(...) O exemplo mais sonante de loucura, traço muito comum à literatura de guerra colonial, é-nos dado por Salgueiro Maia, ao referir-se à caricata figura do major Gaspar, cuja irreverência abeirava-se da loucura, aliás, motivo pelo qual acabou ser hospitalizado:
“ (...) o major Gaspar vai comandar o CAOP 2 em Mansabá, onde, dando boa conta do recado, é solicitado para se deslocar a Bissau, à reunião semanal do Com-Chefe, onde deveria ser salientado o seu comportamento. Só que a coluna que, vinda de Farim, o devia transportar a Bissau nunca mais chegava.
“ (...) o major Gaspar vai comandar o CAOP 2 em Mansabá, onde, dando boa conta do recado, é solicitado para se deslocar a Bissau, à reunião semanal do Com-Chefe, onde deveria ser salientado o seu comportamento. Só que a coluna que, vinda de Farim, o devia transportar a Bissau nunca mais chegava.
Farto de esperar, avança para Mansoa só com o condutor, percorrendo um itinerário onde eram frequentes as emboscadas, pois passava ao lado do Morés. À sua chegada a Mansoa, umas centenas de elementos da população agitam-se, pegando nas suas mercadorias com vista a ocupar lugar na coluna. Aí, o major Gaspar acha conveniente mandar parar o jipe. A população acerca-se e ele explica:
«Meu povo, permaneçam mansos, porque a coluna ainda não vem aí, só vem o Gaspar.»
Continua só em direcção a Bissau. Começa por visitar os seus amigos páras à entrada da cidade, depois o seu amigo director do Hospital Militar, os seus amigos comandos, etc.
Entra em Bissau feliz e, desejando dar saída à sua alegria, descobre que o único sítio da Guiné onde havia uma peanha para um polícia dirigir o trânsito tinha um PSP guineense, que o major Gaspar considerou estar a fazer mal o seu trabalho.
Fez parar o jipe ao lado da peanha e fez sair o polícia do sítio e, de pistola-metralhadora ao pescoço, o major Gaspar foi dirigir o trânsito. Lá, como noutros sítios, os condutores, apesar de na maioria serem militares, não eram obedientes, e assim o nosso amigo fartou-se de desobediências. Tanto, que atirou uma rajada por cima de uma camioneta da engenharia militar que não lhe obedeceu.
Continuou em funções, mas surge mais uma camioneta, do Depósito de Adidos, que também não lhe obedece, e aí vai o resto do carregador.
O Palácio do Governo, onde se encontrava o general Spínola, distava uns 400 m em linha recta, pelo que os disparos eram nítidos e originaram que a polícia do Exército fosse chamada ao local.
Postas perante a realidade, as entidades competentes determinaram a baixa à neuropsiquiatria do major Gaspar. Mas alguns, suficientemente conhecedores da maneira de ser do «doente», conseguiram autorização para o director do Hospital Militar convencer o major a descansar uns dias no Hospital, onde os amigos o visitaram com assiduidade, criando talvez o único período de verdadeiro descanso e convívio que este homem teve ao longo de vários anos de guerra e de guerras com o sistema.
As histórias do major Gaspar foram para muitos combatentes o escape natural nas vicissitudes da vida em campanha; quem o conheceu guarda dele a imagem do lutador pela dignidade e pela justiça, a certeza de que a sua luta foi imortal (...) ”[19] )**)
[ Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Realce a amarelo, para efeitos de publicação deste poste no blogue: LG]
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Nota do Leopoldo Amado:
[19] Maia, Salgueiro, O Acaso, In Capitão de Abril – Memórias da guerra do Ultramar e do 25 de Abril, Editorial Notícias, pp. 56 e 57.
[19] Maia, Salgueiro, O Acaso, In Capitão de Abril – Memórias da guerra do Ultramar e do 25 de Abril, Editorial Notícias, pp. 56 e 57.
