quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25820: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (55): 5.º ataque do PAIGC ao Quartel do Olossato ao anoitecer do dia 07 de Abril de 1971



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


5.º ATAQUE DO PAIGC AO QUARTEL DO OLOSSATO

1971/ABRIL/07

Ao anoitecer sofremos novo ataque ao quartel.

O alferes Silva não se encontrava no Olossato. Desde a "Operação Jaguar Vermelho" ia periodicamente ao Hospital Militar para tratar dos estilhaços que apanhou nessa operação. Nas ausências dele era eu que comandava o meu grupo de combate e fazia de oficial do dia, por ser o furriel mais antigo.
Olossato - Região do Oio
© Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

Quando começou o ataque peguei na G3 e dirigi-me à caserna dos soldados do meu grupo de combate, que ficava do lado em que estávamos a ser atacados.
Os soldados já estavam instalados na vala, que havia nas traseiras da caserna.

Fui alertado pelos furriéis Ramalho e Justino de que os soldados se queixaram que o soldado F.R. saiu da caserna aos tiros e que não acertou em nenhum camarada por mero acaso.
Disse-lhes que trataríamos do caso no fim do ataque.

Nestes casos, de ataques com morteiro e canhão sem recuo, portanto bastante afastados de nós, as espingardas não servem para nada. O essencial é protegermo-nos e prepararmo-nos para um eventual assalto ao quartel ou a saída de algum grupo de combate.
O assalto não era provável, porque o rio Olossato, que corre a cerca de 30 metros, funciona como barreira natural e a ponte que o atravessa tem um posto de vigia em frente, com um projetor apontado para lá e uma metralhadora pesada apontada para esse local.

Depois de o ataque ser dado como terminado, mandei os soldados saírem da vala e que o soldado F. R. viesse falar comigo.

Para meu espanto verifiquei, pelo andar e pelo falar, que ele estava alcoolizado.
Lembrei-lhe que desde o princípio da comissão os tinha avisado que não deviam abusar das bebidas alcoólicas, especialmente nos dias que tínhamos saídas para o mato ou de serviço ao quartel. Se houvesse alguma "festejo" especial que o fizessem no dia de trabalhos no quartel. De qualquer maneira aconselhava-os a não exagerarem na bebida, porque as consequências desses atos eram mais graves do que no continente.

Quanto ao caso do F.R., que reagiu mal à minha chamada de atenção, tive de o ameaçar para acabar com a questão e dizer que falaríamos no dia seguinte, quando ele já estivesse sóbrio.

Continuei a ronda até á 1 hora da manhã.

Cerca das 4 horas o furriel Justino, que estava a fazer a ronda da noite, foi acordar os soldados que iam render os postos e dirigiu-se para a tabanca para passar ronda aos postos dos soldados milícias.
Nessa altura ouviu uma rajada do lado donde tínhamos sofrido o ataque e correu para esse local. Ao passar junto ao comando encontrou o capitão, os alferes e os sargentos todos no exterior de edifício, que também lhes servia de dormitório.

O capitão Tomé disse ao furriel Justino para verificar o que se passou e para o ir informar.

Aquando da rajada, também me levantei e preparei-me para ir ver o que se passava, mas como tudo se acalmou voltei a deitar-me.

Cerca das 6 horas e 15 minutos o furriel Justino chegou ao nosso quarto e contou-me o motivo da rajada às 4 horas da madrugada.

"Não encontrou o passarinho às 4 da madrugada", mas encontrou o capitão que lhe disse que queria falar comigo.
Depois contou-me a origem da rajada:
- Cerca das 3 horas e 45 minuto foi chamar os soldados que iam entrar de serviço às 4 horas. Todos acordados e de olhos abertos o furriel Justino dirigiu-se à tabanca, convencido que estava tudo a funcionar normalmente.

Aconteceu que um dos soldados que ia entrar de serviço (Rafael de Jesus) dormia com os olhos abertos (informação dos outros soldados do nosso grupo de combate). Este pormenor era do conhecimento dos soldados, mas nós, graduados do grupo desconhecíamos.
Para cúmulo do azar o Rafael ia render o F.R., que já tinha feito "grossa asneira", aquando do ataque. Passados cerca de 10 minutos das 4 horas e não se tendo feito a rendição, não esteve com "meias medidas", deu uma rajada.
Depois de um ataque ao princípio da noite, foi como "apagar o incêndio com gasolina".

A seguir ao almoço falei com o capitão, que mandou-me participar do F. R.
Como nesta altura já sabíamos que íamos para Nhacra, convenci o capitão a não participar.
O capitão insistia que ele tinha de ser castigado e eu propus "dar-lhe cabo do corpo". Por fim aceitou a minha proposta de lhe dar um "castigo físico" que servisse de exemplo, em vez da participação que podia levá-lo para uma zona de maior perigosidade.
O capitão mandou-me propor o castigo.

Como nessa altura andávamos a substituir as palmeiras podres que faziam de valas à superfície, sugeri que sempre que ele estivesse no quartel, sem estar de serviço, fosse fazer esse trabalho e/ou quaisquer outros trabalhos que fossem necessários.
Aceitou a minha proposta e mandou-me dizer ao F. R. para ir falar com o capitão.

Quando me dirigi para o meu quarto passaram alguns soldados do meu grupo de combate e pedi para dizerem ao F. R. para vir falar comigo. Passado pouco tempo bateram à porta do meu quarto. Era o "réu".
Disse-lhe para ir falar com o capitão e ele respondeu que já tinha falado e que já sabia qual ia ser o castigo. Estava ali para me agradecer o não ter sido castigado oficialmente.

A partir deste dia, quando chegávamos dos patrulhamentos, lá vinha ele pedir a minha G3 para limpar e olear.
Eu não queria, mas de vez em quando tinha que lhe dar a G3, porque ele não desistia com as minhas negativas.

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Nota do editor

Último post da série de 1 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25801: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (54): Acção Bacará (Golpe de mão a Amina Dala), 13 de Julho de 1970

Guiné 61/74 - P25819: (De) Caras (308): José Bértolo Coelho, ex-1º cabo, apontador de bazuca, CCAÇ 4544/73 (Cafal, set 73/set 74), natural de Moleanos, Alcobaça




José Bértolo Coelho, Moleanos, Alcobaça
 (Foto: cortesia de António Eduardo Ferreira, 1950-2023) (*)


1. José Bértolo Coelho, natural de Moleanos, Alcobaça,  assentou praça no mês de maio de 1973. (*)

Era 1.º cabo, apontador de bazuca, da CCAÇ 4544/73.  Viajou para a Guiné, de avião,  nos TAM,  no dia 23 de setembro do mesmo ano. 

A CCAÇ 4544/73, que esteve no Cumeré e Cafal Balanta, no Cantanhez.

"Foram muitos os momentos difíceis por que passou, mas aquele que recorda como tendo sido o pior, aconteceu no dia 30 de novembro de 1973, o primeiro ataque ao arame que durou cerca de duas horas, ainda na companhia dos “velhinhos” (CCaç 3565).

"A CCAÇ 4544/73 teve cerca de seis dezenas de feridos, alguns graves, todos em consequência do rebentamento de minas, desses, vários já depois da revolução de Abril.

"Regressou à metrópole de avião no dia 8 de setembro de 1974."(*)

2. Convidamos o camarada Bértolo Coelho (****)  a juntar-se ao António Agreira ao João Nunes (que vive em Angra do Heroísmo, Açores) e ao Eugénio Ferreira que, na Tabanca Grande, representam, e bem, a CCAÇ 4544/73. Bem como ao Carlos Prata, que foi o seu comandante de companhia: é hoje coronel reformado, dá-nos também a honra de ser membro do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

Reiterampos igual convite ao António Quintela, que em 2014 nos mandou ""um abraço e um até breve".

O camarada Eugénio Ferreira, 1º cabo at inf, do 2º pelotão (**), gostava de rever o  Coelho e outros camaradas  no próximo encontrro do pessoal, planeado para a zona de Coimbra, por volta de 8 de setembro de 2014, quando a CCAÇ 4544/73 comemorar os 50 anos do regresso à metrópole (***)

O encontro está a ser organizado pelo ex-fur mil trms António Agreira,  telemóvel nº 913 899 360.

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Notas do editor:


(****) Último poste da série > 6 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25811: (De) Caras (307): "Da minha varanda continuo a ver o mundo" - II (e última) Parte (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)

Guiné 61/74 - P25818: S(C)em Comentários (45): Foi também graças à ação do LAMETA que os EUA alteraram a sua posição de apoio a Timor Leste, que antes era pró-indonésia (Rui Chamusco, Díli, 4/5/2018)











Timor Leste > Díli > Universidade Nacional de Timor Leste (UNTL) > Departamento de Língua Portuguesa > 3 e 4 de maio de 2018 > Exposiçáo LAMETA (acrónimo, em inglês, do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor Leste), no àmbito da celebração da língua portuguesa.  A sessão foi enriquecida pela atuação, entre outros,  u pequeno grupo de crianças de Ailok Laran que cantaram canções do cancioneiro popular português, acompanhadas ao acordeão pelo Rui Chamusco.


Fotos: © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de João Crisóstomo,. "LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste", edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.



