quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5878: Documentos (11): PAIGC: um curioso croquis do Sector 2, área do Xime, desenhado e legendado por Amílcar Cabral (c. 1968) (Luís Graça)




Um interessantíssimo manuscrito de Amílcar Cabral, com o croquis da Frente Leste, Sector 2, Área de Xime.  S/d. Arquivo Amílcar Cabral. Fundação Mário Soares

Imagem digitalizada e reproduzida com a devida vénia...

Fonte: Fundação Mário Soares: Arquivo Amílcar Cabral. Bissau, Cidade da Praia, Lisboa. Lisboa: Fundação Mário Soares. 2005. p. 13.

1. Leitura e interpretação do documento (L G.):

Ao canto superior esquerdo, consegue ler-se o seguinte:

Educação - Mamadu  Dembo;
Comandante de sector - Mamadu Indjai;
Comissário Político de FARP - Pedro Landim;
Comissário Político junto do Povo - Juvêncio Gomes;
Comis[sário] Abast [escimento] FARP - Mamdu Alfa Djaló;
Segurança Milícia - Sabino Mendonça;
Saúde - Benjamim Brito.


Na parte superior, ao centro:

Escolas - Satecuta, Mina, Cancódea [, a sudeste da Mata do Fiofioli,], Manhai [ou Mangai?], Gã Dias [ou Ponta Luís Dias ?],Gã Carnes [Ponta do Inglês], Baio [ou Darsalame, junto ao Buruntoni]

Saúde - 1 médico, 4 enfermeiros"

No mapa desenhado por Amílcar Cabral, estão indicados os seguintes topónimos ou localidades do Sector 2 (delimitado a norte pelo Rio Geba, a oeste e a sul pelo Corubal e a leste pela estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole, não incluindo portanto a região a norte do Geba que, no meu tempo, também fazia parte do nosso Sector L1 / Zona Leste):

Rio Geba / Ponta do Inglês [ou Gã Garnes ] / Xime / Bambadinca / Bafatá

Indicam-se as distâncias em quilómetros:

- 4 Km de Ponta do Inglês (ou Gã Garnes) até ao Xime; [pela antiga estrada, são mais de 12, aliás no meu tempo os obuses 10.5 não chegavam lá];
- 7 km do Xime a Bambadinca; [por estrada, são mais uns quatro ou cinco];
- 30 km desta localidade até Bafatá, em estrada alcatroada (sic)

Está também desenhada a estrada Bambadinca - Mansambo - Xitole, com as seguintes observações:

Bambadinca - Xitole: 42 km
Mansambo: 80 tugas (sic)

Há ainda referência  a uma comp[anhia] (?), com 50 m [militares ?] , possivelmente o destacamento de Ponta  do Inglês...

Há ainda referência a um valor de grandeza, 300 / 400 m . Ainda pensei que Amílcar Cabral estivesse a referir-se à larg[ura] (?) do Rio Corubal ... Mas não: antes da foz, entre a Ponta do Inglês e Ganturé (na margem esquerda), o rio mede mais de 2 quilómetros de largura; antes da curva de Mangai, começa a estreitar, mas mesmo assim, terá cerca de 1 quilómetro... Onde terá 200 metros é nas proximidades do Xitole... (Estou a fazer cálculos pelos mapas).

 Esse valor de grandeza (300/ 400 m) deve referir-se a efectivos do PAIGC (FARP, milícias, população militarizada). Do PAIGC, acho exagerado, no máximo, teria 5 bigrupos em todo o Sector L1, no tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) (*)...  Conferir estes dados com o croquis do Sector L1, feito no tempo da CCAÇ 12 (1969/71) (Documento a seguir).

E logo a seguir, há as seguintes notas à margem, sempre escritas com a letra elegante de Amílcar Cabral:

Populações - Beafadas, mandingas, balantas.

Estacionamentos de milícia: Moricanhe, Dembataco, Amedalai, Samba Silate. Em cada um desses estacionamentos, há 8 ou 10 tugas, excepto em Moricanhe onde só há africanos (sic).


Guiné 1969/71 > Croquis do Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca) (vd.  Sinais e legendas).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infogravura: © Luís Graça (2005). Direitos reservados


2. Comentário de L.G.:

Uma vez que é referida a existência da Ponta do Inglês como um destacamento das NT, guarnecido por um pelotão reforçado (os tais 50 m ?)  (retirado em finais de 1968), este documento deve ser do ano de 1968 (meados).  Quem estava no Xime, com um destacamento na Ponta do Inglês, era a CART 1746 (que veio de Bissorá, 1967/69, sendo comandada pelo cap mil art António Vaz).

