerrilheiro  fala num crioulo difícil. O Pepito vai traduzindo. Vê-se que nem sempre percebe o antigo guerrilheiro...

"Éramos só sete nessa altura. O comandante do grupo era o José Condição. Ficámos no mato de Caboxanque, aqui perto. Numa barraca, parecida com esta"... 

E a narrativa continua: Até que chegou à região de Tombali o Capitão Curto.  Esse Cap Curto ficou com a fama de mandar cortar cabeças. .. No filme-documentário "As Duas Faces da Guerra", de Flora Gomes e Diana Andringa, um dos entrevistados, antigo combatente do PAIGC, também evoca esse  Cap Curto... A crer no depoimento do antigo guerrilheiro, o Cap Curto cortava as cabeça dos seus prisioneiros e, depois ia apresentá-las às mães das vítimas, nas suas tabancas... (o que nos parece macabro e fantasioso demais).

Enfim, não tive, no Cantanhez, oportunidade de confirmar esta história nem saber mais pormenores sobre eventuais métodos de trabalho sujo, resultantes da colaboração entre Exército, PIDE, polícia administrativa, etc., nos "anos de chumbo" que antecederam a guerra... 

Também não achei apropriado o momento, que era de festa e de reconciliação, para falar deste e de doutros homens que, a ser verdade o que deles se contava,  não podem ser tomados como representativos do exército português, e muito menos dos militares portugueses que fizeram a guerra, entre 1963 e 1974... Mas é importante ouvir as diferentes narrativas da guerra, que ajudam a compor o "puzzle" das histórias de um lado e do outro...

Na mesma altura apareceu o 'Nino' Vieira. O tal Cap Curto cercou Darsalame, entrou aos tiros na tabanca, mandou toda a gente pôr as mãos na cabeça… (Esta história já parece bater certo com outras que temos ouvido da atução do cap José Curto, cmdt da  CCAÇ 153, e carrasco do comandante do PAIGC, Vitorino Costa, formada na academia chinesa de Nanquim.) 

Das cinco da tarde às cinco da manhã, a aldeia esteve cercada e as pessoas foram interrogadas… O 'Nino' ficou muito preocupado e quis saber o que se passava. Reuniu os camaradas, entre eles o "Mão de Ferro", com a missão de ir a Darsalame saber o que se estava a passar e tentar ajudar o povo. Não deixou ir o José Condição. Foi também nessa altura que o grupo, que tinha aumentado, já não cabia em Caboxanque. 

“Este mato é pequeno. Não vamos ficar aqui, disse eu… E foi então que fomos para o mato de Cantomboi” (um dos catorze atuais matos do Canhanez)…


 

Vídeo nº 2 (0' 55''): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. Alojado em: You Tube >Nhabijões


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guiledje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (*) 


"Cabral fala sábi"...A memória de Cabral (que, dizem, conheceu bem a região de Tombali, como engenheiro agrónomo, antes de se ter tornado o fundador e o líder histórico do PAIGC) bem como as marcas da luta de guerrilha estão ainda bem vivas entre as mulheres e os homens do Cantanhez... Uma das mulheres, presentes nesta visita, canta uma das canções revolucionárias da época, dando vivas à Guiné e ao... Partido (vídeo nº 2).

 Mas será que alguma vez  elas o viram ao vivo  a a cores por estas paragens  durante a "guerra de libertação" ?  Duvido.  

Contrariamente ao ' Nino', o Cabral nunca foi um comandante no terreno, não era um "cabra-matcho"  como os guineenses gostavam. Era um bom teórico, estratega, político, diplomata ( e poderia ter sido um grande estadista, ou não ?)... Mas nunca foi um com-chefe, um general,  como o Spinola,  próximo dos seus homens no mato, na guerra.  


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira, nas proximidades de Madina do Cantanhez, na picada entre Iemberém e Cabedu > Simpósio Internacional de Guileje > Domingo, de manhã, 2 de março de 2008 > Visita guiada e animada por antigos guerrilheiros e população local, ao Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira (***) 

"A unidade foi a melhor arma nos momentos difíceis dos camaradas" - pode ler-se num pequeno monumento, tosco, de cimento, encimado pela estrela negra, erguido na antiga barraca da guerrilha, o acampamento "Osvaldo Vieira" (agora reconstituído)... 

Testemunho do passado, recado para o presente, pensa a Alice que, como muitos portugueses e portuguesas, não fazia a mínima ideia das reais condições do terreno (e do clima) onde se operava a guerrilha e a contra-guerrilha na Guiné.... São florestas-galeria onde mal entra o sol...

Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O que pensarão estes miúdos ? Quais são os seus sonhos ? Para onde estão a olhar ? O que serão daqui a 15/20 anos ? O que sabem da luta pela independência, levada a cabo pelos seus avós ? Quem serão hoje os seus ídolos, os seus heróis ? E estas mulheres grandes ? Que recordações têm da luta armada ? E da dor, do sofrimento e da tragédia que foi toda aquela guerra estúpida e inútil ? Qual é a sua situação hoje, do ponto de vista social, económico e sanitário ? O que poderão ainda esperar do futuro ?

Foto nº 3 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje> Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Sabotagem ? Provocação ?... Não, é apenas uma camisola do craque do Manchester United e da Selecção Nacional de Futebol de Portugal, Cristiano Ronaldo, um "herói' do mundo global e mediatizado de hoje... 