1. Palavras proferidas, na ausência do João Crisóstomo (Nova Iorque),  pelo seu amigo Rui Chamusco, na inauguraçáo da  exposição LAMETA, na Universidade de Timor Leste (UNTL),  em Díli, em 4 de maio de 2018, no contexto da celebração da Língua Portuguesa, organizada pelo respetivo Departamento de Língua Portuguesa  (*):



Exmo Sr. Reitor da UNTL, Exma.Sra. Diretora de Departamento de Língua
Portuguesa, Exmo.Sr Embaixador de Portugal em Timor Leste, ilustres convidados, senhores professores e estimados alunos.

É para nós uma honra podermos participar neste evento promovido pelo Departamento de Língua Portuguesa desta universidade, através da exposição
ameta e da interpretação de algumas canções em português por este pequeno
Grupo de Crianças de Ailok Laran.


A exposição LAMETA  do nosso amigo ausente João Crisóstomo, que podemos visualizar no átrio deste auditório,  é um desconhecido contributo que as comunidades luso-americanas deram para a auto determinação de Timor Leste. E, mais do que as palavras, estão os fatos registados nos documentos expostos. 

Esta coleção representa um bem inestimável do património deste povo, e pretende ser, sobretudo para os jovens, um instrumento de informação e de preservação da memória coletiva de imor Leste. 

Foi graças à influência e pressão exercida pelo  LAMETA (Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor Leste) que os Estados Unidos alteraram a sua posição de apoio a Timor leste, que antes era pró indonésia. 

Esta exposição é a comprovação desta influência e dos caminhos que o movimento LAMETA  percorreu durante os ano nos de luta.

A presença destas crianças para interpretação de canções em português pretende demonstrar que a música tem um papel muito importante no processo de aprendizagem de qualquer língua, também da Língua Portuguesa. Um longo
caminho ainda a percorrer. Com o esforço e boa vontade de todos conseguiremos atingir estes objetivos.

Agradecemos ao Departamento de Língua Portuguesa de ter confiado em nós e de nos ter concedido esta oportunidade.

A todos,  MUITO OBRIGADO. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25815: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IX: A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa

(**) Último poste da série > 26 de julho de 2024 Guiné 61/74 - P25780: S(C)em Comentáros (44): o seminário, a tropa e a guerra (Francisco Baptista, autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", Edição de autor, 2019, 388 pp.)

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25817: Historiografia da presença portuguesa em África (435): Quando o Governo de Cabo Verde só noticiava as receitas alfandegárias da Guiné (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Finda que estava a preparação deste livro que intitulei "Guiné, Bilhete de Identidade", considerei que era o momento propício para arrumar as botas quanto a pesquisas do século XV ao século XX. Uma senhora bibliotecária olhou-me a direito quando lhe disse que preparava a minha saída da cena, considerava espiolhada a bibliografia essencial, o que havia nos reservados, e falta-me força anímica para me atirar às caixas do Arquivo Histórico Ultramarino, sonhava gozar o tempo de lucidez que me resta a folhear papéis nos Arquivos da Defesa Nacional e do Ultramar. E com o mesmo olhar firme fui advertido de que teria ainda umas pratadas de substância, os "Boletins Officiais do Governo de Cabo Verde e da Guiné Portuguesa", infelizmente na Biblioteca da Sociedade de Geografia há lacunas nos primeiros anos, mas há lá muito para ler. Comecei pelos anos 1844 a 1849, não escondo o meu pasmo por a Guiné só valer para Cabo Verde o que dão as receitas alfandegárias de Bissau e Cacheu, há igualmente umas referências a nomeações ou destituições ou passagens de licença para tratamento, insignificâncias para mim totalmente incompatíveis quando naquela porção continental os franceses se preparavam para dominar o Casamansa e os ingleses procuravam criar colónias em Bolama. Retive um quadro de fomes em Cabo Verde e umas picardias de imprensa a propósito de navios estrangeiros que tinham ajudado a defender Bissau, em 1844, de ataques de Grumetes e Papéis.

Um abraço do
Mário


Quando o Governo de Cabo Verde só noticiava as receitas alfandegárias da Guiné

Mário Beja Santos

Quando me preparava para dizer adeus à papelada que se prende com a História da Guiné Portuguesa, a competente bibliotecária da Sociedade de Geografia de Lisboa lembrou-me que havia duas fontes ainda não espiolhadas, de fio a pavio: o Boletim Oficial de Cabo Verde e o Boletim Oficial da Guiné Portuguesa. Comecei então pelos anos 1844 a 1849, do Governo-Geral de Cabo Verde, tudo reunido num só volume. Deu para perceber que a Costa da Guiné nem chegava a ser um parente pobre, estamos numa época em que franceses e ingleses comprimem a Pequena Senegâmbia, há vultos como Honório Pereira Barreto que enviam documentos fundamentais para o governador que poisa em diferentes paragens, Ilha da Brava, Vila da Praia ou Ilha de Maio, nem uma só palavra sobre tais acontecimentos, as referências à Guiné prendem-se fundamentalmente com as pautas aduaneiras, descritas minuciosamente, tudo quanto se importa, desde aduelas e pregos a mobiliário ali vem mencionado com as respetivas taxas; há igualmente algumas referências de alferes promovidos a tenente ou suspensão de atividades por motivos de saúde, por exemplo, do comandante da Praça de Bissau. Do que me foi dado ler nestes anos de 1844 a 1849 é deveras intrigante perceber o que é que o senhor governador e a sua equipa pensavam da Guiné, não há mesmo qualquer menção de que o senhor governador tenha para ali viajado.

Mas encontrei alguns documentos que podem ajudar o leitor a entender melhor o que se passava naquelas paragens, isto em termos de mentalidade colonial. Estamos em 1846 e no número de 14 de março é publicado um despacho de D. José Miguel de Noronha, Brigadeiro Governador-geral. Retenho o que me parece de mais esclarecedor:

“Sendo indispensável lançar mão de medidas extraordinárias para conjurar a terrível calamidade da fome, que ameaça a vida de uma grande parte dos habitantes desta Província, que, por falta de meios, e pela impossibilidade de os obter pelo trabalho, não podem comprar os mantimentos de que carecem por mais módicos que sejam os preços com que os mesmos géneros entrem no mercado,
o Governador-geral da Província, em Conselho, convencido de que chegou o caso de prover por todos os meios possíveis à salvação pública, determina o seguinte:

Artigo 1.º - É criado um imposto com a denominação de patriótico para se aplicar o seu produto à compra de mantimentos que se distribuam aos indigentes e miseráveis que não puderem trabalhar.

Artigo 2.º - Este imposto será lançado por uma vez somente sobre os senhores escravos; e cobrado na razão de 15 tostões por cabeça de escravo empregado em serviço doméstico, ou em ofício, e maior de 14 anos, sem distinção de sexo; e de 10 tostões para os dessa idade até à de 7 anos inclusive da mesma forma.

Artigo 3.º - Pelos escravos que andam efetivamente no campo, ou seja, empregados na cultura, ou na pastoreação de gados, desde agosto do ano passado, e que excedam a 14 anos, o imposto será de 840 reis por cabeça, sem distinção de sexo.

Artigo 4.º - O lançamento e cobrança deste imposto far-se-á pelo recenseamento dos escravos concluído em 1843: mas os senhores de escravos a quem desde então hajam morrido alguns, serão isentos do imposto que por eles lhe coubesse apresentando certidão legal de óbito.

Artigo 7.º - Este imposto será arrecadado em dinheiro, ou em género à vontade do contribuinte - milho, ou feijão ou farinha de mandioca – pelos preços a que estão avaliados para o recenseamento eleitoral. Artigo 8º - As câmaras municipais fornecerão as casas necessárias para armazenagem dos géneros havidos pelo imposto, e comprados com o produto dele.”


Mas logo a seguir a esta circular seguia-se outra aos chefes das alfândegas determinando que a semente de purga de exportar para o Reino e Ilhas pagará no acto da saída os direitos de 10% de seu valor no mercado, que o tabaco em folha pagará por entrada os direitos de 85 reis o arrátel: os charutos de Havana 1.600 reis por milheiro, e os de outros países 1400 reis também por milheiro.

Mais adiante temos uma circular temos uma circular para os presidentes das comissões especiais, que começa assim:

“Depois de exaustos todos os meios para as classes mais abastadas da província a concorrerem ao socorro dos seus concidadãos indigentes, que ou por não terem trabalho em que se empreguem ou por lhes faltarem as forças necessárias para ele, carecem de meios para comprarem o sustento de que se hão de alimentar-se, conheceu o Governo, por uma triste experiência, que os socorros obtidos eram tão imensamente mesquinhos que não só não melhoravam a situação mas agravavam-na, pelas ideias que podiam incutir nas pessoas quando uma tão grande calamidade ameaça o País.”

E explica-se a seguir que foram criadas comissões de subscrição, estudados os próprios recursos, concluiu-se que o mal era muito grande para se curar com paliativos; o Governo não podia fazer adiantamentos, faltava-lhe meios pecuniários. E diz-se o seguinte:

“A suspensão dos pagamentos aos empregados públicos, que são nesta Província os únicos agentes da circulação, era não só uma barbaridade, mas era até um erro político, porque essa circulação pararia imediatamente e a estagnação redundaria em mal para o povo e em mal também para o Governo. Nenhuma providência pareceu mais suave, mais regular, e ao mesmo tempo mais expedita, porque ela tem a vantagem de recair unicamente nos lucros dos artigos alimentares; tem a vantagem de ser mais proporcional às possibilidades de cada um; e oferece ainda a vantagem de ser de rápida cobrança, e por isso, de não trazer o inconveniente de distrair a parte dos rendimentos públicos, correspondente à importância do imposto, na aquisição dos artigos de consumo para que é aplicado.”

