Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole > Ponte do Rio Jagarajá > CCAÇ 2590/ CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)> "Eu, o então Fur Mil Ap Armas Pesadas Inf Henriques, pau para toda a obra, pião de nicas, e o soldado condutor autorrodas Dalot, talvez o melhor condutor de GMC do mundo ou, pelo menos, o melhor que eu alguma vez conheci...
Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52, adidas ao comando do BCAÇ 2852, se encontrou depois do regresso a casa... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018)
Mostra-se aqui um pormenor da foto de grupo. Na primeira fila, da esquerda para a direita:
(i) fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, da CCAÇ 12 [, vivia no Porto, na altura ];
(ii) sold cond auto Dinis Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres].
(iii) Fernando [Carvalho Taco] Calado, ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vive em Lisboa];
(iv) ex-alf mil manutenção material, Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 [, vive em Lisboa];
(v) ex-fur mil at inf António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vive em Martingal, Sagres, Vila do Bispo];
(vi) ex-capitão inf Carlos Alberto Machado Brito, cmdt da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 [, cor inf ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR];
(vii) Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, [, vivia em Resende].
Não sei se era lenda. As GMC andavam a gasolina, E tinham um depósito de 150 litros, com alcance operacional de c. 480 km e velocidade máxina de 72 km/hora. Em teoria, gastava pouco mais de 30 aos 100. Mas picadas da Guiné, com carga e com guincho, é possível que gastasse o dobro ou até o triplo....O modelo era GMC 6x6 , caixa aberta, de 2 1/2 t, m/1952, do tempo da guerra da Coreia e herdeiro do célebre camião GMC CCKW , também conhecido como "Jimmy", o camião de transporte de carga do Exército Norte Americano de que se produziram, entre 1941 e 1945, 572,5 mil unidades.
O que aconteceu exactamente nesse já longíquo dia 18 de Setembro de 1969 ? Tínhamos saído, na véspera, de Bambadinca, de manhã muito cedo, como de costume, para fugir ao inferno do calor e da humidade do dia. E da poeira, embora se estivesse em plena época das chuvas. Era um enorme coluna de viaturas militares carregadas de abastecimentos para três companhias, unidades de quadrícula, em Mansambo (CART 2339), Xitole (CART 2413) e Saltinho (CAÇ 2406).
Ao todo viviam nestas unidades e seus destacamentos mais de meio milhar de homens, fora a população local e as milícias que dependiam inteiramente (caso de Mansambo, aquartelamento que fora construído de raíz e não tinha tabanca nem campos de cultivo...) dos abastecimentos feitos pela tropa.
Um dia seria interessante publicar a lista completa dos artigos e as respectivas quantidades que faziam parte dos nossos comboios de reabastecimento. Na galeria dos heróis desta guerra também estão os que alimentavam o nosso ventre insaciável , os homens da manutenção militar e os que faziam chegar os mantimentos, desde Bissau em LDG até ao Xime (no caso da Zona Leste) e depois daí em colunas até às sedes de sector ou comando operacional (Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego…). Ou através dos "barcos turras" que chegavam a Bambadinca.
Para se chegar a qualquer uma das unidades acima referidas não havia mais nenhuma alternativa (terrestre). A estrada de Galomaro-Saltinho estava interdita, pelo que as NT ali colocadas dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca. No entanto, a própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969 (*).
2. São as peripécias dessa operação (Op Belo Dia II) que se relatam aqui. Mas ainda a propósito de meios de transporte, convirá referir que só Bambadinca possuía uma pista, com cerca de 150 metros, permitindo a aterragem de aeronaves como a Dornier, a DO-27.
