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sábado, 26 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27054: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Arredores: Safim



Foto nº 101


Foto nº 102



Foto nº 103


Foto nº 104


Foto nº 105





Foto nº 106A e 106



Foto nº 115 e 115A

 

Foto nº 119






Foto nº 120, 120A e 120B



Foto nº  114A e 114

Guiné > Ilha de Bissau   >  Safim >  1968 > 

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Virgílio Teixeira  (ex-alf mil, SAM, CCS/BCaç 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69):

Data - segunda, 30/06/2025, 23:47

Assunto - Safim, Nhacra, Landim, Ensalma

Meu caro amigo e camarada Luis,

Tenho seguido diariamente, várias vezes, o Blogue e todas as histórias, que não são infelizmente deste tipo que aqui trago. (...)

Este poste ando há cerca de 15 dias a tentar acabar, mas sempre algo me aparece e me faz parar, também o tema não é dos mais atractivos. É o que tenho, e ando a refazer o meu ábum e depois perco-me como uma criança que não sabe o caminho de casa.

As minhas dificuldades estão a agravar-se mas tenho sempre muitas outras coisas a fazer em prol da familia, porque todos , o quase, recorrem a mim para os mais variados assuntos sem interesse. Sou especialista em contestar multas de trânsito, e isso ocupa muito tempo, mas vale a pena.

Vamos ver em continuação como posso ir ajudando. (...)

Um grande abraço, e boa noite (...)

Em, 2025-06-30

Virgilio Teixeira

2.  A Bissau do Meu Tempo - Parte IV: Arredores: Safim 

2.1.  Introdução

O presente Poste sobre este tema, pode ferir a susceptibilidade de alguns combatentes, que não se revêm nestas fotos e descrição das mesmas.

É um tema que esteve sempre guardado, por respeito àqueles que não tiveram estas oportunidades, posso até dizer que pode ser um atentado a todos que tiveram uma guerra que não esta. Uns excessivamente mais dura, mas há muitos que também tiveram melhor vida.spero que sirva pelo menos para o conhecimento de tantos locais a rondar os 40 km de Bissau.

Já foi parcialmente postado parte deste espólio, mas como já não me lembro, vamos tentar relembrar com melhoramento das mensagens.

Como já disse, fui sempre um empreender nas viagens por aqueles lugares que na data não havia qualquer perigo, eu tinha muita vontade de um dia ir de motorizada até Mansabá.

Não sei porquê, era o nome que me soava a algo que não consigo entender. Acabei por nunca ter ido até aquela localidade , que só poderia ir desde Mansoa com escolta.

Ainda tive a ousadia de me pôr a caminho, mas fui travado por uma coluna que,  face à minha estupidez, mandaram regressar para trás, e assim foi e terminou a aventura.

Andei muitas vezes por esta zona, com especial destaque para Safim, Nhacra, João Landim, Ensalma, Rio Mansoa.

Aqui fica um resumo daquilo que andei a fazer, nas horas mortas, quando estava em Bissau e quando me deslocava para lá em serviço.

Os petiscos de Safim, a piscina de Nhacra, a jangada de João Landim, e Ensalma, as ostras de Quinhamel, e Biombo...

(22.2.  Mapas



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) (Escala 1/50 mil) >  Posição relativa de Bissau, na margem direita do estuário do Rio Geba (assinalada a vermelho) e seus arredores: Cumeré, Brá, Bissalanca, Safim, Ensalma, rio Mansoa, Nhacra (assinalados a amarelo). 

Em rigor Bissau não é uma ilha, como dizíamos no nosso tempo, diz a IA (Chatpgt)...Embora Bissau esteja quase rodeada de água por todos os lados, o que pode dar a sensação de ser uma ilha, não cumpre a definição geográfica de ilha, que exige ser completamente rodeada de água em permanência. Contrariamente à antiga capital, Bolama.

Senão vejamos: é limitada a norte e oeste pelo Rio Mansoa,a leste pelo rio ou canal do Impernal, e a sul, pelo estuário do rio Geba (navegável e ligado ao Atlântico). A oeste, porém, não há uma separação completa de água que isole a cidade do continente. Há ligações por terra que não implicam atravessar água, embora parte da área seja pantanosa ou de difícil acesso na época das chuvas.

Já outros assistentes de IA (Gemini e Perplexity) dizem que Bissau é uma ilha estuarina... Em que é que ficamos ? A Wikipedia diz que Bissau é uma ilha... 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarada da Guiné (2025)


Este mapa ajuda-me a perceber melhor por onde andei, com alguma "ligeireza",  nas minhas "acenturas de motorizada" quando estava em (ou vinha a) Bissau. Sem mapa!