E considera-se igualmente que a distinção feita entre escravos empregados no uso doméstico ou em ofícios e na pastoreação de gados ser equitativa.

Esta uma descrição que me surgiu num período de fomes, em tempo de escravatura, uma tentativa do Governo em encontrar dinheiro mediante uma tributação especial.

Mas quem procura sempre alcança, lá se encontrou uma referência no Boletim Oficial à Guiné a acontecimentos referentes a 1844. Vale a pena transcrever:

“A Nação Portuguesa tem na sua passada e presente História mui gloriosas reminiscências pelos altos feitos que cometeu, e pelos imensos serviços que prestou à humanidade, à religião e à civilização, para que se deixe fascinar por uma mesquinha e mal cabida inveja.

Respondemos a um artigo que se lê na Presse, jornal de Paris, com a data de 20 de abril deste ano, e de que somente agora tivemos conhecimento.

O ilustre redator daquela Folha foi sem dúvida mal informado quando lançou ao Governo português a mui severa e injustíssima acusação de ingrato para com os serviços que em Bissau prestou o comandante Baudin, oficial da Marinha francesa, em setembro de 1844; e para os que prestou o capitão Potestas, da referida Marinha, quando os Grumetes e Papéis atacaram aquela Praça: eis o final do seu artigo que fielmente traduzimos:

‘Que recompensa teve o comandante Baudin por esta devotação cavalheiresca, a que nada o obrigava? O seu próprio Governo aprovou este procedimento, o Governo de Bissau agradeceu-lho, mas o Governo português nem ao menos lhe mandou uma carta de agradecimento, ou ao capitão Potestas.’

Esta é a acusação; que se não é justa, ao menos tem o mérito de ser precisa e clara; a nossa resposta sê-lo-á também, e de mais a mais justa.

Começaremos por afirmar que é esta a primeira vez que ouvimos falar de um capitão Potestas, que tivesse estado em Bissau, e muito menos que ali houvesse feito serviços; nem as comunicações oficiais nem as cartas particulares falam de semelhante indivíduo: este capítulo da acusação perdeu, pois, toda a sua importância.

Quanto ao comandante Baudin, a quem o Governador de Bissau oficialmente, e as cartas particulares, fazem justiça por a sua inteligência e bravura, consta-nos que S. Ex.ª o Governador-Geral desta Província lhe dirigira uma mui lisonjeira carta de agradecimento pelos serviços que ali prestara, assim como por via do comodoro americano dirigira uma carta semelhante ao capitão de fragata dos Estados Unidos Preble, e por via de S. Ex.ª o Governador da Gâmbia outra ao comandante de um brigue de guerra inglês, que todos fizeram serviço naquele ponto aos portugueses de Bissau, traiçoeiramente atacados pelos negros.

Eis aqui prostrado por terra o segundo capítulo da acusação. Para nada faltar à acusação, tem até o defeito gravíssimo de haver sido feita com muita precipitação. Nada mais diremos sobre o assunto.”


Fica-se, pois, a saber que Bissau fora apoiada num período crítico por forças navais estrangeiras, não será acontecimento singular, antes e depois os Grumetes e Papéis da ilha de Bissau farão a vida negra a quem habita dentro dos muros ou circula até ao cais do Pidjiquiti. Reparei nos termos da escrita de que o bispo se apresenta como Bispo de Cabo Verde e do Continente da Guiné Portuguesa e o governador como Governador de Cabo Verde e da Costa da Guiné. Se dúvidas subsistissem de que não se sabia bem de que território se falava, basta ver como se apresentavam o bispo e o governador.

Três imagens retiradas do Boletim da Agência Geral das Colónias, ano 5º, fevereiro de 1929, nº44, dedicado à Guiné
Capa das Memórias fotográficas, dedicadas a Raquel Soeiro de Brito, 2021
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Nota do editor

Último post da série de 31 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25798: Historiografia da presença portuguesa em África (434): Na sua "Memória - Sobre a Prioridade dos Descobrimentos Portugueses na Costa da África Ocidental, Para servir de ilustração À Crónica da Conquista da Guiné de Zurara"; Paris, Livraria Portuguesa de J. -P. Aillaud,1841, o 2.º Visconde de Santarém refuta os falsos argumentos da França sobre a Guiné (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25816: Tabanca Grande (563): Eugénio Ferreira, ex-1º cabo, CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta, set 73/set 74): senta-se à sombra do nossso poilão no lugar nº 893





Eugénio Ferreira, hoje e ontem


Fotos (e legendas): © Eugénio Ferreira (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Eugénio Ferreira:

Data - quarta, 24/07/2024, 23:16

Caro amigo Luís Graça,

Peço desculpa não ter feito há mais tempo a minha apresentação com a minha respetiva foto Militar e Civil atual.

Verifico que vai haver um encontro entre camaradas no mês de setembro próximo e, como tal,  vou querer estar presente, embora vá encontrar poucos dos camaradas da minha companhia mas o Coelho de Alcobaça vou ver se contacto com ele,  assim como o Alferes Quintela... Vou ver se também vão.

Eugénio Ferreira

2.  Comentáro do editor LG:

Sabemos, por mensagem anterior tua (*), que:

(i) pertenceste  à CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta, set 73/ set 74);

(ii) eras 1º cabo, do 2º pelotão:

(iii) que vivias na região do Oeste (Torres Vedras ?);

(iv) e que procuravas (ou procuras ainda), entre outros:

  •  o ex-alf mil  António Alfredo Quintela (que vive hoje, em Santa Cruz, Torres Vedras) (**);

Aqui tens o nº de telemóvel do Agreira: 913 899 360.  Ele é membro da nossa Tabanca Grande.

Telefona-lhe quanto antes, se ainda o não fizeste. O encontro deve ser na zona de Coimbra, por volta do da 8 de setembro, data em que vocês comemoram os 50 anos de regresso a casa.

Espero que possas participar e encontres mais camaradas e amigos teus.  Depois dá notícias, manda umas fotos, e traz mais um ou dois ou três camaradas contigo para o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, onde partilhamos memórias (e afetos) desse tempo.

Para já, obrigado por aceitares o nosso convite para integrar a Tabanca Grande. Passas a sentar-te à sombra do nosso polão, no lugar nº 893 (****).

Já agora, complementa os teus dados, dizendo-nos onde vives. E se tens página no Facebook. Que sejas bem vindo. Saúde e bom convívio. 

PS - Deves ler aqui as 10 regras da política editorial do blogue... Que não são mais do que a regras do nosso bom viver enconviver entre antigos  camaradas de armas no TO da Guiné e que,  como tal, se tratam hoje por tu.(**) Vd. poste de 25 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13043: No 25 de abril eu estava em... (22): Cafal Balanta, Cantanhez... (António A. Quintela, ex-alf mil, CCAÇ 4544/73, 1973/74)

(***) 16 de janeiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25077: Convívios (976): A CCAÇ 4544/73 (Cafal Balanta, 1973/74) vai realizar o seu convívio comemorativo dos 50 anos do regresso a Portugal, em Setembro próximo, na zona de Coimbra (António Agreira, Fur Mil TRMS)

(****) Último poste da série > 9 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25730: Tabanca Grande (562): Elisabete Silva (1945- 2024), nossa grã-tabanqueira nº 892, uma presença luminosa e calorosa nos nossos convívios, e que em 2013 fez uma memorável viagem à Guiné, com o marido, Francisco Silva (1948-2023), a Armanda e o Zé Teixeira

Guiné 61/74 - P25815: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IX: A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa





Timor Leste > s/l > 2019 >  Naprimeira foto de cima, o Rui Chamusco


Fotos: © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação de uma selcção das crónicas do Rui Chamusco, respeitantes à sua segunda estadia em Timor Leste (janeiro / julho de 2018) (*). 

Membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio último, é cofundador e líder da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015 e com sede em Coimbra.

Professor de música, do ensino secundário, reformado, natural do Sabugal, e a viver na Lourinhã, o Rui tem-se dedicado de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem desenvolvido no longínquo território de Timor-Leste.

Desta vez, o Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro de 2018, com o seu amigo, luso-timorense, Gaspar Sobral (foto acima, à direita), cofundador também da ASTIL. 

Em Dili  ficaram em  Ailok Laran, nos arredores de Díli, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família, durante três anos e meio, refugiado nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação do território pelas tropas indonésias (em 7 de dezembro de 1975) (tinha "apenas" 14 anos...).

 A menina dos seus olhos (dos très, o Rui, o Gaspar e o Eustáquio) é a Escola de São de Francisco de Assis, de Manatti / Boebau, município de Liquiçá. A escola e as suas crianças da montanha que finalmente podem aprender música e português.


II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)


Parte IX -  A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa


Dia 28.04.2018, sábado  - Sempre em festa...