Foto nº 4 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

À esquerda, o prof  Luís Moita  (1939-2023) e o Paulo Santiago seguem com atenção, desvelo e carinho, o inédito espectáculo de representação teatral que nos ofereceram, a todos, os antigos guerrilheiros e a população local do Cantanhez...

Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)


Um dos antigos "combatentes da liberdade da pátria", um antigo comandante,  explica, em crioulo (com tradução para português, feita pelo Pepito) como é que os guerrilheiros do PAIGC se apoiavam em (e articulavam com) a população local...

Com um brilhozinho nos olhos, fala das 3 fases da organização político-militar do PAIGG...  (Á esquerda, sentados, e de máquina fotográfica em punho, o Paulo Santiago e o Silvério Lobo.)


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

... Tem um papel, sabe ler...  Insiste em afirmar, perante os convidados estrangeiros, que aqui nunca se lutou com o povo português, mas sim contra o colonialismo de Salazar e de Caetano de acordo com a retórica do Partido.

Fotos nº 7 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um verdadeira lição, ao vivo, de história, de antropologia, de ciência política, de arte da guerra, de gestão, de humor, de humanidade, de sobrevivência, de dignidade, de amizade, de esperança no futuro... 

Fotos nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Osvaldo Vieira, de origem cabo-verdiana,  foi dos que morreu justamente na reta final, a um mês do fim das hostilidades...   Os antigos guerrilheiros do Cantanhez também quiseram dar a esta 'barraca'  (acampamento temporário) o seu nome... 

Segundo me dirá o Manecas Santos outro lendário combatente do PAIGC, o homem dos Strela,  o Osvaldo nunca terá andado muito pelo sul... Fico na dúvida se o nosso homem esteve realmente aqui, neste sítio... Mas, para o caso, também não interessa. Os seus antigos camaradas tentaram, de maneira didática, simples, autêntica, reconstruir as condições em que se vivia e lutava durante os difíceis tempos da luta de libertação... (E tiveram que limpar aquele mato!)

Não sei se alguma vez foi identificado, atacado e destruído pelas NT este acampamento... Sabe-se que, desde 1966 até finais de 1972  as NT não ousaram penetrar, a pé, no coração do Cantanhez, com o claro objetivo da sua reocupação. No final do consulado de Spínola, aí sim, vai haver uma grande contra-ofensiva contra este santuário do PAIGC, a Op Grande Empresa.

O Pepito garantiu-me,  uns meses mais tarde, desfazendo as minhas dúvidas,, que  "o Osvaldo foi um combatente que viveu naquela 'barraca' (acampamento) e fez dela ponto de partida para numerosas acções de guerrilha".

Além disso, "as estórias dele naquele local são mais do que muitas, algumas até divertidas: quando lhe dava a sede, mandava um dos seus guerrilheiros comprar vinho no Quartel de Cacine. Uma vez o mesmo saboreado e estalada a língua de satisfação, recostava-se e dizia: ' 
Um dia ainda vamos chorar a partida dos portugueses, nunca mais beberemos bom vinho'  "… (Se calhar dizia "água de Lisboa", como os meus soldados, que não bebiam...)

Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de antigos guerrilheiros encenaram a sua atuação no tempo da guerra... Ei-los aqui vestidos de caqui e gorro, e empenhando imitações de madeira da famigerada Kalashnikov... Pertenciam ao Exército, já na 3ª fase da luta...

Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Nalguns casos recorreu-se mesmo a restos de armas que ficaram por ali, como por exemplo o cano do temível LGFog RGP-7....


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O grande terror dos guerrilheiros e da população do Cantanhez não eram os paraquedistas, ou o helicanhão, mas sim os Fiat, os aviões a jacto da Força Aérea Portuguesa... O aparecimento dos mísseis terra-ar Strela vieram dar outra confiança e ânimo aos homens do PAIGC...

Foto nº  12 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

 O papel das mulheres na guerrilha foi aqui ilustrado, exemplificado, exaltado...

Foto nº  13 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

As mulheres do Cantanhez exemplificaram como cozinhavam no mato, sem fazer fumo, iludindo a observação aérea das NT... Os combatentes tinham apenas direito a uma refeição por dia... Ainda hoje será difícil comparar a sua à nossa fome... Nas unidades de quadrícula ou nas operações no mato, o tuga sonhava com comida e sobretudo com bebida... Muita, fresca.

Foto nº  14 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de mulheres, camufladas com folhas de arbustos, mostrando como se deviam agachar e esconder quando no céu se ouvia o baralho de aeronaves...

Foto nº 15 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Atores, figurantes, assistência... Nos bastidores ou no palco.... As mulheres são parte fundamental da luta do povo da Guiné, ontem como hoje: pela paz, pela liberdade, pela democracia, pelo desenvolvimento, pelo direito à história....

Os tempos hoje são outros... As populações do Cantanhez, e nomeadamente as que apoiaram abertamente a luta de libertação (os nalus e os balantas), parecem assumir o seu passado, com orgulho, com dignidade, sem arrogância, sem ódio....