De qualquer modo, o helicóptero, o AL III, só era usado para fins estritamente militares: apoio de helicanhão, transporte de tropas especiais e heliassaltos, evacuações Y para o hospital militar de Bissau. Argumentava-se que o helicóptero era um luxo, custando 15 contos por hora (mais do o ordenado mensal de dois alferes)…
Em contrapartida, as colunas de abastecimento da guerrilha e das suas populações eram feitas por carregadores, a pé, descalços, em bicha de pirilau, incluindo mulheres e até crianças e muitas vezes sem escolta militar, correndo o risco de serem interceptados pelas NT, como acontecia com alguma frequência na região de Missirá, a norte do Rio Geba (como em Chicri, a 12 de Setembro de 1969: muitas vezes as NT não faziam a distinção entre combatentes, armados, e elementos civis da população controlada pelo PAIGC que servia de carregadores; neste caso, levavam artigos comprados nas nossas barbas, em Bambadinca, onde só havia duas lojas, nas mãos de tugas, a loja do Rendeiro e a loja do Zé Maria)…
Porquê falar em sorte ? É que eu ia justamente à frente da viatura que accionou a mina, a tua vitura,a tua GMC, Dalot. E ia justamente do lado do pendura, com uma perna de fora… À turista, como quem vai num alegre e matinal safari algures num parque no Quénia… Em suma, ia no "lugar do morto"...
Recordo-me da viatura em que eu ía: um Unimog 404… Apesar da relativa tranquilidade que nos davam a experiente equipa de 12 picadores que iam à nossa frente com dois grupos de combate apeados, a proteger os flancos, eu tinha recomendado ao condutor do Unimog (, já não me lembro o nome: o Adélio Monteiro não era, vinha mais atrás ) que seguisse milimetricamente o rodado da viatura da frente… Um desvio de um milímetro podia ser fatal para o artista… Tu, Dalot, que atrás de mim, levavas um bicho que tinha dez rodas, dois rodados duplos atrás, e sete toneladas de ferro e arroz...
A estrada (se é que se podia chamar estrada aquilo!), invadida pela floresta (, apesar da desmatação recente, em abril/maio de 1969, Op Cabeça Rapada), as bolanhas, os curso de água, os charcos, etc. era mais estreita que as viaturas em certos pontos… Uma delícia para os sapadores do PAIGC, um quebra-cabeça para os nossos picadores, um stresse desgraçado para aqueles de nós que faziam guarda de flancos ou que iam em cima das viatura, ou os que conduiam as viaturas…
Estamos a falar da segunda quinzena de setembro de 1969, em que realizámos mais outra operação a nível de batalhão afim de escoltar uma coluna logística do BCAÇ 2852 para as companhias de Xitole e Saltinho (Op Belo Dia II). Uma operação com 2 destacamentos (A e B) (*)
Dois Gr Comb [Grupos de Combate] da CCAÇ 12 (2º e 3º), um da CART 2339 [Mansambo] e o Pel Caç Nat 53 (que seguiria depois com o Dest B para o Saltinho) formavam o Dest [Destacamento] A, cuja missão, além da picagem do itinerário, era escoltar a coluna até ao limite da ZA-Zona de Acção da CART 2339 [Mansambo] onde se efectuaria o transbordo da carga para outra coluna da CART 2413 [Xitole].
A coluna que chegou a Mansambo às 17.30 do dia 17 de Setembro, proveniente de Bambadinca, donde saira de manhã (longas horas inteiro para se fazer 18 km), prosseguiria no dia seguinte, tendo-se processado sem incidentes de maior até à ponte do Rio Jago, a cerca de 3 km do aquartelamento de Mansambo, altura em que se fez um alto para recompor a carga da viatura que seguia em 3º lugar. Passámos a noite nos "bunckers" de Mansambo.
Ao retomar-se a marcha, o rodado intermédio direito da GMC do Dalot (MG-17-21) que vinha imediatamente a seguir àquela, e que pertencia à CCAÇ 12, accionou uma mina A/C (anticarro) reforçada, tendo-se voltado espectacularmente. A viatura ficou muito danificada, tendo-se inutilizado parte da sua carga de 3 mil kg de arroz. Em virtude de ter sido projectado, ficou gravemente ferido um 1º cabo do Pel Caç Nat 53. O condutor da GMC, o soldado Dalot, saiu ileso.
