René Pélissier - História da Guiné: Portugueses e Africanos na Senegâmbia, 1841-1936. Lisboa: Editorial Estampa. 2 volumes, c. 600 pp. Preço de capa de cada volume: 14,27 € (mais IVA).
Foto das capas: Editorial Estampa (2006) (com a devida vénia...)
1. Mensagem do historiador francês René Pélissier , que muito nos honra. Apelamos à melhor colaboração de todos os amigos e camaradas da Guiné.
Prezado Senhor:
Sou o historiador e bibliógrafo francês da Guiné e não consigo encontrar um exemplar de uma edição de autor que a Biblioteca Nacional de Lisboa possui mas sem dar o endereço do autor-editor. Trata-se de:
GÓIS, Inácio Maria: O meu diário: Guiné 1964-66, Companhia de Caçadores 674 s.l. s. d. Aljustrel: Mineira. 2006. 416 pp.
Seria capaz de me dizer onde posso arranjar o livro ou pelo menos como contactar o autor? Alguém no seu blogue deve conhecer este senhor.
Muito obrigado pela sua ajuda
Melhores cumprimentos
Prof Dr René Pélissier
20 rue des Alluets
78630 Orgeval
França
2. Comentário de L.G.:
Caro René Pélissier:
Sentimo-nos muito honrados pela sua presença neste blogue colectivo sobre a guerra da Guiné (1963/74), o maior da Internet em língua portuguesa. Tudo iremos fazer para localizar o autor desta publicação. Já temos aqui alguns elementos que permitem mais facilmente localizá-lo. Por exemplo, sabemos que a Companhia de Caçadores 674 esteve em Fajonquito, no nordeste da Guiné, junto à fronteira com a República da Guiné-Conacri. Inclusivamente identificámos alguns dos camaradas do autor, cujo nome correcto é Inácio Maria (e não Mário...) Góis.
Além disso, o autor deve ser natural de Aljustrel, localidade do Alentejo onde foi editada a obra. Presume-se que seja uma edição de autor. A obra deve ter sido impressa na Gráfica Mineira Lda, com sede na Rua Vasco da Gama, 49, 7600-117 Aljustrel. Tel: + 351 284602569 / Fax: + 351 284602712.
O concelho de Aljustrel pertence ao distrito de Beja e é historicamente conhecido pela sua indústria extractiva. Ainda hoje as minas são o principal sector de actividade económica.
Por outro lado, o número de páginas da publicação é 416, e não 675, como por lapso você nos indicou.
Disponha sempre. Pode contactar-nos em francês, se assim o preferir.
As nossas melhores saudações. Luís Graça.
_________________
Nota dos editores:
(1) Temos na nossa tertúlia um homem, Constantino Neves, que teve um irmão, Sérgio Neves, na CCAÇ 674 (1964/66): vd. post de 24 de Setembro de 2007 >
Guiné 63/74 - P2127: Estórias de vida (5): Sérgio Neves, meu irmão, um homem bom (Tino Neves)
Há outros posts com referências a homens da CCAÇ 674, unidade que operou na Zona Leste, Fajonquito:
17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2185: Álbum das Glórias (31): 13 brancos maduros do Puto em almoço de homenagem a Marcelino da Mata (Abreu dos Santos)
10 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1357: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata, a pedido de sua filha Irene (3): Nem a cruz nem o altar (Mário Dias / Luís Graça)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2265: Bissau sempre era maior do que a nossa vila ou aldeia (Helder Sousa)
Guiné > Bissau > s/d [1970-1972] > O Helder Sousa no seu quarto em Bissau... Sinais dos tempos: um poster do Che Guevara, um ícone da juventude da época, mas também um grande amigo do PAIGC...
Dizia-se que o Che tinha estado na Guiné em 1964, o que não é verdade... De qualquer modo, desde 1966 os voluntários cubanos (médicos e conselheiros militares, numa primeira leva) estão directamente envolvidos na luta de guerrilha do PAIGC...
Foto: © Helder Sousa (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72; mora actualmente em Setúbal) (1)
Só hoje, e já nem sei porquê, é que li o teu texto/carta, descrevendo para um interlocutor imaginário (o Tony Levezinho), os teus sentimentos aquando duma estadia de descanso, "desenfianço" ou lá o que fosse, em Bissau (2).
Tá certo, meu amigo, é natural esse (aquele) tipo de reacção, tanto mais de alguém que tinha por postura observar criticamente tudo o que o envolvia, incluindo questionar o porquê de todas as coisas que se iam vivendo.
Mas, olha, Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da "grande Lisboa", Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento....
Um abraço
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
É verdade o que tu dizes, Helder: Bissau sempre era maior que a nossa aldeia... e para muitos jovens portugueses a Guiné foi a grande aventura das suas vidas... Não vale a pena escamotear ou ignorar isto...
_______
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
(2) Vd. post de 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Dizia-se que o Che tinha estado na Guiné em 1964, o que não é verdade... De qualquer modo, desde 1966 os voluntários cubanos (médicos e conselheiros militares, numa primeira leva) estão directamente envolvidos na luta de guerrilha do PAIGC...
Foto: © Helder Sousa (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Helder Sousa (ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72; mora actualmente em Setúbal) (1)
Só hoje, e já nem sei porquê, é que li o teu texto/carta, descrevendo para um interlocutor imaginário (o Tony Levezinho), os teus sentimentos aquando duma estadia de descanso, "desenfianço" ou lá o que fosse, em Bissau (2).
Tá certo, meu amigo, é natural esse (aquele) tipo de reacção, tanto mais de alguém que tinha por postura observar criticamente tudo o que o envolvia, incluindo questionar o porquê de todas as coisas que se iam vivendo.
Mas, olha, Bissau era o que mais se aproximava à realidade da maioria daqueles jovens que estavam espalhados no TO do CTIG (era também assim que se dizia) e que, naqueles idos dos finais de 60, inícios de 70 - excepção feita aos habitantes da "grande Lisboa", Porto, Coimbra e limítrofes - não tinham a vivência de grandes metrópoles e para eles aquilo já era um grande movimento....
Um abraço
Hélder Sousa
2. Comentário de L.G.:
É verdade o que tu dizes, Helder: Bissau sempre era maior que a nossa aldeia... e para muitos jovens portugueses a Guiné foi a grande aventura das suas vidas... Não vale a pena escamotear ou ignorar isto...
_______
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)
11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira
(2) Vd. post de 14 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P2264: Blogue-fora-nada: O melhor de... (3): Carta de Bissau, longe do Vietname: talvez apanhe o barco da Gouveia amanhã (Luís Graça)
Guiné > Bissau > Pós-25 de Abrild e 1974 > Manifestações populares de regozijo mas também de contestação: na primeira foto, um manifestante empunha um cartaz onde se lê: "Abaixo a D.G.S." [a polícia política portuguesa]; na segunda foto, um dos manifestantes exibe um improvisado autocolante nas costas, onde se lê: "Viva o General António Spínola! Viva o Povo da Guiné!"... Quatro anos antes, em fevereiro de 1970, desenfiado e perdido em Bissau, eu estava longe de poder imaginar cenas como estas... (LG)
Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.
Nesta rúbrica Blogueforanada - O melhor de ... retomam-se alguns textos, da 1ª série do nosso blogue, que já estão esquecidos ou que são de mais difícil acesso, merecendo ser, por uma razão ou outra, relembrados... É o caso, por exemplo, deste que se hoje se republica, com algumas alterações (1)...
Reprodução do post de 8 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVIII: Cartas que nunca foram postas no correio (1): Em Bissau, longe do Vietname (Luís Graça)
Guiné > Zona leste > Bambadinca > 1969 > O ex-furriel miliciano Henriques, atirador de armas pesadas, da CCAÇ 12 (1969/71) : "Saigão, meu caro, é o último lugar do mundo onde eu poderia esquecer o Vietname!"...
Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados
1. Tenho algumas cartas que fui escrevendo, no meu Diário de um Tuga, dirigidas a amigos, mas que nunca cheguei a pôr no correio. Por lassidão. Por cansaço. Mas também por receio de correr riscos, desnecessários. Nunca soube até onde podia chegar o longo braço da PIDE/DGS e até onde me vigiava, nos vigiava. Também nunca fui, até hoje, à Torre do Tombo confirmar as minhas suspeitas... Sei, pelo que me disseram (mas nunca confirmei), que algumas pessoas com quem convivi em Bambadinca (um civil e um primeiro sargento) terão sido informadores da PIDE/DGS... Não me choca: este país era uma imensa bufaria...
Se bem me lembro, eu era o único tuga, da CCAÇ 12 (uma uniddae de intervenção constituída por soldados africanos, recrutados do chão fula), que recebia, em Contuboel e depois em Bambadinca, o Notícias da Amadora e o Comércio do Funchal, jornais conotados com a oposição ao regime de Salazar-Caetano. Por sua vez, o Fur Mil Marques (que irá cair, comigo, a 13 de Janeiro de 1970 numa mina A/C), recebia a Seara Nova. Não era nenhum crime de lesa-pátria nem punha o regime em perigo. Afinal, eram jornais sujeitos a censura (o famigerado exame prévio, que eufemismo!). Circulavam legalmente… e até chegavam à Guiné, a Contuboel e depois a Bambadinca, pelo Serviço Postal Militar (SPM).
Na época, poucos de nós se interessavam por política. De resto, quem se interessava por política era do reviralho, alguns grupos e grupúsculos (intelectuais e estudantis, católicos progressistas, organizações clandestinas, ligadas à esquerda e à extrema-esquerda…). Tínhamos todos nascido no Estado Novo e sido formatados, desde o berço, pelo Estado Novo… Quem se poderia interessar por política ? O termo tinha, de resto, uma conotação ameaçadora e perigosa...
Não obstante a efémera primavera marcelista e as mudanças de cosmética no aparelho repressivo do Estado Novo, o país começava, perigosamente, a descomprimir-se… A contra-cultura e a contra-ideologia do Maio de 68, lá fora, e da crise estudantil de 69, cá dentro, instalavam-se no quotidiano, nas empresas, nas redacções dos jornais, na universidade, nas instituições e até nas forças armadas… Um espírito de contestação e de subversão começava a ameaçar os aliceres (podres) do regime... Era o famoso espírito dissolvente, denunciado pelos espíritos mais lúcidos e ultraconservadores do regime.
Chegavam-me, à Guiné, alguns ecos dos movimentos estudantis e das lutas operárias de 1969 que eu apoiava apenas quixotescamente… Era preciso, todavia, ler as notícias nas entrelinhas. De qualquer modo, começava-se a perder as ilusões sobre a natureza do regime, sob o consulado de Marcelo Caetano (que tinha estado na Guiné em Abril de 1969, contrariamente ao seu antecessor que nunca posto os pés em África). E alguns de nós começavam a ter a consciência do beco sem saída a que nos conduzia a guerra colonial.