A vida em Ailok Laran e Dili é mais calma mas menos interessante (desculpem-me os citadinos). No entanto, vão acontecendo coisas que não posso deixar de descrever.

Desde que chegamos da montanha que se tem ouvido música em alta intensidade que começa ao final da tarde e termina ao amanhecer do dia seguinte. Quem tiver problemas em adormecer está tramado. Mas aqui, em Timor, é assim. Não há qualquer legislação que tal impeça. E ninguém individualmente tem coragem e ousadia de fazer queixa.” Não há problema”, dizem eles, “é sempre assim!”. Pois que seja. Agora que incomoda, lá isso incomoda.

Questionados sempre a origem de tanto barulho, mas com boa música, fomos esclarecidos. Nos primeiros dias (noites) devia-se à celebração do “final de luto” da família do defunto falecido há um ano, que a partir de agora deixam os sinais de tristeza. Outras culturas, bem diferentes das ocidentais. Festa rija a culminar a celebração de um ritual ligado à morte.

A segunda dose, que ainda está em vigor, é a festa de casamento, que dura há umas boas noites, e em que os convidados e outros comem, bebem e dançam à conta do legado que ninguém sabe qual é, pois é entregue em envelope fechado. 

Diz o Gaspar que na sua juventude, ela e os seus amigos juntavam muitas moedas para parecer muito dinheiro e assim puderem entrar e usufruir das benesses desta cerimónia. Como não era de bom tom os noivos abrirem o envelope à frente dos oferentes, divertiam-se à grande e à francesa sem que alguém os incomodasse.


Dia 29.04.2018, domingo - As crueldades 
da guerra

Logo de manhãzinha, ouviu-se uma voz não habitual de alguém que chegava e que cumprimentava os da casa. Curioso, tentei saber de quem se tratava. Era, nem mais nem menos, um senhor por volta dos cinquenta anos, que vinha visitar o padrinho Gaspar. Diz o padrinho que é o único afilhado que tem em Timor.

Depois de algum tempo associei-me ao grupo, e mais do que falar tentei ouvir as conversas em tétum, algumas vezes com tradução, que descreviam tempos passados e recordações. Mais uma vez se lembraram as cenas da invasão indonésia. 

O pai do senhor que chegou,  foi amarrado e morto pelas tropas invasoras, logo aqui ao lado. Os irmãos Mariano (Mari) e João Moniz (Eustáquio) contam que a destruição da casa de família onde agora estamos,  foi presenciada por eles próprios mais o irmão Abeca, e que os indonésios depois de lhe pegarem o fogo por todo o lado, laconicamente lhes disseram: “Podeis ir a buscar as vossas coisas lá dentro.”

O que mais me admira é que eles falam nestas cenas com tranquilidade, sem qual quer esboço de ódio ou de vingança. Há quem por aqui diga que o grande erro dos indonésios foi terem matado tanta gente. Duzentos mil mortos num universo de setecentos mil é realmente significativo. 

Caso contrário teriam todas as condições para serem queridos desta gente, pois as coisas boas que cá fizeram são muitas e das quais este povo ainda beneficia. Em qualquer invasão, a guerra é sempre cruel para qualquer das partes beligerantes. 

O Gaspar comentava, com toda a razão: “a guerra é o grande mal da humanidade”.



Dia 30.04.2018, segunda feira  - A magia do “Mundo Mágico”


Não. Não se trata de truques ou de ilusionismo. O “Mundo Mágico” é uma escola que, como muitas outras, se dedica de alma e coração à educação de crianças desde as mais tenras idades. A sua diretora, a professora/educadora Diana Rebelo, tem sido incansável no apoio que nos tem prometido e dado à nossa escola em Boebau. Senhora de muito trabalho mas que não nega ajuda a ninguém. “Naquilo que eu puder contem comigo”, diz-nos ela.

Pois hoje estivemos de novo no "Mundo Mágico", a fim de concretizarmos o estágio de duas senhoras de Boebau para que, quanto antes, elas possam trabalhar Escola de São Francisco de Assis. Com certeza que irão aproveitar ao máximo os ensinamentos deste estabelecimento. As crianças mais pequenas de Boebau agradecem.

Sabemos de antemão que a ajuda do “Mundo Mágico” pode não ficar por aqui, porque já me apercebi do espírito de solidariedade que a sua diretora possui, bem como toda a sua família. A magia não é fruto de um efeito da varinha mágica mas sim de muito trabalho e competência.



Dia 02.05.2018, quarta feira - Preparando a exposição


É já na próxima sexta feira que terá lugar a exposição LAMETA, na Universidade UNTL em Dili, no contexto de celebração da Língua Portuguesa, organizado pelo Departamento de Língua Portuguesa desta instituição de ensino. 

Aqui na casa, em Ailok Laran, é uma azáfama na confeção dos painéis que serão o suporte dos documentos a expor. Mais de cem folhas A3 que teremos de afixar. Estávamos a contar com o empréstimo dos expositores da escola portuguesa Rui Cinati, mas tal não é possível devido às necessidades da própria escola durante estes dias. 

Mas o Eustáquio, que é um homem desenrascado, já pôs ombros à obra e os painéis estão quase todos prontos. Amanhã serão transportados para a universidade, onde irão ser devidamente preenchidos e colocados. Pode o amigo João crisóstomo ficar descansado que a exposição vai ser um êxito.

Esta exposição será enriquecida com música. Um pequeno grupo de crianças de Ailok Laran irá cantar, acompanhadas ao acordeão, um reportório de músicas em português, que com certeza farão o deleite de muitos dos ouvintes. 

Até a mim, que os ensaiei, me comovem e dão esta alegria de, muito longe de Portugal, poder ouvir estrangeiros cantando tão bem as nossas canções. Estamos ansiosos, mas com muita confiança de que tudo sairá bem.


Dia 04.05.2018, sexta feira - Grandes momentos!...

nossa presença na Universidade Nacional de Timor Leste (UNLT), através da exposição Lameta e das crianças de Ailok Laran está a ser alvo de muitas atenções. Por isso temos confiança de que tudo vai correr bem. Algum cansaço na véspera e alguma apreensão, mas nada que nos incomode ou nos demova.

Às 9.00 horas a exposição já está montada e , a pouco e pouco, vão chegando ao local alunos, professores, convidados. Esperam altas individualidades que, à medida que vão chegando,  nos vão cumprimentando e mostrando o seu interesse pelo conteúdo desta exposição. 

Saliento atitude do senhor Reitor da UNTL, acabado de chegar de Lisboa, que demoradamente conversou comigo dando conta do que esta universidade irá fazer em prol da Língua Portuguesa. Notei-lhe muito entusiasmo nas iniciativas que apresentou.

Seguidamente, no auditório aqui ao lado, procedeu-se à abertura da sessão desta jornada dedicada à Língua Portuguesa, sob o lema “Língua Portuguesa um elemento da nossa identidade”. 

Vários oradores fizeram as suas intervenções: Diretora do Departamento da Língua Portuguesa;  Reitor da Universidade, Embaixador de Portugal em Timor; o editor do livro hoje aqui lançado;  o Dr. Benjamim Corte Real (antigo reitor desta universidade) que fez uma intervenção sapiencial sobre o livro em questão;  e finalmente, este vosso humilde servo, a quem pediram, por ausência do amigo João Crisóstomo, que dissesse algumas palavras sobre a exposição. 

Não me fiz rogado, até pelo respeito e carinho que o João nos merece, e avancei para o palco, acompanhado dos meus pequenos cantores. Pela primeira vez na minha vida, escrevi numa folha o que pretendia dizer, e li:

“ Exmo Sr. Reitor da UNTL, Exma.Sra. Diretora de Departamento de Língua Portuguesa, Exmo.Sr Embaixador de Portugal em Timor Leste, ilustres convidados, senhores professores e estimados alunos.

É para nós uma honra podermos participar neste evento promovido pelo Departamento de Língua Portuguesa desta universidade, através da exposição Lameta e da interpretação de algumas canções em português por este pequeno Grupo de Crianças de Ailok Laran.

A exposição Lameta do nosso amigo ausente João Crisóstomo, que podemos visualizar no átrio deste auditório é um desconhecido contributo que as comunidades luso americanas deram para a auto determinação de Timor Leste. E, mais do que as palavras estão os fatos registados nos documentos expostos. 

Esta coleção representa um bem inestimável do património deste povo, e pretende ser, sobretudo para os jovens, um instrumento de informação e de preservação da memória coletiva de Timor Leste. 

Foi graças à influência e pressão exercida pelo Lameta (Movimento Luso americano para a Autodeterminação de Timor Leste) que os Estados Unidos alteraram a sua posição de apoio a Timor leste, que antes era pró indonésia. Esta exposição é a comprovação desta influência e dos caminhos que o movimento Lameta percorreu durante os ano nos de luta.

A presença destas crianças para interpretação de canções em português pretende demonstrar que a música tem um papel muito importante no processo de aprendizagem de qualquer língua, também da Língua Portuguesa. Um longo caminho ainda a percorrer. Com o esforço e boa vontade de todos conseguiremos atingir estes objetivos.

Agradecemos ao Departamento de Língua Portuguesa de ter confiado em nós e de nos ter concedido esta oportunidade.

A todos MUITO OBRIGADO.”



