Foto nº 3 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos Guiné > 22 de fevereiro de 1969 > Local e cena de ‘fuga’. Pista de São Domingos. Pista, cobertura de passageiros, torre de controlo, avião Dornier dos TAGP, o jipe que me transportou, o jipe do Comandante, o jipe do administrador de Posto, outras viaturas, e personagens do filme.
Foto nº 4 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > A avioneta DO – Dornier dos TAGP, levanta voo em ‘fuga’, a caminho de Bissau... Local, pista de São Domingos...
Foto nº 5 > Guiné > Região de Cacheu > São Domingos > 22 de fevereiro de 1969 > Uma vista aérea do aquartelamento. Pode ver-se a pista, as instalações do Comando e CCS, as instalações da CART 1744, a última vista geral que eu foquei, ambígua, nostálgica, com muito stress.
Foto nº 6> Guiné > Bissalanca > 28 de fevereiro de 1969 > Local e cena da ‘fuga’: aeroportoo de Bissalanca. Na placa da pist, à esquerrda, pode ver-se um avião da TAP, Boeing 707, e à direita a sala de embarque.
Foto nº 12 > Porto > Ponte da Arrábida > 17 de junho de 2019, 17h35 > A subida às entranhas da Ponte da Arrábida - 65 metros, 162 escadas, 18 andares
Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]
A EXTINÇÃO DOS CONSELHOS ADMINISTRATIVOS (CA) DOS BATALHÕES DE REFORÇO (BR)
NO CTIG - II (e última) Parte (*)
por Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933
(Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69)
Virgílio Teixeira, Vila do Conde, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 67 / ago 69) |
IV – A MINHA FUGA DE SÃO DOMINGOS
... Tenho de ir de férias antes do encerramento das contas!
Começo logo a pensar que tenho de arranjar forma de ir de férias ainda no 1º trimestre de 1969. Não posso ficar ali e não sei quando e como vou encerrar tudo, começo a imaginar coisas e a o filme começa a desenhar-se.
Fui preparando tudo sem dar nas vistas, em janeiro ainda fui a Bissau entregar as contas na ChefiaChefia de Serviço de Contabilidade e Administração de Contabilidade, e ainda deu para mais uns passeios a Safim, Nhacra, mergulhos na piscina e saborear uns petiscos até arranjar boleia num Dakota.
Começo logo a pensar que tenho de arranjar forma de ir de férias ainda no 1º trimestre de 1969. Não posso ficar ali e não sei quando e como vou encerrar tudo, começo a imaginar coisas e a o filme começa a desenhar-se.
Fui preparando tudo sem dar nas vistas, em janeiro ainda fui a Bissau entregar as contas na ChefiaChefia de Serviço de Contabilidade e Administração de Contabilidade, e ainda deu para mais uns passeios a Safim, Nhacra, mergulhos na piscina e saborear uns petiscos até arranjar boleia num Dakota.
Foto nº 2 -Bilhete de avião, emitido pelos TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa, com data de 22/2/1969. Viagem São Domingos-Bissau, em Dornier. Valor: 224$00.
Marquei a viagem na TAP, era a 26 de fevereiro, depois nos TAGB, comprei o bilhete, tudo isto passava pelo nosso Sargento e representante do batalhão em Bissau. Já tenho os bilhetes e está tudo pago (Foto 2).
E vou realmente de férias, mas as cenas que se seguem fazem lembrar o ambiente de tensão no filme "Casablanca" entre Bogart e Ingrid Bergman (10).
V – UMA SEMANA À ESPERA DA SAIDA
Foi uma semana de ansiedade, como se compreende, dado se tratar de um "fugitivo", mesmo que legalizado, andei várias vezes a consultar o QG – Pessoal, para saber se estava tudo bem.
Eu não me lembro exatamente de tudo por razões que são evidentes, estava sempre à espera que fossem ter comigo à messe de Santa Luzia, para me apresentar no QG.
Hoje sei o que isso é, sofrer por antecipação, por isso tentei distrair-me após ir prestar as contas do mês findo na Chefia do Serviço de Contabilidade, e por lá andei, tinha lá vários colegas do Porto, e se houvesse alguma coisa eles diziam.
