sábado, 13 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21071: (In)citações (163): Sermão antirracista do Padre António Vieira: "Cada um é da cor do seu coração" (seleção: António Graça de Abreu)

Padre António Vieira (séc. XVII). Cortesia de
Biblioteca Municipal Anselmo Braamcamp Freire,
Santarém
1. Mensagem de António Graça de Abreu [ ex-alf mil, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), membro sénior da Tabanca Grande, com cerca de 260 referências no nosso blogue]

Sugiro este texto para publicação no blogue (*)



SERMÃO ANTIRRACISTA
do Padre António Vieira

Do SERMÃO XX do Rosário

"Cada um é da cor do seu coração."
Padre António Vieira


ELOGIO DA COR PRETA (**)

O segundo, e segunda causa da grande distinção, que fazem entre si, e os Escravos, os que se chamam Senhores, é, como dizíamos, a cor preta. Mas se a cor preta pusera pleito à branca, é certo que não havia de ser tão fácil de averiguar a preferência entre as cores, como a que se vê entre os homens. 

Entre os homens dominarem os Brancos aos Pretos é força, e não razão, ou natureza. Bem se vê, onde não tem lugar esta força, nem a cor é vencida dela. Quando os Portugueses apareceram a primeira vez na Etiópia, admirando os Etíopes neles a polícia Europeia, diziam: "Tudo o melhor deu Deus aos Europeus, e a nós só a cor preta". Tanto estimam mais que a branca a sua cor. 

Por isso, assim como nós pintamos aos Anjos brancos, e aos Demónios, negros; assim eles por veneração aos Anjos pintam negros, e aos Demónios por injúria, e aborrecimento, brancos. 

Deixando porém os que podem parecer apaixonados, ninguém haverá que não reconheça, e venere na cor preta duas prerrogativas muito notáveis. A primeira, que ela encobre melhor os defeitos, os quais a branca manifesta, e faz mais feios; a segunda, que só ela não se deixa tingir de outra cor, admitindo a branca a variedade de todas; e bastavam só estas duas virtudes para a cor preta vencer, e ainda envergonhar a branca. 

Mas das cores só os olhos podem ser juízes. Vejamos o que eles julgam, ou experimentam. Os Filósofos buscando as propriedades radicais, com que se distinguem estas duas cores extremas, dizem que da cor preta é próprio unir a vista, e da branca disgregá-la, e desuni-la. Por isso a brancura da neve ofende, e cega os olhos. 

E não é isto mesmo o que com grande louvor dos Pretos, e não menor afronta dos Brancos, se acha em uns, e outros? Dos pretos é tão própria, e natural a união, que a todos os que têm a mesma cor, chamam Parentes; a todos os que servem na mesma casa, chamam Parceiros; e a todos os que se embarcaram no mesmo navio, chamam Malungos. 

E os Brancos? Não basta andarem meses juntos no mesmo ventre, como Jacó, e Esaú, para se não aborrecerem; nem basta serem filhos do mesmo pai, e da mesma mãe, como Caim e Abel, para se não matarem. 

Que muito logo, que sendo tão disgregativa a cor branca, não caibam na mesma Congregação os Brancos, com os Pretos?

Padre António Vieira
[ Lisboa, 1608 — Salvador, 1697]

_____________

Notas do editor:

21 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Também aqui é bom lembrar a velha máxima: "Quem não sabe de onde vem, também dificilmente saberá para onde vai."

O problema é que não cultivamos a nossa história e a nossa memória... E por isso somos ignorantes. E a ignorãncia, como é sabido, abre o caminho ao ódio e à intolerância...

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Pessoalmente não vejo onde está o anti-racismo nesse discurso de cores branca vs preta. Todavia, não se podia exigir muito ao "santo" Padre António Vieira, numa época em que o sistema esclagista era o alicerce principal e o fundamento da própria existência da sociedade em que vivia, onde as elites do capitalismo nascente e do que restava do feudalismo decadênte, assim como a própria hierarquia da igreja, davam a sua benção e incentivavam a utilização da mao de obra escrava dos negros africanos reduzidos a seres inferiores e sem alma nem sentimentos.