A mina não fora detectada pela equipa de 12 picadores, seguida de 2 Gr Comb que progrediam na frente.
Alguns quilómetros à frente, junto à ponte do Rio Bissari foram detectadas e levantadas mais 3 minas (A/P) que deveriam fazer parte do campo de minas implantado pelo IN posteriormente à Op Belo Dia I, e das quais 7 já sido levantadas até então.
Pelas 13h do dia 18 de Setembro deu-se finalmente o encontro dos 2 Dest, tendo-se procedido ao transbordo da carga.
No regresso a coluna foi sobrevoada várias vezes por uma parelha de Fiat G-91 cujo apoio estava previsto na ordem de operações. Mansambo foi atingido pelas 17 h do dia 18, depois de se ter armadilhado a viatura cuja remoção se verificou ser impossível com os meios disponíveis na ocasião.
Inconsolável, tu, Dalot, lá deixaste a tua querida GMC, de matrícula MG-17-21... A Guiné era um cemitério de sucata, como viaturas (militares e civis) abandonadas pelas NT, destruídas por minas e roquetadas... Não tenho a certeza se esta viatura foi posteriormente desarmadilhada e rebocada para Bambadinca... Os custos de uma tal operação eram sempre elevados.
1º Cabo Cond Auto Luís Jorge M.S. Monteiro [, vivia em Vila
do Conde ou Porto ?];
Sold Condutor Auto António S. Fernandes [, morada actual
desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel J. P. Bastos [, morada actual
desconhecida];
Sold Cond Auto Manuel da Costa Soares [, morto em, mina A/C,em Nhabijões, em 13/1/1971];
Sold Cond Auto Alcino Carvalho Braga [, vive em Lisboa];
Sold Cond Auto Adélio Gonçalves Monteiro [, comerciante,
Castro Daire; é membro da nossa Tabanca Grande];
Sold Cond Auto João Dias Vieira [ vive em Vila de Souto,
Viseu];
Sold Cond Auto Tibério Gomes da Rocha [, vivia em Viseu,
faleceu em 6/12/2007;
Sold Cond Auto António S. Fernandes [, morada actual
desconhecida];
Sold Cond Auto Francisco A. M. Patronilho [, vive em Brejos
de Azeitão];
Sold Cond Auto Manuel S. Almeida [, morada actual
desconhecida];
Sold Cond Auto António C. Gomes [, morada actual
desconhecida];
Sold Cond Auto Fernando S. Curto [, vive em Vagos];
Sold Cond Auto Aniceto Rodrigues da Silva [,falecido em 3/1/2021; membro a título póstumo da nossa Tabanca Grande];
Sold Cond Auto Manuel G. Reis [, morada actual desconhecida];
Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vive em Esposende ou Maia ?];1º Cabo Mec Auto Renato B. Semedeiros [, vivia na Reboleira, Amadora];
1º Cabo Mec Auto António Alves Mexia [, morada actual desconhecida];
Sold Mec Auto Gaudêncio Machado Pinto [, morada actual desconhecida].
Guiné > Região de Bafatá > Algures > 1973 > Uma Daimler, avariada, é levada em cima de uma GMC... Sítio ? Talvez Bambadinca, talvez Bafatá, junto ao Rio Geba... quando o João Carvalho veio de férias à metrópole, vindo de Canjadude, Gabu, onde estava aquartelaad a sua CCAÇ 5. (Em 1971, no CTIG havia pouco mais de duas centenas e meia de GMC, das quais praticamente metade estavam inoperacionais... E das 108 Daimlers existentes, 75% estavam inoperacionais.
Guiné> Região de Bafyá > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) > Escala: 1/50 mil > Troço da Estrada de Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho> Assinalada, com um círculo a azul, a ponte do Rio Jago onde a GMC MG-17-21, conduzida pelo Dalpot, com 3 toneladas de arroz, accionou uma mina anticarro, no dia 18 de Setembro de 1969. O quartel de Mansambo vem sinalizado com um retângulo.