Nesse ano a CART 2339 (do Torcato Mendonça e do Carlos Marques dos Santos) instalou-se em Mansambo. Moricanhe foi abandonada em meados de 1969, depois do ataque a Bambadinca em 28 de Maio de 1969. Em Agosto desse ano, o pessoal da CART 2339 feriu gravemente o Amadu Indjai, comandante do Sector 2 / Área do Xime (Op Anda Cá, com o BCP 12, CCAÇ 12 e CART 2339)...

Peço aos camaradas que estiveram no Sector L1 / Zona Leste (Bambadinca), nesta altura, para completar ou complementar as minhas notas... Refiro-me à malta do BCAÇ 2852, da CCAÇ 12, da CART 1746, da CART 2339, dos Pel Caç Nat 52 e 63, etc. De qualquer modo, Amílcar Cabral revela, senão  um perfeito, pelo menos um bom conhecimento da região (o famoso triângulo Xime-Bambadinca-Xitole).

Imagem

Fonte: Fundação Mário Soares: Arquivo Amílcar Cabral. Bissau, Cidade da Praia, Lisboa. Lisboa: Fundação Mário Soares. 2005. p. 13. (Com a devida vénia...)
______________

Nota de L.G.:

Vd. poste, da I Série,  de 15 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLIII:Op Lança Afiada (1969): (i) À procura do hospital dos cubanos na mata do Fiofioli

(...) Guiné 68-70. Bambadinca: Batalhão de Caçadores nº 2852. Documento policopiado. 30 de Abril de 1970. c. 200 pp. Cap. 48-54. Classificação: Reservado (Agradeço ao Humberto Reis ter-me facultado uma cópia deste documento em formato.pdf)

Op Lança Afiada (8 a 19 de Março de 1969) - I parte

1. Situação: Inimigo

1.1. Desde há anos que a região da margem direita do Rio Corubal até à linha Xime-Xitole, é considerada uma zona de refúgio e preparação do IN [inimigo]. A profundidade continental da região, a sua espessa arborização (excepto na franja marginal do Rio), a falta de trilhos e caminhos, a grande distância a que ficam os aquartelamentos mais próximos (Xime, Mansambo e Xitole), tudo isto são características que convidam o IN a permanecer na Zona, em relativa tranquilidade.

O IN sabe que detecta facilmente qualquer tentativa de aproximação das nossas Forças Terrestres. Se a aproximação terrestre é difícil, a actuação das FN [Forças Navais] parece facilitada pela existência do Rio Corubal. E a tal ponto que, em estudo realizado por este Comando, a área da margem direita do Rio Corubal, desde a Ponta do Inglês a Gã Júlio, foi considerada uma área que devia ser batida pelas NT [Nossas Tropas] em operação conjunta de meios navais e helitransportados.

A deficiência destes meios contribuiu para o quase completo sossego em que o IN tem vivido na área, controlando uma população de balantas e beafadas que o alimenta e que se reputa numerosa. E determinou a realização da Op Lança Afiada com o emprego exclusivo de forças terrestres.

1.2. O reconhecimento aéreo e as poucas operações realizadas não dão uma ideia muito clara acerca do IN na região considerada. Admite-se no entanto que existam na região pelo menos 5 bigrupos e um grupo de artilharia.

As acções ofensivas do IN tem sido relativamente espaçadas e dirigidas contra o Xime, Mansambo e Xitole, além de emboscadas nas estradas Xime-Bambadinca e Mansambo-Xitole e de penetrações contra tabancas fiéis na direcção do [regulado do] Cossé e na área entre o Xitole e Saltinho.

Embora apresentando bom potencial de fogo (canhão s/r, mort 82 e 60, LGFog, etc.), o IN continua a mostrar uma execução deficiente. As reacções à actividade das NT não têm sido muito fortes. Mas os poucos trilhos de acesso estão normalmente armadilhados. O IN embosca por vezes as NT quando regressam a quartéis. Além disso tem tiro de Mort 82 preparados sobre os seus próprios acampamentos, executando-os quando as NT os ocupam. E as arrecadações de material e armamento encontram-se em geral afastados dos acampamentos.