Na campanha eleitoral de Outubro de 1969, a oposição ao regime defende o direito à autodeterminação das colónias… Em 1966, eu já lutava pelo fim da guerra, mas sabia que lá iria parar, inelutavelmente... Que iria parar a Angola, a Moçambique ou à Guiné… Mas dos três pesadelos, a Guiné era o pior, para a malta da minha geração... Um primo meu tinha morrido na Guiné, em Ganjola, em 1966...
Em 1969 eu deveria ser dos poucos militares, em Bambandica, que estava inscritos nos cadernos eleitorais, tendo inclusive exercido o meu direito de voto… Eu, o meu capitão e poucos mais…
Sempre fui um outsider. Não estava ligado a nenhuma rede ou organização política da chamada oposição democrática. Por me manifestar, a título individual, contra a guerra colonial e expressar as minhas simpatias pelo PAIGC, chamavam-me o Soviético ou o camarada Sov, o que era pouco lisonjeiro para o meu espírito de independência e de recusa de alinhamento político-partidário...
A alcunha foi-me posta, creio eu, pelo Sargento Piça, o sargento mais bacano que eu conheci na tropa. Uma amizade feita de muitas cumplicidades e muitos copos. Era o nosso pai e o nosso irmão mais velho. Alentejano dos sete costados, devia andar pelos seus 37 anos, tantos quantos os do nosso capitão Brito, militar de carreira, três comissões, um bom homem…
Enfim, serve este preâmbulo para contextualizar o texto que se segue. L.G.
2. Publico hoje uma carta que escrevi, de Bissau, a um dos meus amigos... Ao fim de nove meses de comissão, desenfiei-me e fui até Bissau. Tínhamos uma espécie de acordo tácito, nós, os milicianos da CCAÇ 12 e o sargento Piça, que nos arranjava a guia de marcha. Todos os pretextos era bons, médicos ou não médicos, para se fugir do Vietname (ou seja, do mato): o mais vulgar, era “ir Bissau mudar o óleo” (sic), tratar dos dentes, marcar a tão sonhada viagem de férias à Metrópole, enfim, beber uns copos, comer umas ostras, espairecer as ideias, carregar as baterias…
Tínhamos chegado à Guiné em finais de Maio de 1969, no N/M Niassa. Ao fim de menos de nove meses, e de uma intensa actividade operacional, era já precária a nossa saúde física e mental…
Trinta e cinco anos depois, posso revelar a quem era destinada a carta que nunca chegou ao seu destino: era para o meu camarada e grande amigo Levezinho, o Tony Levezinho, furriel miliciano como eu e o Humberto Reis na CCAÇ 12…
O Tony fez há dias 58 anos, no dia 24 de Novembro [de 2005], no seu retiro algarvio, lá para os lados de Sagres… É uma surpresa que eu lhe faço, mesmo que ele estranhe o tom desta carta… É também um pequeno gesto de homenagem e de amizade, para com ele e a Isabel que eu, na época, só conhecia de fotografia. O Tony veio de férias à Metrópole, e casou, a meio da comissão, deixando a pobre da Isabel como potencial candidata a viúva... Felizmente, estão hoje os dois bem vivos e são um casal maravilhoso...
Bom, o Tony nunca suspeitaria da existência desta carta que eu, pela minha parte, imaginei mandar-lhe como se ele estivesse na… Metrópole, longe do Vietname…
É uma carta insólita para um camarada, no sentido etimológico do termo: o que dorme no mesmo quarto, na mesma camarata… (O que era literalmente o nosso caso). Devo dizer que já não me recordo de quantos dias andei desenfiado em Bissau, longe do Vietname.. Possivelmente uma semana, não mais… O Levezinho conhecia Bissau, tão bem ou tão mal como eu…Neste acaso, utilizei-o apenas como um simples interlocutor imaginário para uma conversa imaginária… Em condições normais, em Bambadinca, eu nunca faria (in)confidências deste género. Por pudor, simplesmente por pudor. Ou por falta de tempo...
Este texto está datado, vale o que vale e algumas das suas expressões mais duras podem ferir, mesmo ainda hoje, algumas sensibilidades… Em resumo, não poderia subscrevê-hoje, tal como foi escrito há trinta e cinco anos… Não sou mais o mesmo, ou pelo menos não gostaría de ser mais o Henriques... Mesmo assim, apeteceu-me divulgá-lo.
Julgo que pode ter algum valor documental para a sociologia histórica da guerra da Guiné. Revela sobretudo um estado de alma, o de um jovem, de 23 anos (já feitos em Janeiro de 1970!), apanhado na rede como um cão (como ele costumava dizer) e que lutava por sobreviver, física e mentalmente, a uma guerra com a qual ele não podia, de modo algum, estar de acordo.
Espero que os meus amigos e camaradas de tertúlia, a começar pelo Tony Levezinho, sejam condescendentes comigo.
Diário de um Tuga > Bissau, far from the Vietnam. 10 de Fevereiro de 1970:
Meu caro L [evezinho].
Gostaria de falar-te de Bissau, cidade lumpen, e da sua morna dolce vita, em termos não propriamente de desencanto mas de desmistificação, a ti que ficaste no Vietname… E com palavras que fossem como ácido sulfúrico na pele!... Receio, porém, que a minha crueldade não chegue a tanto (que a realidade, essa, é requintadamente sádica, grotesca, como as telas de Brueghel ou do Goya!) e que não passe, afinal, de azeda esta carta que daqui te envio, aproveitando o macaréu da minha neurastenia e uns fugazes dias de liberdade vigiada. Daqui, da esplanada do Pelicano, frente ao estuário do Geba, rio tragicamente belo, insubmisso como os povos que habitam as suas margens!...
Bissau: cidade-caserna, cidade-bordel
Bissau revisitada (1)… Devo, antes de mais, confessar-te que, se acaso fugi da Guiné por uns dias, nem por isso deixo de sentir-me perseguido pelo seu fantasma. Sabes como é (ou, pelo menos, deves imaginar): uma incómoda sensação de estado de sítio (que nada tem a ver com a insularidade – aliás, pouca gente sabe que Bissau fica numa ilha), agravada, para quem aqui vegeta, pelos fantasmas dos foguetões que ainda há tempos flagelaram Bolama, a antiga capital colonial…
Bissau, cidade-caserna, cidade-bordel!... Para quê falar-te do tráfego (e do tráfico!) de carne branca sem qualquer carga erótica para lá do fetiche da cor da pele ?! De qualquer modo, o contrabando do sexo é negócio que vai de vento em popa - aqui funcionam as leis do mercado, a procura é muita e a oferta é variável ! – a par da quinquilharia oriental e sobretudo dos produtos nipónicos que ultimamente invadiram os free-shops cá do sítio, desde os Gouveia aos Taufik Saad, para quem o amendoim, o coconote e os panos de chita já foram chão que deu uvas… Enfim, o comércio da guerra e a guerra do comércio, uma parelha que sempre se deu bem em toda a parte!
Para quê falar-te dessas prostitutas que naufragam em todos os portos onde cheire a merda, a morte e a soldadesca, fugidas da miséria das ilhas de Cabo Verde e dessas outras ilhas de Lisboa e do Porto ?! Ou ainda dessas fêmeas, balzaquianas, que os tropas do ar condicionado mandaram vir da Metrópole e que passam, sequestradas, nos Wolkswagen e nos Mercedes pretos, conduzidos por soldados africanos – insólita imagem de jovens eunucos negros, subsaarianos, guardando as velhas odaliscas nos haréns dos sultões das Arábias!...
Não suporto, aliás, a visão desse branco asséptico, dessa cor neutra das metropolitanas cujo tom de pele tem qualquer coisa de viscoso como as paredes dos hospitais… Receio até que esteja a tornar-me racista ao contrário ou a caminhar para a misogenia, como aquele prisioneiro que, ao sair de Auschwitz, não conseguiu sequer beijar a mulher porque tinha horror a tudo o que era humano…
Decididamente não queria falar-te de mulheres (e, muito menos, das brancas que, aqui, no cu do mundo, povoam os nossos delírios palúdicos)… Mas como não, se elas são o único antídoto contra a angústia da morte ?!... As paredes das nossas casernas no mato estão forradas de posters de gajas nuas, loiras, de olhos azuis, formas esculturais e pele acetinada, que é “para um gajo não se esquecer da carne branca” (sic)…
Em contrapartida, a pomada antivenéria (e, claro, a penicilina, em doses de milhões) é o que mais se gasta nos nossos postos de caserna. O bordel é talvez a única instituição castrense verdadeiramente respeitável… Mas se os franceses mandavam para a Argélia putas de campanha juntamente com os seus legionários, nós, tugas, não temos esse problema: fornicamos sem preconceitos raciais, ou não fossemos “um país, muitos povos, uma só Nação”!...
Imagina, pois, Bissau como estância de repouso do guerreiro. Há aqui, de certo, um equívoco, um tremendo equívoco por parte do médico miliciano, que até é um gajo porreiro, capaz de dar umas baixas aos operacionais, não obstante as ameaças veladas do comandante de sector… Mas eu estou farto dos gajos porreiros, como ele, que joga bridge com os cabrões dos oficiais superiores, apostados em ganhar a guerra (leia-se: os próximos galões) à custa de ti, de mim e da nossa tropa-macaca… É que Saigão, meu caro, é o último lugar do mundo onde eu poderia esquecer o Vietname!...
De qualquer modo, para além duns furtivos raides ao Pilão, as únicas operações que aqui se realizam ainda são do tipo gastronómico. Enfim, a nossa velha filosofia epicurista segundo a qual o melhor que se leva desta vida é ainda o que se come e o que bebe. Eis-nos, portanto, tristemente reduzidos ao ciclo vegetativo , ou seja, aos camarões, às ostras e às verdianas (sim, por que essas pretas de 1ª, na nossa linguagem machista e racista, também são coisas que se comem!)…
Do Pilão ao Chez Toi
Quanto ao Pilão, como escrever-to ? É a grande tabanca, o grande muceque de Bissau, um verdadeiro gueto, um enorme abcesso putrefacto produzido pelo colonialismo e pela guerra, e onde frequentemente explodem as tensões raciais e étnicas.