Agora verifico que, saindo de Bissau, de Santa Luzia (Clube Militar) ou de Brá (Depósito de Adidos) (a 3 km) , e passando por Bissalanca (aeroporto e BA 12) (5 km), e chegando a Safim (18 km), temos depois duas vias alternativas:

(i) para a direita, íamos  por Nhacra (a 15 km de Safim), passando por Emsalma e atravessando o rio ou canal Impernal, afluente do rio Geba,

(ii) mas havia uma estrada, direta, de Bissau para Nhacra, sem passar por Brá, Bisslanca e Safim, que seguia  depois   para Mansoa e Mansabá, onde nunca fui, infelizmente; antes de Mansoa, à direita, cortava-se para leste (Jugudul, Porto Gole, Bambadinca,  Bafatá...), mas estava em 1967/69; mais e já para o o fim da guerra, estará em construção, o troço (alcatroado) Jugudul-Bambadinca, que deu muita porrada;

(iii) de Safim para o noroeste, região do Cacheu (Bula, Binar...),  só havia uma maneira de "cambar" o rio Mansoa:  era de jangada, em João Landim (cerca de  7 km de Safim).

Estive no outro lado do rio Mansoa, em João Landim por alguns momentos, o tempo de ir e vi na mesma jangada.


Guiné > Bula > Carta de Bula (1953) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Bula, Binar, João Lamdim e Rio Mansoa.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camarada da Guiné (2025)

2.3. Legendas das fotos

F101 – A caminho de Safim, partindo de Bissau, ou dos Adidos em Brá. Captada em 11 março 1968

F102 – E lá continuamos com nova paisagem, ao lado esquerdo estende-se um novo bairro com novas tabancas, parecido com o Bairro da Ajuda à entrada de Bissau. 11 marco 1968,

F103 – Continuando o caminho vejo a primeira pessoa, uma mulher local do outro lado da estrada, ela deveria andar pelo lado oposto, mas ainda não tinha chegado as novas regrs de peões nas estradas. 11 março 1968

F104 – Já vai longe a cidade de Bissau e o Depósito de Adidos em Brá, o terreno está deserto, vendo bem, qualquer turra me apanhava à mão, mas nunca pensei nisso, pelo que não há aqui qualquer louro para as minhas aventuras, era pura ignorância, leviandade, inocência, apesar da idade, pois já tinha os 25 anos de vida. 11 março 1968

F105 – Chegada a Safim, com foto da Placa.11 março 1968

F106 – Cruzamento de estradas em Safim: logo ao sair de Safim, está um cruzamento; para o lado esquerdo, Landim e Bula; para o lado direito, Ensalma, Nhacra, Mansoa e Mansabá. 11 março 1968.

F114 – Caminhada de Safim para  João Landim 11 março 1968

F115 – Bar esplanada à entrada de Safim. Um local muito calmo. 11 agosto 1968

F116 – Jangada em João Landim, no Rio Mansoa (cambança para Bula):

F117 – Partida da jangada de João Landim a caminho do outro lado do Rio Mansoa. 11 agosto 1968

F118 – Na jangada na cambança do rio. 11 agosto 1968

F119 – Novamente na Esplanada de Safim, com outro companheiro a bater a chapaAo lado um Unimog com tropa que foi beber uns copos 11 Agosto – 1968

F120 – Na esplanada de Safim noutro ângulo, a tomar uma bebida, junto com o furriel Riquito do meu CA (Conselho de Administração do BCAÇ 1933)  e o outro que não sei quem é, mas parace-me ou irmão ou familiar do Riquito. Em novembro de 1968

2.4. Notas complementares

 Muitas fotos são do mês de  março de 1968, foi o mês em que o meu batalhão esteve em Bissau, vindo de Nova Lamego em fins de fevereiro a caminho de São Domingos no final do mês de março. Foi o tempo mais longo em Bissau. Depois, e antes, seria uma vez por mês para a prestação de contas na Chefia de Contabilidade.

Nota-se a descontração saloia em que fazia estas aventuras, já tinha ido antes mas sem fotos.

Em várias fotos percebe-se que vai outro camarada noutra motorizada, também minha, para tirar a chapa. Uma vez foi o furriel Riquito do meu CA e acho que tinha lá um irmão ou alguém parecido que aparece em muitas fotos com ele e eu.

Uma das vezes fui com o meu homologo do BCAÇ 1932 de Farim, quando nos encontrámos em Bissau. Ele não sabia conduzir a motorizada, e fomos os dois na mesma, com o nosso peso, eu nem tanto, mas ele era muito alto e no assento de trás chegava com os pés ao chão.

Numa vez que chegámos de noite já com uns copos, ao Clube de Oficiais, eu a conduzir, ele só desiquilibrava, tinha medo de tudo.

Caimos nas valas altas, a motorizada mandou-nos pelo ar, foi uma gargalhada enorme, ele só perguntava se tinha sido o IN, fomos para o Biafra, mudar de roupa e tomar banho, depois para a Messe jantar.

O trambolhão foi grande e aparatoso, mas , tirando umas escoriações, tive de mandar reparar a minha Peugeot mas tinha a Honda entretanto.

Estive várias vezes em Safin, a maioria delas ia sozinho, não tinha muita malta para me acompanhar, não sei a razão.

Era um sitio agradável, longe da confusão de Bissau, tinha um café-cervejaria-bar logo è entrada, com boa esplanada. Bom local para descansar, comer umas ostras ou camarão e e beber  umas 'bazucas' de cerveja bem fresca. Não existiam outros motivos de interesse para fazer fotos, julgo eu, era lugar de passagem para  Bula (através de João Lamdim, a noroeste).

