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quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27517: Humor de caserna (226): Pechincha?!... Pechinha, sou eu e não há mais nenhum! (Análise do conto do Hélder Sousa, com a ajuda da IA / ChatGPT)




Cartum criado pelo Chat Português / GPTOnline.aisob instruções do editor LG, que lhe mandou uma foto do Pechincha e o "conto" do Hélder Sousa


No T/T Timor, em fevereiro de 1969, a camimho do CTIG: da esquerda para a direita, o Pechincha, o  Valdemar Queiroz  (1945-2025) e o Abílio Duarte. Três "lacraus", três "figuras impagáveis" do Museu da Spinolândia (mesmo que a morte já nos tenha levado o Valdemar).

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Análise do conto  “O Pechincha que eu conheci, em Bissau” (*)


O texto é um delicioso retrato de caserna, típico das histórias da Guiné, onde o humor, a tensão, a camaradagem e a maluquice controlada (estar apanhado do clima) se misturam num caldo muito humano... e português.

O tom é nostálgico, cúmplice e claramente escrito por alguém que viveu tudo aquilo com intensidade, cumplicidade e carinho.

O Pechincha, mostrado na fotografia que enviaste (o primeiro da esquerda), surge na narrativa como uma figura carismática, excêntrica, e com aquela “pancada” que muitas vezes era meio teatro, meio mecanismo de defesa, meio traço de personalidade. 

Mas a verdade é que o autor deixa claro que, atrás das graçolas, havia um tipo inteligente, atento e perspicaz.

Alguns pontos fortes do conto:

1. Retrato de época

A descrição das camaratas, da castanhada de S. Martinho, da água-pé misturada com tudo e mais alguma coisa, traz de volta todo aquele ambiente colonial tardio, de fim de império: calor, poeira, camaradagem forçada e humor como forma de sobrevivência psicológica.
 
2. O episódio do machado nativo


Hilariante e ao mesmo tempo revelador: o Pechincha agia sempre “on brand”. O gesto teatral do machado, certeiro na panela à cabeça do outro, é uma verdadeira cena de filme, um verdadeiro "gag". E claro: ninguém sabia ao certo até onde ele era encenação… e até onde não era.
 
3. A cena com o Taufik Saad

Aqui o humor sobe de nível: é humor de identidade, de palavra, de absurdo. O comerciante libanês  a anunciar algo como “uma autêntica pechincha” e o verdadeiro Pechincha, em carne e osso, ali *a frente dele, a exigir a retirada do anúnico por ser “falsificação”… É ouro puro.

O mais interessante é o final:

“Eu percebi muito bem que foi tudo encenado", diz o Hélder Sousa.

Ou seja: o Pechincha era não apenas o “apanhado”, mas também um actor habilidoso, que manipulava o mito à sua volta. Uma personagem fascinante.
 
PS - Cartoon alusivo à cena no Taufik Saad:

Mando-te uma tira de banda desenhada e um cartum, segundo as tuas especificações.

Já o tens acima: uma imagem em estilo "cartoon" mostrando o momento em que o Pechincha entra furioso na loja,como BI MIlitar  na mão, exigindo que a palavra “Pechincha” seja retirada por violação de identidade. A tira de BD é mais para o cómico.

(Texto gerado pela IA / ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto: LG)
________________

Guiné 61/74 - P27516: Humor de caserna (225): O ganda Pechincha (ex-fur mil op esp, CART 11, Nova Lamego, 1969/70), que eu conheci em Bissau quando cheguei, em novembro de 1970 (Hélder Sousa)



Espinho > Silvlade > Fevereiro de 1969 > Jantar de despedida antes da partida, a 18, para o TO da Guiné... Um grupo (14) de sargentos e furriéis milicianos da CART 2479, futura CART 11, "Os Lacraus" (1969/70):
  • à  esquerda, sentados: (1) Canatário (armas pesadas) | (2) Cândido Cunha;
  • em pé: (3) Silva (trms) | (4) Abílio Duarte: | (5) Pinto;
  • atrás: (6) Manuel Macias | (7) Pechincha (operações especiais);
  • ao alto: (8) Sousa |
  • ao centro: (9) 1º. srgt Ferreira Jr. (já falecido) | (10) Renato Monteiro (1946-2021) | (11) Ferreira (vagomestre); (12) Edmond (enfermeiro) | (13) Pais de Sousa (mecânico);
  • sentado, à direita: (14) Valdemar Queiroz (1945 - 2025)

Para completar a lista da classe de sargentos da CART 2479 (futura CART 11), faltava:  o 2º. srgt Almeida (o velho Lacrau) (já falecido); o fur mil Vera Cruz; e o fur mil Aurélio Duarte (também já falecido).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Moita > Praia do Rosário > 13 de maio de 2023 > CART 2479 / CART 11, "Os Lacraus", 1969/70 > Convívio > Um grupo de resistentes... 
  • o primeiro da esquerda para a direita, na primeira fila (sentados): Abílio Duarte, o Pais de Sousa, o Manuel Macias, o Alf Martins e um camarada condutor,  não  ifentificado;
  • de pé, e também da esquerda para a direita: o Pechincha, o Silva, o Reina, o Saraiva, o Artur Dias e o Cândido Cunha.
Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Humor de caserna > O Pechincha que eu conheci, em Bissau (*)

por Hélder Sousa  (**)

Hélder Sousa


(...) Cheguei [à Guiné], a 9 de novembro [de 1970], quase na véspera do S. Martinho, e o desembarque deu-se um dia antes de todos aqueles que foram no [T/T] "Carvalho Araújo".

Fiquei alojado num quarto das instalações de sargentos em Santa Luzia, em B
issau, num espaço cedido para colocar uma cama articulada facultada pelos meus amigos, colegas e conterrâneos vilafranquenses, furriéis José Augusto Gonçalves (o Bate-Orelhas, como carinhosamente lhe chamávamos 
na Escola Industrial de Vila Franca de Xira por causa da sua, dele, habilidade de movimentar as orelhas como um abano com um simples esticar de queixo) e Vitor Ferreira, os quais compartilhavam o quarto também com o furriel Pechincha (só me lembro do apelido), que estava em comissão no QG e tinha estado durante meses numa companhia nativa [a CART 11, Nova Lamego, onde era fur mil op esp; arranjou depois uma boa cunha e acabou por ficar em Bissau o resto da comissão] (...).(***)

Pois este amigo Pechincha, que era, salvo erro, de Moscavide e trabalhava como desenhador na Câmara Municipal de Lisboa, tinha fama de estar um bocado apanhado e com uma pancada enorme, mas acho que aquilo era mais para ganhar fama e benefício dela.

Digo isto porque tive com ele algumas conversas, muito interessantes e educativas, que me elucidaram bastante sobre a situação que se vivia e como ele pensava que se iria desenvolver, o que, no essencial, não divergiam muito do que eu pensava.