____________________
Notas do editor: L.G.
(*) Vd. poste de 11 de agosto de 2005 > Guiné 63/74 - P150: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)
Vd. também poste de 20 de maio de 2005 > Guiné 63/74 - P22: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho (Luís Graça)
Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A. (...)
8 comentários:
Éramos 7 dezenas quando partimos no T/T Niassa, em 24/5/1969...Conhecíamo-nos todos... Mas a morte já levou alguns...Não sei quantos. E,a propósito, soube, pelo Facebook, do falecimento da Julieta, a companheira de um vida do nosso GG,o 1º cabo cripto Gabriel Gonçalves, grande tocador de viola e cantor... Em nome da "família" da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, 1º geração, mandei-lhe um abraço solidário na dor. (Luís Manuel da Graça) Henriques.
Falei com o Monteiro... Nada sabe do Dalot. Prometi ir lá beber um copo à Castro Daire, que não é longe de Candoz. Fizemos há muito um belíssimo convívio naquela terra onde o Monteiro é "homem grande". Um grande abraço para ele.
Em Setembro de 1969 estava eu em Brá no Beng 447. Lá nos chegavam as notícias dos camaradas que estavam nas frentes de combate e que por vezes encontrávamos quando transportavam materiais.
ou máquinas. Ao ler este magnífico texto quero aqui relembrar os Condutores Auto rodas, muitas vezes ignorados mas autênticos heróis nas suas missões com os volantes como sua arma.
O comentário acima não vem assinado.
Certamente por lapso. Mas parece-
-me ser do nosso camarada João Rodrigues Lobo que foi alf mil do BENG 447, e que comandou o pelotão de transportes. Sabe por isso dar o devido valor aos homens e às máquinas. LG
Os Condutores Autorrodas eram uns grandes valentes, eles eram os verdadeiros "chefes" das viaturas.
Havia sempre alguma questão quanto à viatura da frente. Normalmente era a GMC, com o tecto cortado e os pedais e manivela das mudanças a sair entre os sacos de areia espalhados por toda a cabine.
Com a GMC, a maioria das minas A/C eram accionadas com o rodado traseiro e assim aconteceu na estrada de N.Lamego-Cabuda com a nossa viatura. A razão devia-se ao facto do rodado da frente ser mais curto com uma roda e o de trás mais largo com duplo rodado. As minas estava coladas na marca do rodado, logicamente seriam accionadas pelo rodado das rodas traseiras da GMC ou então dos Unimogs.
continuando
Como nota curiosa, reparo que o Luís Graça está de óculos na primeira fotografia e provavelmente serão óculos graduados.
Quando nos deslocávamos no mato havia sempre a indicação para não haver ninguém com óculos. Na minha CART11 num pelotão haveria cinco homens da metrópole e se algum levava óculos, dizia-me o Ussamane Colubali 'ele tem tirar óculo, leva tiro gosse por ser alfero'.
A lógica era se tem óculos é pessoa importante.
Abraço e saúde
Valdemar Queiroz
Correcto,não sei porquê o meu comentário saiu anónimo.Quanto aos óculos eu tinha de os levar senão via pouco. Mas quanto aos galões de alferes também era certo que os devíamos tirar pelos mesmos motivos. Sobre os condutores auto nunca é demais valorizar o seu trabalho. Quanto ás viaturas tínhamos muitas de várias marcas e tipos que mais tarde poderei recordar. Lembro-mede ua GMC bem velhinha mas forte em que eu para meter as mudanças tinha de usar as duas mãos e dar um pontapé... ... João Rodrigues Lobo
Por rever aqui o meu capitão, Carlos Brito... O quê será feito dele ? Nunca mais voltei a vê-lo. Espero que esteja vivo e com saúde. Feliz Natal.
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