O Pilão é o lumpen… Daí as recomendações que te fazem ao chegares aqui - lembras-te ? -, à mistura com histórias mirambolantes, pouco ou nada verosímeis, de cabeças cortadas à catanada:
- Ao Pilão nunca vás sozinho, sobretudo à noite. Os gajos são todos turras. E com as verdianas, muito cuidado, menino, que as filhas da puta já nasceram todas esquentadas! - avisou-me um furriel fotocine, no Chez Toi, uma espelunca de 3ª classe com pretensões a night club, onde os tropas de galões dourados redescobrem o gosto civilizado do champagne francês (marado…), bebido com uma pin-up ao colo, como em qualquer bar rasca, de alterne, na Reboleira do J. Pimenta…
Descobri, entretanto, que o gajo – o fotocine – não passava de um proxeneta, nas horas vagas:
- É, claro, se quiseres, tens aqui coisa fina… Pró carote, já se vê..
Trata-se de um safado miliciano, como tantos outros que estão aqui na guerra do ar condicionado, afilhados de padrinhos com boas relações no Terreiro do Paço. Cabrões que conhecem a Guiné au vol d’oiseau, de helicóptero ou de Dornier. Felizardos que passam fins de semana nas praias da Ilha de Bubaque. Gajos para quem Buba ou Bambadinca, Guileje ou Piche são tudo cartões de visita exóticos: apenas sabem vagamente que fica lá no mato, no Vietname, de preferência longe de Bissau…
Os do Vietname, a espécie mais curiosa da fauna nocturna
Quanto ao resto, meu caro, é aquele ritmo burocraticamente febril duma cidadela militar, tradicional reduto da presença dos tugas desde finais do Séc. XVIII, simbolizado no forte da Amura. Há tropa por todo o lado, com particular notoriedade para a tropa especial aqui aquartelada – comandos, paras e fuzos – que entre duas viagens de helicóptero, ou de lancha de desembarque, na ociosidade destes dias e noites escaldantes de Bissau, se pavoneiam pelas esplanadas, de tomates inchados, apalpando o cu das bajudas, olhando por cima do crachá a tropa-macaca ou provocando-se mutuamente, por excesso de adrenalina ou por velhos ressentimentos corporativos…
O tráfego de viaturas e aeronaves é intenso mas só dificilmente nos apercebemos de que Bissau é o centro motor dum país em guerra. O melhor é tu postares à entrada do Hospital Militar e contares os helicópteros que aterram na placa…
À noite, entretanto, c’est le vide: os únicos noctívagos ainda são aqueles que vêm do mato e que sofrem da fobia do arame farpado: é vê-los até às tantas da madrugada, à mesa das esplanadas, empanturrando-se de ostras e de cervejas e contando histórias do mato. Mas em vão o guerreiro, em cura de repouso, busca outra atmosfera em que o oxigénio não esteja carregado das toxinas da angústia e da lassidão… A menos que, no dia seguinte, tenha passagem marcada para a Metrópole… Ele vem da guerra e para a guerra há-de voltar, de avião ou de barco, já que não há praticamente ligações terrestres de Bissau para o resto da Guiné. De qualquer modo, os que vêm do Vietname, ainda são as espécies mais curiosas da fauna humana que vagueia por esta capital-fantasma.
De facto, aqui desaguam todos os rios humanos da Guiné: a carne que já foi do canhão e agora é do bisturi (ou dos vermes, em caixões de chumbo, discretamente empilhados, à espera que o Niassa ou o Uíge ou o Alfredo da Silva os levem nos seus porões nauseabundos); os desenfiados, como eu, todos os que procuram safar-se do inferno verde, quanto mais não seja por uns dias ou até umas breves horas, que o tempo aqui conta-se, de cronómetro na mão, até à fracção de segundo; os prisioneiros de guerra, esfarrapados, andrajosos, a caminho da Ilha das Galinhas; as populações do interior desalojadas pela guerra; os jovens recrutados para a nova força africana; enfim, os criminosos de guerra como o capitão P. que está aqui detido no Depósito Geral de Adidos à espera de julgamento em tribunal militar – suponho eu -, juntamente com um furriel miliciano da sua companhia. Ambos estão implicados em vários casos, muito falados, de violação e assassínio a sangue frio de bajudas, além da tortura e liquidação de suspeitos…
Já nem sequer se pode tocar no cabelo de um preto (Capitão P.)
A propósito, como os tempos mudam, meu caro!.. Em conversa com um sargento de cavalaria que teve o Velho como comandante de batalhão no Norte de Angola – conversa a que ocasionalmente assisti -, o Capitão P. (que eu não sei, nem me interessa saber, se é miliciano, ou se é do quadro, ça c'est m´égale!), mostrava-se vexado (o termo é dele) pelo facto do então tenente coronel ameaçar executar, in loco, sumariamente os guias nativos que mostrassem a mais pequena hesitação na escolha dos trilhos ou os carregadores que deliberadamente deitassem fora a água dos jericãs...
- E agora, como Com-Chefe na Guiné, não permitir sequer que se toque no cabelo de um preto!
Bissau, enfim, porto de fuga e salvação!... Embora não se possa exactamente prever até onde tudo isto irá parar, com a actual escalada da guerra, de parte a parte, aqui tu tens ao menos a reconfortante sensação de teres as malas sempre feitas, pronto a partir em qualquer altura… Mas nada te garante que embarques a tempo: é que estamos todos metidos num atoleiro e em vias de perder o último avião!...
Make love, not war. Um abraço. Até mais logo. Talvez apanhe o barco da Gouveia, amanhã. Já estou farto desta merda.
Henriques (*)
_________
(*) ... Luís Graça, ex-furriel miliciano da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts anteriores desta nova série:
11 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1945: Blogue-fora-nada: O melhor de ... (1): Nunca contei uma estória de guerra aos meus filhos (Virgínio Briote)
23 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1987: Blogue-fora-nada: O melhor de... (2): Apanhados pelo macaréu e mortos no Rio Geba (Sousa de Castro, CART 3494, Xime, 1972)
(2) Vd. a série Estórias de Bissau:
11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)
11 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1267: Estórias de Bissau (2): A minha primeira máquina fotográfica (Humberto Reis); as minhas tainadas (A. Marques Lopes)
14 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1278: Estórias de Bissau (3): éramos todos bons rapazes (A.Marques Lopes / Torcato Mendonça)
17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1286: Estórias de Bissau (4): A economia de guerra (Carlos Vinhal)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1288: Estórias de Bissau (5): saudosismos (Sousa de Castro)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1289: Estórias de Bissau (6): os prazeres... da memória (Torcato Mendonça)
18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1290: Estórias de Bissau (7): Pilão, os dez quartos (Jorge Cabral)
24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)
22 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1391: Estórias de Bissau (9): Uma noite no Grande Hotel (José Casimiro Carvalho / Luís Graça)
2 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1484: Estórias de Bissau (10): do Pilão a Guidaje... ou as (des)venturas de um periquito (Albano Costa)
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
31 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1639: Estórias de Bissau (12): uma cidade militarizada (Rui Alexandrino Ferreira)
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2263: Álbum das Glórias (34): Fotografias do Américo Estanqueiro na Fundação Mário Soares (Virgínio Briote / Fernando Barata)
Lisboa > Fundação Mário Soares > Folheto da Exposição Fotográfica do Américo Estanqueiro, uma obra que retrata em imagens o que a CCAÇ 2700 passou pelas terras de Dulombi/Galomaro, entre 1970 e 1972.
1. Comentário do co-editor vb:
Esteve lá muita gente, alguns muito conhecidos, outros nem tanto (1): o major Tomé, o historiador Fernando Rosas, o Dias da Cunha, ex-presidente do Sporting Club de Portugal, o Helder de Jesus (o homem das transmissões do QG, que no início dos anos 70 ouvia tudo o que podia, fossem relatos nossos ou do PAIGC), o Teco e o Guedes, ambos da CCAÇ 726 (a que ergueu o aquartelamento de Guileje), donos de um espólio de imagens ainda por mostrar ao público e alguns camaradas da CCAÇ 2700, que comentavam com pormenor uma ou outra foto com o Américo Estanqueiro.
co-editor: vb
___________
2. Uma pequena amostra da Exposição > Texto do Fernando Barata
Às 21h30 de de 30 de Abril 1970 fundeámos ao largo de Bissau. A 1 de Maio iniciou-se o transbordo através do navio Rita Maria.
A 10 de Agosto 1970, próximo do Jifim, uma viatura acciona uma mina A/C, a qual provocou a morte, já no Hospital de Bissau, do 1.º Cabo António Carrasqueira e a morte imediata de 4 milícias (urnas destinavam-se aos milícias).
Ainda hoje me recordo, ao aproximarmo-nos do quartel, ser questionado pelo condutor que conduzia a viatura que transportava os corpos, se deveríamos entrar no quartel, tal era o estado em que os milícias se encontravam.
O descanso do guerreiro numa das 44 operações realizadas ao longo daqueles quase 2 anos de actividade, com nomes de código que iriam desde "Menina Rabina" até "Cidade Maravilhosa".
Fernando Barata
Fotos: Arménio Estanqueiro (2007). Direitos reservados (com a devida vénia...)
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Nota de vb:
(1) como oportunamente ontem, duas horas depois ou nem tanto, o Luís Graça retratou no
post (de 12 de Novembro de 2007) > Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares
Guiné 63/74 - P2262: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra (1): Castro Verde (16/11) e Coimbra (4/12) (Diana Andringa / Fernando Barata)
Flora Gomes, cineasta guineense, um dos mais conceituadops do cinema africano actual. É co-realizador, com a portuguesa Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande, do filme-documentário As Duas Faces da Guerra (Portugal/Guiné, 2007)
1. Mensagem da Diana Andringa, de 9 de Novembro último:
Assunto - As Duas Faces da Guerra, em Castro Verde
Não sei se pode interessar algum dos bloguistas, mas... o nosso documentário vai ser exibido dia 16 [de Novembro], às 21H30, no Anfiteatro do Forum Municipal de Castro Verde.
Abraço, Diana
2. Mensagem de L.G., enviada através da tertúlia, no dia de São Martinho:
Malta (alentejana, sobretudo...):
Eis uma boa notícia... Quem puder ir a Castro Verde... [ Fui lá muitas vezes, quando fiz um estudo sobre a Mina da Somincor]...
Mas vamos ver se o filme da Diana / Flora (e que também é um bocado nosso e do IN de ontem, - que raio de nome, IN, tem a razão a Diana, ao pô-lo entre parênteses) chega também a outros sítios do nosso Portugal...
Vou pedir à Diana para nos avisar quando ele passar na RTP, como esperamos que isso venha a acontecer (em breve ?)...
Saudações para toda a Tabanca Grande, em dia de São Martinho. Luís
3. Resposta (ou melhor, pergunta, rápida, do Fernando Barata:
Luigi... E COIMBRA??? (tu, também, cá vieste muitas vezes estudar as noites da Queima...)