No dia do embarque, ou no dia anterior, entregam-me a Guia de Marcha ou de autorização de saída, não sei bem como era.
Este pesadelo durou até à hora de fecharem as portas do avião da TAP. Finalmente estou no céu e mais ninguém me pode impedir de gozar as minhas férias (Foto 6)
A viagem corre normalmente. Já estou na costa de África, bonitas paisagens que já antes tinha visto mas não as apreciei como agora (Foto 7).
Mais à frente sobrevoamos a Costa da Mauritânea, areia e mar sm fim, lugar especial para uma grande idade e um resort de luxo. E estamos em Portugal, já vi tudo desde o Algarve até Lisboa, os contornos do Sul até Lisboa, já antes vistos e não apreciados.
Hoje ironicamente lembro-me, embora sem justificação, daquele colega de bordo no UIGE, que o vieram buscar na hora da partida.
E assim cheguei a Lisboa, lá estava a minha namorada com a minha irmã casada e o meu cunhado, que acompanharam a minha Manuela, porque a sua mãe não deixava a menina ir sozinha. Tenho uma foto, mas não sei delas, andam por aí perdidas (Foto nº 8) (a minha primeira licença de férias, em 29 de junho de 1968).
E com surpresa vejo que está tudo diferente, o ambiente pesado. Durante o voo aconteceu um tremor de terra, que não senti no avião, como é natural, era o dia 28fev69. Falou-se muito mas eu estava noutra onda.
Eu e a Manela, Porto, Praia da Foz, julho de 1968 |
VI – AS MINHAS FÉRIAS DE LICENÇA MILITAR
As férias passam rápido, não tendo tempo a perder, tenho de aproveitar os tempos livres.
A minha namorada estava a trabalhar, não tinha férias nessa época, aproveitei para tirar partido máximo dos 35 dias que tinha pela frente.
Não sendo este um assunto importante para tratar aqui, resta-me lembrar que no dia 18 de março de 1969, pedi a minha namorada em casamento, e ofereci-lhe um anel com a inscrição da data, ficamos portante noivos...e até hoje.
E no dia 4 de abril regressei à minha guerra, com saudades, mas passou rápido, tinha uma tarefa muito importante pela frente.
VII – O FECHO DE CONTAS DO MEU BATALHÃO
Quando regressei ao CTIG, i no dia 5 de abril de 1969, fui apresentar-me ao QG, e logo me informaram
que devia seguir para o ‘600’ ( era um quartel onde estacionavam as companhias que faziam a segurança do QG). Nessa altura estava lá a fechar as contas também o meu amigo do Porto, o alferes Ruas, do BCAÇ 1911. Passou-me o testemunho com uma guia de entrega de material, uma burocracia totalmente inútil, deviam pensar que ia trazer as mesas de trabalho para casa (Foto 9).
Foto nº 9 > Guia de entrega de material do BCAÇ 1911 à comissão liquidatária do BCAÇ 1933: uma mesa, 5 cadeiras (!)...
Durante as minhas férias todos o arquivo e material deixado em S. Domingos, encontrava-se lá num pequeno cubículo que me destinaram. Estava lá a aguardar-me apenas um furriel amanuense, e um cabo escriturário do CA.
Não deixo de registar que todos os meus bens pessoais não foram devolvidos para a minha nova sede, ficou tudo, incluindo uma motorizada Honda que nunca mais a vi. Também tinha outra em Bissau na nossa arrecadação, e também lá ficou sem ser entregue a minha arma G3 e cartucheiras, bem como muita farda militar e civil.
Ainda pensei que um dia me vinham acusar de ter desviado o material de guerra, e ainda hoje continuo a pensar o que teria sido feita à minha G3, só pode ter sido entregue por alguém no depósito de armas.
Ficaram, pelo menos à guarda de um elemento do CA, os meus três caixões carregados de bebidas que fui juntando ao longo da comissão, um espólio de se tirar o chapéu. Viria a recebê-lo no RAL 1 de V.N. de Gaia, uns meses depois. Intacto.
