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Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados.
1. Como eu costumo lembrar, há mais vida, felizmente, para além do nosso blogue e da blogosfera... A este propósito, o Joaquim Mexia Alves mandou-nos hoje esta mensagem que já partilhámos com o resto da nossa Tabanca Grande, e que nos sensibiliza:
Meus caros Luís, Virgínio e Carlos
Os amigos pertencem a todos os momentos das nossas vidas. Os amigos que passaram as mesmas coisas que nós talvez o sejam ainda mais.
Isto para vos dizer que na Segunda Feira, ao principio da tarde, vou estar no programa da Júlia Pinheiro [TVI, programa As Tardes da Júlia, das 14h às 17h], para falar sobre a minha vivência da fé cristã e católica.
Não tem obviamente a ver com a Tabanca Grande, mas tem a ver com a vida de um 'atabancado'.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Lembrei-me que temos aqui, pendente de edição, um texto do Coutinho e Lima, em que é visado o J. Mexia Alves. Aproveitamos a oportunidade para publicá-lo, com as nossas desculpas, aos dois, pelo atraso.
Ao J. Mexia Alves já tive a oportunidade de lhe desejar um bom desempenho televisivo: "É uma responsabilidade e um privilégio... Podes atingir um auditório vasto. Aproveita esse momento bem para passar o teu testemunho de fé e de esperança" (...).
Ao Alexandre Coutinho e Lima, o nosso agradecimento e o nosso apreço por querer continuar a partilhar connosco, com os amigos e camaradas da Guiné, as memórias do seu tempo de efémero comandante do COP 5 (Janeiro a Maio de 1973). LG
Assunto - A Retirada de GUILEJE – Considerações sobre o poste de 19 JAN 09 de MEXIA ALVES
[Negritos, no texto, da responsabilidade do autor]
Só hoje tive oportunidade de ler o poste 3760 de 19 JAN 09, do nosso Camarada e Amigo MEXIA ALVES (**).
Nas considerações que faz, cita várias vezes o poste 3737 de 14 JAN 73, da autoria do Sr Ten Gen da FA, António Martins dos Santos (***). A apreciação deste sobre A Retirada de Guileje, vai ser objecto de um comentário meu, rebatendo várias afirmações e conclusões do Sr Ten Gen, que não correspondem à verdade.
Exemplo:
“Desde 6 de Maio que os GC [Gr Comb] do Guileje não efectuaram qualquer saída do quartel…”.
Esta afirmação é uma mentira; basta ler o último parágrafo da pág. 32 e o primeiro parágrafo da pág. 33 do meu livro, que remete para o Anexo V; neste, elaborado pela 4ª. Repartição do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), são referidas as colunas de reabastecimento a Guileje; verifica-se que, após 6 MAI 73, foram realizadas colunas nos dias 7,11,14 e 16 MAI 73, isto é, 4 colunas.
Ora, o Sr Ten Gen, que diz ter tirado as conclusões depois da leitura do livro, ou não leu o Anexo V, ou se o leu, só ele pode explicar porque fez uma afirmação que é frontalmente contrariada pelo que consta no referido anexo, cuja autenticidade não pode ser posta em causa. A menos que o Sr Ten Gen considere que, nas colunas de reabastecimento, não saíam os Gr Comb de Guileje!
Tal como consta na pág. 28 do meu livro:
“ As colunas de reabastecimento eram verdadeiras Operações, que hipotecavam todos os meios operacionais disponíveis das duas guarnições”.
Não é especificamente referido no livro, mas é evidente que, não havendo água no quartel, esta era recolhida numa fonte a cerca de 4 Kms, na direcção do Mejo, isto é, no sentido contrário ao da estrada para Gadamael; o abastecimento de água era feito diariamente e, parece que é desnecessário referir, que esta actividade era efectuada pelos Gr Comb.
No próprio dia 18 MAI 73, à tarde (recordo que o ataque do PAIGC a Guileje, teve início com uma emboscada, neste dia às 7 horas), foi feito o indispensável reabastecimento de água (ver pág. 200 – resposta à 7ª. pergunta e pág.266, comentário 1).
A última saída de Gr Comb efectuou-se na manhã do dia 19 MAI, numa coluna para evacuação dos feridos da véspera, comandada por mim, na direcção de Mejo; devo referir que a Força Aérea não fez as evacuações solicitadas, a partir de Guileje, no dia 18; não questiono este facto, mas a promessa, não cumprida, feita pelo Sr Comandante-Chefe, na sua última visita a Guileje, em 11 MAI 73 (ver pág. 42 e 43). Recordo que um ferido grave (Cabo Metropolitano) faleceu 4 horas depois de te sido ferido na emboscada. Não se teria salvo se tivesse sido evacuado, em tempo oportuno?
Nem tão pouco era mais viável a evacuação, através do rio, como fora efectuada no dia 19, porque os sintex (barcos com motor fora de borda) e os respectivos operadores não regressaram a Guileje.