Depois fui entregar dois exemplares do livro Lameta que o João me deixou, um ao Senhor Reitor da UNTL e outro à Sra. Diretora do Departamento.

O que veio a seguir, foi magia para aquele público. Quando se começou a ouvir o acordeão e as vozes no Hino da Alegria (cantado e tocado em notas de bambu), na canção A Chuva que a Adobe cantou, na canção As Notas do filme Música no Coração, o público delirou e não parava de aplaudir. 

Sim, foi magia e muita emoção difícil de controlar para mim. Os elogios e parabéns foram tantos que até parecíamos vedetas de televisão. Muitas fotografias a pedido, alguns videos ( o próprio reitor não resistiu a fazer a sua reportagem). Os miúdos então exultavam de alegria ao verem tanta aceitação. 

Para cúmulo, já no local da exposição, brindamos os visitantes com mais umas quantas canções portuguesas (Rama de oliveira, Ao passar a ribeirinha, A minha terra é linda, Rosa enxertada, Ó minha rosinha) e mais havia ainda por cantar, não fosse a preocupação dos responsáveis do evento em que as crianças fossem comer e beber qualquer coisa.

Um dia a não esquecer por adultos e sobretudo por estas crianças que abnegadamente participaram neste evento.

Dia 05.052018, sabado  - Sorrisos contagiantes


Mais uma vez fico enfeitiçado com os sorrisos desta gente. Tu passas onde passares e, aonde parece materialmente tudo faltar, surgem caras sorridentes que dão o “bom dia”, a “boa tardi!”. Como pode alguém, que sabemos de antemão ter carência de pão(arroz) para a boca expressar tamanhos sorridos? E pronto! Ficamos apanhados para acudir a qualquer emergência.

Hoje de tarde passamos como muitas vezes o fazemos em frente da casa do falecido Vitor, já várias vezes referido nestas crónicas. Olhei para dentro da mesma e só vi um grande vazio. Poucas coisas haverá por lá. Cá fora, gente e mais gente, que aqui é que se está bem. Aquele “boa tarde” coletivo, acompanhado de vénia e de sorriso aberto, dirigido ao Eustáquio e a mim que passávamos de carro, ficou-me na retina dos olhos como um quadro que dificilmente esquecerei.

Compreendem agora a nossa solicitude e os apelos de ajuda que de vez em quando fazemos? Não há como esquecer este povo, esta pessoas em concreto. Não me interessa que digam: “ mas o Estado timorense é rico “; “ não tens mais onde gastar o teu dinheiro?...” 

Quando à nossa volta há gente com fome de pão e de outras necessidades básicas, não podemos ficar indiferentes, cuspir para o ar e desculpar nos com o que os outros (incluindo o Estado) deve ou não deve fazer. Claro que não somos nós que vamos salvar o mundo. Mas ajudamos. E isto não estar a armar-me em herói. Eu queria ver se qualquer um de vocês na mesma situação ficaria ficaria indiferente a estes sorrisos... (...)

 (Continua)

(Título, excertos, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos:  LG)
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terça-feira, 6 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25814: Convívios (1005): Almoço/Convívio do pessoal da 2.ª CART / BART 6521/72 (Có, 1972/74), a levar a efeito no próximo dia 25 de Agosto no Restaurante Mosteiro do Leitão, na Batalha (José Morgado)

1. Mensagem do nosso camarada José Morgado, via Formulário de Contacto, com data de 5 de Agosto de 2024, com a notícia do almoço/convívio da 2.ª CART / BART 6521, (Có, 1972/74), na Batalha, no dia 25 de Agosto próximo:

2.ª CART do BART 6521

Na procura de alguns tresmalhados da minha Companhia - "Os Có Boys", (Có, 72/74) - 2.ª CART do BART 6521, vamos reunir as tropas num almoço de confraternização no Restaurante Mosteiro do Leitão, na Batalha, do próximo dia 25 de Agosto.

Para membros que não tenham conhecimento,
Contacto: 934 755 427

Saudações a todos Ex-Combatentes.

Cumprimentos,
José Morgado

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Nota do editor

Último post da série de 28 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25695: Convívios (1004): Almoço/Convívio dos antigos militares da CCAÇ 1494 / BCAÇ 1876, a levar a efeito no próximo dia 27 de Julho de 2024 em Leça da Palmeira/Matosinhos

Guiné 61/74 - P25813: Banco do Afeto contra a Solidão (30): António Pinto (ex-alf mil, BCAÇ 506, Pirada, Madina do Boé e Beli, 1963/65), fundador de quartel de Madina do Boé: "Há muito que não venho ao blogue"...


António de Figueiredo Pinto 
[ex-alf mil, BCAÇ 506, Pirada, Madina do Boé e Beli, 1963/65]. Integra a Tabanca Grande desde 18/12/2006 (*). Vive em Vila do Conde, 


1. Dois comentários do Antonio Figueiredo Pinto, ao poste P20981 (**):

(i) Amigos:

Julgava que já me consideravam morto. Nos aniversariantes de maio aparecem 12 camaradas, menos eu

Já estou nos 82 mas pouco mais irei durar

Sejam felizes

António Pinto

 (ii) Amigos:

Vou a caminho dos 86

Há muito que não tenho vindo ao blogue.
Há cerce de 5 ou 6 anos...as doenças tem tomado conta do meu corpo

Por feliz coincidência há dias que o mestre Luís enganou-se no nº do telemóvel e ligou-me.
Fiquei radiante.

A minha cabeça já não funciona direito

Um abraço para todos.

2. Comentário do editor LG:

António, por um feliz acaso liguei-te. E gostei de saber de ti. Tu és um veterano da Guiné e do nosso blogue. Mais do que veterano, um "histórico", fundador de Madina do Boé!... 

Infelizmente, não tens podido aparecer, e para mais por razões de saúde (****). Tens 37 referências no nosso blogue. E, ainda bem que "refilaste". Este ano voltas a ter "direito" ao postalito de parabéns (***). 

Fizeste "prova de vida", para o ano a gente se vais "esquecer" de ti" .... Mas, como deves imaginar, também já não damos conta de todos os recados...  Os anos não pesam só para o teu lado... 

No caso da série "Parabéns a você", temos vindo a pedir aos acamaradas aniversariantes que fraçam provada de vida... Basta mandar um mail, a dizer, "OK, estou vivo!"... Prometo, entretanto, revisitar algumas das fotos do teu álbum.

Recebe um fraterno alfbravo do Luís.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1378: Tabanca Grande: António de Figueiredo Pinto, ex-Alf Mil do BCAÇ 506: um veterano de Madina do Boé e de Beli


(**) Vd. poste de 17 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20981: Parabéns a você (1803): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Guiné, 1963/65)

(****) Vd. poste de 17 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25534: Parabéns a você (2272): António Pinto, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 506 (Nova Lamego, Geba, Madina do Boé, Beli e Bolama, 1963/65)

Guiné 61/74 - P25812: Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal (Excertos) (Jaime Silva) - Parte III: mortos em Angola




Quadro 1 - Lista d0s mortos de Fafe no TO de Angola (1961/1975) (pp.  44/45)






SILVA, Jaime Bonifácio da - Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar : uma visão pessoal- In:  Artur Ferreira Coimbra... [et al.]; "O concelho de Fafe e a Guerra Colonial : 1961-1974 : contributos para a sua história". [Fafe] : Núcleo de Artes e Letras de Fafe, 2014, pp. 23-84.



1. Estamos qa reproduzir, por cortesia do autor (e com algumas correções de pormenor),   excertos do  extenso estudo do nosso camarada e amigo Jaime Silva.  Esta III parte é dedicada a Angola.


Contributo para o estudo da participação dos militares de Fafe na Guerra do Ultramar – Uma visão pessoal   Excertos ]  - Parte III (pp. 44-57)

por  Jaime Silva



(...) 2.1 Quadro-referência com a identificação dos nomes dos militares de Fafe mortos em cada uma das três Províncias Ultramarinas

A. ANGOLA > QUADRO 1 – Lista dos mortos de Fafe em Angola (vd. acima)


(...) Ao analisarmos o quadro acima,  com a identificação dos militares de Fafe tombados em Angola, podemos verificar que em Angola morreram dezasseis militares,  naturais de Fafe, Como causas da morte e usando a terminologia do Arquivo Geral do Exército, sabemos que tombaram por:

  • “Ferimento em combate com armadilha”, um;
  • “Ferimento em combate com mina anticarro”, um;
  • “Ferimentos em combate”, três;
  • “Combate”, dois;
  • “Acidente de viação”, três;
  • “Acidente – afogamento”, dois;
  • “Acidente com arma de fogo”, dois;
  • “Acidente por outros motivos”, um;
  • “Doença”, um.


Resumindo: 7 em combate; acidente, 8; doença, 1,

Quanto ao posto e especialidade, podemos verificar:

  • em primeiro lugar, que doze eram soldados, tendo as seguintes especialidades: Atiradores, três; Apontador de Morteiro, um; Caçador Especial, um; Radiotelegrafista, um; PM – Polícia Militar, um; Condutor auto, um; Reconhecimento e Informações, um;
  • existem três sem anotação da sua especialidade e, destes, um é de uma Companhia de Caçadores (CCAÇ) e dois de Companhias de Artilharia (CART);
  • em segundo lugar, três tinham o posto de 1.º cabo (um maqueiro e dois atiradores) e, em terceiro, um era oficial miliciano com a patente de alferes.

