domingo, 1 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22422: Passatempos de Verão (24): A cabra Joana de Nhacobá e o cão rafeiro Tigre de Cumbijã: fábula 2: "Ao que parece, nem os macacos se salvaram" (Joaquim Costa)


1. Dando continuidade aos nossos devaneios de verão, aqui vai mais uma versão da história fantástica da  cabra Joana e do cão rafeiro Tigre, contada aos meninos da escola,  desta vez da lavra do escritor minhoto de contos infantis Joaquim Costa, com residência oficial em Fânzeres, Gondomar (*)




A cabra Joana e o cão Tigre

por Joaquim Costa


Era uma vez, numa terra distante, de uma beleza que se entranhava no corpo e alma, como a areia no corpo  numa tarde de vento na praia,. 

Aqui viviam duas famílias desavindas por causa de uma bandeira (quando forem mais crescidos vão perceber porquê… ou talvez não). Uns eram a família IN, que viviam em Nhacobá, outros a família Tigre, que morvam em Cumbijã.

Os arrufos eram constantes com investidas ousadas a casa uns do outros,  tentando a expulsão dos mesmos.

Entretidos nestes arrufos,  os DDT,  os Donos Disto Tudo (ou melhor, os Donos Daquilo Tudo, daquela terra), decidiram (,sem consultar ninguém, ) que os Tigres investiriam em força sobre a família IN, impondo a sua lei.

Assim foi, mas com perdas irreparáveis e inocentes de um lado e do outro.

Como é comum, desde os primórdios, quem vence tem direito aos despojos: Arroz, cigarros, fósforos (que se acendem riscando na sola da bota, em estilo John Wayne), livros escolares com mensagem estilo Estado Novo (mas cujos heróis eram outros) e... uma cabra que chamou a atenção pela sua indignação pela invasão da sua privacidade,  levantando as patas a qualquer um sem receios.

Esta irredutível cabra passou a fazer parte do despojos,  pelo que acompanhou os Tigres de volta a casa, em Cumbijã. 

Aqui quem reinava era o cão rafeiro Tigre,  pelo que, no dia da chegada, a cabra foi apresentada ao rei. Não foi um encontro fácil e só não se chegou a vias de facto dada a pronta atuação da guarda pretoriana.

Esta irredutível cabra ganhou a simpatia de toda a população, ou quase,  já que em todo o lado há ovelhas ranhosas em qualquer rebanho.

Tinha esta irreverente cabra, de seu nome Joana,  4 predadores:

(i) O rei Tigre que nunca aceitou partilhar o protagonismo com este estranho animal (, contudo, neste caso,  não se sabia quem era o predador de quem);

(ii) O vagomestre Ferreira, que tratava dos comes & bebes, e  que fitava a Joana com os olhos vermelhos de quem já a está a ver a ser esfolada e transformada em estilhaços de carne para o arroz;

(iii) Os três agricultores improváveis , estes com razão, já que a Joana não resistia às viçosas alfaces, saltando a cerca das três hortinhas, e  lambusando-se toda com a frescura das mesmas com a compreensível indignação dos proprietários das plantações.

Na defesa da Joana passou a haver, 24 sobre 24 horas, um guarda-costas, armado de G3 com bala na câmara.

Foi assim que a mesma resistiu até ao dia em que os Tigres abandonaram a  sua casa, no Cumbijã,  a caminho de Bissau, para apanhar o barco (que os levaria finalmente a sua terra de origem),  e em que todos, sem exceção, verteram uma lágrima, já com saudades da cabra Joana e do cão Tigre.

Não se sabe o que aconteceu depois, mas teme-se que esta história, infelizmente, dos relatos que foram chegando aos Tigres, não tenha acabado nada bem...

Ao que parece,  nem os macacos se salvaram....

Joaquim Costa

30 de julho de 2021 às 17:00

___________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Djoquim: é um caso de abandono de animais. Na altura não era grave... Mas hoje tinhas o PAN à perna...