domingo, 4 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24366: (De)Caras (196): "Deus deve ter-se esquecido de África": o nosso tabanqueiro nº 643, Jaime Silva, ex-alf mil paraquedista, 1ª CCP / BCP 12 (Angola, 1970/72), num corajoso e sentido depoimento sobre a sua participação na guerra colonial, à Camões TV, Toronto, Canadá



Jaime Bonifácio da Silva (n. 1946, Seixal, Lourinhã), ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), professor de educação física reformado, antigo autarca em Fafe, a residir h0je na sua terra natal. Tem mais de 7 dezenas de referências no nosso blogue. Membro da Tabanca Grande nº 643, desde 31/1/2014


Angola >  Norte - Montes Mil e Vinte > 26 de junho de 1970 > Heli SA-330 Puma na  recuperação do 3º Pel da 1ª CCP /BCP 21 (1970/72)... Nesta operação morreu um soldado do meu pelotão.

Fotos (e legendas): © Jaime Silva (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Um depoimento lúcido, sentido, sereno e corajoso do nosso amigo e camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural da Lourinhã, membro da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo!), âà Camões TV, um estação de televisão luso-canadiana, com sede em Toronto, e que emite desde 2016, tendo cerca de 4 milhões de subscritores.

Episódio nº 5 do programa África Nossa - Operações de Intervenção, realizado por Paulo Fajardo. (Foi emitido o passado dia 29 de maio)...

Clicar aqui para ver o vídeo (10' 59'') (reproduzido com a devida vénia):

https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-05-operacoes-de-intervencao/

 África Nossa – EP 05 – Operações de Intervenção

Africa Nossa
29 Mai 2023

Sinopse:

África Nossa – EP 05 “África Nossa” – Esta é uma série documental realizada por Paulo Fajardo e com a produção da Camões tv MDC. São depoimentos inéditos de ex-combatentes da Guerra Colonial que entre 1961 e 1974, foram mobilizados para o ultramar, em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Mais de 10 mil morreram e 30 mil regressaram feridos. Memórias que se perdem entre silêncios e que ainda hoje causam desconforto. Vamos a mais um depoimento de alguém que esteve nesse teatro de guerra. Uma produção MDC Media Group para a Camões TV, com realização de Paulo Fajardo.

Uma estação de televisão com sede em Toronto, Canadá, com mais de 3,8 mil subscritores. Criada em 2016, é dirigida fundamementalmente á comunidade lusófona.

Our New Channel is available 24h a day, 7 days a week, on Bell Fibe Tv 659 & Rogers Cable 672.

Camões TV Magazine every Sunday from 10am to 12pm on Bell TV 583; Bell Fibe 235 & 1235; Rogers Digital 129 & Rogers Cabo 12; Shawn 646.


www.camoestv.com
YouTube/camoestvofficial

11 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jaime: gostei da tua intervenção, sincera, serena, lúcida, sem autocensura, sem muros nem ameias (como diria o Zeca Afonso)...

Parabéns também ao Paulo Fajardo è à Camões TV. Vou divulgar: Espero que apareçam comentários... Não sei se sabias, mas só na região de Torontom Ontario, Canadá, hav erá cerca de 20 mil "veteranos portugueses" da guerra colonial... Temos que estabelece4r pontes com estes nossos antigos camaradas...

Um alfabravo, Luis

Anónimo disse...


António Duarte, 4 maio de 20123 16:03 (by email)

Boa tarde Camaradas.

Que depoimento. É viver ao vivo e a cores esta guerra.

Grande dignidade no relato, pelo respeito a todos os intervenientes das ações vividas

Um abraço

António Duarte

Anónimo disse...


Gostei muito da entrevista do Jaime Silva. O seu comportamento como combatente e comandante foi exemplar e humano como deveria ser o de todos os combatentes. Nas guerras do ultramar, quem estava na frente de combate eram os furrieis, os alferes e algumas vezes os capitães, eles é que deviam orientar a guerra no respeito por todas as pessoas indefesas, velhos, mulheres e crianças. Muito obrigado camarada. Abraço.

