segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25886: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte V: "Colaboracionista" ? (Manuel Luís Lomba, autor de "Guerra da Guiné: A Batalha de Cufar Nalu", 2015)


Capa do livro do nosso camarada de 
Barcelos,  Manuel Luís Lomba, 
(Terras de Faria, Lda. 4755-204, 
Faria,  Barcelos, 2012).
 
Uma batalha de meses, 
que começou  em 20/21 de dezembro
 de 1964  (Op Ferro, com forças das
CCaç 617 e 728, CCav 703
 e 4ª CCaç).  
Ver aqui 

1. Escreveu o Manuel Luís Lomba, autor de "Guerra da Guiné: a Batalha de Cufar Nalu" (Barcelos, 2014); ex-fur mil cav, CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66):


(...) A Operação Tridente, acontecida há quase 60 anos, foi a primeira grande manobra da Guerra da Guiné, o BCav 490 os seus actores principais, as ilhas do Como, Caiar e Catunco o seu palco, foram 72 dias de combates na mata e em campo aberto.

A segunda grande manobra foram as Operações Campo, Alicate I e II, a CCav 703 os seus actores principais, o seu palco foi Cufar, a sua malta escavou abrigos em todo o perímetro da sua desmantelada fábrica de descasque de arroz e viveu 63 dias como toupeiras, mais sob a terra que sobre a terra. 

 A Operação Tridente, entre janeiro e março de 1964, foi a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre aquelas três ilhas, então a “República Independente do Como”, proclamada por Nino Vieira, abandonadas em 1962 pelo fazendeiro Manuel de Pinho Brandão, originário de Arouca (constava que passara a fornecedor do PAIGC).

As operações “ Campo”, “Alicate I, II,´” e “Razia”, entre dezembro de 1964 e maio de 1965, foram a “guerra da restauração” da soberania portuguesa sobre a “área libertada” de Cufar, começada com a 
ocupação da tabanca e das ruínas da fábrica de descasque de arroz, abandonada pelo fazendeiro Álvaro Boaventura Camacho, madeirense originário de Cabo Verde (patrão e o “passador” para Conacri do então alfaiate e futebolista Bobo Quetá), continuada com a expugnação da base da mata de Cufar Nalu, comandada por Manuel Saturnino Costa, ora aumentada e reforçada com a força retirada do Como, consolidada em 15 de junho pelas CCaç 763, 764 e 728 (Operação Satan?). (...) (*)


2. Comentário do editor LG:

Gostava de saber se o nosso querido amigo e camarada Manuel Luís, o nosso "alcaide de Faria" (última reincarnacão...), tem mais alguma informação adicional sobre estes dois grandes comerciantes e proprietários do sul da Guiné, o Manuel de Pinho Brandão e o Álvaro Boaventura Camacho. Como outros colonos, ficaram com a fama (e se calhar o proveito) de terem sido "colaboracionistas"... 

Um era o dono da ilha do Como, o  outro o patrão de Cufar... O que lhes terá acontecido com a guerra e a depois da guerra, se é que chegaram ao "fim do filme" ?... Ambos terão feito fortuna com o arroz... dos balantas.

Já se escreveram coisas provavelmente fantasiosas sobre o Manuel de Pinho Brandão (**)... Não sabemos como nem quando  chegou à Guiné, nem muito menos quando e onde morreu..

Em 1964 correu um processo de expulsão de dois homens, de apelido Pinho Brandão... Um deles pode ser o nosso Manuel de Pinho Brandão e o outro pode muito bem também ser o seu filho  Francisco ("Chiquinho" ?).

Estamos à espera que  alguém consiga aceder a este documento do Arquivo Histórico Diplomático... A expulsão do território, provavelmemnte ao tempo do novo governador e com-chefe Arnaldo Schulz,  faria sentido no caso de o homem pactuar (ou ter pactuado) com o IN...


Código de Referência: PT/AHD/MU/GM/GNP/RNP/0559/08865

Título: Expulsões de Manuel de Pinho Brandão e Francisco Pinho Brandão

Data(s): 1964 

(...) Notas: Classificador do Arquivo do Gabinete dos Negócios Políticos: P17: Segurança Nacional: Sanções Penais aos colaboracionistas com os inimigos.