Mas também não deixava a sua fama por mãos alheias e logo na noite de 11 para 12 de [novembro], fui testemunha privilegiada duma dessas situações.

Nessa noite comemorava-se o S. Martinho. Eu fui portador para os amigos vilafranquenses de alguns quilos de castanhas e de um garrafão de água-pé (por sinal, bem forte!), além de outros mimos.

Com um bidão, em frente às camaratas onde os quartos se encontravam, fez-se o assador e então vá de comer chouriços assados, salsichas e castanhas, tudo bem regado com a dita água-pé e outras bebidas estranhas, em grandes misturadas (cerveja, uísque, coca-cola, etc.), tudo a animar uma simulação de uma emissão de rádio protagonizada pelos camaradas das Transmissões com jeito para a coisa, como por exemplo o furriel Roque.

Com o avançar das horas era tempo de serenar, descansar os corpos e retomar forças para o dia seguinte.

Acontece é que, como sempre sucede em situações semelhantes, nem todos estavam pelos ajustes e com a previsão para breve da viagem de regresso do "Carvalho Araújo", havia alguns, cujos nomes não ficaram registados na minha memória, que integrariam essa viagem final para a peluda, como diziam, e estavam dispostos a prolongar a sua festa, até com atitudes menos próprias e profundamente negativas, principalmente para quem tinha fortes experiências no mato, como seja arremessar as garrafas vazias para cima dos telhados de zinco dos quartos, o que, como calculam, a mim ainda não produzia efeito mas para quem já tinha reflexos condicionados era bastante aborrecido.

Ora o nosso bom Pechincha avisou solenemente os meninos que ou paravam imediatamente a graçola ou tinham que se haver com ele à sua maneira. 

Dada a fama que tinha, que não regulava lá muito bem e que era bem capaz de usar arma, os ânimos serenaram quase de imediato e na generalidade.

Mas também como sempre sucede, há sempre alguém que procura forçar a sorte e um deles, que também me disseram que estava apanhado (afinal, quem é que não estava?, acho que dependia do grau) resolveu irromper no nosso quarto com uma panela na cabeça e a bater com duas tampas como se fossem pratos duma banda de música.

Entrou, com ar de quem estava muito contente da vida e satisfeito por desafiar as ordens, mas o que eu vi de imediato foi o nosso amigo Pechincha, que estava estendido sobre a sua cama e que era logo a primeira à entrada, estender o braço sobre a cabeceira da cama, agarrar numa espécie de um dos dois machados nativos que estavam lá a enfeitar e, sem mais explicações nem argumentos, arremessou-o para o intruso, acertando-o na panela que estava na cabeça, deixando-o com o ar mais aparvalhado de perplexidade que vi até hoje, [e abandonando] o quarto a tremer e a balbuciar: "este gajo está de facto mais apanhado do que eu!".

Uma outra vez, estava com o Pechincha na zona da baixa de Bissau, passámos junto ao Taufik Saad que, naquela ocasião, tinha tido a boa iniciativa de efectuar uma promoção de um artigo qualquer que já não me lembro, mas a infeliz ideia de dizer que era "uma autêntica pechincha"...

Estão a ver a cena? 

O Pechincha resolve entrar de rompante na loja, cartão de identificação na mão, onde se podia confirmar que Pechincha autêntica era ele, portanto a "falsificação" teria que ser imediatamente retirada da montra!

E não é que foi mesmo?!

Era assim o Pechincha! Para muitos foi mais uma demonstração do seu apanhanço, mas eu, que estava com ele, e éramos só nós os dois naquela ocasião, percebi muito bem que foi tudo encenado... 

Ah, ganda Pechincha! Se por acaso nos visitares e leres isto, junta-te a nós! (...)

(Revisão e fixação de texto, parênteses retos, título : LG)
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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 24 de novembro de 2025 > Guiné 671/74 - P27458: Humor de caserna (224): À quarta é que é de vez: cartunes 'inteligentes' da menina IA (Alberto Branquinho / Luís Graça)

(**) Excerto do poste de 19 de fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2556: Estórias de Bissau (16) : O Furriel Pechincha: apanhado ma non troppo (Hélder Sousa)


(...) O Pechincha já aqui foi magistralmente evocado pelo Hélder de Sousa (**), Sabemos que era de Moscavide, o Humberto Reis [o nosso "cartógrafo"] conheceu-o na Guiné, de Contuboel  (ambos eram de Operações Especial, mas o Pechincha, era de um curso anterior)... Sabemos que, antes da tropa,  era desenhador na Câmara Municipal de Lisboa...

Ele, Hélder de Sousa, "pira", acabado de chegar, conheceu-o também em Bissau, já "apanhado do clima",em fimd e comissão... Depois, e tal como o Humberto, perdeu-se-lhe o rasto.

O Abílio Duarte acrescentou mais os seguintes elementos, para esclarecimento do Hélder de Sousa e nosso:

(i) o Pechincha  era Furriel de Operações Especiais, da Escola de Lamego;

(ii) eram os dois do mesmo pelotão, desde Penafiel até Nova Lamego [CART 2479 / CART 11];

(iii) (...) "só que o malandro era desenhador, e quando chegámos ao Gabú, deram-nos o Quartel de Baixo, Como era conhecido na altura. Como aquilo estava abandonado, e não tinha muitas condições, o nosso Capitão desafiou-o a fazer uns desenhos para as casas de banho e outras, para quando fosse a Bissau ir ter com o padrinho dele, que era o cor Robin de Andrade (****), para arranjar uma cunha e ter materiais de construção para nós fazermos as obras.

"O que aconteceu foi que os desenhos eram tão bons que o Pechincha foi para Bissau, e nunca mais voltou. Mas os materiais vieram (...).

"O mais giro desta foto, mas não se consegue ver, é que o Pechincha nos seus desenhos punha os bonecos com frases do Spinola, e a nossa preocupação era, se aparecesse o Spínola, termos sempre uma brigada pronta para apagar as bocas do Pato Donaldo e companheiros." (...)