Em função do que fica escrito, como é que o Sr Ten Gen pôde concluir que os Gr Comb não efectuaram qualquer saída, desde 6 de Maio?
Relativamente ao que o MEXIA ALVES afirma:
“Eu pessoalmente não vejo em nenhuma das descrições feitas algo que sustente que o quartel estava irremediavelmente perdido e que portanto devia ser abandonado, mas posso estar redondamente enganado.”
Ora desta afirmação, com os elementos de que dispõe, Mexia Alves entende que o quartel não devia ser abandonado (é a minha interpretação), a menos que esteja enganado. É evidente que não concordo com a sua analise, remetendo-o, bem como aos amigos tertulianos, para o que consta nas páginas 76 a 82 – “20. Decisão de efectuar a Operação de Retirada de GUILEJE”.
É curioso referir que, nem o Sr Ten Gen Martins de Matos nem o Mexia Alves fazem a mínima alusão aos factores que estiveram na base da minha decisão, constantes nas páginas indicadas atrás e este é um ponto crucial; para quem quiser analisar a situação com profundidade, é indispensável ler atentamente o que está escrito e depois concordar ou discordar sobre a validade ou não das minhas razões, avançando as suas.
Há algumas pessoas que, sobre o assunto, emitiram uma opinião “politicamente correcta”, como foi o caso do Sr Maj Gen Manuel Monge, no filme AS DUAS FACES DA GUERRA: só quem lá estava tinha a capacidade de tomar uma decisão, face à situação concreta.
A minha decisão de retirar não pode ser analisada, sem considerar a hipótese contrária, isto é, permanecer em Guileje; eram as duas modalidades de acção que podiam ser tomadas, importando apresentar os prós e contras de cada uma; na pág. 80 do meu livro ((9) . Previsão do futuro, a muito curto prazo) está expressa, de forma sucinta, a minha perspectiva do que aconteceria, se a decisão fosse permanecer.
Mais do que a minha avaliação da situação concreta, importa conhecer o que, sobre este assunto, pensava o Sr Brigadeiro Leitão Marques, Comandante Adjunto Operacional do Comando-Chefe, constante na acta da Reunião de Comandos de 15 MAI 73.
Esta reunião foi presidida pelo Sr General Comandante-Chefe, estando presentes os Senhores Comandantes dos 3 Ramos das Forças Armadas: Exército, Marinha e Força Aérea, Sr Comandante Adjunto Operacional, Sr Chefe do Estado Maior do Comandante-Chefe e os Senhores Chefes das Repartições de Operações e Informações.
Chamo a atenção acerca da data desta reunião – 15 MAI – isto é, 7 dias após o início do ataque do PAIGC a Guidage (8 MAI) e 3 dias antes de se iniciar o ataque a Guileje (18 MAI). Só não foram incluídas, no meu livro, transcrições desta importantíssima reunião, para não aumentar ainda mais o seu volume.
Segue-se a transcrição de parte das declarações do Sr Brigadeiro Leitão Marques:
“… O In está a preparar as necessárias condições para conquista e destruição de guarnições menos apoiadas por dificuldade de \acesso (GUIDAGE, BURUNTUMA, GUILEJE, GADAMAEL, etc), a fim de obter os êxitos indispensáveis à sua propaganda internacional e manobra psicológica – isto está já ao alcance das suas possibilidades militares.
Quanto às vantagens para manobra psicológica In, não podemos esquecer que qualquer êxito pode conduzir à captura de prisioneiros em número tal que possa constituir um elemento de pressão psicológica sobre a Nação Portuguesa. A dar-se este facto e aceitando que a orientação comunista prevalecerá, tal elemento será aproveitado ao máximo para desmoralizar a retaguarda e manter-se-á até serem atingidos os objectivos finais em todas as PU”.
Esta transcrição fala por si; não possuindo eu a informação privilegiada do Sr Brigadeiro, a avaliação que fiz da situação não foi substancialmente diferente da \posição do Sr Comandante Adjunto Operacional. Tendo em conta os factores já indicados, considerei a posição insustentável, decidindo retirar na manhã do dia 22 MAI, aproveitando o efeito de surpresa; não estou certo que, se permanecesse, mais um dia que fosse, a retirada pudesse ser viável.
Espero que, com estas considerações, tenha contribuído para que o Mexia Alves tenha ficado mais esclarecido.
Logo que li o poste do Sr Ten Gen, enviei um mail ao Luís Graça, em que dizia:
“…quem não conhecer o livro e só ler a sua apreciação, ficará com uma ideia errada do que aconteceu, o que poderá ser o caso de muitos tertulianos…”.
Parece que adivinhava. O poste do Mexia Alves, pessoa que, além de bem informada, considero que tem intervenções sensatas e equilibradas, demonstra à evidência que, determinadas afirmações e conclusões, não fundamentadas, sobre o “dossier” Guileje, podem tornar-se perigosas. Ainda bem que a apreciação do Sr Ten Gen Martins de Matos foi publicada no blogue; esta circunstância vai-me permitir rebater as suas opiniões, como fiz relativamente à não saída dos Gr Comb de Guileje.