Entidade detentora: Arquivo Histórico Diplomático. (Negritos nossos)

_____________

Nota do editor:  

(*) Vd.  29 de outubro de 2020 >  Guiné 61/74 - P21492: (In)citações (172): Crónica da Guerra da Guiné, segundo um seu Veterano - Parte I (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

(**) Último pposte da série > 23 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25873: Manuel de Pinho Brandão: entre o mito e a realidade - Parte IV: Proprietário ou concessionário de terras ?

15 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Meu caro "alcaide de Faria", há aqui i informações contraditórias sobre o Manuel de Pinho Brandão...É verdade que a casa dele foi bombardeada pela nossa aviação em 1962 (segundo o Mário Dias), antes da ocupação da ilha pelo PAIGC em 1963...

Para o velho Brandão, foi a ruina dos seus negócios. Por outro lado, o seu irmão Afonso foi morto, por essa altuyra (1962), segundo a filha Gilda Pinho Brandão... Mas dizem que o velho Brandão, pai de muitos filhos, teria tido um na guerrilha, o "Chiquinho" (Francisco), entretanto morto...

O Luís Cabral, na sua "Crónica da Libertação, 1ª ed., Lisboa, "O Jornal", 1984, pp. 209-215, não o poupa, como um pérfido colonialista, que roubava aos pobres dos balantas, aldrabando o rol das dívidas feitas na sua loja... E mais do que isso, seria um sádico, um désposta, comportando-se como dono absoluto da Ilha do Como e agindo com total impunidade, à revelia das autoridades... Na pág. 209 há todavia um erro, ao referir-se à "loja do .Pinto Brandão" (o apelido é "!Pinho Brandão")... (Não tenho aqui o livro, para reler essa meia dúzia de páginas, pp. 209-215).

O Luís Cabral diz que passou pela Ilha do Como já depois da Op Tridente. E aproveita o ensejo para fazer o retrato do "herói" Pansau Na Isna que teria derrotado os "generais" colonialistas...

Como poderia, enfim, ter o velho Brandão sido converido à causa nacionalista ? O Luís Cabral devia saber de quem estava a falar... Por outro lado, há a ordem de expulsão do território por parte das autoridades portuguesas , em relação a dois membros da família Pinho Brandão, o Manuel e o Francisco...(Seriam pai e flilho ? Ou dois irmãos ?... E será que se chegou a concretizar essa ordem ? Não conhecemos o desfecho do processo, só consultando a documemtação no Arquivo Históriico Diplomático...).

Mantenhas. Luís

ManuelLluís Lomba disse...

Olá, Luís,
muito obrigado pela revisita ao meu livro, publicado em 2015, mas escrito em 2013-14. Talvez por erro de perspectiva, no relativo ao desterrado e colono Manuel Pinho Brandão apenas recolhi o que registei. Nesse ano da publicação conversei com o António Estácio no encontro em Monte Real, ele conhecera-o bem e à sua história, disse-me que a incluiria no seu próximo livro e que o enviaria, o que fez, lembro que incluía a minha foto das ruínas da sua casa em Cufar - mas não sei onde raio ele para!...

O PAIGC iniciou a guerra da Guiné em 1962 com uma "emboscadinha" à guarnição de Catió, perto do seu aboletamento (não tinha quartel), na saída para Cufar (e não em 1963, contra Tite) e Manuel Pinho Brandão abandou o Como nesse mesmo ano, "a pressão" do Nino Vieira, com com sempre terá mantido relações.

Assim, que a sua casa no Cachil tenha sido bombardeada pelo António Lobato é plausível, ele diz ter sido o próprio Nino a salvar-lhe a vida.

O Chiquinho a que se refere não será Brandão, mas Madeira, produtor de arroz em Cubaque e fornecedor dele em casca à fábrica de Cufar do Álvaro Boaventura - em cujo armazém guardava as 20 "costureirinhas" oferecidas pelo rei de Marrocos ao Amílcar, que o Nino se preparava para distribuir pela sua malta, mas foi capturado pelo furriel Gonçalves da CCaç 87 e enviado para a prisão de Catió, como "indígena indocumentado" -donde se evadiu, nas barbas do depois herói nacional João Bacar Jaló...

No relativo ao escrito por Luís Cabral, o desterrado pela justiça e colono Manuel Pinho Brandão fez mais pela GBissau que o colonialista e alto quadro da Casa Gouveia (CUF).

Aquele abraço e a melhor saúde.