Aquele abraço, F. Barata
4. Resposta, quase instantânea da Diana Andringa (cque é a co-realizadora do filme):
Calma! Se arranjarem uma sessão, como fizeram em Castro Verde, leva-se o filme.
Diana
5. Cheque-mate à rainha, por parte do estratego de Coimbra:
Luís: A isto chama-se eficiência!
Documentário: As Duas Faces da GuerraData: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Luís
A isto chama-se eficiência.
Documentário: "As Duas Faces da Guerra"
Data: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia.
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Calma! Se arranjarem uma sessão, como fizeram em Castro Verde, leva-se o filme.
Diana
5. Cheque-mate à rainha, por parte do estratego de Coimbra:
Luís: A isto chama-se eficiência!
Documentário: As Duas Faces da GuerraData: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Luís
A isto chama-se eficiência.
Documentário: "As Duas Faces da Guerra"
Data: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia.
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal
Aquele abraço
F. Barata
Guiné 63/74 - P2261: Vídeos da guerra (5): Nos bastidores da Op Paris Match: as (in)confidências de Marcelo Caetano (Manuel Domingues)
1. Mensagem de Manuel Domingues, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856 (Nova Lamego, 1965/67) (1)
Caros tertulianos:
Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (2), posso adiantar o seguinte: Partipei em Setembro e Outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match e um do Figaro.
O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa Point-Contrepoint (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre (3).
Do outro pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.
A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.
O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empegue o montante gasto no apoio ao Programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês.
O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (*).
O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.
Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Fígaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.
Um abraço cordial do
Manuel Domingues
(*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista em Uma Campanha na Guiné, do Autor.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)
(...) Não bastava ser bom militar. Era também necessário estar nas boas graças da PIDE. A maior parte dos oficiais milicianos, que não aspirava a ser funcionário público, podia encontrar refúgio na sua condição temporária de militar, mas à saída, a PIDE esperava por ele para acertar contas!" (...).
18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXI: Bibliografia de uma guerra (5)
(..) Manuel Domingues, nascido em Castro Laboreiro, em 1941, frequentou o Curso de Rangers e fez parte do BCAÇ 1856 (1965/67). Como Alferes Miliciano, foi Comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações.
O BCAÇ 1856 esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamegoe as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli; em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
É Autor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005).
(2) Vd. posts anteriores:
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)
(3) Nota autobiográfica de Manuel Alegre:
(i) Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda;
(ii) Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil;
(iii) Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado [em 1958];
(iv) A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha, com Melo Antunes;
(v) Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar;
(vi) É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses;
(vii) Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso;
(viii) Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964;
(ix) Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN); aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade;
(x) Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas;
(xi) Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade;
(xii) Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril. (...)
Caros tertulianos:
Relativamente ao filme da ORTF e à reportagem do Paris Match (2), posso adiantar o seguinte: Partipei em Setembro e Outubro de 1969 no apoio à equipa da ORTF que realizou o filme e que incluiu Portugal e o Ultramar, com deslocações do Minho a Timor, captando imagens em todas as possessões ultramarinas. Esta equipa englobava cerca de uma dúzia de pessoas, entre as quais uma jornalista do Paris Match e um do Figaro.
O objectivo inicial era recolher material para incluir no programa Point-Contrepoint (tipo Prós e Contras) em que de um lado se afirmava que Portugal era uma potência colonialista, que explorava os povos coloniais que lutavam pela sua libertação. Esta ideia era suportada em reportagens e depoimentos fornecidos pelos movimentos de libertação a que se juntavam alguns opositores do regime, no exílio, entre os quais Manuel Alegre (3).
Do outro pretendia-se refutar esta ideia, afirmando a ideia de que o Ultramar fazia parte integrante de Portugal e mostrando o grau e ritmo de desenvolvimento que se estava a processar, sobretudo em Angola e Moçambique.
A equipa responsável pelo programa, durante as negociações, pôs como condição poder verificar com total liberdade a realidade em todos os territórios, sobretudo na Guiné, Angola e Moçambique, onde se desenvolviam as lutas de libertação.
O Governo Português aceitou, apenas impondo como condição que o elemento que tinha apoiado a equipa nas suas deslocações em Portugal e no Ultramar estivesse presente nos estúdios da ORTF para assistir à montagem do filme, evitando surpresas que já tinham acontecido em programas idênticos nos Estados Unidos onde a ideia de confronto acabou por ser subvertida e resultou num manifesto antiportuguês. Portanto, e em resumo, tive a oportunidade de acompanhar todo o processo.
Assim, no dia da assinatura do Armistício, 11 de Novembro de 1969 [, feriado nacional em França, comemorativo do fim da I Grande Guerra Mundial, 1914-1918], o programa foi para o ar. O grau de imparcialidade, relativo, conferiu-lhe um sucesso na crítica francesa da especialidade e alguma satisfação ao Governo Português de então que pela primeira vez não deu por mal empegue o montante gasto no apoio ao Programa, suportando o custo das viagens e estadia de todos os elementos, durante cerca de um mês.
O próprio Marcello Caetano quis ver a cópia que eu tinha trazido e foi durante a sessão, quando viu a cena da emboscada na Guiné que pulverizou dois dos elementos das NT, pronunciou para mim a esperançosa frase:
- Temos que acabar com esta guerra (*).
O impacto na opinião francesa e o elevado volume de material recolhido nos próprios locais levou os produtores da ORTF a fazerem vários documentários.
Já não disponho do exemplar do Paris Match nem da cópia do filme, mas ainda disponho da reportagem do Fígaro da mesma altura, onde o autor define Spínola como um misto de Goering e de Marquês de Cuevas, reportagem essa que vou tentar digitalizar e que enviarei depois para os nossos tertulianos.
Um abraço cordial do
Manuel Domingues
(*) Vd: Novo Contacto com a Guiné: a esperança marcelista em Uma Campanha na Guiné, do Autor.
_________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts de:
4 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXVI: A vingança da PIDE (Manuel Domingues)
(...) Não bastava ser bom militar. Era também necessário estar nas boas graças da PIDE. A maior parte dos oficiais milicianos, que não aspirava a ser funcionário público, podia encontrar refúgio na sua condição temporária de militar, mas à saída, a PIDE esperava por ele para acertar contas!" (...).
18 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXI: Bibliografia de uma guerra (5)
(..) Manuel Domingues, nascido em Castro Laboreiro, em 1941, frequentou o Curso de Rangers e fez parte do BCAÇ 1856 (1965/67). Como Alferes Miliciano, foi Comandante do Pelotão de Reconhecimento e Informação, tendo desempenhado as funções de oficial de Informações e, durante alguns meses, a de Oficial de Operações.
O BCAÇ 1856 esteve no Leste, Sector L3, com o Comando e CCS sediados em Nova Lamegoe as companhias operacionais em Madina do Boé (CCAÇ 1416, com um destacamento em Béli; em Bajocunda (CCAÇ 1417, com um destacamento em Copá); e em Buruntuma (CCAÇ 1418, com um destacamento em Ponte Caiúm).
É Autor do livro Uma Campanha na Guiné (com estórias e testemunhos de vários camaradas do batalhão) bem como de O Pegureiro e o Lobo – Estórias de Castro Laboreiro (2005).
(2) Vd. posts anteriores:
16 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1958: Vídeos da guerra (1): PAIGC: Viva Portugal, abaixo o colonialismo (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2249: Vídeos da guerra (2): Uma das raras cenas de combate, filmadas ao vivo (ORTF, 1969, c. 14 m) (Luís Graça / Virgínio Briote)
8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)
11 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)
(3) Nota autobiográfica de Manuel Alegre:
(i) Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de Maio de 1936 em Águeda;
(ii) Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um activo dirigente estudantil;
(iii) Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado [em 1958];
(iv) A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma ocupação da ilha, com Melo Antunes;
(v) Em 1962 é mobilizado para Angola, onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar;
(vi) É preso pela PIDE em Luanda, em 1963, durante 6 meses;
(vii) Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira, António Jacinto e António Cardoso;
(viii) Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964;
(ix) Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN); aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade;
(x) Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou dactilografadas;
(xi) Poemas seus, cantados por Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade;
(xii) Regressa finalmente a Portugal em 2 de Maio de 1974, dias após o 25 de Abril. (...)
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2260: Álbum das Glórias (33): Inauguração da exposição de fotografia do Américo Estanqueiro, hoje, na Fundação Mário Soares
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O Américo Estanqueiro, ex-Fur Mil da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) autografando o catálogo da sua exposição para o antigo camarada de armas Joaquim Alves, ex-Fur Mil Enf.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O fotógrafo Américo Estanqueiro, à esquerda, conversando com o Gomes, ex-Fur Mil Mecânico Auto, da CCS do BCAÇ 2912, sediada em Galomaro (1970/72).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Camaradas do Américo Estanqueiro da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) : da esquerda para a direita: o Manuel Maria Brunheta (ex-Sold Trms), o Joaquim Alves (ex-Fur Mil Enf), Carlos Gomes (ex-Cap QP, hoje coronel na reforma), o Manuel Ravasco (ex-Alf Mil) e o Gomes (este, já acima referido, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS do BCAÇ 2912).
Muito falado, por todos estes camaradas e pelo próprio Américo Estanqueiro, foi o nosso amigo Fernando Barata, ex-Alf Mil da companhia (Vive em Coimbra, não tendo podido estar presente neste acontecimento que foi gratificante para todos).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O nosso co-editor Virgínio Briote em conversa com o Mário Tomé (mais conhecido como o major Tomé, hoje coronel na reforma, e que teve duas comissões na Guiné, a última das quais como capitão, comandante da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72), unidade a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil). Eu não conhecia o Mário Tomé, pessoalmente. Tive oportunidade de lhe falar do Paulo e do nosso blogue, sobre o qual mostrou muito interesse e prometeu ir visitar.
Por detrás do Virgínio, vê-lhe a sua simpatiquíssima esposa, que é professora de português na Escola Secundária Passos Manuel e que o acompanha sempre nestas actividades... tertulianas. Por isto e por tudo, ela merecia uma foto como devia ser... Mas desta vez o fotógrafo falhou... I'm sorry, lady...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > A nossa amiga Diana Andringa, jornalista e co-realizador do filme As Duas Faces da Guerra (2007), que é, além disso, esposa do Dr. Alfredo Caldeira, responsável, entre outras funções, pelos arquivos da FMS... (A propósito, em conversa com ele, mostrou-se aberto à possibilidade de se realizar outras exposições a partir do espólio fotográfico de alguns membros da nossa tertúlia: falei-lhe em especial do álbum - que considero notável - do Idálio Reis sobre Gandembel / Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969)...
