Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Guiné 63/74 - P13792: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (33): Um bagabaga que serviu de altar num casamento
1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 17 de Outubro de 2014:
Carlos, amigos e camaradas,
O artigo do José Saúde(1) despoletou-me a curiosidade e fez-me recuar no tempo, às minhas experiências vividas na Mata dos Madeiros, naquele longínquo ano de 1971.
Naquela Mata vivi situações reais que mais parecem contos de fadas. Esta é uma delas.
Com votos de muita saúde, um abraço transatlântico.
José Câmara
MEMÓRIAS E HISTÓRIAS MINHAS
33 - Um bagabaga que serviu de altar num casamento
O José Saúde no seu fino artigo “As arquitetónicas fortalezas das formigas na Guiné” transporta-nos mais uma vez à importância que os bagabagas tiveram nas nossas vidas enquanto militares na Guiné. Diz-nos que felizmente não foi necessário usá-los como defesa, mas como comentou o Hélder Valério, para além da guerra havia uma componente a que não era indiferente, a fauna e a flora da província. Tal como a ele, estou certo que muitos de nós ainda temos na retina muito do belo que a Guiné tinha.
Pelo seu tamanho e estrutura os bagabaga eram um ex-libris da natureza guineense. Na Mata dos Madeiros havia muitos que foram utilizados por nós, militares da CCaç 3327, de várias maneiras, sobretudo de apoio noturno nas emboscadas que montávamos. Mas há um que foi especial na história da Companhia: serviu de testemunha a um casamento, se preferirem, foi o altar possível de uma cerimónia em que a noiva se encontrava a muitas centenas de quilómetros.
Recuando no tempo, no meu Poste 6084(2) faço referência ao casamento do Fur Mil Fernando Pedro Ramos da Silva no dia de Páscoa de 1971, que se encontrava em patrulhamento algures na Mata dos Madeiros. Também é verdade que não tinha nenhuma foto para ilustrar a cerimónia simples que lhe dedicámos no nosso acampamento da Mata dos Madeiros antes de ele regressar ao patrulhamento. E assim continua. Quando escrevi aquele artigo também estava bem longe de saber que o Fernando Silva nos tinha deixado muito cedo na vida.
Depois de ler o artigo do José Saúde, o Fur Mil João Cruz chamou-me para me alertar para uma foto que me cedera em tempos sobre o casamento do Fernando Silva. Na história que um dia será escrita sobre a guerra da Guiné certamente que os bagabagas terão um destaque importante nas componentes militar e paisagística. Hoje podemos acrescentar que pelo menos um também o foi na formação de uma família, a do casal Fernando e Celeste Silva.
O bababaga que serviu de altar a um casamento. Na Mata dos Madeiros, o Fur Mil Fernando Silva bebe do seu cantil no momento em que a noiva, a Celeste, estaria na cerimónia religiosa do seu casamento, numa igreja algures no Portugal Continental. São testemunhas, a partir da esquerda: os Fur. Mils. Joaquim Augusto Fermento (Minas e Armadilhas), Carlos Alberto R. P. Costa (Operações Especiais) e na frente o João Alberto Pinto Cruz (At. Inf.)
Foto (Cortesia de João Cruz, FMil. CCaç3327)
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Nota do editor
(1) Vd. poste de 12 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13723: Memórias de Gabú (José Saúde) (42): Baga-bagas, castelos de liberdade e de defesa
(2) Vd poste de 31 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6084: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (16): Páscoa e Casamento na Mata dos Madeiros
Último poste da série de 29 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11503: Memórias e histórias minhas (José da Câmara) (32): Bassarel, um paraíso no chão manjaco
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3 comentários:
José da Câmara, meu querido amigo, desconhecido de muitos
Voltei a reler o post referido.
Passados estes anos direi que, qualquer antologia que venha a ser feita, que não inclua este texto, jamais será uma antologia.
O abraço, que agora te mando, não sei quando chegará, porque está dependente das correntes.
Vai ser lançado na Ribeira de Caneças, aqui bem perto da minha morança, que vai até à Ribeira de Odivelas e, desta, para o Rio da Costa, Rio de Loures, Rio Trancão e Rio Tejo.
A seguir vai pelo nosso Atlântico.
Meu caréssimo amigo José Martins,
As correntes que trouxeram o teu abraço, mesmo que sinuosas, cumpriram o seu dever e deixaram no coração deste emigrante o teu mais que quente abraço. É sempre assim!
Quero acreditar que as outras palavras são parte da amizade e do respeito que ao longo dos tempos fomos solidificando nas nossas relações, se preferires, a âncora onde só as boas correntes que referes se vão amarrar.
Abraço transatlântico.
José
Corrigindo a introdução do meu comentário anterior.
Meu "caríssimo"...
...e já agora aproveito a oportunidade para mostrar aos que desconhecem como me é possível fazer a acentuação e cedilhas na escrita.
Sei que nada tem a ver com o nosso blogue e peço desculpa, mas pode ser útil para alguns, sobretudo os que usam computadores sem capacidade de acentuação. Aqui ficam dois exemplos.
Escrever um é:
Com a tecla ALT pressionada teclar 0233;
Escrever um ç:
Usar a tecla ALT e pressionar 0231.
Se algum de vós estiver interessado neste código por favor alerte através do meu endereço electronico.
Um abraço,
José Câmara
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