ManuelLluís Lomba disse...

Bom dia, Luís!
A casa de Cufar em ruínas era do Boaventura, não era do Brandão.
No meu tempo havia um bravo piloto de T6 de apelido Brandão, dizia-se que seu familiar.

Saúde da melhor!

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Manuel Luís, pelos teus preciosos esclarecimentos... Tu tens um conhecimento da região de Tombali, que nenhum de nós tem, porque andaste por lá, de canhota na mão, quando tudo aquilo andava a ferro e fogo... E tens um livro publicado...

Quanto ao último livro do Estácio (sobre Bolama), estou como tu: deixei o meu exemplar, com dedficatória, aiutografado, em cima de uma cadeira em Monte Real, pro ocasião do de um dos nossos saudosos encontros nacionais, e nunca mais lhe pus a vista em cima... Deve lá ter ficado esquecido, nunca o li, com pena minha, embora tenhamos publicados uma recensão e excertos no blogue...

Já agora fica com esta nota sobre o Manuel de Pinho Brandão, que nos anos trinta vivia na capital, Bolama. O gerente do BNU, em Bolama, fez-lhe o retrato-robô, em relatório para Lisboa (onde falava dos "caloteiros" do banco):

(...) "Manuel de Pinho Brandão – É, francamente, má a moralidade deste indivíduo e citaram-na, decerto por mero lapso, como 'boa'. Só por um muito infeliz acaso não se encontra a ferros para toda a vida.” (...)

Fonte: poste de 28 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19052: Notas de leitura (1104): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (53) (Mário Beja Santos)

A fazer fé no que dizes. e no caso do velho Brandão, não seriam as motivações político-ideológicas mas a defesa dos seus interesses patrimoniais que explicarão a sua eventual aliança perversa com o 'Nino'... O que é estranho é o "inocente" do Luís Cabral estar da jogada...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

São estas histórias que também nos interessam... A fraca colonização da Guiné não foi feita só por heróis, e santos, mas também por gente vulgaríssima, e alguns se calhar pouco recomendáveis, desde deportados polítiicos a condenados por delito comum...

O Estácio, que era guinense de origem transmontana, faz-nos aqui muita falta... Ele conhecia esta gente ou pelo menos a sua história...

Foi através dele que eu soube que o desenvolvimento da cultura do arroz se deveu muito a deportados chineses de Macau e depois aos balantas que emigraram de Mansoa e outros sítios, fazendo com que Catió se tornasse uma terra próspera, elevada em 1942 ao estatuto de circunscrição (enquanto, por exemplo, Fulacunda, tambérm terra de arroz, decaía).

Curiosamente, na origem de Catió estaria um antigo degredado, Abel Gil de Matos, natural de Aldeia Galega do Ribatej0, hoje Montijo, condenado em 1913 pelo tribunal da comarca a 6 anos de prisão maior celular ou, em alternativa, a 9 anos de degredo.).

Afinal, são estes portugueses, os Matos, os Brandões, os Camachos... que ajudaram a dilatar a fé e o império.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Nos relatórios enviados ao BNU de Lisboa, há também uma referência ao irmão do Manuel de Pinho Bradão, o Afonso, a quem pertecia a embarcação "Arouca" (nome da terra natal dos Pinho Brandão), capturada pelo PAIGC (a outra foi o "Mirandela", da Casa Gouveia):

(...) A estes factos há a acrescentar a perda de duas embarcações, refugiadas na República da Guiné, uma, o Arouca, pertencente a A. Pinho Brandão, e a outra, o Mirandela, a A. S. Gouveia, esta última das melhores unidades do tráfego fluvial da Província, as quais se supõe terem sido assaltadas, o Mirandela já depois de carregado com 80 toneladas de arroz.

"Posteriormente, a navegação para o Sul passou a ser feita em comboio, escoltado por uma lancha da Armada, o que torna muito mais moroso o movimento das embarcações." (...)

Fonte: poste de 28 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19341: Notas de leitura (1135): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (66) (Mário Beja Santos)

Valdemar Silva disse...

Na net aparece um post FIGURAS AROUQUENSES: LXXIX - Manuel de Pinho Brandão, conhecido pelo "Pilatos" que andou metido em alhadas, com prisões e idas para África, tendo morrido no Porto em 1982.
Não sei se se trata do mesmo Manuel de Pinho Brandão aqui referenciado.
Valdemar Queiroz

Joaquim Luis Fernandes disse...

