sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7348: (Ex)citações (113): Achas para a fogueira, ou a influência dos movimentos independentistas na política interna de Portugal (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 26 de Novembro de 2010:

Caros camarigos
Aqui vão “achas para a fogueira”!

Leio repetidamente a exaltação dos Movimentos Independentistas em armas da Guiné, Angola e Moçambique, como os grandes precursores do 25 de Abril, que levou Portugal à democracia e ao desenvolvimento.

Mais uma vez e sempre nos colocamos de cócoras e deixamos aos outros a razão da nossa História, amesquinhando-nos e fazendo dos Portugueses o povo que mais mal diz de si próprio na Europa e muito provavelmente no mundo.

Tudo nos serve para tal desígnio, até as doutas opiniões de estrangeiros, que pouco ou mal nos conhecem, ou relatórios internacionais, sempre de duvidosa imparcialidade e normalmente controlados pelas forças dominantes.

Mas o que sobre gostaria de realmente reflectir é o seguinte:
Então e se esses Movimentos não tivessem pegado em armas, obrigando o país a consumir a maior parte dos seus recursos no esforço de guerra, o que seria Portugal hoje?

Com isto não estou a colocar em causa o direito desses povos encontrarem a sua independência, o seu destino, ou pelo menos não o pretendo fazer, porque concordo que esse objectivo era e é perfeitamente legítimo e deve ser alcançado.

Sabemos que por aqueles tempos a economia portuguesa crescia sem problemas e que foi o esforço de guerra a par com alguma conjuntura internacional, (esta ultrapassável), que veio condicionar fortemente esse crescimento e desenvolvimento.

Então, se esse monumental esforço financeiro e não só, que Portugal despendeu na guerra, fosse utilizado não só no continente, mas também no, então todo Português, que país teríamos, o que seriamos hoje?

É que, acredito que com o desenvolvimento então possível, com o acesso cada vez maior à educação, proporcionado por esse desenvolvimento e pela pressão da sociedade, o regime de então iria ser substituído, mais tarde ou mais cedo, (tal como foi em Espanha), sem as consequentes convulsões, gerando uma estabilidade que hoje se reflectiria seguramente nas nossas vidas.

Pois, logicamente podemos invocar que houve a necessidade imperiosa desses povos pegarem em armas, mas também podemos tentar perceber que, se tivessem trabalhado apenas no campo político, Portugal poderia ter dado outra resposta ao desenvolvimento desses territórios, e mais tarde, por força da mudança operada no próprio país como acima refiro, para além da pressão internacional, ter realizado uma descolonização em que as estruturas do poder desses novos países estivesse garantida, não pela força das armas, mas pela força das palavras.

Sim, já sei que virão dizer que o regime nunca cederia, mas a verdade é que nenhum regime como aquele cede quando é atacado, pelo contrário fortalece-se, mas o desenvolvimento que já se estava a notar, (a par com o “cansaço” que também já tão bem se notava e a longevidade do líder), poderia por dentro, levar à mudança estruturada, que iria dar origem a um novo país, a novos países, sem que tantos tivessem morrido para que tal acontecesse.

Enfim, um exercício impossível de concretizar hoje, mas já que falamos tanto do passado, não nos fará mal nenhum pensarmos nisso.

Realmente eu devo ser um pouco masoquista, porque já adivinho a quantidade de “porrada” que vou levar se os editores quiserem publicar este texto, o que deixo inteiramente nas suas mãos.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7344: Convívios (201): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)

14 comentários:

Unknown disse...

Caro amigo Mexia Alves, graças a Deus que este Post, não tem a divulgação da enciclica "Populorum Progressio" de Paulo VI, que eu o convido sériamente, e com o devido respeito a lê-la. Ou eventualmente a relê-la.
Creio não ser uma entidade de 'duvidosa imparcialidade e normalmente controlados pelas forças dominantes'.

Para ajudar talvez;
http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_26031967_populorum_po.html

Um abraço para todos e para cada um
Bom domingo

Carlos Filipe
ex-CCS BCAÇ3872 Galomaro

MANUELMAIA disse...