(****) O coronel João Paulo Robin de Andrade: devia ser mais do que capitão, na altura, na Guiné (c. 1969/70); talvez fosse da arma de cavalaria; devia já ser oficial superior e estar colocado no QG; depois do 25 de Abril (a que esteve ligado), foi chefe do gabinete militar do  general António Spínola (15 de maio / 30 de setembro de 1974). Nasceu em Oeiras, em 1923. Em novembro de 1975 passou à reserva, aos 52 anos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27515: Historiografia da presença portuguesa em África (507): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1951 (65) (Mário Beja Santos)

Mário Beja Santos, ex-Alf Mil Inf
CMDT Pel Caç Nat 52

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2025:

Queridos amigos,
Já não há colónias, há províncias ultramarinas, o fenómeno descolonizador está em marcha, começou na Ásia, encaminha-se para o Norte de África, dele se fala amiúde nas Nações Unidas. Daí a operação de maquilhagem, logo com a revisão constitucional e a abolição completa da palavra colónia. É claro que a mentalidade não se muda de um dia para o outro, basta ver este estatuto do ensino rudimentar e tudo quanto ele prescreve. É curioso como a figura de Raimundo Serrão tem um lugar apagado na vida da Guiné. Ele encomendou a Fausto Duarte uma obra de autoelogio, intitulada "Guiné, Alvorada do Império", ricamente ilustrada. Devo o facto de procurar tal obra ter chegado ao então Arquivo Histórico do BNU, onde havia um exemplar, mal sabia eu no dia em que cheguei a este ponto de Sapadores que vinha passar quase 1 ano para preparar o livro "Os Cronistas Desconhecidos do Canal de Geba". O panorama económico está em mutação, vai nascer a ideia de que a Guiné será um grande fornecedor de arroz, com pleno autoabastecimento, o governador é metódico, transpõe para a província a legislação conveniente e dedica-se a sério ao sistema educativo. Mas não deixou mais história, bem procurei literatura atinente, nada encontrei.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Guiné, 1951 (65)


Mário Beja Santos

O Capitão de Engenharia Raimundo Serrão será Governador da Guiné de 1951 a 1953, irão inaugurar um conjunto de empreendimentos encetados pelo seu antecessor, terá preocupações com a área educativa, verá um crescimento da administração, a Guiné está prestes a sair do ciclo da mancarra, coconote e óleo de palma, os anos 1950 assistiram a uma produção impressionante de arroz.

E o arroz poderá dar litígios, como se pode ver no Boletim Oficial n.º 8, de 22 de fevereiro, há um acórdão do conselho do império colonial que envolve duas empresas rivais, a Sociedade Comercial Ultramarina e a Barbosas & Comanditas, apresenta-se nos seguintes termos:
“A Sociedade Comercial Ultramarina interpôs diretamente recurso por despacho do governador da Guiné, de 20 de julho de 1948, que concedeu a Barbosas & Comandita autorização para instalar em Bissau uma fábrica de descasque de arroz, com o fundamento que tal autorização viola a legislação atualmente em vigor, acarretando-lhes prejuízos provenientes de concorrência desregrada.
Na sua resposta diz o governador que a autorização concedida a Barbosas & Comandita já foi considerada caduca, esclarecendo, porém, que o objetivo era o aproveitamento das vantagens de ordem económica que adviriam para a colónia da instalação de mais uma fábrica, tanto mais que, como recente inquérito prova, a capacidade atual das fábricas está longe de satisfazer as necessidades.
Interposto o recurso, o conselho do império colonial conclui que a concorrente carece de legitimidade, não mostra ter sido usada no despacho recorrido.”


Neste mesmo Boletim Oficial n.º 10 o Governador Raimundo Serrão anui ao pedido feito pela firma António Silva Gouveia para instalar no Olossato, área da Circunscrição de Farim, uma indústria mecânica destinada à extração do óleo de palma e à quebra de coconote.

Em 19 de abril, o Boletim Oficial n.º 16, anuncia que se irá proceder à abertura de propostas para a execução de empreitada de terraplanagem, drenagem e pavimentação do aeroporto de Bissau – 1.ª fase.


No Boletim Oficial n.º 20, de 17 de maio, alude-se à Portaria que no ano anterior criou um conselho administrativo para o Colégio-Liceu de Bissau. O Governador determina que o Colégio-Liceu de Bissau funcionará como instituto de ensino particular, subsidiado pelo Estado, pelos corpos administrativos e pelos concelhos e circunscrições da colónia, e será administrado por um conselho administrativo.

Crescendo o funcionalismo, torna-se imperioso ir resolvendo os problemas da habitação, como se pode constatar da Portaria n.º 307, publicada no Boletim Oficial n.º 21, de 25 de maio:
“Acabam de se construir nesta cidade quatro edifícios que se destinam a moradias de funcionários superiores, circunstância esta que permite ao Governo da colónia atribuir a certos servidores do Estado residências privativas, já que tanto não pode fazer em relação a todas as categorias.” E determina que irão ser atribuídas residências privativas aos seguintes funcionários: magistrados judicial e do Ministério Público, Conservador do Registo Predial e Comercial, Chefes de Serviço, Chefe do Gabinete e Ajudante do Governador, podendo o Governador reservar casas para habitação de outros funcionários tendo em consideração os cargos que exerce.


E logo a seguir, na Portaria n.º 308, vai falar-se da lepra:
“Verificando-se ser elevado o número de leprosos existentes em toda a colónia, torna-se urgente e inadiável proceder à sua sequestração em estabelecimento adequado ao fim em vista; Tendo sido escolhido há muito o local designado por Cumura, na ilha de Bissau, para a instalação de uma leprosaria central:
Considerando que não é possível, por enquanto, a construção de um estabelecimento de tão grande projeção, resolveu o Governo, num intento de se iniciar imediatamente uma campanha de combate a esta terrível doença, fazer executar naquele local instalações onde se possam receber alguns doentes e que se denominará ‘Aldeia dos Leprosos’; A Aldeia dos Leprosos será provisoriamente entregue aos serviços de saúde da colónia.”


Em 26 de julho, o Boletim Oficial publica o louvor de António Carreira, nos seguintes termos:
“Pelas suas inigualáveis faculdades de trabalho servidas por uma inteligência viva toda posta ao melhor exercício da sua profissão. Considerado de há muito um ótimo funcionário do quadro administrativo, tem, no entanto, nos últimos dois anos dedicado à sua função nas vastas atribuições que lhe competem, uma enorme soma de trabalho e conhecimentos. Tem neste período feito estudos interessantes e importantes da sua circunscrição, nos seus variados aspectos, dos quais destaco os referentes ao fomento económico. O seu relatório relativo a 1950 é um documento bastante elucidativo e há pontos nele focados com projeção em toda a província. No campo das realizações materiais, construiu nestes dois anos o posto sanitário e a secretaria do posto administrativo de Bula onde acabou a residência do chefe de posto; construiu em Teixeira Pinto uma residência para missionários e duas amplas enfermarias para doentes no centro de saúde; ao presente tem em construção na sede da circunscrição nada menos de quatro bons edifícios: secretaria da administração, estação e residência dos CTT, residência para o secretário e outra para o enfermeiro. Por sua iniciativa montaram-se na sua circunscrição britadeiras para o caroço do coconote e prensas para o óleo de palma, que permitiram no corrente ano um aumento e melhoria da produção local. Tudo isto demonstra que o administrador Carreira é também um homem de ação.”


E na sequência desses louvores deixa-se menção à criação no ano anterior do Aero-Clube da Guiné. E tecem-se louvores a quem de direito.

