"A Voz da Guiné", o primeiro jornal da nova República da Guiné-Bissau
Amigos Vinhal, Luís e Briote
Envio aqui anexo mais algum material que poderá ficar bem no blogue.
Envio aqui anexo mais algum material que poderá ficar bem no blogue.
O primeiro jornal da Guiné livre "A VOZ DA GUINÉ", com a data de 10 de Setembro de 1974, relembro que temos no blogue, em posts anteriores, a descrição e fotos da cerimónia da cerimónia de entrega oficial do poder político ao P.A.I.G.C., que ocorreu no quartel em Mansoa, em 9 de Setembro desse mesmo ano.
cópia da 1ª página do 1º nº da "Voz da Guiné". Ficamos a aguardar as outras 3 e tentaremos reproduzi-las na íntegra. Gratos ao Eduardo M. Ribeiro pelo envio de mais um documento de indiscutível interesse.O jornal é constituído por 4 páginas, todas idênticas à primeira, em que a nova bandeira da Guiné-Bissau ocupa meias páginas. Se acharem interessante enviarei as outras 3 páginas para publicação.
Anexo também algumas palavras de indignação, que escrevi sobre o comportamento político em relação aos ex-Combatentes da Guerra da Ultramar; "Sombras desta pseudo-democracia", pois a falta de aplicação prática da lei 9 /2002, e o ostracismo a que somos votados provoca o espanto e a indignação, até de alguns dos nossos "putos" que, apercebendo-se de tamanha injustiça, acham inacreditável e inaceitável tal atitude.
Sombras desta pseudo-democracia!
Éramos uns “putos”... feitos Homens!
Arrancados aos bancos dos liceus
Largando mães, namoradas, esposas...
Enfiados em quartéis... longe dos seus
Éramos uns “putos”... mas tesos!
Sabíamos que o destino era a guerra
Lá... muito longe... em meio hostil...
Pleno de mata, trilho, rio e serra
Éramos uns “putos”... com vinte anos!
Que crescemos mais rapidamente
Cientes que a "coisa" era… séria
Cheia de riscos... perigosamente!
Éramos uns “putos”... mas solidários!
Soubemos ultrapassar as dificuldades
À custa de vasto suor e muito sangue...
Algumas cicatrizes e enfermidades
Éramos uns “putos”... quase imberbes!
Instruídos p'ra matar... custa a crer!
Imbuídos duma obsessão suprema;
Acima de tudo... sobreviver!
Éramos uns “putos”... uma geração!
Lidamos com as privações e a morte
Cada um teve a sua missão
Com maior ou menor dose de sorte
Éramos uns “putos”... temperados!
Quantas vezes superamos as fraquezas
Para dar uma ilusão de sermos fortes
De modo a derrotar dores e tristezas!
Éramos uns “putos”... Grandes… enfim!
Fomos lá... cumprir... melhor ou pior!
Cada um com seus receios... medos!
Em nome dum Império duro e opressor
Hoje estes “putos”... já são avós!
E uma coisa estranham... revoltados!
O repugnante ostracismo político
A que, como ex-combatentes, são votados!
Quando pensaram: “Cumpri com a PÁTRIA!”
Descobriram, digamos que... espantados!
"Somos sombras desta pseudo-democracia!”
Pura e simplesmente... ignorados!"
Cientes que os voluntários foram poucos
E os que não fugiram foram bastantes
A indignação é tanto mais e revoltante…
Quanto os sentimentos são frustrantes
Rezando pelos que entretanto vão “partindo”
Vão dando continuidade à vida… desgostosos
Desta imensa e repulsiva ingratidão
Por parte de políticos velhacos e rancorosos
Mantendo porém… firmes a sua esperança
Que neste país após a “abrilada”
Políticos com sentido e Amor Pátrio
Lhes prestem justiça e… mais nada
Porque tudo deram… do seu melhor!
Por vezes… sabe Deus com que sacrifícios
Dez mil morreram na flor da idade, e…
Milhares ainda sofrem mil malefícios!
Trocando experiências e memórias
Estes homens convivem entre si… alegremente
Tornam-se amigos, camaradas... irmãos…
Entre palavras, risos e choros... intestinamente!
Éramos uns “putos”... feitos Homens!
Arrancados aos bancos dos liceus
Largando mães, namoradas, esposas...
Enfiados em quartéis... longe dos seus
Éramos uns “putos”... mas tesos!
Sabíamos que o destino era a guerra
Lá... muito longe... em meio hostil...
Pleno de mata, trilho, rio e serra
Éramos uns “putos”... com vinte anos!
Que crescemos mais rapidamente
Cientes que a "coisa" era… séria
Cheia de riscos... perigosamente!
Éramos uns “putos”... mas solidários!
Soubemos ultrapassar as dificuldades
À custa de vasto suor e muito sangue...
Algumas cicatrizes e enfermidades
Éramos uns “putos”... quase imberbes!
Instruídos p'ra matar... custa a crer!
Imbuídos duma obsessão suprema;
Acima de tudo... sobreviver!
Éramos uns “putos”... uma geração!
Lidamos com as privações e a morte
Cada um teve a sua missão
Com maior ou menor dose de sorte
Éramos uns “putos”... temperados!
Quantas vezes superamos as fraquezas
Para dar uma ilusão de sermos fortes
De modo a derrotar dores e tristezas!
Éramos uns “putos”... Grandes… enfim!
Fomos lá... cumprir... melhor ou pior!
Cada um com seus receios... medos!
Em nome dum Império duro e opressor
Hoje estes “putos”... já são avós!
E uma coisa estranham... revoltados!
O repugnante ostracismo político
A que, como ex-combatentes, são votados!
Quando pensaram: “Cumpri com a PÁTRIA!”
Descobriram, digamos que... espantados!
"Somos sombras desta pseudo-democracia!”
Pura e simplesmente... ignorados!"
Cientes que os voluntários foram poucos
E os que não fugiram foram bastantes
A indignação é tanto mais e revoltante…
Quanto os sentimentos são frustrantes
Rezando pelos que entretanto vão “partindo”
Vão dando continuidade à vida… desgostosos
Desta imensa e repulsiva ingratidão
Por parte de políticos velhacos e rancorosos
Mantendo porém… firmes a sua esperança
Que neste país após a “abrilada”
Políticos com sentido e Amor Pátrio
Lhes prestem justiça e… mais nada
Porque tudo deram… do seu melhor!
Por vezes… sabe Deus com que sacrifícios
Dez mil morreram na flor da idade, e…
Milhares ainda sofrem mil malefícios!
Trocando experiências e memórias
Estes homens convivem entre si… alegremente
Tornam-se amigos, camaradas... irmãos…
Entre palavras, risos e choros... intestinamente!
Ainda agora acabei de ouvir na TV que nos E.U.A. (país de grandes contradições e maldizeres), o patriotismo e a estima pelos seus veteranos de guerra, são valores que o povo cultiva e respeita com o maior rigor e carinho, ainda que o mesmo povo pene, nos dias de hoje, sobre algumas das mais negras vicissitudes do seu passado histórico.
(...)
Um abraço amigo do Pira de Mansoa
(...)
Um abraço amigo do Pira de Mansoa
M.R.
Eduardo Magalhães Ribeiro
__________
Notas:
1. Eduardo Magalhães Ribeiro (ex-furriel miliciano O. E. da CCS do BCAÇ 4612), em 9 de Setembro de 1974 arreou a última bandeira portuguesa, no quartel de Mansoa, na presença de representantes do PAIGC que, por sua vez, hastearam a bandeira da nova República da Guiné-Bissau.
2. Artigos do Autor em
26 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3358: Cancioneiro de Mansoa (11): Zé, um rapaz castiço (Magalhães RIbeiro)
Sem comentários:
Enviar um comentário