Francisco Baptista

Joao G Bonifacio disse...

OLa a todos. Gostaria de ter o contacto do Jaime para trocar ideias. Tenho participado neste blog sempre que possivel, mas devido a uns pequenos desaires deixei de escrever. Como estamos todos na descida da vida, seria uma honra conhecer o Jaime Bonifacio.

Obrigado Luis e Boas saude a todos os que por aqui ainda podem comunicar. Vivo em Oshawa, Ontario, Canada. Um Abraco para todos os camaradas e muita saude.

Joao G Bonifacio
CC2402/BC2851
Guine 1968/70

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, vou-te por em contacto com o Jaime, meu amigo de longa data, e com quem convivo com frequência. Saúde, e até a uma próxima. Luís

Anónimo disse...


Paulo Fajardo (by email)
4 JUN 2023 22:42

Boa noite.

Obrigado pelas vossas palavras.

São o melhor incentivo para continuar a registar os testemunhos de quem lá esteve.
Cada experiência no Ultramar é uma história e uma peça de um puzzle muito maior.
O objetivo é criar um documentário geral baseado em todos estes olhares na primeira pessoa.

Deixo-vos aqui, os links dos episódios já editados na Camões TV. Semanalmente será colocado online um novo episódio.

01- https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-01/
02- https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-02-alferes-miliciano-mocambicano-armando-branco/
03- https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-03-minas-e-armadilhas/
04- https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-04-ficou-tudo-sanado/
05- https://camoestv.com/documentarios/africa-nossa/africa-nossa-ep-05-operacoes-de-intervencao/

Espero que gostem.

Um abraço,
Paulo Fajardo.

Hélder Valério disse...

Olá camaradas

Deste depoimento, se assim se pode chamar, ressalto a coragem dos editores da "Camões" por tomarem a iniciativa de dar "vida" a estes episódios da História recente (relativamente, que o tempo já vai passando...) e com isso, darem a oportunidade para as novas gerações poderem conhecer melhor o que os seus progenitores, familiares e contemporâneos viverem e com que conviveram.
Quanto ao depoimento em si mesmo, ressalta a serenidade dos relatos e a honestidade intrínseca que deles emana.
Gostei.

Hélder Sousa

Fernando Ribeiro disse...

Vi o relato do Jaime Silva, francamente gostei e reconheço nele o comportamento da companhia de paraquedistas que atuou na Zona de Ação da minha própria companhia (Zemba, em cuja área ficavam os famigerados montes Mil e Vinte, onde terá morrido um soldado do Jaime) em abril de 1973. A minha companhia não participou nas operações deles (e devia, acho eu), mas testemunhei algumas consequências delas, que foram reveladoras de uma grande dignidade e humanidade por parte dos páras. Eu não estou a escrever isto para ser simpático com o Jaime Silva ou com quem quer que seja, mas porque é verdade. Não foi por acaso que o BCP 21 foi um dos pouquíssimos batalhões em Angola que receberam uma condecoração coletiva.

Pelo menos em Angola, os militares de intervenção atuavam quase às cegas, porque não conheciam o terreno em que atuavam e não sabiam o modo como o inimigo iria reagir. Dependiam muito da competência do guia local e, se o guia fosse mau, o resultado podia ser trágico. Num dia eles atuavam numa determinada zona, uma semana depois atuavam noutra a 300 km de distância e quinze dias depois atuavam noutra a mil ou mais quilómetros. Por fim, regressavam a Luanda ou ao Luso (no Leste) e quando voltavam para o mato iam para uma outra zona ainda, com outras características de terreno e outro tipo de guerrilha. Faltava-lhes, portanto, o conhecimento de cada região e do comportamento dos respetivos guerrilheiros, conhecimento este que só as unidades de quadrícula que atuavam permanentemente no terreno possuíam. Impunha-se então uma colaboração estreita entre as unidades de quadrícula e as tropas de intervenção, mas em Angola esta colaboração foi inexistente. Pelo menos no meu caso, ela não existiu de maneira nenhuma.