Claro que a narrativa é heróica... Em dia de festa, e para mais à frente de estrangeiros (e alguns antigos inimigos) não houve ocasião para se lembrar a violência que também se abateu do lado dos " libertadores", sobre a população mais vulneráveis, as crianças, as bajudas, os adolescentes, as mulheres, os idosos...que tinham de alimentar a guerrilha, garantir grande parte da logística, cultivar as bolanhas, sofrer as prepotências dos comandantes e comissários políticos, etc. 

Foto nº 16 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Uma guerra de libertação (ou subversiva, como diziam as nossas chefias militares...) não se faz sem as mulheres, como a antiga enfermeira do PAIGC, Francisca Quessangue, que participou na batalha de Guileje....

Francisca, uma mulher doce e tranquila... E no entanto  tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. 

O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabilidades políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de retaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. 

Foi uma das oradoras do Simpósio. Fez uma comunicação sobre os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guileje, no dia 6 de março. (...)

Foto nº 17 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um antigo comandante da guerrilha conduziu-nos, a mim, ao cor art ref Nuno Rubim, o "capitão-fula",  e a esposa, ao longo de uma das linhas de fuga que partiam do centro do acampamento, em plena floresta do Cantanhez, até ao tarrafo... Fortemente apoiados pelos nalus e pelos balantas, o PAIGC movia-se como peixe dentro de água nesta floresta-galeria, um emaralhado de lianas e vegetação perene, com árvores de alto porte, centenárias, uma amostra ainda riquíssima do que resta das florestas primárias do planeta...

Foto nº 18 >  Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Paisagem de tarrafo...na maré vazia.


Foto nº 19 > 
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

De acordo com as coordenadas do GPS do N  caor art ref Nuno Rubim (1938-2023), tiradas no centro da clareira onde decorreu a cerimónia, este sítio fica a 11º 12' 46" N - 15º 03' 10" W, ou seja, à esquerda da picada que vai de Iemberém (antiga Jemberém) para Cadique (a oeste) e Cabedu (a sudoeste), nas proximidades de Madina do Cantanhez, entre Iemberém e Cachamba Sosso (vd. infografia, ao alto do poste)... 

Uma das linhas de fuga do acampamento, que ficava numa pequena elevação, ia dar diretamente ao Rio Bomane, afluente do Rio Chaquebante, este por sua vez afluente do Rio Cacine, desaguando justamente frente a Cacine, perto de Cananime (onde iríamos almoçar nesse domingo).

Foto nº 20 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...) 

À entrada para o acampamento Osvaldo Vieira, junto a poucos quilómetros de Imberém, a sul... Na foto, a Alice Carneiro com o antigo guerrilheiro Dauda Cassamá, sob o olhar do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa...


Foto nº 21 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

Um grupo de jovens, rapazes e raparigas, que cantaram o Hino da Guiné-Bissau no início da cerimónia ... O que será feito deles, hoje (2024) ?

Foto nº 22 > Guiné-Bissau > Região de Tombali > Mata do Cantanhez > Acampamento ("Barraca") Osvaldo Vieira > Simpósio Internacional de Guileje > Visita guiada > 2 de março de 2008 (...)

O Pepito, nosso anfitrião (infelizmente iria desaparecer 4 anos depois, deixando órfão a sua ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, e fazendo falta a este povo e que ele tanto adorava) ,  aqui servindo de tradutor (do crioulo para o português)... Foi o génio organizativo e a alma deste Simpósio Internacional, que juntou os "inimigos de ontem" (faltaram apenas os cabo-verdianos, que ainda tinham um ódio de estimação ao 'Nino' Vieira e vice-versa)...

Concentraram-se, neste antigo acampamento do exército do PAIGC, naquela manhã de domingo, dia 2 de março, algumas centenas de pessoas, entre comitiva (participantes do Simpósio Internacional de Guileje, nacionais e estrangeiros) e população local...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > d7 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26242: Operação Grande Empresa, a reocupação do Cantanhez e a criação do COP 4, a partir de 12 de dezembro de 1972 - Parte III: Dois amargos Natais, em Caboxanque (1972) e Cadique (1973) (Rui Pedro Silva, ex-cap mil, CCAV 8352, Caboxanque, 1972/74), 14 de março de 2024

(**) Vd. poste de 3 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG
 
(***) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P26258: Parabéns a você (2336): Francisco Palma, ex-Soldado CAR da CCAV 2748 / BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872 (Dulombi e Galomaro, 1971/74)


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Nota do editor

Último post da série de 10 de Dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26251: Parabéns a você (2335): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72) e Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12 (Bissalanca, 1967/69)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26257: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (2)

Alf Mil Op Especiais Ramiro Figueira
Foto 7 - Vista aérea de Nova Sintra


Foto 8 - Reabastecimento em Lala


Foto 9 - Viatura Berliet após accionar uma mina na estrada para S. João. Vê-se da esquerda para a direita o alferes Pereira, o furriel Elias e o furriel Sousa


Foto 10 – A chagada do PAIGC a Nova Sintra. À frente da esquerda para a direita, eu, o major Quinto Cabi, o comissário político e o comandante Tchambú Mané


Foto 11 – Reunião na parada do quartel de costas o tenente coronel Almeida Mira, de boné azul o major Quinto Cabi, de lado o mais alto o capitão Machado e de camisa branca o comandante da milícia


Foto 12 – Na parada do quartel o furriel Duarte conversa com o Bunca Dabó


Foto 13 – Dentro de uma Berliet eu a dizer adeus a Nova Sintra

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72

(continua)