Dois militares ficaram sepultados em Angola nos cemitérios locais: 

  • soldado atirador Artur de Sousa, natural de Ardegão, pertencente ao BCAÇ 92 e à CCAÇ  94, falecido em 3 junho de 1961 em consequência de acidente com arma de fogo, ficando sepultado no adro da Igreja de Sanza Pombo (Norte);
  • e o soldado atirador Alberto Moniz Nogueira, do BCAÇ 1863 e da CCAÇ 1450, natural de Arões S. Romão, falecido em 16 de dezembro de 1966, em consequência de acidente de viação no destacamento de Messibi (Leste) e está sepultado no cemitério do Luso.

O primeiro militar de Fafe a tombar em Angola e, também, na Guerra Colonial foi o soldado atirador Artur de Sousa, natural de Ardegão. A última vítima da guerra em Angola e, também, o último a morrer na Guerra Colonial  (...)  foi o 1.º Cabo José Pereira Dias, natural de Armil, onde está sepultado. (op cit., pp. 46/47).


  • 1.º Cabo João Pedro Alexandre,  nº mec. 12804373 (op cit., pp. 47-52)


(...) A morte ocorre já depois de se ter dado a Revolução de Abril em 1974. Foi incorporado nas fileiras das Forças Armadas em 6 de maio de 1974 (...)  e é nomeado em agosto para servir no Ultramar com destino à ComAgr  6001, vindo a embarcar em Lisboa a 11 de dezembro de 1974 e a desembarcar em Luanda a 12 do mesmo mês. 

Uma vez em Angola, é destacado para prestar serviço no Comando de Agrupamento  6001/74, em Cabinda, onde veio a falecer a 27 de setembro de 1975, em consequência de acidente de viação.

Do seu processo individual, que consultei no Arquivo do Exército por deferência do seu irmão, que agradeço, transcrevo a participação do acidente feita pelo 1.º cabo João Pedro Alexandre n.º 12804373 e assinada por este e pelo 1.º cabo João Pedrosa Alexandre:


Comando Territorial de Cabinda

Exmo Senhor Comandante Militar

Participo a V. Exa que hoje pelas 12h00, quando seguia na viatura “UNIMOG” N.º MG-27-89 conduzida pelo soldado condutor Auto N.º 03225674 António Gonçalves Capelas, do CMD. AGR. 6001/74, e após a viatura ter desfeito uma curva pouco acentuada, à saída da cidade de Cabinda, guinou em direção à berma da estrada do lado direito, não conseguindo o condutor trazê-la ao sentido de origem apesar de todos os esforços que fez para isso. Em consequência da posição em que ficou a viatura, isto é, com as rodas do lado direito a um nível mais baixo do que as do lado esquerdo os caixotes e os ocupantes que seguiam na carroceria caíram da viatura tendo um dos caixotes atingido gravemente o 1.º cabo NM 026905774 José Pereira Dias do CMD AGR N.º 6001/74. Verificaram-se ainda ferimentos ligeiros nos seguintes militares:

1.º  Cabo NM 12804373 João Pedrosa Alexandre

1.º Cabo NM 14105574 António Fernandes Santos Silva
Soldado NM14105574 António Gonçalves da Silva

Todos deste CMD AGR N.º 6001/74. A viatura não sofreu danos materiais.

São testemunhas: - 1.ºCabo NM 14105574 António Fernandes Santos Silva e o Soldado NM14105574 António Gonçalves da Silva.

Quartel em Cabinda, 27 de Setembro de 1975.
(pág. 48)


Ainda do seu processo individual e referente ao acidente, transcrevo da “Informação n.º 17 / 77”, emanada do Quartel-general da RM (Região Militar) de Lisboa em 20 de janeiro de 1977, assinada pelo Chefe de Serviço de Justiça  ten cor Alfredo Marques de Abreu, o seguinte:

(...) No ponto - 02. Da análise do processo verifica-se que:

a) No acidente contraiu as lesões descritas das quais resultou a morte no mesmo dia.

b) O acidente ocorreu sem culpabilidade do sinistrado.

Ponto - 03. Em face dos elementos existentes no processo é este SJ (serviço de justiça) do parecer que:

a) O acidente deve ser considerado resultante do exercício das suas funções e por motivo do seu desempenho
.  (pág. 48).

“A certidão de Narrativa Completa de Registo de Óbito”,  passada pela Conservatória do Registo Civil de Cabinda,  da Província de Angola,  regista que faleceu no Hospital Regional de Cabinda de "traumatismo toráxico".

  • Onde está o Costa ? (op. cit., pp. 49-52)

Militares casados antes de serem incorporados no serviço militar, existe um na relação dos mortos em Angola. Trata-se do soldado António Matos Costa, que pertenceu à CCAÇ 1783, sediada no destacamento de Magina e integrada no BCAÇ 1930, do qual também fazia parte o fafense furriel António Amável Marinho Mota, da Companhia  1782, destacada no Luvo.

Tenho em meu poder três documentos escritos e o testemunho do Furriel Mota que identificam as causas da morte do Costa, e um deles contradiz os outros quanto às causas da morte:

O primeiro, com a relação dos militares de Fafe tombados em Angola e cedido pelo Arquivo Geral do Exército, diz que o António Matos Costa é filho de Bento Jorge da Costa e Isaura de Matos, natural da freguesia de Vila Cova, casado com Florentina Pereira Rodrigues e pai de uma menina. 

Foi soldado com a especialidade de atirador a quem foi atribuído o Número Mecanográfico 2469367, pertenceu à CCAÇ 1783, integrada no BCAÇ 1930, sendo a Unidade Mobilizadora o RI 2 (Abrantes), que faleceu a 1 de junho de 1968 em Magina e cujas causas da morte são ferimentos em combate (armadilha). Está sepultado no cemitério de Queimadela.

O segundo documento está arquivado na Delegação de Fafe da APGV e foi-me cedida cópia, para este efeito, pelo seu presidente Manuel Ribeiro. Trata-se do “Processo de Trasladação” onde refere que a “Causa da Morte” foi por Acidente com arma de fogo. 

O documento atesta, ainda, que o Governo do Distrito do Zaire, com sede em S. Salvador e através do Alvará n.º22/G/968, datado de 17 de junho de 1968, declara: 

“Hei por bem autorizar a trasladação solicitada pelo Comando de Setor F para se proceder à Trasladação de São Salvador para um cemitério da Metrópole, do corpo de que foi sodado António Matos Costa, cuja urna se encontra em São Salvador. O Encarregado do Governo, Manuel Dias Peão." (op. cit, pág. 49)

O terceiro documento é um livro extraordinário escrito pelo Capelão do Batalhão, Padre Manuel Leal Fernandes, intitulado: Angola - As Brumas do Mato. Foi publicado em 1977 pela Livraria Telos Editora e foi-me oferecido pelo meu amigo António Mota, então furriel e camarada de Batalhão do António Costa. Descreve os momentos mais marcantes e dramáticos do BCAÇ 1930 durante a sua comissão entre 29 de novembro de 1967 e 27 de janeiro de 1970.

Durante a minha comissão vi, conheci e testemunhei no Norte e Leste de Angola os sacrifícios, as dificuldades de sobrevivência a que foram sujeitos muitos dos meus camaradas das Companhias do Exército destacados em locais recônditos, longe de tudo e onde, por vezes, foram sujeitos ao extremo da falta de apoio militar vendo, por isso, morrer os seus camaradas por falta de apoio aéreo para evacuar os feridos, como aconteceu com o meu primo Arsénio no Norte, e de mantimentos, passando fome.

O Padre Manuel Leal Fernandes, através dos depoimentos dos seus camaradas, transcorrido já mais de quarto de século sobre os acontecimentos vividos, retrata com uma grande seriedade e grandeza, que deve ser enaltecida, os momentos mais marcantes de sobrevivência de um grupo de homens que viveram durante dois anos em destacamentos construídos e situados no meio do mato e onde nada existia. No meio do nada, como escreve. É um excelente livro de apoio pedagógico para a disciplina de História nas escolas e para aqueles que querem saber a verdade dos factos.

O fafense António Costa fez parte do grupo da Companhia que não regressou vivo. Nas páginas 171 a 177, o autor dedica um capítulo ao António Costa, intitulado: Onde está o Costa, e no qual descreve a circunstância da sua morte.

Considero-o um documento histórico muito importante, porque, para além de nos dar a conhecer as circunstâncias da tragédia da morte do António Costa, permite-nos, também, ficar a saber e compreender o modo como se defendiam os aquartelamentos dos ataques do inimigo e como se colocava o sistema de minas no terreno.

Por isso, com esse objetivo e com a devida vénia, tomo a liberdade de transcrever e sintetizar algumas partes do seu texto:

Pelas 4 da manhã de 1 de junho de 1968, tinham rebentado duas armadilhas, habitualmente dispostas lá em cima, no morro, para defesa periférica do aquartelamento. O Comandante da companhia destaca o furriel de minas e armadilhas Aníbal Martins de Matos para ir lá acima ver o que se passou. O local ficava a uns 200-300 metros e o furriel Matos faz-se acompanhar da secção do furriel Figueira que estava de baixa, constituída por dez homens e da qual fazia parte o Costa. 