Como referi acima, uma companhia de paraquedistas atuou na Zona de Ação da minha própria companhia (C.Caç. 3535 / B.Caç. 3880) em abril de 1973, quando eu mesmo estava a exercer interinamente o comando da minha companhia. O único contacto que eu tive com os páras ocorreu em Santa Eulália (onde estava o comando do Setor Dembos, também chamado AM 1) e não passou de uma troca de meia dúzia de frases de circunstância com o capitão deles, porque eles estavam quase a partir para um operação, justamente na "minha" própria zona. E mais nada! Isto é inadmissível. Em Angola poder-se-iam ter evitado muitas baixas em campanha se fosse possível aliar os conhecimentos da tropa local à competência da tropa de intervenção.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano

Anónimo disse...

Victor Marques (by email)

domingo, 4/06/2023, 23:32


Boa noite a todos os amigos e ex-camaradas de armas,

Acabei de ouvir o depoimento do Jaime Bonifácio sobre a sua passagem por Angola.

Gostei de te ver e de te ouvir e sobretudo de saber que os princípios em que fomos educados - malgrè la guerre – ainda permanecem vivos.

Um forte e solidário abraço do ex-comandante do 3º pelotão da 3ª da companhia de caçadores paraquedistas do BCP 21, Luanda, Angola.

Victor Marques

(Marquiteira)

Anónimo disse...

Rogerio Ferreira (by email)
5 junho 2023 09:12 l, Raul, Joao

Bom dia amigos e camaradas guerreiros sem inimigo


Boa Jaime, estás ali inteiro (íntegro). Grande abraço

Coincidimos no tempo pelo Norte de Angola: tu, de arma na mão; eu, de esferográfica em punho, na secção de operações da Área Militar nº 1 que comandava 5 batalhões na região dos Dembos, a partir de Santa Eulália.

Recordo a tua referência à zona dos “mil e vinte”. Também a conheci quando, na preparação das operações, sondávamos a mata, via carta militar, na “sala de operações” (pior que um hospital!!!). Era um morro assim chamado porque estava à cota de 1020 metros e onde as informações que recolhemos referenciavam um “quartel IN” de alguma dimensão.

Devido às funções que tinha, acedia a muita informação reservada e secreta sobre Angola e até sobre Guiné e Moçambique que sedimentaram a minha convicção de sempre: era uma guerra perdida, não era “nossa”. Aqui fica um relato de um episódio que vivi mais de perto:

Fora capturado, ferido no peito, um destacado guerrilheiro do MPLA com o nome de guerra “Sangue do Povo”. Esteve uns dias preso em Santa Eulália para ser interrogado, até ser transferido para um Batalhão (não recordo qual). Coube-me a mim, que estava de oficial de dia, levá-lo, algemado à DO (avioneta), com 2 soldados armados a escoltar. Já perto da DO ele pede para lhe retirarmos as algemas porque queria urinar. Alertei-o para que não tentasse fugir porque não escapava. Foram tiradas as algemas. Tal era o pânico que não conseguiu urinar. Novamente algemado, perguntei-lhe: Sangue do Povo, mas porque é que tu lutas? Acabou-se-lhe o pânico e disse, de imediato: Eu luto pela causa do povo!

Ele lá seguiu na DO, não sei qual o seu destino…

Cheguei ao quartel e relatei o episódio ao major que comandava a secção de Operações e Informações: ouviu-me e encolheu os ombros!




Anónimo disse...

Olá Jaime,

Obrigado pelo teu depoimento.
É assim que se faz a história e ajuda a que não se falsei ou esqueça.
Uma vez mais o meu obrigado e um abraço,
BS