Mas, a Igreja católica não foi a única a cair nesse erro e pecado capital, também os precursores da religião islâmica, incluindo o seu pretenso profeta, tinham seguido este mesmo caminho antes, ao pactuar com o sistema social onde alguns homens podiam dominar e escravizar seus semelhantes.

Trata-se de um assunto de natureza histórica deveras complexo e multi-dimensional que não se esgota numa análise simplista de um discurso com visão puramente euro ou etnocentrista.

O que está a acontecer neste momento, na minha opinião, não deve ser visto só do ponto de vista da dicotomia habitual de pretos vs brancos e seus conflitos de caracter racial. A situação social e laboral no mundo capitalista e as contradições das suas diferentes componentes estão a engendrar conflitos que precisam de soluções tais que as politicas neoliberais não estão a conseguir dar respostas satisfatórias.

As novas gerações precisam de uma visão nova e de novos valores que a sociedade actual não consegue dar e como consequência está a soprar um novo vento, um vento de mudanças que poderão vir a ser radicais se não forem feitas reformas de adaptação aos novos paradigmas que já deram seus primeros sinais no seio da própria juventude das elites brancas que já não suportam as violências gratuitas que, no fundo, sao provocadas pelas gritantes diferenças sociais dentro da mesma sociedade e, sistemáticamente, a única resposta é a utilização da força policial para a repressão dos mais fracos e economicamente diminuídos.

Dizer, como habitualmente se faz, que "Eu não sou racista, até porque tenho uma empregada preta ou tenho amigos africanos" parece que já não chega, é preciso que juntos lutemos para uma verdadeira igualdade de oportunidades e para uma sociedade sem preconceitos de raça ou da cor da pele. Se isto não acontecer com a geração actual, então as próximas gerações se encarregarão de o fazer a sua maneira e, então estou em crer que até os monumentos dedicados aos veteranos, antigos combatentes da guerra colonial, poderão não ser poupados. Tenho dito.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

O nosso amigo Cherno Baldé diz-nos cada uma!!!!

Esta repentina à la mode uns contra o racismo/colonialismo, outros por causa do desolador espectáculo do ai meu Deus que vão deitar tudo a baixo o que faz parte da história, é tudo por causa de mais um grave incidente racista nos EUA, que despoletou, também, mais uma revolta anti-racista e desta vez à escala mundial. É caso para dizer o que é que se estava à espera quando toda a gente viu aquela sádica/violenta acção do polícia contra um afro-americano. (já se anda a dizer que os 8 minutos com o joelho no pescoço foi exigido pelo o autor da filmagem que rendeu milhões$).
Quanto ao Padre António Vieira que é um dos grandes vultos da língua portuguesa, sabemos que foi contra a escravatura dos índios na Brasil por serem também 'filhos de Deus', já quanto aos escravos negros africanos, ele estava dentro do pensamento da igreja católica, daquele tempo, ou seja que os negros africanos eram selvagens sem alma, o que, aliás, era também o tratamento da religião muçulmana que era abrangente a escravos negros ou brancos.

Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Não haverá em Cacheu ou noutro ponto da Guiné uma capela ou igreja, onde os escravos eram baptizados antes de serem embarcados para Cabo Verde e as Américas? Em Luanda existe uma capela assim, incluída no que é hoje o Museu Nacional da Escravatura de Angola. Ver em https://bercodomundo.com/2016/01/museu-escravatura-luanda.html. Se os escravos negros eram baptizados, então era-lhes reconhecida a existência de alma por parte da Igreja Católica. O que torna o caso mais repugnante ainda, pois assim a Igreja abençoou o tráfico de "filhos de Deus".