Agora estava mais perto da Chefia de Contabilidade para eventuais dúvidas, que parece não tive, nem foram precisas. Não levou muito tempo, trabalhei arduamente no meu trabalho e funções e acabei tudo ainda em 10 de maio de 1969. E tudo aprovado.
No dia 9 de maio, porque sobrou das contas apenas $50 centavos (!), tive de o ir depositar no Banco Nacional Ultramarino em Bissau, em nome da Comissão Liquidatária do BCAÇ1933, com sede no SPM 4568 (Foto 10).
Ficaram, pelo menos à guarda de um elemento do CA, os meus três caixões carregados de bebidas que fui juntando ao longo da comissão, um espólio de se tirar o chapéu. Viria a recebê-lo no RAL 1 de V.N. de Gaia, uns meses depois. Intacto.
Agora estava mais perto da Chefia de Contabilidade para eventuais dúvidas, que parece não tive, nem foram precisas. Não levou muito tempo, trabalhei arduamente no meu trabalho e funções e acabei tudo ainda em 10 de maio de 1969. E tudo aprovado.
No dia 9 de maio, porque sobrou das contas apenas $50 centavos (!), tive de o ir depositar no Banco Nacional Ultramarino em Bissau, em nome da Comissão Liquidatária do BCAÇ1933, com sede no SPM 4568 (Foto 10).
Foto nº 10 > Comprovativo do depósito de 50 centavos (!), no BNU, em Bissau, em nome da comissão liquidatária do BCAÇ 1933. com data de 9 de maio de 1969.
E finalmente a 10 de maio de 1969 faço a entrega formal de toda a documentação, livros, arquivos e demais papelada na Chefia de Contabilidade, dentro dos caixotes fechados e lacrados, sendo tudo aprovado e finda a minha função no CTIG. Entregue com a Guia dessa data, em duas folhas, numeradas (Foto 11)(Vd. Nota 10).
Foto nº 11 > Lista da documentação entregue pela comissão liquidatária do BCAQÇ 1933 â Chefia do Serviço de Contabilidade e Administração do QGCTIG, Santa Luzia
E assim fiquei "desempregado", estava livre para regressar, mas o Comando do Batalhão entendeu que devia de regressar junto com os restantes. Colocaram-me nos Adidos para gerir não sei quê, talvez o sector da alimentação que nada sabia sobre isso.
Depois meti baixa ao Hospital Militar 241, fui para a Psiquiatria, estive internado cerca de 15 dias, no mês de maio de 1969, e depois passei à medicina internma.
Acabei por ter alta, colocaram-me no CA dos Adidos em Brá, como adjunto do CC do CA, e por aí fiquei até ao dia do meu embaque.
___________
Nota final:
Isto é o resumo desta actividade, desta minha missão no CTIG.
Espero ter contribuido de algum forma para um cabal esclarecimento desta guerra que poucos conhecem, mas agora poderão perceber um pouco mais. Assim desejo, pois este trabalho levou-me um mês de pesquisa de tanta coisa de que já nem eu me lembrava.
Notas de rodapé que anexei, poderão ser extensos, mas são esclarecedores quer para os leitores quer para mim.
Foi um trabalho que nunca tinha feito sobre nenhum tema em particular. Obrigado por tudo
© Virgílio Teixeira (2025)
(Revisão / fixação de texto: LG)
21 de janeiro de 2025
_______________
Notas do autor:
(10) A adrenalina sobe, e nesse período ainda faço a viagem louca de Sintex para Susana e Varela, já aqui transcrita, tudo para não me encontrar com o Coronel Renato Xavier, o novo comandante do meu batalhão.
Chega o dia 22 de fevereiro, da minha viagem na DO dos TAGB.
O coração bate apressado, e penso lá comigo:
– E se o comandante não assina a Guia de Marcha?
Faz-me lembrar o outro que vieram buscar ao Uíge na hora da partida . Não tinha nada a recear, estava tudo legal do meu ponto de vista.
Manhã cedo vou ao gabinete do comandante, digo para o que vou ali, e levo a Guia de Marcha que o tenente Godinho da Secretaria me deu. Acho que nem leu e assinou de cruz. Eram umas 8 horas da manhã.