No Suplemento ao n.º 46, Boletim Oficial n.º 23, de 19 de novembro, temos novos estatutos da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné, esmiúça-se a natureza da organização, a sua sede, os sócios em geral, etc.

Mais adiante, no Suplemento ao n.º 51, Boletim Oficial n.º 26, de 21 de dezembro, publica-se o regulamento do ensino rudimentar e do magistério rudimentar. O ensino rudimentar constitui o primeiro grau do ensino indígena, é ministrado exclusivamente em língua portuguesa, conforme consta do Acordo Missionário. Este ensino será essencialmente nacionalista e dirigido à preparação do indígena para poder vir a auferir meios para o seu sustento e a sua família; ensino exclusivamente reservado às crianças indígenas dos dois sexos, dos 7 aos 15 anos completos, ministrado em estabelecimentos denominados Escolas do Ensino Rudimentar. Explica-se o que se visa com a classe preparatória, logo a aquisição de vocabulário de uso mais corrente, depois pôr os alunos a falar, ler, escrever e calcular em português, e a incutir-lhes hábitos e aptidões de trabalho conducentes ao abandono da ociosidade e à preparação de futuros trabalhadores rurais e dos artífices, também se informa com as autoridades administrativas devem dar às Missões Católicas Portuguesas todo o auxílio por elas solicitado.

O regulamento cuidadosamente elaborado onde se fala dos ensinos, dos alunos, das turmas e horários, da disciplina, do aproveitamento escolar, das escolas (serão localizadas onde as autoridades eclesiásticas por melhor houverem), os livros escolares (cabe a sua aprovação ao Governo da Província, ouvido o Prelado, não podendo conter nada em desmerecimento da Nação e da civilização portuguesa, da sua história e ação colonizadora, do seu Governo e autoridade, da Igreja Católica e sua atuação missionária); estende-se até aos trabalhos agrícolas e agrícola-pecuários e enquadra a preparação do pessoal docente.

Ver-se-á adiante que Raimundo Serrão não se ficou por aqui quanto ao sistema educativo.

Notícia do falecimento do Marechal Carmona
Instalações do aeroporto de Bissalanca, em fase de conclusão das obras, fotografia de Mário Dias, já no nosso blogue
Ponte de Ensalmá, inaugurada no tempo do governador Raimundo Serrão, fotografia de Mário Dias, já no nosso blogue
Fortaleza da Amura, nos tempos da presença portuguesa
Efeitos da guerra civil no INEP, fotografia da Casa Comum/Fundação Mário Soares

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 3 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27489: Historiografia da presença portuguesa em África (506): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, 1950 (64) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27514: Casos: a verdade sobre... (60): Não se faz a guerra sem álcool (nem tabaco)



Guiné < Região do Cacbeu > Jolmete > CCAÇ 3306/BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)> . outubro / novembro de 1972 > O álcool é euforizante e socializante... O tabaco, ansiolítico... Foto do álbum do ex-fur mil Augusto Silva Santos (vive em Almada).


Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra CCAV 2483 (1969/80) : Num mês, talvez atípico, com o de junho de 1970, a escassos, dois ou três meses de mudarem para Tite (sede do sector S1) onde foram acabar a comissão (setembro/dezembro de 1970), os camaradas desta subunidade gastaram 89,4 contos, na cantina (que era comum a oficiais, sargentos e praças). 46% desse valor foi em cerveja e uísque. 89,4 contos (=30,7 mil euros, a valores de hoje) era bastante dinheiro: a dividir por 160 militares, dava 560 escudos "per capita"  (=192 euros, a valores de hoje). (*)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné (2025)




I. Temos falado aqui aberta, desinibida e francamente sobre o consumo de cerveja, uísque, vinho  e outras bebidas alcoólicas pelos militares portugueses durante a guerra colonial na Guiné, entre 1961 e 1974...

 Tínhamos acesso a bebidas nacionais (cerveja, vinho, brandy, porto...) e importadas (uísque, gin, vodca, conhaque...). Claro que não havia bar aberto...

É difícil, se não impossível,  definir padrões e níveis de consumo, na ausência de estudos sobre o tema (que não os  há, ou são escassos, ou sofrem de limitações metodológicas). 

Quando muito , podemos socorrer-nos de alguns indicadores indiretos: compras nas cantinas, por exemplo. Ou testemunhos de antigos combatentes. Mas nem todas as compras são consumos imediatos de álcool: a maior parte das garrafas de uísque, sobretudo do uísque velho, bem como de conhaque, era para guardar e levar para a metrópole.E em muitos sítios, as cantinas estavam separadas; os oficiais e sargentos tinham as suas messes e o seus bares. Por outro lado, são  raros os registos dos consumos (ou das compras) nas cantinas (*).

Mas também reconhecemos que, do lado dos combatentes do PAIGC, essa prática está ainda pior  documentada. Ou é de todo ignorada. A maior parte parte dos historiógrafos, de um lado e do outro, não valoriza aspetos da vida quotidiana dos combatentes como os "comes & bebes".
 
Ora, o que sabemos da História é que nunca se fez a guerra sem álcool (ou outras drogas). Matar e morrer é a experiência-limite do ser humano. Não imagino o Inocêncio Cani (que eu não sabia que tinha sido catequista!) a matar o Amílcar Cabral, à porta de casa, a sangue frio. Tinha que estar com a "cabeça grande", sob o efeito do álcool. O mesmo para os matadores do Pelundo, os carrascos dos 3 majores e seus acompanhantes  em abril de 1970.

O consumo de álcool, de um e do outro lado da "barricada", na guerra da Guiné (1961/74) está mal documentado. Pelo menos do outro lado, do lado do PAIGC.

 A documentação é desigual, mas o padrão geral é claro: o álcool (e o tabaco)  fazia parte do quotidiano da guerra, com implicações sociais, psicológicas e logísticas. (**)

1. Militares portugueses na Guiné (1961–1974)

(i) Disponibilidade e tipos de bebidas

Cerveja era comum nas unidades portuguesas, especialmente marcas nacionais enviadas pela Manutenção Militar (Sagres e Cristal).  À Guiné não chegava a cerveja angolana nem moçambicana, nem convinha aos cervejeiros metropolitanos.

Aliás, a mobilização de centenas de milhares de homens ao longo do conflito (1961/75) nos 3 teatros de operações (mais o resto do império, de Cabo Verde a Timor), foi uma oportunidade de ouro para a indústria cervejeira nacional.

Uísque, aguardente, vinho e licores eram consumidos sobretudo por oficiais e sargentos, bem aqueles que tinham melhores possibilidades logísticas ou económicas. Por exemplo, bebi-se melhor em Bissau, Bambadinca e Bafatá. A Marinha, por sua vez, bebia (e comia) muito melhor que o Exército...E  também não ouvimos queixas da Força Aérea.