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Parece que Cherno Baldé está um tanto desfasado com a realidade do sucedido na Guerra do Ultramar (era assim a sua designação até ao 25ABR, entre os militares, já que para o Governo de Lisboa não havia guerra e apenas acções de polícia). Fui mobilizado por escala,entre 1961 e 1973, quatro vezes, e em três das quais estive a comandar companhias da guarnição, nos matos angolano e moçambicano. Nesses oito anos não tive qualquer dificuldade de relacionamento com os meus militares negros, mixtos, indianos e chineses. Até posso garantir que havia mais atritos entre mixtos e negros, do que estes com os brancos.
Os monumentos que honram os combatentes poderão não ser poupados? O que é que eles têm a ver o agora badalado racismo? No munumento do Restelo até lá estão os nomes de muitas dezenas de guineenses fuzilados pelo PAIGC, no pós-independência, em autênticos crimes contra a humanidade (a ONU em 1973 assim os considerou), pois foram retirados das prisões e fuzilados clandestinamente. Convém pensar melhor naquilo que se afirma...

antonio graça de abreu disse...

Pois é, meu caro Cherno, claro que a escravatura existiu, claro que o colonialismo existiu, claro que o racismo existiu e existe, de brancos contra negros e também de negros contra brancos. Temos de pensar não com o sangue, nem com a cor da pele, mas com a cabeça. Eu sei que o sangue às vezes ferve. E há o hoje politicamente correcto, a ditar leis, a estruturar raciocínios, e vandalizar estátuas. Infelizmente as coisas vão piorar. Nós, ex-combatentes nas guerras de África, obrigados a lutar em conflitos bélicos que não desejámos, e foram uma herança do império, nada temos que nos envergonhar, fomos quase todos dignos portugueses à deriva por este estranho mundo. Não me venham rotular de "tropa colonial fascista".Tu, meu caro Cherno,já perspectivas "que até os monumentos dedicados aos veteranos, antigos combatentes da guerra colonial, poderão não ser poupados." Há minorias activas interessadas nisso, Camões e Vasco da Gama arrancados dos seus túmulos, nos Jerónimos, o infante D. Henrique, esclavagista, etc., etc. A ignorância,o racismo enviesado fazem parte da natureza humana, mas trata-se de entender o mundo e de respeitar a História. É muito mais fácil destruir do que construir. Tu sabes isso, na tua Guiné Bissau.

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

... Com Pandora, tornámos irrisórios os deuses,
libertámos criadores e criaturas,
deixámos a suburbanidade do Olimpo,
humanizámos a vida,
hospedámo-nos no sistema solar,
começámos a escrever a história,
com muitos erros e crimes, é verdade,
mas escrevemos
e ganhámos a terra como nossa casa comum,
conhecemos a vertigem e o sabor
da aventura e da liberdade...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O lobo e o cordeiro

por Monteiro Lobato (Taubaté, São Paulo, Brasil, 1882 – 1948).

Estava o cordeiro a beber num córrego, quando apareceu um lobo esfaimado , de horrendo aspecto.

— Que desaforo é esse de turvar a água que venho beber? — disse o monstro arreganhando os dentes. Espere, que vou castigar tamanha má-criação!…

O cordeirinho, trêmulo de medo,respondeu com inocência:

— Como posso turvar a água que o senhor vai beber se ela corre do senhor para mim?

Era verdade aquilo e o lobo atrapalhou-se com a resposta. Mas não deu o rabo a torcer.

— Além disso — inventou ele — sei que você andou falando mal de mim o ano passado.

— Como poderia falar mal do senhor o ano passado, se nasci este ano?

Novamente confundido pela voz da inocência, o lobo insistiu:

— Se não foi você, foi seu irmão mais velho, o que dá no mesmo.

— Como poderia ser meu irmão mais velho, se sou filho único?

O lobo furioso, vendo que com razões claras não vencia o pobrezinho, veio com uma razão de lobo faminto:

— Pois se não foi seu irmão, foi seu pai ou seu avô!

E — nhoc! — sangrou-o no pescoço.


Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Ed. Brasiliense:1966, 20ª edição.