Tenho o saco com algumas coisas, deixo tudo, exceto uma das minhas camaras Konica.
A outra fica entregue a uma das pessoas do meu CA, para tirarem umas fotos da minha saída e quando já fosse no ar na avioneta DO.
Passado uns tempos, não sei quanto tempo, mas pareceu-me uma eternidade, ouço a avioneta a fazer-se à pista, e como eu todos ouvem, incluindo o comando.
Apanho um jipe e chego a tempo de fotografar a chegada da DO, bonita, parecia um pássaro às cores. Era a minha imaginação. A DO está no seu ponto de paragem, o piloto não desliga os motores, descarregam os sacos de correio e pouco mais. Despeço-me de alguns companheiros e estou pronto para entrar na DO (foto 3)
Cumprimento o piloto, um profissional da aviação civil, já conhece tudo pois faz muitas viagens destas, uma vez pelo menos estive na pista com ele, noutra situação. Estou eufórico e preocupado e com razão!
Vejo a chegar a alta velocidade e no meio do pó que deixava para trás, um jipe que trava com todas as ganas junto à DO. Era o comandante Xavier!
A seguir há um diálogo de loucos que ainda hoje me lembro tantas vezes. Dirige-se a mim, e pergunta logo:
Faz-me lembrar o outro que vieram buscar ao Uíge na hora da partida . Não tinha nada a recear, estava tudo legal do meu ponto de vista.
Manhã cedo vou ao gabinete do comandante, digo para o que vou ali, e levo a Guia de Marcha que o tenente Godinho da Secretaria me deu. Acho que nem leu e assinou de cruz. Eram umas 8 horas da manhã.
Tenho o saco com algumas coisas, deixo tudo, exceto uma das minhas camaras Konica.
A outra fica entregue a uma das pessoas do meu CA, para tirarem umas fotos da minha saída e quando já fosse no ar na avioneta DO.
Passado uns tempos, não sei quanto tempo, mas pareceu-me uma eternidade, ouço a avioneta a fazer-se à pista, e como eu todos ouvem, incluindo o comando.
Apanho um jipe e chego a tempo de fotografar a chegada da DO, bonita, parecia um pássaro às cores. Era a minha imaginação. A DO está no seu ponto de paragem, o piloto não desliga os motores, descarregam os sacos de correio e pouco mais. Despeço-me de alguns companheiros e estou pronto para entrar na DO (foto 3)
Cumprimento o piloto, um profissional da aviação civil, já conhece tudo pois faz muitas viagens destas, uma vez pelo menos estive na pista com ele, noutra situação. Estou eufórico e preocupado e com razão!
Vejo a chegar a alta velocidade e no meio do pó que deixava para trás, um jipe que trava com todas as ganas junto à DO. Era o comandante Xavier!
A seguir há um diálogo de loucos que ainda hoje me lembro tantas vezes. Dirige-se a mim, e pergunta logo:
– Para onde vai?
O piloto já se apercebeu que não me vai levar para Bissau. Respondo que vou para Bissau e depois para a Metrópole, gozar as férias a que tenho direito.
– Não pode ir !!! – diz ele com os olhos esbugalhados.
– Eu tenho a Guia de Marcha que o meu comandante assinou há pouco.
– Não interessa, é preciso fechar e encerrar as contas, conforme Nota do QG.
– Mas agora já tenho aqui a avioneta dos TAGB para me levar já paguei e também já paguei o transporte na TAP.
– Não interessa, não pode sair daqui!
Isto é uma eternidade em 5 minutos, palavra puxa palavra e eu disse que tenho de ir. Meto um pé dentro do habitáculo, ele agarra-me o braço, já não sei bem o que mais se passou.
O piloto manda um aviso com os motores a trabalhar e a poeirada no ar.
– Tenho de levantar voo agora – e vira-se para mim como a dar-me um sinal, "ou sai ou entra".