Chegados ao local o furriel lentamente, com redobrada cautela começa a inspeção das armadilhas. Faltava-me ver ainda duas, continua o furriel Matos – e dou com o Costa junto do meu ombro esquerdo. O furriel retirou-o do local e colocou-o a uma distância de segurança fora da zona armadilhada, continuando a inspeção. Voltei atrás, à penúltima armadilha. Eu tinha-as colocado de sete em sete passos. Como estavam numa zona lateral, nunca havia o perigo de eu tropeçar nelas. Elas estavam colocadas no meu lado direito e mesmo que eu desse um passo mais alargado não havia problema. Ao fim de sete passos, mais ou menos centímetros, lá estaria uma. Tinha visto já a penúltima armadilha e ia ao encontro da última, teria eu dado os dois primeiros passos e de repente há um rebentamento, uma explosão. (…) 

Com o impacto da explosão da armadilha o furriel Matos fica caído enfiado no capim. O Paiva levou uns estilhaços e o 1.º cabo Melo apanhou com uns estilhaços nas pernas e na cara. Quando recuperei a mente – continuou o furriel Matos (…) gritei para que ninguém se mexesse. Tive medo que entrassem pela zona perigosa e houvesse mais problemas (…). 

Onde está o Costa? (…) Caído no chão, todo esfacelado, barriga aberta, intestinos saídos, encharcado em sangue, o Costa esvai-se. Era a luta entre a vida e a morte (…). A avaliar pela posição em que ficou – deve-se ter inclinado sobre ela, e ao roçar de leve no capim ou no arame de tropeçar, tão sensível, acionou involuntariamente a sua explosão. (...)

Pela minha experiência pessoal, não resisto em destacar um comentário do furriel Matos, responsável e comandante do grupo, abalado pela morte do Costa, quando afirmou: 

"Cheguei ao ponto de começar a dizer que sou eu que o tinha matado. É que as armadilhas tinham sido feitas por mim, eu sou que as tinha montado e nelas morria um camarada me”. (…) De maneira nenhuma, Matos – dizia-lhe o Cap. Vilas Boas. Nem pense nisso. Você não matou ninguém. Tudo isto acontece no cumprimento da nossa missão."

Só quem sentiu a responsabilidade de comandar homens num teatro de guerra, sendo responsável pela vida dos que comanda, também seus amigos, perceberá a angústia do furriel Matos. Eu compreendo-o muito bem. Nos Montes Mil e Vinte, não muito longe do local onde o Costa tombou, também vivi um momento semelhante com a morte de um soldado do meu pelotão numa operação precedida do lançamento de bombas de napalm pelos aviões da Força Aérea. Com toda a honestidade o digo, ainda hoje revejo o assalto ao acampamento, os tiros, o local, e interrogo-me sobre o que poderia ter mudado para evitar a morte do meu camarada!...

Finalmente, o testemunho do furriel Mota do mesmo Batalhão e que deu a recruta e a especialidade ao Costa, na Metrópole. Apesar de não pertencer à mesma Companhia em Angola, diz que se encontrava frequentemente com o Costa no cruzamento das picadas do Lucuso, local onde a coluna de viaturas das três Companhias que constituíam o Batalhão se encontrava às quartas-feiras para, em conjunto, seguirem para a sede do Batalhão em S. Salvador, a cerca de noventa quilómetros, a fim de recolherem e transportar os mantimentos frescos chegados de Luanda no avião Nord Atlas. Tinham-se encontrado dias antes do acidente nesse local e, por ironia do destino, é na coluna que o furriel Mota apanha boleia para Luanda para vir de férias ao “Puto” que é transportada a urna com os restos mortais do conterrâneo e amigo António Costa.

Perguntei ao António Mota se sabia a razão da contradição entre os documentos quanto às causas da morte do António Costa.

Disse que esse procedimento era normal e que o faziam por causa das famílias. Segundo ele, na altura da guerra era mais fácil para a família aceitar um acidente provocado por negligência do que morrer com uma mina e ficar todo esfacelado. Disse-lhe que não concordava, se bem que nunca tenha vivido durante a minha comissão uma situação idêntica.

Realçou que a guerra do seu batalhão não se comparou a nenhuma outra. Foi a guerra deles. Lembrou que, quando chegaram à entrada do aquartelamento, se depararam com uma placa que dizia: nunca dês o último cigarro. Nunca bebas o último gole de água. Nem nunca gastes a última bala. Os irmãos não se escolhem. Os amigos sim. A partir daqui começa a guerra.


  • Alferes mil Venâncio Marinho da Cruz (pp.52-57)


O Venâncio Marinho da Cruz  (...)  foi o primeiro oficial miliciano fafense a morrer na guerra. Consultei em Lisboa, no Arquivo Geral do Exército, o seu processo individual por deferência da família, que agradeço. 

Apesar de não ter nascido em Fafe, o alferes Cruz quando foi incorporado nas fileiras das Forças Armadas já morava com a família em Seidões, onde está sepultado, e o seu nome consta, também, no Monumento aos Combatentes da Guerra Colonial, em Fafe. 

Nasceu em 25 de janeiro de 1941, na freguesia de Rego, concelho de Celorico de Basto. Frequentou o Seminário Conciliar de Braga. A 4 de maio de 1965 é incorporado na EPI (Escola Prática de Infantaria em Mafra), onde termina o 1.º Ciclo do COM (Curso de Oficiais Milicianos) a 5 de agosto e, aí, jura Bandeira a 4 de agosto. 

A 8 de agosto é colocado na EPC (Escola Prática de Cavalaria) para frequentar o 2.º Ciclo do COM na especialidade de Atirador de Cavalaria, terminado a 30 de outubro. A 1 de novembro de 1965 é transferido para o RC3 (Estremoz) e promovido ao Posto de Asp. Of. Mil. de CAV. 

 No seu processo consta que a 9 de fevereiro de 1966 pelas 14h30 "caiu durante o tempo de instrução no RC 7 (Lisboa), batendo com a cabeça no solo, tendo ficado inconsciente, sendo transferido para o Hospital Militar de Lisboa. São testemunhas os 1.º cabo mil 6953364 Regala e Leal n.º 7939664". Assina a participação o tenente cav João Nunes e Sena.

No RC3, a sua Unidade Mobilizadora, é nomeado para servir no Ultramar nos termos da alínea c) do Art.º 3.º do Dec. Lei 42.937 de 22.4 1960, embarcando em Lisboa com destino à Região Militar de Angola no navio Niassa a 15 de abril de 1966, data em que é promovido a Alferes, e desembarca em Luanda a 26 do mesmo mês.

Em 5 de maio pelas 06h00, marchou em coluna auto do Centro Militar do Grafanil em Luanda para o estacionamento do BART  753, tendo feito a sua apresentação naquele local no mesmo dia pelas 11h00. Em 15.4.66 é colocado no RC 3”.

Em março de 1968 faz parte da CCAV 1537 pertencente ao BCAV  1883/RC 3, e na noite de 27 para 28 de março sofre, durante uma operação de combate, uma violenta emboscada, vindo a falecer em consequência dos ferimentos em combate.

Em todas as operações militares realizadas e após o regresso do mato, o comandante do grupo de combate tinha que fazer e entregar ao superior hierárquico um relatório circunstanciado das movimentações e ocorrências durante a operação.

Com a intenção de informar e dar a conhecer como funcionava a máquina administrativa militar durante a guerra nestas circunstâncias, transcrevo uma síntese do Relatório da Operação de Combate em que veio a falecer o Alf. Cruz, juntamente com o furriel mil cav  José Martins Cavaco e o soldado Manuel Caetano Nunes.

“Relatório Imediato da Acção N.º 1/68”

O relatório, datado às 15h00 de 30 de março de 1968, é assinado pelo Comandante da Companhia de Cavalaria 1537,  pertencente ao Batalhão de Cavalaria  1883, Capitão Graduado de Cavalaria João Manuel da Fonseca Nunes e Sena, estacionado no Luacano (Zona Militar Leste – Luso), do qual fazia parte o Destacamento de Lago Dilolo, sendo seu Comandante o alf Venâncio.

O Relatório “Imediato da Acção nº 1/68” é organizado ao longo de seis pontos:

1. Local e grupo data /hora em que teve lugar a acção

Lago Dilolo, 27 março 1968, com início às 21.00 horas.

2. Descrição da ação (síntese)


Em 27 de março de 1968 pelas 18.00 horas apareceu no Estacionamento da NT (nossas tropas) no Lago Dilolo um nativo, que informou o Comandante do Destacamento, Snr. Alf Mil, Cruz, que um grupo IN (inimigo / turras) tinha estado na “Embala” do Soba (chefe nativo da sanzala /aldeamento nativo) NHACHICULO, dizendo que iria nessa noite atacar o Estacionamento matando todos os soldados. 