Com a devida vénia:

https://peregrinacultural.wordpress.com/2012/04/05/fabula-o-lobo-e-o-cordeiro-texto-de-monteiro-lobato/

Anónimo disse...

Poie é, tudo aponta que o mundo não vai melhorar, com esta história do racismo e anti-racismo estremado "estrumado" e ampliado e até alimentado pelos "media" pela ignorância.Pois já são poucos os que usam a cabeça nestes tempos.Faltam lideres a ttodos os níveis.O resultado está à vista e nem nós ex-combatentes estaremos a salvo pelo que lemos e vemos.O mundo está a preto e branco e pelos vistos nem o malfadado coranavirus 'e o pior disto tudo.
Carlos Gaspar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas e amigos:

Por minha parte, sempre disse e reafirmo hoje: Não ao revisionismo da História!...

A minha formação em ciências sociais e humanas (sociologia, antropologia, psicologia social, história, saúde pública...), para além da minha experiência como ser homem, cidadão, português e combatente na guerra colonial / guerra do ultramar, numa conpanhia africana (Guiné, maio de 1969/ março de 1971, em pelno consulado spinolista...), diz-me o seguinte:

Sempre que caímos nessa tentação, a do "revisionismo da História", pagámos um preço, caro, em termos de liberdade de pensamento e de expressão, de honestidade intelectual, de busca da verdade, de pluralismo, de democracai...

O revisionismo da História traz consigo a censura, a autocensura, o cinismo, o politicamente correto, o eticamente correto, e em última análise abre o camimho ao pensamento único, as "santas inquisições", os fundamentalismos, os extremismos (à esquerda ou à direita), as ditaduras, aos autoritarismos, e aos totalitarismos...

Precisamos de justica como de liberdade, e uma coisa não existe sem a outra... E entre uam e outra, eu prefiro a liberdade que me permite lutar pela justiça... Em Portugal, ma Guiné-Bissau, no mundo inteiro...

Por isso, esta "caixinha de Pandora" é uma metáfora mas também uma recusa do revisionismo da História, "sejam quais forem os valores que se alevantem"!...

Faço aqui a minha declaração de interesses: não sou fã, pelo contrário, da "instrumenralização (político-ideológica) dos combantentes das "nossas" guerras, quaisquer que tenham sido, a começar pela "nossa", a da Guiné, 1961/74... Mas serei o primeiro, com este bçogue que criei, a defender a "integridade" dos monumentos que foram erigidos à memória dos nossos mortos!...

Cherno, não creio que, em Portugal, os nossos filhos e netos, passem "por cima dos nossos cadáveres" e sejam os primeiros a "vandalizar" os nossos monumentos à memória dos nossos camaradas que morreram em África... Isso não vai acontecer!... Nem nós nunca deixaremos que isso aconteça!... Os nossos mortos, tal como os mortos da Guiné, de um lado e do outro, são "sagrados".

Valdemar Silva disse...

É absolutamente censurável o que aconteceu/está a acontecer com os actos de vandalismo contra as estátuas.
Nestas manifestações de protesto, aparece sempre alguém a dizer 'deitar tudo abaixo', que depois desaparece, a polícia leva sempre algum tempo a aparecer ou aparece com poucos efectivos para o efeito. É um filme já visto com os mascarados nas manifestações dos 'coletes amarelos' em Paris, com os mascarados nos confrontos dos protestos em Hong-Kong, nos mascarados ao lado da polícia nos protestos em Barcelona.
Por cá, em tempos passados, também tivemos esses 'deitar tudo abaixo' (p.ex. assalto à Embaixada de Espanha). E por mais incrível, estes 'deitar tudo abaixo' nunca são presos e levados a tribunal. E, lembro-me, às uns anos haver um protesto contra o aumento do preço dos bilhetes dos comboios e as pessoas estarem o fazer barulho junto das bilheteiras na Estação do Rossio(Lisboa), e aparecer um fulano com um 'ninguém compra bilhete e vamos partir isto tudo', mas um polícia que estava a observar tudo aquilo nem sequer se mexeu ou chamou à atenção do tal fulano que depois desapareceu.