Aproveitei para tirar à Diana uma chapa para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné... Há tempos havia-a convidado para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Hoje obtive a sua anuência, o que muito me/nos honra... Mas, para ela, também é um prazer passar a ser considerada, de pleno direito, uma "bloguista", leia-se, membro do nosso blogue... A propósito do seu filme, deu-me promessas de boas notícias (que eu ainda não estou autorizado a divulgar)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Inauguração da exposição fotográfica do nosso camarada António Estanqueiro > Tendo como pano de fundo, a fotografia-ícone da exposição (a partida, aos trambolhões, do pessoal da CCAÇ 2700, de Bissau até ao Xime, em LDG), vemos no lado esquerdo o nosso amigo e camarada de tertúlia Helder de Sousa e, à direita, o Mário Tomé...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Na inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro estavam muitas caras conhecidas da nossa vida social e política, a começar pelo ex-Presidente da República Mário Soares, o sempre activo e afável presidente da FMS... Mas também muitas caras femininas, simpáticas... Para além de amigas e familiares do Estanqueiro, registe-se aqui a presença da esposa do Prof Doutor Fernando Rosas, a Raquel Bagulho - que é minha / nossa amiga de longa data (à sua direita, a Maria Alice, minha mulher)... Ao fundo, vêm-se fotos da exposição.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > De novo o Virgínio Briote e o Mário Tomé... (que o Briote terá conhecido ainda como tenente, na Guiné)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes (que depois foi camarada do Briote nos comandos), é especialista em dioramas... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores.
Comentário de L.G.:
O Américo agradeceu-nos muito o destaque que demos a este evento no nosso blogue. É homem afável e simples. Gostei de o conhecer, embora tivesse sido escasso o tempo de conversa, por razões óbvias.
Ele mora em Queluz. É natural do concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Nasceu em 1947.
Embarcou para a Guiné no N/M Carvalho Araújo em 24 de Abril de 1970. Ao longo da sua vida militar fez fotografia com objectivos comerciais. Logo no barco, montou um laboratório. E em Dulombi comprou - supremo luxo! - um gerador.
O Estanqueiro foi o fotógrafo da companhia. Ainda hoje continua a trabalhar em fotografia, depois de uma vida algo atribulada que o levou inclusive à emigração na Venezuela. Durante o serviço militar, acumulou mais de 6 mil negativos que, infelizmente, foram destruídos.
A sua exposição ficará aberta ao público até ao final do ano. O catálogo com textos de Mário Soares, de Alfredo Caldeira e de José Pessoa, além das fotografias do Américo Estanqueiro, custa 10 €.
Do texto do José Pessoa - A Viagem - destaco o último parágrafo:
Afinal, a viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias.
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
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Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O fotógrafo Américo Estanqueiro, à esquerda, conversando com o Gomes, ex-Fur Mil Mecânico Auto, da CCS do BCAÇ 2912, sediada em Galomaro (1970/72).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Camaradas do Américo Estanqueiro da CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72) : da esquerda para a direita: o Manuel Maria Brunheta (ex-Sold Trms), o Joaquim Alves (ex-Fur Mil Enf), Carlos Gomes (ex-Cap QP, hoje coronel na reforma), o Manuel Ravasco (ex-Alf Mil) e o Gomes (este, já acima referido, ex-Fur Mil Mec Auto da CCS do BCAÇ 2912).
Muito falado, por todos estes camaradas e pelo próprio Américo Estanqueiro, foi o nosso amigo Fernando Barata, ex-Alf Mil da companhia (Vive em Coimbra, não tendo podido estar presente neste acontecimento que foi gratificante para todos).
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > O nosso co-editor Virgínio Briote em conversa com o Mário Tomé (mais conhecido como o major Tomé, hoje coronel na reforma, e que teve duas comissões na Guiné, a última das quais como capitão, comandante da CCAV 2712 (Olossato e Nhacra, 1970/72), unidade a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil). Eu não conhecia o Mário Tomé, pessoalmente. Tive oportunidade de lhe falar do Paulo e do nosso blogue, sobre o qual mostrou muito interesse e prometeu ir visitar.
Por detrás do Virgínio, vê-lhe a sua simpatiquíssima esposa, que é professora de português na Escola Secundária Passos Manuel e que o acompanha sempre nestas actividades... tertulianas. Por isto e por tudo, ela merecia uma foto como devia ser... Mas desta vez o fotógrafo falhou... I'm sorry, lady...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > A nossa amiga Diana Andringa, jornalista e co-realizador do filme As Duas Faces da Guerra (2007), que é, além disso, esposa do Dr. Alfredo Caldeira, responsável, entre outras funções, pelos arquivos da FMS... (A propósito, em conversa com ele, mostrou-se aberto à possibilidade de se realizar outras exposições a partir do espólio fotográfico de alguns membros da nossa tertúlia: falei-lhe em especial do álbum - que considero notável - do Idálio Reis sobre Gandembel / Balana, Abril de 1968/Janeiro de 1969)...
Aproveitei para tirar à Diana uma chapa para a nossa fotogaleria dos amigos e camaradas da Guiné... Há tempos havia-a convidado para fazer parte da nossa Tabanca Grande. Hoje obtive a sua anuência, o que muito me/nos honra... Mas, para ela, também é um prazer passar a ser considerada, de pleno direito, uma "bloguista", leia-se, membro do nosso blogue... A propósito do seu filme, deu-me promessas de boas notícias (que eu ainda não estou autorizado a divulgar)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Inauguração da exposição fotográfica do nosso camarada António Estanqueiro > Tendo como pano de fundo, a fotografia-ícone da exposição (a partida, aos trambolhões, do pessoal da CCAÇ 2700, de Bissau até ao Xime, em LDG), vemos no lado esquerdo o nosso amigo e camarada de tertúlia Helder de Sousa e, à direita, o Mário Tomé...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Na inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro estavam muitas caras conhecidas da nossa vida social e política, a começar pelo ex-Presidente da República Mário Soares, o sempre activo e afável presidente da FMS... Mas também muitas caras femininas, simpáticas... Para além de amigas e familiares do Estanqueiro, registe-se aqui a presença da esposa do Prof Doutor Fernando Rosas, a Raquel Bagulho - que é minha / nossa amiga de longa data (à sua direita, a Maria Alice, minha mulher)... Ao fundo, vêm-se fotos da exposição.
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > De novo o Virgínio Briote e o Mário Tomé... (que o Briote terá conhecido ainda como tenente, na Guiné)...
Lisboa > Fundação Mário Soares > 12 de Novembro de 2007 > Um encontro inesperado: o Virgínio Briote com o Teco e o Guedes... Estes dois últimos estiveram em Guileje, na CCAÇ 726, sob o comando do Nuno Rubim... Voltarama agora a colaborar juntos no projecto Guileje... Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726) ... O Teco, que é natural de Angola, tem um fabuloso arquivo fotográfico desse tempo (mais de 500 fotos); o Guedes (que depois foi camarada do Briote nos comandos), é especialista em dioramas... O Nuno Rubim tem neles dois grandes amigos e colaboradores.
Comentário de L.G.:
O Américo agradeceu-nos muito o destaque que demos a este evento no nosso blogue. É homem afável e simples. Gostei de o conhecer, embora tivesse sido escasso o tempo de conversa, por razões óbvias.
Ele mora em Queluz. É natural do concelho de Alvaiázere, distrito de Leiria. Nasceu em 1947.
Embarcou para a Guiné no N/M Carvalho Araújo em 24 de Abril de 1970. Ao longo da sua vida militar fez fotografia com objectivos comerciais. Logo no barco, montou um laboratório. E em Dulombi comprou - supremo luxo! - um gerador.
O Estanqueiro foi o fotógrafo da companhia. Ainda hoje continua a trabalhar em fotografia, depois de uma vida algo atribulada que o levou inclusive à emigração na Venezuela. Durante o serviço militar, acumulou mais de 6 mil negativos que, infelizmente, foram destruídos.
A sua exposição ficará aberta ao público até ao final do ano. O catálogo com textos de Mário Soares, de Alfredo Caldeira e de José Pessoa, além das fotografias do Américo Estanqueiro, custa 10 €.
Do texto do José Pessoa - A Viagem - destaco o último parágrafo:
Afinal, a viagem só termina quando se arrumam as bagagens e as memórias.
Fotos: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.
____________
Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)
Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Vitor Condeço (ex-Furriel Mil, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) > Catió, Quartel > 1968> Foto 36 > "Um Pôr-do-sol visto do edifício do Comando na direcção à Porta de Armas e depósito de géneros".
Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviada em 7 de Novembro último:
Caríssimo Luís
As bolandas complicadas da vida só hoje me deixaram ver o post de 17 de Julho último em que publicaste o meu Embondeiro do Cachil (2).
As duas palavras que me dedicaste comoveram-me. Pela sinceridade. Obrigado. Por essa razão, ficou por esclarecer, da minha parte, a dúvida que me colocaste. (Sobre se é Embondeiro ou Poilão?) Não foi preciso, porque a explicação apareceu lá, muito clara e fundamentada.
Encontrei, entretanto, um poema que escrevi, quando da morte do nosso camarada alferes Mário Sasso, da minha companhia CCAÇ 728, na operação do Cantanhez. Aqui to deixo para publicares, em sua homenagem, se o entenderes.
O nosso/teu Blogue...continua altamente frutuoso e interessante. Parabéns ao seu mentor e novos colaboradores.
2. Comentário de L.G.:
Mesmo com as "bolandas complicadas da vida" (as bolandas e as bolanhas, acrescento eu), tu conseguistes parar para escrever este terno e fraternal poema a um amigo caído em combate no longínquo Dar es Salam, mata do Cantanhez, Guiné-Bissau, em 5 de Dezembro de 1965, a milhares de quilómetros de Lisboa, Portugal, a norte, onde tu hoje vives, ou da Beira, Moçambique, a sudeste, onde o Mário nasceu...
Só um camarada de guerra consegue escrever, nem lamechices nem sem falso pudor, um poema destes a outro camarada de guerra... Todos nós trouxemos, às costas da nossa memória, os amigos que perdemos lá em baixo... E muitos de nós ainda não conseguiram fazer o luto dessas perdas, vivendo com um contraditório sentimento de culpa a sua tão injusta morte... Porquê ele, e não eu ?...
Joaquim, eu sei que Berlim te chama de vez em quando, mas deixa-me dizer-te que tenho sentido a tua falta no nosso blogue... A tua grandeza de alma, a tua estatura moral e o teu talento literário fazem-nos falta nesta nossa (e tua) Tabanca Grande... Até sempre, Mário, até sempre, Joaquim!
3. Poema > Em memória do Alferes Sasso (3)
por J.L. Mendes Gomes
Estou a ver-te,
no regresso:
Alto, esguio,
óculos escuros.
Tato claro, de corte fino.