Como ia muitas vezes sozinho, nem sequer levava a máquina fotográfica, além do peso faltava outro para chapear. Claro que hoje penso doutra maneira, em vez de sistematicamente fazer fotos a mim próprio (narcisismo?!) deveria fotografar tantos locais que hoje não me lembro muito bem.

Faltam as fotos de Quinhamel por onde passei e do Cumeré também, não havia nada de interesse, mas o destino prega-nos partidas, pois passados mais de 15 anos, depois do meu regresso, estive lá nas instalações industriais de descasque de arroz, que foram abandonadas. (...)

Em 30 de Junho de 2025

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste dsa série > 19 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26936: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IIIc: O "Clube Militar de Oficiais" de Bissau, QG/CTIG, Santa Luzia (Fotos de 18 a 24)

sexta-feira, 25 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27053: Notas de leitura (1823): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 3 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Julho de 2025:

Queridos amigos,
Ciente que a investigação historiográfica carecia de bases científicas, Vitorino Magalhães Godinho irá definir que a heurística e a hermenêutica precisam de fontes, para pôr termo à história feita de alusões miraculosas ou de referência a documentos que ninguém põe em cima da mesa. Estas propostas de rigor já tinham sido avançadas por Alexandre Herculano, já estava denunciado a revelação de Cristo a D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique, a existência das cortes de Lamego, a multiplicidade de disparates da historiografia de Alcobaça. 

E para mostrar o que é trabalhar com fontes, levou Magalhães Godinho a enunciar documentação e a fazer comentários dizendo que era verdadeiro e falso. Décadas depois deste levantamento documental, o historiador deixa bem claro quais foram as molas reais do empreendimento de todas as estas navegações, e por ordem de grandeza, e não é de estranhar que os corifeus ideológicos do Estado Novo o detestassem, procurando mesmo silenciá-lo, ou ignorando-o. A verdade histórica veio ao de cima.

Um abraço do
Mário



Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 3

Mário Beja Santos

Não é demais enfatizar que foi Vitorino Magalhães Godinho quem introduziu novos rumos científicos para a investigação histórica. Nesta obra intitulada Documentos sobre a Expansão Portuguesa, o historiados dirá claramente quais são as fontes para o estudo da história da expansão nos séculos XIV a XVII, estas constam de fontes narrativas (crónicas e relações), fontes diplomáticas (diplomas régios, diplomas emanados de entidades com direitos senhoriais, bulas pontifícias), documentos diversos (vão desde instruções e correspondência oficiais a documentos particulares), obras técnicas (roteiros, regimentos náuticos e tratados cosmográficos e náuticos) e fontes cartográficas. Fará um desenvolvido comentário quanto à especificidade destas fontes e, em jeito de conclusão dirá algo que continua a ser importante reter:

“Os descobrimentos e a colonização são um vasto movimento social e cultural que suscita problemas históricos bem mais complexos do que a simples data de uma viagem, prioridade de uma descoberta, virtudes de um dirigente. Tem de ser focado da perspetiva universal, como obra de cooperação e concorrência, na multiplicidade das suas diretrizes, na diversidade das necessidades económicas e tendências ideológicas. A náutica dos séculos XV e XVI construiu-se sobre a navegação mediterrânea, a agulha, as cartas de marear, sobre os instrumentos e teorias que vinham dos gregos, sobre as tábuas elaboradas por judeus, sobre as aquisições de técnica naval, como por exemplo o leme, sobre a perícia no mar de genoveses e catalães. Esta amálgama foi utilizada segundo as necessidades sociais e as sugestões ideológicas de Portugal e da Europa, em ação e reação com a realidade dos outros continentes. É a fase do desabrochar do capitalismo comercial em conexão com as transformações do senhorio fundiário, e ambos integrados na estruturação de um Estado que nascera da economia urbana, mas ultrapassara a cidade como núcleo político.”

Os documentos recolhidos pelo historiador prendem-se com navegações do século XIV, a conquista Ceuta, a Relação de Diogo Gomes, a análise da atividade do Infante D. Henrique, o povoamento das ilhas da Madeira e Porto Santo, a questão político-diplomática posta pelas Canárias, o povoamento dos Açores, a navegação entre o Cabo Não até à Pedra da Galé. Tome-se agora em consideração as referências que Duarte Pacheco faz no capítulo XXII do Esmeraldo à obra do Infante D. Henrique:

“A razão não sofre que nós calemos aquelas coisas as quais, por serem verdade, o coração deseja dizer, como o virtuoso Infante D. Henrique sendo com El-Rei seu pai na tomada da grande cidade de Ceuta que por bravo combate contra os Mouros pela Porta de Almina foi a entrada, o Infante exercitou ali tão esforçadamente a fortaleza do seu coração; no qual lugar mereceu o excelente grau do estado militar que lhe então foi dado, que por tais feitos aos esforçados barões por obrigação é devido; e passados alguns anos depois de Ceuta ser tomada e El-Rei seu pai finado, ele fez no Cabo de São Vicente que por outro nome antigamente Sacro Promontório se chamava, a sua vila de Terça Naval situada sobre angra de Sagres, que hoje em dia ali está fundada; onde se apartou com sua casa das fadigas e maldades deste mundo e viveu sempre tão virtuosa e castamente; e com outras virtuosas obras, sendo então governador do mestrado de Cristo desses Reinos, sua vida ali passou em tal extremo de bondade.