Valdemar Queiroz

antonio graça de abreu disse...

À atenção do Cherno Baldé, mais palavras do padre António Vieira, sobre os homens de todas as cores, no Portugal de Quinhentos, na Guiné de sempre:

"Se se junta o poder com o apetite, não há honra, honestidade, estado ou profissão, por sagrada que seja, que se não descomponha. E, nos governantes, se o poder se junta com a ambição, a soberba, o ódio, a inveja e a adulação, não há lei humana nem divina que se não atropele, não há merecimento que se não aniquile, não há incapacidade que se não levante, não há pobreza, nem miséria, nem lágrimas que se não acrescentem, não há injustiça que se não aprove, não há violência, crueldade ou tirania, que se não execute."

(Padre António Vieira, 1644)

Abraço,

António Graça de Abreu

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, embora tenham sido publicadas recentemente as obras completas do Padre António Vieira, os seus "sermões" não são conhecidos do grande público... O que puderes fazer para a divulgação da sua obra e ação, agradeço. De momento, estou com pouco temo para o blogue. LG

Cherno Baldé disse...

A atençao do Antonio Graça de Abreu, mais palavras (sermoes) do Padre Antonio Vieira sobre o grande milagre da escravatura e ainda sobre os pretos que eram cativos so do corpo, mas livres da alma.

Em 1633, na capela de um engenho da Bahia, o Padre António Vieira, dirigindo-se a uma assistência maioritariamente composta de escravos africanos, dizia assim : Oh se a gente preta tirada das brenhas da sua Etiópia e passada ao Brasil conhecera bem quanto deve a Deus e a sua Santissima Mãe por este que pode parecer desterro, cativeiro e desgraça, e não é senão milagre, e grande milagre ! Dizei-me : vossos pais, que nasceram nas trevas da gentilidade, e nela vivem e acabam a vida sem lume da fé, nem conhecimento de deus, aonde vão depois da morte ? Todos (…) vão ao Inferno, e lá estão ardendo e arderão por toda a eternidade.” (Sermao 14.0 do Rosario).

Em data bastante posterior, mas dificil de precisar, pregando para a irmandade dos “homens pretos” de Nossa senhora do Rosario, mantinha a coerência do discurso:
“Todo o homem é composto de corpo e alma; mas o que é e se chama escravo, não é todo o homem, senão só metade dele. (…) De maneira, irmãos pretos, que o cativeiro que padeceis, por mais duro e áspero que seja ou vos pareça, não é cativeiro total ou de tudo que sois, senão meio cativeiro. Sois cativos, mas livres. » (Sermao 27.0 Rosario).

Este é o mesmo Padre Antonio Vieira que, com toda a justiça e humanidade possivel, era contra a escravizaçao dos Indios e os quais defendeu unhas e dentes declarando que nao era do interesse da Corte e da missao civilizadora do reino de Portugal.

Com discursos assim tao contraditorios e num mundo tao injusto, ganancioso e assanhado na procura do lucro facil, nao admira que acabasse por pregar aos peixinhos.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

antonio graca de abreu disse...

Meu caro Cherno Baldé

"Sois cativos, mas livres."

Estávamos no século XVII. O padre António Vieira abominava a escravatura, era um homem progressista, lutador pela dignidade de todos os homens, independentemente da cor da pele. Estava à frente do seu tempo. E tinha também defeitos, como todos nós. Faltavam três séculos para se chegar aos conceitos primários, retorcidos, anti-estátua, anti-natureza humana e anti-História que hoje campeiam um pouco por todo o mundo.

Abraço,

António Graça de Abreu

antonio graça de abreu disse...

Palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República Portuguesa, hoje, a propósito da vandalização das estátuas:

"Gestos demonstrativos da ignorância e da imbecilidade."