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Nota do editor

Vd. post de 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26232: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (1)

Guiné 61/74 - P26256: Historiografia da presença portuguesa em África (456): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, o importante relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, Marques Geraldes, 1887 – 2 (13) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Setembro de 2024:

Queridos amigos,
Não vou esquecer tão cedo que folheei de janeiro a dezembro o Boletim Official da Província da Guiné à procura de quaisquer comentários não só alusivos ao facto de que a colónia da Guiné, pela primeira vez, tinha a definição da sua superfície, indo ocupar espaço no interior onde a presença portuguesa era mais do que diminuta, como igualmente este relatório de Marques Geraldes, chefe do presídio de Geba, que vê publicado o seu documento depois de Ziguinchor passar a ser possessão francesa, há aqui qualquer coisa de grotesco, de ausência de comunicação entre Bolama e Ziguinchor, ver um chefe de presídio a diagnosticar um quadro de penúria e negligência, pedindo meios, quando era irremediável a perda do território a que ele se referia. Virão depois os protestos daqueles que queriam manter a presença portuguesa, mas a Convenção Luso-Francesa entrara em vigor, diplomatas como Andrade Corvo julgavam que entregar o Casamansa à França fariam dela uma aliada para defender o Mapa Cor de Rosa, que gente tão ilusória.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, o importante relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, Marques Geraldes, 1887 – 2 (13)


Mário Beja Santos

O relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, enviado para Bolama no início do ano de 1886, é uma peça de indiscutível interesse, será porventura a peça mais detalhada que ficará para a historiografia sobre a presença portuguesa, com a Convenção Luso-Francesa de 12 de maio desse ano, todo o Casamansa passou a ser parte da África Ocidental francesa, incorporado no Senegal. Marques Geraldes faz uma recensão histórica, apresenta o presídio, releva os problemas existentes, é bastante frontal a expor a degradação em que se encontra o património. Dando continuidade ao texto anterior, ele passa em revista a saúde pública, o comércio, a indústria, a agricultura e a instrução pública.

“A não ser alguns casos de sarampo benigno que apareceram de abril a agosto de 1884, e as febres palustres que mais ou menos atacam os habitantes nos meses de outubro a novembro, devida às exalações pútridas que emanam dos arrozais da transição do tempo pluvioso para o seco; a não ser isto, digo, nada mais houve que alterasse o estado sanitário do presídio e subúrbios, devido às enérgicas e sábias providências adotadas pela Junta da Saúde da província, por ocasião de aparecerem doenças contagiosas na Goreia, sendo certo que este ponto está em constante comunicação com a praça. Eram eles que maior contingente fornecia aos mercados europeus com os produtos que anualmente saem deste rio. É também devido a eles, em grande parte, que a agricultura se ostentava em todo o seu viço, fornecendo géneros alimentícios tanto as tribos Mandigas com os povos deste lado que ali vão negociar.”

Marques Geraldes deplora o rendimento do presídio, considera que os negociantes deviam ampliar os seus negócios e faz o seguinte comentário:
“Grande parte das produções que aqui aparecem são novamente levadas pelos seus donos a outros pontos, já porque aqui os preços são elevados, já pelo amesquinhado do negócio. Além disso, os preços das mercadorias em Selho e Carabane são muito mais convidativos e incitam o gentio a ir fazer os seus negócios naqueles pontos. O comércio está aqui atualmente representado por quatro negociantes: Frederico Chambas, súbdito francês e residente nesta praça há perto de 24 anos; Samuel Lisck; Manuel Pereira da Cruz e José Gomes Pereira, africanos.
Os dois primeiros recebem a crédito as mercadorias de Selho; o terceiro de Cacheu, e o quatro costuma ir diretamente a Goreia, onde compra à vista, e por consequência mais barato, as mercadorias que necessita.”


Dá conta do rendimento da delegação fiscal aportada ao ano de 1882 e não deixa de fazer o seguinte comentário: “Bom seria que se aplicassem os rendimentos cobrados nesta delegação em obras de que tanto carece este presídio, para evitar as despesas que anualmente se fazem com rendas de casas para aquartelamento das praças, delegação fiscal e residência do chefe. De grande conveniência, pois, se tornava o proceder-se o levantamento de um quartel ao centro da povoação; casa para delegação fiscal próxima à praia e reedificação da igreja que se acha quase em ruínas.”

Na vertente industrial, o chefe do presídio menciona exclusivamente o fabrico de sal. E faz largo comentário ao estado agrícola:
“A cultura do arroz em todo o rio é que tem mais incremento, sendo por isso utilizados grande parte dos terrenos baixos que estão mais próximos do rio. Os lugares elevados são empregados na cultura do milho maçaroca do Brasil, feijão, alguma mandioca e batata-doce. A vinda de colonos europeus ou das ilhas, para este e outros pontos da província, bem auxiliados pelo Governo, com a condição de se dedicarem somente à agricultura e à introdução de instrumentos agrícolas, dava benéficos resultados. Em frutas, a que maior quantidade se encontra em terra de Banhuns é a laranja. Há matos imensos só de laranjeiras. Aparecem também algumas papaias e bananas. A colheita nos povos circunvizinhos da margem esquerda foi regular; a da margem direita foi insignificante, motivadas pelas guerras contínuas que os Mandigas ali estão promovendo à laboriosa raça de Felupes.”

