1. Mensagem de António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res (*) , com data de 30 de Janeiro último:
Caro amigo: Junto te envio o que se me oferece dizer sobre o post3811 do Nuno Rubim.Como verás, colei-lhe o texto que considerava ser o último sobre o tema Guileje.Podes juntá-los, separá-los ou mesmo mandá-los para o lixo, a tua decisão será sempre a correcta.Uma coisa é certa, para mim este assunto está definitivamente encerrado.
Um abraçoAntónio Martins de Matos
2. A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21) (**) > A arte de comunicar
por António Martins de Matos
(Edição: L.G.]
A arte de comunicar, não sendo difícil, nem sempre é fácil. Vem isto a propósito do poste P3811 do Nuno Rubim (***).
Desde já peço desculpa se por qualquer modo o ofendi, longe de mim tal intenção, mas parece-me que não estamos na mesma sintonia.
Ambos procuramos contribuir para o escrever da História mas temos visões bem diferentes sobre a maneira de a construir.
Pela minha parte, não pretendo ser um historiador, baseio-me no que vivi e em alguns documentos, (o livro A retirada de Guileje e a minha Caderneta de Serviço Aéreo são dois deles), ouço, leio, apresento dúvidas, exponho ideias e opiniões pessoais alicerçadas em factos confirmáveis, por vezes até posso especular (quando o faço, digo-o), mas sei separar o trigo do joio, o facto da opinião, como felizmente muita gente que tem esta nefasta tendência de usar a cabeça para pensar.
Segundo as suas próprias palavras, NR, mergulhado nas questões históricas, pretende ser o científico, apoiado (só?) no documento, “embora possa admitir que ele seja duvidoso ou mesmo falso” (as palavras são suas).
Parece-me bem o rigor científico só que, como Frei Tomás, não se coibe de desenvolver uma teoria empírica sobre o modo como a artilharia do PAIGC estaria disposta no terreno, quando do ataque a Guileje, explanando ideias pessoais não alicerçadas em factos que sejam positivamente confirmáveis, validando-a tão só pelo facto de alguém (com interesse no assunto) lhe ter dito “que tinha sido tal e qual”.
Sejamos lúcidos e usemos a tal nefasta tendência, tão do desagrado do NR.
Chegaremos à conclusão de que:
(i) O PAIGC tem obrigatoriamente de defender a tese de que cercava o Guileje.
(ii) Nunca pode admitir que os seus ataques possam ter sido desferidos da fronteira.
(iii) Reconhecer esta hipótese significa transformar a grande vitória em algo sem valor.
Ao ler o post3788 do Manuel Reis (****), eis que também eu partilho a seguinte questão:
- Será por essa razão que o Nino Vieira e o Com Logístico manifestaram desconforto quando questionados sobre o ataque e o próprio comandante do sector acabou por ser fuzilado? (Não estou a especular, estou a questionar).
Não é minha intenção comentar ponto por ponto a resposta do NR, o que originaria a resposta da resposta da resposta, e por aí a diante.
Digo apenas que as dúvidas e comentários que apresentei continuam por resolver.
No fundo, e separando o essencial do acessório, a questão que nos divide pode resumir-se à discussão de duas teorias, uma que refere a implementação das posições de artilharia do PAIGC durante o ataque a Guileje dentro do nosso território, a outra que acredita que ela estaria na fronteira.
Uma delas está errada, resta saber qual.
Lendo tudo o que ultimamente foi publicado sobre este tema, os leitores, mais uma vez usando a tal nefasta tendência de pensar, poderão tirar as suas conclusões.
Por último, LG, deixa-me colar neste ponto o email que te mandei há uns dias e que diz:
Dizem os historiadores que quando se faz uma análise de um determinado acontecimento é necessário separar o que são os factos ocorridos, das interpretações, dos meros comentários e das nem sempre isentas opiniões.
A não observação desta regra pode dar origem à validação de acontecimentos baseados em meros rumores ou à construção de falsas teorias baseadas apenas em suposições.
O livro do Cor Coutinho e Lima contém a maior parte da informação necessária para uma análise do que aconteceu, mas deve ser lido com algum cuidado pois contém igualmente comentários e interpretações que ao longo do texto se contradizem, apresentados tão só como sendo a sua visão, ditados pelo seu coração.
Os nossos amigos A, B, C, D, ... que viveram e sentiram na carne o que se passou em Guileje, já expressaram as suas visões sobre o tema.
Os meus posts (3737, 3752 e 3778) apresentaram o Guileje “visto de cima” (*).
Também eles e eu podemos ser acusados de sermos pouco objectivos ou mesmo tendenciosos, apenas referindo o que nos interessa, omitindo a restante informação.
Agora é a vez dos que, insatisfeitos com as várias versões existentes, queiram analisar e reflectir sobre toda esta informação entretanto acumulada.
Ao contrário da opinião de muitos dos nossos amigos, estou absolutamente convicto que devem ser os que não estiveram em Guileje que podem fazer uma análise crítica dos acontecimentos, pela simples razão que poderão fazer esse estudo com a cabeça e não com o coração.
Necessitam tão só de ter uma visão neutra, isenta, sem ideias pré-concebidas nem paixões demagógicas, analisando passo a passo o que foi dito, escrito, registado, validando o que se provou e rejeitando liminarmente o que se prove ser mera fantasia.
Trinta e seis anos passados, não se pretende encontrar culpados ou inocentes, só se procura o registo do que efectivamente se passou.
Aos que “já estão fartos do tema Guileje”, devo lembrar que este episódio foi um dos mais significativos da guerra, com repercusões dramáticas ainda hoje não completamente digeridas.
Só assim se fará a História.
Para mim este assunto está encerrado.
António Martins de Matos
3. Comentário do Nuno Rubim (em 30 de Janeiro último):
Luis: Como bem diz o A.M.M., também para mim o assunto está encerrado. Rebateria várias das afirmações que ele produziu pois, como ele próprio reconhece, não é historiador e, assim sendo, temos pois uma visão muito diferente sobre a abordagem da temática em causa. Nuno Rubim
4. Mensagem enviada, em 31 de Janeiro último, pelo editor ao António Martins de Matos:
António: Para teu conhecimento. O Nuno já me tinha dito que não iria comentar mais nada, em público, no blogue. Vou portanto publicar apenas o teu texto. Obrigado pela informação que tens trazido e que nos ajuda a esclarecer melhor o papel dos bravos de Bissalanca... Até agora só tínhamos a intervenção do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil heli, e do Victor Barata, melec (autor do blogue: http://especialistasdaba12.blogspot.com/). Um Alfa Bravo. Luís
___________
Notas de L.G.:
(*) Foi Comandante Operacional da FAP entre 2003 e 2005 e Comandante Logístico em 2006, passando à reserva a quando da nomeação do actual Chefe do Estado Maior.
Vd. postes anteriores do António Martins de Matos:
14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
17 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3752: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (13): A missão de apoio aéreo de 21 de Maio de 1973 (António Martins Matos)
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3778: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (17): O cerco que nunca existiu (António Martins de Matos)
23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)
31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)
8 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3856: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (20): Resposta ao camarada e amigo J. Mexia Alves (Coutinho e Lima)
(**) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos
(***) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
Vd. também postes de:
23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)
24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)
25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)
27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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