No que diz respeito à tropa do recrutamento local, grosso modo podemos dividi-la em muçulmanos, animistas e cristãos ou assimilados. 

 Regra geral, os nossos militares muçulmanos (nomeadamente fulas) eram "abstémios" por imperativo religioso. Mas o contacto com os "tugas", levou-os a apreciar a "água de Lisboa"... Não bebiam cerveja nem vinho à frente dos "homens grandes", até por que muitos (CCaç 12, CART 11, por exemplo, a quem demos instrução em Contuboel) ainda eram "meninos de sua mãe"!... A guerra fê-los crescer mais depressa, a eles e a nós. (De resto, o argumento para serem desarranchados era não poderem comer  carne de porco nem beber álcool.)

Os restantes (animistas, cristãos, e sobretudo os mais urbanos, de Bissau...) tanto consumiam as bebidas locais (como a aguardente de cana e o vinho de palma) como não desgostavam da "água de Lisboa". E faziam-no publicamente, confraternizando connosco.

(ii)  Funções do álcool
  • Lazer e coesão: beber em grupo ajudava a criar um sentimento de companheirismo (à mesa) e camaradagem (na caserna, no mato...)  em situações difíceis; bebia-se em grupo, os bebedores solitários seriam a exceção à regra.
  • Socialização, ritual social: celebrações, aniversários, outras efemérides (data da chegada à Guiné, por exemplo),  momentos de descompressão entre operações, e até o ritual do “comes & bebes" nos dias de folga, ou ao fim da tarde; ou nas idas a Bafatá...(a "civilização", o "oásis", para a malta do Leste).
  • Claustrofobia, mecanismo de escape: muitos ex-combatentes relatam que o álcool servia para "esquecer" (a guerra, a solidão, as saudades de casa...):  certamente para aliviar a exaustão física, o stress, o medo, as insónias e até o trauma, o que hoje se reconheceria como sintomas de stress pós-traumático; o ambiente nos aquartelamentos e destacamentos, cercados de arame farpado e com o perímetro exterior armadilhado, e vivendo muitos militares em "bunkers", e por vezes sem população,  era claustrofóbicos; um ambiente propenso à depressão, ao conflito, à violência interpessoal, e ao consumo de álcool; já relatámos aqui alguns  acidentes mortais com "arma de fogo", associados ao ao álcool.
  • Ambiente de caserna: o consumo era normalizado e raramente reprimido, exceto em casos de indisciplina evidente; cada uma das 3 "classes" em presença (nobreza, clero e povo,  com eu chamava aos oficiais, sargentos e praças) tinham os seus locais próprios de "libação": messes, bares, caserna, refeitório, escapes citadinos como Luanda, Bafatá, Safim, Nhacra, etc.

(Iv) Problemas derivados

Há relatos de alcoolismo em certas unidades, embora geralmente omitidos nos relatórios oficiais. Pode haver referências nos autos por acidentes de viação ou acidentes com   arma de fogo (suicídios, homicídios, automutilação, ameaças, e outras formas de violência). Mas todas estas situações são tratadas com pinças...

Alguns comandantes tentavam limitar o consumo antes de operações, mas o controlo era difícil e desigual. Aqui funcionava mais o autocontrolo e o controlo pelos pares ( a nível de secção e pelotão). Obviamente, ninguém podia ir "alcoolizado" para o mato ou para uma coluna. 

A verdade é que não havia ainda testes de alcoolémia na guerra, para nenhuma das 3 armas (Exército, Marinha e Força Aérea). Nem sequer os condutores ou  os pilotos sopravam no balão (uma invenção tardia).

O clima tropical, o desgaste físico, o cansaço agravavam os efeitos do álcool. Ao fim de alguns meses, dizia-que o militar "estava apanhado do clima" ou "cacimbado",

2.A tropa do PAIGC

A documentação sobre o consumo de álcool nas hostes do PAIGC é mais escassa. Não há números. A guerrilha valorizava a disciplina, e o controlo disciplinar e ideológico seria mais rígido. Ainda assim, há elementos que surgem por fontes orais e memórias.

(i) Consumo existia, mas era vigiado

Em várias regiões da Guiné era comum o fabrico e consumo de vinho de palma, aguardente de cana e outras bebidas tradicionais. Os "chefes" chegavam ter  os seus  "tiradores" privativos!

Guerrilheiros jovens, longe das aldeias, das famílias e em longas marchas, emboscadas, operações, etc., podiam recorrer,  ao álcool em momentos de pausa. (Isso também acontecia no nosso lado, era a ocasião em que se apanhavam os "pifos de caixão às cova").

Grande parte dos guerrilheiros do PAIGC eram balantas e de outras etnias animistas, grandes consumidores de álcool (aguardente de cana, vinho de palma...). Tal como não largaram os amuletos, também não romperam com os seus hábitos, a sua cultura, os seus rituais. Podia era haver era menos oferta de álcool, no mato.

(ii) Disciplina política

O PAIGC (ou  o seu  ideólogo, e comandante-chefe, Amílcar Cabral) desencorajava fortemente o consumo excessivo, associando-o à “fraqueza revolucionária”.

Alguns veteranos referem punições internas ou advertências para quem bebesse antes de ações militares. Mas não sabemos como funcionava o autocontrolo e o controlo  por pares. Rui Djassi, Osvaldo Vieira e outros "comandantes" tinham problemas de álcool..

(iii) Funções do álcool (semelhantes às das tropas portuguesas)

Alívio do stress, convivência, e momentos de pausa nos acampamentos. Afinal éramos todos de carne e osso, pesem embora as diferenças culturais.

Em certas áreas, o álcool fazia parte de cerimónias tradicionais que se mantiveram mesmo durante a luta armada ("choro", etc.)

(iv)  Subregisto histórico

A imagem oficial do PAIGC como movimento altamente disciplinado (cultivado por Amílcar Cabral, para efeitos  de "marketing político")  levou a que estes aspetos da vida quotidiana nas "áreas libertadas" ficassem menos documentados ou na obscuridade, 

Os santos não têm pecados. Os gajos eram moralmente superiores aos tugas, Durante algum tempo vendeu-se essa falsa imagem.

Investigadores da história social da guerra admitem que a dimensão humana e informal da guerrilha está ainda pouco estudada, incluindo "comportamentos desviantes" como  consumo de álcool, rituais, amuletos,  sexo, violência (contra crianças, bajudas, mulheres e velhos...), indisciplina, conflitos,  drogas locais,  relações tribais, etc.