CARO MEXIA ALVES,

COMUNGO DA GENERALIDADE DO QUE AQUI EXPLANASTE E ACRESCENTO SÓ ISTO.
O IMPOSTO QUE ANTECEDEU O IVA CHAMAVA-SE I.T.(IMPOSTO DE TRANSACÇÕES) E FOI CRIADO PARA DE CERTA FORMA AJUDAR A SUPORTAR FINANCEIRAMENTE A GUERRA DO ULTRAMAR,PARA ALÉM CLARO DOS APOIOS DA ÁFRICA DO SUL,RODÉSIA E NÃO SÓ...)
O CERTO É QUE AQUANDO DO 25 DE ABRIL,ESSE IMPOSTO ERA DE 7%.
TRINTA E SEIS ANOS DEPOIS DO FIM DA GUERRA,JÁ VAI NO TRIPLO E FOI ANUNCIADO PARA JANEIRO 23 %.
DEPOIS DIGAM QUE TEMOS POLÍTICOS HONESTOS E QUE SE VIVE MELHOR EM PORTUGAL DESDE AQUELA DATA.
UM ABRAÇO MANUELMAIA

armando pitres disse...

Meu Caro Joaquim Mexia Alves.
Camarada.
Temes que o teu escrito venha a ser motivo para levares "muita porrada".
Não temas.
Seria um disparate em cima de outro disparate.
E nós já não temos (não deviamos ter) idade para disparates.
armando pires

admor disse...

Caro camarigo,

Completamente de acordo com os ideais formulados, que embora possam parecer ultrapassados, como efectivamente foram mas, pela pior ultrapassagem que poderia ter sido feita,tanto para os povos de lá como o de cá.
Mas a maior crise que se está a atravessar é de "valores morais" mas por todo o mundo e principalmente pela Europa.
É notório que os governantes europeus não têm estatura, nem categoria e nem sequer os tais "valores morais".
Assim sendo e transportando para o nosso país que ainda são todos aprendizes e fraquinhos sofremos as consequências todas que já estamos a sofrer e mais as que aì virão.
Não adianta chorar mais.
Um grande abraço para todos.

Adriano Moreira

Juvenal Amado disse...

Desculpa Mexia

Mas os povos não teriam pegado em armas se os seus dirigentes, tivessem sido escutados e não presos anos antes.

Aliás o 25 de Abril também foi feito, porque o opositores do regime também eram presos e torturados e não ouvidos.

Em relação à importancia dos movimentos de libertação quanto à nossa própria, não digo que não tivesse tido importância mas não esquecer, que por cá já se lutava à muitos anos e muitos dos que combatiam o regime, não advogavam a descolonização.
Quem é que não quis fazer cedências?
Foram os democratas ou os Salazaristas?
Aliás o regime caiu porque estava podre se estive são ainda andavamos a ver os nossos filhos e netos a irem de espingarda às costas para defender os bens de meia dúzia.
Eu de lá só vi chatices.

Não há revoluções quando tudo está bem.

Um abraço

Juvenal Amado

Anónimo disse...

Joaquim, como andamos em geral contra os ventos da história e se fizessemos um "supônhamos":

Iamos caminhar a favor dos ventos e então:

imaginarmos o Sócrates ou Santana Lopes, a administrar de Minho a Timor em 1961.

E Salazar a governar do Minho à ilha do Pico, com os dinheiros da CEE.

Será que teríamos hoje Ramos Horta a propôr compra de dívida pública portuguesa? Em porttuguês?

Será que periodicamente estariamos a perdoar dívida aos PALOP, se estes existissem?

Joaquim, podes ficar descansado que nesta fase do campeonhato já não há mais achas nem fogueira porque já ardeu tudo!

Já se quer começar a disputar o campeonato nacional ibérico!

Cumprimentos, Antº Rosinha

Torcato Mendonca disse...

Camarigo: ora camarigo é amigo e camarada ou camarada e amigo e como surge a palavra camarigo? será porque camarada pode ter conotação...
Camarigo Joaq. Mex. Alves não há muito tempo ouvia no café dizer: se o F C P ganhar hoje ao Sporting acabou o campeonato.
Será assim que assim pensas Camarigo? Tu que gostas do FCP -não digo o nome do clube porque sou SLBenfica...e não meto gasolina na lareira...
Um abraço amigo do teu Camarigo T.

Anónimo disse...