Este tema sobre Manuel de Pinho Bandão remete-nos para a necessidade de um melhor conhecimento da história da colonização da Província Portuguesa da Guiné, especialmente dos séculos IXX e XX. História que estará por escrever, com verdade e rigor.
Quem foram os principais colonizadores e a sua relevância no desenvolvimento colonial? Quem foram ou são os seus descendentes? Sabemos como os nomes e apelidos portugueses estão disseminados em muitas famílias guineenses. Quantos destes apelidos são ascendentes de colonos portugueses ou cabo-verdianos?
O que sabemos das Famílias Gardete; dos Barbosa (pai de Carlos Barbosa "Capé") ; do Álvaro Boavenura; do Manuel de Pinho Brandão; etc,etc.

Joaquim Luis Fernandes disse...

Como foi possível que, Manuel de Pinho Brandão, tendo sido enviado para a Guiné como degredado, tenha alcançado em pouco tempo, relevância e poder económico, ao ponto de se tornar senhor da ilha de Como? Com que recursos e apoios o conseguiu?
Foi apoiado pela família de Arouca? Pela Administração da Guiné?
A 9 de Janeiro de 1920, nasceu em Rossas, Arouca, Domingos Pinho Brandão, que foi Bispo em Leiria de 1968 a 1972, depois Bispo no Porto. Faleceu em 1988, tendo-se distinguido como professor universitário, arqueólogo, historiador de arte sacra e bispo português.
Seria familiar de Manuel de Pinho Bandão, também natural de Rossas- Arouca?

Abraços
J.Fernandes

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, não me parece que seja o mesmo Pinho Brandão da nossa história... Será um "sósia", este Manuel de Pinho Brandão, de alcunha o "Pilatos, nascido 11 de agosto de 1904, no lugar do Chorial, da freguesia de Urrô, concelho de Arouca, e falecido em 12 de setembro de 1981, no Hospital de Santo António, em 1981, portanto aos 77 anos ?... Há algumas coincidências, mas também deve haver trocas de nomes e de episódios... ou seja, mistura de fantasia e realidade...

O velho Brandão de Bolama, Fulacunda, Ilha do Como e depois de Ganjola e Catió terá vivido na Guiné mais de 30 ou até 40 anos... E nos anos 30 tinha uma das melhores casas, um grande "sobrado", em Bolama... Jã então era considerado, pelo nosso António Estácio, autor de "Bolama, a saudosa...", um dos grandes comerciantes e proprietários da colónia... a par do António da Silva Gouveia (Casa Gouveia), do Benhamim Correia, do Álvaro Boaventura Camacho e outros... (todos com casarões na capital Bolama...).

Repara como o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes [ex-alf mil at inf, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66] descreve o "velho Brandão" nessa altura a viver em Ganjola:

(...) Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.

Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola (...) , a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.

O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos
que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…

Valdemar, o artigo que tu citas, do jornal "Discurso Directo", vem aqui:

Discurso Directo> 8 de Janeiro, 2021 > FIGURAS AROUQUENSES: LXXIX – Manuel de Pinho Brandão

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A "Casa Brandão" é citada por um dos livros da CECA,. a propósito do início da luta armada na Guiné em 1963, por conta do PAIGC.... Mas não sabemos se os irmãos Pinho Brandão eram sócios...

(...) acção militar directa:

• iniciou a luta armada com o ataque ao aquartelamento das tropas portuguesas em Tite, onde se encontrava estacionado o Batalhão re Caçadores 237, em 23 de Janeiro de 1963, cerca das 01H45. Utilizou pistolas, pistolas metralhadoras, espingardas, caçadeiras
com zagalote e granadas de mão, durante cerca de 30 minutos. O ataque foi repelido pelas NT. Realizou igualmente as primeiras emboscadas nas regiões de Bedanda e Nova Sintra (Região Sul);
• apropriou-se, em Cafine, em 25 de Março, do navio "Mirandela", propriedade da casa comercial Gouveia e do navio "Arouca" da casa Brandão, que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material em águas da República da Guiné e que passaram a estar
acostados em Kadijan, naquele país" (...)


Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro I. Lisboa: 2014, pág. 78.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não confundamos este clã de Arouca, os Pinho Brandão, o António e o Afonso, com o famigerado João Brandão, o "terror das Beiras" (Tábua, Midões, 1825 - Bié, Angola, 1880) ... Este é de outra geração, sendo contemporâneo do Zé do Telhado (Lugar do Telhado, Castelões de Recesinhos, Penafiel, c. 18176/1818 – Mucari, Malanje, Angola, 1875), do Remexido (Lagoa, Estombar, 1796 – Faro, 1838) e de tantos outros "bandidos socia", produto das nossas guerras civis da 1ª metade do séc. XIX...

O Manuel de Pinho Brandão, a ter sido deportado para a Guiné (náo sabemos quando nem porquè...), terá sido por crimes de delito comum tal como o Abel Gil de Matos, fundador de Catió, natural de Aldeia Galega do Ribatejo (mais tarde nios anos 30, Montijo), condenado em 1913 pelo tribunal da comarca a 6 anos de prisão maior celular ou, em alternativa, a 9 anos de degredo.)

Sobre o João Brandão, vd. aqui:

7 de dezembro de 2017 > Guiné 61/4 - P18057: Agenda cultural (617): o criminalista e antigo inspector-chefe da PJ, Barra da Costa, acaba de lançar o livro "Os crimes de João Brandão: das Beiras ao degredo" (Edições Macaronésia, Ponta Delgada, 2017)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

(...) "Historicamente, o exílio forçado para as colónias ficou conhecido sobretudo pela designação de degredo; e os que experienciaram tal regime de penalidade eram designados de degredados ou degredadas. Todas as colónias portuguesas (em África, na América e na Ásia) receberam degredados e degradadas. Mas a relação entre degredo e política de colonização nunca foi linear nem semelhante em todas as colónias. (...)

"Era comum os desterrados cumprirem a pena em liberdade. Mas a partir da segunda metade do século XIX, para obstar a presença dos mesmos entre a população livre das colónias, as autoridades portuguesas determinaram o exílio penitenciário: por decreto de 1876 (aumentado em 1881 e 1883, na sequência da lei de 1869) criaram o Depósito Geral de Degredados em Angola, com vista a reunir no mesmo lugar do desterro todos os
condenados ao exílio ultramarino. O Depósito entrou em funcionamento em 1883. Então, a partir da década de 1880, Angola passou a ser o principal destino dos indivíduos punidos ao desterro (...).

"Em 1932, o Decreto n.º 20:877, de 13 de fevereiro, aboliu a pena de degredo, e Angola deixou de ser o principal destino penitenciário dos condenados ao desterro ultramarino. A necessidade de inverter o estigma que recaía sobre a representação daquela colónia como terra de degredo (...) e, ao mesmo tempo, o imperativo de promover a migração de colonos brancos livres da metrópole para a ocupação de territórios expropriados com as guerras de invasão colonial. (...)" (Negritos e itálicos nossos).


Fonte: Excertos de:

Victor Barros - O exílio colonial e os seus fantasmas (Memórias, figurações, ausências). Revista de História das Ideias, Vol. 38. 2ª Série (2020)155-179

Antº Rosinha disse...

Independentemente da identificação de que comerciante "Brandão" se fala, estamos a falar da classe de pessoa que representa a principal figura da histórica colonização portuguesa em África "o comerciante".

E quando para a história escrita por Luís Cabral escreve sobre um determinado Brandão, "como um pérfido colonialista, " seria esta a classificação subentendida generalizada para aquela classe de gente.

No entanto não creio que os guineenses do povo que não teve escola nem sabia ler, acreditasse em Luís Cabral, se este lhe afirmasse tal coisa sobre os comerciantes tugas.

E se Amílcar fosse vivo mandava calar o irmão, porque o comerciante representava o povo português, e este não era o inimigo, o inimigo era o colonialismo e o fascismo.

Mas quem acreditaria piamente em Luís Cabral, era a maioria dos nossos milicianos que politicamente acreditavam que foram para África por culpa de quem lá estava a roubar e maltratar os pretos.

E por isso estes revoltaram-se.

E no inicio foi assim, e não só milicianos, também capitães do QP.

Valdemar Silva disse...

Olha que não, Antº. Rosinha.
Os milicianos foram mandados para África defender os que lá estavam por causa dos terroristas, politicamente podiam pensar que os que lá estavam seriam a Casa Gouveia e o Banco Nacional Ultramarino.
Valdemar Queiroz