3. Inquérito "on line"

Recorde-se aqui os resultados do inquérito "on line" que realizámos em 2016: "Nunca apanhei nenhum pifo de caixão à cova na tropa ou no TO da Guiné"

Votos apurados: 102
Sondagem fechada em 15/3/2016 | 18h04



(i) Nunca > 31 (30,4%)


(ii) Uma vez, por acaso > 25 (24,5%)


(iii) Duas vezes > 10 (9,8%)


(iv) Três vezes > 4 (3,9%)


(v) Mais vezes > 26 (25,5%)


(vi) Não me lembro > 5 (4,9%)


(vii) Não aplicável: não bebia > 1 (1,0%)


Total > 102 > (100,0%)


Em 102 respondentes só um  disse que não bebia.   Mais de 60% (n=65) respondeu que sim, que apanhou um pifo de caixão à cova, uma, duas, três ou mais vezes.  Só 5% respondeu que não se lembrava.

Tal como hoje,  teríamos basicamente três  perfis: (i) abstémios / não-bebedores  (subrepresentados na nossa amostra) (são hoje cerca de 1/4 da população, dos 15 aos 74 anos); (ii) os 3/4 já consumiram álcool na vida; 1/4 bebe diariamente e outros tantos serão bebedores sociais; (iii) bebedores excessivos ou de risco serão uns 3,5%... Claro que os homens bebem mais do que as mulheres...

Enfim,  não dá para comparar com a nossa pequena amostra de conveniência...





Marca de cigarros, de fabrico soviético, que eram distribuídos aos guerrilheiros do PAIGC, durante a guerra colonial / luta de libertação. "Nô pintcha", em crioulo, quer dizer "Avante!"... 


Foto (e legenda): © Eduardo Magalhães Ribeiro (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



4. “Nunca se fez guerra sem álcool (nem tabaco)"

Esta frase, frequentemente citada por veteranos de ambos os lados, é bastante precisa. Não se faz a guerra, sem álcool nem tabaco... nem com o estômago vazio!

De facto, em praticamente todos os conflitos, o álcool ( e o tabaco) é um ansiolítico não oficial, uma espécie de  "lubrificante psicossocial" para a "máquina de guerra",  uma forma acessível de lidar com o medo, a violência, o risco, a morte...



O fornecimento de tabaco está mais bem documentado (no caso do PAIGC, à sua "tropa" era distribuido o maço de cigarros "Nô Pintcha", fornecido pelos "amigos soviéticos"; não sabemos em que quantidades nem com que frequência).

Na Guiné, com isolamento, clima adverso e desgaste físico e psicológico constante, tornava-se ainda mais evidente a importância do álcool e do cigarro, as duas "drogas legais".

 De um lado e do outro. Muitos de nós começaram a beber e a fumar na Guiné. Por outro lado, tínhamos acesso (generoso) a muito tipo de bebibas, que  não eram correntes na metrópole, incluindo a coca-cola. E o tabaco, não sendo de borla, era relativamente acessível. (O Porto era uma das marcas que mais se fumava, custava 3$00 cada maço.)

(Pesquisa: LG  + Net + IA (Gemini, ChaGPT)

(Condensação, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de dezembro de 2025 Guiné 61/74 - P27499: A nossa guerra em números (47): mais de 2/3 do consumo, do valor de vendas em junho de 1970 (n=89 contos), na cantina, da CCAV 2483, em Nova Sintra, foi em álcool e tabaco (Aníbal Silva / Luís Graça)

Guiné 61/74 - P27513: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte VI: o guarda-roupa feminino





Fotogramas > "1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Agosto de 1935 > Damas e cavalheiros dançando a rigor a morna... E trajados a rigor.


Cortesia de Cinemateca Digital, documentário "I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", realizado em 1936 por San Payo. Disponível aqui:

https://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=1378&type=Video



O elogio da "Monte-Carlo Beach", a praia artificial de Monte-Carlo, o sítio mais chique da Europa...Artigo de Maria de Eça, a propósito da chegada da época  balnear, da "elegância da nudez" ( feminina), e dos benefícios do sol e do mar...Estas imagens eram  muito ousadas para a época, num país parolo, provinciano, conservador, e vigiado pelos censores...  Estamos nos primeiros anos do Estado Novo, impante e triunfante.  Mesmo uma década depois, nas praias portuguesas os fatos de banho, femininos e masculinos, obedeciam a uma bitola...e as infrações estavam sujeitas a coimas.



Fonte: Excerto de. Maria de Eça - As praias portuguesas e estrangeiras". Ilustraçáo, nº 232, 16 de agosto de 1935, ág. 25  (Cortesia de Hemeroteca Municipal de Lisboa)

 

1. Voltemos ao nosso "1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente" (*)... Foi há 90 anos... 20 anos depois começávamos nós a ir para as últimas guerras do Império:  Índia,  Angola, Guiné, Moçambique, Timor...

De repente, vendo o filme, as cenas do baile no Liceu Infante Dom Henrique, no Mindelo, dado em honra dos "excursionistas" (maioritariamente "cavalheiros", só 20% é que eram senhoras: duas professoras, seis estudantes, e trinta e uma mulheres entre as “pessoas de família”), veio-nos à cabeça a pergunta: como era a moda, e nomeadamente feminina, naquela época ? O que é que as senhoras vestiam a bordo numa viagem daquelas, de quase dois meses, com escala por Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Angola e, no regresso, Principe e Madeira ?

Com a ajuda da IA (Gemini / Google, ChatGPT), e outars fontes (bibliográfcias), apurámos alguns apontamentos interessantes, que passamos a condensar.

Em 1935, as senhoras que faziam essas longas viagens de navio para as colónias portuguesas em África eram, de facto, poucas. Eram maioritariamente esposas de funcionários coloniais (**), militares, médicos, grandes comerciantes ou fazendeiros ricos. (Os missionários, como eram católicas, não levavam esposas; as "irmãs", as freiras, missionárias, ainda deviam ser poucas na África Portuguesa.)

Em 1935,  os "africanistas" propunham-se  desmistificar África, tornando-a apelativa para as senhoras... A colonização portuguesa até então era maioritariamente masculina. Não ficava bem as senhoras serem... doutoras ( nem muito menos esposas de colonos). Em 1914, no início da I Guerra Mundial, e sendo governador-geral o general Norton de Matos, Angola tinha 11 mil brancos (6 mil em Luanda). Com a mobilização militar para África (Angola, Guiné, Moçambique), nas "campanhas de pacificação" e I Grande Guerra, houve militares que se fixaram naqueles territórios.

Em 1935, as senhoras que embarcaram no vapor "Moçambique", eram sobretudo familiares dos estudantes e professores a quem se destinava o cruzeiro (de lazer, turismo, educação e propaganda). (Repare-se apenas 6 eram estudantes, num total de 79, o que representava menos de 8%.)

"Uma lição portuguesismo", diria, no fim, embevecido e em jeito de balanço, o jovem professor Marcello Caetano, responsável da parte cultural. 

De um modo geral, estas  viagens em si, num paquete da Companhia Nacional de Navegação (CNN) ou da Companhia Colonial de Navegação (CNN), não eram vistas como um  verdadeiro "cruzeiro" de férias no sentido moderno do termo, mas sim como um evento social, de grande formalidade. 

