segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Guiné 61/74 - P22598: In Memoriam (409): Lissy Jarvik (née Feingold) (1924-2021): teve no seu funeral a presença do nosso cônsul honorário em Los Angeles e o senhor Presidente da República emitiu uma mensagem de condolências (João Crisóstomo, Nova Iorque, de passagem por Portugal, adviser da Sousa Mendes Foundation, com sede nos EUA)


Lssy Jarvik em Liboa, 2016 (#)
1. Mensagem de João Crisóstomo, em complemento do poste P22594 (*):

Data - domingo, 3/10, 21:17  

Assunto . Mensagem do senhor Presidente da República

Caro Luis Graça,

Conforme nossa conversa:

Fiquei satisfeito que o nosso consul honorário em Los Angeles tivesse recebido instruções para estar presente no funeral de Lissy Jarvik, mas ao mesmo tempo sentia que ela merecia/merece muito mais. Por isso contactei a Presidência da República na esperança de que o Senhor Presidente,  com uma mensagem,  desse maior relevância a esta “ despedida” a Lissy .

Foi com muita satisfação que recebi uma mensagem de Sua Excelência que tenho muito gosto em poder dar a conhecer.

Abraço. João

(#) Fonte: Fotograma do vídeo (2' 02'') da reportagem "Refugiados salvos por Aristides de Sousa Mendes em Portugal". RTP Ensina (com a devida vénia...)
 
________________

Presidência da República Portguesa:

Caros João Crisóstomo e Paulo Menezes,

Encarrega-me Sua Excelência, o Presidente da República de Vos enviar a mensagem de condolências para o funeral da professora Lissy Jarvik, pedindo que a façam chegar aos familiares mais próximos:

"Ao tomar conhecimento do falecimento da Professora Lissy Jarvik, apresento as minhas sentidas condolências à família e amigos, bem como à Sousa Mendes Foundation US , que ajudou a fundar e a que presidiu. Neste momento de luto, e recordando o seu percurso de 97 anos, quero agradecer, em nome de todos os portugueses, o papel que representou no reconhecimento internacional de Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português que lhe concedeu um visto em Bordéus.

O testemunho da Professora Lissy Jarvik junto do Yad Vashem, em conferências, trabalhos de investigação e em vários filmes e documentários foi determinante para a evocação da memória do português que “preferiu estar com Deus contra os homens do que com os homens contra Deus”.

 O entusiamo e empenho nas celebrações do quinquagésimo aniversário da morte de Aristides de Sousa Mendes, promovendo o Projecto Dia da Consciência, entretanto reconhecido pelo Papa Francisco, não nos fará esquecer o legado de Lissy Jarvik. Um legado de coragem e defesa da dignidade da pessoa humana, imperativo de consciência e cidadania, fiel aos valores que Aristides de Sousa Mendes representa e sempre defendeu.

Valores que serão novamente evocados a 19 de outubro, data da Cerimónia de Honras de Panteão Nacional a Aristides de Sousa Mendes.”


Maria João Ruela

Consultora Assuntos Sociais, Sociedade e Comunidades
Casa Civil do Presidente da República


2. Sobre a professora e psiquiatra geriátrica, jubilada, Lissy Jarvik  - Feingold, apelido de família, casada com Murray Jarvik 1923 - 2008) - ,  nascida nos Países Baixos, de origem  judia, e refugiada em Portugal, de junho de 1940 a janeiro de 1941, importa saber mais o seguinte:

A família Feingold recebeu vistos assinados por Manuel de Vieira Braga, por delegação de Aristides de Sousa Mendes, em Bayonne, França em 20 de junho de 1940: Leo Feingold, 53 anos; Lissy Feingold, 15; Regina Feingold (Engelart, apelido de solteira), 38; Sonja Gerda Feingold, 13. Viajaram para Portugal, fixando residência na Figueira da Foz. Embarcaram, em Lisboa, com destino a Nova Iorque, em janeiro de 1941, no navio "Lourenço Marques". 