Outras muitas coisas podemos dizer deste príncipe; somente é para escrever a causa que moveu a descobrir estas Etiópias de Guiné, de que principalmente tratamos; e como quer que os virtuosos barões amigos de Deus e de limpo coração, inimigos da cobiça, nunca são desamparados da graça do Espírito Santo, jazendo o Infante uma noite em sua cama lhe veio a revelação como faria muito serviço a Nosso Senhor descobrir as ditas Etiópias; na qual região se acharia tanta multidão de novos povos e homens negros, quanta do tempo deste descobrimento até agora temos sabido e praticado; cuja cor e feição e modo de viver alguém poderia querer, senão os houvesse visto; e que destas gentes muita parte delas haviam de ser salvas pelo sacramento do santo batismo, sendo-lhe mais dito que nestas terras se acharia tanto oiro como outras tão ricas mercadorias, com que bem e abastadamente se manteriam os Reis e povos destes Reinos de Portugal, e se poderia fazer guerra aos infiéis inimigos da nossa santa fé católica.

Bem-aventurado é o Infante D. Henrique e bem-aventurados são os Reis de Portugal que suas vezes sucederam. A qual navegação começou o Infante por serviço de Deus pelo Cabo Não para diante; e tanto que a estes Reinos foram trazidos os primeiros negros e por eles sabida a verdade da Santa Revelação, logo o Infante escreveu a todos os Reis cristãos que o ajudassem a este descobrimento e conquista por serviço de Nosso Senhor; pelo qual o Infante mandou ao Santo Padre, o Papa Eugénio IV, Fernão Lopes de Azevedo fidalgo da sua casa e do Conselho de El-Rei D. Afonso V, comendador mor da ordem de Cristo; e assim como por Deus foi revelado e mostrado ao virtuoso Infante este maravilhoso mistério escondido a todas as outras gerações da Cristandade, assim quis que por mão do seu vigário, e assim por outros Padres Santos com suas bênçãos e letras a conquista e comércio destas regiões até ao fim de toda a India lhe fossem dadas e outorgadas; e com este fundamento deu princípio à obra, deixando este virtuoso Príncipe para sempre a dizima de todos os frutos e novidades que em cada um ano rendessem as ilhas da Madeira e dos Açores e de Santiago, e vintena de tudo o que se em Guiné resgatasse e a estes Reinos trouxesse ao dito mestrado de Cristo em satisfação e pagamento de algumas rendas que do dito mestrado houvessem, sendo ele governador, que no descobrimento destas terras e ilhas despendeu.”


Vitorino Magalhães Godinho ao comentar este texto distingue as razões apresentadas por Duarte Pacheco das de Zurara quanto às motivações do Infante para se lançar neste empreendimento das navegações. Recorda que não corresponde à verdade histórica a referência do apelo feito pelo Infante aos outros Príncipes Cristãos e promessa de partilha de vantagens. É verdade que a Ordem de Cristo recebeu a vintena dos extratos da Guiné; e deve-se reter que segundo Duarte Pacheco o termo inicial dos descobrimentos foi o Cabo Não.

Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011)

(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27003: Notas de leitura (1818): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) – 2 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 22 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27043: Notas de leitura (1822): 2ª edição do livro do nosso José Saúde, "Aldeia Nova de São Bento" (Lisboa, Edições Colibri, 2021, 299 pp.)

Guiné 61/74 - P27052: Facebook...ando (91): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IX: Ainda Buba, na região de Quínara. a capela católica... e as ruínas do quartel das NT emm Bula (região do Cacheu)



Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Guiné- Bissau > Região de Quínara > Buba > Maio de 2025 >  Capela católica e ruínas do quartel das NT


Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]






João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


(i) é profissional de seguros, vive em  Alquerubim,  Albergaria-a-Velha;

(ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local);

(iii) regressou há pouco tempo da sua viagem deste ano de 2025;

(iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar. em plena zona histórica (Bissau Velho);

(v) tem página no Facebook (João Reis Melo);

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais n(*)... E fotografou esses lugares.  Um deles foi Buba. o rio Grande de Buba, na região de Quínara  (vd. poste P26988) (**)... Mas também foi ao Norte, região do Caheu, passando por Bula, onde fotografou o antigo quartel das NT, hoje em completa ruína (fotos nºs 2, 3 e 4).   Às vezes fazemos confusão entre Buba e Bula...

Recorde-se que a regiuão de Quínara engloba os sectores de Buba, Empada, Fulacunda e Tite,

E a região do Cacheu intregra os sectores  de Bigene, Bula, Cacheu, Caió , Canchungo  e São Domingos,

Em Buba também fotografou a capela católica da paróquia de Buba (foto nº 1). Escreveu ele na sua página do Facebook no passado dia 15 de julho:

Foto nº 1>

“Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau:

"Embora a Guiné-Bissau seja um país com grande diversidade religiosa, todas as crenças e religiões são praticadas livremente pelos seus seguidores. O país possui uma Constituição que garante a liberdade religiosa e, geralmente, a coabitação é pacífica.