A atitude que tomo é a normal, o Xavier agarra mais o braço, a seguir eu dou-lhe um empurrão e ele larga o braço. Entro. As portas fecham. O piloto dá meia volta e faz-se à pista. E num espaço pequeno arranca e levanta, já estou no ar (Foto 4).
Bato uma chapa lá de cima – a ultima visão de São Domingos –, não se vê a cara do Xavier. Vou a caminho e começa novo pesadelo (Foto 5).
– E se depois de chegar a Bissau, quando me for apresentar no QG e têm lá um rádio a pedir a minha suspensão de embarque e até uma detenção?
Afinal era um "fugitivo legal", e assim acaba esta estória "cabraliana", aquilo a que chamei de "A minha fuga de S.Domingos".
Isto mais parece um filme da fuga dos 6 presos de Alcochete! Ou as fugas do Papillon naquele livro e filme inolvidável. Ambos verdadeiros.
(11) Neste período ainda fui muito útil a dois colegas meus da mesma função.
O já falado Ruas, do BART 1911, que não conseguia fechar as suas contas por ter dinheiro em excesso, e pediu-me se podia dar uma ajuda: o saldo foi transferido para o meu CA que foi colmatar eventuais faltas.
O problema eram as verbas de pensões que sobravam, dos militares
que morrem, dos feridos e evacuados e tudo se perde na confusão, não há informática, é tudo à mão, o que torna tudo mais difícil. O fecho de contas não pode ser aceite, com saldos em aberto que não se sabe a quem pertence. Ele lá resolveu tudo e embarcaram ainda em maio.
Também acontece o mesmo com o meu homónimo do BCAV 1915, o tal que fomos render em Nova Lamego, era o alferes Fragateiro, que nunca nos relacionámos bem, talvez por causa da passagem de testemunho em outubro de 1967. Apesar disso vejo algumas fotografias em Bissau na 5ª REP, juntamente com outros, mas nunca fomos amigos.
Apesar disso também o safei no 600, ele soube do Ruas que tinha resolvido comigo os seus problemas, e ele vem ao meu encontro pedir o mesmo. Feito tudo da mesma forma e ele sem sequer me agradeceu, embarcou também em maio, e assim o meu Batalhão ficou a ser o mais antigo no CTIG.
que morrem, dos feridos e evacuados e tudo se perde na confusão, não há informática, é tudo à mão, o que torna tudo mais difícil. O fecho de contas não pode ser aceite, com saldos em aberto que não se sabe a quem pertence. Ele lá resolveu tudo e embarcaram ainda em maio.
Também acontece o mesmo com o meu homónimo do BCAV 1915, o tal que fomos render em Nova Lamego, era o alferes Fragateiro, que nunca nos relacionámos bem, talvez por causa da passagem de testemunho em outubro de 1967. Apesar disso vejo algumas fotografias em Bissau na 5ª REP, juntamente com outros, mas nunca fomos amigos.
Apesar disso também o safei no 600, ele soube do Ruas que tinha resolvido comigo os seus problemas, e ele vem ao meu encontro pedir o mesmo. Feito tudo da mesma forma e ele sem sequer me agradeceu, embarcou também em maio, e assim o meu Batalhão ficou a ser o mais antigo no CTIG.
Para terminar esta saga, não deixo de lamentar que,. passados tantos anos depois de chegar, venho a encontrá-lo nos Centros de Saúde à porta das salas do médico, ele era, portanto, delegado de propaganda médico, no Porto, e quase não falávamos, aliás nunca falámos da Guiné. Mal-agradecido.
Também soube pelo meu adjunto, e amigo do Instituto Comercial do Porto, o furriel Pinto Rebolo, já falecido, que ele não ia à bola comigo, não sei ainda quais são os seus motivos, mas julgo que ficou mal na fotografia e só veio embora com o seu batalhão devido à minha ajuda, ou entáo por não ter seguido estudos superiores (complexos...).
O Pinto Rebolo estava na mesma atividade que o Fragateiro, delegado de propaganda médica, e encontravam-se sempre nos mesmos locais. Mais tarde o Pinto formou-se em Direito, foi advogado e tinha escritório próprio na Rua de Camões onde o visitei várias vezes, mas também o encontrava em Vila do Conde.