Por último, Marques Geraldes debruça-se sobre a instrução pública:
“Funcionou com regularidade a aula de instrução primária. Cabe aqui dizer que a escola está completamente despida de tudo o quanto lhe deve ser inerente. Principia por não haver casa para tal fim, vendo-se o professor obrigado a dar a aula no seu próprio quarto.
Até hoje não têm sido satisfeitas as requisições da maior parte dos objetos, indispensáveis, de forma que o grau de instrução que se nota nos alunos, embora haja boa vontade do professor, não é tal qual se devia esperar, se as escolas estivessem munidas de tudo quanto lhes é necessário.
Os pais, na sua quase totalidade, são pobres e, portanto, é da máxima conveniência que o Governo, embora lhe custe sacrifícios, auxilie alunos e professores, para que a sua instrução progrida, sendo certo que só da geração nova nós devemos esperar os benéficos resultados da civilização que desejamos ver espalhada por todas as nossas províncias, e não da velhada a quem coisa alguma deste mundo será capaz de desarreigar os costumes retrógrados em que foram criados e que de certo modo passarão para a mocidade, se o Governo não atalhar este mal prontas e sábias providências.
Cabe aqui dizer, que sendo a câmara municipal de Cacheu a quem compete remediar em primeiro lugar tais faltas, nenhumas providências deu até hoje, apesar das repetidas reclamações já do chefe do presídio, já do próprio professor, sendo pressentir tal procedimento quando é certo que Ziguinchor tem dado não pequeno contingente pecuniário para o cofre do município.”


Quando se acaba a leitura deste relatório, não se pode deixar de ficar estupefacto como o chefe do presídio propõe medidas de fundo, no total desconhecimento que as autoridades em Lisboa estão a assumir diligências diplomáticas que levarão a que Ziguinchor, meio ano depois de Marques Geraldes enviar o documento a Bolama, deixe de ser território colonial português. Não encontrei no Boletim Oficial nenhum texto oriundo do Governo em Bolama que desse a saber que aquele território seria em breve possessão francesa. Depois virão as reações de quem vive em Ziguinchor e das autoridades gentílicas. Mas era demasiadamente tarde.

Mapa muito antigo onde se revela que o território da Guiné era, segundo o cartógrafo, parcela integrada do que se chamava a Etiópia Anterior, aparecem ali designações como Senegal e Terra dos Negros
Ziguinchor nos tempos modernos
Os Fijus di Terra, na região do Casamansa, que 500 anos depois da chegada dos portugueses, não se identificam em pertencer ao Senegal

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26231: Historiografia da presença portuguesa em África (455): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, o importante relatório do chefe do presídio de Ziguinchor, Marques Geraldes, 1887 – 1 (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26255: Fotos à procura de... uma legenda (191): a 4ª e última foto por identificar não pode ser o reordenamento e a pista da "minha" Gadamael, em finais de 1971 (Morais da Silva, cor art ref)

 

Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > Foto nº 20 (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20A (detalhe)  (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação   > Foto s/n (1)


 Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1971 > Vista aérea do reordenamento de Gadamel e da pista de aviação  (detalhe)  > Foto s/n (2)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971 > 
Foto nº 20B (detalhe) (reordenamento por identificar)


Guiné > Região de Tombali >  s/l > finais de 1971  > 
Foto nº 20C (detalhe) (reordenamento por identificar)


Fotos (e legendas): © Morais da Silva (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Carta de Bedanda (1956) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bedanda, rio Cumbijã e, a sudoeste, Cufar, Mato Farroba, Ilhéu de Infandre e Príame (Catió).


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2024)


Cor art ref
Morais da Silva

(i) cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar (e depois, mais tarde, professor de investigação operacional na AM, durante cerca de 2 décadas); 

(ii) no CTIG, foi comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre jan 1971 e fev 1972; instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga;  adjunto do COP 6, em Mansabá; 

 (iii) fez parte do Grupo L34, na Op Viragem Histórica, no 25 de Abril de 1974; 

(iv) é membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 150 referências no blogue.


1. A foto nº 20 é mesmo a última das 4 fotos aéreas do álbum do cor art ref Morais Silva (*) de que falta identificar a localização (**).
 
O fotógrafo diz que a foto nº 20 pode ter sido tirada a um reordenamento dos arredores de Catió.  

Recorde-se, mais uma vez,  que o cor art ref Morais Silva andava a "rearrumar" fotos do seu álbum da Guiné. Mas tinha umas tantas, sem legendas... E pediu-nos "ajuda"...

São vistas aéreas, tiradas de avioneta quando um dia, em finais de 1971, foi fazer uma visita de cortesia, camaradagem e amizade ao Augusto José Monteiro Valente (1944-2012), cmdt da CCAÇ 2792 (Catió e Cabedu, 1970/72) (precocemente falecido, com o posto de maj gen ref).

Na altura, ele comandava, desde janeiro de 1971, a CCAÇ 2796, os "Gaviões", em Gafamael. A caminho de Catió tirou umas tantas fotos ("slides"), incluindo umas quatro ou cinco do quartel e reordenamento de Gadamael.