Meu Caro companheiro de Colégio Joaquim. Partindo de uma perspectiva talvez simplista, creio que hoje somos o mesmo Povo," a mesma gente",de sempre.Os das descobertas de novos mundos e,MERCADOS;das quantidades de ouro do Forte da Mina,do comércio com a Índia,China e Japao;das avultadíssimas somas dos negócios com a escravatura,e das riquezas infindáveis do Brasil e Áfricas.Tantos e täo ricos séculos de História tiveram certamente os mais variados tipos de competências nas pessoas responsáveis pela nossa economia.Monarcas e Ministros Absolutistas,Monarcas e Ministros mais ou menos Liberais;mais tarde Republicanos,também mais ou menos "liberais";os Corporativistas da Ditadura;todos os outros "Istas" de um passado recente, a somarem-se aos "modernos" Sociais Democratas,Cristäos Democratas e Liberais.Estranhamente?Fatalisticamente?Genialmente?!...Acabamos sempre por encontrar uma "linha de rumo" que nos coloca...onde hoje estamos.Näo dará esta continuidade de aproveitamentos de oportunidades auferidas resposta a alguns dos teus "SE"? Um grande abraco amigo.

Anónimo disse...

Caros Tabanqueiros:
Os movimentos independentistas não foram os precursores do 25 de Abril mas o sofrimento que estes causaram aos militares portugueses assim como o esforço financeiro dispendido por Portugal para os combater antecipou a queda do regime. Chegaria a revolução sem o factor "guerra do ultramar"? A revolução enquanto tal, talvez
não, a progressão gradativa para a democracia viria inexoravelmente, como veio para a nossa vizinha e virá para todos os povos do mundo.
Certo é que os movimentos independentistas lutaram pela independência dos seus respectivos territórios, não tanto pela instauração da democracia nos mesmos, como depois se viu. Assim, Portugal não tem que lhes agradecer.
A propósito deste assunto do camarigo Mexia Alves, quero relatar aqui um "caso" de que tinha já ouvido falar mas que me foi confirmado no dia 24 de Novembro, no almoço da Tabanca do Centro.Um combatente aí presente relatou que, por volta da Primavera de 1973, a sua companhia embarcou para Angola mas, em pleno voo, os "excurcionistas" receberam, com dramatismo, a notícia de que o destino seria a Guiné-Bissau. Segundo o tal combatente, cujo nome, lamentavelmente, não guardei, parte
daqueles jovens não teriam embarcado se soubessem o seu destino rel na hora do embarque. Ora, quando embarcámos em 27 de Junho de 1972 bem sabíamos o nosso verdadeiro destino. Daqui se infere que a degradação (desmoralização) das nossas hostes se vinha acentuando, tornando-se assim terreno fértil para o sucesso da revolução que se começava a preparar.

Um grande abraço.
António Carvalho- o de Mampatá

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Filipe

Reli a "Populorum Progressio" e não encontrei nela nada contra aquilo que aqui escrevo.

E esta Enciclica, (que não é um relatório), não aponta o dedo apenas à colonização portuguesa, mas a todas as à data existentes, inclusive no continente europeu.

Um abraço para ti

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Armando Pires

Acabo por não perceber se chamas "disparate" àquilo que escrevi!

Mas obrigado na mesma.

Um abraço para ti

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro Juvenal

Lê bem o que eu escrevi, pois o que está escrito não coloca em causa nada do que dizes.

Um abraço para ti

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro Torcato

Duas "coisinhas":

Camarigo, foi palavra que inventei para dar mais força à relação que une os ex-combatentes.
Camarada é pouco, (e tem conotações, sem dúvida), porque o que nos liga vai para além da camaradagem.
Amigo também não preenchia quanto a mim tudo o que a nossa relação de ex-combatentes envolve, (até pela forma fácil como a palavra hoje é usada).

Daí o camarigo, que envolve a cumplicidade, a entreajuda, o depender de, mas também o coração, os sentimentos, a entrega emocional.

Quanto ao FCP, que por acaso até empatou, (e jogou mal), não tenho o campeonato por "favas contadas", nem esse, nem nenhum!

Um abraço camarigo para ti e para os outros também, pois claro

Joaquim Mexia Alves disse...

Meu caro José Belo, companheiro de colégio e camarigo da Guiné.

Talvez...

Se...

Um abraço amigo