O nosso camarada e amigo João Crisóstomo é "adviser" da Sousa Mendes Foundation, um dos fundadores e antigo dirigente desta fundação, criada nos Estados Unidos justamemte para homenagear este herói português,  e tendo como missão concreta: angariar fundos para o restauro da Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal,  e a criação de um museu.


TESTEMUNHO DE LISSY JARVIK (FEINGOLD, APELIDO DE SOLTEIRA)
ESCRITO EM 1996


Sem Aristides de Sousa Mendes eu não estaria aqui.
É tão simples quanto isso.

Sem Aristides de Sousa Mendes eu teria sofrido torturas
tão dolorosas e tão prolongadas
que a morte teria sido um alívio bem-vindo.

Sem Aristides de Sousa Mendes eu teria perdido meio século de vida -
meio século que me permitiu respirar; viver, amar -
amadurecer, casar, ter filhos, estudar, ensinar
e ainda ajudar algumas pessoas individualmente, 
bem contribuir um pouco mais para nossa base de conhecimento s
obre envelhecimento e saúde mental;

E eu teria perdido a oportunidade de fazer parte de um país
que era a casa de um povo verdadeiramente livre,
um país que ofereceu oportunidades 
para os não-privilegiados, os oprimidos, os necessitados -
para pessoas como eu.

Tradução;  Google / LG

TESTIMONIAL OF LISSY JARVIK NÉE FEINGOLD
WRITTEN IN 1996


Without Aristides de Sousa Mendes I would not be here.
It's as simple as that.

Without Aristides de Sousa Mendes I would have suffered tortures
so grievous and so prolonged
that death would have been a welcome relief.

Without Aristides de Sousa Mendes I would have missed out
on half a century --
half a century which allowed me to breathe; to live, to love -
to mature, to marry, to have children, to study, to teach
and to help a few people individually
as well as to contribute a little bit to our knowledge base on aging and mental health;

And I would have missed out on becoming part of a country
which was the home of a truly free people,
a country which offered opportunity to
the disenfranchised, the downtrodden, the needy --
to people like me.


___________

Notas do editor:

3 de outubro de 021 > Guiné 61/74 - P22594: In Memoriam (408): Lissy Jarvik (1924-2021), de origem judia holandesa, foi salva por um visto do nosso Aristides Sousa Mendes; mais tarde, já eminente médica, especialista em psiquiatria geriátrica, tornou-se uma dos grandes paladinos da memória do cônsul português de Bordéus (João Crisóstomo, Nova Iorque, agora de passagem por Portugal)

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Contra eventuais críticos, temos que dizer que o nosso João não faz "diplomacia paralela". Simplesmente, desempenha, e bem, o seu papel de "português da diáspora", acrescentando valor ao trabalho de muitos outros portugueses anónimos espalhados pelo mundo.

Com uma vasta rede de contactos sociais, que lhe advêm do tempo em que foi mordomo da senhora Jacqueline Kennedy Onassis, tem o condão de saber fazer chegar a sua voz, firme mas ecuménica, se não ao céu, pelo menos a muitas partes da terra.

De passagem por Portugal, em que tem privilegiado os contactos com os seus familiares e amigos, não perdeu a oportunidade de ser útil à causa da memória de Aristides Sousa Mendes, alertando os nossos diplomatas (e a casa civil do Presidente da República) para a morte de uma grande amiga de Portugal, a viver até então na Califórnia, e a necessidade de lá estarmos representados, no seu funeral, com um mínimo de dignidade institucional.

Bem hajas, João, temos orgulho em ti. Luís

Valdemar Silva disse...

Foi este Homem, o nosso caro camarada João Crisóstomo, que chegado a Lisboa seguiu directamente do Aeroporto para a minha casa na Agualva (Sintra), para me abraçar e saber do meu estado de saúde.
Fiquei muito sensibilizado e nunca me esquecerei.

Um grande abraço
Valdemar Queiroz