Aproveito esta oportunidade para desejar aos Camaradas e Amigos da Tabanca Grande um ANO de 2009 repleto de êxitos pessoais e profissionais e especialmente com muita SAÚDE, extensiva a todas as famílias. Quero também agradecer todas as provas de solidariedade que, por diversas formas, tenho recebido.
Um grande abraço solidário
Coutinho e Lima
___________
Nota de L.G:
(*) Vd. último poste da série > 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3811: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (19): Resposta de Nuno Rubim a António Martins de Matos
(**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3760: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (15): A minha homenagem aos que viveram a Guerra da Guiné. (J. Mexia Alves)
(***) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3737: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (11): Um erro de 'casting', o comandante do COP 5 (António Martins de Matos)
4 comentários:
O sr. Coronel Coutinho e Lima, justificando as suas teses, cita
palavras do Brigadeiro Leitão Marques, em Bissau, a 15 de Maio de 1973:"O IN está a preparar as necessárias condições para a conquista e destruição de guarnições menos apoiadas (Guidage, Buruntuma,Guileje, Gadamael)(...) isto já está ao alcance das suas possibilidades militares."
Como o sr. Coronel e todos nós sabemos, o IN não conquistou nem destruiu Guidage,nem Buruntuma, nem Guileje (Guileje foi abandonado pelas NT),
nem Gadamael, isso não estava ao alcance das suas possibilidades militares. Se estivesse, os aquartelamentos, (estes e outros até Abril de 1974) teriam sido conquistados e destruídos. E não foram, esta é a verdade. O Brigadeiro Leitão Marques estava
enganado na apreciação da conjuntura militar na Guiné, Abril, Maio de 1973.
Um abraço,
António Graça de Abreu
Quero acrescentar e para que conste que no final de Maio e como estava-mos sem munições, mantimentos e a Força Aerea deixou de fazer evacoações, cheios de feridos, em dada o Sr.Cor. CORREIA DE CAMPOS dizer para O SR.Gen SPINOLA que, se não fossem feitos reabastecimentos em tempo util tambem nós abandonariamos o aquartelamento pois estava a ser impossivel aguentar.Só quem passou por estas situações unicas na guerra é que têm capacidade de julgar como se pretende julgar os bravos camaradas de Guileje
Sr. Coronel Coutinho e Lima
Releia por favor o que diz a pgs.281 que mais uma vez se transcreve:
""a partir de 30 de Abr 73 foi solicitada e autorizada ... a redução da actividade operacional da CCav 8350 no sentido de o esforço principal ser orientado para as obras do aquartelamento, que estavam atrasadíssimas; ... só em Abril de 1973 foi autorizada a realização de algumas obras, ou seja, passados mais de 3 meses.
A redução da actividade, ao mínimo, permitiu ao Inimigo fazer os reconhecimentos à vontade e instalar o seu dispositivo sem grandes perturbações o que não teria acontecido se a actividade operacional decorresse no ritmo normal".
Palavras-chave: Mínimo, À vontade, Se.
Mais palavras para quê?
João Mendes
O João Mendes tem razão!
Mas...Por vezes fico confuso!?
Se houve tanta oportunidade para o PAIGC fazer todos os reconhecimentos. Porquê só entra em Guilege três dias depois?
Expliquem-me! Eu assim não percebo nada sobre esta guerra de guerrilha.
Pior é que fico com a sensação de não ter estado dois meses em Lamego. Não conhecer nada sobre o PAIGC. e não ter valido a pena o tempo que gastei a ler:
_Omar Cabezas Lacaio "A montanha é algo mais do que uma imensa estepe verde"
_Enrique Acevedo "Descamisado"
_Che Guevara "A Aventura Boliviana"
_O Livrinho Vermelho do Mao
_Muita coisa _até filmes_ sobre o Vietename.
_Todos ou quase todos os Livros publicados em Portugal sobre a Guerra na Guiné.
Ou pior ainda, estarei sem capacidade de análise sobre o grande feito que estamos ao elaborar aqui na Nossa Tabanca, a verdadeira história vivida, da Guerra na Guiné.
Volto a referir: Foi concerteza para o PAIGC (_embora tenha aproveitado em termos de propaganda_ talvez das maiores decepções, ao assaltar um acampamento fictício porque lá não existia vivalma.
Já estamos esclarecidos sobre a FAP! Ou não!?
Haja quem exclareça o resto!
Eu não falo da experiência do meu antigo comandante da C.CAÇ. 763 e posterior homem da Psico do Spínola na Amura e substituto do Major Mariz no COP3. E Porquê? Ele já morreu, mas eu acredito naquilo que falá-mos. Só que não posso falar por ele não poder confirmar.
Contarei outras estórias de Cufar.
O Abraço de sempre do tamanho do Cumbijã
Mário Fitas
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