"O Islão é predominante e é praticada por cerca de 70% da população muçulmana do ramo Sunita, com mais incidência no sul. 

"O Cristianismo, principalmente a Igreja Católica,  tem cerca de 19% e a restante população é distribuída por crenças tradicionais praticados pelos diferentes grupos étnicos, onde se inclui o Animismo.
 
"Na região de Quinara, onde Buba está situada, existe a católica Paróquia de Santa Cruz que tem esta igreja como seu local de culto"...

Ekm Bula, na região do Cacheu, publicou em 21 de julhio,  esats fotos do antigo quart5el de Bula, na página do Facebook do grupo Antrigos Combatentes da Guiné.


2. Permitimo-nos discordar dos números que o João Melo apresenta sobre as religiões da Guiné-Bissau.  O islamismo (70%) deve estar sobrerrepresentado. Segundo o assistente de IA (ChatPGT), a situação atual seria a seguinte, no que diz respeito à distribuição das várias religiões:

Aqui está uma visão clara e atualizada da distribuição das principais religiões na Guiné‑Bissau, baseada nas estimativas mais recentes (por volta de 2020–2022):


(i) Islamismo: aproximadamente 46 % da população identifica‑se como muçulmana.

A maioria segue o islamismo sunita (escola maliquita), com comunidades sufis (praticanets do sufismo); minorias xiitas ou ahmadis representam apenas alguns por cento,

Os muçulmanos concentram-se principalmente nas regiões norte e nordeste, sendo comuns entre os grupos étnicos Fula, Mandinga, Biafada, Sosso e Soninqué.

(ii) Cristianismo: cerca de 19 % da população é cristã (estimativas entre 18,9 % e 22 %)  

Predominam os católicos romanos (o catolisciomso foi institucionalmente estabelecido em 1533, com a criação da diocese de Cabo Verde e Guiné). Há também comunidades protestantes (como evangélicos, metodistas, Assembleia de Deus, etc.):

Os cristãos estão maioritariamente nas regiões costeiras e sul, especialmente na capital Bissau e zonas urbanas do litoral.

(iii) Religiões tradicionais africanas (“animismo”): cerca de 30–31 % seguem crenças tradicionais, com números que variam entre 30,6 % (CIA), 31 % (Pew) e até 40 % (outras estimativas).

Essas práticas incluem veneração de antepassados,  espíritos da natureza, uso de amuletos e sacrifícios rituais.

O animismo é praticado por muitos em combinação com o islamismo ou cristianismo, resultando num sincretismo religioso muito presente na Guiné‑Bissau.

(iv) Resumo da distribuição religiosa (est. 2020)

  • Islamismo ~46 %
  • Religiões tradicionais (animismo) ~31 %
  • Cristianismo ~19 %
  • Sem religião / outras crenças ~4–5 %

Esses números refletem estimativas do CIA World Factbook, Pew Research Center, e Religious Freedom Report dos EUA. 

A população da Guiné-Bissau ultrapassa já os 2 milhões, quatrro vezes mais do que há meio século: total estimado (2024): 2,132,325, segundo a CIA World Factbook.


(v) Coexistência e sincretismo

A Guiné‑Bissau é marcada por uma grande tolerância religiosa e relação em geral harmoniosa entre diferentes credos. 

Muitas pessoas mesclam práticas islâmicas e cristãs com as crenças tradicionais, dando origem a formas sincréticas únicas. 

(Fonte: ChatGPT / Pesquisa, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

(**) Vd.  poste de 6 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26988: Facebook...ando (85): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte IV: Buba e o rio Grande de Buba no seu esplendor

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27051: Humor de caserna (205): uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon (Paulo Santiago, ex-alf mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Rio Corubal > Rápidos do Saltinho > 3 de março de 2008 > Lavadeiras do Saltinho... Doces e trágicas memórias, a deste rio... O único e verdadeiro rio da Guiné, já lá dizia o eng. agr. Amílcar Cabral, porque todos os demais são de água salgada, são rias, são braços de mar... É provavelmente o mais belo rio da Guiné, digo eu, que só conheço este, o  Geba, o Mansoa, o Cacine  e mais alguns rios mais pequenos, afluentes...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Paulo Santiago, natural de Aguada de Cima, Águeda, engenheiro técnico agrícola, reformado,  autor da série Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago), foi alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72) e instrutor de milicias no CIM de Bambadinca,,,

É um histórico da nossa Tabanca Grande, tem já cerca d2 centenas de referências no bçlogue desde 22/6/2006.


É também um grande contador de histórias...Aqui vai uma, que confirma a ideia que eu tenho dos nossos estomatologistas e demais técnicos da área da saúde oral: um bom "dentista" ou "brocas" ( incluindo o higienista oral) tem de ser um profissional de saúde também bem humorado, já que o humor facilita a relação terapêutica... Os portugueses, em geral, ainda hoje não gostam de ir ao "dentista"... E lá terão as suas razões.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho >O crachá da CCAÇ 2701, "Os 3 SSS" (Saltinho, 1970/72)., comandada pelo cap inf Carlos T. Clemente.  Cortesia de Paulo Santiago.