Reconstituindo o seu percurso de avioneta (DO 27 da FAP ou Cessna dos TAGP), já vimos que:

  • ele seguiu para sul, ao longo do rio Cacine;
  • sobrevoou Cacine (foto nº 30);
  • atravessou a península de Cubucaré (que é delimitada pelos rios Cacine e Cumbijã);
  •  tirou uma foto ao destacamento de Cabedu (nº 29);
  • e chegou finalmente a Catió (fotos nºs 23 e 25). (*)

Recorde-se que, na altura, em finais de 1971, o PAIGC ainda estava fortemente implantado no Cantanhez. A reocupação da península de Cubucaré começa só em 12 de deembro de 1972 (Op Grande Empresa), não havendo aqui, até então, reordenamentos feitos pela NT.

Onde terá sido, pois, tirada esta última foto (nº 20) ? Catió, Príame, ilhéu de Infandre, Mato Farroba, Cufar, na margem direita do rio Cumbijã ?

2. O Valdemar Queiroz, o Manuel Reis e o Virgílio Teixeria dizem que é Gadamael. O Luís Mourato Oliveira e o António Graça de Abreu dizem que não é Mato Farro (contrariando o palpite de Luís Graça) (*).

Comentário do cor art ref Morais Silva ao poste P26189 :


Comparem-se as fotos aéreas de Gadamael e a que não sei identificar (nº 20). Conclua-se que esta não é de Gadamael, porque:

Reordenamento de Gadamael (pista na direcção Norte-Sul)
  •  parte Norte do Reordenamento PARALELA à pista e APENAS a Oeste dest
  • quadriculado da construção na totalidade do reordenamento

  • inexistência de vegetação expressiva no interior da área construída

  •  inexistência de profusão de traçados de “pé posto” no interior

Foto ainda não Identificada

  • não há PARALELISMO COM A PISTA
  • há construção nas duas áreas laterais da pista
  • vegetação expressiva no interior
  •  profusão de traçados de pé posto

2024 M11 26, Tue 22:00:01 GMT (***)


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Notas do editor:



(***) Último poste da série > 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26229: Foto à procura de... uma legenda (190): O Portugal do Minho a Timor... O passatempo teve pouca participação, afinal não dava... "patacão".

Guiné 61/74 - P26254: Desejando Boas Festas, Feliz Ano Novo de 2025, e aproveitando para fazer... prova de vida (1): João Crisóstomo (e Vilma) (Nova Iorque)




T/T Niassa, CNN,  [5 de agosto de ] 1965 - Programa do "jantar de despedida servido em honra das Forças Militares que se destinam a nossa Porvíncia da Guiné, com desejos das maiores felicidades e venturas"... Era capião de bandeira António Bénard da Costa Pereira, c.f.[ capitão-de-fragata], comandante João Figueiredo Fragoso, imediato Manuel Ribeiro Pires, chefe de máquinas Júlio Monteiro Emílio Carreira, médico Agostinho Maria Ribeiro, radiotelegrafista Fernando Aragão Freire de Andrade, capelão José Maria da Fonseca Guimarães [1923-2023] e comissário José Horácio Mantas...

Assinaturas: 

João Crisóstomo (alf mil, e cmdt interino, CCAÇ 1439)

José Maria da Fonseca  [ Guimarães ] 

[...] Silva, alf para  [?] 

Do programa musical, destaque-se a última peça, um tango de 1927,  "Adios Muchachos", de Júlio César Sanders, depois de uma valsa de Strauss (para dançar... com a G3).

Os últimos versos da canção não podiam ser mais sinistros aos ouvidos de quem ia ara a guerra:

(...) Adiós muchachos, compañeros de mi vida
Barra querida de aquellos tiempos.
Me toca a mi hoy emprender la retirada
Debo alejarme de mi buena muchachada.

Adiós, muchachos, ya me voy y me resigno,
Contra el destino nadie la calla.
Se terminaron para mí todas las farras.
Mi cuerpo enfermo no resiste más.



T/T Niassa, CNN > Quarta feira, 5 de agosto de 1965 > Ementa:  Creme Cardeal | Linguado à Monte Carlo | Espargos au Vinagrette |Peru à 'Niassa' | Doce: Vulcão | Fruta cristalizada | FRuta fresca: Pêssego. maçãs, Chá, Café

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João & Vilma 
1. Mensagem do João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, com sede em Nova Iorque:


Data - quarta, 4/12/2024, 10:06
Assunto - Capelães... e viagem no "Niassa" até à Guiné


Caro Luís Graça,

Ao vasculhar no meu baú de recordações encontrei este menú do jantar de despedida no “Niassa” na véspera de chegar à Guiné.

Como sabes, a minha companhia era “madeirense" 
e o Niassa depois de zarpar de Lisboa passou pelo Funchal onde “apanhou" a CCAÇ 1439. A nossa Companhia era “individual" e o nosso capitão Amândio Pires, tinha partido de avião dias antes para preparar a nossa chegada.

Na sua ausência quem devia ir a comandar a companhia era o o alferes Freitas, madeirense, pro sinal, mas este tinha um assunto qualquer pendente e, por razões burocráticas, fui eu que fui a comandar a CCAÇ 1439 até chegarmos à Guiné.

Isto está explicado na nossa troca de comentários ao post 22051, de 30 de março 2021, onde aparecem algumas fotos e numa delas sou eu que estou a receber as despedidas do governador militar da Madeira.