De uma maneira geral podem considerar-se as seguintes áreas principais de concentração IN:

1 – Poindon;
2 - Baio-Buruntoni;
3 - Gã Garnes (Ponta do Inglês);
4 - Ponta Luís Dias (Calága) – Gã João;
5 - Mangai-Tubacuta;
6 - Madina Tenhegi;
7 - Fiofioli;
8 - Cancodeas;
9 – Mina – Gã Júlio;
10 – Galo Corubal – Satecuta;
11- Galoiel.


1.3.

a) Área de Poindon:

Localização aproximada – (1500 1155 B2). RVIS efectuado em Novembro de 1968 revelou que toda a área se encontrava muito povoada tendo sido referenciadas mais de 15 casas de mato distribuídas por 2 núcleos. As bolanhas estavam cultivadas.

b) Área de Baio-Buruntoni:

Baio – Localização aproximada: (1500 1150 G7); deve ser uns dois a três km a Oeste. Chefe: Mário Mendes. Efectivo aproximado: 1 bigrupo dividido com Varela.

Burontoni – Localização aproximada: (1500 1150 G7) e (1455 1150 A 7). Efectivo aproximado: 100 homens: Armamento: MP, Mort 82 e 650, LGRFog.

c) Área de Gã Garnes (Ponta do Inglês):

Localização aproximada – (1500 11540 B5-5) com trilhos de acesso a Baio e à Ponta João da Silva. O itinerário a seguir quando se vem da Ponta do Inglês atravessa o Rio Buruntoni em (1500 1150 A2 -82). Efectivos e armamento: mais de 15 homens com Mort, LGFog, etc.

d) Área de Ponta Luís Dias – Gã João:

Ponta Luís Dias – Localização: (1505 11?3 F3 ou G2 G0-44). O itinerário mais fácil parece ser pela margem do Rio Corubal mas na época seca pode ir-se partindo de Gã Garnes. Efectivos: Cerca de 25 (?) elementos, armados de MP, ML, Mort 82 e 60, LGFog., etc. Consta talvez (?) 1 Canhão s/r em Ponta Luís Dias, apontando para o Corubal.

Gã João - Localização: (1505 1150 H5 ou I6 ou 13-55). Acessos idênticos ao acampamento de Ponta Luís Dias. Pode ficar à direita da picada Ponta Luís Dias – Ponta do Inglês sobre um trilho que parte desta. Foi localizado um grupo de casa em 1505 1150 G9-2.

e) Área de Mangai-Tubacuta:

Mangai – Localização: (1505 1145 G8). O acesso é mais fácil pela margem do Corubal. Por terra o acesso mais fácil parece ser por Madina Tenhegi (1500 1150 E2). Efectivos: 1 Gr Artilharia, parte em Tubacuta.

Tubacuta – Localização: (1500 1145 B9 B6 ? ), entre a tabanca e a Casa Gouveia, ao pé da bolanha. O acesso é mais fácil pela margem do Rio Corubal ou partir de Madina Tenhegi. Efectivos: mais de 100 homens com cubanos.

f) Área de Madina Tenhegi:

Não há referências sobre acampamentos IN.

g) Área de Fiofioli:

Localização: (1500 1145 E4 ou D5). Não são conhecidos os acessos à área. A mata do Fiofioli é muito [ densa ? ] e está praticamente cercada por bolanhas que o IN provavelmente baterá. Efectivos: talvez 1 bigrupo. Consta existir um hospital, com médicos cubanos.

h) Área de Cancodeas:

Cancodea Balanta – Localização: (1500 1145 E3). Efectivos: 50 homens armados.

Cancodea Beafada – Localização: (1500 1145 G2)

i) Área de Mina – Gã Júlio:

Mina

Localização: Em (1500 1145 h6 ou I6), na mata próxima da tabanca, dividida em dois núcleos, afastados cerca de 400 metros. Um núcleo é formado pelas instalações de pessoal e pelo posto de rádio. Parece ser aqui o comando do Sector 2 do IN. Consta haver uma enfermaria com cubanos. Há quem diga existir 200 elementos IN. Mas há quem diga serem poucos. A reacção à operação dos páras em 16 de Dezembro de 1968 foi nula. Em Novembro de 1968 foi indicada a existência de canhão s/r, 10 LGFog, 5 metralhadoras Degtyarev, 1 morteiro 60, etc.

Gã Júlio – Localização: (1500 1145 D4 ou E4). Não há outras indicações.

j) Área de Galo Corubal – Satecuta:

Galo Corubal – Localização (1455 1145 D4 ou E4), no fundo do palmar e a cerca de 300 m do Rio Corubal. O acesso tem sido feito pelo Norte do Rio Pulon desde a estrada Xitole-Mansambo, mas as NT têm-se perdido por vezes. O acesso, atrvés do Rio Pulon, próximo da foz, por Seco Braima, pode ser efito na época seca. Efectivos e armamento: Considerados poucos, mas com MP, ML, Mort LGRFog.

Satecuta – Localização (1455 1145 D2 ou E2 ou F2), a oeste de Seco Braima. Acesso idêntic o ao de Galo Corubal. Em meados de 67, apresentava grande actividade IN. O acampamento foi destruído em Maio de 68, baixando a actividade IN. Efectivos: ignoram-se mas parecem dispor de MP, ML, Mort LGRFog.

l) Área de Galoiel:

Localização (1455 1150 F1) próximo de Galoiel. Ataque das NT em 28 de Novembro de 1968 repelido pelo IN. Novo ataque em 23 de Dezembro não tendo o IN oferecido quase resistência. Efectivos entre 20 a 30 elementos, armados com LGRFog, Mort 82, ML, etc.

1.4. Admite-se que, sendo a Op Lança Afiada, uma operação demorada, o IN tenha possibilidade de reforçar os seus bigrupos, exercendo um esforço sobre este ou aquele dos nossos destacamentos. Admite-se também que quer as populações civis sob controlo In quer o próprio IN atravessem de noite o Rio Corubal, furtando-se assim ao contacto com as NT.
(...)

10 comentários:

Anónimo disse...

Camaradas:
Este documento é, do meu ponto de vista, importantíssimo.
Luís, onde o foste desencantar????

CMSantos
CART 2339 - Mansambo / 68-69

Luís Graça disse...

Carlos:

Citei a fonte... Trata-se de um documento que digitalizei de uma brochura da Fundação Mário Soares...

Tu, o Torcato e outros camaradas do Sector L1, como eu, sabemos dar valor a este tipo de documentos (que têm interesse historiográfico)...

Afinal, a gente conhece (e se conhece!) aqueles sítios... Estão marcados, a ferro e fogo, na nossa carne e no nosso espírito...

O documento original faz parte do Arquivo Amílcar Cabral, ou que resta dele (parcialmente destruído na guerra civil de 1998), e que foi "salvo" pela Fundação Mário Soares (FMS), a mesma que apoiou, tecnicamente, a organização do Museu de Guileje (inaugurado em 20 de Janeiro de 2010).

Vê o sítio da FMS > Arquivo e biblioteca > Dossiês > Arquivo Amílcar Cabral

http://www.fmsoares.pt/aeb/Dossier01/dossier01.htm

Luís Graça disse...

Carlos: O notável trabalho da FMS, no que respeita à preservação, tratamento e divulgação do Arquivo Mário Soares, merece ser conhecido e enaltecido...


"Fotografias Amílcar Cabral

"Foi possível recuperar mais de mil fotografias de Amílcar Cabral e de aspectos relevantes da luta de libertação nacional, embora muitas delas apresentassem grave deterioração.

"Todas essas fotografias foram objecto de acções de conservação, procedendo-se seguidamente à sua reprodução fotográfica e digital e, bem assim, à criação de uma base de dados descritiva do respectivo conteúdo - que está ainda a ser actualizada.

"Neste dossier, apresentamos algumas fotografias tratadas no Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares - que consegue ver ampliadas carregando no respectivo ícone podendo também os leitores aceder desde já à
colecção disponibilizada na Internet".

Pesquisar em:

http://www.fmsoares.pt/aeb/fotografias/1amc_pesquisa_geral.asp

Luís Graça disse...

Carlos:

Infelizmente não encontrei fotos da Frente Leste > Sector 2 > Área do Xime...

Os fotógrafos não chegavam lá...

http://www.fmsoares.pt/aeb/fotografias/1amc_pesquisa_geral.asp

Luís Graça disse...

Carlos:

Infelizmente não encontrei fotos da Frente Leste > Sector 2 > Área do Xime...

Os fotógrafos não chegavam lá...

http://www.fmsoares.pt/aeb/fotografias/1amc_pesquisa_geral.asp

Luís Graça disse...

Carlos:


Já aqui, ou melhor, na I Série do nosso blogue, foi descrita a operação em que foi ferido, por vocês (malta de Mansambo, CART 2339), o mítico Mamadu Indjai, que tanto trabalho nos deu, todos - CART 239, CCAÇ 12, malta do Xime, de Bambadinca, do Xitole, páras, etc...