Humor de caserna > Uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon

por Paulo Santiago

No Saltinho, quando da minha chegada, o médico era o alf mil Martins Faria, chegado um mês antes de mim, substituindo o alf mil méd João "Brocas" (era com esta alcunha que se apresentava) que esteve destacado na CCAÇ 2701 à volta de três meses. 

Só conheci o Dr. João "Brocas" numa das minhas passagens por Bissau. Era um contador e um fazedor de histórias incríveis e mirabolantes.

Para ser mais fascinante, era extremamente gago. Já frequentava, ou já tinha a especialidade de Estomatologia, quando foi para a tropa, mas, como no Hospital Militar de Bissau, o HM 241, quando da sua chegada, havia vários estomatologistas, o Dr "Brocas" teve de passar por vários quartéis do CTIG como clínico geral.

Num dia de agosto de 70, o alf mil Mota andava extremamente nervoso e inquieto e, passando pelo Médico, este pergunta-lhe:

 Oh,  Fer...fer...fer....nando, que se pa...pa...pa....passa con....con... contigo para an...da...da...dares tããoo cha...cha...te a...do?

− Porra, doutor,  não me chateie os cornos, tenho avião daqui a três dias para ir de férias e não aparece a merda de um transporte para Bissau.

Depois desta conversa, o João "Brocas" dirigiu-se ao gabinete médico onde o fur mil enf Freire atendia um civil africano.

   Oh,  Frei... frei...eire,  o que é que o gai...gai...gaijo... gaijo teeem?

−  Doutor, o tipo tem uma diarreizita, já lhe dei uns comprimidos para ele tomar.

− Oh, Frei...frei..frei...re,  quem é.... é .... é... você pa...pa...para fa...fazer um dia...dia...diagnós...ti...ti...co clí...clí...nico, deite o gai...aijo na mar... mar...quesa.

Deitado na marquesa, o João "Brocas" faz-lhe uma apalpação na barriga.

− Frei...frei...freire, o... o... o caso é gra...gra....grave. Soooro no gai...gaijo e peça uma evacuação y...y...ypsi...psi...lon.

− Mas, Dr, o tipo fica bom com os comprimidos.

− Po... po....porra, não dis...dis...cuta, eu, eu é...é...é... que sei.

Segue um dos enfermeiros para as transmissões pedir a evacuação ypsilon, enquanto o Freire coloca o africano a soro.

O João "Brocas" vai ao bar e diz ao Fernando Mota:

−  Fer...fer...fer...nando,  pre...pre...para a ma...a...la,  da....daqui a trin...trin...ta mikes (lê-se: maiques),  teeens trans...trans....transporte.

Passada meia hora, lá chegou o heli que evacuou o civil e deu boleia ao Fernando Mota.

Em consequência desta cena, chegou uma mensagem  ao Saltinho, pedindo mais critério nas evacuações ypsilon.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)

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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27025: Humor de caserna (204): O Padre Aurélio (Alberto Branquinho, "Cambança", 2ª ed. revista, 2009, pp. 70-73)

Guiné 61/74 - P27050: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (33)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, João de Jesus Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), enviada ao Blogue no dia 15 de Julho de 2023:

Boa noite Carlos,
Retomo o envio das minhas fotos da Guiné para publicares no blogue.
Vou enviar fotos de selos dos CTT, do tempo das nossas comissões na Guiné.
Votos de saúde.

Abraço.
João Moreira

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Nota do editor

Último post da série de 12 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26911: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (32)

Guiné 61/74 - P27049: Facebook...ando (90): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte VIII: Saltinho, no rio Corubal, um dos mais deslumbrantes sítios da Guiné-Bissau

 




Foto nº 1, 1A, 1B, 1C e ID





Foto nº 2, 2A, 2B e 2C



Foto nº 3 e 3A


Guiné- Bissau > Região de Bafatá > Rio Corubal > Ponte e Rápidos do Saltinho  >  .Aponte de 3 arcos, inaugurada em 1955, uma bela obra da engenharia portuguesa...Ainda lã está ao fim de 70 anos...

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto,
CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


(i) é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha;

 (ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local); 

(iii) regressou há pouco tempo da sua viagem deste ano de 2025; 

(iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar. em plena zona histórica (Bissau Velho); 

(v) tem página no Facebook (João Reis Melo)

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares. Um deles foi o Saltinho, na margem direita do Rio Corubal, um dos mais deslumbrantes sítios da Guiné-Bissau.

 Escreveu ele na sua página do Facebook no passado dia 13 de julho:

"Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau:

Passando pelo Saltinho, é quase impossível não parar para apreciar as belezas naturais do Rio Corubal que passa sob a ponte General Craveiro Lopes, inaugurada a 8 de maio de 1955 e que, em época seca como a de agora, permite à população que o mesmo seja um gigantesco e belo lavadouro e coradouro público.