Tão vaidoso,
pelas tardinhas de Domingo,
calçada velha acima,
até ao quartel
da velha Évora.
De braço dado,
num corpo só,
com tua moça,
formosa companheira,
boa,
das noitadas do fado,
castiço,
de Lisboa...
de ambos vossa amante.
Que encanto!
Parecieis mesmo
um casal americano,
tranquilo e tão ufano,
pelo meio do casario branco,
do coração alentejano!...
Que alegria!...
Que vontade de viver
de ti transparecia
pela semana inteira,
de olhos presos
à tua amada!...
Eras sempre o primeiro:
nas paradas,
secas, militares
e nos crosses atletas,
sem parar,
pelas estradas ermas,
e sem fim,
de sobreiros tristes,
através dos montes
do Alentejo...
Nos desafios permanentes,
pronto e voluntário,
prós exercícios
mais malucos....
Que pavor!...
da maluqueira militar.
Ora endiabrado trepador
daquele palanque,
alto e estreito,
de cimento...
ora dependurado,
na vertigem alucinante
da corda e da roldana...
Nas caminhadas nocturnas,
por aquele mundo,
de eremitério,
prás emboscadas perdidas,
nas veredas, ao luar,
prós golpes de mão,
temerosos, traiçoeiros,
mesmo a fingir,
tu levavas tão a sério...
Que exemplo vivo,
de vontade louca
de viver
o dia a dia,
tu me deste,
sem saberes!...
Quiseram as sortes
pra ti malvadas,
levar-nos a todos,
p'rá Guiné!...
Que romaria e arraial
havia sempre
à tua beira!...
Com a viola e o acordeão!
Tua voz rouca,
bem timbrada,
a retinir,
os fados todos
de Lisboa,
tão saudosa...
fazia dó!
Encantadora companheira
nas noitadas solitárias,
do Cachil e Catió...
Como lembro
tuas horas de desespero,
que vivias,
tão sincero,
em filosofia permanente,
à procura do sentido
da nossa dor,
e nossa vida, sobre a terra...
Que sentidos
desabafos me fizeste,
nas vésperas
da tua hora derradeira,
tão a sós,
em noitada de cavaqueira,
tão fraterna,
num duelo filosófico
e porfia verdadeira...
olhos presos,
bem abertos,
às belezas de paraíso,
das escravizadas terras africanas
e ao futuro da vida
que tanto amavas!...
Como suspiravas
encontrar
o caminho certo,
iluminado
do viver...
Eis que
no alvorecer duma aurora,
de suave e fresca neblina,
quando o sol
nascia em liberdade,
a oferecer mais um dia
ao mundo
e à desavinda humanidade,
depois duma noite,
sem sentido,
inteirinha
a caminhar,
por entre matas densas
das terras de Dar es Salam... (4)
adormeceste,
para sempre,
como herói...
no regaço
dos teus irmãos,
ali ao pé!...
Nunca mais te esqueceremos!...
Ó eterno amigo,
Ó companheiro
Sempre nosso!...
Até à vista!
Querido Sasso!...
__________________
Notas de L.G.:
(1) Sobre a história da CCAÇ 728, vd. os seguintes posts:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
(2) Vd. post de 17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)
(3) Mário Henriques dos Santos Sasso, Alferes Miliciano, do Exército, morreu em combate na Guine, em 5 de Dezembro de 1965 (Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar)
Sobre o nosso camarada, vd. os seguintes posts:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
(...) Este é o modesto contributo de um combatente da Guiné, um canário de caqui amarelo, nos anos 64-66. É a minha perspectiva pessoal e muito restrita. Feita de memória, e por isso, sem pretensões de exactidão histórica.
A primeira parte sai dum texto romanesco, em que quero homenagear a memória do meu camarada alferes Mário Sasso. A segunda é extraída duma rudimentar autobiografia, que eu já tinha escrevinhado para os meus netos. (...)
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
(...) O Mário Sasso, um moçambicano (da Beira) radicado há uns bons anos, na boémia e no fado alfacinha, de Lisboa, era o comandante do 1º pelotão. Tinha feito um bom curso em Mafra e, por feitio, tinha de ser o melhor em tudo. Brioso, procurava ter uma conduta semelhante à figura.
Quis ingressar nos comandos, mas o coração não lhe aguentaria o esforço.Versátil e sensível, tocava viola e acordeão e cantava o fado castiço, ajudado por uma voz rouca, mas afinada. Era o mais citadino dos quatro [alferes da CCAÇ 728]. (...)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
(...) A CCAÇ 728, aproveitando a maré-cheia, saíu, à noitinha, do cais de Catió a bordo de uma LDM; atravessou o estuário do Cacine e foi deixada, nas primeiras horas da madrugada, algures, em terra firme, do território inimigo.
Todo o cuidado era pouco. Tocou ao meu pelotão seguir à frente, logo depois do destemido grupo indígena do João Bacar Jaló.
Caminhou-se toda a noite; quando o dia começava a querer alvorecer, estávamos a atravessar a zona, crítica, de Dar es Salam [ou Darsalam].
De repente, alguns tiros caíram sobre o pelotão que seguia na cauda da fila, comandado pelo alferes Sasso.
A resposta foi pronta e, depressa, tudo se calou.
À frente, nada se tinha passado.Só quando o dia nasceu e um helicóptero chegou, tivemos conhecimento de que o Mário Sasso tinha sido atingido com um tiro nas costas que lhe vasou o pulmão e coração. A esperança de sobreviver era pouca… e assim foi. (...)
(4) Ou Darsalam, segundo a carta de Cacine.
Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1), enviada em 7 de Novembro último:
Caríssimo Luís
As bolandas complicadas da vida só hoje me deixaram ver o post de 17 de Julho último em que publicaste o meu Embondeiro do Cachil (2).
As duas palavras que me dedicaste comoveram-me. Pela sinceridade. Obrigado. Por essa razão, ficou por esclarecer, da minha parte, a dúvida que me colocaste. (Sobre se é Embondeiro ou Poilão?) Não foi preciso, porque a explicação apareceu lá, muito clara e fundamentada.
Encontrei, entretanto, um poema que escrevi, quando da morte do nosso camarada alferes Mário Sasso, da minha companhia CCAÇ 728, na operação do Cantanhez. Aqui to deixo para publicares, em sua homenagem, se o entenderes.
O nosso/teu Blogue...continua altamente frutuoso e interessante. Parabéns ao seu mentor e novos colaboradores.
2. Comentário de L.G.:
Mesmo com as "bolandas complicadas da vida" (as bolandas e as bolanhas, acrescento eu), tu conseguistes parar para escrever este terno e fraternal poema a um amigo caído em combate no longínquo Dar es Salam, mata do Cantanhez, Guiné-Bissau, em 5 de Dezembro de 1965, a milhares de quilómetros de Lisboa, Portugal, a norte, onde tu hoje vives, ou da Beira, Moçambique, a sudeste, onde o Mário nasceu...
Só um camarada de guerra consegue escrever, nem lamechices nem sem falso pudor, um poema destes a outro camarada de guerra... Todos nós trouxemos, às costas da nossa memória, os amigos que perdemos lá em baixo... E muitos de nós ainda não conseguiram fazer o luto dessas perdas, vivendo com um contraditório sentimento de culpa a sua tão injusta morte... Porquê ele, e não eu ?...
Joaquim, eu sei que Berlim te chama de vez em quando, mas deixa-me dizer-te que tenho sentido a tua falta no nosso blogue... A tua grandeza de alma, a tua estatura moral e o teu talento literário fazem-nos falta nesta nossa (e tua) Tabanca Grande... Até sempre, Mário, até sempre, Joaquim!
3. Poema > Em memória do Alferes Sasso (3)
por J.L. Mendes Gomes
Estou a ver-te,
no regresso:
Alto, esguio,
óculos escuros.
Tato claro, de corte fino.
Tão vaidoso,
pelas tardinhas de Domingo,
calçada velha acima,
até ao quartel
da velha Évora.
De braço dado,
num corpo só,
com tua moça,
formosa companheira,
boa,
das noitadas do fado,
castiço,
de Lisboa...
de ambos vossa amante.
Que encanto!
Parecieis mesmo
um casal americano,
tranquilo e tão ufano,
pelo meio do casario branco,
do coração alentejano!...
Que alegria!...
Que vontade de viver
de ti transparecia
pela semana inteira,
de olhos presos
à tua amada!...
Eras sempre o primeiro:
nas paradas,
secas, militares
e nos crosses atletas,
sem parar,
pelas estradas ermas,
e sem fim,
de sobreiros tristes,
através dos montes
do Alentejo...
Nos desafios permanentes,
pronto e voluntário,
prós exercícios
mais malucos....
Que pavor!...
da maluqueira militar.
Ora endiabrado trepador
daquele palanque,
alto e estreito,
de cimento...
ora dependurado,
na vertigem alucinante
da corda e da roldana...
Nas caminhadas nocturnas,
por aquele mundo,
de eremitério,
prás emboscadas perdidas,
nas veredas, ao luar,
prós golpes de mão,
temerosos, traiçoeiros,
mesmo a fingir,
tu levavas tão a sério...
Que exemplo vivo,
de vontade louca
de viver
o dia a dia,
tu me deste,
sem saberes!...
Quiseram as sortes
pra ti malvadas,
levar-nos a todos,
p'rá Guiné!...
Que romaria e arraial
havia sempre
à tua beira!...
Com a viola e o acordeão!
Tua voz rouca,
bem timbrada,
a retinir,
os fados todos
de Lisboa,
tão saudosa...
fazia dó!
Encantadora companheira
nas noitadas solitárias,
do Cachil e Catió...
Como lembro
tuas horas de desespero,
que vivias,
tão sincero,
em filosofia permanente,
à procura do sentido
da nossa dor,
e nossa vida, sobre a terra...
Que sentidos
desabafos me fizeste,
nas vésperas
da tua hora derradeira,
tão a sós,
em noitada de cavaqueira,
tão fraterna,
num duelo filosófico
e porfia verdadeira...
olhos presos,
bem abertos,
às belezas de paraíso,
das escravizadas terras africanas
e ao futuro da vida
que tanto amavas!...
Como suspiravas
encontrar
o caminho certo,
iluminado
do viver...
Eis que
no alvorecer duma aurora,
de suave e fresca neblina,
quando o sol
nascia em liberdade,
a oferecer mais um dia
ao mundo
e à desavinda humanidade,
depois duma noite,
sem sentido,
inteirinha
a caminhar,
por entre matas densas
das terras de Dar es Salam... (4)
adormeceste,
para sempre,
como herói...
no regaço
dos teus irmãos,
ali ao pé!...
Nunca mais te esqueceremos!...
Ó eterno amigo,
Ó companheiro
Sempre nosso!...
Até à vista!