Ao ver agora este "menu” senti uma "piada negra" (na altura nem reparei nisso) que no Programa Musical a última peça musical tenha sido “Adios, muchachos”… Não sei se era o mesmo programa em todas as viagens ao chegar à Guiné, mas agora olhando para trás fez-me arrepios! Não havia com certeza qualquer"segunda intenção", mas …lembrando agora o que vim a experimentar depois... foi o que senti.

Bom, lembrei-me de te enviar isto, para se um dia o assunto de capelães tornar a ser falado, talvez queiras juntar os capelães que serviram no Niassa e outros navios que nos transportaram para lá e para cá…

Não creio que muitos se tenham sequer apercebido que havia um padre capelão a bordo … mas havia.

Mas sobre capelães, pois é este o assunto que me levou a escrever este: Eu sabia que o Horácio Fernandes,  além de ter estado  na Guiné como capelão militar, esteve também como capelão num submarino. Não tenho a certeza mas creio que foi depois do serviço na Guiné.

O que me lembro bem,  foi de que nesta viagem no Niassa encontrei um padre franciscano, o padre Fonseca ( José Maria da Fonseca Guimarães,) que tinha sido meu professor de Geografia em Montariol: era o capelão do navio Niassa nessa viagem. 

Fiquei tão contente por o ver que acabei por lhe deixar um presente para que comprasse um par de patins para os alunos em Montariol, onde o meu primo, padre António Sabino,  que era na altura o guardião/superior,  tinha adaptado uma sala grande no rés do chão para jogos de hóquei em patins. Recordo-me que fiz sso porque eu queria contribuir para que os estudantes tivessem mais possibilidades de praticar desportos.

É que durante os cinco anos que estive neste colégio, por razões que a razão não conhece, nos era proibido jogar futebol. Recordando esses tempos parece-me tão absurdo que é com raiva que lembro tudo isso: os “castigos” mais ou menos sérios que incluíam ficar de joelhos ou mesmo apanhar com a “tabuada" de madeira nas mãos, quando alguém tinha tido a coragem de dar um pontapé nalguma bola de andebol ou basquetebol. 

Mas sobretudo a frustração que eu sentia (estive lá dos meus dez aos quinze anos) que me dissessem para jogar andebol mas que não podia jogar futebol. Nao sei se havia mais algum colégio com a mesma postura quanto a futebol. Não creio que houvesse , mas se houver alguém que esteve em algum colégio com a mesma mentalidade,  gostava de saber. Em Montariol, quanto a eles, era um jogo violento…

Bom, imagina que um simples menu me deu ensejo a desabafar as minhas frustrações da minha juventude! Junto a foto do menu, devidamente “assinado” pelo comandante do Niassa na página da “Ementa” . A assinatura do capelão, José Maria da Fonseca, está na primeira entre a minha e a de um outro alferes,  que não me recordo quem seja.

A quem ler isto um grande abraço. E,  se for antes do Natal, Boas Festas e um Ano Novo tão bom quanto possível para todos.

João Crisóstomo (e Vilma),  Nova Iorque

PS - Luís, tinha aqui uma lista de quase meia centena de endereços de email, para mandar aos meus (e, alguns, da Vilma) amigos e conhecidos da Tabanca Grande, com votos de Merry Christmas and Happy New Year... Aproveuto este ensejo, para de uma só penada desejar festas felizes a todos vocês, os amigos e camaradas da Tabanca Grande... E, de acordo com a tua habitual solicitação, aproveito também para fazer  a minha "prova de vida"!

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26253: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (48): Viagem entre Canchungo e Bachil(e), em chão manjaco, 4 e 5 do corrente



Foto nº 8 e 8A >  Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco > 4 de dezembro de 2024, 15:49 > Ponte metálica na estrada entre Cachungo e Bachil(e)... Ainda há sinais de chuva... ("A 600 metros, ao lado da antiga ponte, inacabada, em betão, na estrada Canchungo - Bachilé - Cacheu, ao km 6, há há uma nova ponte em ferro, construída pelos portugueses", vd. foto do nosso saudoso amigo guineense, eng agr Carlos Schwarz, Pepito, 1949-2012). (*)



Foto nº 9 e 9A > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco > 4 de dezembro de 2024, 16:05 > Capim alto ladeando a estrada entre Cachungo (antiga Teixeira Pinto) e Bachil (no nosso tempo, dizia-se e escrevia-se Bachile) (vd. carta de Teixeira Pinto, 1953, escala 1/50 mil)

Fotro nº 10A


Foto nº 10B


Foto nº 10, 10A e 10B

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco > Bachil (vd. carta de Teixeira Pinto, 1953, escala 1/50 mil) > 5 de dezembro de 2024, 9:13 >  Antigo quartel das NT,  agora ocupado pela Escola de Formação  de Professores DNS - Cacheu


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Mais três fotos das viagens de 4 e 5 do corrente, entre Bissau e Cacheu (e vice-versa), partilhadas pelo  Patrício Ribeiro, nosso amigo e camarada, histórico membro da Tabanca Grande, nosso "embaixador em Bissau",  cicerone, autor da série "Bom dia desde Bissau" (**)...