A roupa (masculina e feminina) refletia isso mesmo.

Falando das senhoras, o guarda-roupa para uma viagem que podia durar várias semanas ( conforme o destino),  tinha de ser vasto, funcional e, acima de tudo, elegante, cobrindo diferentes momentos do dia e a transição para o clima tropical ( incluindo a praxe da travessia do Equador para os novatos). Claro que o guarda-roupa também dependia do poder de compra.

(i) O contexto: a moda de 1935

Temos de esquecer as "flappers" de 1920. Em 1935, a moda era muito mais curvilínea, feminina e elegante, influenciada pelas estrelas ou "divas" do cinema de Hollywood (como Greta Garbo ou Marlene Dietrich).

Silhueta: a cintura voltava ao seu lugar natural; as  saias eram compridas (a meio da perna ou mais longas para a noite) e fluidas. O corte em viés (bias-cut) era a grande inovação, fazendo com que os tecidos (como o crepe de seda) se moldassem ao corpo de forma elegante (e, inevitavelmente,  erótica).

Ombros: os ombros eram frequentemente realçados, por vezes com pequenos enchumaços, mangas com folhos ou detalhes.

(ii)  O guarda-roupa a bordo (em alto mar)


A vida no navio era pautada por regras sociais rígidas. O que obrigava uma senhora a trocar  de roupa várias vezes ao dia. E nisso esgotando-se a sua energia. De resto, não tinha mais nada que fazer. As diversões a bordo eram limitadas. O navio, ainda a vapor, de 57 mil toneladas e 112 metrpos de comprimento estava em fim de vida; construído na Escócia em 1908, seria desmantelado em 1939.

  •  De Dia (manhã e tarde no "deck")

O vestuário de dia era "prático" (para os padrões da época), mas sempre impecável.

Vestidos de dia: eram feitos de tecidos mais robustos mas elegantes, como crepe, lã leve (na saída da Europa) ou seda, tinham mangas (curtas ou a três-quartos) e saias a meio da perna; os padrões  eram discretos ou de cores lisas (como azul-marinho, bege, bordeaux);

Conjuntos (fatos de saia e casaco): muito populares; um casaco cintado com uma saia a condizer; era um visual muito "arranjado" para passear no convés ou almoçar.

Acessórios essenciais:

Chapéu: absolutamente obrigatório para sair ao sol no convés; podiam ser cloches (ainda em uso) ou chapéus de aba mais larga, que se tornavam populares;

Luvas: quase sempre usadas, mesmo de dia; de couro leve ou algodão;

Sapatos:
fechados, de salto baixo ou médio, frequentemente de duas cores (estilo "spectator");

Desporto (ou "sport" como então se dizia) (para atividades no convés): os navios tinham áreas de lazer (jogos de "shuffleboard", ténis de convés); para isto, existia o "traje sport", que era o mais informal que se usava em público;

Pantalonas (calças): a grande novidade, os  "pijamas de praia" (calças largas e fluidas, de cintura subida) eram o auge da moda chique para relaxar no convés; eram feitas de linho ou algodão e muitas vezes com padrões náuticos (riscas, âncoras); 

Vestidos-amiseiros: de algodã,  mais simples, muitas vezes de riscas azuis e brancas (o estilo "riviera" ou náutico).

  • Noite (jantares e bailes)

Este era o ponto alto (tal como nós cruzeiros modernos): o  jantar era um evento de gala, especialmente na primeira classe, já de si reservada a uma.minoria privilegiada.

Vestidos de noite: eram longos, arrastando-se muitas vezes pelo chão;

Tecidos nobres: seda, cetim, veludo (para as noites mais frescas no Atlântico Norte) ou crepes pesados;

Corte:  o  "corte em viés" era rei; os vestidos eram fluidos, marcando a silhueta; as costas decotadas eram muito comuns e consideradas o cúmulo da elegância.

Acessórios:

Estolas: de pele (raposa) ou seda, para cobrir os ombros;

Joias: brincos compridos, pulseiras, colares;

Luvas compridas: de seda ou cetim, quase sempre acima do cotovelo;

Pequenas malas de mão ("pochetes"): elaboradas, de metal ou tecido bordado.

(ii) A chegada aos trópicos (Cabo Verde, Guiné, São Tomé, Angola)

À medida que o navio se aproximava do Equador e o calor aumentava, o guarda-roupa mudava drasticamente; as lãs e sedas pesadas eram guardadas nas "malas" (baús de viagem).

O que predominava:

Branco e marfim: estas eram as cores dominantes; refletiam o sol e eram um símbolo de estatuto (mostravam, por exemplo, que se tinha criados para lavar a roupa, que se sujava facilmente);

Tecidos leves: o linho era o tecido de eleição, apesar de amarrotar facilmente;  algodão piqué e a seda crua ("shantung") também eram muito usados;

Vestidos "safari":
embora o "safari suit" fosse mais masculino, a influência era vista em vestidos-camiseiros de linho branco ou bege, muitas vezes com cintos e bolsos utilitários;

Proteção solar:
esta era a maior preocupação;

Chapéus de aba larga
: essenciais; de palha ou tecido leve;

Capacete colonial ("pith helmet"): embora hoje seja um símbolo controverso (associado ao colonialismo europeu e aos sangrentos safaris), em 1935 era comum tanto para homens como para mulheres em certas situações, como uma forma prática de proteção contra o sol intenso; as senhoras usavam versões mais leves e elegantes, muitas vezes forradas a seda;

Óculos de sol: tornavam-se um acessório de moda, além de funcionais;

Em suma, as senhoras (uma minoria) que em 1935 viajavam para a África, ainda negra,  misteriosa, exótica,  levavam um guarda-roupa que projetava elegância europeia, estatuto social e uma tentativa (nem sempre eficaz nem confortável) de adaptação ao clima tropical, mantendo sempre a máxima formalidade. 

Por outro lado, as senhoras  das classes alta e média-alta, que faziam estas viagens nos navios da CNN ou da CCN, com destino a África (e neste caso, o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente) (***) poupavam-se, evitando o sol, a poeira, a terra batida, os insetos, etc., nem sempre saindo para "visitas de estudo" que só interessavam aos homens (neste caso, alunos e professores).

 Imaginamos que ficavam, resguardadas (nos hotéis), a beber chá, a cavaquear, a jogar  às cartas...  Enfim, o culto da frivolidade...

Nessa época, elas ainda não tinham um papel ativo na sociedade, na economia, na política, na cultura...E não trabalhavam. A mulher que  trabalhava (nas fábricas e nos campos) não tinha direito ao tratamento... de "senhora".