O Pinto Rebolo estava na mesma atividade que o Fragateiro, delegado de propaganda médica, e encontravam-se sempre nos mesmos locais. Mais tarde o Pinto formou-se em Direito, foi advogado e tinha escritório próprio na Rua de Camões onde o visitei várias vezes, mas também o encontrava em Vila do Conde.
Depois como a advocacia não dava o que ele queria, deixou de exercer e continuou na propaganda médica até se reformar. Morava no Porto, mesmo perto da minha casa, de solteiro, ao redor do Regimento de Engenharia 2, do Vale Formoso, vindo a falecer por graves problemas devido ao seu excesso de peso que sempre teve. Era conhecido na vida académica do Porto, como o Pinto Rebola (e bola).
(12) Neste periodo andei primeiro perdido por Bissau, eu já não tinha o meu poder, senti-me abandonado e sem motivações para continuar a trabalhar.
Todo o pessoal, quer do meu CA quer de outros Batalhões, foram colocados noutros serviços fixos do CTIG.
A minha primeira tarefa foi nos Adidos, foi um tempo terrivel, ali passavam todos os militares, marados, apanhados do clima, doentes do Hospital, os que chegavam de férias e os que partiam, os que chegavam em rendição individual, tudo ia parar àquele chamado "Depósito",
O primeiro dia que me calhou de Oficial de Dia, era um mundo de cerca de 1000 militares que entravam e saiam, assisti como era normal ao primeiro rancho do almoço.
Quando dou por ela, estava tudo aos gritos, protestando contra o rancho. Atiram-se para cima das mesas e pontapeteiam tudo, estava a acontecer aquilo a que se chamava um levantamento de rancho, não num quartel da metrópole mas no ambiente de loucos na Guiné.
Fico sem saber o que fazer, não estava preparado para isso, mas não desanimo, embora estivesse como o burro no meio da ponte. Com a ajuda de alguém menos protestativo, lancei o grito do Ipiranga, e pedi a todos que não me arranjassem problemas, pois não tinha solução para os seus legitimos protestos.
(12) Neste periodo andei primeiro perdido por Bissau, eu já não tinha o meu poder, senti-me abandonado e sem motivações para continuar a trabalhar.
Todo o pessoal, quer do meu CA quer de outros Batalhões, foram colocados noutros serviços fixos do CTIG.
A minha primeira tarefa foi nos Adidos, foi um tempo terrivel, ali passavam todos os militares, marados, apanhados do clima, doentes do Hospital, os que chegavam de férias e os que partiam, os que chegavam em rendição individual, tudo ia parar àquele chamado "Depósito",
O primeiro dia que me calhou de Oficial de Dia, era um mundo de cerca de 1000 militares que entravam e saiam, assisti como era normal ao primeiro rancho do almoço.
Quando dou por ela, estava tudo aos gritos, protestando contra o rancho. Atiram-se para cima das mesas e pontapeteiam tudo, estava a acontecer aquilo a que se chamava um levantamento de rancho, não num quartel da metrópole mas no ambiente de loucos na Guiné.
Fico sem saber o que fazer, não estava preparado para isso, mas não desanimo, embora estivesse como o burro no meio da ponte. Com a ajuda de alguém menos protestativo, lancei o grito do Ipiranga, e pedi a todos que não me arranjassem problemas, pois não tinha solução para os seus legitimos protestos.
Não faço ideia do que era a comida nem as razões do protesto, penso hoje que naturalmente era um modo de os militares vindos do mato de fazerem chegar o seu grito de revolta sobre tudo e todos. Mas eu não tinha nada a ver com isso, estava ali chegado e caído de paraquedas.
As hostes acalmaram e correu tudo bem até final, mas o inevitável "susto" ficou... E ainda teria outro no terceiro ou quarto dia de viagem no Uíge a caminho da liberdade perdida .
Foi assim que arranjei forma de juntar alguns outros problemas de saúde (oftalmologia, estomtologia...),. acabando por dar baixa na Psiquiatria, com base numa "cura de sono".