Legendas:

Foto nº 8 > Ponte metálicas entre Canchungo e Bachil(e) (*)

Foto nº 9 > Estrada, com capim alto (estamos no início do tempo seco, ams ainda chove);

Foto nº 10 > Antigo quartel das NT, em Bachil(e). 

2. Comentário do editor LG:

Ficamos a saber que  "a ADPP Escola de Formação de Professores, Bachil, coopera com o Ministério do Ensino Superior e Científico na excelente formação de professores para as crianças e jovens do século XXI. 

"Para além disso, os estudantes são formados para trabalharem em áreas rurais onde existe uma elevada falta de professores. Como resultado, 243 professores formados contribuíram para uma nova geração qualificada e capaz, para a melhoria dos meios de subsistência, desenvolvimento da comunidade e o aumento das oportunidades na educação para crianças e jovens."

Enfim, um exemplo  de bom aproveitamento e melhor uso de antigas instalações das NT...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10022: Memória dos lugares (186): Ainda sobre a "célebre ponte, em betão, inacabada", na estrada Cachungo-Cacheu, ao km 6 (Jorge Picado)

Guiné 61/74 - P26252: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (47): Viagem até Cacheu, onde dormi, passando por Cachungo e Bachile - Parte II: Ao longo da estrada no chão manjaco, encontramos à venda algumas dezenas de ratos-africanos-gigantes (em crioulo "Joquim-doido"), por jovens que os apanham, por 1.500,00 FCA. É a época do arroz quase maduro nas bolanhas, onde eles se alimentam.



Foto nº  6 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco  >  5 de dezembro de 2024 > Jovem vendedor de "joquim-doido",  o rato-gigante-africano (Cricetomys gambianus)


Foto nº  7 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Chão manjaco > 5 de dezembro de 2024 > Um "joquim-doido", esfolado, vendido a 1500 CFA (c. 2,3 euros).


Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mais duas fotos, enviadas pelo Patrício Ribeiro, que esteve em 4 e 5 do corrente, no Cacheu, fazendo o percurso Bissau - Cachungo -Bachile - Cacheu (e vice-versa) (*)... Eis como ele legendou estas duas fotos:

" Para os que não gostam de peixe... Joquimdoido. Um belo de um petisco. Ao longo da estrada na zona dos manjacos, encontramos à venda algumas dezenas de ratos, por jovens que os apanham, por  1.500,00 CFA. É a época do arroz quase maduro nas bolanhas, onde eles se alimentam."

Joaquim-doido é o nome comum, na Guiné-Bissau, 
O rato-gigante-africano.
Pode atingir um 1 metro
de comprimento (só metade é a cauda),
e pesar 1 a 1,4 kg.
Vive em colónias e é omnívoro.
Fonte: Adapt. de Animalia.pt 
 (com devida vénia...)

do Cricetomys gambianus,  uma espécie de roedor da família Nesomyidae.... Está grafado nos nossos dicionários como "rato-gigante-africano":
 
(...) ZOOLOGIA (Cricetomys gambianus) mamífero roedor, endémico das regiões da África Central a sul do Sara, pode atingir perto de um metro de comprimento (incluindo a cauda, longa) e tem pelagem curta de coloração castanha ou cinzenta, com aros escuros em redor dos olhos e ventre branco. (...)

Fonte: Porto Editora – rato-gigante-africano no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-12-10 05:54:27]. Disponível em  https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/rato-gigante-africano

Para saber mais, ver aqui entrada na Wikipédia, em inglês: "Gambian pouched rat"... 

É um animal que também pode ser útil aos humanos, tendo já sido treinado, na Tanzânia, para detetar a tuberculose, e no Cambooja para detetar minas terrestres, implantadas nas guerras civis de 1975/98.  
E também é criado e vendido como "pet", animal de estimação!

2. Patrício, convenhamos, é um petisco caro, para o nível de vida da Guiné-Bissau. 1500 CFA são 2,287 euros....É produto gourmet... Mas um bicho daqueles, alimentado a arroz da bolanha (mas também de outros vegetais, como os frutos das palameiras, e ainda insetos, caranguejos, caracóis, etc.), , é uma grande fonte de proteina... E deve ser uma delícia, bem temperado e cozinhado... Ou será grelhado ? E aquelas patinhas também se comem ? 

Depois do "macaco-cão", temos mais esta iguaria... que não havia no nosso tempo, pelo menos no chão fula. 

 Não vale a pena torcer o nariz de repugnância (nem muito menos vomitar). Os ocidentais detestam o rato, a ratazana e outros roedores, que associam, e bem, aos vetores de transmissão da peste e outras doenças, vindas em geral do Oriente... 

Mas não sejamos tão etnocêntricos. Durante a II Guerra Mundial e no pós-guerra, o rato, a ratazana, etc., matou a fome a muita e boa gente... 

E a gente, caro leitor, sabe lá o que é que já comeu, no passado, do cão ao gato, dois mamíferos, tal como o rato, que fazem parte dos nossos tabus alimentares. Como o porco, para os nossos queridos camaradas fulas e mandingas, que eram muçulmanos.

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Guiné 61/74 - P26251: Parabéns a você (2335): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700 / BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72) e Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12 (Bissalanca, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 5 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26233: Parabéns a você (2334): Manuel Carvalho, ex-Fur Mil API da CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete e Quinhamel, 1968/70)