O Corubal é o segundo maior rio de água doce da Guiné-Bissau. Este rio tem sua nascente nas redondezas da cidade de Lélouma, no maciço de Futa Jalom, na Guiné-Conacri, e desagua no rio Geba a cerca de 50 quilômetros a montante de Bissau."

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27048: Recortes de imprensa (146): Suécia, Guiné-Bissau e Cabo Verde: já não vale a pena corrigir os jornalistas portugueses: o PAIGC nunca declarou a independência em Madina do Boé nem nunca teve 400 mil habitantes nas "zonas libertadas" - Parte I

 

Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro, 2ª Classe, Autor desconhecido. Amílcar Cabral, que passou a visitar regulamente a Suécia, a partir de finais de 1968, era visto pelos seus admiradores suecos como ”um mestre da diplomacia [...], uma pessoa notável e uma grande figura internacional, que era portador de uma mensagem extremamente positiva”.

"O Partido Social-Democrata e a Liga da Juventude Social-Democrata, da Suécia, recolheram fundos para a produção, no final dos anos sessenta, por parte do PAIGC, dos primeiros manuais escolares em português.

"O primeiro livro (PAIGC: O Nosso Livro: 1ª Classe) foi impresso em 1970 pela Wretmans Boktryckeri em Uppsala, com uma tiragem de 20.000 exemplares. Nesse mesmo ano a Wretmans publicou O Nosso Livro: 2ª Classe, com uma tiragem de 25.000 exemplares.

"Ao lado do nome da editora, na capa do segundo livro, dizia-se que o livro era publicado pelo PAIGC nas zonas libertadas da Guiné." 

(Fonte: Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, pág. 152)




Capa do Livro da 1ª Classe do PAIGC... Um menino escreve no quadro preto: "Amo a minha Terra" | "3 + 2 = 5" | "P. A. I. G. C. "... 

Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).  

Sabe-se que  foram impressos, na Suécia, 20.000 exemplares deste livro,  numa primeira edição. "Neste mesmo dia apanhei ainda duas cartas, uma escrita em árabe e outra em crioulo", diz-nos o nosso camarada Manuel Maia, ex-fur mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissau Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74).

Foto (e legenda): © Manuel Maia (2009).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Referência > João Diogo Correia (jornalista) na Suécia > "O aliado nórdico que ajudou a mudar o destino de Cabo Verde". Expresso, semanário, nº 2749, 4/7/2025, Revista (*)


Os 50 anos da independência de Cabo Verde foram um pretexto para o semanário Expresso, publicação prestigiada da nossa imprensa,  recordar o papel da Suécia que, "sem laços históricos nem afinidades culturais óbvias, (...) se tornou  um dos principais aliados das lutas de independência das ex-colónias portuguesas", com destaque para o apoio ao PAIGC.

Com o fim da guerra do Vietname e no rescaldo do Maio de 68 em Paris, a juventude sueca, universitária, mais politizada,  virou-se para a África e começou a gritar palavras de ordem como “Portugal ut ur Afrika” (“Portugal fora de África”). Sem saber onde ficava Portugal nem muito menos a Guiné portuguesa, os jovens suecos agarraram e abraçaram a causa do anticolonislianismo e da luta contra o "apartheid". 

Portugal era, em África, o último avatar do colonialismo europeu em África. A Suécia, mesmo com  tradição imperial e colonial (que o digam os "sami" e outros "vizinhos"...), não tinha "interesses" em África... 

Por outro lado, "país neutro", queria mostrar-se equidistante tanto em relação ao "imperialismo americano" (e aos demais "membros da NATO"), como ao "imperialismo soviético" e aos seus "satélites do pacto de Varsóvia". 

O mundo, desgraçadamente, estava polarizado, em plena guerra fria. Portugal era um estorvo, uma sucata da História. E a Suécia, pondo-se em bicos de pés,  podia fazer o papel de fiel da balança entre dois mundos em confronto.

 Os suecos, alardeando então o melhor do capitalismo e da social-democracia, gozavam com Portugal, país em vias de desenvolvimento, membro da EFTA (Associação do Comércio Livre), parceiro comercial da Suécia (!), mas com um império anacrónico e desmesurado para a sua capacidade política, militar, demográfica, financeira e económica:

  •  1/4 da área da Suécia; 
  • menos de 9  milhões de habitantes;
  • uma colônia como Angola que era “duas vezes o tamanho da Suécia”, com 6 milhões de habitantes, dos quais apenas 500 mil europeus;
  •  Guiné-Bissau e Cabo Verde, juntas, com um população de 830 mil habitantes,  dos quais apenas 6 mil  europeus (7,2%)

Upsalla, a Coimbra sueca,  onde se situava  a mais antiga universidade na Escandinávia, fundada em 1477, tornou-se então um dos principais centros do ativismo contra o colonialismo e o "apartheid". Em Upsalla tinha sede o Afrikagrupperna (Grupos África da Suécia) e o NAI (The Nordic Africa Institute).

A ida de Amílcar Cabral à Suécia em 1969 foi um dos momentos-chave. O Partido Social-Democrata (SAP), membro da Internacional Socialista, governava o país quase ininterruptamente desde entre 1932 (e até 1976). 