As hostes acalmaram e correu tudo bem até final, mas o inevitável "susto" ficou... E ainda teria outro no terceiro ou quarto dia de viagem no Uíge a caminho da liberdade perdida .
Foi assim que arranjei forma de juntar alguns outros problemas de saúde (oftalmologia, estomtologia...),. acabando por dar baixa na Psiquiatria, com base numa "cura de sono".
E era verdade, não conseguia dormir, não por medo, mas devido aos milhões de baratas que pululavam por aquelas barracas de madeira cheias de fendas e aqueles repugnantes bichos passearem por cima de nós. Ficou marcada esta passagem, eu não tinha instalações adequadas à minha situação, ficava nas barracas comuns. Por isso algumas vezes ficava em Santa Luzia no Biafra, sempre era tudo mais seleccionado. E outras vezes ia para o Grande Hotel de Bissau, para junto do Spinola e afins.
Quando tive alta, fui parar como adjunto no CA do Quartel dos Adidos, função que me recusei aceitar quando fico nomeado para CC do CA dos Adidos, que pela fama era um caso bicudo, pois a maioria dos que ali exerceram esta função nunca regressava dentro dos prazos, pois as suas contas eram complicadas com os movimentos de entradas e saidas e processamento das verbas de alimentação em particular. Pois como todos os que passaram por alí sabem que uma percentagem razoável não tinha as refeiçóes nos Adidos pois comiam em restaurantes de
Bissau, e estas refeiçoes que não se faziam, eram na mesma debitadas.
Alguém de dizia que era um bom lugar para ganhar muito dinheiro, é natural, mas eu queria era regressar à minha parvónia.
No CA dos Adidos ajudei alguma coisa o CC, mas não era responsável pelo todo, e por ali fiquei até final da comissão.
Mas permanecia sempre como um Oficial do BC1933, a única unidade que tive no CTIG, a titulo de emprestado.
Regressei em 10 agosto 1969, recebi o titulo de passagem à disponibilidade, assinado pelo Comandante do RI15, com data de 1 de Setembro de 69, dizendo que... "passa à disponibilidade a partir de 2 amanhã (dia 2 de setembro)".
Ainda usei o meu cartão em diversos actos miitares até ao dia da sua extinção.
Quando tive alta, fui parar como adjunto no CA do Quartel dos Adidos, função que me recusei aceitar quando fico nomeado para CC do CA dos Adidos, que pela fama era um caso bicudo, pois a maioria dos que ali exerceram esta função nunca regressava dentro dos prazos, pois as suas contas eram complicadas com os movimentos de entradas e saidas e processamento das verbas de alimentação em particular. Pois como todos os que passaram por alí sabem que uma percentagem razoável não tinha as refeiçóes nos Adidos pois comiam em restaurantes de
Bissau, e estas refeiçoes que não se faziam, eram na mesma debitadas.
Alguém de dizia que era um bom lugar para ganhar muito dinheiro, é natural, mas eu queria era regressar à minha parvónia.
No CA dos Adidos ajudei alguma coisa o CC, mas não era responsável pelo todo, e por ali fiquei até final da comissão.
Mas permanecia sempre como um Oficial do BC1933, a única unidade que tive no CTIG, a titulo de emprestado.
Regressei em 10 agosto 1969, recebi o titulo de passagem à disponibilidade, assinado pelo Comandante do RI15, com data de 1 de Setembro de 69, dizendo que... "passa à disponibilidade a partir de 2 amanhã (dia 2 de setembro)".
Ainda usei o meu cartão em diversos actos miitares até ao dia da sua extinção.
É uma subida na Ponte da Arrábida, por baixo do tabuleiro, no Arco que liga o Porto a Gaia. É um negócio turístico, e eu passei por lá e aproveitei.
Foi uma aventura para mim, já tinha 78 anos pelo menos, vinha de uma rota de fotografias que fui fazer ao Bairro do Aleixo, no Porto - o maior bairro de consumo e tráfego de droga que existia. (...) Depois saí para a marginal do Douro, percorrendo quilómetros a pé, e dei com aquela subida do arco e não resisti. Estava demasiado cansado mas a adrenalina não me abandonou. Foi um espetáculo impressionante. Não tenho fotos lá de cima, deixei os operadores cá em baixo com a camara para me fotografarem.