Querido Sasso!...
__________________
Notas de L.G.:
(1) Sobre a história da CCAÇ 728, vd. os seguintes posts:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
(2) Vd. post de 17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)
(3) Mário Henriques dos Santos Sasso, Alferes Miliciano, do Exército, morreu em combate na Guine, em 5 de Dezembro de 1965 (Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar)
Sobre o nosso camarada, vd. os seguintes posts:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
(...) Este é o modesto contributo de um combatente da Guiné, um canário de caqui amarelo, nos anos 64-66. É a minha perspectiva pessoal e muito restrita. Feita de memória, e por isso, sem pretensões de exactidão histórica.
A primeira parte sai dum texto romanesco, em que quero homenagear a memória do meu camarada alferes Mário Sasso. A segunda é extraída duma rudimentar autobiografia, que eu já tinha escrevinhado para os meus netos. (...)
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
(...) O Mário Sasso, um moçambicano (da Beira) radicado há uns bons anos, na boémia e no fado alfacinha, de Lisboa, era o comandante do 1º pelotão. Tinha feito um bom curso em Mafra e, por feitio, tinha de ser o melhor em tudo. Brioso, procurava ter uma conduta semelhante à figura.
Quis ingressar nos comandos, mas o coração não lhe aguentaria o esforço.Versátil e sensível, tocava viola e acordeão e cantava o fado castiço, ajudado por uma voz rouca, mas afinada. Era o mais citadino dos quatro [alferes da CCAÇ 728]. (...)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
(...) A CCAÇ 728, aproveitando a maré-cheia, saíu, à noitinha, do cais de Catió a bordo de uma LDM; atravessou o estuário do Cacine e foi deixada, nas primeiras horas da madrugada, algures, em terra firme, do território inimigo.
Todo o cuidado era pouco. Tocou ao meu pelotão seguir à frente, logo depois do destemido grupo indígena do João Bacar Jaló.
Caminhou-se toda a noite; quando o dia começava a querer alvorecer, estávamos a atravessar a zona, crítica, de Dar es Salam [ou Darsalam].
De repente, alguns tiros caíram sobre o pelotão que seguia na cauda da fila, comandado pelo alferes Sasso.
A resposta foi pronta e, depressa, tudo se calou.
À frente, nada se tinha passado.Só quando o dia nasceu e um helicóptero chegou, tivemos conhecimento de que o Mário Sasso tinha sido atingido com um tiro nas costas que lhe vasou o pulmão e coração. A esperança de sobreviver era pouca… e assim foi. (...)
(4) Ou Darsalam, segundo a carta de Cacine.
Guiné 63/74 - P2258: Agenda Cultural (2): Exposição de fotografias do Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares, até ao fim do ano
1. Através do Dr. Alfredo Caldeira, recebemos um convite para a inauguração da exposição fotográfica do Américo Estanqueiro e pedido de divulgação da mesma, o que já fizemos através da rede de correio electrónico da nossa tertúlia (cerca de 200 endereços) e através do nosso blogue (que tem uma média semanal de páginas visitadas da ordem das 10 mil) (1):
Caro Luís Graça:
Junto envio o convite para a exposição "Memória da Guerra Colonial - Fotografias de Américo Estanqueiro/CCAÇ 2700", solicitando também a sua divulgação.
Muito obrigado
Alfredo Caldeira.
2. O convite, em formato pdf, diz o seguinte:
O Presidente da Fundação Mário Soares tem a honra de convidar V. Excia. para a inauguração da exposição MEMÓRIA DA GUERRA COLONIAL - FOTOGRAFIAS DE AMÉRICO ESTANQUEIRO - CCAÇ 2700.
12 de Novembro de 2007, 18.30 horas. Sala de Exposições da Fundação Mário Soares, Rua de São Bento, nº 160, Lisboa.
R.S.F.F.
Telef. 213964179/85
Email: fms@fmsoares.pt
Será oferecido um beberete.
3. Comentário do editor L.G.
Não conheço pessoalmente o Américo Estanqueiro mas o Fernando Barata é membro da nossa tertúlia, tendo sido ele o primeiro a falar-nos do Estanqueiro e da sua exposição.
Encontramo-nos mais logo e espero que haja mais membros da nossa Tabanca Grande no evento, para além de mim e do Virgínio Briote. Nomeadamente os da área da Grande Lisboa. O convite é extensivo a toda a nossa tertúlia.
Desejo bom sucesso para mais esta iniciativa cultural da FMS. As minhas calorosas saudações à FMS e aos seus colaboradores, em meu nome e em nome dos muitos camaradas e amigos da Guiné que desde 25 de Abril de 2005 têm generosa e entusiasticamente alimentado o nosso blogue.
Para que a memória da guerra colonial / luta de libertação não se perca irremediavelmente, com o desaparecimento físico de uma geração de combatentes, que foi a nossa e que foi a última do Império...
____________________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2253: CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72): Exposição fotográfica de Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares (Fernando Barata)
Caro Luís Graça:
Junto envio o convite para a exposição "Memória da Guerra Colonial - Fotografias de Américo Estanqueiro/CCAÇ 2700", solicitando também a sua divulgação.
Muito obrigado
Alfredo Caldeira.
2. O convite, em formato pdf, diz o seguinte:
O Presidente da Fundação Mário Soares tem a honra de convidar V. Excia. para a inauguração da exposição MEMÓRIA DA GUERRA COLONIAL - FOTOGRAFIAS DE AMÉRICO ESTANQUEIRO - CCAÇ 2700.
12 de Novembro de 2007, 18.30 horas. Sala de Exposições da Fundação Mário Soares, Rua de São Bento, nº 160, Lisboa.
R.S.F.F.
Telef. 213964179/85
Email: fms@fmsoares.pt
Será oferecido um beberete.
3. Comentário do editor L.G.
Não conheço pessoalmente o Américo Estanqueiro mas o Fernando Barata é membro da nossa tertúlia, tendo sido ele o primeiro a falar-nos do Estanqueiro e da sua exposição.
Encontramo-nos mais logo e espero que haja mais membros da nossa Tabanca Grande no evento, para além de mim e do Virgínio Briote. Nomeadamente os da área da Grande Lisboa. O convite é extensivo a toda a nossa tertúlia.
Desejo bom sucesso para mais esta iniciativa cultural da FMS. As minhas calorosas saudações à FMS e aos seus colaboradores, em meu nome e em nome dos muitos camaradas e amigos da Guiné que desde 25 de Abril de 2005 têm generosa e entusiasticamente alimentado o nosso blogue.
Para que a memória da guerra colonial / luta de libertação não se perca irremediavelmente, com o desaparecimento físico de uma geração de combatentes, que foi a nossa e que foi a última do Império...
____________________
Nota dos editores:
(1) Vd. post de 9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2253: CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72): Exposição fotográfica de Américo Estanqueiro, na Fundação Mário Soares (Fernando Barata)
domingo, 11 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2257: Convívios (34): CCAÇ 763 (Cufar 1965/67) (Mário Fitas)
1. Texto do Mário Fitas, de 2 de Novembro último, relatando-nos o 9º Encontro da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67). O nosso amigo e camarada Mário Fitas foi Fur Mil Op Esp, da CCAÇ 763 (Cufar 1965/66); é autor dos dois romances sobre a guerra da Guiné (1):
A CCAÇ 763, comandada pelo então capitão Costa Campos, foi mobilizada para o CTIG, por nota confidencial nº 6479/LM da 4ª Rep do EME.
Embarcou em Lisboa no N/M Timor em 11 de Fevereiro de 1965 e desembarcou em Bissau a 17 do mesmo mês, ficando instalada no BCAÇ 600, em Santa Luzia, para os procedimentos administrativos e logísticos habituais.
À medida que ia recebendo o material, os grupos de combate foram sendo deslocados para Cufar por lanchas de Fuzileiros Navais, rendendo a CCAV 703.
A CCAÇ 763, comandada pelo então capitão Costa Campos, foi mobilizada para o CTIG, por nota confidencial nº 6479/LM da 4ª Rep do EME.
Embarcou em Lisboa no N/M Timor em 11 de Fevereiro de 1965 e desembarcou em Bissau a 17 do mesmo mês, ficando instalada no BCAÇ 600, em Santa Luzia, para os procedimentos administrativos e logísticos habituais.
À medida que ia recebendo o material, os grupos de combate foram sendo deslocados para Cufar por lanchas de Fuzileiros Navais, rendendo a CCAV 703.
Em 17 de Março de 1965, já estava colocada, em quadrícula, em Cufar, adida ao BCAÇ 619, onde permaneceu até 10 de Novembro de 1966, data em que foi transferida para Catió para aguardar o embarque de regresso a Lisboa no Niassa.
Na data da chegada a Cufar a Companhia era formada por 5 Oficiais, 17 Sargentos e 144 praças. Acompanhavam a CCAÇ 763, 8 cães de guerra Pastores Alemães.
Os cães de guerra (pastores alemães) na Guiné com a CCaç 763. Uma experiência, da iniciativa do então cap Costa Campos, que não teve seguimento naquele território, tanto quanto sabemos.
Na súmula da actividade que desenvolveu no Sul da Guiné, assumem-se com particular destaque a construção do aquartelamento de Cufar e de todas as suas infra-estruturas.
A CCAÇ 763 levou a cabo 34 operações com apoio aéreo e naval, 17 das quais com contacto com o IN.
uma abatiz no caminho da CCaç 763. Entre os rostos dos jovens de então, nota-se o Capitão Costa Campos
Nas acções desenvolvidas contra o então IN, a CCaç 763 destruiu os acampamentos de Cufar Nalu, Cabolol (2), Flaque Injã (2) e Caboxanque.
Para além desta actividade constam ainda dos relatórios da CCAÇ 763:
415 patrulhas apeadas, 136 patrulhas-auto, 24 escoltas, 53 emboscadas, 10 golpes de mão, 13 operações de cerco e limpeza, 28 batidas e 3 nomadizações.
415 patrulhas apeadas, 136 patrulhas-auto, 24 escoltas, 53 emboscadas, 10 golpes de mão, 13 operações de cerco e limpeza, 28 batidas e 3 nomadizações.
Zona de intervenção da CCAÇ 763 e operações efectuadas
De toda esta actividade, foi estimado que a CCAÇ 763 percorreu aproximadamente 16 mil quilómetros a pé, 6 000 de viatura e 1 000 de LDM.
Durante este período a CCaç 763 teve 10 baixas (mortais), sendo 7 em combate e 3 por doença. Sofreu 53 feridos.De toda esta actividade, foi estimado que a CCAÇ 763 percorreu aproximadamente 16 mil quilómetros a pé, 6 000 de viatura e 1 000 de LDM.
Dos relatórios constam ter sido feitos 45 prisioneiros e causado 40 feridos e 107 mortos ao então IN.
Em face da acção desenvolvida, durante a actividade operacional em Cufar, a CCAÇ 763 teve colectivamente 10 referências elogiosas e um louvor do Brigadeiro Comandante Militar.
Individualmente:
-Prémios Governador da Guiné: a 2 Praças e a 3 Sargentos
-Louvores conferidos pelo General Comandante-Chefe das F.A.: a 1 Sargento
- Louvores conferidos pelo Brigadeiro Comandante Militar: a 5 Praças, 6 Sargentos e 4 Oficiais
- Louvores conferidos pelo Comandante de Batalhão: a 16 Praças, 8 Sargentos e 2 Oficiais
- Louvores conferidos pelo Cmdt da Companhia: a 12 praças, 2 Sargentos e 2 Oficiais
9º. Encontro da CCAÇ 763 em 23 de Setembro de 2007-11-02
Almeirim
Restaurante Moinho de Vento
Pelas 11H00 o pessoal começou a chegar e a concentrar-se no Largo em frente ao Restaurante Moinho de Vento.
Veteranos resistentes de tempos mal vividos, reavivando a fraternal vivência
Desnecessário será descrever, a efusão dos abraços, e das velhas bocas, consoante o destinatário. Grato momento de convívio com as fotos da praxe.
E chegou a hora do opíparo almoço e do serviço impecável com que fomos brindados pelo restaurante. Muita conversa animada, relembrando a Guiné e Cufar e quando demos por ela, o nosso escriturário Amadeu, estava a alertar-nos para as horas. Começou, assim, a fase seguinte do evento, com um minuto de silêncio pelos camaradas que já partiram.
De seguida o Fernando Albuquerque leu-nos as mensagens dos camaradas que, não podendo estar presentes, não deixaram de em espírito se associarem ao convívio.
Agradeceu e transmitiu ainda o Amadeu as mensagens de camaradas de outras Companhias que connosco viveram a aventura da Guiné.
Seguiram-se os habituais discursos, os quais foram seguidos da exibição de um DVD, amavelmente cedido pelo Luís Costa Campos, filho do já falecido Coronel Costa Campos, nosso comandante em Cufar.
Presenteados como sempre pela Pastelaria Carrilhão do nosso Belarmino Acúrcio, o bolo deste ano com uma magnifica decoração.
E eram já próximo das 18H00, quando o nosso querido cabo enfermeiro Policarpo Sousa Santos procedeu á partida do magnífico bolo.
E foi novamente momento de saudade, com aquele fraterno abraço e o desejo de novo encontro no próximo ano.
Fotos: © Mário Fitas (2007). Direitos reservados.
2. Discurso do ex-Furriel Miliciano Mário Vicente Fitas Ralheta
Passados que são quarenta anos, é já possível friamente, e consequentemente fora de quaisquer influências sobre a proximidade dos acontecimentos. Fazer hoje algum balanço sério não só sobre a guerra na Guiné, o Vietname Português, bem como à vivência e procedimentos dessa pequena unidade do Exército, que em quadricula na margem direita do Cumbijã, desenvolveu uma actividade operacional de grande exigência no teatro da guerra, a par de um ciclópico esforço físico na construção de todas as infra-estruturas de um aquartelamento com ausência de quaisquer oportunidades de exigências ou desvios, dada a muita actividade para o combate e proximidade de um inimigo, sem interregnos para tréguas de parte a parte.
Se houver curiosidade?!... Poderão ser feitos com toda a clarividência os efeitos de vinte e dois meses vividos pelos homens da CCAÇ 763 no sul das terras da Guiné.
A guerra ali travada, e que tantos outros travaram. Com os seus resultados diferenciados como é óbvio.
Não é este o momento de vitimar ou criar heróis. Há unicamente que deixar vincado o vero testemunho aos aqui presentes e àqueles que precederão esta geração de “Veteranos de Guerra”, espécie em extinção.
Necessário será ir ao Baú, e remexer num passado, agitando memórias e lembranças que talvez ainda nos façam sofrer, e dilacerem as almas, ou espíritos como cada um queira e creia.
Será portanto o testemunho de uma geração que nada reivindicando, em corpo e espírito, se entregou a uma missão histórica, cujos contornos, não foram sufragados. Ao arrepio de uma realidade histórica hipocritamente subtraída.
Tudo isto nos leva a constatar as dívidas a saldar. Reportemos, em primeiro lugar, a massa anónima de combatentes que sem temor, o melhor de si deram em prol da Pátria, para uma causa em que na generalidade não estavam tecnicamente preparados, nem psicologicamente estruturados. Mas o estoicismo dos homens que contribuíram para constituir o esteio aglutinador nessa odisseia deste atribulado conflito se transcenderam e transfiguraram pelo bem cumprir.
Refiro seguidamente a massa imensa de nativos, irmãos de armas, que no mato, sempre na frente, se bateram heroicamente a nosso lado e tão miseravelmente foram à sua sorte abandonados. Como é possível condená-los dessa maneira?
Carlos Quêba, Gibi Baldé, Amadu Baldé, Braima, Amadu, Alfa nan Cabo. Etc. … Etc. … Etc. …. Estes! Conhecemo-los todos nós.
A História muito lhes fica a dever, ao invés da Pátria que os transformou em párias. Podeis todos sentir o orgulho do dever cumprido!
A memória da Guerra continuará viva, pelo menos enquanto um Veterano se mantiver actuante e disponível, para reivindicar o seu contributo!
Ao inimigo que com a CCAÇ 763 se bateu, há que reconhecer o seu inconformismo, estando sempre à altura das circunstâncias. Mantendo como sempre o nosso respeito e admiração pelos que ainda lutam por uma Guiné livre e democrática, honrando o seu povo e tradições. Reconhecemos muitas das carências sofridas e debilidades vividas. Responsáveis seremos por heranças não conseguidas em tempos que aquele pedaço de terra foi responsabilidade nossa.
Embora de responsabilidade limitada. Não tenhamos pejo em assumi-la. Por isso a nossa cooperação deve ser um contributo, para sustentar o desenvolvimento daquela terra maravilhosa. Unida a nós pela língua, pelo passado marcado pelas incidências, mas sempre presente no imaginário de quem um dia a percorreu.
Aos homens da CCAÇ 763 que cumpriram no limite do sacrifício e na maior dádiva exigidas ao ser humano, o abraço fraterno, referência da amizade que sempre nos uniu.
Cabem aqui outras referências, às quais respeitosamente agradeço, a sua participação neste nosso convívio. Ao Luís Costa Campos muito obrigado, por nos trazer aqui com a sua presença a memória do grande militar que nos conduziu no sul da Guiné.
À Sra. Professora, enfermeira e companheira de guerra Maria da Glória (Dª. França) o agradecimento pela doação total, à CCAÇ 763. É meu entendimento, que deve ser considerada como parte integrante desta Companhia.
A todos o fraterno abraço do tamanho do poilão no cruzamento do Cabaceira.
3. Discurso do ex-Alferes Miliciano Jorge Paulos
Caros Amigos
As razões principais que nos levam a estar de novo aqui reunidos são, por um lado, a possibilidade de nos revermos e, por outro, a de recordar a grande aventura que, em conjunto, vivemos na Guiné, quando éramos ainda “meninos e moços”.
Não estamos aqui para festejar a guerra, que era bem melhor que não tivesse acontecido, mas podemos orgulharmo-nos, sem favor, do nosso comportamento.
Todos nós, na altura, tivemos os nossos medos (só os inconscientes é que não os teriam), mas sempre soubemos enfrentá-los e levá-los de vencida.
A Companhia de Caçadores 763 foi um exemplo, muitas vezes citado, de demonstração de coragem e de dignidade de todos os seus componentes, independentemente do posto de cada um.
Entretanto, alguns, já não estão entre nós. No último ano deixou-nos o Meco, figura marcante, símbolo de que mesmo no meio do perigo se pode ser alegre.
Também o alferes Baço, que tanto nos ajudou com os seus obuses, nos faz lembrar, com saudade, a sua espantosa calma, em todas as circunstâncias.
E o nosso Melo? Exemplo ímpar de como se pode comandar com amizade e com o reconhecimento de todos. O Melo, que pertencia ao meu Grupo de Combate, e que não consigo relembrar sem emoção, permitam que vos diga, que se tratava de um Homem que jamais esquecerei. Amigo do amigo, sempre pronto a ajudar os que mais precisavam, várias vezes, em pleno teatro de guerra, o vi arriscar a própria vida, para salvar quem quer que fosse, nas situações mais difíceis.
Heróis são os que, no momento exacto, se disponibilizam, corajosamente, para salvar o seu semelhante. O Melo era um deles!!!
Mas também já não está entre nós o nosso Capitão Costa Campos. Foi, sem dúvida, um grande exemplo de militar, que sempre soube conjugar as suas obrigações profissionais com o tratamento humanizado do pessoal que dirigia.
Corajoso, abnegado, sempre na primeira linha de combate, a Companhia e todos nós, em geral, ficamos a dever, ao “nosso Capitão”, os êxitos que tivemos e, graças à sua capacidade de liderança, ultrapassámos momentos de grande perigo, onde a decisão certa é o mais importante.
Por isso, meus amigos, cada vez que algum de nós resolve deixar-nos, é um pouco de nós próprios que se vai, porque tudo o que foi feito se deve a cada um em particular e à soma de todos nós, em geral.
Uma palavra ao Luís Costa Campos de agradecimento por aqui estar presente e, um sentido muito obrigado à nossa França que, quando connosco esteve em Cufar, nos acarinhou, partilhando, conjuntamente, aquela grande aventura.
Amigos, estou naturalmente feliz por poder estar hoje aqui de novo convosco, e o meu maior desejo é que tal aconteça ainda muitas vezes e, que todos vivam durante muitos anos com saúde e alegria, no seio das vossas famílias.
Obrigado a todos
Viva a CCaç 763!
_______________
Nota do co-editor vb: à atenção dos Camaradas da CCaç 763. Pela época, pela acção que desenvolveram, pelas experiências com os pastores alemães, daqui lançamos o repto para que façam a história da vossa Companhia.
(1) Vd. posts de:
22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2202: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (8): Voltei a Cufar e a chafurdar nas bolanhas e rios de maré (Mário Fitas)
12 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (23): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)
5 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1926: Bibliografia de uma guerra (21): Pami Na Dondo ajuda-nos à reconciliação com a guerrilha (Virgínio Briote / Carlos Vinhal)
2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1911: Bibliografia de uma guerra (19): Pami Na Dondo, guerrilheira do PAIGC, o último livro de Mário Vicente (A. Marques Lopes)
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)
26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)
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