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Notas do editor:
(`) Vd. poste de 5 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3272: A novíssima literatura da Guerra Colonial (Leopoldo Amado)
8 comentários:
Se houvesse um arquivo de todas as loucuras dos militares portugueses na guerra do ultramar: Quase de certeza que dava um livro "best sellers"
Duas inverdades neste texto. O senhor Major Vilares Gaspar nunca comandou o CAOP 2 e este comando nunca esteve em Mansabá.
E com estas e com outras nem todas as estórias imputadas ao senhor Major Gaspar serão verdadeiras. Digo eu.
Carlos Vinhal
Fur Mil At Art MA da CART 2732
Mansabá, 1970/72
Carlos, são fundamentais intervenções como esta tua para que o que aqui se publica tenha credibilidade.É o exercício do contraditório, a triangulação de fontes e a saturação da informação. Não é a autoridade (o Papa, o rei ou o Prémio Nobel) que dá a credibilidade, mas a verdade dos factos. Vamos ouvir outros testemunhos contemporâneos. Que CAOP2, com sede em Mansabá, era este ? Nos livros da CECA deve mais informação sobre o major Gaspar...Agora não dá para ver. Saudações e siga... a Marinha!
Olá Camaradas
Pode haver algumas inexactidões neste relato, mas, na generalidade, é correcto. Creio que o alf. Vidal, de Mansabá, vinha com ele.
Um ab.
António J. P. Costa
Referências ao José Joaquim Vilares Gaspar no livro 7 da CECA:
Companhia de Artilharia n.º 3330
Identificação CArt 3330
Unidade Mob: RAL 3 - Évora
Cmdt: Cap Art José Joaquim Vilares Gaspar
Cap Mil lnf José Alberto Palma Sardica
Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas
Divisa: -
Partida: Embarque em 14Dez70; desembarque em 20Dez70
Regresso: Embarque em 13Dez72
Síntese da Actividade Operacional
Após a realização da lAO, de 04Jan7J a 30Jan71, no CMl, em Cumeré,
seguiu em 02Fev71 para Nhamate, a fim de efectuar o treino operacional e
sobreposição com a CCaç 2529.
Em 28Fev71, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Nhamate,
com destacamentos em Changue e Unche, ficando integrada no dispositivo e
manobra do BCaç 2898 e depois do BCav 8320/72, sendo especialmente orientadapara a coordenação dos trabalhos dos reordenamentos das populações daárea e sua promoção socioeconómica.
Em 300ut72, foi rendida pela 2.ª Comp/BCav 8320/72, por troca, e foi
deslocada para Bula, ainda na dependência do BCav 8320/72, onde permaneceu
até 27Nov72, como subunidade de intervenção e reserva do sector e em serviço
de guarnição.
Em 27Nov72, foi substituída em Bula por dois pelotões da 2.a Comp/
BCav 8320/72 c seguiu para Cumeré, onde se manteve a aguardar o embarque
de regresso.
Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 99 - 2.ª Div/4.ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 476.
Comando Operacional n.º 6
Identificação COP 6
Cmdt: Maj Inf Fernando Barroso de Moura
TCor Para Horácio Cerveira Alves de Oliveira
Maj Inf Fernando Barroso de Moura
TCor Cav António Valadares Correia de Campos
Maj Art José Joaquim Vilares Gaspar
Cap Art Carlos Alberto Marques de Abreu
Maj Art Mário Júlio Machado da Graça Malaquias
Início: 11Nov70
Extinção: 20Jul72
Síntese da Actividade Operacional
O COP 6 foi reactivado com vista à continuação da construção e asfaltagem
da estrada Mansabá-Farim, interrompida no final da época seca
anterior e para prolongar as acções ofensivas sobre as áreas do Morés, Biribãoe Sara.