Em face das declarações do nativo” o Alf Cruz organiza uma patrulha de 13 elementos e desloca-se na única viatura que tinha, um UNIMOG UN3, pelas 19.00 horas, com o objetivo de averiguar a informação. Chegado ao local indicado pelo nativo, que ficava a cerca de 3 Km do Estacionamento na Picada Dilolo – Luacano, faz uma batida nas imediações, não encontra ninguém, dando, por esse facto, ordem para regressar, pelas 20.30 horas. (…)

Quando regressava a patrulha e a cerca de 300 metros da Escola Lago Dilolo, no mesmo local onde em Abril de 1967 o IN já tinha feito uma emboscada às nossas tropas, o IN estimado entre 15 a 20 elementos desencadeou uma forte emboscada atirando uma granada de mão defensiva que rebentou à frente da viatura UN3 e imediatamente abrindo fogo com as armas automáticas, lançando granadas incendiárias que lançaram fogo à viatura cujo depósito de gasolina explodiu.

Logo nos primeiros tiros foram alvejados diversos elementos das NT, tendo o Furriel Martins Cavaco, sido atingido mortalmente e calcinado pelas chamas uma vez que foi o único que ficou dentro da viatura.

Neste momento o Alf Cruz, ao organizar NT para resistir ao IN dentro do capim, verifica que o Furriel está inanimado e a ser devorado pelas chamas em cima da viatura e volta para junto da viatura tentando puxá-lo para fora da viatura, ao mesmo tempo que o IN lança uma granada de mão incendiária para a picada tendo com o clarão detetado o Alferes, atingindo-o de imediato com 3 tiros no tórax. O Alferes ainda consegue dar ordens aos seus homens para tomarem conta das armas dos Soldados feridos, arrastando-se mortalmente ferido e sangrando abundantemente para o capim.

O IN continuou a flagelar as nossas tropas com armas automáticas e granadas, não retirando a algumas delas as cavilhas de segurança, aproveitando-se da claridade das chamas da viatura incendiada.

Como resultado imediato da emboscada, tinham ficado ilesos somente 3 soldados da Patrulha. É então que o Soldado Condutor Auto N.º 2491/65, António Nunes Soares, toma iniciativa com grande coragem e sangue frio de retirar da “Zona de morte” cinco dos seus camaradas gravemente feridos, recuperando as respetivas armas automáticas, e arrastá-los às costas para o meio do capim, salvando-os, assim, da morte certa. Vendo, ainda, que um IN tentava assaltar a viatura e capturar a arma do Furriel que ardia em chamas em cima da viatura, o Soldado Nunes corre para a viatura e tentou fazer fogo com a sua arma que se lhe encravou (…), carregou para cima do IN e com uma cronhada na cabeça do bandoleiro (turra) atirou com ele para o capim e recuperou a arma que o mesmo já segurava.

Quando chegou junto dos seus camaradas, Soldados 2714/65, Helder Martins e 692 /65 António José Brito Fadista, disse a este último que fosse a corta mato pedir socorro ao Estacionamento. Os dois soldados, Soares e Martins transportaram os feridos para uma mata próxima até que chegaram os reforços (9 homens) sob o comando do 1.º Cabo n.º 2649 /65, João António, continuando o IN a flagelar as nossas tropas.

Os quatro feridos mais graves foram transportados com a ajuda dos camaradas e dois soldados foram dados como desaparecidos. Estes, os soldados 2669/65 Manuel Gomes Pires e 2674 /65, Cândido de Sousa Mata Rosa que se encontravam feridos, arrastaram-se para o capim, tendo chegado pelos seus próprios meios às 6.00 horas do dia 28 ao Estacionamento, pelo que não foram encontrados no local e durante aquele tempo foram dados como desaparecidos.

É o 1.º Cabo auxiliar de Enfermeiro n.º 2723/65 Constantino António Teixeira que trata dos feridos, ao mesmo tempo que o IN continuava a flagelar o Estacionamento (00.00 horas, 00.45horas e 02.00 horas do dia 28 março de 1968.

Pelas 11.30 horas do dia 28 é evacuado por HELI para o Luacano o ferido que se encontrava em piores condições, o soldado 2646/65, Manuel Caetano Nunes, que, atingido por dois tiros, sangrava abundantemente, tendo vindo a falecer durante a evacuação Heli.


O relatório resume este ponto do seguinte modo:

MORTOS:

– Alferes Venâncio Cruz, Furriel José Cavaco e Soldado Manuel Nunes.

FERIDOS GRAVEMENTE:

– 1.º Cabo n.º 2640/65 Manuel Paulo Gomes da Silva, Soldado 2683/65 Manuel Francisco Mourão Gaspar, Soldado 2703/65 Fernando Pereira de Carvalho e Sodado 2709/65 Helder de Sousa Cristóvão.

FERIDOS:

Soldado 2669 Manuel Gomes Pires e Soldado 2674/65 Cândido de Sousa Mata Rosa.

3. Apoio aéreo

Em 28 de março às 09.00 horas começaram a ser feitas evacuações de Héli de Lago Dilolo – Luacano e com dois DO-27 de Luacano para o Luso.

4. Transmissões

O destacamento da NT do Dilolo esteve em contínua ligação com a CCAV  1537 na rede AM NA /GRC – 9, muito embora fosse difícil a ligação devido às más condições atmosféricas.

5. Resumo dos resultados


a) Causadas pelo In:

- Mortos ………………. 3 (1 Oficial, 1 Sargento e 1 Praça)

- Feridos graves……….4

- Feridos ligeiros ……. 2

Destruída pelo fogo a Viatura UNIMOG UN3 – MX-O1-55

- Carbonizada a Espingarda Mauser n.º 9961

b) Obtidas pelas NT:

- Mortos prováveis …. 2

- Feridos não controlados. … Alguns

- Gr. M. Def. F-1 …......2 e outra destruída.

- Invólucros …..........127


6 . Conclusões, ensinamentos, diversos

a. Conclusões e ensinamentos

A emboscada sofrida pelas NT no mesmo local que em abril de 1967 as NT foram emboscadas, revela que o IN (MPLA) regressou, como vinha desde há muito referido por este Comando, à Zona do Dilolo moralizado e fortemente armado e com um efetivo bastante considerável (…).


b. Diversos

Citações


O relatório realça a ação em combate dos principais intervenientes na operação:

Alferes Venâncio Cruz, a quem será atribuída uma Cruz de Guerra, a título póstumo, o 1.º cabo auxiliar de enfermeiro Constantino António Teixeira, 1.º  cabo João António, os soldados António Nunes Soares e os soldados Helder Martins e António José Brito Fadista.

A todos é realçado o exemplo da sua coragem: 

(…) "Deu um exemplo frisante de valentia, sangue frio, qualidades de comando e desprezo pelo perigo debaixo do fogo do IN que mereceu a geral estima e admiração dos seus camaradas presentes que contribuiu para o prestígio do Exército."

Transcrevo, também, o louvor atribuído ao Alferes Cruz, publicado na O.S. (ordem de serviço) N. 226 do RC3:

Nesta ação, comandando uma patrulha de pequeno efetivo e tendo a maioria dos seus homens sido atingidos aos primeiros tiros, deu rapidamente as ordens para a reação e vendo que em cima da viatura que os transportava, e que estava incendiada jazia um seu subordinado que começava a ser devorado pelas chamas, voltou para junto daquela e, não só, indiferente ao fogo nutrido do inimigo, tentou puxar o corpo, quando descoberto no meio da picada e iluminado pelo clarão de uma granada incendiária foi mortalmente atingido por uma rajada do inimigo. 

Logo que se sentiu ferido, o Alferes Cruz incitou os seus homens para o combate, recomendou-lhes que cuidassem das armas dos seus camaradas feridos e, sangrando abundantemente, arrastou-se para o capim onde veio a falecer. A admirável valentia deste oficial e o excelso altruísmo e rara abnegação que o levaram, conscientemente a sacrificar a vida por um seu subordinado, são paradigma das mais acrisoladas virtudes militares, causam o comovido orgulho dos seus camaradas de armas, contribuem para a Glória do Exército que devotamente serviu e honraram a Pátria. Morto em combate em 27.3.1968.

Louvado por despacho de 6 maio de 1968 de Sua Ex.ª o General Comandante da RMA, por proposta do Exmo comandante da ZILESTE “pela maneira brilhante esforçada e aguerrida como comandou a sua equipa.

Condecorado com a medalha de Prata de Valor Militar com Palma, a título póstumo nos termos do Art. 7.º, com referência ao primeiro do Art.51.º do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de maio de 1946, pelas suas extraordinárias qualidades de coragem, abnegação e camaradagem demonstradas
(Fim do relatório) (op. cit. 53-57).

Como nota, gostaria de salientar que o soldado Joaquim Augusto Alves, sepultado no cemitério de Antime, não consta desta lista em virtude de ser natural do concelho de Cabeceiras de Basto, apesar de já estar a morar em Antime com os seus pais na altura da sua incorporação militar.

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos:  LG)



Jaime Bonifácio Marques da Silva (n. Seixal, Lourinhã, 1946): (i)  foi alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72); (ii)  tem uma cruz de guerra por feitos em combate; (iii)  viveu em Angola até 1974; (iv)  licenciatura em Ciências do Desporto (UTL/ISEF) e pós-graduação em Envelhecimento, Atividade Física e Autonomia Funcional (UL/FMH); (v)  professor de educação física reformado, no ensino secundário e no ensino superior ; (vi) autarca em Fafe, em dois mandatos (1987/97), com o pelouro de cultura e desporto; (vii) vive atualmente entre a Lourinhã, donde é natural, e o Norte;  (viii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 31/1/2014; (ix) tem 86 referências no nosso blogue.

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