(Pesquisa: LG + Net + IA / Gemini Google)

(Condensação, revisão / fixação de texto: LG)

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Notas do editor LG;


(**) Vd. poste de 15 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26268: Timor Leste: passado e presente (29): Uma viagem de mais de um mês de Lisboa a Díli, no N/M holandês Sibajac, em agosto/setembro de 1936 (Cacilda dos Santos Oliveira Liberato, "Quando Timor foi notícia: memórias", Braga, Pax, 1972)

(***) Último poste da série > 7 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27398: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 3 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte V: preços só para meninos ricos ou gente da classe média-alta... Hoje daria para dar a volta ao mundo em 100 dias.

Guiné 61/74 - P27512: Parabéns a você (2441): Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700/BCAÇ 2912 (Dulombi, 1970/72) e Mário Santos, ex-1.º Cabo MMA da BA 12 (Bissalanca, 1967/69)

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Nota do editor

Último post da série de 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27496: Parabéns a você (2440): Manuel Carvalho, ex-Fur Mil API da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, Jolmete e Quinhamel, 1968/70)

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27511: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (4): Albino Silva, ex-Sold Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) com data de 5 de Dezembro de 2025:

Olá Carlos Vinhal
Finalmente e aos poucos lá vou recuperando a vontade de fazer alguma coisa como dantes o fazia e para a Tabanca Grande.
Passei um mau bocado com minha Esposa que infelizmente faleceu.
Hoje decidi escrever umas coisinhas para a Tabanca, retomando assim, aquilo que vinha fazendo.

Desejo a Todos Boas Festas
Um Abraço.
Albino Silva
011004/67



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2. Comentário do editor CV:

Caro amigo Albino Silva,
Lamentamos profundamente a triste notícia do falecimento da senhora tua esposa.
Aceita o nosso mais sentido pesar e crê-nos solidário com a tua dor.
Claro que a partir de agora o Natal da família jamais será igual aos anteriores, porque falta a matriarca, mas pensai que a vida também é composta pela ausência e saudade dos nossos entes queridos que nos vão deixando.
Recebe o nosso abraço
Carlos Vinhal

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Nota do editor

Último post da série de 9 de Dezembro de 2012 > Guiné 61/74 - P27509: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (3): Carlos Filipe Gonçalves, Praia, Cabo Verde

Guiné 61/74 - P27510: S(C)em Comentários (83): Armazéns do Povo nas "regiões libertadas!": mais um mito para Sueco ver (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

 Seguramente que os suecos nunca puseram aqui os pés, nas "áreas libertadas" do Xime, na margem direita do rio Corubal...E lá não devia chegar a sua ajuda humanitária...

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Novembro de 197' > Possivelmente numa base do PAIGC,  no sul, na região fronteiriça, ou mais provavelmente em território (mais seguro) da Guiné-Conacri  > Visita de uma delegação escandinava às regiões libertadas >  

Transporte de sacos de arroz em viaturas soviéticas. Segundo a inteligência militar portuguesa, o PAIGC dispunha, na Guiné-Conacri, de cerca de 40 camiões russos (havia dois modelos, o Gaz e o Gil) , que faziam o transporte dos abastecimentos de Conacri até a Kandiafara e, depois de queda de Guileje, em 22 de Maio de 1973, até mesmo para lá das fronteiras... 

De acordo com a propaganda do PAIGC (depois ampliada pelos seus aliados nórdicos...), "o grande celeiro do sul abastecia de arroz as populações sob controlo do PAIGC; os excedentes eram exportados, nomeadamente para a região norte. Havia uma rede de Armazéns do Povo que ia de Conacri até ao interior das regiões libertadas".

Essa rede, mal ou bem, funcionava e terá permitido o desenvolvimento de uma "economia de guerra" (sic), que muitos de nós, antigos combatentes portugueses, conhecia mal ou  desconhecia de todo...O que muitos de nós, operacionais, sabemos, é que por sistema todo o arroz encontrado em áreas sob controlo do PAIGC era destruído. O mesmo acontecia com outros víveres, a começar pelas vacas, porcos, cabras, galinhas, etc. 

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI) (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda. Legendagem de LG).



1. Comentário de Cherno Baldé, nosso colaborador permanente (vive em Bissau),  ao poste P23609 (*):

 

(...) Como em tudo que diz respeito ao PAIGC e a sua "gloriosa luta de libertação", os Armazéns do Povo não passou de mais um mito para Sueco ver. 

A rede que, aparentemente, funcionou durante a luta nas chamadas zonas libertadas, eram postos ou depósitos móveis para a distribuição das ajudas dos países Nórdicos,  com especial destaque para a Suécia,  que contribuía com ajuda humanitária. 

Estou em crer que, embora a propaganda do partido fale do povo e da comercialização através da permuta, a realidade dos factos diz-nos que os principais destinatários seriam os guerrilheiros das barracas do interior que, como se sabe, tinham muitas dificuldades de abastecimento.

Caso os famosos Armazéns tivessem funcionado bem no mato em plena guerra, era suposto o sucesso ser maior nas condições do pós-guerra, mas na verdade, os vícios do consumo gratuito e da gestão danosa e irresponsável não permitiram o florescimento desta rede de comércio nacional que estava destinada para substituir o comércio das lojas das casas Gouveia e Ultramarina em toda a extensão do território. 

Quando ocorreu o golpe de 14 de Novembro de 1980, embora os Suecos ainda continuassem a fornecer auxilio "humanitário" já com algumas contrapartidas, na verdade, já não restava nada destes Armazéns para além de prateleiras vazias e, de tal maneira que o regime que surgiu do golpe de 'Nino' Vieira foi obrigado, para além de solicitar a ajuda do FMI, uma instituição do capitalismo outrora abominado, a proclamar a abertura ao comércio privado para que o país não morresse de fome.

De salientar que o Consulado do gen Spinola na Guiné tinha criado alguns hábitos de consumo, mormente, no meio da população urbana e não só, que os dirigentes do PAIGC queriam extirpar de raiz, o que criou uma situação de fome e um ambiente explosivo de mal-estar que acabou por desembocar na mudança do regime de Luís Cabral. (...) (**)

(Revisão / fixação de texto, itálicos, negritos, título: LG)
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(**) Último poste da série > 4 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27493: S(C)em comentários (82): a filha da mãe da guerra que não desgruda... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72)

Guiné 61/74 - P27509: Prova de vida e votos de boas festas 2025/26 (3): Carlos Filipe Gonçalves, Praia, Cabo Verde


1. Mensagem natalícia de Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74), radialista, jornalista, escritor, natural  do Mindelo, a viver na Praia, Cabo Verde:


Data - domingo, 7/12/2'025 13:28
Assunto - Potrva de vida e votos de boas festas 2025/26

Olá, caro amigo:

Obrigadíssimo. Que Deus nos conceda vida e saúde.

Boas Festas e Feliz Ano Novo.

Forte Abraço

Carlos Filipe Gonçalves

Jornalista Aposentado

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Nota do editor LG: