sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Guin é 63/74 - P11005: Efemérides (119): A morte do comandante Vitorino Costa, um revés para o partido de Amílcar Cabral, em 1962, ainda antes do início oficial da guerra


(1962), Sem Título, CasaComum.org, Fundação Mário Soares, Disponível HTTP: http://www.casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04604.039.127 (2013-1-25)



Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta:  04604.039.127
Remetente:  Gil Fernandes
Destinatário:  Amílcar [Cabral]
Assunto:  Morte de Vitorino Costa. Curso de "Liberal Arts". Actividades de alguns traidores em Boston.
Data:  Sábado, 1 de Dezembro de 1962
Observações:  Doc. Incluído no dossier intitulado Correspondência 1962 (interna PAIGC, MPLA, FRELIMO, UGEAN, CONCP).Fundo:
DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Correspondencia

(Reprodução com a devida vénia...Sublinhados, a vermelho, da nossa responsabilidade)

1. Carta do futuro diplomata do PAIGC e da República da Guiné-Bissau, Gil Fernandes, a estudar em Boston, datada de 1/12/1962, dirigida a Amílcar Cabral. Começa nestes termos:

"Caro Amílcar: Foi com grande consternação que recebi a sua última carta relatando a morte de Vitorino Costa. Eu e ele fomos grandes amigos e fui por algum tempo seu explicador. A sensação de choque  que se recebe perante acontecimentos desta natureza é absolutamente  indescritível, este é mais um crime que mais tarde os portugueses terão que dar conta. Imagino em que estado é que o Amílcar se deve encontrar, mas confio inteiramente na sua perseverança, agora é que é preciso mais coragem" .(...)

Já aqui falámos de Vi(c)torino Costa, Victorino Domingos Costa, irmão de Manuel Saturnino da Costa (, futuro primeiro ministro da República da Guiné-Bissau), que foi morto, numa emboscada em 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153, comandado pelo Cap Inf José Curto, na região de Quínara, nas proximidades de Darsalame.

Sobre esta época, de 1962, em que o PAIGC começou a fazer trabalho de formação político-militar, sobretudo nas regiões de Quínara e de Tombali, sabemos ainda muito pouco. Faltam os testemunhos, orais e escritos. Faltam os relatórios. Faltam as fotos. De resto, era ainda escassa a presença do exército português. Por tudo isso, é um período que se presta à especulação. O filme do George Freire ainda  mostra uma Guiné relativamente idílica, calma, tranquila, onde se pode viver e viajar tranquilamente, em segurança, nomeadamente no leste, no chão fula. Mas por quanto tempo ? Quando deixa Nova Lamego e é colocado em Bedanda, em novembro de 1962, com a sua 4ª CCAÇ, o cap Jorge Freire ainda leva consigo a esposa. Mas em dezembro ela é obrigada a regressar a Portugal, por razões de segurança. O que se terá passado ?

Tudo indica que o comandante Vitorino Costa terá morrido  na sequência de uma "acção punitiva" do nosso exército, depois de um conhecido comerciante de Empada ter sido assassinado barbaramente na estrada, no regresso de Darsalame para Empada.

Vitorino e Manuel Saturnino são dois dos históricos militantes enviados para a China para receber treino político-militar, juntamente com João Bernardo Vieira (Nino), Francisco Mendes, Constantino Teixeira, Pedro Ramos, Domingos Ramos, Rui Djassi, Osvaldo Vieira e Hilário Gomes, tendo sido recebidos pelo "grande timoneiro", Mao Zedong, em 1961.

Da leitura da carta que acima reproduzimos, dá para entender que Vitorino Costa era um homem muito próximo de Amílcar Cabral e que a sua morte foi sentida como um sério revés para a guerrilha, em preparação. Também Bobo Keita se refere ao seu nome, na sua biografia "De campo em campo", escrita por Norberto Tavares de Carvalho, ed. autor, 2011 É um dos seus vinte camaradas que morreram de morte violenta, e que ele evoca, no final do seu livro (p. 237):

(...) "Victorino Costa era responsável pela mobilização da zona de Quínara, Fulacunda, Tite, S. João.  Em plena campanha de recrutamento, foi pernoitar numa tabanca cujo chefe colaborava com os portugueses. (...) foi denunciado. (...)"

Não encontrei fotos de Vitorino Costa no Arquivo Amilcar Cabral que, em boa hora, passou a estar disponível, para consulta, a partir de 20 de janeiro de 2013.

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Nota do editor:

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Camarada
Por aquilo que aqui ficou escrito parece-me que estávamos na fase de "Terrorismo" da Guerra Subversiva. Não sei se nesta altura não seria já tarde para parar. De retaliação em retaliação vamos agudizando o conflito... Também temos, infelizmente, muitas histórias destas para contar. Quanto ao Amílcar, cada vez tenho menos opinião, Mas isso são contas de outro rosário.
Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Sabemos que a Fundação Mário Soares e o próprio Mário Soares têm um mérito extraordinário de registarem para a história de Portugal, uma época como talvez poucas outras tenham sido tão documentadas.

Penso que pode enriquecer imenso este blog, respigar coisas desta fundação e até da fundação do pai de M. Soares, que foi ministro das colónias.

Pessoalmente farei sempre o desconto do seu "anti-colonialismo", que foi tão primário como o "colonialisnmo" de Salazar.