Em 11Nov70, assumiu a responsabilidade do respectivo sector, com a
sede em Mansabá, abrangendo o subsector de Mansabá, então retirado à zona
de acção do BCaç 2885 e integrando as forças ali estacionadas mais
duas companhias que lhe foram atribuídas. Em 19Nov70, a zona de acção
foi alargada do subsector de Olossato, então retirado ao BCaç 2879,
que passou a subsector a partir de 02Mar72, com a atribuição de uma
companhia de comandos e mais outra de pára-quedistas.
Em meados de Mar71, em virtude da asfaltagem da estrada ter atingido
Saliquinhedim, o COP 6 instalou a sede, provisoriamente, em Farim, regressando, no entanto, a Mansabá, em 28Abr71, com a finalidade de actuar sobre as áreas de instalação e linhas de infiltração inimigas e de garantir a segurança do itinerário Mansoa-Farim.
Desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando patrulhamentos,
emboscadas, batidas e acções sobre as organizações inimigas, em ordem
a garantir a segurança e protecção dos trabalhos de asfaltagem da estrada
e reduzir a pressão inimiga. Pelos resultados obtidos e meios utilizados,
destacam-se as operações "Urraca'', "Úrsula Real", "Anjo Azul" e
"Ullanova", entre outras.
Em 20Jul72, o COP 6 foi extinto, sendo a sua zona de acção atribuída ao
BCaç 2927, o subsector de Olossato, ao BCaç 3832 o subsector de Mansabá e
ao BArt 3844 o subsector de Saliquinhedim.
Observações- Não tem História da Unidade.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 610/601
Grupo de Artilharia de Campanha Nº 7
Grupo de Artilharia Nº 7
Identificação GAC 7
GA 7
Cmdt: TCor Art António Luís Alves Dias Ferreira da Silva
TCor Art António Cirne Correia Pacheco
TCor Art Martinho de Carvalho Leal
Maj Art José Faia Pires Correia
2.° Cmdt /só a partir de 27Mar71):
Maj Art João Manuel de Magalhães Melo Mexia Leitão
Maj Art José Joaquim Vilares Gaspar
Maj Art Martinho de Carvalho Leal
Maj Art José Faia Pires Correia
Cap Art Jaime Simões da Silva
Divisa:
Início: 0lJul70 | Extinção: 140ut74
Síntese da Actividade Operacional
A unidade foi criada em OlJu170, a partir dos meios de Artilharia da
BAC 1, os quais já englobavam, na altura, 114 bocas de fogo constituídas em
27 pelotões, dos quais 16 pelotões eram de material 10,5, 2 pelotões de 11,4 e 9 pelotões de 14. Posteriormente, foram ainda organizados mais um pelotão de 10,5, em 1972 e mais um pelotão de 8,8, outro de 10,5 e dois pelotões de 14, em 1973.
Na sequência da missão da BAC 1, continuou a exercer o comando e controlo
técnico dos diferentes pelotões colocados em apoio de fogos das diversas
guarnições do interior, tendo comandado e coordenado diversas acções de fogosobre bases inimigas situadas junto da fronteira. Comandou e coordenou aindaa actividade das subunidades de AA.
Em 14Nov70, passou a designar-se Grupo de Artilharia n." 7, a fim de
harmonizar a sua designação com o comando e controlo de baterias de
AA, entretanto colocadas na Guiné, de acordo com despacho ministerial de
11Ag070.
Após a recolha dos pelotões existentes, de acordo com o plano de retracção
do dispositivo, a Unidade foi desactivada a partir de 02Set74, tendo sido
posteriormente extinta.
Observações - Não tem História da Unidade.
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 660/661
Pereira da Costa
Se bem me lembro, no meu tempo havia um alferes Vidal na 27ª CComandos.
Luís Graça
Enviei mensagem ao senhor Coronel Carlos A. M. Abreu para ele me dar as datas do início e fim do seu comando no COP 6.
Boa Páscoa para todos
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
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