O jornalista, João Diogo Correia (JDC), autor do artigo supracitado, diz de Olof Palm (OL):

(...) figura central da social-democracia europeia, que aliava rebeldia, ao marchar ao lado do embaixador do Vietname do Norte em Moscovo, em oposição aberta aos Estados Unidos, com diplomacia e pezinhos de lã, fazendo valer a posição de não alinhado para não chocar de frente com nenhum dos blocos da Guerra Fria"...

 O contexto, económico,  social, político e ideológico, torna-se pois favorável ao apoio (financeiro e humanitário) primeiro da sociedade civil e depois do Estado sueco aos "movimentos de libertação africanos", da Namíbia ao Zimbabué, passando pela África do Sul, na luta pelo fim do 'apartheid', aos territórios sob domínio português. 

JDC cita o livro, já nosso conhecido, “Sweden and National Liberation in Southern Africa” (“A Suécia e a Libertação Nacional na África Austral”), da autoria de  Tor Sellström (TS),  cientista político. (Já reproduzimos largos excertos deste livro, na sua versão portuguesa, em 9 postes da série "Antologia") (**). 

Na altura,  chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que mereciam a nossa contestação ou reparo crítico, nomeadamente quando o autor, o TAS, fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam muito próximas)...

Já apontámos alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico (que iremos retomar em próximo poste):

 (i) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o alegado papel ativo do PAIGC;

 (ii) a batalha do Como;

 (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil habitantes por parte do PAIGC;

 (iv) as escolas, as clínicas de saúde e as lojas do povo nas "áreas libertadas";

 (v) o assassinato de Amílcar Cabral. etc. 

O jornalista JDC cita dados também já nossos conhecidos, relativos ao montante da ajuda sueca : 

(...) "Dos 67,5 milhões de coroas suecas, à época perto de 13,5 milhões de dólares, distribuídas aos movimento de libertação entre os orçamentos de 1969-70 e 1974-75, 45,2 milhões de coroas foram para o Partido da Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ou seja, dois terços do total. " (...)  (JDC)

Enfim, é de há muito sabido por nós, que a partir de 1969 a Suécia passou a dar uma "ajuda humanitária" (sic) ao PAIGC, substancial, que se prolongou muito para além da independência (da Guiné-Bissau e de Cabo Verde), até meados dos anos 90.  

Citando TS, sabemos que "as exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau".

Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95

Pode então perguntar-se, como o faz JDC:

Porque é que os dois pequenos territórios, a futura Guiné-Bissau e o arquipélago de Cabo Verde, caíram no goto dos suecos ?

 A explicação estaria num conjunto de circunstâncias favoráveis: 

(i) a participação de Amilcar Cabral (AC) no congresso do Partido Social-Democrata (SAP), em setembro de 196;

(ii) a sua ida á Universidade de Uppsala, uns dias depois

(iii) As eleição de OP como  novo secretário-geral do  SAP,  tornando-se primeiro-ministro em 14/10/1969, e sucedendo a Tage Erlander.

JDC socorre-se das memórias de Pierre Schori, "membro do SAP", "um dos mais próximos de Palme, do qual viria a ser conselheiro para a política externa, e figura central desta história com 50 anos": 

(...) “A audiência perguntou ao Amílcar Cabral o que podíamos fazer por eles, e ele disse duas coisas: ‘a vossa própria revolução, porque tudo começa em casa’, e a segunda: ‘precisamos de um livro para que os nossos alunos comecem a ler corretamente’.” (...)

 Já conhecemos  o resto  da história, e fartámo-nos de apanhar, em operações no mato, exemplares do livrinho de capa amarela, impresso na Suécia, em 1970,  “O Nosso Livro, 1ª Classe”.  (Convenhamos que 20 mil cópias era pouco  para as necessidades do PAIGC, que reclamava ter o controlo de 400 mil habitantes (!) nas "áreas libertadas", ou seja, 80 % do total da população, quando o inverso é que era correto: os 20% da quota do PAIGC era obtida com os refugiados nos países vizinhos, Senegal e Guiné -Conacri mais os desgraçados que viviam, mal e porcamente, nas "regiões libertadas", Oio, Cantanhez e pouco mais).

Além do AC, há outro militante do PAIGC que entra nesta história,  o mindelense Onésimo Silveira (OS), que foi aluno de Lars Rudebeck (LR), talvez o académico sueco mais influente neste processo, para além de alguns dos político já citados  (é autor de Guiné-Bissau: A Study of Political Mobilization, Scandinavian Institute of African Studies, Uppsala, 1974).

(Continua)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 14 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26798: Recortes de imprensa (145): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/73, nosso grão tabanqueiro nº 756): "O 25 de Abril deu-me voz, deixei de ter medo" (entrevista recente ao jornal "A Verdade", do Marco de Canaveses)... Um camarada que tem um espólio de c. 1800 cartas e aerogramas, escritos e recebidos, durante a comissão.

(**) 17 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24560: Antologia (98): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: O caso da ajuda ao PAIGC – IX (e última) Parte

Vd. em especial > 28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24510 Antologia (93): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte IV