É tudo muito seguro, a probabilidade de cair cá abaixo é quase nula. Coisas da vida que não voltam a acontecer mais.
Neste periodo andei meses a fotografar o Porto e as suas entranhas, que nunca tinha visto. Fiz mais de 10 mil fotos.
PS - O meu pedido de desculpas pela extensão do depoimento...
© Virgílio Teixeira (2025)
(Revisão / fixação de texto: LG)
____________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26434: A extinção dos Conselhos Administrativos dos batalhões de reforço no CTIG (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, Chefe do CA, BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte I
8 comentários:
Virgílio, vamos lá ver se eu percebo o "acerto de contas" que tu fizeste com o teu camarada do BCAÇ 1911: recebeste 1 mesa e 5 cadeira em troca de quê ? Quanto valiam ? E o que é que a vossa comissão liquidatária fez com esses "monos" ?...
A burocracia militar tem destas coisas "divertidas"... Por acaso sobrou-te uma moeda de bronze de 50 centavos (hoje valeria, com a inflação, menos de 20 cêntimos, e em Bissau dava-te para compar 4 cigarros, sendo 1 maço de SG filtro = 2,5 escudos...),
Mas se faltasse ? Tinhas que pòr do teu bolso ?... Acredito que, com todas estas peripécias, ias ficando maluco...
Já vimos que a aeronave dos TAGP que levou o "fugitivo", não era uma Dornier, mas uma Cessna... E o piloto devia ser o comandante Pombo, nosso grão-tabanqueiro, já falecido...Será depois piloto do jato presidencial, ao tempo do Luís Cabral e depois do 'Nino' Vieira (que ele tratava por tu)...
BOA NOITE
Não é assim Luis.
Essa entrega de mesa e cadeiras, foi recebida por mim do 1911, e depois devolvi ao 600.
Não há pagamentos, são as merdas de burocracias destas que emperraram o sistema.
Vamos ver.
O BCAÇ1911, tinha um saldo positivo nas suas contas, de muito dinheiro.
Entregou no BCAÇ 1933 que depois o repercutiu para as suas contas e pagamentos a quem era devido, e eram muitos.
O mesmo aconteceu com o BCAV1915, cujos procedimentos foram os mesmos.
No final eu fiquei sem saldos disponíveis, excepto os 50 centavos.
E todos foram felizes
~VT.
O transporte do fugitivo foi uma DO como se vê pela foto e pelo bilhete de avião.
Só viajei uma vez de Cessna, entre Bissau e NL, no inicio da comissão.
Aqui não há duvidas.
VT.
Claro que qualquer coisa que faltasse eu é que tinha de pagar
Vt
Não me lembro do piloto deste que me trouxe de SD.
Mas tenho uma ideia de um fulano POMBO que não sendo comum ficou na tola
Andei num CESSNA mas não foi este com 100 % de certeza.
Também falei algumas vezes com o NINO VIEIRA, mas o golpe de estado deu cabo do nosso projecto. Até talvez tenha sido melhor assim.
Vt
Agora já posso dar os meus parabéns.
Um dia feliz para a tua família e um beijinho de um avô, para a tua Rosinha e que tenha uma vida melhor que a nossa.
Luís eu acho que devias colocar aqui nos comentários, o teu email para mim que me sensibilizou.
E pedia que lancasses aqui o meu email, porque está tudo dito.
Por mim podes integral, mas podes seleccionar as partes que mais gostares.
O dia não é favorável, o frio e vento não me dão garras de sair da cama.
Feliz dia.
É mais um dia que em breve acaba.
Abracao
VT
Não sei quando o comandante Pombo começou a voar nos TAGP...Mas era já uma figura popular no meu tempo...
Tal como o srgt pil Honório...
Sobre o Pombo tens 24 referências no blogue... E do Honório, ainda mais: 32... (Histórias de "humor de caserna", algumas, controversas, de mau gosto, de fazer caretas...).
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