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Parece que não saímos daquela 'era assim naquele tempo' e, como tal, nem sequer se pode admitir que ouve escravatura.
Mas se pensarmos, quando começou a colonização da América do Norte com as plantações de tabaco por colonos ingleses, que traziam trabalhadores contratados e que muitos morriam na viagem ou depois com as agruras do novo clima e ainda por eles se tornarem possíveis colonos independentes e lá se ia o lucro do negócio, haver uma grande possibilidade de arranjarem quem trabalhasse nas mesmas condições, que aguentasse as agruras do clima e apenas se tinha que pagar pela sua compra e sem nunca mais pagar o quer que seja ou terem a pretensão de serem donos do que quer que fosse, isso seria uma grande ideia que já estava a ser pratica nas plantações de cana de açúcar na América do Sul.
(uma explicação maneirinha pra não ofender)

E prontos, paciência era assim naquele tempo.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Não se pode olhar para a “obra” de António Vieira isolada da “Agenda -Directiva” da Companhia de Jesus de quem era disciplinado membro.
As suas tonades de posição em Sermões públicos mais não eram que a afirmação e reprodução de todo um “programa” criteriosamente estabelecido pela sua Ordem Religiosa que não é (reconhecidamente) apoiante de “expontâneos “.
Ao relerem-se atentamente os seus Sermões este pequeno-grande detalhe não deverá ser esquecido.

Um abraço do J.Belo.

Anónimo disse...

O que é,ou não é, ser "reconhecidamente apoiante de expontâneos"? Estamos a falar das ordens religiosas no século século XVII, mas também do homem de sempre.

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Quando uso o termo “expontâneo” quero com isso dizer que António Vieira era um jesuíta disciplinado e cumpridor dos princípios e ideais da Companhia de Jesus.
Não só na América do Sul mas também no Oriente os membros da Companhia de Jesus não improvisavam no século XVII ,como continuam a não improvisar hoje.
As directivas são recebidas dos superiores a nível central.
A ,para à época, muito avançada visão de António Vieira mais não era que a muito avançada visão da Companhia de Jesus.
Avançada “ontem” como o é “hoje”,bem representada na pessoa do actual Papa,mais um dos membros da Companhia.
Será esta simbiose de inteligência,elevada cultura, e não menos disciplina pessoal que têm vindo ao longo de séculos a produzir muitos dos tais “homens de sempre”...universais(!).

J.Belo

Manuel Bernardo - Oficial reformado disse...

Difundo o comentário de um amigo, lembrando a técnica da omissão, muito praticada pelo pessoal da "esquerda baixa":
A escravatura e o racismo
Dois temas importantes que são e devem ser debatidos, só não entendo porque é necessário recuar tanto no tempo. Bastaria recuar ao “glorioso século XX”...
Neste século os dois temas estiveram sempre presentes embora com uma nuance: os negros estavam “pintados” de branco ou de amarelo…
Comecemos pelos campos de concentração nazis onde “o trabalho libertava...”. Nestes, judeus, ciganos e comunistas foram obrigados a trabalho forçado até chegar a altura de serem gaseados. Por baixo foram uns “meros 6 milhões”…
Mas não fiquemos por aqui. Na União Soviética, na China de Mao e, já agora, com Pol Pot no Camboja com os seus gulags, campos de reeducação ou de trabalho foram, por baixo, 36 milhões.
Se isto não era escravatura acompanhado de genocídio o que era?
Agora proponho um pequeno exercício:
Actualmente os maiores navios têm capacidade de 5 mil pessoas mas “apertadinhos” poderão levar o triplo, 15 mil. Assim, arredondando, seriam necessários 16 mil navios cruzeiro para levar igual número de escravos. Assim, considerando que os navios da chamada época da escravatura eram um pouco mais pequenos embora tivessem navegado por séculos, não me parece muito ousado afirmar que o “glorioso” séc.XX , em termos de escravatura não esteve muito longe do que se passou entre os séculos XV e XVIII.
J. C.
Nota: E quando é que os comunistas pedem desculpa do que fizeram em Portugal e no mundo?