Aqui tens o poste (ou um deles), sobre a Op Nada Consta:

30 de Julho de 2005 >
Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969)

http://blogueforanada.blogspot.com/2005_07_24_archive.html

Não sei se o Mamadu Indjai acabou por morrer, na sequência dos ferimentos que vocês, CART 2339, lhe infligiram, em emboscada montada no itinerário Mansambo-Xitole, próximo da ponte sobre o Rio Bissari...

Dias depois, a CCAÇ 12 - eramos periquitos... - a Op Gancho IV:

"Entretanto, a 30 de Agosto, o 1º, o 3º e 4º Cr Comb, num patrulhamento ofensivo à região do Rio Biesse, Demba Ioba, Sambel Bare, Sinchã Mamadi e estrada de Mansambo, percorreriam 6 acampamentos IN recém-abandonados, ao longo dum trilho principal que conduzia a região de Biro, atravessando o itinerário Mansambo-Xitole.

"No primeiro acampamento, encontrou-se o cadáver dum chefe IN identificado pelo prisioneiro que servia de guia, e que teria morrido em consequência de ferimentos recebidos em combate, durante a Op Nada Consta. Em escassos dias, as formigas carnívoras e os abutres tinham-no reduzido a um esqueleto desconjuntado.

"Vestia uma espécie de dolmen impermeável que ainda estava em bom estado, assim como as botas... Num outro acampamento a seguir, foram encontradas um maço de cartas escritas em árabe e uma planta do aquartelamento de Mansambo, com as posições da artilharia, localização dos abrigos-casernas, espaldões, etc.

"Em virtude do guia se ter perdido, os 3 Gr Comb só atingiram a estrada de Mansambo no dia seguinte de manhã, tendo regressado juntamente com o 2º Gr Comb e forças da CART 2339 que haviam ficado emboscados no trilho de Biro, paralelamente à estrada. Até Mansambo, verificaram-se numerosos casos de esgotamento físico entre os Gr Comb da CCAÇ 12 que efectuaram a Op Gancho IV."

Um abração. Luís

Torcato Mendonca disse...

Vou tentar analisar estes "esquisso".
Tem valor histórico? É possivel porque foi escrito pelo nº1 do PAIGC.
Tem erros na quilometragem e não só. Ainda não consigo libertar-me do peso do IN.
Vou ver o Mapa da Guiné, as Cartas 1/50.000, excelente trabalho dos Portugueses,as poucas info e as memórias que tenho. Além de consultar a FMS, excelente também.
Carlos M Santos não contrario o teu pensamento e respeito. Penso que o Luís Graça,ao mostrar este documento do IN nos dá a conhecer como, eles, ou o chefe deles escrevia(m) e os conhecimentos óptimos que tinha(m) do Sector L1.
Ab do TM

Anónimo disse...

As figuras principais do PAIGC, MPLA e FRELIMO, tinham uma preparação de tal ordem para sobreviver no interior dos territórios respectivos, e para dialogar com os povos da várias etnias nas suas respectivas línguas, que se tivessem tido a aderência de muitos simpatizantes, que exitaram em se aliar, logo em 1961, esta guerra, jamais tinha durado tanto tempo.

Alem de em crianças e jovens terem sido criados em pequenas povoações comerciais em contacto intimo com as tabancas (sanzalas, muceques) ex. Luandino Vieira, Lúcio Lara, Pepetela... Vasco Cabral, Amilcar, etc., eram todos, ou universitários em Portugal, ou liceu ou missões protestantes ou católicas, onde tinham assimilidado uma educação (preparação), que adaptada à terra, valia mais que os nossos aviões e metralhadoras e todos os comandos e páras.

Esta guerra durou tantos anos, porque grande parte dos que logicamente deveriam aliar-se a este partidos, aliaram-se a nós.

Já uma vez expliquei porque "vi" essa gente não ter alinhado em força com os movimentos: o tribalismo da UPA.

Alem da preparação que tinham, a maioria tinha sido da mocidade portuguesa, e eram em maioria habituados a grandes caçadas.

Muitos foram meus colegas profissionais e de farra.

Antº Rosinha

António Duarte disse...

Só uma pequena nota. Referes o Mário Mendes,´comnadante de bi-grupo na zona do Xime. Foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972. Numa deslocação feita para lá de Medina Colhido ??, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão.
António Duarte

Anónimo disse...

O Mário Mendes foi morto realmente pela C. Caç 12, comandada na altura pelo meu grande amigo Capitão Bordalo, tal como diz o António Duarte, a quem envio um abraço.

Lembro-me bem desse "ronco" da C Caç 12.

Abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves